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395 17 DE J A N E I R O

Destruição do Serapeum Império Romano dividido Parte da Grande Biblioteca de Alexandria se perde com a destruição do Serapeum.

A morte de Teodósio, o Grande cinde o Império Romano, apressando seu declínio.

N o ln*ipério R o m a n o d o final d o século IV, a luta entre

A m o r t e d e Teodósio, o Grande, e m 395, foi recebida

os cristãos e aqueles q u e o b s e r v a v a m as antigas tra-

c o m t e m o r pelos romanos. M e n o s d e u m a n o d e p o i s

dições pagas c h e g o u a o ápice. E m 391, o S e r a p e u m ,

d e Teodósio ter reunificado o Império a p ó s anos d e

prédio q u e s u p o s t a m e n t e abrigava parte da Bibliote-

guerra civil, este foi n o v a m e n t e dividido entre os fi-

ca d e Alexandria, foi sitiado.

lhos inexperientes d o ex-imperador, c o m H o n ó r i o

Por t o d o o Império, p a g ã o s foram perseguidos e

tornando-se g o v e r n a n t e d o O c i d e n t e e Arcádio d o

seus t e m p l o s destruídos. A situação piorou q u a n d o o

Oriente. Os m e d o s d o p o v o tinham f u n d a m e n t o .

i m p e r a d o r cristão Teodósio emitiu u m decreto o r d e -

Desse p o n t o e m diante, o Império R o m a n o nunca

n a n d o a destruição d e todos os t e m p l o s pagãos. E m

mais seria unificado sob u m m e s m o imperador.

Alexandria, o patriarca Teófilo acatou a o r d e m d e

I lonório tinha a p e n a s 10 a n o s a o se tornar i m -

b o m grado. C o m a sua anuência, os ataques aos p a -

perador - e l e confiava na liderança d e Stilico, g e n e -

gãos, seus bens e locais d e culto se intensificaram. Irados c o m essa violação d e t e m p l o s sagrados, os p a g ã o s revidaram e atacaram os cristãos. Seguiu-se u m b a n h o d e sangue. Q u a n d o a facç ã o cristã reagiu, os pagãos fizeram reféns e se tranc a r a m no S e r a p e u m , o mais i m p o n e n t e dos t e m p l o s remanescentes. Durante o cerco h o u v e relatos d e

"O Império Romano tornou-se a moradia de bárbaros." Z ó z i m o , História

nova,

L i v r o I V , c. 5 0 0

q u e alguns p a g ã o s s a q u e a v a m o t e m p l o e n q u a n t o outros t o r t u r a v a m e sacrificavam seus prisioneiros

ral q u e derrotara o bárbaro Radagásio e m 406. M a s

indefesos. Apesar da selvageria d o incidente, T e o d ó -

H o n ó r i o e n f r e n t o u várias derrotas, e o Império O c i -

sio p o u p o u os pagãos, mas m a n d o u destruir o Sera-

dental foi ruindo aos p o u c o s e m torno d e l e . As c o i -

p e u m a l e g a n d o q u e suas i m a g e n s pagas haviam

sas pioraram q u a n d o H o n ó r i o m a n d o u

c a u s a d o t o d o a q u e l e problema.

Stilico e m 408, d e p o i s d e acusá-lo d e conspiração.

Há controvérsias e m relação a o q u e se g u a r d a -

executar

E m 24 d e a g o s t o d e 410, o m u n d o r o m a n o foi a b a -

va da g r a n d e biblioteca n o S e r a p e u m . S e , c o m o

lado c o m o saque d e Roma p e l o g o d o Alarico. Q u a n -

muitos a c r e d i t a m , o S e r a p e u m d e fato abrigava

d o H o n ó r i o m o r r e u , e m 423, seu império estava a s -

p a r t e da c o l e ç ã o , sua d e s t r u i ç ã o foi u m a tragédia

solado por revoltas e usurpadores.

q u e c a u s o u a perda d e muitos textos antigos. Na

N o Oriente, Arcádio n ã o precisou enfrentar as

é p o c a , p o r é m , a maioria das pessoas n ã o ligou m u i -

m e s m a s calamidades d o O c i d e n t e . S e g u n d o textos

to para isso. N ã o resta d ú v i d a d e q u e os a c o n t e c i -

antigos, ele tinha pouca força d e v o n t a d e e era m a n i -

m e n t o s d e 391 f o r a m vistos p e l o s primeiros cristãos

pulável. D o m i n a d o pela esposa, levava uma vida d e

c o m o mais u m a prova da vitória d o cristianismo

cristão d e v o t o e m vez d e cuidar das questões d o E s -

contra o misticismo p a g ã o . T B

tado. M o r r e u e m 408, praticamente s e m controle sobre u m império d o m i n a d o pelas intrigas. T B


O 24 DE A G O S T O

Roma é saqueada pelos visigodos / /. arados porAlarico, os visigodos sitiam e invadem a antiga capital do Império Romano; é a primeira vez, em 800 anos, gue os muros da cidade são transpostos. I n i 410, Roma já não era a capital d e u m grande i m p é rio. O centro d o poder romano havia migrado para o leste, para Constantinopla, e no Ocidente o imperador Honório havia transferido sua corte para Ravenna, na costa italiana d o Adriático. Ainda assim, Roma era uma i idade rica e populosa, protegida por suas formidáveis Muralhas Aurelianas. Os habitantes p o d i a m se gabar d e q u e fazia cerca d e 800 anos q u e a cidade não era M ibjugada por u m inimigo estrangeiro. Na noite d e 24 i Ir agosto, porém, Roma foi traída. O h o m e m q u e pôs fim ao recorde romano d e Invi ncibilidade foi Alarico, chefe dos visigodos. Assim c o mo muitos outros bárbaros, seus guerreiros germânicos I laviam sido cooptados pelos romanos para combaterem c o m o foederati

(aliados) ao lado das cada vez mais

i ".cassas legiões oficiais. Alarico achava q u e não havia ido d e v i d a m e n t e recompensado pelos serviços prestados. Sitiar Roma era u m m o d o d e obter a riqueza à i lual, na sua opinião, seus homens haviam feito jus. U m dos portões das Muralhas Aurelianas, a Porta Salaria, foi aberto por dentro, e os visigodos adentraram a c i d a d e adormecida sem encontrar oposição. O seu "saque d e Roma" não c h e g o u a se transformar e m lestruição incontrolável. A maioria dos visigodos era le religião cristã ariana e eles respeitaram as igrejas d e Roma e a vida d e q u e m nelas buscou refúgio. Mas locais considerados pagãos foram saqueados e destruí-

O

Gravura mostrando o saque e a pilhagem de Roma pelos visigodos e m 410.

dos. H o u v e roubos, assassinatos e estupros, e m b o r a em escala m e n o r d o q u e a temida pelos cidadãos. Por . ausa d o cerco, o estoque d e víveres d e Roma quase se esgotou. A p ó s três dias, os visigodos a b a n d o n a r a m i cidade esfomeada e rumaram para a Sicília, o n d e ha/ia muitos cereais. Alarico morreu e m Cosenza

no

m e s m o ano. A humilhação d e Roma foi u m c h o q u e para seus habitantes e para o m u n d o e m geral. R G

"A cidade que fez do mundo inteiro seu cativo foi ela própria capturada." S ã o J e r ô n i m o , C a r t a C X X V I I p a r a P r i n c i p i a , 412



432

451 20 DE J U N H O

Missão sagrada à Irlanda Derrota de Átila, o Huno O ex-escravo São Patrício é convocado em sonho para viajar até a Irlanda.

O general romano Aécio derrota Átila, o Huno, nos Campos Cataláunicos.

0 a n o tradicionalmente atribuído à missão sagrada

Depois d e passar muitos anos aterrorizando as provín-

d e S ã o Patrício na Irlanda, 432, parte d o princípio d e

cias balcânicas d o Império R o m a n o d o Oriente, Átila, rei

q u e ele é o m e s m o Paládio e n v i a d o por São G e r m a -

dos hunos (que reinou entre 434-453), invadiu o Império

no, bispo d e Auxerre, na Gália, para fundar u m bispa-

d o Ocidente e m 451 c o m u m vasto exército d e hunos e

d o na Irlanda nessa data. Q u e r esse fato seja o u não

aliados germânicos. Os combates c o m e ç a r a m no meio

verídico, p o d e m o s ter certeza d e q u e S ã o Patrício

da tarde d e 20 d e junho e prosseguiram até b e m tarde

a t u o u na Irlanda durante o século V e d e q u e graças

da noite d e verão, mas n e m tudo correu conforme oj

à sua incansável evangelização ele c o n s e g u i u p r o p a -

planejado. Átila avançou pela Gália, realizando saques

gar a palavra d e Cristo pelo país.

pelo caminho. Sua intenção era forçar o imperador ocidental Valentiniano III a lhe entregar sua irmã rebelde,

"Nós te imploramos, santo rapaz, para vires andar novamente entre nós." S ã o P a t r í c i o , Confessio,

c. 4 5 0

Honória, q u e tinha enviado para Átila uma proposta secreta d e casamento junto c o m u m dote que c o m p r e endia a totalidade d o Império Ocidental. O adversário d e Átila era o grande general romano Aécio. Átila e Aécio se conheciam muito b e m . Aécio havia passado parte da juventude c o m o refém dos hunos, e desde então fizera uso freqüente d e mercenários h u -

S ã o Patrício nasceu e m u m a família cristã romano-britânica e m Gales por volta d o final d o século IV.

nos e m suas campanhas contra os invasores germânicos q u e haviam capturado partes da Gália e da Espanha.

(Declaração), texto só c o n h e c i d o graças a

A invasão d e Átila era uma ameaça tão grande para

u m a cópia d o século IX, mas q u e é plausível atribuir a

esses habitantes germânicos quanto para os romanos,

Patrício, afirma q u e ele foi c a p t u r a d o por bandoleiros

o que permitiu a Aécio formar uma improvável coalizão

irlandeses e v e n d i d o , aos 16 anos, c o m o escravo na

c o m seus antigos inimigos. Átila avançou até Orléans,

Confessio

Irlanda. Sete anos depois, ele fugiu, mas n ã o d e m o -

mas não conseguiu tomar a cidade antes d e Aécio c h e -

rou a receber e m s o n h o u m c h a m a d o para voltar à

gar c o m u m exército d e romanos, visigodos, francos,

Irlanda c o m o missionário. Foi o r d e n a d o padre e c o n -

burgúndios, saxões e alanos. Átila retirou-se para os

sagrado bispo antes d e retornar à Irlanda, o n d e , s e -

C a m p o s Cataláunicos, entre Troyes e Châlons, o n d e p o -

g u n d o seu próprio relato, "batizou milhares d e p e s -

dia usar melhor sua cavalaria. Houve fortes baixas d e

soas", d e nobres a escravos, o r d e n o u padres e f u n d o u

a m b o s os lados, e Átila acabou recuando. No dia se-

c o m u n i d a d e s cristãs.

guinte, suas forças se retiraram. Aécio não as perseguiu.

O hino "Peitoral d e São Patrício" é muito posterior a essa data. Patrício não expulsou as serpentes da Irlanda

Átila invadiu a Itália no a n o seguinte, mas t a m b é m fracassou. Ele morreu e m 453. J H

n e m usou o trevo c o m o ilustração da Trindade - essas são apenas algumas das muitas lendas surgidas e m torno d o santo nos séculos posteriores à sua morte. S K

O Átila e seu exército marcham sobre Paris, detalhe de um afresco retratando o grande líder e m sua marcha destruidora.


496 25 DE D E Z E M B R O

Fim de um império

0 rei Clóvis é batizado

Rômulo Augústulo, último imperador do Ocidente, é deposto.

Clóvis I adota o catolicismo e é batizado na Catedral de Reims.

E m 23 d e agosto d e 476, o general bárbaro Odoacro

Muitos dos espectadores presentes e m Reims e m d e -

c o m e ç o u uma rebelião contra o imperador romano d o

zembro d e 496 acreditavam estar provando os deleites

Ocidente, Augústulo. No dia 4 d e setembro, Odoacro

d o paraíso ao verem o rei Clóvis a caminho da catedral

(apturou Rômulo e expulsou-o para uma villa perto d e

para ser batizado na religião d e seu povo. Era significati-

Nápoles. Ele então escreveu para o imperador d o Ori-

vo que Clóvis estivesse se tornando católico, e m vez d e

ente, Zenão, e m Constantinopla, dizendo-lhe q u e o

professar o arianismo germânico. Ao abraçar a religião

Império não precisava mais d e dois imperadores e que

popular da antiga província romana da Gália, ele abria

ele governaria a Itália - tudo q u e restava d o Império R o -

caminho para a criação d e u m reino franco unificado

m a n o d o Ocidente - e m seu n o m e c o m o vice-rei. Esses

que mais tarde iria se transformar na França.

acontecimentos são vistos e m geral c o m o o marco da

O processo d e criar u m reino franco unificado por

queda d o Império R o m a n o d o Ocidente.

meio das conquistas militares já estava b e m adiantado

"Odoacro depôs Augústulo, mas lhe poupou a vida por pena de sua pouca idade."

"Deus fazia os inimigos de Clóvis caírem diariamente em suas mãos."

Crônica

Gregório d e Tours (morto e m 594), História dos francos

do Anônimo

Valesiano,

550

O j o v e m R ô m u l o havia sido n o m e a d o imperador

antes d e Clóvis adotar o catolicismo, o q u e lhe p e r m i -

e m o u t u b r o d e 475 pelo pai, o general Orestes, q u e

tiu conquistar os corações e mentes dos povos q u e

d e p u s e r a o i m p e r a d o r anterior, J ú l i o N e p o , e q u e -

passou a dominar. A l é m disso, Clóvis assegurou q u e o

ria g o v e r n a r por m e i o d o filho. O d o a c r o c a p t u r o u

reino franco unificado permanecesse ligado ao papa e

Orestes e m 28 d e agosto e m a n d o u decapitá-lo, mas

ao q u e restava d o Império, conservando grande parte

R ô m u l o foi p o u p a d o p o r q u e o título d e imperador já

da antiga cultura romana e facilitando a transição para

n ã o conferia muito status. Para os historiadores, a d e -

os conquistados.

posição d e R ô m u l o marca o fim d o Império R o m a n o e o início da Idade das Trevas.

Apesar d e abraçar o catolicismo, Clóvis c o n s e g u i u conquistar a B o r g o n h a , e m b o r a

não

tenha

Z e n ã o sempre havia considerado Rômulo u m usur-

restringido a influência visigoda à Espanha. Antes

pador. Aceitou a oferta d e Odoacro para governar c o -

d e morrer, e m 511, e l e a c r e s c e n t o u a Aquitânia a o

m o vice-rei, o que permitia conservar a ficção jurídica d e

seu reino e e s t a b e l e c e u a capital e m Paris. Infeliz-

uma Itália q u e ainda fazia parte d o Império. C o m o O d o -

m e n t e , o reino unificado d e Clóvis t o r n o u a se d i v i -

acro manteve a administração romana, a vida da maio-

dir d e p o i s d e sua m o r t e entre seus quatro

ria d e seus súditos não foi abalada pelo divisor d e águas

q u e passaram a g o v e r n a r as regiões d e Paris, Or-

representado pelo fim d o reinado d e Rômulo. J H

léans, Soissons e Reims. T B

filhos,


Obra influente escrita na prisão Boécio, o último filósofo romano, é condenado por traição e escreve A consolação da filosofia enquanto aguarda a execução. O filósofo r o m a n o Anícío B o é c i o (c. 480-524) é mais c o n h e c i d o por seu A consolação

da filosofia,

escrito

e n q u a n t o era prisioneiro d e Teodorico, rei o s t r o g o d o da Itália, a p ó s ser c o n d e n a d o por traição. B o é c i o h a via t e n t a d o conciliar a lealdade ao ideal d e u m I m p é rio R o m a n o universal c o m a subordinação a o rei bárbaro q u e controlava a Itália. O último imperador r o m a n o d o Ocidente fora d e posto e m 476, mas, e m teoria, a Itália ainda fazia parte do Império Romano, e Teodorico reconhecia a soberania d o imperador d o Oriente e m Constantinopla. N o entanto, apesar das demonstrações exteriores d e a m i zade entre os governantes, Teodorico temia perder o poder e, para ele, as relações próximas d e Boécio c o m o Oriente pareciam fazer parte d e u m c o m p l ô para restaurar o regime imperial. Assim, o filósofo foi c o n d e n a d o por traição e sentenciado à morte. Boécio contestou c o m veemência o g o l p e da prisão e da execução iminente. Funcionário público d e longa data, ele pertencia a uma rica família d e patrícios, era u m estudioso elogiado e cônsul d e Roma. E m meio ao desespero, escreveu A consolação

da filosofia,

que

toma a forma d e u m diálogo entre Boécio e a personificação da filosofia. A obra aborda temas c o m o a natureza d o b e m e d o mal, a felicidade, o livre-arbítrio e as reviravoltas d o destino e da fortuna, fazendo referência às doutrinas d e Platão e Aristóteles, dos estóicos e dos neo-

O Boécio se despede da família, pelo artista francês Jean-Victor Schnetz (1787-1870).

platonistas. N ã o se sabe q u a n t o t e m p o B o é c i o ficou preso, mas ele acabou torturado e surrado até a morte. A consolação

da filosofia

permaneceu desconhe-

cido por muitos séculos a t é se tornar u m dos trabahos filosóficos mais influentes da Idade Média. Foi traduzido para o inglês n o século IX p e l o rei Alfredo, o G r a n d e para incentivar seus súditos nos c o m b a t e s contra os vikings. J H

"Em vez de retribuição pelo verdadeiro bem, punição por um crime que não cometi." B o é c i o , A consolação

da

filosofia


O fim dos eremitas: é criada a vida monástica São Benedito escreve regras detalhando como devem viver as comunidades monásticas. Foi para o t o p o d e uma colina escarpada e íngreme acima da cidade d e Cassino, entre Roma e Nápoles, que Benedito (480-547) e alguns poucos seguidores se retiraram para levai uma vida espirilu.il. Ali, c m 529, Benedito c o m e ç o u a compilar uma regra, o u conjunto d e instruções, a ser seguida pelas c o m u n i d a d e s d e monges, e s t a b e l e c e n d o horários d e prece e trabalho, -) necessidade d o estudo e da obediência. Havia muitos anos que Benedito vinha querendo levar uma vida santa. Filho d e pais ricos nascido e m Núrsia, na Itália Central, ele a b a n d o n o u os estudos e m Roma - segundo nos conta Gregório, o Grande, por ter se c h o c a d o c o m a licenciosidade que encontrou - e foi viver c o m o eremita e m uma caverna e m Subiaco, a leste d e Roma. Três anos depois, a fama d e sua santidade tornou a puxá-lo para o m u n d o e ele se tornou abade de u m mosteiro próximo, Muitos discípulos vinham procurá-lo, e ele fundou 12 outros mosteiros, cada qual c o m 12 monges. Uma rixa c o m u m padre vizinho c o n venceu-o a se mudar para o monte Cassino. Desde muito cedo, na história d o cristianismo, h o mens e mulheres haviam escolhido viver c o m o eremitas, jejuando e orando e m meio à natureza e repetindo assim os 40 dias d e Jesus no deserto. Às vezes, eles se uniam para viver e m pequenas comunidades d e m o n ges (palavra que v e m d o grego monakhas,

freqüentemente sob a autoridade d e u m a b a d e (de abba,

O Cenas da vida de Sáo Benedito: o santo expulsa o demônio, por

"solitário"),

palavra e m aramaico q u e significa "pai").

S p i n e l l o A r e t i n o ( c . 1332-1410). O

Sào Benedito, por Hans Memling (c. 1425-1494), artista germano-flamengo do Renascimento do Norte.

E m Cassino, B e n e d i t o d e s e n v o l v e u a tradição cenobítica d o monasticismo, q u e enfatizava a vida e m c o m u n i d a d e e o espírito d e família entre os m o n g e s . Era diferente da tradição anacorética d o s eremitas, q u e ele havia seguido inicialmente. Embora as suas não t e n h a m sido as primeiras regras monásticas, a Regra d e S ã o B e n e d i t o tornou-se a base da vida m o nástica e m toda a cristandade ocidental. S K

"O homem santo escreveu uma regra para monges notável pela clareza de sua linguagem." G r e g ó r i o , o G r a n d e , Diálogos,

590



532 13 DE J A N E I R O

537 27 DE D E Z E M B R O

Revolta na corrida

Paraíso sobre a Terra

Constantinopla pega fogo enquanto a violência popular ameaça o trono bizantino.

Justiniano comparece à consagração de Hagia Sophia em Constantinopla.

Na Constantinopla do século VI, a grande paixão p o p u -

Ninguém jamais havia tentado construir u m d o m o d e

lar era a corrida d e bigas. A rivalidade entre as duas equi-

tamanhas proporções. "Salomão, eu te superei!", di/ri 11

pes principais, os Azuis e os Verdes, era profunda. Havia

ter sido o comentário d o imperador bizantino Justinia

corrido a notícia d e que alguns condutores d e bigas ti-

no q u a n d o entrou e m sua recém-concluída Igreja d e

nham sido enforcados por assassinato após uma recen-

Hagia Sophia (Divina Sabedoria d e Deus) pouco a n i c ,

te confusão, e a multidão que lotava o hipódromo no

d e esta ser consagrada, e m dezembro d e 537.

dia 13 d e janeiro d e 532 estava tensa e zangada. À m e d i -

P o u c o s dias d e p o i s d e ver a basílica anterior sei

da que prosseguiam os páreos d o dia, os gritos d e incen-

destruída por u m incêndio durante as revoltas d e |,i

tivo da torcida azul e da verde se transformaram e m um

neiro d e 532, Justiniano havia o r d e n a d o a construção

só brado d e "Nika,

d e uma nova, terceira a o c u p a r a q u e l e local d e s d e a

nika"

("Vença, vença") e e m pouco

tempo as duas facções rivais haviam unido forças para

estrutura origina d e Constantino e m 325. Seguiu Ui < >

se rebelar contra o governo. A multidão saiu d o hipódro-

historiador Procópio, mais d e 10 mil pessoas foram

mo, atacou o palácio imperial e pôs fogo e m prédios por

e m p r e g a d a s na construção, e a e n g e n h o s i d a d e d e

toda a cidade. Q u a n d o a turba voltou a se reunir no hipódromo para aclamar u m usurpador, tudo parecia perdido para o imperador Justiniano, no poder desde 527. Q u e m salvou a situação foi sua esposa, Teodora.

arquitetos c o m o Isidoro d e Mileto e A n t ê m i o d e Ira les foi lestada até os últimos limites. Projetado para representar a abóbada celeste, o d o m o se erguia 64 metros acima d o nível d o chão e e i a

ilha d e u m d o m a d o r d e circo e ela própria atriz e

sustentado por quatro arcos redondos que brotavam

ex-prostituta, assim afirmavam seus inimigos, T e o d o -

d e quatro sólidos pilares, cada qual c o m 99 metros qua

ra era a fiel conselheira d o marido. Ela o c o n v e n c e u a

drados d e base. O interior revestido a ouro d o d o m o era

agüentar firme, e n q u a n t o os generais imperiais Beli-

iluminado por 40 janelas e m arco e enfeitado c o m

sário e Narses enfrentavam a turba, deixando milha

luxuosos mosaicos e mármores coloridos - vermelln >\

res d e mortos.

verdes, negros e amarelos -, c o m a intenção d e dai a o

Os mesmos generais foram responsáveis pelos su-

fiel a impressão d e entrar no paraíso.

cessos militares d e Justiniano, que incluíram a tentativa

Durante mais d e 900 anos, Hagia Sophia foi a

de reconquista d o Império Romano Ocidental dos bár-

s e d e d o patriarcado d e Constantinopla e o centro

baros. E m 553, ele despachou u m exército para destruir

visível da cristandade ortodoxa. M a s a basílica foi da

o reino vândalo no norte da África e travou longas guer-

nificada por u m terremoto e teve seus tesouros m u

ras na Itália e na Pérsia. Q u a n d o Justiniano morreu, e m

bados pelo exército da Quarta Cruzada, e m 1204,

567, o poder imperial havia sido restaurado e m toda a

Q u a n d o Constantinopla foi conquistada pelos turcos

Itália e no sul da Espanha - vitórias q u e seus sucessores

o t o m a n o s , e m 1453, o sultão M e h m e d II transformou

não foram capazes d e manter por muito tempo. S K

a construção e m mesquita e acrescentou-lhe quatn i

O

Esta imagem da antiga cidade de Constantinopla mostra

gia Sophia foi transformada e m m u s e u pelo g o v e r n o

m o n u m e n t o s construídos dentro do hipódromo.

turco secular, função q u e conserva até hoje. S K

minaretes, dando-lhe o contorno atual. E m 1935, Ha-




Segredo da seda chinesa Gregório torna-se papa Monges fazem contrabando para conquistar favores de Justiniano.

O primeiro monge a ser eleito papa mostrase um habilidoso líder e administrador.

D e 552 e m diante, a p r o d u ç ã o d e seda floresceu no

Q u a n d o o papa Pelágio II morreu durante uma e p i d e -

Império Bizantino graças a dois m o n g e s . A o saber

mia d e peste e m 590, seu secretário, Gregório, foi es-

q u e o i m p e r a d o r Justiniano n ã o queria c o m p r a r seda

colhido para sucedê-lo - o primeiro m o n g e da história

dos persas, os m o n g e s lhe disseram ter d e s c o b e r t o o

a virar papa. Gregório I (540-604) era u m nobre roma-

segredo da fabricação da seda. Eles e r a m m e m b r o s

no. Provavelmente recebeu formação e m Direito a n -

d e u m a seita cristã h e r e g e g u e fora expulsa d e Cons-

tes d e se tornar o principal magistrado público d e

tantinopla e se instalara e m uma província d o Impé-

Roma. Desencantado c o m a vida pública, tornou-se

I Í O Persa, na rota terreste d e c o m é r c i o pela qual a

m o n g e e m 574 no mosteiro q u e havia f u n d a d o no pa-

seda era trazida da China. Havia centenas d e anos que os chineses fabrica-

lácio d e sua família no m o n t e Caeliano, e m Roma. D e 579 a 585, foi o representante d o papa Pelágio II e m

v a m e exportavam seda, mas guardavam trancado a

Constantinopla, e mais tarde seu secretário.

"Com tempo e paciência, a folha da amoreira se transforma em uma roupa de seda."

do, na época sob ameaça d e ataque dos lombardos

Provérbio chinês

o abastecimento d e víveres e, depois, negociou u m

Eram t e m p o s difíceis para a cidade e para o papaque haviam invadido o norte da Itália e m 568. Gregório revelou-se u m líder e administrador habilidoso: elaborou planejamentos estratégicos, conduziu negociações diplomáticas, reparou os aquedutos da cidade, garantiu acordo c o m os reis lombardos. Ele reorganizou as terras sete chaves o segredo d e sua fabricação. Embora o tln-

e as finanças da Igreja, restabeleceu contato c o m reli-

y i m e n t o e a tecelagem da seda já fossem nessa época

giosos na África, Espanha e Gália, para q u e m escreveu

ofícios estabelecidos e m Constantinopla, protegidos

centenas d e cartas pastorais, e defendeu o papado, re-

pelo imperador, q u e concedera u m monopólio às fábri-

clamando do fato d e o patriarca d e Constantinopla usar

cas imperiais d e seda e m 541, a matéria-prima só podia

o título "patriarca ecumênico" (universal). Gregório se

ser obtida c o m a importação d e seda crua.

autodenominava "servo dos servos d e Deus".

