Boletim do Kaos #5

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ONDE PEGAR O SEU EXEMPLAR SÃO PAULO - CAPITAL Região Central DGT Filmes Rua 13 de Maio, 70 Ação Educativa Rua General Jardim, 660 Sebo 264 Rua Rua Álvares Machado, 42 Liberdade - F (11) 3105-8217 Restaurante Santa Madalena Rua Sta Madalena, 27 - Bela Vista Conduta Galeria 24 de Maio Porte Ilegal (Galeria 24 de Maio) Espaço Matilha (Rua Rêgo Freitas, 542 - Centro - SP) Zona Leste Loja Suburbano Convicto Rua Nogueira Vioti, 56 - Itaim Pta (11) 2569-9151 Locadora New Holiday Rua Nogueira Vioti (11) 2572-2000 Casa de Cultura do Itaim Paulista Pça Lions Clube, s/n - Itaim Pta. Sebo Mutante Rua Barão de Alagoas, 76-A - Itaim Pta) Zona Sul Itaú Cultural (Na Biblioteca/Midiateca) Av. Paulista, 149 - 2º Mezanino Bar do Zé Batidão Rua Bartolomeu dos Santos, 797 - Chácara Santana Loja 1 da Sul Rua Comendador Santana, 138 - Capão Redondo Loja 1 da Sul Av Adolfo Pinheiro, 384 Loja 31 - Galeria Borba Gato Estudio 1 da Sul Rua Grissom, 80-A - Metrô Capão Sarau da Cooperifa - Toda quarta 20h30 Rua Bartolomeu dos Santos, 797 Chácara Santana Sarau do Binho Rua Avelino Lemos Jr, 60 Campo Limpo (11) 5844-6521 Sarau da Ademar Rua Pablo Pimentel, 65 Cidade Ademar (11) 5622-4410. Zona Oeste Bar do Santista/Sarau Elo da Corrente Rua Jurubim, 788-A Pirituba Zona Norte CCJ - Vila Nova Cachoeirinha Av Dep. Emílio Carlos, 3641 Banca de Jornal alt. Nº 450 da Rua Dr César Castiglioni Jr) Sarau da Brasa - Bar da Carlita Rua Prof.Viveiros Raposo, 234 Suzano Centro Cultural de Suzano Rua Benjamin Constant, 682 - Centro Santos DULIXO no Marapé tubarao013@hotmail.com www.boletimdokaos.blogspot.com Peça pelo email: boletimdokaos@hotmail.com

“Todo mês, pego o Boletim do Kaos e levo para a escola. O legal é que agrada os profes-sores e os alunos. Muito bom o trabalho de vocês. Mesmo sendo de graça, tem muita qualidade”, falou um professor de escola pública no último lançamento do jornal na Cooperifa. Colocamos em prática um jornalismo com liberdade, incentivo a literatura e que é antenado tanto com a juventude, que busca algo a mais, como com leitores já formados. Saber que conseguimos, nos dias de hoje, incentivar a leitura, é muito gratificante. Nessa edição, entre as centenas de e-mails que recebemos, um chamou atenção: “Obtive muitas informações sobre literatura periférica e seus autores, eu confesso que não conhecia muito, mas depois das matérias sobre o assunto, comecei a me interessar, não sou um leitor muito assíduo, mas os autores que são indicados me interessaram e vou voltar a ter uma prática na leitura”, teclou Jhonathan da Silva Mendes Tubarão (SC). Teve até um leitor de Minas Gerais que recebeu o jornal de um amigo da Bahia. É a informação correndo solta e o Boletim cumprindo seu papel. Em nossa quinta edição, trazemos uma entrevista com uma escritora peculiar. Cláudia Canto está lançando seu quarto livro abordando temas desde a xenofobia, vivida na Europa, aos bastidores de uma clínica psiquiátrica no Brasil. Seus textos e suas reflexões são elogiados por poetas como Mano Brown, do Racionais.

Outra entrevista é com um autor já conhecido do público, o jornalista e escritor Xico Sá. Na sessão Grandes Homens, uma matéria com Edward Bunker, um dos maiores nomes da literatura marginal. Para curtir a poesia de Roberto Ferreira Lima e o Perfil do Poeta com o Cooperiférico Lobão. Continuamos com nossa tira 1.000 Fita. Trazemos também, na dica de Sarau, o Elo da Corrente, de Pirituba. Temos ainda, na sessão ONG Q Representa, direto da Bahia, uma matéria com Blacktitude. De Portugal, nossa colaboradora Juliana Penha fala sobre a literatura como porta-voz do cárcere: o caso do jornalista Mumia Abu Jamal. E, na mesma página, você vê os lançamentos do mês da literatura que nos interessa. No Espaço Vip das Palavras, um texto de Fernando Bonassi e, na parte de cinema, uma entrevista com Ricardo Elias, que retrata as ruas em seus filmes. Também fizemos uma visita ao Instituto Itaú Cultural e mostramos as atrações que a instituição disponibiliza, todas Catraca Livre. Para finalizar na sessão “Antes e Depois”, trazemos Paulo Leminski, que tem suas poesias por toda a publicação, junto com Sérgio Vaz, o poeta da periferia. Mês que vem tem mais.


Por Alessandro Buzo

O projeto Grandes Encontros comemorará o dia dos pais no domingo, 9 de agosto, às 12h30 na praça de eventos do Shopping Anália Franco, em São Paulo. O show será transmitido ao vivo pela da Rádio Eldorado FM (92,9 kHz) e pelo site Território Eldorado. O Grandes Encontros foi vencedor do Prêmio APCA na categoria de Melhor Programa ao Vivo de Rádio em 2008 e, para celebrar a data em grande estilo, Luiz Melodia dividirá o palco com o seu filho, o rapper Mahal Reis.

Dudu de Morro Agudo é conhecido pela ONG Enraizados e seus projetos sociais, e também por sua carreira no rap, além de aventuras na literatura. Sua primeira aparição foi com um conto na coletânea Suburbano Convicto - Pelas Periferias do Brasil (Suburbano Convicto Edições - 2007), e agora acaba de ser convidado para escrever a história do Movimento Enraizados e sua

carreira na Coleção Tramas Urbanas da Aeroplano Editora. Os livros têm como editora a escritora Heloisa Buarque de Hollanda. Pela coleção já saíram nomes como Alessandro Buzo, Aécio Salles, Sérgio Vaz, DJ TR, DJ Raffa entre outros. Em fase de pesquisa, Dudu começa a organizar seu material e a escrever uma história que começou nas ruas sem asfalto da baixada fluminense e, atualmente, dialoga com ONGs da Europa. O rapper é presidente do Movimento Enraizados e lançou, há alguns meses, seu primeiro álbum Rolo Compressor, que saiu em SMD (Semi Metalic Disc) por um preço final de CD + pôster por R$ 6, com proposta de democratizar o trabalho. A divulgação no Brasil foi forte, mas o ponto alto da turnê aconteceu no mês passado, quando ele e sua equipe passaram um mês na França, fazendo shows em Paris e outras cidades. Junto com o rapper Léo da XIII (backing), DJ Soneca e o seu empresário Luiz Carlos Dumontt, embarcaram para a França no mesmo voo que, uma semana antes, caiu no oceano e gerou centenas de vítimas. “A gente ficou meio em transe porque, na verdade, a gente iria pegar este voo que caiu, se a gente não tivesse fechado o show em Nancy, chegamos a comprar a passagem e depois mudamos para o dia 26 de maio”, relembra Dudu. Apesar do começo desconcertante, a viagem foi um sucesso. “Chegamos primeiro em Nancy e depois fomos para Paris e Blanc Mesnil, fechamos com duas apresentações em Paris, sendo que uma delas no Favela Chic e a outra em um evento de resistência dos imigrantes”, fala Dudu. Sua experiência na Europa lhe trouxe uma nova visão: “O hip hop é a música da periferia francesa, existem muitos programas de TV, rádios e grupos de rap. Mas o rap brasileiro é

mais militante. Nossos motivos para fazer rap são outros”, reflete. Para quem começou no subúrbio carioca, o rapper diz que não imaginava isso há 10 anos atrás. “Mas eu sou cria da periferia, que cria melodia e realiza um sonho por dia”, rima Dudu, que para quem conhece pessoalmente, tem um lado muito descontraído, fugindo do estereótipo do rapper militante. Sempre bem humorado nos contos sobre os momento mais engraçado da viagem: “O Dumontt comprando queijo em uma mercearia: ele começou falando em francês, depois passou para o espanhol, depois tentou em inglês, sussurrou um italiano e finalizou num português e ninguém entendeu nada. Aí ele falou alto: 'Que porra é essa aqui?!', e um cara que estava atrás respondeu: - 'Cheese'.” Mesmo com a carreira de músico movimentada, seu principal foco é o Movimento Enraizados. “Chegamos, hoje, aos vinte e sete estados brasileiros, através da rede de militância. Estamos em uma ótima fase e crescendo a cada dia. Nossa ideologia ultrapassou as barreiras do nosso país e começou a pipocar Enraizados em outros países. Agora, nós estamos conhecendo eles pessoalmente e podendo articular grandes projetos internacionais juntos”, diz o rapper. Dudu também arranja tempo para desenvolver projetos no áudio visual e lançou, recentemente, o documentário Mães do Hip Hop. “É um filme que já nasceu para fazer sucesso, porque é um filme verdadeiro. Conta um pouco da história do Enraizados, mas não se resume somente a isso. Ele tem outros eixos muito importantes, pois trata as questões de gênero, etnia, saúde, edu-cação, segurança pública e o mais maneiro é que é através da ótica das nossas mães. Exibimos na França e a galera gostou muito”. www.myspace.com/dudumorroagudo www.enraizados.com.br www.dududemorroagudo.blogger.com.br

De um lado, o suingue e experiência de um dos mais respeitados compositores e cantores da MPB, Luiz Melodia. Do outro, o estilo jovem e a modernidade do seu filho, o rapper Mahal Reis. Luiz Melodia mostrará toda a musicalidade de seu último trabalho, o álbum, Estação Melodia, que reúne sambas dos anos 30, 40 e 50, além de sucessos consagrados de sua carreira, como Pérola Negro e Negro Gato. Local: Praça de Eventos do Shopping Anália Franco Av. Regente Feijó, 1739 Piso Orquídea – Tatuapé Informações: www.shoppinganaliafranco.com.br Capacidade: 4 mil pessoas Entrada Gratuita Colabore doando 1 Kg de alimento não-perecível.

Por sua vez, o rapper Mahal Reis, combina sensibilidade e intelectualidade que enriquece o cenário do hip hop nacional. Em parceria com seu pai, o rapper gravou a música “Lorena” que faz parte do CD Retrato do Artista Quando Coisa. Em sete anos de projeto foram realizados 68 shows, com a presença de 107 artistas diferentes, recebendo um público de mais de 290 mil pessoas. Desde 2005, o projeto conta com o patrocínio da Unicid (Universidade Cidade de São Paulo) e incentiva o público a doar alimentos não-perecíveis, posteriormente distribuídos a entidades que desenvolvem trabalho de cunho social com a comunidade local. A cada show uma instituição é beneficiada.


Faço a minha parte com a diversão, pois essa coisa de levar futebol a sério demais só dá em guerra. Você já declarou que sempre quis ser escritor, e não repórter. Como foi, ou é, essa relação literatura/jornalismo? Rapaz, tudo começou quando li Graciliano Ramos, ainda em Juazeiro do Norte, graças a uma tia que trabalhava na Biblioteca Municipal. Pirei com Vidas Secas e depois com Angústia. Aí comecei a escreve umas coisas que eram puro plágio, de tanta influência do homem das Alagoas, mas que me serviram para dar o pontapé inicial. Eu pensava: quero ser o que esse cara foi! Mas [era] pura ilusão de matuto do interior cheio de sonhos e nem um tostão furado no bolso. Assim como o próprio Graciliano e tantos outros escritores, tive que ganhar a vida em redação mesmo. Reclamo não. O que lamento um pouco é que o jornalismo, de tão burocrático como nos dias de hoje, é muito emburrecedor, vai atrofiando mentes como a gente vê por aí nos jornalões.

Xico Sá é um cara arretado. Circula pela literatura, cinema e jornalismo. Um cara simples e verdadeiro, que diz o que pensa e já arrumou confusão por isso. Nesse bate-papo com Alessandro Buzo, exclusivamente para o Boletim do Kaos, ele solta o verbo. Confira, agora, boa diversão e cultura a flor da pele. Defina: quem é Xico Sá? Um cara cheio de defeito de fabricação, mas tentando o caminho do bem. Seu primeiro trabalho como jornalista foi com 15 anos, na Rádio Vale do Cariri em Juazeiro. Fale desse tempo. Rapaz, mal sabia o que era uma mulher e já escrevia conselhos sentimentais para o programa Temas de Amor. Respondia, com poemas, as cartas de gente desesperada sentimentalmente. Muitos casos de cabras que partiam para SP e deixavam suas mulheres a esperar no Nordeste. Dramas, muitos dramas humanos de fazer chorar o mais desalmado dos mortais. Um grande aprendizado. Fale do jornal "A Peta", que você fazia nos tempos de faculdade. Esse ainda era no final da Ditadura, na Universidade Federal de Pernambuco. O editor era o Fred 04 (do Mundo Livre S/A) e o jornalzinho (mimeografado) vivia sendo apreendido. Uma censura braba, mas a gente sempre encontrava uma brecha pra meter bronca. Bom que “peta” significa mentira, versão

falsa de uma história. O batismo era uma homenagem aos milicos e aos reitores impostos por eles. O que é "XicoBrás"? Apenas uma zoação sobre o fato de toda a minha história ter sido feita graças a escolas públicas, inclusive a universidade, onde até o pão-com-ovo (a ração básica da parada) que comia era público. Sem isso, nada teria sido possível para o cabra magro, só o couro e o osso, vindo da região do Cariri. Você é santista. Por que escolheu torcer pelo peixe? Ih, meu velho. O Peixe é o maior do planeta, o único que chegava na África com o Negão camisa 10 e conseguia parar até as guerras para vê-lo. Além de ter nascido em 62, tempo em que a gente mandava no mundo, a culpa é de um tio que veio ainda moleque para a Baixada. Quando ele voltava por lá, me levava sempre um manto sagrado alvinegro. Um tempo vim passear em São Paulo com a minha mãe e ele também cuidou logo de me levar para ver o Peixe na Vila e no Pacaembu. Não tinha para ninguém. Nunca houve uma escolha tão fácil. Como é trabalhar na TV Cultura com esporte? Muito bom fazer o Cartão Verde ao lado do Sócrates, que virou um irmão, e com os amigos Vladir e Vitor Birner. O tipo do encontro que me faz aprender muito e ainda tirar uma onda sobre futebol, pois entender que é bom, não entendo nada.

O que você acha do atual jornalismo feito em TV, rádio, impresso, Internet? Respondi um pouco aí acima. Anda muito burro e objetivo. A novidade e a boa pegada está com a rapaziada guerreira, como dizia o velho Oswald de Andrade. O estouro, a ruptura está em acontecimentos como o Boletim do Kaos, entre outras fontes marginais que vão comendo pelas beiradas. Vamos falar de literatura. O que você lê e quais são seus autores preferidos? Leio para valer meus contemporâneos. Quase todos. Pois uma geração que não se lê não merece respeito. Aí estão o Marcelino, Marçal, Joca Terron, Bressane, Ivana, Del Fuego, Reinaldo Moraes, Ferréz, Mutarelli, Buzo, Cecília Gianetti, etc. Nas releituras permanentes: Graciliano Ramos, Lima Barreto, João do Rio e as Memórias Póstumas de Brás Cubas (Machado) para treinar o ritmo da escrita. Dos bons forasteiros, o que curto no momento é o patrício Antônio Lobo Antunes. Você gosta muito de Graciliano Ramos. Que livro dele indica? Todos, mas recomendo que comece pelos contos/crônicas de infância, caminhe para Vidas Secas, passe por Angústia e descambe com as Memórias do Cárcere. Henry Miller? Esse não era fraco, não. Escrevia quase com o corpo, de tão visceral, da turma dos Passionais MCs, da literatura de entrega total. Qual obra sua que mais gosta? A trilogia Sexus, Plexus e Nexus.


Mudando de assunto. Nos fale de quando você entrevistou o PC Farias. Vixe, rapaz. Havia feito algumas entrevistas exclusivas com o Poderoso Chefão, mas a que mais valeu foi quando revelei o seu paradeiro, em 1993. O cara fugiu do Brasil, depois do rolo todo com o Collor, e consegui entrevistá-lo em Londres. A PF e a Interpol do mundo inteiro atrás do cara e a gente, sem um cãozinho policial sequer, no rastro do cabra. Coisas da vida. E como é sua relação com o Mangue Beat? Originalmente é uma relação de amizade, de convivência no Recife, que acabou resultando também em algumas parcerias com letras e trabalhos conjuntos. Na chegada das bandas aqui em SP, colaborei um tanto com textos, divulgação, encartes e abrigando os brothers no meu mocó - chegava a juntar uns 15 camaradas em um apê de um quarto ali na Bela Vista. As minhas namoradas da época ficavam putas, mas a causa era nobre, tinham que entender. Da música para o cinema. Você tem amigos cineastas, quem são eles? Também a mesma parada do Mangue Beat. Amizade que gerou trabalhos conjuntos. Fiz um roteiro de longametragem, do filme Deserto Feliz (premiado nos festivais de Gramado e Guadalajara, México) com o Paulo Caldas (diretor do Baile Perfumado e do Rap do Pequeno Príncipe), Marcelo Gomes (Cinema, Aspirina e Urubus) e a Manoela Dias. Além disso, tiro uma onda de dublê de ator nos filmes Cheiro do Ralo (dirigido por Heitor Dhalia), Árido Movie (de Lírio Ferreira, que fez Cartola: Música para os Olhos) e Crime Delicado (de Beto Brant). Tenho também uma parceria com o Cláudio Assis (Amarelo Manga) no novo filme dele, que vai se chamar Febre do Rato. Cite alguns filmes nacionais de que gostou. Rolou muita coisa boa recentemente, mas vamos falar no que vem por ai. Acabei de ver O homem que engarrafava nuvens, de Lírio Ferreira, que é um documentário sobre a vida de Humberto Teixeira, autor de Asa Branca, parceiro de Luiz Gonzaga em toda a história do baião. É um filme comovente, de arrombar açude mesmo. Estreia em setembro nos cinemas. Essa tendência de redescobrir a nossa música em documentário eu gosto muito, como vimos no filme Lóki, que conta a vida de Arnaldo Batista.

Tem alguma pretensão, falando de cinema? Aprendi muito ao fazer o primeiro roteiro de longa. Um sofrimento danado, pois é muito diferente a linguagem da escrita, da narração em conto ou crônica, e da arte do roteiro. Tomei um certo gosto pelo roteiro, mas sou apenas um amador interessado. Claro que se cair na área, é pênalti. Vamos conferir. O que você gosta mais: mulher ou cachaça? Por quê? Certamente quando não puder tomar mais uma, continuarei apreciando o mulherio. Então, acho que a cria das nossas costelas vence essa disputa fácil. Mas se puder celebrar a vida ao lado delas, com uma cachacinha de Minas, melhor ainda. O que pensa das celebridades em tempos de BBB, A Fazenda e outros lixos? É de amargar. Se colocassem jumentos, quadrúpedes mesmo, o programa A Fazenda seria bem mais interessante. Sugiro que troquem os bípedes por quadrúpedes para melhorar o nível. Assim não dá. Sem comentários. A gente fica desiludido sobre o futuro do país quando vê a valorização dessa vagabundagem e os professores do ensino básico ganhando uma miséria em estados ricos como é o caso de São Paulo. Você fala de putarias, bebedeiras, diz palavrão. É uma conquista poder ser verdadeiro? Às vezes custa caro, meu velho. Rende muita incompreensão, mas seria falso se eu contasse uma outra história. Não vou cometer uma fraude com a minha própria trajetória e repertório. Acredito no sexo e no trago em família e entre amigos como uma forma de celebrar e agradecer a Deus pela vida. A verdade está no vinho... na cerveja, na cachaça. Desde que tomada no caminho do bem. É o que tento, é o que me traz alegria para festejar a amizade, a arte, a camaradagem, a vida que segue. Um brinde! Você disse numa entrevista ser fã do Marcola do PCC e Lampião. Por que admira esses caras? O que demonstrei foi apenas admiração pela coragem dos homens que quebram com as correntes do sistema e causam um rebuliço na história. Já tive gente da família nas grades, entre eles um irmão, e sei o quanto é humilhante, degradante, uma usina do demônio. Isso não significa obrigatoriamente aplauso à violência do PCC, em muitos casos também contra inocentes, como também fez e faz a polícia. Falar em PM, o alto comando da PM sempre me perseguiu pelos escritos. Na última ação, fui processado e até condenado em primeira instância por ter escrito uma crônica contra a violência da PM - um texto chamado Os sem-cérebro contra os sem-terra. Em uma das audiências, testemunhei o exato momento em que sua excelência, o juiz, trocava elogios, mimos e adjetivos com os coronéis que me processavam. Que maravilha!

Defina Opus Dei. O que há de podre no reino da Igreja Católica. Governo Lula. Milagre para os pobres, decepção para a classe média. Se a voz do povo é a voz de Deus, o cara vai muito bem, vide as pesquisas de opinião. Mudando da política para literatura periférica. Você acompanha essa cena, escritores da periferia que estão publicando livros? Sim, é uma das mais ricas na literatura atual. A grande novidade, para ser mais exato. Finalmente é quebrado o monopólio da classe média nas letras. Salve! E que se multiplique o fenômeno. Rap, você gosta? Desde sempre. Sou um privilegiado ao ter visto este belo rebento e tê-lo registrado como repórter nos primeiros passos. O poder está na rima. Pela aliança perma-nente entre o rap e o repente, como fazia o Faces do Subúrbio (grupo do Recife)! Para finalizar, diga o que você quiser ou algo importante que deixou de ser perguntado.

PELA DESOBEDIÊNCIA CIVIL PERMANENTE! UM GRANDE ABRAÇO E GRACIAS PELA OPORTUNIDADE DA ENTREVISTA EM UM VEÍCULO DE CONFIANÇA, O QUE É O MAIS DIFÍCIL NOS DIAS QUE CORREM!


Ela nasceu na periferia de SP, já viajou pelo mundo e está escrevendo seu quarto livro. Uma trajetória de vida diferente de muitas mulheres, impulsionada pela sua personalidade e sua vontade incessante de questionar. Crescer na perifa lhe deu a ginga, que poucos escritores têm, e foi com essa malandragem que ela embarcou para a Europa com apenas 500 euros no bolso. O sonho de se tornar jornalista quase acabou em cárcere privado. Trabalhando como doméstica em Portugal, surgiu a indignação que impulsionou seu primeiro livro: Morte às vassouras - Diário de uma jornalista que se tornou empregada doméstica em Portugal. Já no Brasil, depois do lançamento do primeiro livro, respirava literatura, mas não tirava seu sustento dela. E foi trabalhando numa clínica psiquiátrica por dois anos, que encontrou o tema de seu segundo livro Bem-vindo ao mundo dos raros contos e crônicas de uma psiquiatria. Confessando não ter sorte com os homens machistas, seu último livro é uma provocação: Mulher moderna tem cúmplice aborda a violência contra as mulheres. Agora finalizando seu quarto livro, Cidade Tiradentes: Uma abordagem impactante do maior Complexo Habitacional da América Latina, Cláudia desafia aqueles que duvidavam da sua diversidade literária. Sobre seu novo livro, ela descreve: “Uma escrita enxuta, direta e repleta de denúncias. Minha inquietação é a arma que uso para prosseguir, apesar dos rótulos que tentam me sufocar”, desabafa a escritora.

Boletim do Kaos: Quem é Cláudia Canto? Cláudia: Feminista, feminina, indignada, ousada, maluca. Às vezes muito chatinha e que tenta se descobrir usando como bode expiatório a literatura. BK: Uma pessoa de personalidade forte como a sua, logo é ligada ao rótulo de feminista. O que você acha dessa luta nos dia de hoje? Cláudia: Caramba, se você não tiver ao menos um viés do feminismo, o que será de você como mulher? Na verdade, fico boquiaberta com as mulheres que não têm este parâmetro para saber quais são os seus direitos. Mas, veja bem, não estou propondo uma guerra do sexo, mas se necessário for, mãos à obra, mas de preferência com as unhas pintadas de vermelho vivo (risos). Quanto à luta de hoje, a mídia corrompe demais as cabeças das pessoas, levando muitas mulheres a acreditar que a coisa mais importante é a bunda. Mas o que me consola é que na história da humanidade [foi] a minoria que sempre mudou o que parecia imutável.

BK: No sonho de ser jornalista, você virou empregada doméstica na Europa. O que deu origem ao seu primeiro livro: Morte às vassouras - Diário de uma jornalista que se tornou empregada doméstica em Portugal. Se você não tivesse passado por isso, a escritora teria nascido? Cláudia: Por causa da minha timidez, usava a literatura como alavanca para as minhas conquistas, e olha que ganhava muitos menininhos por causa das palavras que aprendia nos livros. Portanto, acho que diante de tanta inquietação, só poderia sair algo deste tipo, e o primeiro passo seria com certeza um livro-desabafo. A viagem para Portugal, de uma forma totalmente mal planejada, me possibilitou realizar este sonho. Lá, vivi uma experiência de semi-cárcere, trabalhando como empregada doméstica, que completou ainda mais o meu desejo de escrever. BK: Em que momento nasceu a ideia do livro? Cláudia: Nos momentos que ficava fechada no meu quartinho/senzala, não tinha outro remédio a não ser escrever, escrever...Posso concluir que a indignação moveu meus dedos, e a saudade do meu país alimentou meu lirismo, para que as poesias pudessem vir à tona, já que não sou poeta!

BK: Qual seu sentimento pela Europa? Cláudia: Europa para mim é turismo! Somente... Depois desta viagem que fiz para Portugal, voltei e lancei o livro por lá. Como turista é outra história (risos). Descobri que não tenho estrutura para aguentar solidão, saudades e maus tratos. Acho também que sou mais útil por aqui. BK: Seu quarto livro “Cidade Tiradentes: Uma abordagem impactante do maior Complexo Habitacional da América Latina” vem mostrar o que, que não sabemos sobre essa parte da zona leste? O que você denuncia nesse livro? Cláudia: Faço uma abordagem da Cidade Tiradentes, não de forma geográfica, que acho que ficaria muito maçante. Estou contando a história da Cidade Tiradentes, como se fosse a vida de uma mulher, onde falo de gravidez precoce, drogas, descaso do poder público, e autoestima. Está muito interessante escrever, estou escrevendo com muito carinho... BK: Te encontrei no aniversário da Cidade Tiradentes num show junto com a bateria da Gaviões, você é corintiana? Que tipo de música você curte? Cláudia: (risos) Corintiana! Depois que o Viola saiu do Corinthians há muito tempo atrás, e ainda deu uma banana para a torcida, nunca mais quis saber de futebol. Me senti uma ingênua que torcia, não para jogadores, nem para um time, mas sim para um simples símbolo! Desde esta época, meu condicionamento acabou. Quanto à música, gosto de todo tipo de música que me passe algo, desde tesão, amor, dor, ou indignação.


BK: Seu segundo filho/livro, Bem-vindo ao mundo dos raros contos e crônicas de uma psiquiatria, foi outro tema forte. Conte um pouco da experiência que gerou esse livro. O Brasil cuida muito mal dos seu doentes. O que você pôde perceber trabalhando diretamente com isso? Cláudia: Amo este livro! Com a experiência que tive em trabalhar em uma psiquiatria, pude testemunhar de perto o que é a verdadeira loucura, uma doença muito, mas muito cruel. A partir de então abracei a causa. As patologias mentais são extremamente desconhecidas para a maioria das pessoas e isto faz com que só aumente o preconceito. Estou aberta para falar sobre a experiência gratuitamente! BK: Seu terceiro livro, Mulher moderna tem cúmplice, mais que uma história, traz pensamentos e reflexões suas. Você já chegou a alguma conclusão sobre o homem atual? Cláudia: O interessante no livro é sua narrativa, onde o homem fala do perfil da mulher e a mulher fala dos homens. Que me desculpem os homens, mas eles geralmente são 2+2, sem grandes confabulações. As mulheres são muito mais complexas! Só não sei se isto é um mérito, ou um demérito!

BK: Uma escritora inquieta, que aborda xenofobia, prostituição, descaso da saúde pública, periferia, machismo, em que momento a Cláudia Canto é mais doce e mais suave? Cláudia: Não sou doce, sou agridoce (risos). BK: O que você está lendo atualmente? Cláudia: Visconde de Jequitinhonha, um negro no império. BK: Qual a sua técnica para escrever, o que faz você começar a escrever um livro? Cláudia: Preciso acreditar na história, me basear em aspectos reais. Se não tem tesão, a coisa não flui! Escrevo como um jogador de futebol nos campos. Sigo a bola! BK: O que a literatura significa na sua vida? Cláudia: Sem a literatura, eu seria como um mar morto, correria o risco de parar em uma psiquiatria. As lacunas da minha alma são preenchidas com a literatura e os meus filhos/livros me completam.

Mulher Moderna Cúmplice

Tem

Stela é a soma de muitas mulheres que procuram, em uma outra pessoa, aquilo que está dentro de si mesmas. Com isso, o destino lhe reserva um caminho perigoso. Gustavo, um homem sagaz, que traz no seu passado 22 anos de cárcere. Não bastando este revés todo, a autora ainda nos presenteia com mais um personagem: um psicólogo, que deveria ser o ponto de equilíbrio da história. Mas, ao contrário, provo-ca ainda mais o suspense do drama com sua timidez crônica e pato-lógica.

Morte às Vassouras

Bem-vindo ao Mundo dos Raros

Depois de uma mal sucedida viagem à Europa, Cláudia narra sua experiência no semicárcere, trabalhando como empregada doméstica para sobreviver como estrangeira ilegal em Portugal. Aventurando-se na prostituição e naufragando como empregada doméstica, esta jornalista trouxe na bagagem uma raridade: um diário, contendo a análise crítica de uma realidade vivida por muitos emigrantes. Prefácio: Ferréz, autor de Capão Pecado e Manual Prático do Ódio Editora: Edicon, São Paulo, Brasil

Uma coletânea de contos e crônicas de uma psiquiatria. Cláudia trabalhou numa clínica por um ano e reuniu fragmentos de uma realidade descrita sem rodeios, sem máscaras. “Com eles, consegui chegar, sem alucinógenos, nas mais profundas abstrações da nossa mente”, relata a autora. Um roteiro às vezes dramático, outras bem humorado, aos abismos do cérebro humano.


Roberto Ferreira Lima

Um escritor marginal, no sentido literal da palavra. Edward puxou 18 de ponta a ponta, como se fala nas ruas. Ficou 18 anos preso. Em todos esse tempo de reclusão, passou por diversas cadeias e foi condenado em diversos artigos, como roubo, agressões e outros delitos. Ele escreveu muito atrás das grades. Era considerado com QI acima da média e, com isso, conseguiu reconhecimento da crítica e trabalho na rua. Suas principais obras são: Cão Come Cão, Nem os Mais Ferozes, O Menino, Fábrica de Animais e Educação de um Bandido. O escritor ainda conheceu o sucesso antes de morrer, como Mr. Blue no filme Cães de Aluguel, do diretor Quentin Tarantino. Com um jeito seco e direto, colocou sua experiência de vida a seu favor e, nos livros, trazia a vida do crime e o preconceito que o presidiário sofre na sociedade. Sobre sua vida, muitas histórias. Dizem que, aos quatro anos, já roubava sorvete da molecada e furou o olho de um garoto de 15 anos. Foi parar num abrigo e depois num reformatório. Aos 17 já estava na prisão. Assalto a bancos, tráfico de heroína, brigas na cadeia. Essa era sua vida e foi na cadeia que leu Dostoiévski. Sua inteligência e dedicação, junto com as boas bibliotecas das prisões californianas, além da proteção de Louise, que lhe deu uma assinatura do jornal New York Times, formam uma biografia rica que Bunker traz nos seus textos. Ele não transfere as responsabilidades dos seus atos para uma sociedade injusta. Orgulhoso e destemperado, quando Bunker ganha a liberdade e vê romances como Nem os Mais Ferozes sendo admirados por James Ellroy e Quentin Tarantino, escreve o roteiro de Expresso para o Inferno e anos mais tarde atua numa ponta de Cães de Aluguel.

Fábrica de Animais "Perseverei porque tinha Nesse livro, o escritor consciência de que a escrita era a conta a história de Ronald minha única chance de criar algo, Decker, um jovem rico e de escalar as paredes do poço esbonito, traficante de curo, alcançar o sonho e repousar drogas, que é apanhado ao sol”, declarou Bunker, certa vez. pela justiça e, dentro da Além de sua obra literária, Bun- prisão, faz uma amizade ker também fez diversos trabalhos para com Earl Copen, um o cinema, como roteirista e ator. Eddie detento experiente que Bunker, como também era conhecido, está cumprindo sua foi casado com Jennifer Steele por 22 terceira pena. anos. Considerava seu filho, Brendan, seu maior feito, e a ele dedicou a obra Educação de um Bandido. Bunker morreu no dia 19 de julho de 2005, aos 71 anos, na Califórnia. Teve em sua vida momentos únicos, como: fumar um baseado na câmara de gás, deixar suas impressões digitais numa faca utilizada por um serial killer, frequentar os becos mais sórdidos de Hollywood e nadar na luxuosa piscina de Netuno, em San Simeon.

Trecho do livro O Menino, de Edward Bunker, lançado pela editora Barracuda. Durante as semanas de espera para ser entregue ao reformatório, Alex ficou mais recolhido em si mesmo, com modos mais distantes, desencorajando qualquer tentativa de fazer amizade. Até mesmo o fato de estar indo para o reformatório, a pior punição de que o Estado dispunha, dava-lhe prestígio adicional no abrigo de menores." No livro, Alex, abandonado pela mãe, vaga de internato em internato porque seu pai não consegue sustentá-lo. Seu pai morre e, então, começa sua jornada pelas instituições penais para jovens, reformatórios, guerra de gangues – mexicanos, negros, brancos – numa Los Angeles começando a se tornar uma grande cidade do pós-guerra.


Nome: Lobão Família da Rua Time: Santos Família: São aquelas pessoas que enxergo de longe nem preciso de binóculo Literatura: Quando leio a última página, fecho o livro e penso: "Valeu galera, pela companhia" Um livro: Canto dos malditos Um escritor: Plínio Marcos Um poeta: Arthur Rimbaud Um filme: Tomates verdes fritos Um ator: Leonardo DiCaprio Uma atriz: Mônica Bellucci O que te dá prazer: Fazer arte e vendê-las O que você não suporta: Agradecimentos a Fiscalização das prefeituras Crônica e Nina Fidelis por barrar os artistas de rua de expor seu material. 3 lugares que frequenta: Evento organizado pelo Buzo (9) Lugares turísticos, periferias e bares Um sonho: Viajar pela África Uma personalidade: Sociólogo, Gandhi antropólogo escritor Um artista: Antonin Artaud pintor (10)

IDEIAS CRUZADAS Blog e livro Sergio Vaz (3)

Escritor do Capão Redondo (2)

Escritor de Cidade de Deus, (?) Lins. (5)

(7) Literatura (?)

B O L E T I M D O K A O S

(1) Grupo de rap Sucesso Castelo de madeira

Gilberto (?)

(4) Programa da TV Cultura (Thaide) Rapper de Brasilia (6)

1.A Família 2.Ferréz 3.Colecionador de pedras 4.Manos e Minas 5Paulo 6.GOG 7.Marginal 8.Lobato 9.Favela Toma Conta 10.Freyre

Escritor (8) infantil brasileiro Monteiro


Nosso destaque do mês acontece na zona oeste de São Paulo, mais precisamente no Bar do Santista, em Pirituba. Organizado pelo poeta Michel da Silva e sua esposa, a poetisa Raquel Almeida, pais da recém nascida Yakini, que já deve ser poetisa. O Sarau Elo da Corrente completou, em julho, dois anos de resistência e conquistas. Além do Sarau, o pessoal tem o blog (www.elo-da-corrente.blogspot.com) que trás as novidades do coletivo que lançou livros, assim mesmo no plural, com apoio do VAI da PMSP. Sete sonhos se tornaram realidade. Direto para as ruas, da periferia para periferia. Primeiro, veio a Antologia Sarau Elo da Corrente, que foi a estreia do Selo Elo da Corrente Edições. Uma coletânea com vários autores estreantes, que frequentam o sarau, e alguns convidados. Depois, vieram outros como Caminhos e Emoções, de Alice Rodrigues; Fragmentos Noturnos, de Claudeni dos Santos; Cordéis e Poesias Para Cantar, dewww.marildafoto.blogger.com.br João do Nascimento. A produção literária da zona oeste não para. Eles também lançaram Duas Gerações, Sobrevivendo no Gueto, de Raquel Almeida e Soninha M.A.Z.O. Um dos livretos mais interessante é Prosas de Buteco, de Claudio Santista (dono do bar onde rola o sarau) e Paulinho Bispo, o último lançamento foi Voo de primeira classe, de Mannu UF e JR MC. O Bar do Santista é pequeno de tamanho, mas grande de coração. O espaço privilegia quem está disposto a ouvir poesia e os senhores da melhor idade que tomam sua pinguinha entre uma poesia e outra. Rola uma pipoca de cortesia num clima intimista e a cerveja é gelada. O sarau representa e transforma mais um bar na periferia em centro cultural. Revolução é isso. - Ninguém aqui anda de escopeta, nossa arma é papel e caneta. (Alessandro Buzo).

Dia 15 (sábado) 15h às 21h Festival do Rap Popular Brasileiro (CUFA) Local: Esporte Clube Progresso - Rua Pedro Lessa, 278. Francisco Morato (centro) - SP Dia 16 (domingo) 14h às 21h - Festival do Rap Popular Brasileiro (CUFA) Local: Paço Municipal da Prefeitura - Rua Tabatinguera, 45 (Em frente ao CIC Fco. Morato - Rua da Estação de Trem) Show com o grupo convidado Rota de Colisão www.rpbsaopaulo.blogspot.com

19h - Cerimônia De Abertura 20h Hospital Da Gente Local Espaço Artemanha De Teatro – Grátis! Dia 22 - Sábado- 20h Festa de Celebração do 4ºaniv. do Espaço Clariô!!! Local: Espaço Clariô – Grátis

A convite de Nelson Maca, fui a Salvador conhecer a Blackitude e fazer algumas palestras. Entre elas, uma na Universidade Católica de Salvador, onde Maca é professor de literatura. Nos dias que passei na Bahia, conheci muito bem os dois lados dessa cidade tão linda: o lado turístico, que encanta pessoas do mundo todo, e a Bahia que Gil e Caetano não cantaram, como diria o Gato Preto, do grupo A Família. Pude conhecer, a fundo, a estratégia de combate da Blackitude, ações concretas em prol de mais arte para todos, muito forte no graffiti e com destaque em realização de eventos. Nelson Maca é o articulador do coletivo e seus parceiros são guerreiros que acreditam e sustentam a proposta da Blackitude. Vi uma Salvador na visão de pessoas que não querem saber de axé. Querem hip hop, produzem hip hop na sua essência. Numa das Praças do Pelourinho, local onde cantou Z´África Brasil, Maca nos disse como foi o dia; o seu envolvimento é total. O coletivo já levou outros grandes nomes à Bahia, como Thaíde, KL Jay, Edy Rock, Xis, Nelson Triunfo, SNJ, Dom Filó do Rio de Janeiro e seus grandes amigos, Sérgio Vaz e GOG de Brasília, entre outros. Sem esquecer os grandes nomes do hip hop soteropolitano. Nossas palestras em Salvador e Alagoinhas pareciam ensaiadas de tão afinados que estáva-

Serrat, 230 - Tatuapé - Fone 6192.8865 Metrô Carrão - Clube da Cidade Tatuapé www.espacoclario.blogspot.com

Dia 01 (sexta), 15 (sexta) e 29 (sexta) às 20 h Sarau Poesia na Brasa - Rua Professor Viveiros Raposo, 534 (próximo ao ponto final da Brasilândia, Dia 28 (sexta) às 20 h Quintasoito com em frente à Escola João Solimeo). Brava Cia! - Grátis! - Local: Espaço Clariô brasasarau@yahoo.com.br

Dia 29 (Sábado) às 14h Apresentação de Músicas Clarianas e Cenas Hospital da Gente Ah!Gosto do Clariô –Mês de Aniversário Local: CEU Campo Limpo – Grátis Espetáculo Hospital da Gente (Direção Mario Espaço Clariô: Rua Santa Luzia, 96 Pazini e Texto de Marcelino Freire) Taboão da Serra (Final da Av. Fco Morato, na Dias 01 E 08 às 21h (Sábados) rua do morro do cristo) Valor Promocional R$ 10 Espaço Artemanha de Teatro: Hospital da Gente na Mostra do Engenho Teatral Estrada Do Campo Limpo, 2706 (Subsolo) Dia 15 e 16 – 19 h (Sábado e Domingo) Campo Limpo Engenho Mostra Um Pouco Do Que Gosta. Céu Campo Limpo: Av. Carlos Lacerda, Local – Engenho Teatral – Grátis 678 – Campo Limpo – Zona Sul Dia 27 (Quinta-Feira)IV Festival Nacional de Engenho Teatral: (200 lugares - c/ Teatro do Campo Limpo estacionamento gratuito) - Rua Monte

Dia 15 - Sarau Comunitário Juntando a Massa 18h 30 Local: Associação de Moradores do Chico Mendes - Rua Pacuã, 101 – Jd. São Bento Novo- Zona Sul - SP - Capão Redondo (11) 5821-8848 Dia 15 - 15h às 17h Oficina de Teatro Local: PERIFERIA INVISÍVEL - Salão externo dentro da Igreja Santa Luzia. Rua Barra de Santa Rosa, 4405 Ermelino Matarazzo - Estação de trem USP Leste. (11) 9545-4743 -

mos. Além da Universidade Estadual da Bahia, visitamos, em Alagoinhas, o MC Mamá e os manos do rap lá na Comunidade do Barreiro, afinal estamos em cada canto do Brasil. Nelson Maca mantém um blog: www.gramaticadaira.blogspot.com Gramática da Ira é também o título de seu primeiro livro, que pretende lançar em novembro juntamente com um CD de poemas. Como ele mesmo diz em seu blog: “Não que não sonhe com flores, mas sei que tenho uma realidade repleta de mato pra atravessar...!” Assim é esse mano, verdadeiro e militante. Posso garantir porque vi com meus olhos. A Blackitude representa. Salve a Luiza Gata e Lucinha Black Power, suas filhas e poetas.

renato.periferiainvisivel@gmail.com www.periferiainvisivel.com.br - Valor: Gratuito Dia 8 - 15h - Ato Público Psicodrama – Trabalhando a vida por um fio. Local: PERIFERIA INVISÍVEL Dia 29 – 20 h - Numa Roda – Grupo Mentecorpos do Balaio Local: PERIFERIA INVISÍVEL - Valor do ingresso: Gratuito Dia 6 de setembro – 15 h – Festa100% Favela - 37º Aniversário da Favela do Godoy Shows com Big Ben Bag Jhonson (Mano Brown, Ice Blue, DJ Cia, Dom Pixote, RZO e Conexão do Morro) no palco também Detentos do Rap, Negredo, RDG, Samanta da Águia de Ouro, Samba da ponte, Mano Ty, Revolução P, Poesia Gangster, A286, Periferia Ativa Show e Samy Brown; Apresentação do filme Literatura e resistência do escritor Ferréz Aonde: Adoasto de Godoy (Cont. Av. Sabin Próx. Metrô Capão) Valor: R$ 10 (Antecipados)

Maiores informações e muito mais opções acesse nossos parceiros e informe-se no site da Ação Educativa que tem uma agenda sobre os vários eventos no mês www.acaoeducativa.org.br/ agendadaperiferia No site Catraca Livre você tem uma agenda que tem eventos, cursos, cinema, teatro, exposições, palestras e encontros www.catracalivre.com.br

Quem quiser divulgar seu evento na próxima edição entre em contato pelo email boletimdokaos@hotmail.com


No último dia 24 de abril, Mumia Abu Jamal completou 55 anos, 27 deles vividos no corredor da morte. Apesar de inúmeras evidências e provas de sua inocência, ele é acusado de matar um policial. Em dezembro de 1981, Jamal interveio para socorrer seu irmão, que estava sendo espancado por um policial. No local, havia outro homem não identificado. Houve confusão e disparos. Quando outros policiais chegaram ao local Jamal estava ferido e o policial morto. Ele foi espancado e preso. Nenhuma perseguição ou busca foi feita na hora pela polícia. A arma que foi encontrada com Jamal não poderia ter disparado as balas que mataram o policial. Nenhum exame de balística foi efetuado para saber se a arma de Jamal tinha sido utilizada. Nenhuma das testemunhas que saíram em sua defesa foi arrolada no processo. Uma delas declarou que a polícia a ameaçou de prisão se testemunhasse. As mesmas testemunhas declararam ter visto o homem não identificado fugir do local e disseram que ele não se parecia com Jamal. Entre todas essas irregularidades, o juiz que presidiu o processo declarou publicamente sua hostilidade em relação a Mumia Abu Jamal, que em sua juventude foi membro da organização afroamericana Black Panthers. O juiz recusou a Jamal o direito de fazer sua própria defesa pelo simples fato de usar dreadlocks. Entre outros

Crack, de Cláudio Portella O livro de poesia que traz humor negro sobre sua experiência com o crack. Sem o relato culpado de quem já esteve do lado escuro dos vícios humanos, Cláudio Portella faz poesia com um sorriso perverso. Aborda assuntos como o sonho de fumar crack usando as cinzas da mãe, entre outros textos que parecem sacanear os mais puritanos. O poeta cearense traz um livro ousado, tanto quanto usar crack e continuar vivo.

absurdos, o júri foi escolhido a dedo por um membro vitalício da Ordem Fraternal da Polícia. Durante todos esses anos de uma batalha judicial repleta de apelos de personalidades e milhares de manifestantes em todo o mundo, a data de sua execução foi várias vezes marcada e suspensa. A prisão de Mumia constitui um capítulo dramático da luta contra o racismo institucionalizado e a pena de morte nos Estados Unidos. Mumia Abu Jamal é o único preso político dos Estados Unidos condenado à morte. O caráter político do julgamento se evidenciou quando o FBI apresentou, como prova contra ele, um arquivo de mais de 600 páginas contendo um resumo de suas atividades como militante do movimento negro. Ele foi membro do Black Panters e do MOVE, organizações revolucionárias. Foi preso em 1968, aos 14 anos, durante o protesto contra George Wallace (racista declarado), então em campanha presidencial. Aos 15 anos ajudou a criar o comitê do Partido dos Black Panthers, na Filadélfia. Nos anos 70, passou a fazer parte de uma lista do FBI de pessoas que ameaçam a segurança dos Estados Unidos. Milhões de pessoas em todo o mundo já foram as ruas protestar contra a sua prisão injusta. Mesmo na prisão, não calaram sua voz. Múmia Abu Jamal continua falando em nome de todos os oprimidos com seu jornalismo, denunciando o universo da prisão, de onde já publicou livros e suas colunas são publicadas semanalmente em todo o mundo. Já foram realizadas diversas produções sobre a sua luta, como o documentário britânico In Prision My Hole Life de Marc Evans com participação da ativista Ângela Davis e dos músicos Mos Def e Snoop Dogg, entre outros. No último dia 6 de abril, o Supremo Tribunal dos EUA recusou o terceiro pedido de Mumia Abu Jamal para novo julgamento. O Tribunal de Recurso da Filadélfia manteve a condenação, porém declarou a sentença de morte inválida. Mas prisão perpétua não é liberdade e, por ser inocente, Mumia merece justiça!

Il Brasile per le strade Uma antologia de contistas brasileiros lançada em março de 2009 pela Editora Azimut. No livro, há escritores como: Pedro Maciel, Milton Hatoum, Sérgio Sant'Anna, Dalton Trevisan e Ferréz. Ao todo, 12 escritores participam da coletânea em que cada autor fala sobre um lugar. O livro é composto por dezenove histórias, entre elas o inédito O.M.N.I (Objeto Matador Não Identificado) do escritor paulista Ferréz.

Bibliografia Ao Vivo do Corredor da Morte, 1996 We Want Freedom: A Life In The Black Panther Party, 2004 Faith Of Our Fathers: An Examination Of The Spiritual Life Of African And African-American People, 2003 Veja o trailler do documentário In Prision In My Hole Life em w w w . m y s p a c e . c o m / inprisonmywholelife Mais informações em www.freemumia.com e abujamal-news.com

Antologia Sarau da Brasa 47 autores comemoram, nesse livro, um ano de existência e resistência do Sarau da zona Noroeste de São Paulo. Contemplado pelo Programa VAI (Valorização de Iniciativas Culturais) em 2008, o coletivo teve condições de concretizar um sonho antigo e lançar Poemas e Prosa de um Eu e Rua de Trás de Bárbara Lopes e Sonia Regina Bischaim. Agora lançam coletânea de textos. Muitos poetas participam desse livro. Com certeza uma boa amostra da produção poética atual.


FESTA INTERNACIONAL DO LIVRO DE PARATY

O ESPAÇO DA LITERATURA

da Redação

As luminárias têm camadas empoeiradas, diluindo e obscurecendo a iluminação. Uma pichação alerta para a luta de classes e para o tempo perdido atrás de um volante. Aqui e acolá a algazarra das crianças aprisionadas nos ônibus escolares. Brota uma sirene insistente. Impotente também. Também está trancada a ambulância. Pelos lados apertados os pedestres correm para não sufocar. São poucos os que se arriscam a morrer para chegar aonde precisam. Só eles conseguem se mover pela calçada minúscula, protegida por grades enferrujadas. O motorista calcula vinte minutos por quilômetro rodado dentro daquele túnel, e com todo esse tempo parado, ele começa a pensar nas vidas que levam os carros, nas fisionomias das pessoas com as certezas de aportar em suas casas sãs e salvas, nas motocicletas que passam na duvidosa liberdade de ir e vir em meio aos outros entalados... Mas um profissional sabe quantos mistérios se escondem enroscados naquelas avenidas palmilhadas dia a dia, cozinhando sob o fogo brando do tráfego lento. Pensando bem, até mesmo um sujeito casca grossa como ele sente o impacto desses problemas. É aqui onde as coisas mais simples de se conseguir podem ser muito difíceis de obter: a partir da vaga de uma garagem apertada, colocar a máquina em movimento acelerado junto aos outros apressados e contidos pelos complexos ritmos da modernidade; entrar e sair dos endereços indicados pelos GPSs atualizados mês a mês, já que há sempre alguma rua sendo construída ou devastada dos mapas nesta cidade sitiada e, em contexto arriscado, fazer uma entrega após a outra, incessante e insaciavelmente, com o cuidado e a logística necessários, quando toda a lógica econômica e matemática se perde com o furor desses elementos, bons e maus, dentro e fora dos veículos. São chuvas, passeatas, incêndios de grandes proporções, incidentes ridículos, confrontos, eventos esportivos e aleatórios, provocando e comprovando a teoria do caos. Tudo é provisório, mas o motorista é um profissional e por isso conhece melhor do que os outros a sina de dirigir para existir... Ou seria o contrário? Em sentido oposto também está tudo travado. Todos os destinos. Ele já está exausto disso tudo há muito tempo e ainda não tem a metade necessária para a aposentadoria. Tudo é muito frágil, ele sente na carne. E arriscado também, ele percebe. Muitos não conseguem... Mesmo um cara preparado como ele, pensando, sente que subitamente pode não conseguir avançar, que parece que vai encalhar, ficar paralisado ali. Sim, tudo aqui é frágil para caralho! Ele grita alto, incomodando os cidadãos distraídos pelos rádios com notícias do trânsito insuportável. Muitos não conseguem... E lhe ocorre que há tantos desencontros, ou mais encontros que não chegam a acontecer do que aqueles que acontecem de verdade, supondo que alguém ali teve algum encontro deste tipo. Ele desconfia de todos. E de si mesmo. Ele mesmo mal suporta que tenha feito o que fez no dia anterior... E nos últimos anos! Dirigir! Que piada. E ainda há essa gripe infectando todo o mundo, faz um frio úmido e todos respiram naquele túnel o ar que fica raro... Tudo, tudo é muito frágil. E tão pesado que ele acha que vai ceder naquele banco desconfortável... Desfalecer... Então uma buzina espremida logo atrás o desperta e ele acelera automaticamente. É para frear alguns metros depois, colado no parachoque da frente. FIM

Fernando Bonassi nasceu em São Paulo, em 1962. É roteirista de cinema e TV, dramaturgo, cineasta e escritor de diversas obras, entre elas: Um Céu de Estrelas (Ed Siciliano); Subúrbio e 100 Histórias Colhidas na Rua (Scritta); O Amor é Uma Dor Feliz (Moderna); Uma Carta Para Deus e Vida da Gente (Formato); Declaração Universal do Moleque Invocado (Cosac & Naify) e São Paulo/Brasil (Ed. Dimensão), ambos finalistas do Prêmio Jabuti nos seus anos de lançamento. Entre 1997 e 2007, foi colunista do jornal Folha de São Paulo. Atualmente, é roteirista do seriado Força Tarefa, da Rede Globo de Televisão.

Para os amantes da literatura, a Flip é um momento único. Em Paraty, todos aqueles que concordam que o país só vai crescer se apostar na educação colocam isso na prática e a literatura é tratada com o destaque que merece. Esse ano, o evento homenageou o escritor Manuel Bandeira, mas foram 34 autores, reunidos em 18 mesas, que movimentaram a festa. Flávio Moura, diretor de programação trouxe autores como o escritor português António Lobo Antunes; o jornalista americano Gay Talese e o jornalista brasileiro Mario Sergio Conti, grandes nomes do jornalismo literário. Temas polêmicos como o do biólogo inglês Richard Dawkins, autor de Deus, um delírio, e a literatura chinesa do escritor Ma Jian e da jornalista Xinran conviviam no mesmo evento. O músico e escritor Chico Buarque foi um dos destaques, lendo trechos do seu novo livro: Leite derramado. Havia, também, nomes como Milton Hatoum, Cristovão Tezza, entre muitos outros. Os quadrinhos tiveram seu espaço com nomes de destaque da produção atual: os vencedores do Prêmio Eisner, Rafael Grampá, Fábio Moon e Gabriel Bá, e o quadrinista e artista plástico Rafael Coutinho. A festa teve conteúdo para todas as idades, com a Flipinha para os mais novos e FlipZona para os adolescentes. A literatura deveria ser tratada assim, no dia a dia, com destaques nos veículos e sendo incentivada a todo momento. Na Flip desse ano mesmo com muitos nomes os escritores da Litera-Rua ficaram de fora. E houve até poetas maloqueristas que foram impedidos de vender suas poesias, mas depois conquistaram seu espaço no evento, que teve muita coisa além da programação oficial. Como o sucesso da festa paralela, a “Off Flip”. Ainda não confirmado, deve vir por aí a Fliper, Feira Literária Internacional da Periferia. É o país com sede de literatura.

Xinran Com a abertura política da década de 1980 em seu país, a jornalista e escritora Xinran (1958, Pequim, China) criou um programa de rádio que, durante oito anos, firmou-se como via de expressão para mulheres chinesas vítimas de violência. Impossibilitada de publicar os relatos, mudou-se para Londres e, lá, lançou As Boas Mulheres da China (2002). Integrou a equipe do jornal inglês Guardian até 2008 e publicou suas colunas em O Que os Chineses Não Comem (2006). Também escreveu Enterro Celestial (2005) e Testemunhas da China (2008), no qual cidadãos chineses, já idosos, relembram os anos sob o governo de Mao Tse-tung.


CONHECIDO PELOS SEUS FILMES DE PASSAGEM E OS 12 TRABALHOS, RICARDO ELIAS CONSTRÓI SUA FILMOGRAFIA SOBRE AS QUESTÕES URBANAS Diretor do programa Manos e Minas na TV Cultura, o cineasta prepara seu terceiro filme. Se solidificando com um dos nomes fortes da nova geração do cinema nacional, Ricardo tem a carreira permeada com as questões da periferia, primeiro em seus filmes, depois no programa da Cultura. Mas ele sempre esteve envolvido com projetos e programas educativos. Recentemente, fez a direção artística do Novo Telecurso da Rede Globo.

“Meus filmes inauguram uma visão menos preconceituosa e estereotipada no audiovisual em relação ao jovem da periferia. Os dois filmes receberam vários prêmios dentro e fora do país e foram exibidos em mais de 25 países”, revelou em entrevista ao Boletim do Kaos. Um filme? Aurora, dirigido pelo Murnau. Um ator? Paulo José. Uma atriz? Fernanda Montenegro. Um diretor? Vivo, Jacques Rivette. Oscar, acha importante o Brasil ganhar um dia? Acho que é importante porque há um anseio da classe média por esse tipo de prêmio. O prêmio acaba sendo uma legitimação do filme. O Brasil vive um grande momento em termos de produção para cinema? Não existe cinema em nenhum lugar do mundo que não esteja vinculado ou associado à televisão. Aqui no Brasil, existe um divórcio muito grande entre os dois meios. Acho que isso precisa ser corrigido. Há também algumas distorções no processo de produção, distorções essas que precisam ser elaboradas. Elas vão desde o limite de financiamento público para um filme a que tipo de público se deve esperar de cada filme. Um salve aos nossos leitores? Não há solução possível para as questões humanas que não passem pela cultura e pela arte.

Seu próximo filme vai se chamar A Vida Secreta das Estrelas e falará das dificuldades das pessoas em se relacionar afetiva e amorosamente “É um filme leve, uma história de amor contemporânea”, conta o diretor. Seu primeiro filme De Passagem foi um grande sucesso. “A ideia inicial de De Passagem era o reencontro de dois amigos que não se veem há muito tempo. Através desse reencontro, mostramos uma outra visão da periferia, diferente da que acontecia. O filme é sustentado pelo Sivio Guindane e pelo Fabio Neppo”, finaliza. Seu segundo filme, Os 12 Trabalhos, foi eleito o melhor filme Latino no Festival Espanhol de San Sebastian e foi exibido em mais de 23 países. “Os 12 Trabalhos fala da dificuldade que um jovem tem para se transformar, se reinventar. Ao mesmo tempo, o filme é sobre São Paulo e todas as suas contradições”, diz Ricardo. Mas, como sabemos, fazer cinema no Brasil é uma luta. “É preciso obsessão e sorte, e como dizia Guimarães Rosa: Sorte é merecer e ter”, fala Ricardo. “No momento em que fiz os filmes, não existia uma obra audiovisual que mostrasse o jovem da periferia sem vincular sua imagem ao crime e à marginalidade. Nesse sentido, o De Passagem foi pioneiro. Eu queria mostrar o jovem comum, o morador comum da periferia, seus sonhos, desejos”, completa o cineasta que nasceu na zona leste e representa as ruas em seus filmes.


Selo Povo, do escritor Ferréz, lança livros a R$ 5 Ao lado do editor Marcelo Martorelli Vessoni da Luzes no Asfalto Editora, Ferréz coloca um sonho em prática. “Uma mudança radical nas condições sócio econômicas só acontecerá se for monitorada pelos excluídos”, fala Marcelo, citando o recém inaugurado Selo Povo. A editora publicará autores brasileiros considerados marginais. A ideia é colocar no mercado livros a R$ 5. “O Selo Povo é, no meu modo de ver, muito mais do que uma marca: é uma ferramenta de mudança humanitária”, explica Marcelo em entrevista ao BK. Marcelo é coordenador editorial. É ele quem escolhe profissionais nas áreas de texto, gráfica e supervisiona todas as etapas de edição dos livros: criação de capa, projeto gráfico, diagrama ção, revisão de textos, escolha de gráfica e distribuição. Tudo está sendo muito bem cuidado. Para a parte visual, Thais Vilanova e Paulo Vidal definiram o estilo da primeira coleção de 8 livros. “O Ferréz quis que os livros fossem feitos no formato bolso, assim ficariam com preços mais acessíveis. O grafismo deixamos a cargo do casal”, revela Marcelo. Ele também conta que o escritor do Capão Redondo foi o responsável pela escolha dos autores: “Acho que o critério que ele usa é, em primeiro lugar, o da qualidade literária dos textos e o caráter marginal”. A distribuição será feita da forma tradicional pela Luzes no Asfalto Editora e uma distribuição alternativa também terá atenção especial. Ferréz, em seu blog, explicou como vai funcionar: "Seja um

distribuidor do Selo Povo. Salve guerreiro, você que tem comércio em alguma região periférica, é um militante da cultura de rua ou mesmo se é só um mano ou mina querendo fazer parte da verdadeira revolução, mande um e-mail (literaturamarginal@ibest.com.br) e vamos entrar em contato para poder distribuir nossos livros. Os livros vão ser vendidos a R$ 5 e o DVD a 9,99. Contribua para a periferia ter acesso à leitura, seja um traficante de informação”, convoca o autor de Capão Pecado. O primeiro livro é do próprio Ferréz, que mostra acreditar no projeto: "Eu me agarro a algo já batido, uma velha letra que ouvi há muito, de um velho inimigo. Penso nas línguas que ferem e estupram meu ouvido, dizendo entender e se parecer comigo", trecho de Cronista de um Tempo Ruim, seu novo livro. A publicação deve sair no segundo semestre de 2009 e vai contar com a escritora Cernov, de Manaus, Lima Barreto, entre outros. As lojas 1 Da Sul serão os primeiros lugares que rece-berão os livros, além da venda pela Internet. Mas os livros também estarão na FNAC e na Livraria Cultura. A revolução está começando.

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Por Alexandre De Maio

Tempos diferentes, estilos diferentes, o mesmo vicío; a literatura.

Ele nasceu em Curitiba, no dia 24 de agosto de 1944, foi batizado com o nome do pai, descendente de pai polonês e mãe negra. Sua morte precoce não limitou seu trabalho e Paulo deixou uma obra inigualável. Paulo sempre chamou atenção por sua intelectualidade. Sempre muito ativo, usou toda sua energia na literatura e produziu muito em vida. Se destacou pelo seu estilo único, preferindo poemas breves e trocadilhos. Sua astúcia nos textos fizeram-no participar do I Congresso Brasileiro de Poesia de Vanguarda em Belo Horizonte, onde conheceu Haroldo de Campos, que virou amigo e parceiro. Leminski, aos dezessete anos, se casou com a desenhista e artista plástica Neiva Maria de Sousa. Mas, sete anos depois, se separou. Suas poesias trazem a dor de uma vida de altos e baixos. Brigou a vida inteira com o irmão mais novo, Pedro, que se enforcou em 1986. Perdeu seu primeiro filho, Miguel Ângelo, vencido pelo câncer em 1979, aos 9 anos de idade. Ele mesmo já esperava a morte pelos excessos de uma vida regada à vodka, cigarro e outras drogas. “Maremotos em mares mortos. Pai morto. Mãe morta. Filho morto. Irmão morto. Como querer que minha vida não seja torta?”, escreveu em 88, um ano antes de morrer.

MOMENTO BOM Sua esposa Alice Ruiz, também poeta, ficou casada com ele 19 anos e, juntos, tiveram, além de Miguel Ângela, as filhas Áurea e Estrela. Sua vida ficou mais conhecida depois que Alice, em parceria com Toninho Vaz, lançou o livro Paulo Leminski – O Bandido que Sabia Latim. No livro, as linhas revelam um homem que dava aulas de judô e adorava citações em latim. Leminski ainda se casou com Berenice Paredes após se separar de Alice Ruiz, cansada da vida desregrada de álcool e drogas do poeta. Sua trajetória começou, mesmo, em 1964 com poemas na revista Invenção. Um ano depois, tornou-se professor de História e de Redação em cursos pré-vestibulares. Cansado, de 69 a 70 morou no Rio de Janeiro; Voltando a Curitiba para ser redator publicitário. A qualidade de seus textos fez com que, em 1981, sua letra Verdura, fosse gravada por Caetano Veloso no disco Outras Palavras. Considerado um poeta de vanguarda, um intelectual, Leminski era ao mesmo tempo um marginal colaborando com diversas publicações. Um grande momento da sua carreira foi em 1975, quando lançou Catatau, que denominou "prosa experimental". Sua parceria com a música reúne grandes nomes da MPB, mas também foi tradutor de Alfred Jarry, James Joyce, John Fante, John Lennon, Samuel Beckett e Yukio Mishima. Publicou o livro infanto-juvenil Guerra dentro da gente, em São Paulo, 1986. Ele também foi colunista do Jornal de Vanguarda, na TV Bandei-rantes. Uma de suas paixões, a língua e cultura japonesas, resultou, em 1983, numa biografia de Bashô.

Os poetas sempre tiveram impacto na história da sociedade. Mas a verdade é que a poesia se tornou algo fora de moda nas gerações pós-Internet. No entanto, essa história tem mudado e a poesia, hoje vanguarda dos movimentos culturais periféricos, volta com força total e um dos maiores responsáveis é Sérgio Vaz. O mentor da Cooperifa abalou as estruturas da arte de rua com o Sarau da Cooperifa na zona sul. Com um poder incrível de unir as pessoas, Sérgio, que acabou de completar 43 anos, reuniu poetas perdidos, talentos incríveis, pessoas comuns, universitários jornalistas e rappers para ler e ouvir poesia toda quarta-feira, pelos incansáveis últimos oito anos. Com cinco livros, o último, Colecionador de Pedras, relançado pela Global Editora, foi no bar do Zé Batidão que ele achou seu QG da Revolução. Transformando um bar em um dos pontos culturais mais interessantes de São Paulo. Em 2005, lançou a coletânea intitulada Rastilho da Pólvora, que deu voz a vários escritores e sua camaradagem abriu portas para toda uma cena literária. Suas poesias passam pela realidade, retratam o social sem perder o lado lúdico e a leveza. Conhecido por falar a verdade e por sua habilidade de unir as pessoas, veio dos anos 80 com um grupo de MPB, Clube da Esquina, onde começou a ser poeta. Em 86, Sérgio já lançava de forma independente Subindo a Ladeira Mora a Noite. Em 1991, seu segundo livro, A Margem do Vento. Em 1999, já era chamado de “poeta da periferia” pela revista Raça Brasil. Em 94, com o livro Pensamentos Vadios, confirmou seu estilo. Mas só dez anos depois foi que conseguiu lançar o intitulado Poesia dos Deuses Inferiores. Seus feitos e dos seus parceiros são inacreditáveis. O último sarau , que coincidiu com o lançamento da edição anterior desse jornal, atingiu a marca de 58 poetas! “Uma das noites mais lindas de todos os tempos. Uma puta noite mágica. De luta. De resistência. De amor à poesia. De amor à periferia. Ontem, o sarau da Cooperifa parecia com o país que a gente sonha”, disse Sérgio Vaz em seu blog. E, para finalizar, Sergião ainda escreveu: “Ontem, tive a certeza de que valeu a pena a gente ter lutado tanto pra chegar até ali. Queria ter dois corações. Um para amar. O outro também. Falando em coração, o meu agora deu para ter orgasmos e ejacular pelos olhos”. Concordo com você, mano. Acesse e participe dessa (r)evolução: www.colecionadordepedras.blogspot.com

"A PERIFERIA NOS UNE PELO AMOR, PELA DOR E PELA COR DOS BECOS E VIELAS. HÁ DE VIR A VOZ QUE GRITA CONTRA O SILÊNCIO QUE NOS PUNE. EIS QUE SURGE DAS LADEIRAS UM POVO LINDO E INTELIGENTE GALOPANDO CONTRA O PASSADO. A FAVOR DE UM FUTURO LIMPO, PARA TODOS OS BRASILEIROS..."


matéria Iatua

Imagine você, durante a semana no caos urbano de São Paulo, passando a trabalho ou a passeio pela avenida Paulista e, de repente, poder se desplugar de tudo e ouvir uma música confortavelmente num sofá. Ou então, assistir de graça a um filme. Ou ler o jornal do dia, as revistas da semana ou do mês, tudo sem desembolsar um único real. Se eu falasse que tudo isso é possível, você acreditaria? Se sua resposta é não, então precisa conhecer melhor o Itaú Cultural na avenida Paulista. Ali, você pode subir até o segundo mezanino e estará na Biblioteca e Videoteca, ou CDR (Centro de Documentação e Referência). Logo na entrada da biblioteca, sem precisar fazer qualquer tipo de cadastro, você pode sentar no sofá e relaxar ao som de alguma coletânea com variados gêneros musicais, que vai da MPB à música regional brasileira. Por dez minutos ou meia hora, você pode se desligar da cidade e depois retomar seu caminho com muito mais tranquilidade. Ou então, se tiver mais tempo, continuar no espaço para uma boa leitura. O melhor de tudo é poder fazer uma carteirinha, que fica pronta na hora, e ter à sua disposição mais de 3.900 filmes entre ficção, documentário, curtas-metragens, etc. A única coisa que precisa é levar RG, CPF e um comprovante de residência. Nada de xerox.

O PÚBLICO EM GERAL TEM DOIS DIAS PARA FICAR COM OS FILMES E OS EDUCADORES (ESCOLAS PÚBLICAS, PARTICULARES E ONGS TÊM SETE DIAS. OS TÍTULOS TAMBÉM PODEM SER CONSULTADOS NO SITE DO ITAÚ CULTURAL. E O MELHOR DISSO: É TUDO GRAÇA.

Quando estiver na Avenida Paulista, faça uma visita ao Itaú Cultural e conheça a Biblioteca e Videoteca, e mais um monte de opções como - exposições, shows e outros espaços que destacaremos nas próximas edições. Batemos de novo na tecla, é tudo de graça, catraca livre. Aproveite!

Itaú Cultural Avenida Paulista, 149 [ao lado da estação Brigadeiro do metrô] Biblioteca ou Centro de Documentação e Referência no 2º Mezanino (11) 2168-1883 centrodoc@itaucultural.org.br Funcionamento: de terça à sexta, das 12 às 20h; sábado das 10 às 19h Videoteca (11) 2168-1782 videoteca@itaucultural.org.br www.itaucultural.org.br


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