Revista do Foca 2010 #2

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FO CA Blogs literários: entrevista com Andréa del Fuego Gonçalo Junior utiliza quadrinhos eróticos para retratar a ditadura Universitários que se formam em São Paulo não voltam a trabalhar no interior Mulheres invadem o mundo das finanças Livrarias apostam nos e-readers STJ autoriza adoção por casal gay Futebol de Várzea resiste à modernidade

Músicos de rua sofrem com a invisibilidade


PROFESSOR RESPONSÁVEL Wladyr Nader EDIÇÃO E DIAGRAMAÇÃO Fabiana Coletta ASSISTENTE DE EDIÇÃO E DIAGRAMAÇÃO Alexandre Maciel REPÓRTERES Alan Gabrielli Azevedo, Alexandre Bazzan, Ana Paula de Araujo, Cristiane Salgado Nunes, Edson Ferreira, Eduardo Diamenti, Gabriela Baio Meschini, Julia Mattos, Lucas Eduardo, Marjorie Okuyama, Thais Paiva, Thiago Cara, Vanessa Elias Khouri EDITORIAL Alexandre Maciel FOTO DE CAPA Terence S. Jones (Creative Commons) CONTRACAPA Renato Parada PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO Novembro de 2010 Procure por ‘Revista do Foca’ em Issuu.com!


CONTEÚDO TEMPO Tempo seco causa danos à saúde Cristiane Nunes

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COTIDIANO A remuneração e o prazer pessoal são as metas dos vestibulandos Eduardo Diamenti

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COTIDIANO Universitários que se formam em São Paulo não voltam a trabalhar no interior Gabriela Meschini

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CAPA São Paulo, a diversidade cultural lado a lado como medo do diferente Thiago Cara

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ESPORTE Futebol de Várzea resiste à modernidade Lucas Eduardo

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ECOLOGIA A revolucionária sacola retornável Julia Mattos

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REVISTA DO FOCA ed. 2010 - noturno

ECONOMIA Mulheres invadem o mundo das finanças Alexandre Bazzan e Marjorie Okuyama

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POLÍTICA STJ autoriza adoção por casal gay Cristiane Nunes

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TECNOLOGIA Livrarias apostam nos e-readers Vanessa Elias Khouri

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CULTURA Antiguidade que não sai de moda Alan Azevedo

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CULTURA Literatura ao alcance de todos: entrevista com a escritora e blogueira Andréa del Fuego Thais Paiva

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CULTURA Maria Erótica usa quadrinhos eróticos para retratar ditadura Ana Paula de Araujo

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CRÔNICA O invisível Edson Ferreira

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EDITORIAL

Em quanto tempo se faz um jornalista? A realização de um objetivo, sonho, trajetória, ou seja lá qual o nome que se empregue, é sempre um momento de entusiasmo. E porque deveria ser diferente? Como não cair no clichê de sentir-se orgulhoso em ter o resultado de um trabalho publicado e lido por outrem? De que forma não se pegar imaginando como o sentido da informação passada navegará em mentes alheias? Apesar de toda a mercantilização fazer muitos acreditarem que o jornalismo, que sempre foi considerado a última profissão romântica, não é mais, preferimos crer no contrário. O que é o jornalista senão um personagem fundamental para a construção de sociedades mais democráticas e plurais. Alguém que vive a assistir o mundo. Assiste e logo vai contar a todos o que viu. Este inquieto profissional está, portanto, em contínua aprendizagem. E se pudéssemos destacar uma área a qual o jornalista se dedica, esta seria a vida. Como ela é. Evoé, Nelson! Os focas que assinam estas páginas são a mais nova safra do que ainda está por vir. Aqui estão apenas os primeiros passos rumo a aventuras ainda maiores. Sem rotina, com alguma inspiração e muita transpiração, os novos arautos desse mundo pós-moderno têm um longo caminho pela frente. Há muito que descobrir e enfrentar. Inclusive dentro de casa. Em uma difícil transição, o oficio se torna cada vez mais digital. Em terris brasilis, a regulamentação da profissão é vitimada por jogos de interesses. E na vida acadêmica, as novas diretrizes curriculares para os cursos de jornalismo dividem opiniões quanto a sua aprovação. Mesmo com obstáculos, o jornalista não pode desviar de sua função. Investigando, apurando, enriquecendo culturalmente e divulgando aquilo que de alguma forma possa contribuir para a sociedade. O direito à informação é seu compromisso maior. Afinal, como ensina o bom e velho Galeano, “a primeira condição para modificar a realidade consiste em conhecê-la”.


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TEMPO

Tempo seco causa danos à saude baixa umidade do ar atinge estado de alerta na capital de São Paulo CRISTIANE SALGADO NUNES

O

tempo seco na capital de São Paulo atingiu estado de alerta com a umidade relativa do ar de 13%, considerada bastante grave. Esse tempo,

aliado com a poulição, pode representar perigo à saude. Em algumas cidades do interior do estado de São Paulo, como Ararinha, Franca, Ribeirão Preto e Votuporonga, ficaram em situação de emergência (menos de 12%), com nível de umidade similar ao de um deserto. O nível ideal de umidade relativa do ar é acima de 60%. Entre 21% e 30% é considerado estado de atenção; entre 13% e 20%, de alerta e abaixo de 13% entra em estado de emergência. A Secretaria de Estado da Saúde recomenda alguns cuidados importantes para prevenir problemas de saúde e ressalta que as crianças e os idosos são mais facilmente atingidos. Portanto, é importante a ingestão de líquidos para manter o corpo hidratado. O recomendado é dois litros de água por dia. Exercícios físicos também devem ser realizados em menor intensidade e evitar, principalmente, a exposição ao sol das 10h às 16h. As escolas deverão reduzir as


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“Cresce o risco de pneumonia, arritmia cardíaca e enfarte” atividades físicas para as arborizadas e em parques

O ideal é manter o am-

crianças: “Durante a ativi- é recomendado o mesmo biente umedecido e arejadade física se perde muito cuidado. líquido, então, os exercí-

do. Os aparelhos umidifi-

Os postos de saúde cadores são uma solução

cios serão reduzidos aqui constatam o aumento de e são encontrados à venda na escola, para evitar de- pessoas com problemas em farmácias. Outra opção sidratação ou qualquer ou- respiratórios e alérgicos. mais simples indicado pelo tro tipo de mal-estar”, con- É comum a garganta ficar dr. Petroni é colocar recifirmou Oswaldo Elias, 31, mais seca, podendo ocor- pientes com água no local, professor de educação físi- rer o sangramento do nariz “pode-se também colocar ca do Colégio Claretiano.

por rompimento dos vasos. toalhas

umedecidas

no

Para atletas, marato- Cresce o risco de pneumo- quarto, o que ajuda para nistas e corredores comuns nia, arritmia cardíaca e até dormir melhor e evitar prodeve-se tomar muito cui- de enfarte. O tempo exces- blemas respiratórios”. dado com a atividade física sivamente seco também

Banhos muito quentes

prolongada, pois o exercí- provoca dores de cabeça e também devem ser evitacio impõe uma sobrecarga irritação dos olhos. “Para dos. A água quente provono sistema respiratório, re- quem costuma usar lentes ca ressecamento da pele e nal e cardiovascular. “Sin- de contato, é melhor optar usar hidratantes melhora to-me mais cansaço e uma pelos óculos, pois olhos fi- seu aspecto e a mantém moleza com o calor exces- cam secos e a lente pode saudável. • sivo e a falta de umidade. causar ardência e irritaO jeito é beber bastante ção”, aconselha o médico água e mudar os horários Ricardo Petroni. Para alide treino”, comentou Claú- viar a irritação dos olhos e dio Cadalço, 38, corredor das narinas, indica-se utiliamador. Mesmo em áreas zar o soro fisiológico.


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COTIDIANO

A remuneração e o prazer pessoal são as metas dos vestibulandos

estudantes relatam critérios para escolha de profissão EDUARDO DIAMENTI

A

s informações que o jovem recebeu principalmente no ensino médio e no decorrer da juventude determinará a escolha do curso e profissão que ele

seguirá, além da influência que os mais próximos, como familiares, têm ao interferir na escolha e na opinião do vestibulando, que pode fazer com que ele siga pro-


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fissões “clássicas” ou “da Como é possível perceber Pois, se a pessoa faz algo moda”, que são aquelas no comentário de Henry de que não gosta e dá dique a sociedade conside- Zucker, de 18 anos, que nheiro, não ganhará muira de boa remuneração, afirma: “O sucesso profis- to, por não o fazer com de bom prestígio e reco- sional de uma pessoa está amor. Ao mesmo tempo nhecimento. Os cursos além da quantidade de que, se alguém faz algo que se encaixam nesse zeros de sua conta bancá- que ama, com certeza em conceito são Direito, Ad- ria. Ele tem relação com algum momento isso lhe ministração (que também a realização e o interesse proporcionará dinheiro”. é considerado o curso dos que a pessoa sente ao fa-

Gustavo Pinheiro, de

indecisos) e Medicina, en- zer seu trabalho, porque 18 anos de idade, ainda tre muito outros.

o interesse que a pessoa acha que muitos adoles-

Diante da dúvida so- demonstra no que faz, in- centes pensam que pobre uma profissão de qua- fluencia e muito em sua dem conseguir o sucesso lidade, vários jovens rela- performance”. taram suas opiniões em

profissional sem grandes

Outras pessoas pa- esforços. Ele alega: “Eu

relação ao futuro profis- recem ter opiniões para- acho que muitos (jovens sional e os fatores levam lelas à de Henry, porém e vestibulandos) pensam em conta, que vão desde algumas delas parecem só no lado financeiro, sem remuneração até o prazer levar mais em conta o pra- nem mesmo conhecer a pessoal.

zer pessoal no momento profissão. Muitos falam:

Vários deles chega- de escolher a profissão, ‘ eu quero ser jogador de ram à conclusão de que como Fernando Toledo, futebol’ ou ‘ eu quero ser um balanço entre prazer de 18 anos, que observa: médico’, pois se espepessoal e a remuneração “A remuneração é impor- lham em pessoas que se tem grandes possibilida- tante, mas nunca se pode deram muito bem na vida des de levar o individuo colocar em primeiro plano em certa profissão, sem ao sucesso profissional. o quanto se pode ganhar. ao menos ver o esforço


Denis Bertoncello

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fissionais definidos correm menos riscos de ter uma surpresa no futuro, tanto na faculdade como em sua vida profissional”. Outros como Lucas Moraes ressaltam que: “Outro fator é o econômico. Simplesmente a men-

“É possível o equilíbrio entre remuneração e prazer pessoal”

salidade é muito alta para o aluno bancar e a instituição não auxilia neste pro-

que fizeram. Para ser um Quando se atinge esse blema, levando ao trangrande médico é preciso equilíbrio, a pessoa é camento da matrícula”. muito, mas muito esfor- muito bem sucedida no ço. O mesmo vale para o que faz”. jogador. Nem todos os

A partir das opiniões dos jovens é possível per-

Grande parte dos en- ceber que muitos vestibu-

jogadores, nem todos os trevistados acha que a landos pensam que é posmédicos ganham um bom pouca informação do jo- sível haver uma maneira salário e muitos jovens vem pode levar a um fu- de relacionar prazer pesnão enxergam isso”.

turo abandono do curso. soal e remuneração para

A maioria das opi- A opinião de Henry ex- conseguir um bom sucesniões é resumida nesta pressa um pouco disto. so profissional. Além do frase de Victor Wagner, O jovem diz: “Os vestibu- que, a pouca informação de 18 anos: “É possível landos que estão mais in- em relação à profissão o equilíbrio entre esses formados a respeito dos desejada pode ser um fadois opostos (remune- cursos que pretendem fa- tor relevante para o abanração e prazer pessoal). zer e já têm objetivos pro- dono da faculdade. •


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COTIDIANO

Universitários que se formam em São Paulo não voltam trabalhar no interior GABRIELA BAIO MESCHINI

Estudantes do interior contam por que preferem continuar na capital

T

odos os anos, São Paulo recebe jovens de diferentes cidades, que vêm complementar seus estudos nas universidades. Eles gostam de mo-

rar sozinhos e melhoram sua relação com a família. No entanto, depois que se adaptam à cidade, não enxergam motivos para voltar ao interior.


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“Quero continuar na capital mesmo depois de formada”, diz Juliana

Depois de formado, vem viver aqui. A quanti- mada”, diz Juliana. Danilo Maciel, 23, conti- dade de exposições e cur-

No entanto, há as

nua morando na capital. sos disponíveis, a diver- experiências

negativas

Bacharel em Publicidade sidade cultural e a vida passadas pelos estudane Propaganda pela Uni- noturna

são

atrativos tes. Juliana lembra que,

versidade Presbiteriana que não se encontram na em uma entrevista de Mackenzie, não vê possi- maioria das cidades do emprego, foi questionabilidades de voltar a viver interior. “Além de maior da por sua maneira de em sua cidade natal, Cru- possibilidade de lazer, falar diferente: “Dissezeiro do Sul. “Aqui tudo é São Paulo me oferece ram-me que, agora que mais cansativo quando desenvolvimento profis- moro em São Paulo, comparado ao interior, sional, interligando-me devo aprender a falar mas lá não há oportuni- com os principais lugares sem sotaque”. dade de mercado de tra- do mundo”, diz Caio. balho para minha profis-

Quando

questiona-

A estudante de direi- dos sobre a diferença

são. Depois que comecei to da Pontifícia Universi- que mais lhes chamou a a estagiar fui subindo de dade Católica (PUC), Ju- atenção na capital, Caio e cargo na agência. Agora liana Romão Franceschi, Juliana têm a mesma opinão tenho por que aban- 19, já não teria esse pro- nião: a quantidade de modonar tudo”, afirma.

blema, pois sua profis- radores de rua. “Quando

Segundo o estudan- são possibilita inúmeros não estava acostumada, te de desenho industrial locais de atuação. “Pre- andar no centro da cidana Universidade Presbi- tendo prestar concursos, de me assustava. Sempre teriana Mackenzie, Caio mas, se puder escolher, me sinto mal com a granDi Giacomo Galdino, 20, quero continuar na capi- de situação de pobreza”, São Paulo encanta quem tal mesmo depois de for- afirma Juliana. •


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CAPA

São Paulo, a diversidade cultural

lado a lado com o medo do diferente sentimentos antagônicos se confundem na Terra da Garoa THIAGO CARA

A

maior metrópole do país é conhecida pelo modo de vida caótico de seus habitantes. Em meio à cacofonia da cidade, as pessoas buscam boa música

em bares, casa noturnas, concertos e tocadores portáteis, mas são nas próprias ruas paulistanas que se encontra uma das manifestações mais ricas da cultura brasileira: o músico de rua.


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A cada esquina, seja poder apreciar apresenta- Wilson conta que, quando de noite ou de dia, é pos- ções que conseguem pren- começou como músico, sível notar brasileiros dos der a atenção de pessoas, tocou em rádio, televisão, quatro cantos do país pro- normalmente, tão disper- trabalhou na Rádio Tupi, movendo a diversidade sas, sem cobrar nada pelo

mas ressalta que na rua a

cultural, aproveitando a ingresso.

coisa é mais quente e por

rotina dos moradores para

Muitos dos profissio- estar no meio do público,

mostrar seu talento musi- nais que escolhem a rua às vezes até com gente de cal e, com sorte, conseguir como palco têm experiên- outros países, a interação um complemento – ou, em cias em outros ambientes, é muito maior. Já Nelson alguns casos, o total – da mas é na rua que sentem Brolesi, 40, que toca clarirenda mensal. Geralmen- a maior satisfação em atu- neta entre os arranha-céus te os artistas não têm dia ar. É o caso de Seu Wilson, da av. Paulista, é formado fixo, nem horário de “ex- de 80 anos de idade, que já em música, toca e canta pediente”, mas basta uma toca com seu grupo na pra- em bares, mas acredita caminhada, por vias movi- ça Benedito Calixto, em Pi- que por São Paulo ser uma mentadas ou não, para se nheiros, há quase 20 anos. cidade cultural, é fundamental que a arte marque presença em qualquer tipo de lugar, independente dos espectadores. Entretanto, nem tudo são flores na realidade desses profissionais. Falta de reconhecimento e de apoio são problemas que praticamente inviabilizam que o músico de rua sobreviva


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única e exclusivamente do

de, principalmente o cen- gional. Lívio Tragtenberg,

seu trabalho artístico.

tro. As recentes políticas compositor experimental

É o que relata, por higienistas implementadas e saxofonista, é idealizador exemplo, Nataniel de Lima, pela gestão Kassab, que do projeto “Neurópolis”, 38 anos, de Maceió, que, foram criadas com o obje- uma orquestra formada além de tocar instrumentos tivo de “resgatar” a região unicamente com músicos de sopro no largo São Ben- central da cidade, na prá- de rua e seus instrumentos. to, se vê na necessidade de tica só têm marginalizado, Lívio sabe o que acontece comercializar suas flautas ainda mais, moradores, nas ruas, por isso defende para os transeuntes. “Mú- vendedores e músicos de iniciativas que incentivem sicos de rua não têm muito rua. Nataniel reporta que a divulgação do trabalho valor. Para mim é diferen- antigamente o artista de desses artistas e divide a te, pois trabalho também rua, em geral, tinha muito cidade em dois ambientes vendendo o instrumento”. mais liberdade e que hoje distintos. “Existe a cidade Mesmo no principal centro já não pode tocar em qual- visível, que é a cidade da empresarial da cidade, a quer canto, porque o “rapa mídia, em que as pessoas situação é parecida. Brole- enche muito o saco”. E vai reconhecem a cidade, que si, diz que tem o sonho de além: “se o músico estiver é a televisão, o rádio. Esses poder viver dignamente da tocando na rua e pedirem músicos não estão nesse música, mas que, em nosso para sair, ele têm de sair, universo, são invisíveis. As país, isso só não soa como senão levam até os instru- pessoas meio que os trautopia para quem conse- mentos”. gue contratos com grandes gravadoras.

tam como coisas invisíveis,

Há ainda quem vis- como se passa por um poslumbre um novo horizonte te”. Mas fica a advertên-

Somado a isso, ainda para o músico de rua, e luta cia: se não se presta muita está o fator da repressão do outro lado da trincheira, atenção em um poste, você policial que assola alguns para que o trabalho desses quebra a cara. • locais específicos da cida- artistas transcenda o re-


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ESPORTE

Futebol de várzea resiste à modernidade apesar de todo avanço na modalidade, o terrão mantém sua graça LUCAS EDUARDO LOPES

O

futebol amador, também conhecido como futebol de várzea, é uma modalidade tão famosa e importante quanto a categoria profissional. Milhares de pesso-

as de todas as idades, regiões e profissões o praticam geralmente, nos finais de semanas, nos famosos “terrões “(campos de terra batida), independentemente das condições do campo. O importante é ter duas traves e uma bola para garantir o jogo e transformar os atletas de fim de semana em grandes estrelas.


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A prática e as primeiras de futebol amador”, como a to sucesso e o pessoal pediu equipes de futebol de vár- imprensa apelidou a compe- pra continuar fazendo. Hoje zea surgiram nas margens tição, é a mais famosa copa caiu no gosto da rapaziado rio Tietê (atual Parque de futebol de várzea. Ela re- da”. Para o jovem Marcius São Pedro), antes mesmo cebe 438 times amadores do profissionalismo no Bra-

Vinicius Mesquita de Souza,

divididos em série A estudante de 17 anos, que

sil. Clubes sociais como o (convidados e classificados participou de duas edições Esperia, o Clube de Rega- da série B) e série B (clubes comentou um pouco sobre tas Tietê e o Corinthians que almejam a seguinte di- a competição: -“Nos dois Paulista foram nascendo visão). às margens do rio límpi-

Outras

anos que joguei o nível foi competições alto, todo mundo corre o

do, famoso por abrigar que não tem o mesmo pres- tempo todo para ganhar e as regatas de São Paulo tigio da Copa Kaiser acon- cobra dos amigos, mas isso nas primeiras décadas do tecem constantemente em é só durante o jogo, acabanséculo 19.

todo o Brasil. Um exemplo do a partida todo mundo

Em 1926 foi criada a é a Copa Aleluia, de Guaru- sobe pra tomar um refrigeLiga dos Amadores de Fu- lhos, que já vira atração no rante e ficar se gabando de tebol para a organização primeiro semestre de cada uma ou outra jogada, ou tiesportiva no estado de São ano na cidade. Conhecido rar sarro do outro, mas tudo Paulo. Atualmente esta fun- pelos amigos como “Bata- de forma saudável”. ção cabe à Federação Pau- ta”, Eduardo Ramos Brito

Apesar de não ser uma

lista de Futebol, responsável de 34 anos é quem organiza modalidade

profissional,

inclusive pela famosa Copa a competição desde 2005: - não pense que as partidas Kaiser. A “Copa do mundo “A primeira edição fez mui- são menos disputadas: to-

“Na terceira falta forte que ele cometeu pegou meu tornozelo de jeito” Juninho, 31 anos


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dos querem vencer.

comuns no futebol profis-

O futebol amador exis-

O uso de caneleiras e to- sional e não escampam aos te como uma forma de dar das as proteções utilizadas amadores. pelos profissionais são es-

oportunidade a todos que

O futebol de várzea se gostam do esporte inde-

senciais para evitar lesões, destaca também por sua pendentemente

de

sua

como a de Gilberto Gorgone versatilidade, pois tem a ca- habilidade ou condição fiJunior, 31 anos. Como profis- pacidade de revelar grandes nanceira. É um esporte sem sional, é gerente de uma loja jogadores para o esporte fronteiras que já virou trade roupas, como hobbye é profissional, como também dição no país e dificilmente o camisa 10 do Vicente Nu- recebê-los no fim de suas será extinto: pelo menos nes, clube de várzea do mu- jornadas nas quatro linhas enquanto existir um camnicípio de Nazaré Paulista. oficiais, a exemplo como po de terra e uma bola. • Juninho, como é conhecido, de César Sampaio, volante teve uma ruptura no tendão revelado pelo Esporte Cludo tornozelo em um amis- be Moleque Travesso (tratoso em mais um domingo dicional clube de várzea do de futebol: – “Tinha um jo- Jabaquara), que brilhou por gador me marcando indi- clubes grandes como Palvidualmente, e na terceira meiras, Santos e São Paulo. falta forte que ele cometeu No caminho oposto temos pegou meu tornozelo de Rodrigo Fabri, que brilhou jeito”, conta o jogador “Na na Portuguesa e Grêmio hora não senti muita dor chegando a defender o pomas, depois, meu tornoze- deroso Real Madrid por uma lo inchou muito e descobri temporada: atualmente o no hospital que tinha rom- meio campo canhoto está pido o tendão do tornoze- em um time da várzea na cilo”. Lesões como essas são dade de Santo André.


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ECOLOGIA

A revolucionária sacola retornável

Sacos mais resistentes promovem a preservação do meio ambiente JULIA MATTOS

E

m tempos onde o meio ambiente é prioridade, as famosas sacolas plásticas ainda dominam o mercado. Sua utilização faz parte da cultura brasileira, e

seu uso nada moderado prejudica cada vez mais a natureza. Estima-se que uma família com quatro pessoas contribui para a poluição com mais de mil sacolas plásticas por ano, um número alto e preocupante.


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Estas

sacolas

são

grandes vilãs quando se

O consumo dos sacos plásticos no Brasil é comum e imoderado

fala em sustentabilidade. Além de demorarem do atenção e os pionei- cartável), na maioria das de 200 a 450 anos para ros desse projeto são as vezes pano, e muito mais se decompor, muitas ve- redes de supermercados. resistentes. São reutilizes são inutilizáveis após Um novo tipo de sacola záveis e podem ser como uso. Daí serem chama- foi adotado, ou melhor, pradas atualmente em das de descartáveis. O re-implantado, já que todos os supermercados, fato de seu destino ser elas já foram protagonis- cada um com um design este é extremamente ir- tas em tempos passados. diferente. responsável. Encontram- Sim, são as, um dia famose seus vestígios em todo sas, sacolas retornáveis. tipo de cenário, e no mais

Um estudo da Funverde mostra que aquela

O Grupo Pão de Açú- família de quatro pesso-

perigoso: o mar. Não é car foi o primeiro a aderir as com um consumo anude hoje que se ouve falar a este tipo de projeto em al de mil sacolinhas plásem mortes de animais 2005. Com estratégias de ticas reduziria seu uso a sufocados com o plás- divulgação e promoções 500 sacos por ano. “Eu tico, e sua maior vítima atraentes, este novo tipo quero fazer minha parsão as raras tartarugas de compartimento mó- te na questão ambienmarinhas.

vel vem ganhando es- tal, por isso tento evitar

Portanto, o uso de paço em nossas vidas. essas sacolinhas. Mas às sacos plásticos não é Foram criados diversos vezes é inevitável”, conapenas economicamente desenhos

e

modelos fessa a aposentada Lucia

prejudicial, e, sim, tam- para atrair o consumidor. de Almeida, 56. Mesmo bém ambientalmente fa- A nova proposta consiste com a adesão das sacolando. Nos últimos anos em uma sacola de mate- las retornáveis, muitas o problema vem ganhan- rial diferente (não des- vezes é preciso usar as


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descartáveis

também. tadas. Porém também

Elas aguentam até 5 kg pode partir do povo a inie devem ser usadas com ciativa em prol do meio moderação.

ambiente. Especialistas

Outra medida toma- indicam

a

reciclagem

da em matéria de sus- como uma boa forma de tentabilidade é o exem- solucionar o problema. plo

do

supermercado Aconselham que em casa

DIA: ele controla e faz a pessoa deva reunir toseu consumidor utilizar dos os sacos plásticos as sacolinhas modera- utilizados, e encaminhádamente pagando por los aos postos mais próelas. O resultado é muito ximos de reciclagem. • bom e também diminui a quantidade de sacos plásticos no mercado. “Comecei a usar as sacolas retornáveis por causa

das

promoções

que o supermercado fazia”, conta a dona de casa Márcia Nunes, 42. O consumidor deve estar sempre atento às atitudes tomadas pelas empresas que frequenta. Quando boas e dignas de atenção, devem ser ado-


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ECONOMIA

Mulheres invadem o mundo das finanças

a jornalista Mara Luquet fala sobre a conquista feminina no campo da economia ALEXANDRE BAZZAN E MARJORIE OKUYAMA

A

pesar de o mercado de trabalho oferecer oportunidades iguais para homens e mulheres, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística),

elas ganham em torno de 72,3% dos salários recebidos pelos homens.Em entrevista com a jornalista Mara Luquet, temas como a participação da mulher na economia foram tratados de acordo com a sua experiência profissional na área. Originalmente jornalista no setor de política, ela se viu obrigada a escrever sobre economia quando a “Isto É”, revista em que atuava, foi comprada por outra empresa. Com a chegada dos novos chefes, ela foi convidada a trabalhar no jornal “Gazeta Mer-


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-cantil” que pertencia ao viam o tema. mesmo grupo. Já na nova

meira jornalista em uma

A realidade encontra- redação até então povoada

redação ela pôde observar da por ela é bem diferente por homens, assim como que homens e mulheres daquela enfrentada pelas Eugênia Moreyra, a primeitrabalhavam sob mesmas primeiras mulheres na pro- ra repórter, ajudaram a pacondições,

inclusive

al- fissão.Um marco na con- vimentar o caminho das fu-

guns departamentos eram quista feminina foi o Jornal turas profissionais.Em 1961 liderados por elas. Mara das Senhoras, fundado em o Prêmio Esso de JornalisLuquet nunca imaginou 1853 que tratava de diver- mo foi dado pela primeira trabalhar no setor econô- sos assuntos que interessa- vez a uma mulher: Silvia mico, simplesmente acon- vam as mulheres da época Donato ganhou o princiteceu, e ela começou a es- e contribuía para a emanci- pal da categoria com a retudar para se aprofundar pação moral delas. nos assuntos que envol-

portagem intitulada “Ado-

Oneide Lopes, a pri- te uma Criança”. Em seu agradecimento, a jornalista dividiu os louros com a colega Ana Arruda Callado, que já havia recebido menção honrosa no ano anterior e que, segundo ela, tinha colaborado na produção da reportagem.

Mara Luquet como convidada no auditório da Saraiva Megastore no Center Norte

Em parceria com a jornalista


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Andrea Assef, Mara Lu- digital também está dispo- vestidores e jogadores. O quet criou a revista “Elas & nível. Entretanto, a versão estudo aponta para alguLucros”, revista de finan- online só vai ao ar no mês mas vantagens femininas ças pessoais voltada para o seguinte. público feminino. Questio-

à hora de investir, como a

O que começou como paciência e a cautela, en-

nada sobre como surgiu a um projeto impresso hoje quanto os homens, apesar ideia de lançar a revista, ela já é multimídia. Andrea de mais arrojados, acabam disse que foi uma evolução Assef apresenta na rádio às vezes confundindo indos livros lançados ante- 107.3 fm o programa “Elas vestimento com jogo. riormente para o mesmo e Lucros”, que também

Quando

perguntada

público, entre eles “Meni- conta com um blog no en- do porquê de as mulheres nas Normais Vão ao Shop- dereço

http://elaselucros. gastarem mais que os ho-

ping, Meninas Iradas Vão à blog.uol.com.br/ . Bolsa”, que foi um grande sucesso.

mens, ela também trata de

Mara também apro- desmentir: “isso é um mito. veitou para desmitificar Pelo fato de as mulheres ad-

A revista surgiu no final alguns mitos sobre as mu- ministrarem o dinheiro fade 2008 em meio à crise fi- lheres. Segundo ela, ho- miliar e geralmente fazerem nanceira, porém esse fato mens e mulheres enten- as compras da casa, têm-se não desencorajou o lança- dem igualmente quando essa falsa impressão” mento da publicação no o assunto é bolsa ou eco-

Cada vez mais, a mu-

mercado. Pelo contrário, nomia em geral, com um lher vai conquistando seu Mara e sua sócia acharam agravante: mulheres ten- espaço no mercado de que seria o momento cer- dem a ser investidoras trabalho e no mundo das to, pois as pessoas precisa- mais responsáveis. riam de informações financeiras de uma forma fácil.

finanças, apesar de a dife-

A jornalista comen- rença de salário ainda ser tou um estudo do site in- acentuada. •

Além de chegar às ban- foworld.com, o qual faz cas mensalmente, a versão uma comparação entre in-


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POLÍTICA

STJ autoriza adoção por casal gay justiça mantém a decisão sobre duas crianças adotadas, em Bagé (RS) CRISTIANE SALGADO NUNES

A

adoção de duas crianças por um casal de mulheres foi reconhecida, por unanimidade, pela 4ª Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ), como legítima

no dia 27 de abril de 2010. A adoção já havia sido autorizada pela Justiça Federal do Rio Grande do Sul em 2006. O Ministério Público recorreu à ação, porém o STJ negou o pedido e manteve sua decisão inicial. As crianças moram há oito anos com o casal na cidade de Bagé (RS) e estudam em escolas particulares. A adoção foi aconselhada pela assistente social que acompanhou o caso e se fosse rejeitada, as crianças ficariam desamparadas ocorrência de morte ou

Reprodução

de separação e sem direito a plano de saúde e herança.


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A decisão é considera- como ainda somos uma perigoso gays adotarem da histórica para o Brasil, nação atrasada em certos crianças para molestá-las. mas na Europa, a adoção aspectos mais profundos, Chega a ser vergonhoso já vigora em vários países. aparentamos um povo sem ouvir esse tipo de coisa”, A Holanda foi o primeiro preconceito só na facha- afirma Guilherme Baldo, do continente a permitir a da”, conclui Daniela Rubio, 31, barman, que mora junmedida, em 2001. Logo de- 33, jornalista. pois, outros da região tam-

to com seu parceiro e pen-

Isso é um sinal de que sa em adotar uma criança.

bém aderiram: Dinamarca, os brasileiros devem abrir

Segundo a pedago-

Inglaterra, Espanha, Ale- os olhos sobre o assunto: ga Marília Elisa Moraes, manha, Noruega, Bélgica, a nossa sociedade ainda “a adoção por casais hoIslândia, Suécia e França. é muito conservadora em mossexuais só aumenta as Recentemente, na Argen- questões sociais. “A co- possibilidades de famílias tina também foi aprovada munidade gay no Brasil é para crianças carentes, e o a adoção. Apesar de o Bra- muito grande, mas ainda preconceito não pode ser sil possuir a maior Parada somos olhados com des- uma barreira para isso”. Gay do mundo – realizada prezo. O machismo é

A discussão principal

na cidade de São Paulo – muito presente na cul- se volta à figura da criana questão chegou aqui tura brasileira”, afirma ça, à respeito do preconcom atraso em relação Adriano aos outros países. O casal gay, em outros

Zimmermann, ceito que ela pode sofrer,

28, designer.

também pesa a opção

Um dos argumentos sexual do casal. A dra.

países, se transformou em contra à adoção é pelo Maria Rita Simurro, psiuma família potencial para fato da sociedade confun- cóloga especializada em a adoção de crianças ór- dir homossexualismo com sexualidade,

acrescenta

fãs. “É muito hipocrisia isso pedofilia: “a falta de infor- que “assim como criannão vigorar no nosso país. mação é tão grande que ças gordas, negras ou que Acho que isso comprova tem pessoas que acham possuam algum tipo de


Reprodução

27

“A adoção por casais homossexuais só aumenta as possibilidades de famílias para crianças carentes” Marília Elisa Moraes, pedagoga

deficiência sofrem pre- aceitação acontece com a criança adotada por conceito. O que foge do maior facilidade. “Sinto homossexuais não pospadrão, na sociedade, in- falta de educação sexual sui sua sexualidade afefelizmente é passível de na escola e acho que se tada. Aliás, talvez isso preconceito. Isso só pode houvesse desde sempre, seja um tabu a menos na ser mudado com a edu- não haveria tantas brinca- família. • cação da população. O deiras contra gays”, arguque não pode ocorrer, por mentou Mellina Soares, exemplo, é que a criança 16, estudante do colégio sofra bullying na escola”. Existe a preocupação

Claretiano. A dra. Simurro consi-

com a reação da própria dera que da mesma forcriança ao se dar conta ma que adolescentes se da situação, mas quando descobrem homossexuhá a educação sexual, a ais tendo pais héteros,


28

TECNOLOGIA

Livrarias apostam nos e-readers VANESSA ELIAS KHOURI

A

s editoras brasileiras iniciam a venda de livros eletrônicos. A aposta no crescimento de vendas dos e-books depende do aumento do número de

leitores digitais, os e-readers.

editoras se unem na criação de uma distribuidora de livros digitais


29

Para distribuir os livros digitais, foi criada a DLD (Distribuidora de Livros Digitais). Integram a DLD as editoras Objetiva, Record, Sextante, Intrínseca, Rocco e Planeta. A empresa tem como base o modelo de uma iniciativa espanhola, com os três maiores grupos editoriais do país. A distribuidora possui um foco varejista e pretende até o fim do ano ter entre 500 e 1.000 títulos disponíveis. A editora Record, por exemplo, se inicia no mercado digital com dez títulos, entre os quais “Perdas e Ganhos”, de Lya Luft, “A Casa das Sete Mulheres”,

Há uma preferência por livros impressos, apesar das vantagens dos e-books.

de Letícia Wierzchowski, modelo europeu, nos Es- e-book vendido pela Ama“São Bernardo”, de Graci- tados Unidos a Amazon zon só serviria para o Kinliano Ramos, “Limite Sem controla

praticamente dle, mas não para o iPad

Trauma”, de Tania Zagury, todo o mercado de livros da Apple. Então, uma das e “Meu Nome Não É Jo- digitais, monopolizando prioridades da DLD é evihnny”, de Guilherme Fiúza. os preços e formatos dos tar que haja uma monoDiferentemente

do e-books. Por exemplo, o polização do preço e do


30

formato dos e-books.

Livraria Cultura, deve con- mão do livro impresso: “A

Porém, apesar des- tribuir ainda mais para o vantagem dos e-books é a sa aposta acredita-se que crescimento do mercado. o livro impresso não será

economia de papel, assim

A vantagem dos livros o homem desmata menos.

extinto. Ainda há uma pre- digitais é o seu peso. “Po- Vai ser muito difícil mudar ferência pela leitura no pa- demos levar vários livros a mentalidade do homem pel. “Não consigo passar dentro de um único apare- desta geração e fazer com muito tempo lendo textos lho. Há uma economia do que ele leia um livro através no computador, tenho do- peso, não precisamos le- de um aparelho eletrônico. res de cabeça. Além disso, var quilos em nossas mo- Mas a nossa geração conadoro a sensação de virar chilas ou malas, principal- segue perceber o que ocora página de um livro quan- mente quando estamos reu com a queda de vendas do o estou lendo e isso se viajando”, diz a estudante do jornal impresso. Quem perde no mundo virtual”, de engenharia Daniela De sabe no futuro o homem afirma a estudante, de 19 Sessa, de 20 anos. anos, Juliana Almeida.

leia mais livros eletrônicos

A 21ª Bienal do Livro do que impressos”. •

Apesar de ser pequena em São Paulo possui uma a quantidade de leitores área dedicada aos livros didigitais, acredita-se que gitais. Os e-books ganhacom a criação de recur- ram um espaço com wi-fi sos de multimídia, como e e-readers de diversos fao iPad, esse quadro mude, bricantes, onde as pessoas aumentando o número podem explorar esse novo de vendas. A entrada da universo. A estudante de leSaraiva na venda dos e- tras Camila Dardé, 21 anos, readers e e-books, junta- achou muito interessante mente com outras iniciati- esse espaço mas acredita vas, como as da Fnac e da que não conseguiria abrir


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CULTURA

Antiguidade que não sai de moda

tradicional Feira de SP atrai cada vez mais expositores e visitantes

A

ALAN GABRIELLI AZEVEDO lém de ter sido pintor, desenhista, professor, historiador e astrônomo, Benedito Calixto é uma praça. Homenageado na cidade de São Paulo, Benedito

Calixto de Jesus teve seu nome emprestado à praça Benedito Calixto, em Pinheiros. Entretanto, não é só um calmo e bonito jardim público: a praça expõe aos sábados uma das atrações mais famosas da cidade, a Feira da Praça.


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A Feira existe desde

A procura tam-

1987 e todo paulista a co- bém aumentou no nhece: inúmeras barra- decorrer dos anos, quinhas vendem artigos fazendo

a

praça

antigos, raros e interessan- crescer em númetes. Vão de figurinhas de ro de expositores. álbuns antigos às vitrolas “Aqui não entra mais e máquinas fotográficas, expositor novo. Vápassando por brinquedos, rias novas barracas prataria, cadeiras e me- foram tomando essas, broches, medalhas do paço, mas sem obeexército, jóias, LPs e CDs, decer e respeitar a livros e cartões postais, cultura, a idéia da sendo todos antigos e colecionáveis. Questionada sobre as mudanças da feira ao longo dos anos, Luisa Negri, 72 anos, há 20 vendendo câmeras fotográficas antigas, afirma: “Antigamente vendíamos no chão. E a venda era mais fácil, pois o comprador não a via como uma antiguidade e, sim, como um simples produto. Hoje eles são mais exigentes”.

Feira. Hoje você encontra bonés e tênis para vender aqui”,

contesta

Cláudio Frinter, 53

“Não há mais espaço para novos expositores na Feira” uma aula. Procurando LPs

anos, vendedor de garrafas na diversas caixas, o estucolecionáveis há 12.

dante de hotelaria Leandro

Com 320 expositores, Carinccelo, 19, comenta: não há como se cansar. A “Venho aqui porque a vavariedade de produtos é riedade é grande, é até imensa e os vendedores difícil escolher o que comconhecem o que vendem e prar. Mas os produtos que a história do que vendem. encontro aqui não existem Por isso, parar para conver- em nenhum outro lugar sar com eles pode se tornar que conheça de São Paulo”.


Se mesmo assim a pessoa

BIGSP

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não achar o que procura, os vendedores avisam que no dia seguinte, domingo, eles voltam a expor no bairro do Bexiga, ao lado do viaduto 13 de Maio. A Feira da Praça também proporciona aos visitantes uma praça de ali-

O mais interessante

mentação com direito a é o sentimento nostálgium show de chorinho. Cin- co que invade o visitante. co músicos apresentam Os brinquedos antigos, clássicos do samba e do as decorações, os móchoro, animando o públi- veis e até os vendedores co. “Estou aqui há apenas mais idosos remetem a dois meses, mas essa ener- um passado cheio de lemgia já me conquistou”, sor- branças do qual só a Feira Onde e Quando: ri o atendente de uma bar- da Praça Benedito Calixto Praça Benedito Calixto, raca de comida Guilherme proporciona.•

Pinheiros. Entre a Rua Te-

Nunes, 26 anos, que sam-

odoro Sampaio (altura do

ba no intervalo entre um

número 1000) e a Rua Car-

cliente e outro.

deal Arcoverde (altura do número 900). Todos os sábados das 9 às 19 horas.


34

CULTURA

Literatura ao alcance de todos

blogs literários reinventam a relação espaço-tempo entre escritor e leitor

THAIS PAIVA

A

era digital nos proporcionou uma aproximação com uma séria de coisas, entre elas literatura gratuita. Os chamados blogs literários são um verdadeiro fenôme-

no que atende a tal requisito. Tais blogs consistem em sites onde diversos escritores, em uma espécie de coautoria, postam seus escritos em um espaço que potencializa o diálogo, a polifonia presente em uma literatura onde a grande vantagem está justamente na liberdade de se dizer aquilo que se pretende sem precisar agradar a vontade dos editores. Logo, diante da dificuldade que é muitas vezes encontrar uma editora, tais veículos possibilitam a visibilidade que novos escritores necessitam no começo de carreira e não deixam de ser uma alternativa para quem procura expor sua literatura de uma forma mais dinâmica e instantânea, fruto da interação que a própria natureza digital possibilita.


35

Devido à sua facilida- logo se impõe é o das van- andreadelfuego.wordpress. de de acesso, os blogs vêm tagens e desvantagens en- com. Ela nos conta a expese constituindo como uma tre livro e blog. De um lado riência que é escrever utilinova possibilidade dentro temos a materialidade do zando o blog como mídia da literatura. Assim, estes livro, com seus limites bem e qual sua opinião sobre a se configuram como uma contornados; de outro te- tendência à digitalização no teia, onde as mais diver- mos o caráter fragmentá- mundo literário. sas vozes coexistem e dia- rio do blog, muito mais dilogam entre si. Os blogs fuso. Essa imaterialidade Foca - Qual sua relação acabam com o velho es- proporcionada pelo digital com o blog como suporte tigma do escritor solitário parece agradar tanto aos literário? Como e para que que produz na distância de escritores como aos leito- fins você o utiliza? seu escritório, inacessível. res, que veem nessa mí- Andrea - No começo, o que A internet possibilita a re- dia uma efemeridade que eu vi no blog foi a oportunicriação deste elo, aproxi- conforta. mando autor e leitor em tempo e espaço.

dade de ter voz própria, ou

O resultado de tudo seja, era um espaço onde isso se traduz não só em não havia ninguém me

Além disto, as novas uma

maior

democrati- editando e também fica-

mídias digitais, entre elas zação da literatura, mas, va dissolvido o critério do o blog em si, possibilitam a principalmente, na rein- tempo. O tempo era imeutilização não só do texto venção da relação escri- diato, acontecia em conescrito, como também de tor-leitor, que agora ganha comitância com a escrita, e outras linguagens como novos contornos. a fotografia, o vídeo e o

também assim era o retor-

Andrea del Fuego, es- no que o blog me propor-

áudio configurando estes critora, participou de blogs cionava. Comecei meu priespaços como verdadeiros como falaae, escritorassui- meiro blog em 2005, onde hipertextos. Outra

cidas e blônicas, hoje man- eu publicava minicontos, questão

que tendo seu próprio blog o não muito longos, por jul


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gar a própria leitura em frente ao computador um tanto desconfortável. Então acabei lançando posteriormente dois livros de contos, sendo que ambos foram lançados em primeiramão no próprio blog. Foca - Como você interpreta essa interface entre literatura e a internet? Você acha que essa última democratiza a primeira de certa forma? Andrea - Considero positivo, muito positivo. Todo mundo voltou a ler e escrever em massa. Houve essa enorme difusão de escritos, de literatura sem interessar de fato o real conceito desta palavra, já que fica cada vez mais difícil definir o que é literatura hoje. Portanto, para mim, a internet proporcionou um surgimento literário. Veja por exemplo

a escritora e blogueira Andréa del Fuego o caso do twitter, o inter- de um poder de síntese que nauta se torna editor de sua requer muito trabalho. própria palavra, ele precisa selecionar um assunto en- Foca - Os blogs facilitam o tre muitos e ser prolixo em lançamento de novos es140 caracteres. Dizer tanto, critores? em tão poucas palavras é Andrea - Acredito que sim.


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As editoras já ficam de olho carioca e através dele co- onde escrevem mulheres e nos próprios blogs. O mer- nheci diversos escritores e homens que se passam por cado tem se beneficiado colegas com quem acabei mulheres. O resultado foi com essa abertura na ven- trocando muita literatura tão legal que o site virou um da de livros. Eu criei meu e, também um pouco de livro, um pouco parecido blog em 2005, e ele mudou nossas experiências pes- com a história do Blônicas, de certa forma meu modo soais. Depois passei a co- que era inicialmente um de escrever tendo como laborar com o escritoras- blog de crônicas que tamresultado o lançamento de suicidas.com.br, um site bém levou o mesmo fim. dois livros. O blog é positivo no sentido de que tira o peso do exercício da literatura. Você acaba adquirindo uma linguagem mais leve consequente do dinamismo que envolve escrever quase em tempo real. Foca - Hoje em dia existem os chamados blogs literários onde escritores e interessados em literatura trocam textos e comentários. Você participa de algum? Como os enxerga? Andrea - Eu comecei a escrever em um blog literário

“Os malaquias”: romance adulto recém publicado pela autora


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Foca - Quão importante surgiu em 2005, e eu não fa- estante, já o blog não, enfoi o papel destas mídias zia idéia do grande prazer e volve toda uma estrutura digitais no seu lançamen- trabalho que isto me daria. física diferente. Creio que to como escritora?

É muito bom por ser tam- tenho uma sensação mais

Andrea - Sem dúvida, no se- bém um espaço de conver- segura com o livro. Os sites tor da visibilidade. É im- sa com o leitor. O blog não saem do ar, desaparecem, possível imaginar minha escrita sem esta conexão porque uma coisa é escrever para si, outra coisa

“Não consigo me imaginar sem o blog”

é escrever para os outros.

o livro não. Foca - Como você enxerga a questão dos direitos autorais ligado à internet?

Não consigo me imaginar deixa de ser uma forma de Andrea - É um pouco consem o blog, justamente dizer o que eu penso, mas, traditório, porque ao mesporque ele me proporciona claro, não é tudo que eu mo tempo que acredito que esta conexão com o outro. penso que está ali. Não há tudo deva ser acessível, tamO blog não tem censura, como cometer sinceridade bém acredito que deva haver não tem edição; a revista, absoluta.

maior incentivo ao escritor.

sim. Além disto, a revis-

Na verdade, o retorno finan-

ta tem um contexto, uma Foca - Qual a vantagem ceiro que eu tenho vem mais pauta. No blog este con- do blog em relação ao li- dos desdobramentos do blog texto também é produzi- vro?

como palestras, colaborações

do, seja pelos textos, pelas Andrea - O blog é mais vo- para livros e programas, do imagens, até mesmo pelo látil que a materialidade que da literatura em si. É letítulo.

do livro. Ele não precisa ter gal poder divulgar as nossas começo, meio e fim, é mui- obras, mas não há como es-

Foca - Como surgiu a idéia to mais disperso, aglutina quecer que o escritor também de criar o blog?

várias vozes e gêneros. O possui sua materialidade, que

Andrea - A idéia de lançá-lo livro está ali parado na sua precisa ser mantida.•


39

CULTURA

Maria Erótica usa quadrinhos eróticos para retratar ditadura livro conta com extenso arquivo de imagens e entrevistas ANA PAULA DE ARAUJO

D

itadura,

revolu-

ção sexual, cen-

sura e um trabalho de pesquisa extenso do jornalista Gonçalo Junior. Esses são alguns dos elementos do livro Maria Erótica e o Clamor do Sexo, que retrata, a partir da história de quadrinhos eróticos brasileiros, a época mais conturbada da liberdade de expressão em nosso país: a ditadura militar. A

continuação

da

obra A Guerra dos Gibis, cujo nome completo é A Guerra dos Gibis 2: Maria Erótica e o Clamor do


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Sexo (Imprensa, Porno- Bloch etc. – por causa da

A jornalista Ana Luísa

grafia, Comunismo e Cen- censura – e de seus artis- Lage, 25 anos, acompasura na Ditadura Militar, tas (principalmente Mina- nha o trabalho de Gonçalo 1964/1985), introduz ao ni Keizi e Cláudio Seto), a Junior, embora ainda não leitor o pensamento de chegada da pílula anticon- tenha concluído a leitura uma época a contar da óti- cepcional e a revolução se- de Maria Erótica. “O que é ca peculiar dos quadrinhos. xual que ela causou, entre muito perceptível no traba“Não existe nenhuma pes- outros temas. quisa com o mesmo enfo-

lho dele é que tudo é muito

Silvio Alexandre, 46 bem pormenorizado, uma

que que dei. Meu livro é anos, editor, é uma auto- pesquisa preocupada com uma visão absolutamen- ridade em HQs no Brasil e os mínimos detalhes”. te nova da história da di- não poupou elogios ao jortadura militar: a partir nalista: “O Gonçalo é um Confira a entrevista com o da censura às revistas de pesquisador nato. A maio- jornalista Gonçalo Junior: sexo ou ‘de mulher pela- ria de seus livros tem uma Foca - Aparentemente, qual da’”, diz o autor.

profundidade de pesqui- era a relação entre erotis-

Gonçalo vai além do sa admirável, realmente é mo e o comunismo? óbvio, ao tocar noutras um trabalho sério e forte”. Gonçalo Junior - Essa requestões que mexeram Quando questionado so- lação só existia na cabeça com a sociedade brasileira bre a classificação de “li- dos neuróticos e moralistas entre 1964 e 1985, como a vro-reportagem” que o li- que comandavam a censuchegada da contracultura vro ganhou, foi claro: “Ele ra, como os ministros da ao Brasil, problemas imi- é um jornalista, acima de Justiça Alfredo Buzaid (do gratórios sofridos por ja- tudo, então esse traba- Governo Medici) e Armanponeses, o drama das edi- lho que faz é um trabalho do Falcão (Governo Geisel) toras Grafipar, Edrel, Abril, jornalístico”.

e os chefes da censura em

“a pornografia fazia parte de um plano do comunismo”


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todo país, cujo QG ficava

os dois? Ou nenhum?

gos, sociólogos, historia-

em Brasília. Para eles, a GJ - Para os dois grupos. dores etc. • pornografia fazia parte de No caso dos pesquisaum plano do comunismo dores, num sentido muiinternacional para des- to amplo do termo, pois membrar moralmente as pode interessar a sexólofamílias e facilitar a entrada de sua ideologia no país. Curiosamente, em Moscou, os soviéticos diziam a mesma coisa, ao contrário: revistas de sexo eram armas do decadente imperialismo capitalista, cristão e ocidental. Foca - Há previsões de um terceiro volume para a série? GJ - Sim, espero concluílo no próximo ano para lançamento

em

2012.

Desta vez, falo da produção marginal brasileira, com foco na história da editora Circo. Foca - Afinal, trata-se de um livro para amantes de HQ, historiadores ou

Maria Erótica, série criada por Cláudio Seto, é o ponto de partida de Gonçalo Junior


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CRÔNICA

O invisível EDSON FERREIRA Novamente naquele dia, passei em frente Enfim ... como eu disse ao homem que não vi.

o mesmo de sempre !

E percebi – mais uma vez – que todos ao Porém, pensando melhor, tem algo a mais meu redor também não o enxergavam.

nele que nunca muda...

Sempre não o percebo em um lugar,

A mesma feição, o mesmo rosto sofrido,

sempre numa esquina ou calçada diferente. o mesmo pedido de socorro – através de Essa é sem dúvida a única coisa na qual um grito ensurdecedor que é mudo. suspeito , que muda nele. De resto sempre a mesma coisa...

...

A mesma roupa aos farrapos como se ela tivesse mais idade que o próprio homem ;

As pessoas passam em seus carros ou a

o mesmo cabelo despenteado de maneira caminho para o trabalho e, igualmente uniforme;

como eu, não o notam. Ou fazem questão

a mesma boca sem dentes – que parece de não notarem – afinal é melhor fingirem não ter motivos para sorrir –;

e se convencerem, com o tempo, de que

o mesmo olhar de abandono de quem não o problema é de outrem . Não querem tem família – ou de que essa também fez olhar nos olhos de alguém, que para elas questão de não enxergar mais.

não existe.

O mesmo sapato desgastado – que tem Assim ele segue sua caminhada, de um buraco, que deixa seus dedos para lugar em lugar, esperando que algum fora;

dia alguém o veja, alguém o perceba,

e o mesmo ferimento no rosto de uma alguém o note. possível briga – ou melhor uma possível E, acima de tudo, alguém consiga ouvir defesa, contra quem infelizmente o ob- seu pedido de ajuda e o salve antes que servara durante e calada da noite.

seja tarde demais. •


É possível, lendo um romance, sentir o prazer que se tem num orgasmo? Por melhor que seja o escritor, a leitura de seu livro não vai nos dar o prazer do orgasmo. A escola tão-somente não faz um bom jornalista - é preciso que ele saiba das coisas e as tenha visto. Não adianta apenas ler a respeito: é necessário pisar aquele chão, sofrer o sol, saber ver nos rostos da multidão o que é uma pessoa e o que é outra. Cláudio Abramo (1923-1987)


Andréa del Fuego

A escritora de “Os malaquias” já participou de inúmeros blogs, esgotou a capacidade de outro e atualmente se mantém no Wordpress. Acredita que os blogs facilitam o lançamento de novos escritores.


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