Justiniano estava e m guerra contra os persas, inter-

Os escritos d e Gregório, sobretudo o

Liberregulae

mediários d o comércio d e longa distância da seda. Ele

pastoralis

prometeu recompensar os m o n g e s caso conseguissem

d e bispos e padres, foram a m p l a m e n t e estudados d u -

ludibriar os persas e lhe trazer o segredo da fabricação

rante a Idade Média, e, q u a n d o ele foi canonizado,

(Regra pastoral), sobre o cargo e os deveres

da seda. Os m o n g e s foram à China, o n d e conseguiram

batizaram-no d e "o G r a n d e " (Gregório Magno). Dentre

casulos d e bicho-da-seda. Esconderam-nos dentro d e

seus legados está a sistematização dos cânticos, c o -

varas ocas d e b a m b u , enterrados e m estrume para q u e

nhecidos até hoje c o m o "canto gregoriano". S K

sobrevivessem à longa viagem d e v o l t a a Constantinopla. Os casulos então se abriram, virando mariposas, e o segredo da seda deixou d e existir. S K

O

São Gregório retratado em um manuscrito com iluminuras do século XII pintado por monges franceses.



597 D E Z E M B R O

Milhares de britânicos se convertem à cristandade Agostinho batiza anglo-saxões e funda a arquidiocese de Canterbury. Q u a n d o o papa Gregório I enviou Agostinho, prior d e seu mosteiro e m Roma, para a ex-província britânica da Britânia, o resultado foi a conversão d e u m rei e seu povo ao cristianismo. S e g u n d o os registros, Agostinho realizou u m batismo coletivo no Natal d e 597, e é provável q u e o rei pagão Ethelbert d e Kent já houvesse se convertido antes d e seu povo começar a ser batizado. Diz a lenda q u e Gregório viu escravos d e cabelos louros à v e n d a n o m e r c a d o d e Roma e p e r g u n t o u d e o n d e v i n h a m . A o saber q u e e r a m anglos, retrucou: "Non

angliisedangeli"

("Anglos não, anjos"), e decidiu

enviar u m a missão para converter seus conterrâneos. Beda reproduz esse episódio e m sua História tica do povo

inglês,

eclesiás-

mas esse texto p o d e muito b e m

ser apócrifo - o mais provável é q u e Gregório já h o u vesse f i c a d o s a b e n d o q u e Bertha, princesa cristã casada c o m Ethelbert, havia p e d i d o a padres q u e c o n v e r t e s s e m o p o v o d o marido. G r e g ó r i o escolheu Agostinho para liderar a missão, e este partiu r u m o à Britânia e m 596 junto c o m 40 m o n g e s . Q u a n d o c h e g a r a m a o sul da Gália, n o entanto, eles se desencorajaram, conscientes d o s p e rigos da v i a g e m , e voltaram para R o m a . Gregório convenceu-os a tentar n o v a m e n t e , e e m 597 os m o n O Gravura oitocentista intitulada Batismo de Ethelbert. rei de

Kent, por Santo Agostinho em Canterbury em 597.

O Santo Agostinho de Hipona em sua cela (detalhe), por Sandro Botticelli (1445-1510), hoje na Galeria Uffizi, Florença, Itália.

g e s d e s e m b a r c a r a m o n d e hoje fica a região d e Kent. O rei Ethelbert os a c o l h e u e m sua corte e p o u c o d e pois tornou-se cristão. A g o s t i n h o estabeleceu sua base e m Canterbury, Kent, e q u a n d o Gregório enviou outros quatro m o n -

"Mais de 10 mil anglos foram batizados por nosso irmão Agostinho."

g e s para se j u n t a r e m à missão, e m 601, estes levaram

Gregório I a o patriarca d e Alexandria, 598

anglo-saxão, o n d e e m 627 c o n v e r t e u o g e n r o d e

consigo u m pallium,

a estola d e lã q u e o papa dá d e

presente aos arcebispos. U m desses m o n g e s foi Paulino, q u e iria se tornar o primeiro missionário d o p o deroso reino da Nortúmbria, n o norte d o território Ethelbert, o rei E d w i n . S K


Maomé na montanha Enquanto dorme no monte Hira, Maomé t TI uma visão do arcanjo Gabriel, que lhe revela ser ele, Maomé, o apóstolo de Deus, No i | u < i ( l i . i i i c s i m o . u m d e M M vi<l.i, e n q u a n t o di11 mia sozinho e m u m a caverna n o m o n t e Hira (na aluai Arábia Saudita), M a o m é t e v e sua primeira r e v e l a ç ã o d o arcanjo Gabriel. M u i t o a b a l a d o , c o n f i denciou-se c o m a esposa, Khadija,

contando-lhe

q u e G a b r i e l havia a n u n c i a d o q u e M a o m é era

o

a p ó s t o l o d e D e u s . Khadija confiava c e g a m e n t e n o marido, e tornou-se assim a primeira c o n v e r t i d a à n o v a religião islâmica. M a o m é nasceu e m M e c a n o a n o d e 570. M e m bro d o p e q u e n o clã d e Q u r a y s h , ficou órfão aos 7 anos, e a partir (ie e n t ã o foi cri,ido na ( a s a d o lio A b u Talib. A o ficar adulto, M a o m é tornou-se u m rapaz sensato e sério. Casou-se aos 25 a n o s c o m Khadija, rica viúva d o s Q u r a y s h cerca d e 15 anos mais velha d o q u e ele. A p e s a r da diferença d e idade, foi u m b o m e n l a c e para M a o m é , a u m e n t a n d o seu status c o m os Q u r a y s h e d a n d o - l h e c o n d i ç õ e s e t e m p o livre para se d e d i c a r a seu interesse pela religião. T o d o ano, ele passava o m ê s d o R a m a d ã o r a n d o e m e d i t a n d o sozinho no m o n t e Hira, n o d e s e r t o p r ó ximo a Meca. As idéias religiosas d e M a o m é f o r a m s e m d ú v i da i n f l u e n c i a d a s pela d i v e r s i d a d e religiosa da A r á bia d o s é c u l o V I . E m b o r a a maioria d o s á r a b e s a i n O

Ilustração de livro retratando o m o m e n t o da visita do arcanjo

da fosse politeísta, m u i t o s h a v i a m se c o n v e r t i d o

Gabriel a M a o m é .

a o j u d a í s m o e u m n ú m e r o m e n o r a o cristianismo. A l g u n s c u l t o s locais, c o m o o d o d e u s

"Alá o enviou como profeta da misericórdia para os povos do mundo visível e invisível." I b n I s h a q , Vida de Maomé,

século XII

guerreiro

H u b a l , t a m b é m e s t a v a m e v o l u i n d o na d i r e ç ã o d o monoteísmo. No entanto, q u a n d o M a o m é c o m e ç o u a fazer p r e g a ç õ e s p ú b l i c a s , três a n o s a p ó s sua visão, n ã o a l e g o u ser o f u n d a d o r d e u m a n o v a r e ligião, m a s sim o restaurador da religião m o n o t e í s ta original d e A b r a ã o , da qual j u d e u s e cristãos h a v i a m se d e s v i a d o . J H


622 15 DE J U L H O

634

início de uma nova era

Ornar, o Conquistador

A Hégira, fuga de Maomé de Meca para Medina, dá início à era muçulmana.

O califa Ornar inicia a grande conquista árabe da Pérsia e de Bizâncio.

\ reputação d e M a o m é c o m o visionário religioso

Ornar ibn al-Khattab era pai d e uma das esposas d e

propagou-se f o r t e m e n t e e, e m 622, ele e seus s e g u i -

M a o m é . C o n h e c i d o por sua d e v o ç ã o religiosa e por

dores fugiram e m segredo d e M e c a para Medina,

seu estilo d e vida simples e austero, sua p r o m o ç ã o a

a o n d e ele havia sido c o n v i d a d o para solucionai uma

califa e m 634 não encontrou oposição, muito e m b o r a

contenda entre duas tribos. Esse a c o n t e c i m e n t o é

o primo e genro d e M a o m é , Ali, se considerasse mais

c o n h e c i d o c o m o Hijra

apto a assumir o califado. Os 10 anos d e reinado d e

(Hégira, o u fuga) e marca o

início d o calendário m u ç u l m a n o . Depois da primeira

Ornar foram decisivos para a história d o islamismo.

visão e m 610, M a o m é só havia c o n t a d o sua e x p e r i ê n -

M a o m é n ã o t e v e filhos n e m n o m e o u u m suces

cia à esposa Khadija e a outros parentes próximos,

sor. A o morrer, e m 632, seu sogro A b u Bakr, u m dos

ires anos depois, ele teve outra visão na qual o a r c a n -

primeiros a se converter a o islamismo, foi escolhido

jo Gabriel lhe dizia paia pregai c m público. A ênfase d e M a o m é na justiça social atraiu < o n versos entre os pobres, mas a maioria d o s habitantes d e sua c i d a d e natal, M e c a , mostrou-se hostil. A Pedra Negra d o santuário da Caaba, e m M e c a , era u m c e n tro d e peregrinação i m p o r t a n t e para os politeístas árabes, e os visitantes traziam v a n t a g e n s financeiras aos moradores da cidade. Estes t e m i a m q u e a nova

primeiro khalifat

rasul

Allah

(sucessor d o profeta d e

—I

"A submissão de Ornar ao islamismo foi uma conquista... seu califado, uma bênção." Abdullah ibn Mas'ud, seguidor de M a o m é

religião a m e a ç a s s e seu futuro, e, por o n d e passava, M a o m é era alvo d e zombarias e insultos. Depois d e negociar c o m as tribos d e Medina,

Deus, o u califa). E m a p e n a s dois anos no poder, ele c o m p l e t o u a unificação política e religiosa d o s ára

(comunidade) m u -

bes iniciada por M a o m é e e n v i o u exércitos para sa-

çulmana, uma teocracia o n d e a autoridade religiosa e

quear o Império Persa e o Bizantino. Os dois impérios

M a o m é f u n d o u a primeira umma

política era exercida por M a o m é agindo e m n o m e d e

haviam a c a b a d o d e encerrar uma exaustiva guerra

I )eus. Os judeus d e Medina, que criticavam os ensina

d e 26 anos, e sua resistência foi fácil d e superar. O

mentos d e M a o m é , receberam o r d e m d e partir. Os

último ato d e A b u Bakr e m agosto d e 634 foi n o m e a i

que se recusaram foram escravizados ou massacra-

Ornar c o m o seu sucessor.

dos. M a o m é transformou Medina na base a partir da

Ornar prosseguiu c o m vigor os sucessos d e A b u

qual o islamismo seria p r o p a g a d o por meio da diplo-

Bakr, dirigindo (mas sem comandá-la pessoalmente)

macia e da força, ensinando aos seguidores q u e travar

a conquista d o Império Persa e das províncias bizan

guerras contra os incréus era u m dever religioso seu.

tinas d o Egito, Palestina e Síria, transformando o cali-

Em 630, ele capturou M e c a sem luta e g a n h o u o apoio

f a d o d e u m Estado p u r a m e n t e árabe e m u m grani l i

d e seus habitantes ao declarar a Caaba o santuário sa-

império. A o fazê-lo, transformou t a m b é m o islamis-

grado d o islamismo. Depois da vitória, ele seguiu vi

m o d e uma religião praticada a p e n a s por árabes e m

v e n d o e m Medina, o n d e morreu e m 632. J H

u m f e n ô m e n o d e significado global. J H

1


635

638 J A N E I R O

Ilha de cristandade

Jerusalém se rende

Adão, um monge de lona, é nomeado bispo de Lindisfarne e funda um mosteiro.

Sofrônio entrega Jerusalém ao califa Ornar e a cidade se torna muçulmana.

U m dos primeiros atos d e Osvaldo a o se tornar rei da

O califa Ornar c h e g o u a J e r u s a l é m e m janeiro d e

Nortúmbria foi mandar chamar Adão, m o n g e inglês

638 disposto a reivindicar a c i d a d e para os árabes.

de lona. E m 635, o rei pediu a Adão q u e se tornasse

Fez questão d e demonstrar sua humildade usando u m

bispo da Nortúmbria e deu-lhe d e presente a p e q u e -

manto remendado e andando descalço

na ilha d e Lindisfarne ( t a m b é m conhecida c o m o Ilha

u m passeio p e l o m o n t e d o T e m p l o , local d o s o n h o

durante

Sagrada), b e m próxima à fortaleza real d e B a m b u r g h ,

da " V i a g e m N o t u r n a " d e M a o m é .

para q u e ali construísse u m mosteiro. Durante o reina-

No outono d e 637, Sofrônio, patriarca d e Jerusalém,

do d e seu predecessor, Edwin (que reinou entre 616 e

iniciara negociações relutantes c o m Ornar para ceder

633), O s v a l d o estivera exilado n o reino escocês d e

sua cidade ao controle muçulmano. Os árabes haviam

Dalraida, o n d e fora convertido ao cristianismo pelos

invadido o Império Bizantino e m 634, capturando Da

m o n g e s d e lona, u m mosteiro no litoral oeste da Escó-

masco n o ano seguinte. O imperador Heráclio enviou

cia f u n d a d o por S ã o Columba por volta d e 595. I oi

"Vejam a abominação da ruína mencionada pelo duziu o cristianismo na Nortúmbria. Edwin fora batizado e m uma < eiimónía e m h) I, e Paulino < o n v e i l e i a profeta Daniel." durante o reinado d e Edwin q u e Paulino, u m dos missionários vindos d e Roma junto c o m Agostinho, Intro

muitos outros.

Em sua História

eclesiástica,

concluída e m 731, Beda

Sofrônio, patriarca d e J e r u s a l é m , 638

pinta u m retrato atraente d o caráter e d o comportamento d e Adão, d e sua preocupação c o m os pobres,

u m exército para retomar a cidade, mas este foi destruí-

de sua disposição para lidar da mesma forma c o m reis e

do pelos árabes na Batalha d e Yarmuk, e m 636. N o o u -

pessoas comuns e da simplicidade d e sua vida. Adão

tono d e 637, os árabes já ocupavam toda a Síria e a I 'a

fez de Lindisfarne a base d e sua missão evangelizadora

lestina, c o m exceção de Jerusalém e Cesaréia. A queda

e abriu ali uma escola para formar futuros padres e bis-

i li • leiusulém Ininou se im 'vitável. A tarefa de Sofrôl lli i

pos - entre os quais Chad, q u e se tornou o primeiro

foi facilitada pelo respeito que os muçulmanos tinham

bispo de Lichfield. São Cuthbert (c. 634-687), que pas-

por Jerusalém c o m o cidade sagrada, mas só entregaria

sou muitos anos c o m o eremita na ilhota vizinha de Far-

a cidade ao próprio Ornar.

ne, foi mais tarde n o m e a d o bispo d e Lindisfarne, e o u -

Os termos propostos por Ornar eram generosos

tro bispo, Eadfríth, foi o provável artista responsável por

c o m os cristãos da cidade, cuja proteção ficava garanii

Os evangelhos

livro iluminado e obra-pri-

da mediante o pagamento de u m tributo a seus líderes

ma da arte sacra concluída no mosteiro por volta de 715

muçulmanos. Os judeus, porém, foram expulsos de Je-

de Lindisfarne,

e que hoje se encontra no Museu Britânico. S K

lusulóm. A maioria dos cristãos da Palestina pertencia à seita monofisista, q u e fora perseguida pelos bizantinos,

O Página iluminada d e Os evangelhos de lindisfarne,

conhecidos como Os evangelhos de São Cuthbert.

também

e portanto viu os árabes c o m o salvadores. Jerusalém permaneceu sob controle muçulmano até 1909. J H




644 3 DE N O V E M B R O

Morre Dagoberto

0 assassinato de Ornar

A morte do rei acelera o declínio da dinastia merovíngia.

Um escravo insatisfeito, Abu Lulu, desfere seis punhaladas fatais no califa Ornar.

D a g o b e r t o I foi o último rei merovíngio a chefiar u m

No dia 3 d e novembro d e 644, d e manhã b e m cedo,

reino franco unificado, e sua morte, e m 19 d e janeiro

após recitar a profissão d e fé muçulmana, o s e g u n d o

d e 639, foi seguida pelo vagaroso declínio d e uma

califa, Ornar, morreu. Foi enterrado junto d e M a o m é e

dinastia q u e estava no poder havia mais d e u m s é c u -

A b u Bakr, primeiro dos califas a suceder ao profeta

lo, d e s d e Clóvis I. O p o d e r d e D a g o b e r t o era e m par-

c o m o líder temporal e espiritual dos muçulmanos. A l -

le resultado d e sua aliança próxima c o m o imperador

guns dias antes, enquanto percorria as ruas d e Medina,

bizantino Heráclio. Apesar da derrota diante dos aus-

Ornar fora abordado por A b u Lulu, escravo cristão q u e

trasianos e m 631, D a g o b e r t o c o n s e g u i u vitórias i m -

alegou estar sofrendo maus-tratos nas mãos d e seu

portantes contra os gascões e bretões, fez c a m p a n h a

senhor. Ornar não fez caso da reclamação. No dia se-

contra os eslavos n o leste e e n v i o u u m exército à

guinte, e n q u a n t o Ornar participava das preces matuti-

l.spanha para apoiar o usurpador v i s i g o d o Suiulila.

nas na mesquita, A b u I ulu desferiu seis punhaladas no califa e e m seguida se matou.

"Rei Dagoberto, lépido, atraente, e notoriamente sem rival." D a d o d e R o u e n , Vida de Eligio,

século VII

Antes d e morrer, Ornar n o m e o u u m comitê para escolher seu sucessor. Seus m e m b r o s mais importantes eram Ali ibn Abi Talib, primo e genro d e M a o m é , e O t m a n ibn Allan, t a m b é m genro d e M a o m é e m e m bro d o clã dos omíadas. 0 comitê se desentendeu, e o califa, moribundo, o r d e n o u q u e as deliberações fossem suspensas até depois d e sua morte.

E m 631, ele havia se t o r n a d o o mais p o d e r o s o rei m e rovíngio d o O c i d e n t e .

A p ó s o enterro d e Ornar, o comitê foi reunido e m uma sala protegida por guardas e recebeu u m prazo

D a g o b e r t o teve u m reinado próspero. Muitas

d e três dias para tomar uma decisão. Ali e O t m a n eram

igrejas foram a d o r n a d a s c o m d e c o r a ç õ e s e m ouro, e

os únicos candidatos sérios a o califado, mas, passados

foram e n c o n t r a d o s t ú m u l o s d e sua é p o c a c o m arte-

os três dias, n e n h u m a decisão fora tomada, levando o

fatos d e luxo. Ele foi u m patrono das artes, revisou a

presidente d o comitê, Abdul Rahman, a pedir a o p i -

legislação franca, incentivou o aprendizado e f u n d o u

nião da c o n g r e g a ç ã o durante a prece matutina. C o m o

a primeira abadia d e Saint-Denis,

o apoio ao omíada parecia maior, Abdul Rahman es-

D a g o b e r t o foi s u c e d i d o pelos filhos, Sigeberto III

colheu O t m a n c o m o califa (ele iria governar entre 644

e Clóvis II, q u e passaram a ser c o n h e c i d o s c o m o os

e 656). Os favores d o m u n d a n o e nepotista califa

("que não fazem nada") por fazerem

O t m a n para a própria família acabaram conduzindo a

róis

fainéants

p o u c o mais d o q u e gerar herdeiros. O verdadeiro p o -

uma rebelião, a o seu assassinato e a o início da desinte-

der estava nas mãos da nobreza, situação q u e p e r d u -

gração da unidade muçulmana. J H

rou até 751, q u a n d o Pepino, o Breve, pai d e Carlos M a g n o , d e p ô s o último rei merovíngio, Childerico III. Pepino, o Breve foi o primeiro rei carolíngio. T B

O

Esta ilustração turca do fim do século XVI ou início do XVII retrata a morte de Ornar.


A revolução imperial transforma o Japão O novo imperador, Kotoku, dá início às abrangentes reformas Taika, que codificam leis e reorganizam a administração do governo. E m 645, o príncipe Naka no O e derrotou o poderoso clã d e S o g a e, depois d e adotar o n o m e d e i m p e r a dor Kotoku, c o m e ç o u a reformar o sistema d e govern o j a p o n ê s . Ele fez isso para consolidar seu p o d e r e obter controle sobre t o d o o J a p ã o . Instigou reformas agrárias c o m base nas idéias d e Confúcio e da China dos Tang. Essas reformas c o n d u z i r a m a u m controle centralizado e a u m a u m e n t o d e poder da corte i m perial. Kotoku t a m b é m a d o t o u o sistema chinês d e n o m e a r as é p o c a s s e g u n d o o reinado d e cada i m p e rador, assim c o m o o n o m e Taika, o u "grande m u d a n ça", para a primeira parte d e seu reinado. Antes da é p o c a Taika, o J a p ã o era controlado por numerosos clãs.rivais, e a corte imperial era dominada pela família Soga, q u e mantivera o poder graças ao uso estratégico d e intrigas e assassinatos. Ao libertar a corte da d o m i n a ç ã o dos Soga, Kotoku conseguiu organizar u m governo imperial eficaz e centralizado. Os quatro principais artigos da é p o c a Taika causaram uma revolução no governo. Eles aboliram o uso privado da terra e das pessoas, proclamando q u e e s tas deveriam ser propriedade pública - na verdade, d o imperador. A l é m disso, criaram-se por t o d o o J a p ã o novas organizações administrativas e militares q u e se reportavam diretamente ao imperador, introduziu-se O Ilustração sem data do imperador Kotoku junto a duas mulheres - sua importância está ressaltada pela diferença de altura.

u m censo para possibilitar uma distribuição mais justa da terra e criou-se u m sistema fiscal igualitário. As leis foram codificadas e os cargos dos depar-

"No céu não existem dois sóis: em um país não existem dois governantes."

t a m e n t o s d e g o v e r n o o c u p a d o s por funcionários

I m p e r a d o r K o t o k u , Éditos

hereditários c o n t a n t o q u e p e r m a n e c e s s e m leais a o

das reformas

Taika

públicos, muitos deles formados na China. U m a rede d e estradas foi construída para a u m e n t a r o controle centralizado. Na verdade, as reformas criaram u m sist e m a feudal, no qual nobres locais tinham direitos imperador. T B


<>61 24 DE J A N E I R O

661

Sunitas versus xiitas

A vingança é nossa

0 assassinato do califa Ali divide o mundo islâmico entre as duas tradições.

O califa Muawiya assume o controle do mundo muçulmano para os omíadas.

0 assassinato d o califa Ali e m 24 d e janeiro d e 661

E m 661, o califa Muawiya fundou a primeira dinastia

marcou o início da divisão d o islamismo entre as tra-

muçulmana e m n o m e d e sua família omíada. Governa

dições sunita e xiita. Primo e g e n r o d e M a o m é , Ali

dor da Síria, Muawiya se rebelou contra o califa Ali e m

i< nnou-se califa e m 656 a p ó s o assassinato d o califa

657, depois q u e este se recusou a punir os assassinos d e

< )tman nesse m e s m o ano. S o b este último, o califado

seu primo, o t a m b é m califa O t m a n (644-656). Na tradi-

havia se expandido, mas o dinheiro v i n d o d o s territó-

ção árabe era dever d e Muawiya se vingar dos assassi-

nos conquistados n ã o era dividido igualmente. Para muitos muçulmanos, a m e n s a g e m d o islamis-

nos d e u m parente, e ele tinha grande simpatia

pela

causa d e O t m a n . Em 660, e m uma tentativa d e expulsar

mo estava sendo esquecida enquanto os árabes briga-

Ali d o poder, Muawiya proclamou a si m e s m o califa e m

vam pelos despojos d o império. Devido a sua relação

Jerusalém. N o entanto, ele não foi cúmplice d o assassi-

1 iióxima c o m M a o m é , Ali atraiu o apoio dos muçulma-

nato d e Ali e m janeiro d e 661. Os partidários d e Ali, c o nhecidos c o m o xiitas, transferiram sua lealdade paia

"Morto, Ali foi eficaz. Como mártir, recuperou mais coisas do que perdeu durante a vida." Philip K. Hitti, História dos árabes,

1937

Hasan, filho d e Ali, mas este abriu m ã o d e sua reivii K

lica

ç ã o a o califado. Sete meses d e p o i s da m o r t e d e Ali, Muawiya, apoiado por seus seguidores sunitas, assumia o i ouliole d o ( alilai l< i. M a o m é n ã o tomara n e n h u m a providência for mal e m relação à sucessão, e os quatro primeiros califas t i n h a m sido todos escolhidos por a c l a m a ç ã o .

nos segundo os quais seria melhor para a pureza d o is-

M u a w i y a e s t a b e l e c e u o califado c o m o cargo heredi-

lamismo se o califado fosse reservado a membros da

tário a o n o m e a r ainda e m vida o filho Yazid c o m o

l, imília d o profeta, conhecidos c o m o xiitas. A reivindicação d o califado por Ali tinha credibilii lade, mas a forma c o m o ele conquistou o poder pôs

sucessor. Por esse motivo, M u a w i y a é considerado o f u n d a d o r da dinastia omíada, q u e se tornou u m dos impérios d e crescimento mais rápido da História.

m dúvida sua legitimidade. Ele logo teve d e enfrentar

A base original d e poder d e Muawiya ficava na Síria,

una rebelião liderada pelo primo d e O t m a n , Muawiya,

portanto ele transferiu sua capital d e Medina para Da-

ultrajado pela recusa d e Ali e m punir os assassinos d e

masco, q u e tinha uma comunicação melhor c o m o res-

.eu parente. Pela primeira vez, os m u ç u l m a n o s esta-

tante d o califado. Depois d e seu breve m o m e n t o d e

a m brigando entre si. Os carijitas, q u e rejeitavam a

glória, a Arábia voltou a ser o lugar atrasado da época

l irópria instituição d o califado, conspiraram para as-

antes d e M a o m é . Mas a expansão da dinastia omíada, e

r.sinar tanto Ali quanto Muawiya. Mas mataram a p e -

c o m ela a d o islamismo, fez d o árabe a língua c o m u m

nas Ali, deixando M u a w i y a livre para se tornar califa;

dessa vasta região. Os omíadas chefiaram o m u n d o

'.i 'tis seguidores passaram a ser os sunitas. Os partidá-

muçulmano até 750, e seu domínio se estendeu da Es-

r i o s d e Ali prestaram lealdade a seu filho Hasan, cau-

panha à Ásia Central. Eles foram derrubados pelos abás-

ii ido a ruptura d o islamismo. J H

sidas, cuja base d e poder ficava no atual Iraque. J H


664

676

toma versus Irlanda

Silla domina

0 sínodo de Whitby opta entre as tradições irlandesa e romana.

O reino de Silla subjuga o rival Koguryo e unifica a Coréia.

No início dos anos 660, uni religioso da Nortúmbria

O período da história coreana c o m p r e e n d i d o entre os

que havia visitado Roma e passado três anos e m Lyon,

séculos I a.C. e VII d.C. é conhecido c o m o Período dos

na França, tornou-se responsável pelo mosteiro d e

Três Reinos, Nessa época, a Coréia era dividida e m

Ripon. Isso levou à expulsão dos m o n g e s d e lona q u e

quatro partes. O nordeste estava sob o c u p a ç ã o chine

ali viviam e levou a o ápice as desavenças entre os s e -

sa, e o restante era disputado por três reinos nacionais:

guidores das tradições irlandesa e romana. E m 664, o

Koguryo, Paekche e Silla. E m 676, as reduzidas forças

rei O s w y (642-670) c o n v o c o u u m sínodo para ajudar a

d e elite d o rei d e Silla, M u n m u , expulsaram os c hine

lesolver a q u e s t ã o . O s religiosos se reuniram e m

ses, e Silla tornou-se o reino dominante.

Whitby, n o grande mosteiro misto chefiado pela p o -

Os três reinos eram Estados militaristas aristocráticos, c o m u m a hierarquia d e posições sociais baseada

derosa abadessa Hilda. A o l o n g o d o s dois séculos d e p o i s d e S ã o Patrício

e m linhagens hereditárias conhecida c o m o sistema

introduzir o cristianismo, q u e o primeiro bispo d e 1 indisfarne, Adão, Irouxora d e lona fiara a Nortúmbria, a Igreja Irlandesa havia d e s e n v o l v i d o seus próprios costumes específicos. A maior contenda era e m relação à forma d e calcular a data da festa m ó v e l da Páscoa - a mais i m p o r t a n t e d o calendário cristão. O s m o n g e s irlandeses ainda usavam as tabelas q u e

"No ano de Tsungchang, o rei liderou seu exército e destruiu Koguryo." I l y o n , Memórias

dos três

reinos

Roma já considerava incorretas há muito t e m p o . O u tras diferenças incluíam o formato da tonsura, a parte

d e "classes dos ossos". Apenas os da classe mais alta, a

da c a b e ç a q u e os m o n g e s c o s t u m a v a m raspar.

"classe dos ossos consagrados", podiam se candidatar à Histó-

realeza. Durante a maior parte d o período, o mais forte

d e 731. O s principais defensores da

dos três reinos foi Koguryo, q u e se expandiu principal

Beda f o r n e c e u m relato d o sínodo e m sua ria eclesiástica

tradição irlandesa e r a m Hilda e C o l m a n , ten oiro bis-

m c n i c à custa da China. Para enfrentar Koguryo, a ( hi

p o d e Lindisfarne. Wilfrid era o partidário mais in-

na aliou-se a Silla, segundo reino mais forte. Os aliai li >S

íluente da tradição romana e suas opiniões levaram a

conquistaram Paekche e m 660 e Koguryo e m 668, uni

melhor. O rei O s w y o p t o u por Roma e pelos ensina-

ficando pela primeira vez a península sob u m só gover

mentos d e S ã o Pedro, q u e detinha as chaves d o c é u

nante. Os chineses imaginavam que a Coréia unifu , n l a

e d o inferno. Essa i m p o r t a n t e decisão pôs a Igreja da

fosse ser u m Estado vassalo e c o m e ç a r a m a instalai

Nortúmbria s o b a autoridade direta d o papa e m

guarnições n o país. M u n m u , porém, rebelou-se, e pas

Roma, aproximando-a da Gália e da Itália. S K

sou oito anos lutando para consolidar o domínio d e Silla, conservado até 892, q u a n d o Paekche recuperou a independência. E m 901, Kungye, u m príncipe rebelde,

O Beda, o Venerável, gravura do célebre estudioso e m o n g e beneditino inglês.

reinstaurou o reino d e Koguryo, rebatizado e m 918 d e Koryo (ou Coréia) pelo rei W a n g Kon. J H



580 10 DE O U T U B R O

710

iartírio xiita

Primeira capital do Japão

Hussein ibn Ali é morto em Karbala pelas forças do califa Yazid I.

A imperatriz Gemmei decide que o Japão precisa de uma capital permanente.

No dia 10 d e o u t u b r o d e 680, Hussein ibn Ali, neto d o

Em 710, a imperatriz G e m m e i f u n d o u a primeira capi-

profeta M a o m é , foi m o r t o e m uma batalha o n d e v á -

tal p e r m a n e n t e d o J a p ã o e m Heijo-kyo, a oeste da

rios h o m e n s da família d o profeta encontraram a

atual cidade d e Nara. Antes d o final d o século VII, os

morte e mulheres e crianças foram capturadas.

imperadores d o J a p ã o não tinham capital permanente.

A Batalha d e Karbala, c o m o ficou c o n h e c i d a , foi

A capital era simplesmente o palácio d o imperador, e

lesultado d e u m sectarismo q u e se e x a c e r b o u a p ó s a

o g o v e r n o era c o m p o s t o por m e m b r o s d e sua resi

sucessão d e Yazid I no califado omíada. Partes da p o -

dência. Q u a n d o o imperador morria, o palácio era q u e i -

pulação leais a o n e t o d e M a o m é se rebelaram na c i -

m a d o por causa d e sua associação c o m a morte e

d a d e d e Kufah e c o n v i d a r a m Hussein ibn Ali a se

outro era construído e m seu lugar. Mas o crescimento

juntar a eles, p r o m e t e n d o proclamá-lo califa n o Ira

I iiirocracia imperial baseada na da China foi tornan-

que. A o saber disso, Hussein partiu d e M e c a c o m a

d o uma capital p e r m a n e n t e cada vez mais desejável.

maior parte da família, e s p e r a n d o u m a r e c e p ç ã o iriunfal d o s cidadãos d e Kufah. Enquanto isso, Ya/id enviara U b a y d Allah, g o v e r n a d o r d e Basra, para restaurar a o r d e m na c i d a d e rebelada. Q u a n d o Hussein c h e g o u a Karbala, p e q u e n a c i d a d e a oeste d o Eufrates, d e p a r o u c o m u m exército q u e se dizia c o n t a r 40 mil h o m e n s . Hussein lutou, e s p e r a n d o receber

"Nossa grande soberana, uma deusa, ergueu um palácio por seu desejo sagrado." A n ô n i m o , Man'yõshú

(poema contemporâneo)

ajuda d e seus partidários d e Kufah. Infelizmente para ele, n ã o veio n e n h u m a ajuda, e Hussein e muitos

E m 694 foi erguido e m Fujiwara-kyo (kyo significa "capi-

m e m b r o s d e sua família s u c u m b i r a m .

tal") u m grande palácio, que serviu a três imperadores

Q u a n d o a notícia da morte d o neto d e M a o m é

antes d e ser abandonado e m 710 e m favor d e Heijo.

c h e g o u a Kufah, aqueles q u e o haviam convidado

Heijo era uma versão e m escala menor da capital

para ir até lá sentiram vergonha d e sua participação na

chinesa da dinastia Tang e m C h a n g a n . Muito malOl

tragédia. Yazid e seus partidários foram considerados

d o q u e Fujiwara, foi construída s e g u n d o u m plano

assassinos e seu n o m e amaldiçoado para sempre p e -

quadriculado c o m 4,5km d e leste a oeste e 4km d e

los m u ç u l m a n o s xiitas. A morte violenta d e Hussein é

norte a sul. A o ser concluída, por volta d e 720, Heijo

u m dos acontecimentos mais significativos para a ex-

tinha uma população ao redor d e 200 mil pessoas.

pansão d o islamismo xiita, e seu aniversário é celebra-

A fundação d e Heijo iniciou u m período d e 70

d o c o m o u m dia d e luto público. Para os xiitas, o t ú -

anos d e estabilidade política c o n h e c i d o c o m o Perío-

mulo d o mártir d e c a p i t a d o Hussein ibn Ali e m Karbala

d o Nara (710-784), q u a n d o o governo, a cultura e o

é u m dos lugares mais sagrados da Terra. T B

Direito japoneses passaram a se espelhar cada v c /

O Batalha de Karbala, pintado por Abbas A!-Musavi, hoje no

chinês foi adaptado à língua japonesa e h o u v e grande

mais nos da China. Nesse período, o sistema d e escrita

M u s e u d e Arte d o Brookiyn, Nova York.

expansão d o budismo no Japão. J H




Invasão dos sarracenos Emboscada na montanha Tariq lidera um exército sarraceno na invasão da Península Ibérica.

Um exército muçulmano é derrotado na Batalha de Covadonga, na Espanha.

Em abril d e 711, o general árabe Tariq liderou u m exér-

E m u m dia q u e n t e d e verão entre 718 e 724, uma força

cito d e árabes e berberes (mouros), c o n h e c i d o s na

m u ç u l m a n a d e árabes e berberes avançou por u m

Europa c o m o "sarracenos", pari indo d o Marrocos pelo

vale estreito nas montanhas d o norte da Espanha. Em

mar para invadir o reino visigodo da Espanha. O local

C o v a d o n g a , ela foi atacada por guerreiros cristãos ar-

o n d e ele d e s e m b a r c o u tornou-se c o n h e c i d o c o m o

m a d o s c o m arcos e fundas, posicionados nos flancos

iebel al-Tariq (montanha d e Tariq), o u Gibraltar.

d o vale. Para piorara destruição, os projéteis dos pró-

rei visicjorio Roderico partiu ao e n c o n t r o d e

prios m u ç u l m a n o s , disparados para o alto para atingir

Tariq, mas foi d e r r o t a d o e m o r t o e m j u l h o na Batalha

O

seus agressores, tornavam a cair e m cima deles. D e

d e G u a d a l e t e . Depois da c h e g a d a d e u m s e g u n d o

repente, 300 guerreiros cristãos, liderados pelo nobre

exército sarraceno à Espanha, e m 712, a resistência

visigodo 1'eluyo, irromperam d e seu esconderijo d e n -

visigoda organizada se d e s m a n t e l o u , e e m dois anos

tro d e uma caverna. Eles atacaram os m u ç u l m a n o s , g u e foram expulsos e bateram e m retirada. Essa e m -

"A destruição da Espanha [pelos sarracenos] vai além do que se pode descrever.

boscada, embora tenha sido minimizada por autores m u ç u l m a n o s c o m o uma escaramuça, adquiriu g r a n d e importância na história da Espanha. I m / l l , . i Península Ibérica havia sido invadida por forças m u ç u l m a n a s vindas d o norte da África. O reina-

Continuatio

Hispana

(Crônica M o ç á r a b e ) , 754

d o visigodo cristão q u e controlava a Ibéria d e s d e o século VI ruiu. Pelayo e outros cristãos se refugiaram

Tariq já havia assegurado o controle e m toda a P e n í n -

nas m o n t a n h a s afastadas das Astúrias. Ele instigou os

sula Ibérica, c o m exceção d o n o r o e s t e m o n t a n h o s o .

ali l e õ e s < Ia l e i |iáo a resistirem, encorajando-os a iniciar

Foi o início d e u m p e r í o d o d e influência m u ç u l m a n a

uma guerrilha e p r o v o c a n d o a o p e r a ç ã o anti-rebelião

q u e p e r d u r o u por quase 800 anos.

q u e levou os m u ç u l m a n o s a C o v a d o n g a .

Uma lenda surgiu para explicar o rápido colapso d o

I Jepois da Batalha d e C o v a d o n g a , Pelayo f u n d o u

reino visigodo. S e g u n d o ela, u m antigo rei da Espanha

o reino d e Astúrias c o m o centro d e resistência à lide-

escondeu u m segredo e m u m aposento trancado e

rança islâmica. Cronistas cristãos descreveram a bata-

proibiu todos os seus sucessores d e abri-lo. Vinte e seis

lha c o m o uma grande vitória contra u m exército m u -

reis o b e d e c e r a m , mas Roderico, contrariando a deter-

ç u l m a n o d e 180 mil h o m e n s , e m b o r a esse n ú m e r o

minação, ordenou a abertura d o aposento. Encontrou

seja c e r t a m e n t e u m exagero. C o v a d o n g a passou a ser

as paredes pintadas c o m desenhos d e guerreiros ára-

considerada a primeira batalha da Reconquista, a luta

bes. No centro d o aposento havia uma mesa d e ouro

para restaurar o domínio cristão na Ibéria, q u e levou

c o n t e n d o u m p e r g a m i n h o g u e dizia: " Q u a n d o este

mais d e sete séculos para ser concluída. R G

aposento for violado, e o feitiço nele contido for q u e brado, o p o v o pintado nestas paredes invadirá a Espanha, derrubará seus reis e subjugará o país inteiro." J H

O Estátua d e San Pelayo em Gijon, Espanha, celebrando sua vitória e m combate.


732 10 DE O U T U B R O

A luta pelo reino dos francos Sob a liderança de Carlos Martel ("O Martelo"), os francos derrotam os árabes na Batalha de Tours, impedindo que os muçulmanos continuem a avançar para o norte. E m 732, n o alto d e uma colina entre Tours e Poitiers, na França, travou-se uma das batalhas mais decisivas da história da Europa. Nos 100 anos q u e se seguiram à morte d o profeta M a o m é , exércitos inspirados pela fé islâmica haviam avançado pelo norte da África e pela Península Ibérica para chegar a o coração da Europa Ocidental. E m 732, o governador-geral da Espanha m u çulmana, A b d ar-Fíahman al-Ghafiqi, atravessou os Pireneus à frente d e u m exército e conquistou a Aquitânia, destruindo Bordeaux. Ele então rumou para o reino dos francos, na direção da cidade d e Tours. O líder franco Carlos Martel posicionou seu exército d e 30 mil homens e m u m local alto e arborizado, n o meio da linha d e avanço inimiga. Ele organizou seus h o mens e m uma densa formação quadrada d e infantaria e aguardou. A b d ar-Rahman al-Ghafiqi atrasou seu ataque e m sete dias, embora sua força fosse talvez duas vezes maior que a dos francos. Quando ele finalmente disparou sua cavalaria, a infantaria franca manteve-se firme e repeliu os ataques. Após u m longo combate, a maioria dos cavaleiros muçulmanos retirou-se para defender seus espólios d e guerra e, abandonado por seus h o mens, A b d ar-Rahman al-Ghafiqi foi cercado e morto. É provável q u e A b d ar-Rahman al-Ghafiqi não estivesse tentando conquistar a cristandade ocidental, mas apenas liderar uma pilhagem. N o entanto, caso os guerreiros francos houvessem perdido, nada teria impedido o domínio muçulmano da Europa Ocidental. Carlos Martel consolidou o Império Carolíngio, uma barreira para a expansão muçulmana rumo a o norte. R G

O Cromolitografia oitocentista idealizada retratando o rei franco Carlos Martel. O Detalhe de A Batalha de Poitiers (1837) - outro n o m e para a Batalha d e Tours - por Charles-Auguste S t e u b e n (1788-1856).


750 25 DE J U N H O

751 10 DE J U L H O

Banquete sangrento

A Batalha de Talas

() califado omíada é derrubado pelos (ibássidas.

Uma vitória árabe põe fim aos planos de expansão chinesa na Ásia Central.

A autoridade dos califas omíadas q u e g o v e r n a v a m

A vitória árabe sobre os chineses na Batalha d e Talas e m

todo o m u n d o islâmico desde 661 declinou gradual-

751 estabeleceu o islamismo c o m o religião dominanti!

mente durante o século VIII e teve um hm sangrento

na Ásia Central e acelerou a derrocada d o império cen-

e m 750. N o dia 25 d e janeiro desse ano, o general

tro-asiático da China.

ubássida Abdullah ibn-Ali convidou 80 m e m b r o s da

Durante o reinado d o imperador Taizong (628-649),

família omíada para u m b a n q u e t e e m Abu-Futrus,

a China havia expandido seu poder até a Ásia Central. O

perto d e Jaffa, e durante o festim m a n d o u matar to-

objetivo era controlar a Rota da Seda, que ligava a China

i los eles. Para completar a ofensa, os omíadas já mor-

a o Oriente Médio e ao Mediterrâneo. Já no século VIII, os

tos foram e x u m a d o s e seus cadáveres queimados.

i hineses I laviam conquistado uma posição aval iç.n I.

U m dos fatores q u e contribuiu para o declínio d o

d e 1.610km q u e se estendia até as montanhas d o Hindu

ílifado omíada foi sua incapacidade d e solucionar o

Kush. No entanto, os árabes recentemente islamizados

cisma entre sunitas e xiitas q u e havia dividido o Islã. Outro fator foi o ressentimento dos conversos nãoirabes c o m o fato d e os árabes tratarem o califado i orno sua propriedade particular. Os não-árabes acreditavam q u e o califado tinha s i d o fundado para pro pagar a palavra d o islamismo, não para defender interesses árabes. E m 747, uma rebelião contra o domínio

"[Os árabes] têm narizes altos, são morenos e barbados. As mulheres são muito belas." D u H u a n ( c a p t u r a d o e m Talas),

Jingxingji

omíada estourou na Pérsia e espalhou-se rapidamente para o Irague. A b u al-Abbas as-Saffar, descendente d o

t a m b é m tinham seus próprios planos d e expansão, e

tio d e M a o m é , al-Abbas, foi proclamado califa pelos

e m 710 capturaram Bokhara e Samarcanda.

rebeldes, f u n d a n d o assim a dinastia abássida (749-

E m 750, u m exército chinês liderado por Gao XlanJI

I258). Depois d e expulsar os omíadas na Batalha d e

capturou Tashkent e executou seu governante turco. ( )

Z a b e m janeiro d e 750, Abdullah ibn-Ali capturou Da-

filho deste pediu ajuda aos árabes para expulsar os chi

masco, capital d o califado. O último califa omíada,

neses. E m 751, u m exército árabe-turco d e 40 mil ho

M a r w a n II, fugiu para o Egito, o n d e foi perseguido e

mens avançou território chinês adentro e encontrou o

morto. Para destruir gualquer possibilidade d e o p o s i -

exército d e G a o no rio Talas, no atual Quirguistáo. < >

ção, Abdullah organizou seu infame banquete.

exército chinês era principalmente composto d e infan

A ascensão dos abássidas marcou uma mudança d e

taria e foi derrotado pela cavalaria árabe-turca.

poder decisiva no m u n d o islâmico, e m detrimento dos

Diz-se q u e os prisioneiros chineses foram postos

árabes e a favor d e novos conversos então livres para

para trabalhar e m Samarcanda na construção d e

uma participação maior no governo. Marcou t a m b é m o

uma fábrica q u e utilizava os segredos chineses da

fim da unidade política muçulmana. Apenas u m m e m -

fabricação d e papel. Nessa é p o c a o uso d o papel se

bro da família omíada sobreviveu. A b d ar-Rahman fugiu

espalhou pelo m u n d o m u ç u l m a n o e e m seguida

para a Espanha, fundando u m Estado dissidente. J H

pela Europa, n o século XIII. J H


754 J U N H O

Um só homem para governar e reinar O papa Estêvão II confirma o ex-intendente Pepino III como rei dos francos. E m n o v e m b r o d e 753, o papa Estêvão II saiu d e Roma e cruzou os Alpes e m uma busca desesperada pela ajuda militar d e Pepino III ( t a m b é m c o n h e c i d o c o m o Pepino, o Breve, o u Pepino, o J o v e m ) , ex-intendente hereditário d o palácio d e Childerico III, último rei da dinastia merovíngia. Já n o século VIII, os merovingios h a v i a m sofrido u m a perda significativa d e poder, e os intendentes d o palácio - q u e e r a m efetivamente os chefes da residência real - a g i a m c o m o reis e m tudo, m e n o s no título, F m 750, Pepino mandara dois enviados a o papa Zacarias p e r g u n t a n d o : "É justo ter u m h o m e m g u e reina e outro q u e governa?" O papa lhe d e u a resposta q u e ele esperava. P e p i n o r a p i d a m e n te d e p ô s Childerico e, e m n o v e m b r o d e 751, foi sag r a d o o primeiro rei da dinastia carolíngia pelo a r c e bispo Bonifácio, l e g a d o d o papa. Estêvão, sucessor d o papa Zacarias, estava então viajando pessoalmente até a França - era a primeira vez g u e u m papa e m exercício atravessava os Alpes. Na Itália, Astolfo, rei dos lombardos, havia capturado o exarcad o bizantino d e Ravenna e ameaçava atacar Roma. Os bizantinos não tinham forças para ajudar e, desesperado, Estêvão recorreu aos francos. Os dois h o m e n s se encontraram e m Ponthion, ao sul d e Paris, no dia 6 d e janeiro d e 754, e Pepino aceitou reunir u m exército para marchar contra os lombardos. E m troca, Estêvão c o n O

Um manuscrito iluminado quatrocentista e m velocino

cordou e m ungi-lo c o m óleo bento na Abadia d e Saint-

(detalhe) mostra Pepino, o Breve, rei dos francos.

Denis, e m Paris, e m junho, ao m e s m o t e m p o que reconheceria seus filhos Carlos (futuro imperador Carlos Magno) e Carlomano c o m o herdeiros da coroa.

"Pela autoridade apostólica, ordeno que sejas coroado rei dos francos."

gar Astolfo a desistir d e seus ataques, o cessar-fogo

R e s p o s t a d o p a p a Z a c a r i a s a P e p i n o III, 750

e n t r e g a r a m o exarcado ao papa, criando assim a

E m b o r a P e p i n o tenha d e fato c o n s e g u i d o obrin ã o d u r o u muito. E m uma c a m p a n h a subseqüente, os francos expulsaram os lombardos d e Ravenna e base territorial d o Estado papal. S K


.6 15 DE M A I O

A luta pelo controle da Espanha Abd ar-Rahman I funda o emirado omíada, derrubando os abássidas. I t u 15 d e maio d e 756, A b d ar-Rahman I foi o r g u l h o samente p r o c l a m a d o emir o m í a d a d e C ó r d o b a e líder da Espanha m u ç u l m a n a . Esse

acontecimento

marcou o início da ruptura da unidade política d o 11H indo m u ç u l m a n o . D e s d e a m o r t e d o profeta M a o mé, e m 632, t o d o s os m u ç u l m a n o s haviam se unido ' i n u m só Estado n o qual a autoridade religiosa e p o lítica suprema era exercida pela figura d o califa. Dois anos após a m o r t e d e M a o m é , o califado e m b a r c o u c m uma o n d a d e expansão espetacular e no século VIII já havia se t o r n a d o u m vasto império q u e ia d o rio Indo aos Pireneus. Entretanto, o califado foi dilacerai Io por u m cisma entre sunitas e xiitas e pelas tensões entre conversos árabes e não-árabes a o islamismo. I m 750, a dinastia omíada, q u e havia d o m i n a d o o cahlado d e s d e 661, foi derrubada pelos abássidas. Apesar dos esforços dos abássidas para exterminar todos os m e m b r o s da família omíada, A b d ar-Rahman havia fugido e c o n s e g u i d o chegar disfarçado à I spanha. C o m o esta ficava muito longe dos principais i entros d e poder abássida na Pérsia e na Mesopotâmia, a dinastia ainda não havia assegurado u m controle eficaz q u a n d o A b d ar-Rahman c h e g o u , e m 755. A I spanha estava cheia d e simpatizantes omíadas, q u e mceberam c o m alegria a oportunidade d e se unir sob , i sua liderança e contra o impopular governador abássida Yusuf. N o dia 14 d e maio d e 756, A b d ar-Rahman i lerrotou as forças d e Yusuf e m Carmona, perto d e

O Abd ar Rahman, sultão do Marrocos, pelo artista francês E u g è n e Delacroix (1798-1863).

(.órdoba, e no dia seguinte adentrou a cidade sem i iposição. A b d ar-Rahman tinha a intenção d e restaurar o controle omíada d o califado, mas rebeliões f o mentadas por agentes abássidas retiveram-no na Espanha durante a maior parte d e seu reinado. Q u a n d o ele morreu, n o entanto, e m 788, o controle omíada na Espanha estava garantido, enquanto os abássidas lutav a m para dominar o norte da África. J H

"Juramos cair como soldados se a vitória não puder ser nossa. A conquista ou a morte!" A b d a r - R a h m a n I, a n t e s d a B a t a l h a d e C a r m o n a



762 30 DE J U N H O

768 24 DE SETEMBRO

Fundação de Bagdá

0 legado de Pepino

O califa al-Mansur escolhe um lugar para construir a nova capital abássida.

Com a morte de Pepino, o reino franco é dividido entre Carlos e Carlomano.

A derrubada da dinastia omíada pelos abássidas e m

As conquistas d e Pepino, o Breve, primeiro rei caro-

750 representou uma transferência d e p o d e r n o cali-

língio d o s francos, foram u m t a n t o o f u s c a d a s pelas

fado m u ç u l m a n o , q u e se deslocou das terras árabes

d e seu filho mais velho, Carlos, q u e se tornou c o -

e m direção à Pérsia. Por causa disso, o primeiro califa

n h e c i d o c o m o Carlos M a g n o , mas o l e g a d o d o pai

abássida, A b u al-Abbas, decidiu a b a n d o n a r D a m a s c o

foi u m fator-chave para o sucesso d e s t e último. Gra-

e tomar o r u m o d o leste até u m local temporário às

ças a seu controle militar d o s n o b r e s francos e a sua

margens d o Eufrates, n o Iraque.

sólida aliança c o m o p a p a d o , P e p i n o p ô d e estender

Em 762, o sucessor d e A b u al-Abbas, seu irmão al-

seu d o m í n i o por t o d o o reino franco, e x p a n d i n d o

Mansur, escolheu u m p e q u e n o vilarejo na m a r g e m

as forças a r m a d a s e m a n t e n d o u m g r a n d e exército

oeste d o Tigre c o m o local d e uma capital p e r m a n e n -

regular. A l é m d e e s t a b e l e c e r as primeiras leis d o

te. Oficialmente, a nova cidade deveria se chamar Ma-

feudalismo, g u e serviriam d e base administrativa para a maior parte da Europa O c i d e n t a l , P e p i n o c o -

"Somente um lugar como este pode sustentar tanto o exército quanto o populacho." Califa al-Mansur, 762

m a n d o u u m a política d e e x p a n s ã o franca q u e e x pulsou os m o u r o s da Gália e a n e x o u N a r b o n a e a Aquitânia. Q u a n d o ele m o r r e u , e m 768, o território d o rei mais p o d e r o s o da Europa foi dividido entre seus dois filhos, Carlos e C a r l o m a n o . Infelizmente, o período d e reinado conjunto foi p e r t u r b a d o por tensões entre os irmãos. Q u a n d o

dinat al-Salam ("Cidade da Paz"), mas passou a ser c o -

Carlos repudiou a primeira esposa, filha d o rei Desi-

nhecida por seu n o m e persa, Bagdá ("dada por Deus").

dério dos lombardos, o rei l o m b a r d o se aliou a Carlo-

Projetada c o m o uma cidade circular e murada, c o m

m a n o para derrotá-lo. Mas a m o r t e d e C a r l o m a n o

2,6km d e diâmetro e dividida e m quatro seções iguais,

e m 771 levou à anexação d e seu reino por Carlos.

Bagdá levou apenas guatro anos para ficar pronta. A l é m d e sua localização central no califado, B a g -

Carlos M a g n o a m p l i o u os sucessos d o pai c r i a n d o u m império q u e incorporou boa parte da E u r o -

dá tinha muitas outras vantagens. Ficava próxima d e

pa O c i d e n t a l e Central. Ele t a m b é m instigou u m a

uma rota d e caravanas leste-oeste, e o rio Tigre dava

série d e reformas culturais e políticas c o n h e c i d a s

acesso a Basra e a o golfo Pérsico. Cercada por terras

c o m o o R e n a s c i m e n t o Carolíngio. Carlos M a g n o foi

agrícolas férteis, sustentava numerosa p o p u l a ç ã o ur-

c o r o a d o Imperator Augustus p e l o papa Leão III na

bana. N ã o é d e surpreender g u e a c i d a d e tenha pros-

Basílica d e S ã o Pedro, e m R o m a , n o dia 25 d e d e -

p e r a d o e l o g o ultrapassado os próprios muros. No

z e m b r o d e 800, n u m a tentativa d e restaurar o I m -

final d o século, se tornara a maior d o m u n d o . A e s -

pério R o m a n o d o O c i d e n t e . T B

plêndida corte abássida atraía comerciantes, estudiosos e artesãos vindos d e longe, e Bagdá abrigou uma idade d e ouro das conquistas culturais islâmicas. J H

O Carlos M a g n o retratado levando a travessa e o cálice usados na Última Ceia para a catedral de Aix-la-Chapelle.


Os bascos humilham Carlos Magno A retaguarda de Carlos Magno é destruída pelos bascos em Roncesvalles.

O

Ilustração francesa d o século XIV da Batalha de Roncesvalles, conservada na Biblioteca Britânica em Londres, Inglaterra.

Embora tenha sido uma derrota, Roncesvalles é hoje

boscada dos bascos. Q u a n d o o socorro conseguiu c h e -

a batalha mais famosa d o reinado d e Carlos M a g n o .

gar ao local, o combate já havia terminado. Os bascos

Ela c o m e ç o u d e p o i s q u e Ibn al-Arabi, g o v e r n a d o r

tinham saqueado o trem d e bagagens e sumido nas

m u ç u l m a n o da c i d a d e espanhola d e Saragoça, c o m -

montanhas. As baixas francas foram importantes e in-

pareceu à assembléia anual d o reino dos francos n o

cluíram Rolando, conde da Bretanha. Durante muitos

verão d e 777. Ibn al-Arabi rebelara-se contra seu s u -

anos, a verdadeira extensão d o desastre foi ocultada, e

perior, A b d ar-Rahman, e propôs entregar sua c i d a d e

Carlos M a g n o nunca mais participou pessoalmente d e

a o rei franco Carlos M a g n o e m troca d e proteção. N o

n e n h u m a c a m p a n h a espanhola. Mas a derrota foi a p e -

verão seguinte, Carlos M a g n o invadiu a Espanha a p e -

nas uma dificuldade temporária, e a captura d e Barcelo-

nas para descobrir q u e Ibn al-Arabi havia traído o

na e m 802 consolidou o poder franco.

acordo. D e p o i s d e sitiar Saragoça e extrair garantias

A fama d e Roncesvalles se d e v e à Canção

de

Rolan-

d e submissão d e al-Arabi, Carlos M a g n o retirou-se

do, poema épico escrito por volta d e 1100 para celebrar

Pireneus acima p e l o desfiladeiro d e Roncesvalles.

o heroísmo d o c o n d e Rolando. Seu autor, Turoldus, m a -

E m 15 d e agosto, q u a n d o a retaguarda estava iniciando a descida d o desfiladeiro, ele sofreu uma e m -

quiou a batalha, transformando a campanha espanhola d e Carlos M a g n o e m u m protótipo d e cruzada. J H


786 14 DE SETEMBRO

Uma corte suntuosa inspira as Mil e uma noites Harum al-Rashid inaugura uma idade de ouro da cultura islâmica.

O No palácio de Harum al-Rashid, gravura da Escola Francesa de 1895 para as Mil e uma noites C o m a subida ao poder d e Harum al-Rashid e m 786, o

sufocado por o r d e m da m ã e depois d o fracasso d e

( alifado abássida iniciou seu período mais glorioso.

uma tentativa .interior d e e n v e n e n a m e n t o .

Ainda jovem, Harum c o m a n d o u nominalmente muitas

Grande patrono das artes e d o aprendizado, Hai i n n

i ampanhas contra o Império Bizantino, apoderando-se

pouco se interessava por governar. Ele deixou a admlnls

d o crédito por seu sucesso ao se atribuir o título "al-

tração d o califado quase totalmente a cargo de seu vi/ii

Rashid" (o Justo). C o m a morte d o pai, e m 785, o irmão

enquanto mantinha e m Bagdá uma corte suntuosa, lei i

mais velho de I laiuin, al I ladi, sucedeu o no califado.

daria por seu luxo e sofisticação. Mais tarde, essa corte

U m ano depois, no entanto, al-Hadi havia adoecido, e

viria a inspirar muitas das histórias das Mile

i o m sua morte, e m 14 d e setembro d e 786, o jovem Ha-

considera-se que o rei Shayar, cuja esposa Sherazade é a

m m foi imediatamente proclamado califa.

narradora d o livro, seja inspirado no próprio Harum. I m

uma

noites,

e

Muitos c o n t e m p o r â n e o s consideraram a morte

bora Harum tenha presidido uma idade d e ouro da cul

i Io al-Hadi u m p o u c o conveniente demais, sobretudo

tura islâmica, sua desatenção para c o m o governo acu-

I Iorque ele havia tido brigas virulentas c o m a m ã e d e -

mulou problemas para seus sucessores. Quando, no

vido a suas tentativas d e influenciar o g o v e r n o d o fi-

final d e seu reinado, ele finalmente assumiu as rédeas,os

lho. Logo c o m e ç a r a m a circular boatos d e q u e ele fora

sinais d e declínio já eram evidentes. J H


793 8 DE J U N H O

794

Invasores do mar

Início do período Heian

O mosteiro de Lindisfarne é destruído pelo primeiro ataque dos vikings.

O imperador Kammu funda uma nova capital japonesa e depois outra.

O ataque aconteceu sem aviso. Os navios d e guerra

N o século VIII, a capital japonesa Nara estava dominada

tios vikings, c o m suas cruéis figuras d e proa, surgiram

por seus numerosos mosteiros budistas. Para escapar à

d o mar vindos d o nada. D e repente, a calma d e u m dia

influência dos monges, o imperador K a m m u decidiu se

d e verão foi destruída pelos gritos dos m o n g e s e n -

mudar para uma nova capital. Seu supervisor d e obras,

quanto os nórdicos pagãos brandiam suas espadas

Fujiwara no Tanetsugu, escolheu u m local e m Nagaoka,

antes d e irem e m b o r a levando o tesouro da igreja.

e a construção c o m e ç o u e m 784. Mas o projeto foi pre-

A notícia da d e s t r u i ç ã o d o mosteiro da ilha d e

judicado por intrigas e rivalidades entre facções e culmi-

lindisfarne, o n d e estava enterrado São Cuthbert, c a u -

n o u c o m o assassinato d e Tanetsugu. K a m m u achou

sou horror e alarme generalizados. Foi o primeiro re-

q u e o local era d e m a u agouro e a b a n d o n o u a obra

gistro d e a t a q u e d e piratas vikings da Dinamarca e

para recomeçar tudo e m outro lugar e m 794.

N o r u e g a , q u e h a v i a m atravessado o mar d o N o r t e

A nova capital foi batizada d e Heian-kyo ("capital da p.i/ c da ttani |üili( lai Io") i • mais tarde vilia a se toi

"...vejam a Igreja de São Cuthbert salpicada com o sangue dos sacerdotes de Deus." A l c u í n o d e Y o r k , c a r t a a o r e i E t h e l r e d , c. 793

nar c o n h e c i d a c o m o Kyoto. Foi capital d o J a p ã o d u rante mais d e mil anos, até o imperador Meiji transferir a corte para Tóquio, e m 1868. E m b o r a maior d o q u e a antiga capital, o plano d e Heian era praticam e n t e idêntico a o d e Nara e t a m b é m tinha por base a capital chinesa e m C h a n g á n . A cidade, incluindo seus muitos palácios e templos, era feita q u a s e intei-

atrás d e saques. E m 794, outro mosteiro da N o r t ú m -

r a m e n t e d e madeira e foi f r e q ü e n t e m e n t e devastada

bria foi incendiado, e o d e São Columba, na ilha d e

por incêndios. E m b o r a os antigos mosteiros d e Nara

lona, foi a t a c a d o n o a n o seguinte. Daí e m diante, os

t e n h a m sido proibidos d e se mudar, K a m m u p e r m i -

vikings apareciam todos os verões, atacando a costa

tiu a criação d e novos, e Heian logo se transformou

ria Inglaterra, Escócia e Irlanda antes d e retornarem à

e m u m i m p o r t a n t e centro religioso.

Escandinávia para passar o inverno. N o final da d é c a -

A fundação marcou o início d o período Heian

da, já estavam se aventurando até o oeste da França.

(794-1185), no qual se desenvolveu uma cultura d e

O sucesso dos vikings deveu-se à sua habilidade na

corte refinada e as artes prosperaram, mas os impera-

construção d e navios, à perícia d e sua navegação e às

dores cada vez mais se isolaram da administração d o

suas táticas militares. Seus navios eram sólidos o sufi-

país. O governo era d o m i n a d o pela família aristocráti-

ciente para enfrentar as ondas revoltas d o oceano, mas

ca Fujiwara, q u e fortaleceu sua influência por meio d e

tinham p e q u e n o calado, d e m o d o q u e podiam p e n e -

astuciosas alianças matrimoniais e a c u m u l o u grandes

trar bastante no interior das terras. Os mosteiros, c o m

propriedades isentas d e impostos à custa d o i m p é -

seus tesouros e livros sagrados incrustados d e jóias,

rio. Q u a n d o M i n a m o t o Yoritomo f u n d o u o xogunado

eram o alvo principal, e muitos religiosos consideravam

( g o v e r n o militar), e m 1185, os imperadores n ã o pas-

os ataques u m sinal da ira d e Deus c o m seu povo. S K

savam d e símbolos destituídos d e poder. J H

I42 • 1-999


300 25 DE D E Z E M B R O

Coroação histórica de Carlos Magno em Roma Na missa de Natal na Basílica de São Pedro, o papa Leão III inesperadamente proclama Carlos Magno imperador. I m 799, o papa Leão III, expulso à força do trono papal por seus inimigos, pediu a ajuda d e Carlos Magno, rei i ios francos. E m resposta, Carlos M a g n o viajou até Roma e presidiu u m conselho q u e restituiu o poder ao papa Leão. No dia d e Natal, Carlos M a g n o foi assistir à missa na Basílica d e S ã o Pedro. Enquanto ele estava ajoelhado 'ezando, o papa Leão III ergueu uma coroa d o altar, c o locou-a sobre sua cabeça e proclamou-o imperador Foi u m ato sem precedentes e, s e g u n d o Einhard, biógrafo d e Carlos M a g n o , o rei franco não conhecia a intenção d o papa. Isso parece improvável. Mas poucos indícios sugerem que ( uilos M a g n o lenha

lenlado

deliberadamente ressuscitar o Império R o m a n o d o Ocidente, c o m o muitos afirmam. Nessa época, o Im pério Bizantino d o Oriente era liderado por uma m u lher, a im] leratriz Irene (que g o v e r n o u entre 791 e 802), cuja autoridade o papa não reconhecia. Embora o papa Leão não tivesse poder para conferir o título i m perial, ele aparentemente aproveitou a presença d o rei franco e m R o m a para criar u m n o v o imperador católic o no O c i d e n t e - u m imperador capaz d e fortalecer a influência d o papa na Itália. Cristão d e v o t o , Carlos M a g n o já estava no trigésimo s e g u n d o a n o d e seu reinado e tinha quase toda a Europa Ocidental sob sua autoridade. Ele é c o m freq ü ê n c i a c o n s i d e r a d o o primeiro S a c r o I m p e r a d o r R o m a n o , mas na v e r d a d e os primeiros a usarem esse título foram os imperadores otonianos da Germânia, u m século mais tarde. Carlos M a g n o passou a se d e s crever c o m o "o imperador g u e governa o Império R o m a n o " e c o n s e r v o u t a m b é m o título d e "rei dos francos e d o s lombardos". S K

O Nesta iluminura francesa quinhentista, Carlos Magno é coroado pelo papa Leão III na Basílica de São Pedro, em Roma.


813

C E R C A

DE

828

O túmulo de São Tiago 0 observatório de Bagdá A lenda de São Tiago Mata-Mouros inspira a Reconquista da Espanha.

O califa al-Mamum funda o primeiro observatório astronômico em Bagdá.

Segundo a tradição espanhola que remonta ao século

Depois d e o c ristianismo se tornar a religião O Í K lal i l i

VII, São Tiago Apóstolo (Santiago, e m espanhol) visitou

Império Romano, e m 391, a literatura científica da Gré

,i Espanha durante a vida para pregar o evangelho.

cia paga foi a b a n d o n a d a para juntar poeira nas prate

Após o martírio e m Jerusalém e m 44, os anjos transpor-

leirasdas bibliotecas. O califa abássida al-Mamum (que

taram o corpo d o santo - milagrosamente unido à c a -

reinou ente 813 e 833) f u n d o u a Casa d o Saber e m

1

beça decapitada - até a Espanha e m u m barco d e pe-

Bagdá para traduzir obras gregas, persas e hindus paia

dra.queatracou e m Padrón, na costa da Galícia. Durante

o árabe. Devido à necessidade d e determinar e m q u e

o reinado d e Afonso II (entre 791 e 842), o túmulo d e São

direção ficava M e c a e d e manter a exatidão d o c a l e n -

Tiago foi supostamente descoberto na recém-recon-

dário lunar islâmico, havia g r a n d e interesse pela astro-

quistada < idade d e ( ompostelu, na < ialí< ia. Durante o século VIII, o reino d e Astúrias, criado

nomia: então al-Mamum f u n d o u u m observatório as tronômico junto a o portão d e Shamsiyah, e m Bagdá.

após a vitória d e Pelayo e m Covadonga e m 722, consolidou sua posição c o m o centro d e resistência aos muçulmanos, estendendo aos poucos suas fronteiras até as montanhas d o norte e oeste da Espanha. Acredita-se que São Tiago tenha ajudado o exército cristão g u e v e n ceu a Batalha d e Clavijo (844) e, a partir d e então, o santo recebeu o epíteto d e Matamoros ("Mata-Mouros"). Os

"Al-Mamum escreveu ao imperador bizantino pedindo antigos manuscritos." I b n a l - N a d í m , Kitab

al-Fihrist,

938

que combateram na Reconquista marchavam sob o seu estandarte, e o n o m e d o santo era seu grito d e guerra.

D u r a n t e o século IX, os árabes a d o t a r a m q u a s e

À medida q u e a fama d e São Tiago crescia, mais

por c o m p l e t o o c o n j u n t o d e teorias científicas gre

pessoas visitavam o santuário. N o século XII, a Catedral

• ias, i h e g a n d o a e n v i a i missões ao Império Bi/anli

d e Santiago d e Compostela já havia se tornado o ter-

n o para coletar manuscritos q u e havia muito não se

ceiro centro d e peregrinação mais importante da cris-

lia e q u e d e outra forma teriam sido perdidos. Os eu

tandade ocidental, depois d e Jerusalém e Roma. Guias

ropeus medievais descobriram esse c o n h e c i m e n t o

foram escritos para ajudar os peregrinos a se localiza-

n o s é c u l o XII graças a t r a d u ç õ e s árabes das obras

rem pelos quatro principais caminhos dos Pireneus

gregas originais.

até Compostela. Uma imensa indústria se desenvol-

A assimilação desse c o n h e c i m e n t o foi fortemi 'i i

v e u e m torno d o santuário para alimentar e abrigar os

te encorajada por al-Mamum. A l é m da Casa d o S a b e i

peregrinos e vender-lhes os broches feitos d e conchas

e d o observatório e m Bagdá, ele f u n d o u o u t i o o l i

d e mariscos usados para mostrar q u e haviam c o m p l e -

servatório perto d e Damasco. O s astrônomos árabes

tado a viagem. S K

ampliaram as conquistas d o m u n d o antigo, molho

O

Prato de cerâmica retratando São Tiago de Compostela, prova-

d o o d e s e n h o d e instrumentos astronômicos, inclusi-

velmente para presentear alguém batizado com seu nome.

v e o astrolábio. J H

rando a exatidão d o s catálogos d e estrelas e refinan-

1-999 • I I




843 A G O S T O

Primeiro rei da Escócia

Um império fraturado

Kenneth MacAlpin funda o reino mais tarde conhecido como Escócia.

O império de Carlos Magno é dividido pelo Tratado de Verdun.

Por muitos séculos, antes d e Kenneth M a c A l p i n c o n -

A intenção d e Carlos M a g n o s e m p r e foi q u e o i m p é -

quistá-la e n o m e a r a si m e s m o c h e f e d e u m p o v o

rio franco fosse dividido igualmente entre seus três

unificado à força, a Escócia não existia c o m o entida-

filhos q u a n d o ele morresse. Na verdade, apenas um

d e única. N o início da Idade Média, por volta d e 500,

dos filhos sobreviveu ao pai: Luís, o Piedoso, q u e her-

a região hoje c o n h e c i d a c o m o Escócia era habitada

d o u o império inteiro e m 814. Luís acreditava c o m

por quatro p o v o s diferentes. Os mais antigos eram os

fervor na união da cristandade e decidiu a b a n d o n a r

bretões celtas, q u e h a b i t a v a m toda a Britânia ao sul

o c o s t u m e franco da herança partilhada. E m 817, n o -

d o istmo d e Forth-Clyde, e os pictos, q u e viviam nas

m e o u o filho mais velho, Lotário, único herdeiro d o

lerras altas e nas ilhas d o norte. A principal diferença

império. Para seus filhos mais novos, I uís, o G e r m â n i -

entre os dois era q u e os bretões haviam se romaniza-

c o e Pepino, d e u a p e n a s sub-reinos d e p e n d e n t e s .

d o durante a o c u p a ç ã o romana da Britânia (43-410), i liferentemente d o s pictos, q u e n ã o t i n h a m sido c o n quistados. A p ó s o fim d o d o m í n i o r o m a n o e m 410, a Britânia foi invadida pelos anglo-saxões d o norte da A l e m a n h a e pelos irlandeses, nessa é p o c a c o n h e c i dos c o m o escotos. Os anglo-saxões o c u p a r a m o s u deste da Escócia até E d i m b u r g o no norte, e n g u a n t o os escotos o c u p a r a m o distrito litorâneo ocidental d e Argyll, f u n d a n d o o reino d e Dalriada.

Esse arranjo c o m e ç o u

a dar errado e m 823,

q u a n d o a s e g u n d a esposa d e Luís, o Piedoso, Judite, d e u à luz o filho Carlos, o Calvo. J u d i t e naturalmente queria q u e Carlos herdasse u m sub-reino só seu. Os filhos mais velhos d e Luís, p r e o c u p a d o s d e q u e isso pudesse diminuir-lhes a herança, opuseram-se a ela. Luís passou o resto d e seu reinado lutando para e n contrar u m c o m p r o m i s s o aceitável pela esposa e pelos filhos cada vez mais rebeldes. C o m a morte d e

Depois d e enfraquecidos pelos ataques vikings d o início d o século IX, os pictos foram conquistados

Pepino e m 838, seguida pela d e Luís e m 840, n i n g u é m esperava uma sucessão trangüila.

e m 843 por K e n n e t h Mac Alpin, rei d e Dalriada. A c r e -

Assim q u e o pai morreu, Lotário tentou reivindi

dita-se q u e a Pedra d e S u e n o , u m m o n u m e n t o c o n -

car o império t o d o para si. Apesar d e sua animosida-

t e m p o r â n e o à conquista d o nordeste da

Escócia,

de, Luís, o G e r m â n i c o e Carlos se aliaram contra Lotá-

talvez represente a e x e c u ç ã o e m massa d e nobres

rio e o derrotaram na Batalha d e Fontenay e m 841.

pictos ocorrida e m seguida. K e n n e t h reinou sobre

E m 843, o Tratado d e Verdun dividiu o império e m

escotos e pictos, mas os seus sucessores passaram a

três reinos: Luís ficou c o m a maior parte da Germânia,

se descrever c o m o reis da Escócia, o u "terra dos e s c o -

Carlos c o m a maior parte da Francônia

tos". Apesar disso, foi só n o século XI, c o m a conquis-

(França) e Lotário c o m t o d o o território entre os dois.

Ocidental

ta d o território anglo-saxão e bretão ao sul d o istmo

Seria a partir da divisão d o império d e Carlos M a g n o ,

d e Forth-Clyde, g u e a Escócia a l c a n ç o u (aproximada-

iniciada e m Verdun, q u e os reinos da França, da Ger-

mente) as fronteiras g u e t e m hoje. Q u a n t o aos pictos,

mânia e da Itália iriam surgir. J H

sua língua, cultura e identidade n ã o sobreviveram muito à conquista pelos escotos, e n i n g u é m mais o u viu falar neles a p ó s 900. J H

O

Xilogravura (c. 1850) mostrando J u d i t e e seu filho Carlos, o Calvo (erroneamente chamado de Carlos I).


Os vikings saqueiam Paris Revolta dos escravos zanj O declínio do Império Carolíngio é apressado por sucessivos ataques vikings.

Prisioneiros africanos se rebelam contra os abássidas e fundam sua própria capital.

O frágil e d e c a d e n t e Império Carolíngio r e c e b e u u m

Havia muitos anos q u e a revolta d e escravos d e 868

duro g o l p e q u a n d o , e m março d e 845, uma centena

era inevitável. O c o m é r c i o d e cativos entre o leste da

d e navios vikings conseguiu descer o Sena, e s p a l h a n -

África e a Arábia é anterior ao surgimento d o Islã, mas

d o morte e destruição. Os vikings e n c o n t r a r a m p o u -

se intensificou muito c o m a expansão d o califado is-

ca resistência d e Carlos, o C alvo, rei da Francônia

lâmico. A maioria era levada para trabalhar e m resi-

O c i d e n t a l , e p u d e r a m navegar até Paris.

dências particulares, mas milhares d e africanos - c o -

Uma vez e m Paris, os atacantes vikings pilharam a

nhecidos c o m o zanj,

da palavra e m árabe q u e denota

cidade, e muitas igrejas foram conspurcadas o u d e s -

a costa leste da África - foram enviados para explorar

truídas. O tormento dos habitantes da cidade

as salinas d e Shatt al-Arab e m torno d e Basra, sul d o

final-

m e n t e t e v e fim q u a n d o Carlos ofereceu aos vikings u m importante resgate. Carregados d e despojos, os atacantes saíram da cidade c o m centenas d e prisioneiros e voltaram para o litoral, o n d e saquearam, pilharam e incendiaram cidades costeiras. Os vikings não passaram muito t e m p o afastados. Esse seria o primeiro d e vários ataques a Paris e outros lugares, e a ameaça viking se fez sentir por toda a Eulopa. Para o enfraquecido Império Carolíngio, as áreas

Iraque. Outros c o m b a t i a m no exército abássida. A revolta c o m e ç o u sob a liderança d e Ali bin

"[Os zanjV são sempre alegres, sorridentes e sem malícia." A b u U t h m a n a l - J a h i z , Os ensaios,

c. 8 6 0

mais vulneráveis ficavam nos Países Baixos e nas regiões da Gália e da Germânia, o n d e muitos rios navega

M u h a m m a d , descendente d o quarto califa Ali (e, por-

veis facilitavam o acesso dos atacantes.

tanto, não-africano). Embora tenha c o m e ç a d o c o m

Paris foi atacada três vezes na d é c a d a d e 860, e os

apenas p o u c o s h o m e n s e n e n h u m a arma, a revolta

agressores só iam e m b o r a q u a n d o c o n s i d e r a v a m

cresceu depressa à medida q u e alguns dos africanos

grande o bastante seu carregamento d e saques o u

q u e serviam no exército d o califado c o m e ç a r a m a d e -

subornos. C o m ataques quase anuais, Carlos, o Calvo

sertar. As forças rebeldes c o n h e c i a m b e m o terreno

finalmente t o m o u atitudes enérgicas para conter a

difícil d o sul d o Iraque e desenvolveram uma sofistica-

ameaça. E m 864, o Édito d e Pistres iniciou a tendência

da e b e m equipada unidade militar, conseguindo as-

q u e incluiu a criação d e uma grande força d e cavalaria

sim capturar parte da frota abássida. Ali construiu uma

i• a construção d e uma série d e pontes no Sena, sob as

b e m defendida capital e m Mokhtara, a leste d e Bagdá.

quais os navios d e guerra vikings n ã o conseguiriam

Ele se apresentou c o m o líder religioso e militar, pro-

passar. Essas pontes iriam se mostrar altamente efica-

p o n d o uma versão purificada d o islamismo.

zes q u a n d o os vikings sitiaram Paris e m 885. A incap a c i d a d e cJo Império Carolíngio d e impedir essas

Os zanj

só foram derrotados e m 883, depois d e

uma anistia oferecida aos desertores. O general vito

c a l a m i d a d e s recorrentes foi u m fator-chave n o seu

rioso, M u w a f f a q , recusou-se a devolver os zanj

subseqüente declínio. T B

senhores, incorporando-os a suas próprias forças. P F

a seus


871 15 DE ABRIL

Alfredo torna-se rei de Wessex O novo rei repele os daneses, demonstrando a ferrenha determinação que caracterizaria seu longo reinado. Alfredo não poderia ter ascendido ao trono e m u m m o m e n t o mais crítico, justamente q u a n d o o reino d e Wessex, n o sul da Inglaterra, se achava sob feroz ataq u e d e u m exército viking. danes. Ele havia ficado ao lado d o irmão, o rei Ethelred I, q u a n d o este combatera os daneses e m cinco ocasiões n o inverno e na primavera d e 870-871. Então, no dia 15 d e abril d e 871, o rei Ethelred morreu. Embora deixasse dois filhos p e q u e nos, foi Alfredo, então c o m 22 anos mas já líder aguerrido e experiente, o escolhido para sucedê-lo. N o s meses após a sucessão, Alfredo travou outras nove batalhas contra os vikings antes d e estes - sem dúvida desencorajados por sua enérgica resistência - voltarem sua atenção para o reino vizinho d e Mércia. Eles só voltariam a Wessex dali a cinco anos. Nascido e m 849, Alfredo era o quinto e mais n o v o dos filhos d o rei Ethelwulf d e Wessex. O reino consolidara r e c e n t e m e n t e seu d o m í n i o e m toda a Inglaterra a o sul d o Tâmisa, da Cornualha n o o e s t e até Kent n o sudeste. C o m o tinha quatro irmãos mais velhos, Alfredo d e v e ter parecido u m candidato i m provável para u m dia se tornar rei, mas sua instrução era condizente c o m sua linhagem real e mostrava as estreitas ligações entre a Inglaterra anglo-saxã e o continente na é p o c a . Alfredo visitou R o m a duas v e zes, e m 853 e e m 855, e lá adquiriu o gosto pelo aprendizado q u e se tornaria aparente n o fim d e sua vida - ele é c o n h e c i d o por ter traduzido a Regra

pas-

d e Gregório, o G r a n d e , e A consolação

filoso-

toral,

da

fia, d e B o é c i o . Alfredo t a m b é m r e c e b e u t r e i n a m e n to militar, o q u e muito lhe serviu nos subseqüentes confrontos c o m os daneses. S K

O Pintura oitocentista que evoca a época de Alfredo, Um modelo para a marinha de Alfredo (1851), por J o h n Horsley (1817-1903).



877 14 DE J U N H O

0 declínio da coroa O sacro imperador romano Carlos, o Calvo reconhece os feudos hereditários. N o q u e d e s d e então é considerado u m estágio-chav e no d e s e n v o l v i m e n t o d o feudalismo e u r o p e u e no declínio d o poder da coroa, Carlos, o Calvo selou u m acordo c o m seus nobres auxiliado por Hincmar, arcebispo d e Reims. O acordo substituiria o antigo sistema d e lerras < onc edidas d e forma vitalícia a uma só pessoa por u m sistema p e l o qual o rei concederia terras d e p r o p r i e d a d e hereditária. Carlos era o filho mais n o v o d e Luís, o Piedoso e recebeu o reino da Francônia Ocidental e m 843. Reivindicou o título d e imperador após a morte d o sobrinho I ufs II, e m 8/5. Nos anos q u e precederam sua morte, e m outubro d e 877, ele esteve submetido a intensa pressão. Em particular, os nobres haviam se recusado a apoiar o rei e m diversas campanhas importantes, tais c o m o a expedição à Itália e m 876 para ajudar o papa J o ã o VIII a lutar contra uma invasão d e sarracenos. A concessão d e feudos hereditários por Carlos pode, portanto, ser vista c o m o mais u m sinal d e enfraquecimento da autoridade da dinastia carolíngia. O reconhecimento dos direitos hereditários foi significativo sob dois aspectos. Primeiramente, foi u m passo importante para o desenvolvimento d o feudalismo, c o n c e d e n d o aos nobres mais poder e m suas próprias O Carlos, o Calvo, descrito como "o primeiro verdadeiro rei da Fran-

O

terras e possibilitando-lhes constituir dinastias locais.

ça e sacro imperador romano", com a coroa de louros.

E m segundo lugar, o poder d o rei foi declinando à m e -

Manuscrito medieval iluminado mostrando uma cena da vida

dida q u e os senhores feudais ficavam mais indepen-

de Carlos, o Calvo.

dentes da coroa e formavam pequenos Estados territoriais próprios, muitas vezes e m guerra entre si.

"Muitos, ávidos de fama e honra, foram instigados pelas oportunidades da época." Crônica dos condes de Anjou

U m feudalismo desse tipo significou q u e o p o der e a administração jurídica se descentralizaram e q u e , e m vez d e o p o d e r estar c o n c e n t r a d o na coroa, era a coroa q u e e m certa medida d e p e n d i a das d i nastias locais q u e havia criado. C o m esse sistema, a é p o c a dos grandes impérios c o m o o dos i m p e r a d o res carolíngios estava fadada a acabar. T B


878 M A I O

886 29 DE A G O S T O

Alfredo revida

Os daneses são contidos

O rei de Wessex repele os daneses na Batalha de Edington.

Alfredo e Guthrum reformulam a fronteira entre a Inglaterra saxã e o Danelaw.

Na d é c a d a d e 870, invasores daneses pareciam pres-

E m 885, Guthrum, líder dos daneses, rompeu o acordo

tes a capturar a Inglaterra. Vindos por mar da E s c a n -

feito c o m Alfredo após a Batalha d e Edington e invadiu

dinávia, eles haviam c o n q u i s t a d o os reinos anglo-sa-

Kent c o m u m grande exército. Alfredo revidou captu-

xões d e Mércia, Nortúmbria e Ânglia Ocidental. N o

rando Londres e forçando os daneses a abandonarem

início d e 878, até o rei d e Wessex, Alfredo, virou fugi-

sua base no sul. Foi selado u m novo acordo, conhecido

tivo e m seu próprio território depois d e ser forçado a

c o m o Tratado d e Alfredo e Guthrum, q u e cedia Londres

sair d e sua base e m C h i p p e n h a m , Wiltshire.

a Wessex e reformulava a fronteira entre a Inglaterra

Na primavera d e 878, porém, Alfredo deixou o es-

saxã e o Danelaw, área ocupada pelos daneses.

conderijo e construiu novas fortificações e m Athelney,

U m a linha passou a dividir ,i Inglaterra e m duas

Somerset. Ele c o n v o c o u os h o m e n s d e Hampshire,

metades. A o norte e a leste, os daneses governavam

Wiltshire e Somerset a se reunirem e m u m lugar cha-

por meio d e uma aristocracia militar e i m p u n h a m suas

"Seu ataque foi longo e enérgico, e por fim, graças à ajuda divina, ele triunfou."

território e nas pessoas foi dramático - a alfabetização

B i s p o A s s e r , Vida do rei Alfredo,

Oriental - assim c o m o as cruzes d e pedra esculpidas

próprias leis e costumes à população. Seu impacto no

893

parece ter se extinguido c o m o gradual desaparecim e n t o dos centros monásticos. A concentração d e t o p ô n i m o s escandinavos no norte da Inglaterra e a o redor d e York, b e m c o m o e m Lincolnshire e na Ânglia c o m d e s e n h o s tipicamente escandinavos -, p e r m a n e -

m a d o Pedra d e Egbert. A frente desse exército, Alfredo

ce c o m o t e s t e m u n h o da presença dos daneses na re-

marchou e m direção a C h i p p e n h a m e encontrou os

gião, e m b o r a não se saiba até q u e ponto eles se assi-

daneses chefiados por G u t h r u m e m Edington. Segun-

milaram à p o p u l a ç ã o local.

i Io o cronista bispo Asser, os h o m e n s d o rei Alfredo, após duro c o m b a t e , expulsaram os daneses.

Ao sul e a oeste da linha divisória, Wessex era então reconhecido por todos c o m o a liderança de facto.

Em-

Os guerreiros d e G u t h r u m q u e haviam sobrevivi-

bora os daneses fossem perdurar c o m o ameaça cons-

d o refugiaram-se e m C h i p p e n h a m , perseguidos d e

tante até sua morte, e m 899, Alfredo t o m o u importan-

perto pelos anglo-saxões, q u e montaram u m cerco.

tes medidas defensivas para garantir a sobrevivência d e

Depois d e 14 dias vivenciando, nas palavras d e Asser,

Wessex, incluindo a construção d e uma série d e fortale-

"os horrores da f o m e , d o frio, d o m e d o e por fim d o

zas c o m guanições permanentes para servir d e refúgio

desespero", os daneses se renderam. Alfredo forçou

à população e m tempos d e guerra. Conhecidos c o m o

G u t h r u m a entregar os reféns, prometer sair d e W e s -

burhs

sex e aceitar a conversão ao cristianismo. A vitória d e

ram muitas das cidades comerciais da Inglaterra. Alfre-

I dington fez os daneses recuarem para o Danelaw -

do t a m b é m m a n d o u construir muitos navios grandes

(boroughs,

ou "burgos"), esses povoados origina-

norte e leste da Inglaterra -, enquanto Alfredo fortale-

para repelir ataques costeiros, sendo por isso às vezes

i ia suas defesas. R G

c h a m a d o d e fundador da marinha britânica. S K


09 2 DE SETEMBRO

/ Abadia de Cluny e o renascimento monástico A Borgonha passa a abrigar um centro de reforma monástica e o estabelecimento religioso mais importante da cristandade ocidental. i ) d u q u e G u i l h e r m e I da Aquitânia, c o n h e c i d o c o m o 11 Pio, f u n d o u muitas casas religiosas, mas a mais i m portante delas foi sua nova abadia e m Cluny, na Borgonha. Chefiada por u m a série d e a b a d e s inteligentes e capazes, Cluny liderou u m m o v i m e n t o d e leforma monástica q u e iria d e s e m p e n h a r p a p e l i m portante na revitalização da Igreja e d o p a p a d o . Ao final d o século IX, a disciplina n o seio da o r d e m dos m o n g e s beneditinos havia se relaxado. Isso se d e via e m parte aos senhores locais, que, c o m o cediam terras para a fundação d e novos mosteiros, tinham t e n dência a interferir demais e m suas questões. O d u q u e Guilherme d e u o passo pioneiro ao colocar essa nova abadia sob autoridade direta d o papa - decisão extremamente significativa, já que o papa vivia muito longe, e m Roma, o q u e dava aos abades mais liberdade para efetuar reformas q u e incluíram uma ênfase maior na prece. A abadia fundou uma rede d e casas dependentes, ou priorados, que ficavam sob supervisão direta da sede, e o movimento d e reforma expandiu-se ainda mais. A riqueza fluía para Cluny aos borbotões, e três igrejas foram construídas na abadia e m rápida sucessão; a última, iniciada e m 1088, foi a maior igreja d o m u n d o até a c o n clusão da d e São Pedro, e m Roma, n o século XVI.

jmtlf awcâlisCacraruitrJta

nis.nmtamf fcilictT uuirnftfll'

n>i.íuncpii|ximí liiciiclo irnl"

âua^iiumaviulwdiiii dliWM

O s e g u n d o a b a d e d e Cluny, S ã o O d o (morto e m

faíqjdjendo.(JúlioLilunsl».' © mtdigiKtntfliaTmcligiiiiiii.il

952), d e u continuidade a seu sucesso. Outro abade,

:\ ratnra.coiicpiftfcjivluuliuitf / \ ftfCMUtr."mtolim tnotuchutl jmiito^çfoiiif.imiOTiioít! / -Apnc>.'«niin!ii)ii.itttiiiliiiiiil Icrl j '*>—««isacii 1 ulmir ddfl)tiii. ,/SEQ$ttmio Mumtnibili liiinmiv

São Hugo, o G r a n d e (morto e m 1109), famoso por sua erudição, t a m b é m foi canonizado. Quatro m o n g e s d e Cluny tornaram-se papas: S ã o Gregório VII, Urbano II, Pascal H e U r b a n o V . S K

O Detalhe d e uma gravura setecentista da Abadia d e Cluny; a maior parte da construção d o século XI continua d e pé.

O Ilustração d o século XII retratando a consagração da Abadia d e Cluny pelo papa Urbano III, em 1095.


919 M A I O

0 rei unifica a Germânia 0 líder viking recebe um pedaço de terra, na França, de Carlos, o Simples.

Henrique I é eleito rei da Francônia e unifica os ducados germânicos.

'.egundo a lenda, Rollo foi u m dos líderes da frota v i -

Q u a n d o Conrado I, rei da Francônia, jazia e m seu leito

king q u e atacou e sitiou brutalmente Paris e m 885. O

de morte, foi seu inimigo Henrique, d u q u e da Saxônia,

rei franco havia p a g a d o a eles uma soma e m ouro para

q u e m recebeu a b ê n ç ã o d o rei moribundo na esperan-

< onvencê-los a ir embora, mas os vikings rapidamente

ça d e q u e pudesse unir seu povo. S e g u n d o a lenda,

atacaram e m outro lugar. Q u a n d o , e m 911, Rollo c o -

Henrique estava montando arapucas para pássaros

m a n d o u u m ataque à região d e Chartres, o rei Carlos, o

q u a n d o soube da notícia. Por esse motivo, ele passou a

limples (que reinou entre 898 e 929) tentou uma abor-

ser conhecido c o m o Henrique, o Passarinheiro.

1 lagem diferente: concederia a Rollo uma extensão d e

A indicação d e Henrique não foi apoiada por to

terra no norte d e seu reino caso ele e seus h o m e n s se

dos os d u c a d o s d o reino. A Saxônia e a Francônia, dois

i o m p r o m e t e s s e m a nela viver e a defendê-la.

dos quatro ducados mais importantes, uniram-se a ele,

Rollo aceitou e o acordo foi assinado e m Saint-

mas a Suábia e a Bavária resistiram. Henrique desejava

Clair-sur-Epte. E m troca d e terras d o s dois lados d o estuário d o Sena (hoje o norte da Normandia

terra

dos nórdicos), Rollo r e c o n h e c e u o rei c o m o seu s e nhor feudal, foi batizado e, no início, c u m p r i u M M pa lavra e repeliu alguns invasores. Entre seus conterrâneos nórdicos, o líder viking era c o n h e c i d o c o m o Gõngu-Hróflr

(Hrolf, aquele q u e

"Henrique... é o líder mais capaz do império. Elejam-no rei e a Germânia terá paz." R e i C o n r a d o I, p r e d e c e s s o r d e H e n r i q u e

anda), pois não havia cavalo grande o bastante para earregá-lo; os franceses o c h a m a v a m d e Rollo o u

controlar seu país c o m o uma confederação d e d u c a -

Roberto (seu n o m e d e batismo). Durante mais d e 60

dos, e m vez d e reinar d e forma absoluta. Ele permitiu

anos os vikings sob seu c o m a n d o haviam atacado a

q u e Burchard, d u q u e da Suábia, mantivesse o controle

costa norte da França e penetrado até b e m longe no

da administração d e seu ducado, mas foi forçado a in

interior das terras. Poucos anos depois d e seu acordo

vadir a Bavária e m 921. Após duas campanhas, Arnulfo,

c o m Carlos, o Simples, Rollo voltou a atacar, a m p l i a n -

d u q u e da Bavária, aceitou u m acordo semelhante.

d o seu controle para oeste. Em 933, a Normandia se

As realizações d e Henrique incluem a conquista d. i

estendia até a península d o Cotentin e adquirira as

Lorena e a incorporação da região a seu reino c o m o o

fronteiras q u e m a n t é m até hoje. O primeiro d o s

quinto d u c a d o importante. Sua última campanha

descendentes d e Rollo a usar o título d e d u q u e da

uma invasão da Dinamarca e m 934 - permitiu a anexa

N o r m a n d i a foi Ricardo II, a v ô d o d u q u e G u i l h e r m e

ção da região d e Schleswig. Ao morrer, e m 936, Henri-

(c. 1028-87), mais tarde Guilherme, o Conquistador,

q u e havia unificado todos os ducados germânicos e m

primeiro rei n o r m a n d o da Inglaterra. S K

u m só reino. Ele é considerado o fundador d o Estado germânico medieval e o criador d o q u e viria a se tornar

O

Retrato setecentista de Rollo pelo artista francês Antoine-

o primeiro Sacro Império Romano. Seu filho, Oto, assu

François Sergent-Marceau (1751-1847).

miu uma confederação b e m mais unificada. T B



929 16 DE J A N E I R O

955 10 DE A G O S T O

Sucessão da Espanha

Derrota dos magiares

Desafiando seus governantes abássidas, Abd ar-Rahman III declara-se califa.

Oto, o Grande vence os nômades saqueadores na Batalha de Lechfeld.

Km 16 d e janeiro d e 929, A b d ar-Rahman III, emir d e

Os magiares e r a m cavaleiros n ô m a d e s da Ásia C e n -

Córdoba, proclamou-se califa. 0 n o v o título tinha i m -

tral q u e migraram para a região da atual Hungria no

plicações p r o f u n d a s . Califa, q u e significa "sucessor",

final d o século IX. Durante m e i o século, suas ferozes

era u m título geralmente a d o t a d o apenas pelos s u -

e x p e d i ç õ e s d e p i l h a g e m assolaram regularmente o

cessores d e M a o m é , q u e d e t i n h a m a supremacia tan-

oeste da A l e m a n h a , c h e g a n d o até à Itália e à Espa-

to espiritual quanto política no m u n d o m u ç u l m a n o .

nha. Os líderes da Europa cristã eram demasiado fra-

Emir, q u e significa "comandante", não tinha c o n o t a ç ã o

cos e divididos para se d e f e n d e r e m . E m 955, p o r é m ,

espiritual e havia sido usado nos primeiros califados

O t o I, d u q u e da Saxônia e rei d o s g e r m a n o s , conse-

m u ç u l m a n o s por governadores regionais. Q u a n d o o

giu reunir u m a força expressiva para combatê-los.

califado c o m e ç o u a se cindir sob os abássidas n o s é c u -

C o m cerca d e 10 mil cavaleiros, O t o partiu para e n -

lo IX, os emires se instalaram c o m o governantes inde-

frentara horda magiar.

pendentes. Embora isso tenha diminuído a autoridade dos califas abássidas e m Bagdá, n ã o contestou sua a u toridade espiritual, respeitando assim, a o m e n o s e m aparência, o ideal da unidade muçulmana. O primeiro desafio à a u t o r i d a d e espiritual d o s abássidas veio d o s governantes fatímidas d o Egito, q u e se p r o m o v e r a m ao status d e califa e m 910. Os fa-

"Nunca uma vitória tão sangrenta foi obtida de um inimigo tão selvagem." W i d u k i n d d e C o r v e y , G e s t o , c. 9 5 5

límidas, c o n t u d o , eram xiitas e considerados hereges pela maioria d e m u ç u l m a n o s sunitas. A b d ar-Rahman

Confiantes e agressivos, os magiares cavalgaram ao

foi o primeiro governante sunita a rejeitar explicita-

encontro dos germanos na planície alagada d o rio Lech.

m e n t e os califas abássidas c o m o líderes tanto políticos

Cavaleiros velozes, esperavam poder formar anéis e m

quanto religiosos. Sua reivindicação d o califado teve

volta da cavalaria cristã mais lenta e trajando armaduras,

por base o fato d e ele ser d e s c e n d e n t e dos omíadas,

s o b r e a q u a l provavelmente tinham uma vantagem n u -

q u e haviam g o v e r n a d o o m u n d o m u ç u l m a n o c o m o

mérica d e cinco contra u m . S e g u n d o os cronistas ger-

califas entre 661 e 750. O emirado d e Córdoba tinha

mânicos, a derrota dos magiares se deveu à sua indisci-

sido f u n d a d o por u m príncipe omíada refugiado após

plina. Depois d e cercarem os flancos d o exército d e Oto,

a derrubada da dinastia pelos abássidas e m 750.

muitos apearam para saquear o trem d e guerra. Os c a -

C o m o n o v o califa, A b d ar-Rahman construiu u m

valeiros d e Oto mataram primeiro os homens q u e ha-

extravagante c o m p l e x o palaciano e m Medinat al-Zha-

viam desmontado, e m seguida atacaram a formação

ra, nos arredores d e Córdoba, seguindo o m o d e l o d o

principal dos magiares e m meio a uma chuva d e fle-

antigo palácio d o s omíadas e m Damasco. S o b a sua

chas, expulsando-os d o c a m p o d e batalha.

autoridade, o p o d e r m u ç u l m a n o na Espanha alcança-

A Batalha d e Lechfeld pôs fim às incursões m a -

ria seu ápice, e m b o r a o califado fosse acabar ruindo

giares. O t o o b t e v e g r a n d e prestígio e e m 963 foi c o -

e m meio a uma guerra civil iniciada e m 1008. J H

roado i m p e r a d o r romano. R G


< ERCA DE

960

/ Dinamarca é convertida ao cristianismo f m um martírio pelo fogo, um missionário germânico consegue converter o rei Harald Dente-Azul ao cristianismo após o fracasso de todos os missionários anteriores. 0 rei Harald Dente-Azul desafiou P o p p o , missionário •a Germânia, a lhe provar q u e a fé cristã era v e r d a deira. Q u a n d o P o p p o e m p u n h o u u m ferro e m brasa sem se queimar, o rei declarou e n t ã o acreditar no p o der d o Deus cristão e o r d e n o u i m e d i a t a m e n t e a c o n versão d e todos os daneses. Essa é a história relatada por W i d u k i n d d e Cor.vy, m o n g e g e r m â n i c o q u e escreveu por volta d e 967. Ele acrescenta q u e P o p p o "agora é bispo". S a b e mos d e outras lontos q u e u m padre ( h a m a d o P o p p o tornou-se bispo d e W ü r z b u r g , na Germânia, e m 961, ugerindo q u e a conversão d e Harald p r o v a v e l m e n t e ocorreu p o u c o antes dessa data. P o p p o n ã o foi o primeiro missionário a viajai à Dinamarca, mas todas as tentativas anteriores d e c o n vencer os daneses a abandonarem seus deuses pagãos 1 laviam fracassado. Parece provável q u e a missão d e I 'oppo tenha sido patrocinada por O t o I, rei dos germanos e mais tarde sacro imperador romano, e é muito provável q u e a conversão d e Harald tenha ocorrido e m grande medida por motivos políticos - ele foi u m líder ambicioso q u e construiu estradas, pontes e fortes para criar uma estrutura d e poder centralizada e defender o sul da Dinamarca d e incursões germânicas. O cristianism o teria proporc ionado mais uma forma d e c onsolidar sua autoridade sobre o povo e d e unificar o país. E m a l g u m m o m e n t o durante seu reinado, Harald

O Detalhe de uma escultura dinamarquesa em relevo do século XI mostrando orei Harald durante sua profissão de fé em Jelling.

m a n d o u erguer u m a g r a n d e pedra esculpida e m u m lugar c h a m a d o Jelling. A pedra ficava perto d o m o n te funerário d e seu pai, G o r m , q u e era pagão. U m a das facetas da pedra retrata a crucificação d e Jesus, outra mostra a i m a g e m paga d e u m animal chifrudo entrelaçado a uma serpente, e n q u a n t o a terceira traz uma longa inscrição e m runas a n u n c i a n d o a conversão d e Harald. S K

"[Harald] conquistou toda a Dinamarca e a Noruega e tornou os daneses cristãos." Da inscrição na P e d r a d e J e l l i n g



962 2 DE FEVEREIRO

986

Oto coroado imperador Colonos na Groenlândia Após 26 anos, Oto I realiza o sonho de se tornar sacro imperador romano.

Erik, o Vermelho conduz colonos da Islândia para o território inexplorado a oeste.

O t o era a m p l a m e n t e aceito c o m o sucessor das g l ó -

Erik, o Vermelho, u m nórdico cujo t e m p e r a m e n t o ar-

rias d e Carlos M a g n o - c h e g a n d o a ter sido c o r o a d o

r e b a t a d o condizia c o m a cor d e seus cabelos, era u m

rei e m A a c h e n . Era a p e n a s u m a q u e s t ã o d e t e m p o

assassino e fora-da-lei da N o r u e g a q u e havia se refu-

para ele concretizar sua reivindicação a o título i m p e -

g i a d o entre os vikings da Islândia. E m 980, depois d e

rial e n t r a n d o e m Roma; mas O t o t e v e d e esperar 26

matar vários h o m e n s , e l e foi b a n i d o t a m b é m da Is-

anos para realizar esse sonho.

lândia. S e m poder voltar para a Noruega, decidiu n a -

S e u reinado fora construído c o m base na fortuna

vegar para oeste e m busca d e u m a terra sem n o m e

obtida das ricas minas d e prata da Saxônia, mas, a p e -

q u e fora vista cerca d e 60 a n o s antes por u m capitão

sar dessa segurança financeira, a é p o c a n ã o foi livre

viking c h a m a d o G u n n b j o r n Ulf-Krakuson.

d e perturbações. O t o foi a t o r m e n t a d o p o r rebeliões

Três a n o s depois, Erik v o l t o u à Islândia g a b a n d o -

d e d u c a d o s rivais e m seu reino. Foi s o m e n t e depois

se d e u m a terra o n d e as c a m p i n a s e r a m t ã o luxu-

"Oto chegou à Itália com um grande grupo de seguidores e o braço estendido."

de"), e c o n v o c o u voluntários para ajudar a povoá-la.

riantes q u e e l e a batizou d e G r o e n l â n d i a ("terra ver-

A r n o l f o d e M i l ã o , Livro

dos últimos

feitos

A terra b o a para a agricultura era escassa na Islândia, e quase mil h o m e n s e mulheres decidiram a c o m p a nhá-lo. Dos 25 navios q u e zarparam, apenas 14 s o breviveram à travessia até os fiordes protegidos d o sul da Groenlândia e m 986. Ali, c o m porto seguro, boa pesca e amplas colinas baixas para servir d e pas-

d e derrotar esses rivais e submeter os d u c a d o s p r o -

to, a maioria d o s vikings decidiu se instalar. Outros

blemáticos à autoridade d e m e m b r o s d e sua família

seguiram n a v e g a n d o e f u n d a r a m u m s e g u n d o p o -

q u e a paz p ô d e ser restaurada. N o entanto, n o v o s

v o a d o 650km mais a o norte.

problemas n o sul da Germânia, assim c o m o os ata-

C o m condições climáticas c o m p a r a t i v a m e n t e

ques magiares, fizeram c o m q u e só e m 962 a posição

mais brandas, os colonos da Groenlândia p o d i a m c a -

d e O t o estivesse firme o suficiente para q u e ele acu-

çar, pescar e cultivar pastos para alimentar seu g a d o

disse os Estados Pontifícios a p e d i d o d o papa J o ã o

durante o inverno - u m relato d o século XIII m e n c i o -

XII. E m troca da garantia d e proteção d e Oto, a pri-

na as "grandes e belas fazendas" da Groenlândia.

meira desse tipo d e s d e a é p o c a d e Carlos M a g n o ,

Igrejas f o r a m c o n s t r u í d a s e u m b i s p a d o f u n d a d o ,

O t o foi c o r o a d o sacro imperador romano. Assim, e l e

mas e m m e a d o s d o século XIV o q u e os m e t e o r o l o -

se t o r n o u o primeiro d e u m a linhagem q u e iria per-

gistas c h a m a m d e P e q u e n a Idade d o G e l o já havia se

durar até ser abolida por N a p o l e ã o e m 1806. Os primeiros anos d e O t o c o m o imperador f o -

instalado, extinguindo g r a d u a l m e n t e a vida nesse mais r e m o t o dos locais p o v o a d o s . S K

ram assolados por intrigas e rivalidades papais. A p e sar disso, seu reinado tornou-se c o n h e c i d o c o m o o Renascimento Otoniano. T B

O Erik, o Vermelho da Groenlândia (1688), por Arngrin J o n a s - o primeiro relato impresso da descoberta da América pelos vikings.


987 21 DE M A I O

A França coroa seu primeiro rei capetiano A coroação de Hugo Capeto, duque da França, dá início à dinastia real capetiana e marca o início da história da França moderna. A n e c e s s i d a d e d e u m a n o v a dinastia no p o d e r era l p r e m e n t e , e esta c o m e ç o u c o m H u g o

Capeto

(c.940-996). A Francônia Ocidental, área mais o u m e nos equivalente à França m o d e r n a , sofrerá ataques freqüentes d e saqueadores vikings no final d o século X, e a incapacidade dos reis carolíngios de lidar c o m j a a m e a ç a d e forma eficaz m i n o u sua autoridade. Para angariar apoio, eles foram c e d e n d o áreas cada vez ' mais extensas aos nobres, transformando assim o país e m u m a colcha d e retalhos d e d u c a d o s praticamente independentes. Enquanto isso, as terras reais m i n g u a r a m até virar u m p e q u e n o território centrado na Ile-de-France, a região e m torno d e Paris. I lugo Capeto, d u q u e da França, d o n o de terras em volta de Orléans, era um dos nobres mais poderosos. Conhecidos c o m o robertianos por causa d o fundador da família, Roberto, o Forte (morto e m 866), três dos antepassados d e H u g o - o tio-avô Eudes, o avô Roberto I e o tio Raul - já haviam sido eleitos reis pelos nobres no lugar d e candidatos carolíngios mais fracos. Q u a n d o I uís V, o último rei carolíngio, morreu e m maio de 987 s e m deixar herdeiros, o arcebispo Adalberto d e Reims não teve muitos problemas para c o n vencer os nobres a elegerem H u g o rei. L o g o após sua coroação, H u g o providenciou para q u e o filho Roberto t a m b é m fosse coroado; isso assegurou uma sucessão tranqüila q u a n d o ele morreu, e m 996. A prática d e coroar o herdeiro c o m o rei ainda vivo prosseguiu e contribuiu muito para a longevidade da dinastia dos Capetos, linhagem de 14 reis que reinou até 1328. A escolha d e H u g o c o m o rei é considerada o início da história da França moderna. S K O

Retrato de Hugo Capeto, rei da França de 987 a 996, representado com o traje real completo.


Ciev é convertida

Novo emir para Ghazni

) grâo-príncipe Vladimir é batizado e seu império adota o cristianismo.

Mahmud - turco e sunita - desempenha um papel importante no mundo muçulmano.

f mbora o reinado d e Vladimir I seja o mais f r e q ü e n t e -

M a h m u d é u m dos personagens mais controversos da

m e n t e associado à ascensão d o cristianismo e m Kiev

história rio sul da Ásia. I ra o filho mais velho d e Sebut

(atual Ucrânia), muitos habitantes na realidade h a -

kigin, m a m e l u c o (soldado escravo) turco q u e havia

viam a d o t a d o o cristianismo sob o predecessor d e

assumido o controle da cidade d e Ghazni, n o sul d o

Vladimir, Yaropolk. Q u a n d o este foi assassinado pelo

Aleij.inis!,i<>. M a h m u d tornou-se emir e m 998 e

meio-irmão e m 980, p o r é m , o p a g a n i s m o tornou a

sou a maior parte d e seu reinado e m c a m p a n h a s n o

ganhar força.

pas

Irã, na Ásia Central e na índia, construindo u m império

O n o v o grão-principe, Vladimir I, t e m a reputa-

considerável; graças a seu apoio às artes - q u e c o n d u

ção d e ter tido sete esposas e muitas concubinas, d e

zlu a u m renascimento da literatura e dos ofícios artís

ter construído n o v o s templos pagãos e d e ter partici-

ticos persas -, ele transformou G h a z n i e m u m dos

pado d e rituais p a g ã o s e n v o l v e n d o sacrifícios h u m a -

grandes centros culturais d o m u n d o m u ç u l m a n o .

nos. C o m o t e m p o , p o r é m , a c a b o u pressionado p e los próprios súditos e pelos estrangeiros a abraçar o m o n o t e í s m o . S e g u n d o a lenda, Vladimir

enviou

emissários para lhe trazer relatórios sobre várias religiões d e m o d o a p o d e r escolher u m a fé. O q u e mais o atraiu foi a riqueza das igrejas bizantinas, e não a religião mais austera d o s reis germânicos.

"[Mahmud foi] o leão do mundo, a maravilha de seu tempo." A l B i r u n i , e s t u d i o s o g h a z n a v i d a , c. 1030

A política t a m b é m influenciou o futuro direcion a m e n t o da fé d e Vladimir. E m 987, o imperador b i -

I mbora o império ghaznavida tenha declinado

zantino Basílio II foi forçado a pedir ajuda a Vladimir

após sua morte, o reino d e M a h m u d foi fundamental

contra usurpadores q u e a m e a ç a v a m o trono i m p e -

sob muitos aspectos. M a h m u d era sunita e m uma é p o -

rial. Vladimir c o n c o r d o u , c o m a c o n d i ç ã o d e poder se

ca e m q u e o m u n d o m u ç u l m a n o era d o m i n a d o por

casar c o m a irmã d o imperador, Ana. Para fortalecer

dinastias xiitas, e sua ascensão a o poder foi o primeiro

seu poder d e barganha, Vladimir levou u m exército

sinal d e uma recuperação sunita. Ele foi o primeiro tur-

para a região hoje c o n h e c i d a c o m o Constantinopla.

co proeminente d o i n u n d o m u ç u l m a n o , e estabele

Basílio c o n c o r d o u , contanto q u e Vladimir fosse bati-

c e u c o m firmeza a influência islâmica no norte da

zado. Assim, para garantir u m c a s a m e n t o vantajoso,

(ndia; esse último aspecto é o mais controverso. As

Vladimir se batizou e m 988.

c a m p a n h a s d e M a h m u d na Índia destruíram e saque

Vladimir e n t ã o o r d e n o u a derrubada d e templos

aram dezenas d e lugares sagrados. Nas tradições his-

pagãos, a destruição d e ídolos e o batismo d e seu

tóricas indianas, M a h m u d passou a ser visto c o m o um

p o v o na forma greco-bizantina d o cristianismo. O

opressor tirânico q u e usava a religião para justificar a

batismo d e Vladimir decidiu a futura direção religiosa

destruição e o massacre d e hindus. N o Paquistão e no

d o p o v o russo e d e t e v e a expansão d o catolicismo

Afeganistão, ele é visto c o m o u m herói q u e lutou para

r o m a n o no leste eslavo. T B

propagar o islamismo pelo subcontinente indiano. J H


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Temores do milênio

Os vikings na América

Sinais e prodígios eram considerados indícios do fim iminente do mundo.

Leif Eriksson parte da Groenlândia rumo ao oeste e descobre a Vinlândia.

Existia u m a crença disseminada d e q u e a aproxima-

Leif Eriksson era filho d e I rik, o Vermelho, fundador da

ção d o fim d o primeiro milênio a p ó s o nascimento

colônia viking da Groenlândia. Ao ouvira história d e Bjar-

d e Cristo era u m prenuncio d o fim d o m u n d o e da

ni r lerjolfsson, capitão q u e alegava ter avistado uma cos

vinda d o Anticristo. Essas idéias apocalípticas per-

ta comprida e plana coberta d e árvores a oeste da Gro

m e i a m toda a história d o cristianismo, mas indícios

enlândia, Leif partiu para encontrá-la. Navegou rumo ao

s u g e r e m q u e f o r a m particularmente intensas, s o b r e -

norte pela r < isla.«i< li -i iial,, itravessou o atual estn •ito i li •

t u d o na França e na Inglaterra, no p e r í o d o c o m p r e -

Davis até a ilha Baffin e e m seguida rumou para o sul.

e n d i d o entre os anos 950 e 1050. Tal fato p o d e ser

Avistou a costa d o Labrador, coberta d e florestas c o m o

visto e m referências a e n c h e n t e s e escassez d e ali-

na descrição d e Bjarni, e seguiu até u m promontório gra

mentos, eclipses, c o m e t a s e t e m p e s t a d e s violentas.

m a d o q u e batizou d e Vinlândia. Embora as sagas escri

Apesar disso, é provável q u e os relatos d e u m " p â n i -

tas cerca d e 200 anos depois atribuam o n o m e às uvas

c o " q u e teria varrido a Europa c o m a c h e g a d a d o a n o 1000 sejam exagerados. O sistema d e i onlar os anos a partii d o n a s c i m e n to d e Cristo - o Anno

Domini,

a.d. - havia sido inventa-

d o poi u m m o n g e , Dionísio Exíguo, e m V > . Antes disso, a datação se baseava no a n o da f u n d a ç ã o d e Roma, o u n o reinado d e a l g u m monarca, o u ainda na suposta data d e criação d o m u n d o , o

"Lá não faltava salmão nem nos rios nem nos lagos." A n ô n i m o , Saga

de Erik, o Vermelho,

século XIII

AnnoMundi.

Dionísio calculava q u e Cristo havia nascido no

selvagens d o local, existe a probabilidade d e o n o m e

754 a n o após a f u n d a ç ã o d e Roma, q u e ele conside-

derivar da palavra nórdica antiga vin, q u e significa "pia

a

rava o a n o 1 A.D. Na verdade, seu cálculo estava errado,

(l<)". I eil | ) , ISSÍ m o inverno ali antes d e voltar à Groenlan

e Cristo provavelmente nasceu quatro anos antes.

dia. S e g u n d o as sagas, tentativas posteriores d e coloni

M e s m o assim, n o século X, seu sistema era aceito na

/ar a Vinlândia fracassaram - provavelmente devido à

maior parte da Europa Ocidental, e m b o r a não pela

hostilidade dos índios norte-americanos.

Igreja Ortodoxa oriental. T a m p o u c o o 1" d e janeiro era

A maioria dos especialistas hoje concorda q u e o

universalmente aceito na é p o c a c o m o dia d e ano-no-

desembarque d e Leif foi e m LAnse-aux-Meadows, no

vo. Para muitos, o a n o c o m e ç a v a e m 25 d e março,

extremo norte da Terra Nova. Na década d e 1960, ai

para outros e m 25 d e dezembro. M a s tratava-se d e

queólogos encontraram ali vestígios d e u m povoado

questões para m o n g e s e religiosos. A maioria das pes-

viking: alicerces d e casas d e turfa parecidas c o m as da

soas avaliava a passagem d o t e m p o pelo ciclo anual

Groenlândia e da Islândia e u m alfinete d e bronze d e

das estações d e semeadura, ceifa e colheita. S K

origem nórdica inconfundível. Em 1965, o Congresso americano decidiu q u e o 9 d e Outubro seria c o m e m o

O Manuscrito iluminado retratando o tipo de horror apocalíptico que se esperava com a chegada do milênio.

rado c o m o o dia d e Leif Eriksson, e m h o m e n a g e m ao primeiro europeu a pisar na América d o Norte. S K


Septima w â o fecunde pa tuii uml UlílTT D

urabqi monfin Cmulxaf Utwçiuf diuilXÊrootii mm íioimnw ikuur. ame quofi lur tpioddam ueluin tâqrn enfb Ixit g l u í u f à . âvechxt u{q. a d p j eoram evtentü nar; Ç>; "èaw? trnüraudtn^tíhv qitait iqâã m tteltir qiudã uermif mvte nu^i tudimt* 4 tonjjinidimf f Upm IA fiídetóuta qaWxmío dfitn p rfíbíld^uAmiíhn quaft &rw\v. u l n . d u n a e b < M m n » a r q | ; tieteii apfuníerr/nbi eru íjnidJ boram mirtm cãmuxz cnmnrc(-viiVlxv ímemêhmâmr. quUaanrnx pide mrcd ^umâuióm 4 cmpw mitoraftítelunn llmraf ãxtv íh^plenitfeKirr qíkj. t u r c ;

acapue ^wennf* iúu u£fc a^p


Mahmud saqueia o Punjab Mahmud de Ghazni dá início à primeira das 17 invasões da índia, e ainda é lembrado por sua conspurcação dos templos hindus. I tn 1001, M a h m u d , emir d e Ghazni, no Afeganistão, invadiu a índia, derrotou Jaipal, rajá d e Lahore, e saqueou o Punjab. Ao voltar da campanha, M a h m u d , muçulmano militante, adotou o título d e Ghazi ("valoroso em n o m e da fé"). Essa foi apenas a primeira d e 17 grandes expedições d e pilhagem q u e ele faria ao subcontinente, culminando e m 1025 c o m u m ataque ao santuário hindu d e Somnath, no Gujarat, o n d e se alega q u e até 50 mil pessoas tenham morrido. M a h m u d destruiu pessoalmente o lingam

(símbolo sagrado) d e Shiva d o t e m -

plo e levou os pedaços na volta para Ghazni para que fossem incorporados aos degraus d e uma mesquita e pisoteados diariamente pelos fiéis. Embora M a h m u d tenha a c a b a d o por conquistar o Punjab, o principal objetivo d e suas incursões era saquear, não anexar territórios. Cada força expedicionária voltava a Ghazni c o m comboios d e carroças repletos d e pilhagem e multidões d e prisioneiros destinados aos mercados d e escravos d o m u n d o muçulmano. M a h m u d usou os saques para embelezar Ghazni, apoiar estudiosos e artesãos e financiar novas campanhas. No Afeganistão e no Paquistão, M a h m u d é considerado u m herói; na índia, é odiado por ter destruído t a n tos lugares sagrados hindus. Não há consenso entre os historiadores quanto à verdadeira extensão da antipatia d e M a h m u d e m relação ao hinduísmo. Alguns alegam q u e seus ataques a templos hindus eram motivados apenas pelo desejo d e roubar suas riquezas, mas a destruição violenta d o lingam

d e Somnath e d e outros ído-

los hindus torna esse argumento difícil d e sustentar. J H

O

A Coluna da Vitória, construída durante o reinado de M a h m u d d e Ghazni na estrada entre Ghazni e Rowza.

O

Ruínas d o templo de S o m n a t h , no estado d o Gujarat, índia, com o aspecto que tinham e m 1899.


1002 8 DE A G O S T O

1009 17 DE O U T U B R O

Morte de Almançor

Santo Sepulcro destruído

A perda da Espanha muçulmana dá início ao declínio do califado de Córdoba.

O califa al-Hakim ordena a destruição da igreja onde jazia o túmulo de Cristo.

No dia 8 d e a g o s t o d e 1002, o líder extra-oficial da

O sexto califa fatímida d o Egito, al-Hakim, foi u m dos li

Espanha m u ç u l m a n a , A b u 'Amir al Mansur ("Alman-

deres mais excêntricos da história d o Islã. A o contrário

çor" para os inimigos cristãos), morreu e m Calataha-

d e seus predecessores, que haviam demonstrado gran-

zor lutando contra os exércitos c o m b i n a d o s dos rei-

d e tolerância religiosa, al-Hakim foi u m xiita fanático

nos cristãos d e Castela e Leão. Foi a última d e nada

que perseguiu ativamente cristãos, judeus e muçulma-

m e n o s d e 57 c a m p a n h a s lideradas por Almançor

nos sunitas. Alguns historiadores acreditam q u e ele era

contra os reinos cristãos d o norte da Espanha. U m

esquizofrênico. E m público, os cristãos eram forçados a

cronista escreveu q u e Almançor "havia sido arrebata-

usar chapéus negros e pesadas cruzes d e madeira

d o p e l o Diabo e enterrado n o Inferno".

meio metro e m volta d o pescoço. Al-Hakim era muito

de

Nascido M u h a m m a d ibn A b u 'Amir, Almançor

temido por suas leis arbitrárias, uma das quais proibia o

alcançou o p o d e r a partir d e uma o r i g e m humilde,

xadrez, outra o c o n s u m o d e uvas, e por seus igualmente arbitrários assassinatos d e oficiais, poetas, juizes,

mé-

"Nunca existiu nem existirá alguém que se compare a Almançor"

dicos, generais, cozinheiros, atendentes d e banho e es

Historia

Igreja d o Santo Sepulcro, e m J e r u s a l é m . Os muros da

Silense,

Miscelânea, século XI

cravos. E m 1005, ele m a n d o u matar todos os cachorros d o Egito por estar incomodado c o m seus latidos. A perseguição d e al-Hakim aos cristãos atingiu o ápice e m 1009, q u a n d o ele o r d e n o u a destruição da igreja loram postos abaixo, e a Edícula - o t ú m u l o ( I r

c o m o secretário e suposto a m a n t e da m ã e d o j o v e m

Cristo - foi vandalizada c o m martelos e picaretas. O

califa o m í a d a Hisham II (que reinou entre 976 e 1009).

califa t a m b é m o r d e n o u a destruição da Igreja da Na

Ele d e r r u b o u e s u c e d e u a o vizir e m 978. Depois d e

tividade, e m B e l é m , mas os m u ç u l m a n o s da cidade

intensificar seu p o d e r sobre o califado, já exercia c o n -

se recusaram a cumprir suas ordens.

trole s u p r e m o e m 9 8 1 , q u a n d o a d o t o u o título d e

Al-Hakim d e s a p a r e c e u e m circunstâncias

mlste

al-Mansur bi Allah ("feito vitorioso por Deus"). E m 994,

riosas e m 1021, quase c e r t a m e n t e assassinado, paia

a d o t o u o título d e al-Malik al-Karim ("Nobre Hei"), re-

g r a n d e alívio d e todos, c o m exceção dos seguidores

l e g a n d o o califa a u m papel m e r a m e n t e simbólico

da seita xiita dos drusos, q u e o consideravam

d e chefe d e Estado.

e n c a r n a ç ã o d e Alá. Os drusos xiitas atuais acreditam

Para possibilitar suas c a m p a n h a s contra os cristãos, Almançor recrutou milhares d e mercenários ber-

uma

q u e al-Hakim u m dia voltará c o m o o profetizado ie dentor M a h d i e trará justiça ao m u n d o .

beres d o norte da África, o g u e exacerbou as tensões

Embora a Igreja d o Santo Sepulcro tenha sitio

dentro d o califado. Embora Almançor tenha posto a

reconstruída e m 1048, sua destruição fez muitos 11 Is

Espanha cristã na defensiva, sua usurpação d o poder

tãos acreditarem q u e J e r u s a l é m deveria ser devolvi

minou o respeito pelo califa. Sua morte a c a b o u c o n -

da ao controle cristão, o q u e contribiu diretamente

duzindo à q u e d a d o califado. J H

para o m o v i m e n t o das Cruzadas. J H


1014 14 DE FEVEREIRO

0 santo imperador da Germânia A vitória de Henrique II sobre Arduíno, seu rival pelo trono da Itália, abre caminho para sua coroação como sacro imperador romano. Henrique II foi o último dos sacros imperadores romanos saxões o t o n i a n o s e o ú n i c o rei g e r m â n i c o a ser c a n o n i z a d o (pelo papa E u g ê n i o III, e m 1146). Após derrotar Arduíno d e Ivrea e m 1014, Henrique foi coroad o sacro imperador romano. Apesar da canonização e da forte fé religiosa d e Henrique, c o m o rei ele estava longe d e ser santo. Seu principal legado foi ter lutado para fortalecer os sólid o s v í n c u l o s e n t r e Igreja e E s t a d o iniciados por O t o I, primeiro sacro imperador romano-germânico. E m 1002, q u a n d o subiu a o t r o n o da G e r m â n i a , Henrique II não tinha apoio generalizado. Ele logo tratou d e assegurar seu poder apoderando-se das insígnias reais d o primo O t o III assim q u e este morreu, e e m seguida passou os dois primeiros anos d e seu reinado consolidando o Irono germânico e confrontando Arduíno, seu rival pelo trono da Itália. Arduíno foi subjug a d o sem grandes dificuldades, e Henrique foi coroad o rei da Itália na cidade d e Pavia e m 15 d e maio d e 1004. Arduíno tornou a se rebelar e m 1013, mas foi rapidamente derrotado. Foi essa vitória q u e levou Henriq u e a se tornar sacro imperador romano. O reinado d e Henrique é importante porque a j u risdição dos bispos se fortaleceu e m relação aos m o s teiros e seu poder temporal passou a abarcar amplos territórios. Henrique defendia a reforma eclesiástica e era partidário d o celibato clerical. Pensa-se q u e ele e a esposa, Cunegunda d e Luxemburgo, tenham feito voto m ú t u o d e castidade. Seu casamento não gerou n e n h u m filho, e portanto n e n h u m herdeiro. Henrique trabalhava para transformar suas reformas eclesiásticas e m lei q u a n d o morreu subitamente e m 1024. T B

O

Manuscrito iluminado retratando Henrique II como santo, c o m a espada e m uma das mãos e a cristandade na outra.


054

1055 18 DE D E Z E M B R O

Ruptura na Igreja

Bagdá turca

A cristandade se divide em catolicismo ocidental e ortodoxia oriental.

Os turcos seljúcidas deixam sua marca ao capturar e assumir o controle de Bagdá.

I m uma tarde d o verão d e 1054, q u a n d o a missa esta-

A sorte o u infortúnio d e Bagdá a c o m p a n h a v a m d e

va prestes a c o m e ç a r na Basílica d e Santa Sofia, e m

perto os d e seus fundadores, os abássidas. D e cidade

onstantinopla, o cardeal H u m b e r t o e dois outros le-

esplêndida no séc ulo IX, Bagdá declinou aos poin i

lados pontifír. ios a d e n t i a i a m o bastião da ortodoxia

no século X, q u a n d o o califado abássida se fragmen

1

grega e passaram pelos fiéis reunidos para assistir à li-

tou e m meia dúzia d e emirados independentes. A

turgia sagrada. I lumberto sacou uma bula papal d e

conquista d e Bagdá pelos buídas da Pérsia e m 945 fi-

excomunhão, pronunciou as palavras " Q u e Deus veja

nalmente p ô s fim a o poder territorial dos abássidas,

e julgue" e pôs o d o c u m e n t o sobre o altar. I mbora u m

ma',, d e v i d o a seu prestígio residual, eles conservaiani

diácono tenha lhe implorado para revogar a e x c o m u -

o califado c o m o u m cargo p u r a m e n t e espiritual.

nhão, o cardeal H u m b e r t o recusou, e o decreto papal

Apesar disso, os buídas xiitas tratavam os califas

se tornou realidade. Nessa noite, rebeliões varreram a

sunitas c o m desprezo patente, forçando-os a ceie-

cidade enquanto a notícia da e x c o m u n h ã o se espalhava c o m rapidez. Embora esse acontecimento dramático tenha marcado a cisão formal da Igreja Cristã entre o Oriente grego ortodoxo e o Ocidente latino, as tensões crescentes entre a cristandade latina e a grega já duravam muitos anos. Os dois ramos vinham se aíastando < ulluial e lin

"Saibam que Bagdá foi grande no passado, mas agora está virando ruínas." A l M u q q a d a s s i , g e ó g r a f o á r a b e , c. 1 0 0 0

güisticamente havia a l g u m tempo, mas a derradeira ruptura foi provocada sobretudo por disputas e m rela-

brar festivais xiitas. Embora os buídas t e n h a m c o n

ção ao e s c o p o da autoridade papal. E m termos simpli-

servado diversos magníficos palácios e m Bagdá, a

ficados, o papa Leão IX alegava deter a autoridade pri-

c i d a d e p e r d e u preeminência c o m o centro cultuial

mária sobre os patriarcas orientais, enquanto o Oriente

islâmico e, n o a n o 1000, já havia sido ultrapassada

sustentava q u e a autoridade papal era apenas honorá-

nesse a s p e c t o pelo Cairo, por Córdoba e por Ghazni.

ria e que o papa não tinha poder d e forçar as decisões dos conselhos ecumênicos orientais.

O califado conseguiu certa liberação c o m o an mento d e poder dos turcos seljúcidas - nômades <. e n

Tentativas d e reunificar as duas igrejas e m 1274 e

tro-asiáticos convertidos ao islamismo sunita poi volta

1439 fracassaram, e as duas metades da cristandade

d o a n o 1000. E m 1054, seu líder, Toghril Beg, atendeu a

cindidas. E m 1965 foram

um pedido do califa al-Qaim e invadiu o emirado I n iii 1.1;

iniciadas negociações para resolver as diferenças e n -

e m 18 d e dezembro d e 1055, o califa o recebeu c o m o

permaneceram

firmemente

tre as duas Igrejas e decretos mútuos d e e x c o m u n h ã o

libertador e m Bagdá. Embora o califado não tenha fica

foram revogados. Então, e m 13 d e d e z e m b r o d e 2006,

d o mais independente d o que sob os buídas, ao menos

o arcebispo Christodoulos tornou-se o primeiro líder

tinha u m líder que se mostrava favorável. Depois disso,

da Igreja Grega Ortodoxa a fazer uma visita oficial ao

os turcos emergiram c o m o personagens importante',

Vaticano. T B

d o m u n d o muçulmano. J H



Guilherme derrota Haroldo na Batalha de Hastings Guilherme, duque da Normadia, conquisto a Inglaterra depois da morte de Haroldo. Na mais decisiva batalha jamais travada e m solo inglês, os cavaleiros d e Guilherme, d u q u e da Normandia, infligiram uma notória derrota ao exército d o rei Haroldo II, q u e correra para o sul logo após a Batalha da Ponte Stamford a o ter notícia da invasão d e Guilherme. Este afirmava q u e o rei Eduardo, o Confessor havia lhe prometido o trono da Inglaterra, mas Haroldo, embora t e nha prestado juramento para apoiar Guilherme, fora coroado e m seu lugar depois da morte d e Eduardo e m janeiro d e 1066. Assim, depois d e obter o a p o i o d o papa na empreitada, G u i l h e r m e zarpou r u m o à I n glaterra à frente d e uma frota d e invasão. A Tapeçaria d e Bayeux, grande painel bordado feito por volta d e 1070 para o meio-irmão d e Guilherme, O d o , bispo d e Bayeux, mostra uma longa série d e cenas dramáticas q u e conduziram à histórica invasão d e Guilherme e à batalha e m si. N o início, o exército n o r m a n d o c o m p o s t o d e cavalaria e arqueiros não p a receu impressionar os cansados infantes d e Haroldo, aparentemente firmes por trás d e uma barreira d e escudos. E m meio à confusão, pode-se ver a figura d e Guilherme g u e se vira e ergue o capacete para e n c o rajar sua cavalaria a atacar. Ele ordena aos arqueiros q u e atirem por cima da barreira d e escudos, e Haroldo O Coroação de Guilherme, o Conquistador, iluminura de um manuscrito flamengo do final do século XV.

O O rei Haroldo é ferido mortalmente por uma flecha (Batalha de Hastings, 1066), da Tapeçaria d e Bayeux, século XI.

aparentemente é morto por uma flechada n o olho. O exército d e Haroldo então d e b a n d a e Guilherme s e g u e para Londres, o n d e é coroado rei da Inglaterra. E m dois anos, Guilherme, q u e entrou para a História c o m o Guilherme, o Conquistador, já havia assu-

"Aqui morreu o rei Haroldo e fugiram os ingleses."

m i d o o controle d o país inteiro, sufocando brutal-

T a p e ç a r i a d e B a y e u x , c. 1070

e o f r a n c ê s n o r m a n d o tornou-se a língua da c o r t e .

m e n t e rebeliões n o norte e oeste. Ele r e c o m p e n s o u seus seguidores c o m terras, substituindo a nobreza inglesa por n o r m a n d o s , bretões e flamengos. 0 D i reito e o feudalismo n o r m a n d o s foram introduzidos, A Inglaterra nunca mais seria a m e s m a . S K


1072 10 DE J A N E I R O

Palermo é tomada por Roberto Guiscardo A vitória normanda é o primeiro passo em direção ao Reino das Duas Sicílias. Durante o século XI, u m fluxo d e aventureiros norm a n d o s turbulentos e sem terras r u m o u para o sul até a Itália e m busca da o p o r t u n i d a d e d e conquistar u m território importante. O mais o u s a d o e e m p r e e n d e d o r desses saqueadores vikings foi Roberto Guiscardo, sexto dos 12 filhos d e Tancredo d e Hauteville. O apelido Guiscardo significa " c o m o uma raposa" o u "astuto", e Roberto d e m o n s t r o u talento tanto para a diplomacia política q u a n t o para a e n g e n h o s i d a d e militar. E m 1509, ele fez uma aliança c o m o papa, q u e aceitou reconhecer Roberto c o m o d u q u e da Apúlia e da Calábria e "futuro" d u q u e da Sicília caso consequisse conquistar e manter esse território, pelo qual pagaria ao papa u m aluguel anual d e 20 pence

por

u n i d a d e d e terra arável. Roberto levou 10 anos para tirar os bizantinos da Calábria, expulsando-os d e seu último bastião e m Bari e m abril d e 1071. E m seguida, ele c o n c e n t r o u sua a t e n ç ã o na Sicília, na é p o c a controlada pelos árabes. J u n t o c o m o irmão Rogério, cruzou rapidamente o estreito d e Messina e sitiou Palermo, q u e se r e n d e u

IV

1

íW

e m janeiro d e 1072. Após n o m e a r o irmão "conde d e Calábria e Sicília", Roberto deixou-o e n c a r r e g a d o d e c o m p l e t a r a conquista da ilha, finalmente concluída e m 1091. O filho d e Rogério, Rogério II (c. 1095-1154), d e u prosseguimento à c a m p a n h a , unificando mais

O

I m a g e m oitocentista de Roberto Guiscardo a p o n t a n d o na direção da Sicília.

"[Os normandos da Itália] são ávidos e cobiçosos de lucro e poder..." G e o f f r e y M a l a t e r r a , c r o n i s t a , c. 1100

tarde todas as terras n o r m a n d a s no sul da Itália e na Sicília para criar o Reino das Duas Sicílias, q u e sobrev i v e u c o m o e n t i d a d e política i n d e p e n d e n t e na Itália até o século XIX. A última aventura d e R o b e r t o G u i s c a r d o foi atacar o I m p é r i o Bizantino e m u m a tentativa d e se fazer coroar i m p e r a d o r n o lugar d o d e p o s t o M i g u e l VII. Entretanto, ele m o r r e u d e febre aos 70 anos d u rante o c e r c o à ilha d e Cefalônia, e m 17 d e j u l h o d e 1085. S K


1077 25 DE J A N E I R O

0 sacro imperador romano passa frio ao relento Henrique IV faz penitência e submete-se ao papa Gregório VII em Canossa. Nos primeiros dias d e seu p a p a d o , Gregório VII e n f u receu o sacro imperador r o m a n o Henrique IV (10501106) a o m u d a r as regras d e investidura dos bispos para não precisar obter a a p r o v a ç ã o d o imperador. Seguiu-se u m e m b a t e entre o rei g e r m â n i c o e o p a pado. I lenrique retaliou rejeitando Gregório c o m o papa, e este revidou e x c o m u n g a n d o H e n r i q u e e retirando o a p o i o a seu direito ao trono g e r m â n i c o . H e n rique precisava encontrar uma forma d e tornar a se aproximar da Igreja e recuperar o a p o i o d o papa. E m u m a decisão crucial, Gregório d e u a Henriq u e u m a n o para tentar se redimir antes d e a e x c o m u n h ã o se tornar definitiva. Para Henrique, a hora escolhida n ã o poderia ser m e n o s propícia, pois seus nobres e s t a v a m c o m e ç a n d o a se rebelar. Ele precisava q u e o d e c r e t o papal fosse r e v o g a d o antes d e p o der lidar < o i n rebeliões internas. S e m sapatos e usando uma camisa d e penitente, Henrique partiu e m v i a g e m para cruzar os Alpes e m janeiro d e 1077. N o dia 25, c h e g o u a Canossa e pediu uma audiência c o m o papa Gregório. O papa r e c u sou-se a receber Henrigue, e o rei e s p e r o u três dias e m pé, descalço e c o n g e l a n d o na neve. Por fim, G r e gório aceitou receber o rei. Q u a n d o Henrique se a j o e lhou na sua frente e implorou perdão, tornou a ser acolhido na Igreja. Mas Henrique ainda teria a última palavra. E m 1084, ele invadiu a Itália, sitiou R o m a e d e p ô s Gregório VII.

O O imperador Henrique IV em Canossa, /077{1862),porEduard Schwoiser (1826-1902), mostra o soberano fazendo penitônc i.i.

Os a c o n t e c i m e n t o s d e Canossa adguiriram i m portância nos anos subseqüentes. E m especial, a resistência d e H e n r i q u e à interferência d o papa serviu d e atrativo para os partidários da Reforma protestante d o século XVI. A l é m disso, para os alemães, C a n o s sa é u m símbolo da resistência d e seu país à interferência externa da Igreja Católica Romana. T B

"Descalço, [Henrique] permaneceu em pé, sem comer, da manhã até a noite." L a m b e r t o d e H e r s f e l d , Anais, o 1077


Conclusão do Domesday Book Guilherme ordeno um inventário de todas as propriedades dos ingleses. Foi enquanto passava o Natal c o m sua corte e m Gloucester q u e Guilherme, o Conquistador decidiu enviar equipes d e funcionários para percorrerem a Inglaterra compilando informações sobre o território. Ele queria saber a q u e m pertenciam as terras e quanto valiam as casas e rebanhos. 0 levantamento foi u m trabalho hercúleo - comparável a u m censo m o d e r n o

e nada do

tipo jamais havia sido tentado. A coleta d e informações ocorreu entre janeiro e agosto, e os resultados foram anotados e m dois grandes livros. Nas palavras d o filósofo setecentista David Hume, esses livros são "a antigüid a d e mais valiosa que uma nação p o d e possuir". 0 n o m e " D o m e s d a y " v e m da antiga palavra i n glesa dom,

q u e significa " c ô m p u t o " o u "contagem".

N i n g u é m t e m muita certeza d o q u e levou G u i l h e r m e a e n c o m e n d a r o l e v a n t a m e n t o . U m a explicação p o s sível é q u e ele estivesse t e n t a n d o cobrar u m imposto para d e f e n d e r o território da a m e a ç a d e invasão danesa - o u talvez ele a p e n a s quisesse saber o máximo possível sobre as terras q u e havia c o n q u i s t a d o 20 anos antes e q u e só então passara a controlar d e forma efetiva. O trabalho histórico está separado por c o n d a dos, e a s e ç ã o sobre cada u m deles c o m e ç a c o m uma lista d e proprietários d e terras: primeiro o rei, d e p o i s todos os seus vassalos diretos. As seções forO

O frágil Domesday Book original é conservado no Arquivo

n e c e m u m retrato incrivelmente d e t a l h a d o d e cada

Nacional de Londres.

manor

o u propriedade inglesa da é p o c a (um vilarejo

e as terras a o seu redor), incluindo o n ú m e r o d e por-

"...não sobrou boi, vaca ou porco que não fosse registrado nesse livro." Crônica anglo-saxã

cos e bois. O l e v a n t a m e n t o mostra o q u ã o drasticam e n t e a Inglaterra havia sido afetada pela conquista n o r m a n d a . M e n o s d e 250 pessoas controlavam a maior parte d o território e, dentre t o d o s os vassalos diretos d o rei, a p e n a s dois e r a m ingleses. Os demais eram estrangeiros, n o r m a n d o s e flamengos, q u e h a v i a m a c o m p a n h a d o G u i l h e r m e e m 1066. S K


Bolonha torna-se uma cidade de estudos A Escola de Jurisprudência de Bolonha inaugura a primeira universidade européia. O a n o d e 1088 é a m p l a m e n t e aceito c o m o a data e m que a Universidade d e Bolonha surgiu c o m o instituição i n d e p e n d e n t e d o controle eclesiástico. A universidade é u m a das primeiras d o m u n d o , e a mais antiga da Europa Ocidental. U m dos primeiros estudiosos d e Bolonha d e q u e se t e m registro é Irnério, fundador da Escola d e Jurisprudência e m a l g u m m o m e n t o entre 1084 e 1088. Irnério foi professor na universidade e especializou-se no c ó d i g o jurídico romano, o Corpus

Júris Civilis,

esta-

belecido entre 529 e 534 por o r d e m d o imperador b i zantino Justiniano I e então redescoberto no século XI. O trabalho d e Irnério culminou c o m seu resumo das leis d e Justiniano, o Summa

Codicis,

importante está-

gio d o d e s e n v o l v i m e n t o cultural da s o c i e d a d e e u ropéia q u e e s t a b e l e c e u as bases d e u m sistema d e leis escritas, sistemáticas e racionais. A universidade c o n q u i s t o u a r e p u t a ç ã o d e c e n tro d e excelência nas áreas da ciência e das h u m a n l d a d e s . E m troca d e seu trabalho d e c o d i f i c a ç ã o das eis romanas, e v i n c u l a n d o sua a u t o r i d a d e à d o sacro i m p e r a d o r r o m a n o , a instituição r e c e b e u

em

1158 d o i m p e r a d o r Frederico I Barbarrossa u m a d e claração q u e r e c o n h e c i a seu status c o m o lugar d e a p r e n d i z a d o e pesquisa c a p a z d e se d e s e n v o l v e r i n d e p e n d e n t e m e n t e d e pressões externas. A universidade era p a r t i c u l a r m e n t e liberal para a é p o c a . Diz-se q u e u m a mulher, Bettisia Gozzandini, e s t u -

O O ensino do Direito na Universidade de Bolonha, de u m manuscrito italiano quatrocentista.

d o u ali n o final d o século XI. S e g u n d o os boatos, ela teria d e p o i s l e c i o n a d o na universidade e d a d o p a lestras d i a n t e d e g r a n d e s g r u p o s . A p ó s u m período d e declínio durante o século XIX, a universidade foi h o m e n a g e a d a e m 1988 q u a n d o representantes da c o m u n i d a d e a c a d ê m i c a

do

m u n d o inteiro celebraram o status d e Bolonha c o m o a m ã e d e todas as universidades. T B

"Cada universidade deve... garantir a proteção à liberdade de seus alunos." Magna

Charta

Universitatum

Europaeum,

1988


"E a vontade de Deus!" O papa Urbano II faz um discurso arrebatado para lançar a Primeira Cruzada.

O A chegada de Urbana II ao Concilio de Clermont, 1095; Urbano convoca a Primeira Cruzada, de uma iluminura francesa do século XIV. N u m a colina nos arredores d e C l e r m o n t , c e n t r o da

milites

França, o p a p a U r b a n o II dirigiu-se a u m a m u l t i d ã o

companheiros cristãos d o Oriente, mas sem sucesso.

Christi

("soldados d e Cristo") para acudirem seus

d e bispos, n o b r e s e c i d a d ã o s e c o n v o c o u os c a v a -

D e s d e então, relatos d e atagues m u ç u l m a n o s a p e r e -

leiros da c r i s t a n d a d e o c i d e n t a l a p a r a r e m d e lutar

grinos cristãos haviam gerado uma nova atitude d e

e n t r e si. E m v e z disso, d e v e r i a m usar suas e s p a d a s

fervor religioso n o Ocidente, e o c h a m a d o d o papa foi

para o serviço d e D e u s e libertar J e r u s a l é m d o s m u -

recebido c o m entusiasmo. E m 1096, milhares d e pes-

ç u l m a n o s . Suas palavras tiveram efeito eletrizante e

soas, e m especial da França, Países Baixos e Germânia,

seu discurso foi i n t e r r o m p i d o por gritos d e

já haviam jurado solenemente fazer a longa e perigo-

vult!"

"Deus

("É a v o n t a d e d e Deus!").

sa v i a g e m até o Oriente Médio.

U r b a n o estava r e s p o n d e n d o a u m apelo por aju-

O discurso d e Urbano marcou o início das Cruza-

da militar d o Ocidente lançado pelo imperador bizan-

das, que por vários séculos iriam opor cristãos e m u ç u l -

tino Aleixo II. N ã o era o primeiro apelo desse tipo. P o u -

manos. M e s m o q u e alguns dos candidatos à Primeira

co depois d e os turcos seljúcidas terem arrasado u m

Cruzada, por ambição, buscassem ganhos pessoais, a

exército bizantino e m Manzikert e m 1071 econguista-

grande maioria era levada a se alistar pela fé e pela pro-

d o a Anatólia, o papa Gregório VII havia c o n v o c a d o os

messa d e recompensa no paraíso. S K


A Cruzada do Povo Os entusiasmados mas inexperientes seguidores de Pedro, o Eremita unem-se à cruzada.

O Detalhe de Viagens ao ultramar (Passages faits Outremer), c. 1490, de Sébastien Marmoret, mostra uma batalha da Cruzada d o PovOi

Pedro, o Eremita (oi e m prcqadoi c aiismátk o que ,ilen

ram a Nicómédia (atual Izmir, na Turguia). Uma vez na

d e u a o c h a m a d o d o papa Urbano II para uma cruzada.

Ásia Menor, os cruzados c o m e ç a r a m a brigar entre sl, e

N o verão d e 1096, ele conduziu pela Hungria até o

Pedro voltou para Constantinopla. Durante sua ausên

Oriente Médio u m desorganizado exército d e cavalei-

cia, os inexperientes cruzados foram emboscados por

ros e camponeses conhecido c o m o a Cruzada d o Povo,

u m exército seljúcida e aniquilados.

na frente da formação principal da Primeira Cruzada.

Outro g r u p o inspirado pelas pregações d e Pedro

S e g u n d o alguns relatos, o número d e pessoas chegava

t a m p o u c o conseguiu chegar a Jerusalém. Dez mil i r

a 100 mil, incluindo mulheres e crianças. C o m o haviam

crutas germânicos foram convencidos por seus líderes

partido antes da colheita, tinham poucos víveres e r e -

d e que, assim c o m o os muçulmanos, os judeus i a m

fúria

corriam a roubos. M e s m o antes d e chegarem a Cons-

b é m eram inimigos d e Cristo. Voltaram então sua

tantinopla, a notícia d e seu avanço desregrado chegara

para c o m u n i d a d e s judaicas ao longo d o Reno, massa

aos ouvidos d o imperador bizantino Aleixo II. Apavora-

crando q u e m recusasse a conversão. Os c o n t e m p o i â

d o c o m a chegada d e uma força tão numerosa e indis-

neos reagiram horrorizados à notícia das matanças,

ciplinada, ele organizou o transporte dos cruzados até o

hoje vistas c o m o indicação precoce d e u m anti-semi-

outro lado d o Bósforo e, e m 6 d e agosto, estes c h e g a -

tismo crescente na Europa Ocidental. S K


Os monges rejeitam a vida fácil

fU

A Ordem de Cister é fundada por um grupo de monges ansiosos por uma reforma.

4f.

E m 1098, u m p e q u e n o g r u p o d e m o n g e s , insatisfeito c o m o q u e considerava a vida fácil d e sua Abadia d e M o l e s m e , na Borgonha, partiu para fundar u m n o v o mosteiro. O s m o n g e s desejavam aderir d e forma mais estrita às regras d e S ã o Benedito, e eram liderados por seu a b a d e , Roberto d e M o l e s m e , q u e n ã o conseguira reformar os m o n g e s da abadia. Roberto já havia tentado deixar M o l e s m e duas vezes, m a s e m a m b a s as ocasiões o papa ordenara sua volta. Dessa vez, as ligações d e sua família c o m a aristocracia da C h a m p a g n e havia resultado e m uma promessa d e terras feita por R e n a u d , v i s c o n d e d e B e a u n e , e Roberto estava d e c i d i d o a não voltar n e m deixar g u e os c o m p a n h e i r o s o fizessem. A terra era p o u c o mais d o q u e u m vale deserto, mas isso não i m pediu Roberto d e fundar o n o v o mosteiro d e Citeaux. Ele só voltou a M o l e s m e u m a n o depois, q u a n d o os m o n g e s d e lá c o n c o r d a r a m e m seguir sua interpretaç ã o mais estrita das regras beneditinas. S o b a liderança d e dois seguidores d e Roberto, Alberico e mais tarde Estêvão Harding, Citeaux tornouse o primeiro mosteiro da O r d e m d e Cister, e a Carta da Caridade d e Harding passou a servir d e base para o monasticismo ocidental. A O r d e m d e Cister g a n h o u prestígio n o século XII g u a n d o Bernardo, superior da abadia d e Clairvaux, interveio n o cisma papal d e 1130-

O Aparição da Virgem a São Bernardo, detalhe do políptico

1138. À m e d i d a q u e a influência d e Bernardo c r e s -

As vidas dos santos (1353-1363), d e G i o v a n n i da Milano.

cia, o m e s m o acontecia c o m a da O r d e m d e Cister. Então, e m 1145, n o q u e foi c o n s i d e r a d o u m triunfo

"Eles parecem ser pouco menos do que anjos, mas muito mais do que homens" Guilherme d e Saint-Thierry descreve Clairvaux, c. 1143

para a o r d e m , o a b a d e d o mosteiro cisterciense d e A q u a e Silviae, p e r t o d e R o m a , foi eleito papa E u g ê nio III. Entre 1130 e 1145, q u a s e 100 mosteiros cistercienses f o r a m f u n d a d o s e m t o d a a Europa. Apesar d e s e u c o n s e r v a d o r i s m o , acredita-se q u e t e n h a m d e s e m p e n h a d o p a p e l i m p o r t a n t e na p r o p a g a ç ã o d e técnicas agrícolas m e l h o r a d a s . T B


Queda de Jerusalém Os cruzados assumem o controle de Jerusalém em meio a uma terrível carnificina. "A carnificina foi tão grande que nossos h o m e n s chafurdavam e m sangue até os tornozelos." Foi essa a descrição d o autor a n ô n i m o da Gesta Francorum

(c. 1100-1101)

para o q u e aconteceu depois que o exército da Primeira Cruzada conseguiu derrubar as muralhas d e Jerusalém e entrar na cidade. Fazia mais d e dois anos que o exército - c o m p o s t o e m sua maioria d e cavaleiros e nobres franceses, c o m u m contingente d e normandos d o sul da Itália - deixara Constantinopla para iniciar a mar< ha rumo a Jerusalém. Retidos durante oito meses na cidade d e Antioquia, q u e a c a b o u se r e n d e n d o e m j u n h o d e 1098 (graças à milagrosa intervenção da Lança Sagrada, seg u n d o alguns), a cruzada t a m b é m se atrasou devido a desentendimentos c o m os bizantinos e disputas entre seus próprios líderes. B o e m u n d o d e Taranto, e m e s p e cial, causava problemas, mas conseguiu se fazer n o m e ar príncipe d e Antioquia e deixou a cruzada. Durante t o d o esse t e m p o , os cruzados vinham c o m b a t e n d o os turcos seljúcidas, mas c o m e ç a r a m então a invadir o território dos califas fatímidas do Cairo, q u e haviam recapturado Jerusalém dos seljúcidas e m agosto d e 1098. Q u a n d o os exaustos cruzados a c a m p a r a m e m frente a Jerusalém no dia 7 d e junho d e 1099, restavam apenas 1.200 cavaleiros d o exército d e sete mil homens g u e partira da Europa. E m 15 d e julho, os homens de Godofredo d e Bouillon ocuparam uma porção significativa das muralhas e conseguiram abrir os portões da

O O saque de Jerusalém após a captura pelos cristãos em W') ), 1

miniatura iluminada de 1440.

cidade. Ao longo dos dois dias seguintes, os cruzados assassinaram indiscriminadamente quase todos os habitantes, fossem eles muçulmanos o u judeus, e até alguns cristãos orientais. M e s m o os que haviam buscado refúgio na mesquita d e Al Aqsa foram mortos sem piedade. Godofredo d e Bouillon tornou-se o novo governador cristão da cidade, adotando o título d e SanctiSepulchri,

Advocatus

ou "Defensor d o Santo Sepulcro". S K

"Daqui a cinco semanas estaremos em Jerusalém, a menos que sejamos retidos em Antioquia." E s t ê v ã o d e Blois e m carta à e s p o s a , j u n h o d e 1097


A terrível vingança de um tio Um caso de amor com Heloísa tem conseqüências pavorosas para Pedro Abelardo, maior teólogo e filósofo de sua época. Q u a n d o lecionava na escola da Catedral d e NotreD a m e , e m Paris, Pedro Abelardo tornou-se professor d e Heloísa, sobrinha d e 17 anos d o c ô n e g o , Fulberto. Ficou impressionado c o m a inteligência e e d u c a ç ã o da m o ç a ; os dois se apaixonaram, tiveram u m filho e casaram-se e m segredo. Mas Fulberto vingou-se d e forma terrível m a n d a n d o castrar Abelardo. A p e d i d o d e Abelardo, Heloísa tornou-se freira, e n q u a n t o ele entrou para u m mosteiro. Mais tarde, Abelardo voltou a lecionar. Ele morreu e m 1142 e foi enterrado n o Paracleto. O c o r p o d e Heloísa foi sepul-

"Heloísa... era a melhor das mulheres em virtude da riqueza de seu saber." P e d r o A b e l a r d o , Historia

Calamitatum,

c. 1132

t a d o n o m e s m o t ú m u l o . E m 1817, os restos mortais dos dois foram transferidos para u m sepulcro m o n u mental n o recém-inaugurado cemitério d o Père-Lachaise, e m Paris. Trata-se d e uma das mais famosas histórias d e amor d o m u n d o , g u e inspirou poemas, romances, quadros e peças d e teatro. O q u e muitas vezes se deixa d e m e n cionar é a importância muito real d e Abelardo c o m o professor e pensador e m uma época e m que o aprendizado estava c o m e ç a n d o a ser revalorizado por toda a Europa. A l é m d e teólogo, ele foi t a m b é m poeta e músico, e seu pensamento teve considerável influência sobre estudiosos medievais Europa afora. S K O Detalhe de Abelardo e sua aluna Heloísa (1882), por Edmund B l a i r L e i g h t o n (1853-1922).


Uma nova época Song Gaozong estabelece a dinastia Song do sul em Hangzhou.

O abade Suger inicia os trabalhos de reconstrução da Igreja de Saint-Denis.

S o b a c l e m e n t e administração da dinastia S o n g (960-

E m 1122, Suger, h o m e m d e o r i g e m c a m p o n e s a , foi

1279), a China tornou-se o país mais próspero e tec-

eleito a b a d e d e Saint-Denis. Ele era conselheiro d o

n o l o g i c a m e n t e a v a n ç a d o d o m u n d o . Mas os S o n g

rei Luís VI, e os dois t i n h a m u m a amizade próxima

foram m e n o s bem-sucedidos e m termos militares, e

d e s d e a infância, q u a n d o haviam sido e d u c a d o s j u n

seu g o v e r n o limitou-se principalmente a áreas d e

tos p e l o s m o n g e s d e Saint-Denis. E m 1137, Luís VI

predominância étnica chinesa. Sua sorte seria salva

morreu, e seu sucessor, Luís VII, rejeitou S u g e r c o m o

e m 1127 por G a o z o n g .

c o n s e l h e i r o . L i b e r t a d o d a s a n t i g a s responsabiln Ia

Quase d e s d e a fundação da dinastia, os S o n g e n -

des, Suger v o l t o u sua a t e n ç ã o para a Igreja d e Saint-

frentaram inimigos externos formidádeis q u e tentaram

Denis, ligada à abadia e construída e m 737. Durante

controlar por meio d e uma política d e "dividir paia 110

os cinco anos seguintes, ele se c o n c e n t r o u e m supei

vernar". O império Khitan d e Liao, cuja fronteira sul fica-

visionar a reconstrução da igreja.

va poucos quilômetros ao norte d e Beijing, constituía uma ameaça constante, e os Song tinham sido obrigados a pagar tributos e m troca d e paz. E m 1114, o i m p e rador S o n g Huizong pensou ter descoberto uma oport u n i d a d e paia redu/ii o podei dos Khitan apoiando uma rebelião d e seus subordinados, os Jürchen da Manchúria. Após anos d e guerra, os Jürchen finalmente

"Nós nos dedicamos com energia a alargar o corpo da igreja." A b a d e S u g e r , Livro

de Suger, o 1148

derrubaram os Khitan e m 1124 e criaram seu próprio Estado sob a dinastia Jin. Este logo se tornou uma

C o m e ç o u c o m a fachada norte, substituindo 0

ameaça ainda maior para o império Song. E m 1125, os

trabalho d e pedra carolíngio original por u m n o v o

Jin invadiram o reino d e Song, e Huizong abdicou e m

d e s e n h o b a s e a d o n o Arco d e Constantino, e m Roma,

favor d o filho Qinzong. Qinzong não conseguiu apoio

A nova fachada tinha agora três grandes entradas e

d o exército chinês e, e m janeiro d e 1127, os Jin captura-

u m a imensa roseta d e vitral, u m a das primeiras d o

ram a capital S o n g e m Kaifeng j u n t o c o m Huizong,

tipo. S u g e r d e i x o u a nave original c o m o estava e

Qizong e três mil membros da família real, q u e foram

m a n d o u reconstruir o coro u s a n d o novas formas ar

levados para passar o resto da vida c o m o prisioneiros.

quitetônicas q u e incluíam arcos pontiagudos, a b ó

Gaozong, u m filho mais novo de I lui/ong, conse-

badas d e nervuras e colunatas agrupadas. O uso d e

guiu escapar da prisão coletiva da família real e decla-

a r c o b o t a n t e s permitiu a inclusão d e novas janelas

rou-se imperador e m l O d e junho d e 1127. Embora não

d e vitral. Suger linha inventado o estilo gótico.

tenha conseguido reconguistar o norte, Gaozong fixou

A nova estrutura foi concluída e m 11 d e junho d e

uma nova capital no sul da China, e m Hangzhou, dando

1144. C e m anos mais tarde, a nave foi reconstruída no

início a o p e r í o d o S o n g d o sul (960-1126 é c o n h e c i d o

m e s m o estilo gótico. Por influência dos reis angevinos, < i

c o m o p e r í o d o S o n g d o norte), q u e terminou c o m a

estilo se espalhou pela Europa, passando a servii d e

conquista m o n g o l e m 1279. J H

base para a construção d e muitas igrejas e catedrais. T B


Derrocada em Damasco A Segunda Cruzada inicia um risível cerco à cidade muçulmana de Damasco. E m 24 d e julho, o exército da S e g u n d a Cruzada c h e g o u às muralhas d e Damasco para dar início a u m cerc o fracassado q u e durou a p e n a s cinco dias. A cruzada fora c o n v o c a d a p o r q u e Zangi, emir d e Mosul, havia capturado recentemente a fortaleza cruzada oriental d e Edessa (hoje Turfa, na Turquia). As arrebatadas preg a ç õ e s d e S ã o Bernardo d e Clairvaux instigaram o e n tusiasmo pela expedição, q u e foi c o m a n d a d a por dois dos mais poderosos reis da Europa católica: I uís VII da França e Conrado III da Germânia. Os cruzados irritaram seguir o m e s m o c a m i n h o da tristemente célebre Primeira Cruzada, reunindo-se e m Constantinopla n o o u t o n o d e 1147 e e m seguida atravessando o planalto da Anatólia para chegar à Terra Santa. E n q u a n t o estavam atravessando a Anatólia, os cruzados logo foram bastante enfraquecidos pelos turcos seljúcidas. D e v i d o às perdas significativas, Luís e irtrituti.it.O m f,i (imiti Hf . MKftl.iVÍii" n=, a i.iiNnt- ,iuntiiu>n CV dniM v ai >v Ouc timtiii <<* y.Miircf <i r.i tmc iv f,i I I.iliSmui .t.\>iiiiiifiirf»iiUÍi«f mtiitw t um' fiiioit v.inf . C i i eti/m<(0(ii> •llll \m iiullir ní>lll í|t.!()« Oiií *t S' fii tm (<t i. .1 vltinrt ir (iuw (t .1 mTivtT.tiiwi n i (Í vttvtm ftlf«l M.lllílVl tm ll|l(lK niit.iiii it <t|it v. nr S fiiiii.ií foi Cl rnrrftaiit v>:« iV >>:fn Ofiirt; i» Puni . íiw iirf-|cl iiitcill» ttr ilUitOnl •IIJJlTf 5l

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Conrado a b a n d o n a r a m o plano original d e recapturar Edessa e decidiram atacar Damasco. Embora rica e e s trategicamente valiosa, Damasco era governada por Unur, o único emir da região n ã o hostil a o reino cruzad o d e Jerusalém. O ataque era uma loucura, mas, t e n d o c h e g a d o a t é ali, os c r u z a d o s e s t a v a m d e c i d i d o s a c o m b a t e r os m u ç u l m a n o s - gualquer m u ç u l m a n o custasse o q u e custasse. Os d a m a s c e n o s e s t a v a m d e s p r e p a r a d o s para o

O 0 cerco a Damasco e/A Srjft;//?ofye/írJrada, de uma iluminura

a t a q u e d o s cruzados, e a c i d a d e q u a s e caiu logo n o primeiro dia d o cerco. Os cruzados, p o r é m , espera-

francesa d o século XV por Sébastien Marmoret.

v a m u m a vitória rápida, e a falta d e víveres e água t o r n o u impossível manter o cerco. Na m a n h ã d e 28

"Estavam certos de que um vas- d e julho, eles levantaram a c a m p a m e n t o e fizeram u m a retirada humilhante. A S e g u n d a Cruzada foi t o to exército poderia se aliment a l m e n t e c o n t r a p r o d u c e n t e , e sua única c o n s e tar dos frutos dos pomares..." güência notável foi c o m e ç a r a reforçar o m o v i m e n t o A r c e b i s p o G u i l h e r m e d e T i r o , Historia,

c. 1175

d e restauração da u n i d a d e m u ç u l m a n a e destruição dos reinos cruzados. J H


Becket torna-se arcebispo A nomeação do chanceler para Canterbury leva a uma perigosa ruptura com Henrique II. T h o m a s B e c k e t sabia o q u e o rei H e n r i q u e II p r e tendia fazer e tentou dissuadi-lo. A arquidiocese d e Canterbury estava vaga havia u m ano, e H e n r i q u e via vantagens políticas para si caso Becket, q u e já era

Snli |tio jaqffbnt£' "th'omJLf! mutjrmí ' r t K l >

c h a n c e l e r da Inglaterra - o u seja, c h e f e da a d m i nistração real -, se tornasse t a m b é m arcebispo d e Canterbury. E m b o r a fosse arquidiácono, Becket n ã o era u m religioso austero, mas sim u m cortesão c o nhecido pelo estilo (li' vii Ia faustoso, ( ) rei, porém, não deixou g u e isso constituísse u m empecilho. T h o m a s foi d e v i d a m e n t e sagrado arcebispo - ato q u e teria e n o r mes c o n s e q ü ê n c i a s na vida dos dois h o m e n s . Nascido e m Londres e m 1118, filho d e u m rico mercador normando, Becket havia sido e d u c a d o e m Paris e trabalhado c o m o funcionário administrativo para o xerife d e Londres antes d e entrar para o serviço deTeobaldo, então arcebispo d e Canterbury. E m 1154, Teobaldo sugeriu Becket c o m o chanceler a o recém-coroado rei da Inglaterra, Henrigue II. No cargo, Thomas mostrou dedicação aos interesses d o rei; era eficiente e trabalhava c o m afinco, sobretudo na coleta d e impostos. Henrig u e obviamente pensava que ele fosse continuar a servi-lo da mesma forma quando se tornasse arcebispo, mas logo ficou claro g u e o rei estava errado. Depois d e n o m e a d o arcebispo e m 1162, T h o m a s recusou-se a continuar chanceler. E não foi só isso: ele se tornou tão zeloso na defesa dos interesses da Igreja quanto havia sido e m relação a o rei. Henrique

O

U m manuscrito inglês d o início do século XIV mostra Henrique II discutindo com Becket.

estava ansioso para impor sua autoridade à Igreja. No entanto, q u a n d o Becket resistiu à sua exigência d e q u e os padres q u e h o u v e s s e m desrespeitado a lei n ã o p u d e s s e m mais ter o privilégio d e serem julgad o s a p e n a s e m tribunais eclesiásticos, a ruptura e n tre os dois se a p r o f u n d o u a tal p o n t o q u e , e m 1164, o arcebispo fugiu para o estrangeiro e não h o u v e mais possibilidade d e reconciliação. S K

"Saibam que Thomas foi considerado... um traidor malvado e per juro." P r o c l a m a ç á o d e H e n r i q u e II c o n t r a B e c k e t , 1164


1169 1 DE M A I O Q

Os normandos chegam à Irlanda A incursão marco o primeiro envolvimento inglês significativo em questões irlandesas. E m 1169, dois navios carregando 70 soldados n o r m a n dos e arqueiros galeses fortemente armados adentraram as águas calmas da baía d e Bannow, no litoral sul da Irlanda. As tropas a bordo pretendiam recolocar Diarmait M a c Murchada no trono d e Leinster, d o gual ele havia sido expulso alguns anos antes. Mac Murchada primeiro fugira para o País d e Gales, depois para a França, o n d e descobrira q u e o rei inglês Henrique II estava disposto a lhe dar a p o i o político e militar. R o b e r t o FitzStephen e Ricardo d e Clare, c o n d e d e Pembroke e t a m b é m conhecido c o m o Strongbow ("Arco Forte"), ajudaram-no a reunir u m g r u p o d e mercenários. A força invasora quase não encontrou resistência, e n o dia seguinte conquistou rapidamente o p o v o a d o viking d e Wexford. N o entanto, depois d e não c o n s e guir capturar

Iara, o n d e residiam os reis da Irlanda,

M a c M u r c h a d a c h a m o u reforços i m p o r t a n t e s . E m 1170, o próprio S t r o n g b o w c h e g o u c o m uma força mais numerosa e estabeleceu u m a posição fortificada n o sudeste ao redor d e Wexford e Waterford antes d e tomar Dublin. S t r o n g b o w casou-se c o m Aoife, filha d e Mar

Murchada, e foi n o m e a d o rei d e leinster. M a c

Murchada morreu p o u c o depois e, q u a n d o Strongb o w reivindicou a coroa, uma revolta geral levou-o a recorrer n o v a m e n t e a Henrique, a q u e m entregou t o das as suas terras e castelos. O

Um tímpano acima do portão da Capela de Cormac, Irlanda, mostra um centauro normando matando um leão cristão celta.

Assim, o rei a n g e v i n o e m pessoa c h e g o u a W a terford e m M/l no c o m a n d o d e u m imenso exército. O rei p r o c l a m o u Waterford e Dublin cidades reais e percorreu a ilha inteira. Durante a v i a g e m , fez os líde-

"...nem os ventos do leste nem os do oeste trouxeram a sua mui desejada presença."

diência, e n q u a n t o seu filho (mais tarde rei) J o ã o se

C a r t a d e M a c M u r c h a d a a S t r o n g b o w , 1170

W i n d s o r c o n f i r m o u a presença inglesa na Irlanda,

res d e t o d o s os reinos irlandeses lhe prestarem o b e tornou senhor da Irlanda (e rei da Irlanda a p ó s a m o r te d e Henrique). E m 1175, u m tratado assinado e m q u e perdurou até à é p o c a m o d e r n a . P F


1170 29 DE D E Z E M B R O

"Santo, jubiloso mártir" Becket é brutalmente assassinado por quatro cavaleiros na Catedral de Canterbury. Quatro cavaleiros - Reginaldo FitzUrse, H u g o d e Moreville, G u i l h e r m e d e Tracy e Ricardo Le Breton - invadiram a Catedral d e Canterbury e e n c o n t r a r a m o ar cebispo rezando vésperas. Tentaram arrastá-lo para fora e levá-lo prisioneiro. Ele se recusou a sair da c a t e dral. Então os cavaleiros sacaram as espadas e m a t a ram-no ali m e s m o , arrancando-lhe o t o p o da c a b e ç a c o m seus golpes. Fazia m e n o s d e u m m ê s q u e T h o m a s Becket t i nha retornado à Inglaterra depois d o exílio; o m e d o d e uma interdição papal levara H e n r i q u e a deixá-lo voltar. M a s T h o m a s n ã o dava sinais d e querer cessar sua o p o s i ç ã o a o rei, e q u a n d o Henrique, muito irritado, p e r g u n t o u : " Q u e m vai m e livrar desse padre turbulento?", os cavaleiros resolveram fazer justiça pelas próprias m ã o s e partiram i m e d i a t a m e n t e para C a n terbury à caça d o arcebispo. Poucos dias após a morte d e Becket, pessoas c o muns já c h e g a v a m para orar junto a seu túmulo. F o ram tantas as curas milagrosas relatadas pelos visitantes q u e o papa Alexandre III deixou-se convencer a canonizar T h o m a s meros três anos após sua morte. No a n o seguinte, Henrique foi a Canterbury se p e n i tenciar. Descalço e usando roupas grosseiras, foi flagelado publicamente e passou a noite rezando junto a o túmulo. T h o m a s Becket tornou-se u m dos santos mais populares d o final da Idade Média - várias igrejas lhe foram dedicadas e seu santuário ficou c o n h e c i d o e m

O

Uma iluminura d o século XIII mostra o assassinato de Thoni.r. Becket na catedral de Canterbury por cavaleiros leais ao rei.

toda a Europa c o m o local d e peregrinação. O p o e m a narrativo d e Geoffrey Chaucer Os contos

de

Canterbury,

uma das primeiras grandes obras da literatura inglesa, descreve u m g r u p o d e peregrinos d o século XIV e m v i a g e m d e Londres até Canterbury "em busca d o santo, jubiloso mártir". O santuário d e T h o m a s foi destruíd o e m 1540 por o r d e m d o rei Henrique VIII, e os ossos do venerável santo foram espalhados. S K

"...a espada foi brandida... e o topo da cabeça se separou do resto." E d w a r d G r i m , Vida de Santo

Tomás,

1172


Saladino assume o poder O general curdo conquista Damasco e se declara sultão. U m fator importante para o sucesso da Primeira C r u zada (1096-1099) foi a desunião d o m u n d o m u ç u l m a no. A recuperação muçulmana foi iniciada por Zangi, emir d e Mosul, q u e recapturou Edessa dos cruzados e m 1144, e seu filho Nur al-Din, q u e unificou a Síria sob sua autoridade e m 1154 e conquistou o Egito e m 1169. Os Estados cruzados da Terra Santa estavam então cercados por territórios controlados por Nur al-Din. A p ó s a vitória, este continuou g o v e r n a n d o d e Mosul e m a n d o u o general curdo Saladino para o Egito c o m o seu vice-rei. Foi u m grave erro d e julgamento. Rico e populoso, o Egito p r o p o r c i o n o u a Saladino uma forte base d e p o d e r a partir da qual perseguida suas próprias a m b i ç õ e s . E m 1170 e 1172, ele s a b o t o u d e l i b e r a d a m e n t e as c a m p a n h a s d e Nur alDin contra o reino cruzado d e J e r u s a l é m . Embora compartilhasse o desejo d e seu s o b e r a n o d e e x p u l sar os cruzados, queria q u e seu reino p e r m a n e c e s s e intacto c o m o anteparo entre o Egito e a Síria até ele próprio estar pronto para assumir o poder. Nur al-Din estava se p r e p a r a n d o para c o m b a t e r S a l a d i n o q u a n d o m o r r e u e m D a m a s c o , n o dia 15 d e maio d e 1174. S e u filho d e 11 anos, al-Salih, foi p r o c l a m a d o sucessor sob a regência d e u m e u n u c o c h a m a d o G u m u s h t i g i n . Saladino, p o r é m , a l e g o u q u e o r e g e n t e por direito era ele. N o final d e o u t u b r o , O A iluminura de um manuscrito quatrocentista tirado de Asseis

ele t o m o u D a m a s c o e se p r o c l a m o u sultão, refor-

Idades do mundo mostra Saladino com umacímitarra na mão.

ç a n d o sua a u t o r i d a d e a o se casar c o m a viúva d e Nur al-Din. A p o s i ç ã o d e S a l a d i n o só foi f i n a l m e n t e

"Esse adolescente precisa de um tutor, e ninguém tem melhores condições do que eu." S a l a d i n o , 1174

assegurada c o m a m o r t e repentina d e al-Salih e m A l e p o , e m 1181, p r o v a v e l m e n t e por e n v e n e n a m e n to. D e v i d o a seus atos insensíveis, Saladino era c o n siderado u m usurpador, mas seu sucesso e m r e c a p turar J e r u s a l é m d o s c r u z a d o s e m 1187 c o n t r a b a l a n ç o u c o m folga essa t e n d ê n c i a e fez d e l e u m herói d o mundo muçulmano. J H


O imperador amarga uma derrota humilhante A Liga Lombarda derrota Frederico I Barbarossa na Batalha de Legnano. Q u a n d o o dia raiou e m 29 d e maio d e 1176, o exército d o sacro i m p e r a d o r r o m a n o Frederico Barbarossa atravessou o rio O l a n o e chocou-se c o m a força d e 3.500 h o m e n s da Liga Lombarda, reunião d e Estados q u e p e r m a n e c i a m leais a o sitiado papa Alexandre III. Q u a n d o sua cavalaria d e guerreiros germânicos o l h o u para a infantaria lombarda, Frederico p r o v a v e l m e n t e t e v e certeza da vitória. No início, e m b o r a a infantaria lombarda tenha combatido c o m bravura, parecia q u e a vitória seria d e Frederico. N o entanto, uma reviravolta decisiva ocorreu q u a n d o u m a cavalaria d e apoio vinda d e Brescia efetuou u m ataque-surpresa pela retaguarda d o exército d e Frederico. As forças d o imperador se desorganizaram q u a n d o os brescianos r o m p e r a m a formação imperial e se precipitaram diretamente para Frederico, m a t a n d o seu porta-estandarte e seus guardas p e s soais. O imperador foi derrubado d o cavalo e, t e m e n d o a morte d e seu grande líder, as tropas imperiais entraram e m pânico e fugiram. A cavalaria lombarda perseguiu as forças imperiais enguanto os c o m a n d a n tes d e Frederico tentavam e m v ã o reunir os soldados para fazê-los se reerguer e lutar. Ao final da batalha, os lombardos haviam capturado muitos prisioneiros e grande parte d o ouro d e Frederico. A vitória lombarda determinou a futura direção política da Itália. N o subseqüente Tratado d e Veneza, Frederico foi forçado a aceitar a soberania d o papa nos

O Detalhe da representação de A Batalha de Legnano em 1176 pintada por MassimoTaparelli.

Estados Pontifícios e seus direitos temporais sobre Roma. Frederico t a m b é m pôs fim a muitos anos d e cisão na Igreja g u a n d o retirou seu apoio ao antipapa Calixto III. A l é m disso, u m tratado foi estabelecido c o m Guilherme II da Sicília, inaugurando u m período d e paz e prosperidade para o povo siciliano. Depois d e novos esforços, Frederico finalmente desistiu e m 1183 da a m b i ç ã o d e controlar as cidades lombardas. T B

"O imperador... confirmará por seu próprio juramento., a paz com a Igreja." T r a t a d o d e V e n e z a , 1177


Ocaso samurai Minamoto Yoshitsune derrota o clã samurai Taira em Dan-no-ura, e um governo militar é formado para substituir o imperador. A história d o J a p ã o n o s é c u l o XII é d o m i n a d a pela rivalidade entre dois clãs d e guerreiros samurais, os Taira (ou Heike) e os M i n a m o t o (ou Genji), g u e c o m p e t i a m p e l o c o n t r o l e da c o r t e imperial e m Kyoto. Essa luta c h e g o u a o á p i c e na Guerra d e G e n p e i (1180-1185). Os Taira h a v i a m e x p u l s a d o os M i n a m o to d e Kyoto e m 1159 e g o v e r n a r a m o J a p ã o s e m s e rem < o n t e s t a d o s até M i n a m o t o Y o r i t o m o liderar u m l e v a n t e contra eles e m 1180. Y o r i t o m o c o n c e n t r o u seus esforços e m angariar a p o i o e n t r e os

daimyo

(senhores feudais) e d e l e g o u a liderança militar da guerra a o meio-irmão, o g r a n d e guerreiro samurai M i n a m o t o Yoshitsune. Depois d e serem expulsos d e Kyoto e m 1183, os Taira se recolheram à ilha d e Shikoku para planejar uma contra-invasão. C o m uma frota maioi d o que a dos inimigos, Yoshitsune os atacou e m uma baía e m Dan-noura n o dia 25 d e abril d e 1185. Encurralados e e m desv a n t a g e m n u m é r i c a , os laira lutaram c o m bravura; Q u a n d o a derrota se mostrou inevitável, a maioria dos líderes pulou no mar e se afogou. A queda dos Taira e m Dan-no-ura foi imortalizada em A história

uma

dos Heike,

das grandes obras da literatura medieval japonesa. E m 1192, Y o r i t o m o e s t a b e l e c e u u m

governo

militar e m Kamamura, a d o t a n d o o título d e

shogun

("generalíssimo"). Os imperadores c o n t i n u a r a m s e diados e m Kyoto, mas na prática o J a p ã o seria govern a d o por shoguns

até 1868. Yoritomo foi se t o r n a n d o

cada vez mais hostil a Yoshitsune, e o excluiu d o g o verno. Yoshitsune se m a t o u e m 1189. J H

O

Representação japonesa d o guerreiro M i n a m o t o Yoshitsune a cavalo, 1886.

O

Gravura em carimbo de madeira de M i n a m o t o Yoshitsune durante a batalha naval d e Dan-no-ura.


1187 2 DE O U T U B R O

1186 27 DE J A N E I R O

Sicília sob domínio alemão Queda de Jerusalém Saladino aproveita sua chance e derrota os cruzados na Batalha de Hattin.

Henrique de Hohenstaufen desposa Constância da Sicília em Milão. E m 27 d e janeiro d e 1186, o filho d o sacro imperador

C o m o personagem dominante do m u n d o muçulma-

tomou

no, Saladino, sultão d o Egito, considerava a destruiçâi i

por esposa Constância da Sicília. O casamento acabaria

d o reino d e Jerusalém uma prioridade religiosa e polí-

por destruir o poder dos Hohenstaufen, mas na época

tica. Entretanto, só conseguia reunir u m grande exérci-

pareceu u m grande feito diplomático. Henrigue era

to (lurante poucos meses, q u a n d o a cheia d o Nilo libe-

romano Hohenstaufen

Iredcriro Barbarossa

herdeiro d o Sacro Império Romano, g u e incluía o norte

rava os h o m e n s d o trabalho no c a m p o . Nessa época,

da Itália. Constância era tia e herdeira d o rei normando

os cruzados p o d i a m se recolher a seus castelos e es-

Guilherme II da Sk ília, que não linha l i l h o s e i ujo reino

perar Saladino se retirar d e n o v o n o final d e agosto.

1

englobava t a m b é m a maior parte d o sul da Itália.

No início d e 1187, o barão Reinaldo d e Châtillon

Uma união entre o Sacro Império R o m a n o e o Rei-

violou uma trégua ao atacar uma caravana muçulma

no da Sicília não era bem-vista pelo papa. Fazia menos

na. (Jtiando Saladino revidou c o m u m cerco a Tibérias,

d e u m século g u e o papa Gregório VII e o sacro imperador romano Henrique IV haviam disputado o controle da n o m e a ç ã o dos altos cargos eclesiásticos no que hoje se c o n h e c e c o m o a Questão das Investiduras. A concessão d e cargos da Igreja era tradicionalmente feita pelas autoridades seculares, mas o papa Gregório VII reivindicou essa autoridade exclusivamente para a Igreja e g a -

"Desde o seu primeiro ataque à Palestina, os cruzados jamais sofreram tamanha derrota." I b n a l - A t h i r , A história

perfeita,

c. 1231

nhou por pouco a subseqüente disputa d e poder. N o entanto, as tensões entre papas e imperadores perdura-

o rei Guido d e Jerusalém a b a n d o n o u uma sólida posi-

ram por muitas décadas, e o casamento d e Henrique

ç ã o defensiva perto d e Nazaré e marchou para socor-

c o m Constância deixaria Roma cercada por territórios

rer a cidade. Atacados por forças muçulmanas, os cru-

dos Hohenstaufen. A perspectiva d e domínio alemão

zados avançaram lentamente e foram forçados a parai

t a m p o u c o foi b e m recebida na Sicília. Q u a n d o Guilherm e II morreu, os sicilianos escolheram c o m o rei Tancred o d e Lecce, filho ilegítimo d o irmão d e Constância, Rogério. Foi só c o m a morte d e Tancredo, e m 1194, q u e Henrique e Constância assumiram o controle da Sicília.

para pernoitar e m 3 d e julho. Sua água acabou, e os muçulmanos c o m e ç a r a m a acender fogueiras d e pa lha ao redor da colina para atormentá-los. Q u a n d o o dia r o m p e u e m 4 d e julho, os cruzados se viram cerca dos. O rei Guido foi feito prisioneiro, e somente poucos

A morte d e Henrique e m 1197 e m Messina depois

cruzados escaparam c o m vida. Jerusalém, que havia

d e contrair malária rompeu a conexão entre a Sicília e o

ficado indefesa devido a esse desastre inteiramente

Império. Constância, porém, seguiu governando c o m o

evitável, rendeu-se e m 2 d e outubro.

regente d e seu j o v e m filho, o futuro imperador Frederi-

A q u e d a d e Jerusalém levou à c o n v o c a ç ã o da

co II. Frederico assumiu o controle d o império e m 1212

Terceira Cruzada, mas n e m os esforços conjuntos dos

para desespero d o papado, mas este acabaria destruin-

reis da França, da Inglaterra e da A l e m a n h a c o n s e g u i -

d o os Hohenstaufen n o Império e na Sicília. J H

ram restabelecer o controle cristão da cidade. J H


Morte de um imperador O imperador Frederico Barbarossa morre afogado a caminho da Terra Santa.

(ht a*n>awtitmtwítule^Ugenátiífcne

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ira (Urs unoe t>e«wp ir tur twr « w c t n O O manuscrito d e Gotha da Crônica anglo-saxa

vc\ mmim erra - ttbtew

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(final d o século XIII) mostra o afogamento d e Frederico Barbarossa.

N o v e r ã o d e 1190, u m a imensa horda d e cruzados,

gens d o rio Saleph. Suas águas sequer c h e g a v a m até a

cavaleiros, infantes e a c o m p a n h a n t e s a l e m ã e s a v a n -

cintura, mas causaram uma tragédia. Frederico talvez

ç o u por u m a planície n o sul da Anatólia (atual Tur-

tenha entrado n'água para se refrescar por causa d o ca-

quia), a t o r m e n t a d a pela claridade e p e l o calor. À sua

lor, o u talvez tenha escorregado d o cavalo durante a

frente marchava o sacro i m p e r a d o r r o m a n o Frederi-

travessia. D e u m jeito ou d e outro, a c a b o u caindo no rio

c o I H o h e n s t a u f e n , c o n h e c i d o c o m o Barbarossa.

e morreu. Apesar d e não ser pesada, sua armadura o

Frederico era o líder mais p o d e r o s o da Europa. Aos 67 anos, ia à frente d e u m exército r u m o à P a -

teria mantido submerso caso ele estivesse desacordad o devido à queda, e ele rapidamente se afogou.

lestina, o n d e os Estados cruzados e s t a v a m s u b m e -

C o m a m o r t e d e seu líder, o exército c o m e ç o u a

tidos a forte pressão e a m e a ç a d o s d e d e s t r u i ç ã o

se desintegrar. O m e s m o a c o n t e c e u c o m o cadáver

p e l o líder sarraceno Saladino. O exército já viajava

d e Frederico. Embora tenha havido tentativas d e p r e -

havia mais d e u m a n o , mas estava p r a t i c a m e n t e i n -

servar o c o r p o d o imperador e m vinagre, e s t e j a h a -

tacto. Era u m a força disciplinada, b e m e q u i p a d a ,

via c o m e ç a d o a se d e c o m p o r q u a n d o os cruzados

cuja c h e g a d a S a l a d i n o a g u a r d a v a c o m a p r e e n s ã o .

c h e g a r a m a Antioquia. E n q u a n t o isso, Saladino a g r a -

O avanço d o exército levou os cruzados até as mar-

decia a Alá pela salvação milagrosa. R G


Cerco e queda de Acre Os reis da França e da Inglaterra capturam uma cidade dos sarracenos.

O Filipe tt aporta próximo a Acre com seu exército, iluminura de um manuscrito francês tirado de Les Grandes Chroniques de France, c. 1335.

E m 1190, o rei Ricardo I da Inglaterra (conhecido c o m o

pamento cristão, tanto Ricardo quanto Filipe a d o e c e

Coração d e Leão) e o monarca francês Filipe II, o A u -

ram. M e s m o assim, a c h e g a d a d e Ricardo t o r n o u a

gusto embarcaram e m uma cruzada rumo à Palestina,

situação da cidade insustentável. No início d e julho,

o n d e os cristãos estavam perdendo a luta contra o g e -

quando foram abertas brechas nas muralhas, os solda

neral m u ç u l m a n o Saladino. C o m o não confiavam u m

dos da guarnição negociaram a rendição sob a pro-

no outro, viajaram juntos para g u e u m não pudesse ata-

messa d e q u e teriam a vida p o u p a d a .

car as terras d o o u t r o d u r a n t e sua a u s ê n c i a . Filipe

E m 12 d e julho, os muçulmanos, esfomeados, saí-

a v a n ç o u mais depressa, reunindo-se e m abril d e 1191

ram d e Acre para se tornar prisioneiros, impressionando

às forças cristãs no cerco à cidade d e Acre, controlada

os cavaleiros cristãos c o m sua "graça e dignidade". Os

pelos muçulmanos. Ricardo c h e g o u e m junho.

cruzados, porém, não foram nada dignos ao ocupar a

Na verdade, o q u e ocorreu foi u m cerco duplo. Os

cidade. Filipe logo foi embora para a França, ato consi

defensores muçulmanos da cidade estavam isolados, e

derado covarde e traiçoeiro pelos ingleses. Ricardo mas-

suas muralhas eram bombardeadas por catapultas, mas

sacrou os prisioneiros muçulmanos e m 10 d e agosto -

os cristãos precisavam defender sua retaguarda do exér-

homens, mulheres e crianças -, alegando que os termos

cito d e Saladino. Nas c o n d i ç õ e s insalubres d o a c a m -

da rendição não haviam sido respeitados. R G


Renascimento japonês O monge Myo-an Eisai leva o zen-budismo e o chá da China para o Japão. 0 q u e hoje consideramos uma filosofia distintamente j a p o n e s a - q u e permeia aspectos culturais tais c o m o a cerimônia d o chá, os arranjos florais e as artes marciais - c h e g o u da China e m 1191 c o m a volta para casa d o m o n g e j a p o n ê s Myo-an Eisai, q u e havia passado quatro anos na China e s t u d a n d o a forma LinChi d o b u d i s m o ch'an

no m o n t e T i e n T a i . Ele levou

c o n s i g o uma forma mais rigorosa d e b u d i s m o c o nhecida n o J a p ã o c o m o zen. E m Kyoto, Eisai plantou as s e m e n t e s d e chá t a m b é m trazidas da China, acreditando g u e a bebida ajudava na m e d i t a ç ã o e fazia b e m à saúde. Escreveu Kissa

Yojoki

(Beber chá para ter saúde), q u e a p r e g o a -

va o chá c o m o tônico e remédio. Eisai s e m p r e se referia a si m e s m o c o m o

um

m o n g e da escola Tendai, mas os seus ensinamentos foram a base das práticas g u e passaram a ser c o n h e cidas c o m o "Rinzai". Ele foi o primeiro m o n g e j a p o nês a ser r e c o n h e c i d o c o m o mestre zen, e fortaleceu relações entre mosteiros d o J a p ã o e da China. O i m perador o a p o i o u e ofereceu-lhe o título d e G r a n d e Mestre, q u e ele recusou. As prátic as Rinzai enfatizavam o satori

("ilumina-

ç ã o súbita") o b t i d o por m e i o d e c h o q u e s físicos c o m o gritos ou tapas, o u ainda c h o q u e s intelectuais na forma d e koan O Mongezen junto a uma cascata com paisagens, pintura e m

("questões paradoxais"). A o ensinar

t a m b é m q u e o Rinzai deveria incluir a defesa d o Estad o e a participação e m cerimônias públicas, Eisai

seda d o artista japonês M a n o t o b u .

atraiu muitos samurais, q u e usaram seus e n s i n a m e n -

"Nosso país está cheio de gente emaciada, de aspecto doentio... porque não bebemos chá."

tos para incrementar a prática das artes marciais.

M y o - a n E i s a i (1141-1215), Beber

expressar a iluminação. A escola Soto tornou-se mais

chá para ter

saúde

U m d e seus discípulos, Dogen, que t a m b é m estudara na China, voltou ao J a p ã o e m 1227 para fundar uma escola alternativa de zen chamada Soto, q u e enfatizava a meditação sentada c o m o meio d e alcançar e popular e é hoje a principal escola zen no Japão. P F


Fugitivo real capturado 'o duque da Áustria.

Ricardo Coração de Leão é feito prisioneiro Pouco antes d o Natal d e 1192, u m estrangeiro c h e g o u à aldeia d e Erdberg, nos arredores d e Viena, a c o m p a nhado por seu criado, u m rapaz g u e falava alemão. O viajante encontrou u m quarto e m uma hospedaria, o n d e foi se deitar t r e m e n d o d e febre e exaustão. