História do cristianismo

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bom êxito, e no princípio do ano seguinte, De Montfort estava à testa de um novo exército. PERSEGUIÇÃO A RAIMUNDO DE TOLOSA Não vamos aqui contar tudo o que o papa fez a Raimundo de Tolosa. Parece que aos olhos daquele não havia modo de este expiar o pecado de ser chefe de tantos súditos hereges. Não foi suficiente manifestar o seu desgosto e justificar-se pelo assassinato do monge de Cister. Raimundo teve além disso de dar uma prova da sua sinceridade entregando sete dos seus castelos mais fortes; teve de fazer penitência em público das suas ofensas, com uma corda em roda do pescoço enquanto lhe aplicavam chicotadas às costas, e em seguida reunir-se às filas dos cruzados e combater contra os próprios súditos, até mesmo contra a sua própria família; e depois disso, sua santidade o papa mostrou sua "benignidade" dando-lhe o beijo da paz. Quando porém o pobre conde se estava regozijando por terem passado todos os perigos e humilhações, chegou uma carta do papa para sua eminência, o legado, ordenando-lhe que deixasse por algum tempo o conde de Tolosa, e empregasse para com ele uma certa dissimulação, de modo que os outros hereges pudessem mais facilmente ser vencidos, e para que o pudessem esmagar quando se achasse sozinho. Vemos pois que Raimundo não tinha sido perdoado de modo algum, seguindo-se a isto a excomunhão que mais uma vez foi pronunciada contra ele. A guerra mudou então de aspecto, e Raimundo com o auxílio do conde de Foix e outros fidalgos começou a tomar medidas desesperadas para sua proteção. O seu povo, que era muito dedicado, correu às armas à primeira chamada, e De Montfort viu que tinha agora de se haver com um inimigo desesperado pela perseguição e enlouquecido pelo sentimento de repetidos danos. A sua natureza cruel estimulou-se com esta oposição inesperada, e as mais inauditas barbaridades foram cometidas por sua ordem. Homens e crianças foram mutilados, as mulheres desonradas, as searas e vinhas destruídas, as vilas queimadas, e as cidades entregues à pilhagem e passados à espada os seus habitantes. No momento da captura de La Minerbe foram queimadas vivas umas 140 pessoas, entre as quais a mulher, a irmã e o filho do governador da localidade. Dizem que todos caminhavam para a morte de muito boa vontade, cantando já nas chamas hinos a Deus, e não cessaram de lhe entoar louvores senão quando o fumo os sufocou. Quando o castelo de Brau se rendeu, De Montfort tirou os olhos e cortou o nariz a cem dos seus bravos defensores, deixando um olho a um deles para que pudesse guiar o resto para Cabrieres, a fim de aterrar a guarnição que ali se achava. Estas e outras crueldades, indignas até da Roma paga, foram praticadas pela "santa" igreja católica, e executadas pelos "santos" peregrinos, como eram chamados pelo papa. Na tomada de Foix, quando a cidade estava abandonada aos horrores de um saque, e os habitantes de todas as idades e sexos estavam sendo igualmente massacrados, ouviam-se as vozes dos bispos e legados, por cima dos gritos das mulheres e das maldições dos seus assassinos, entoan-

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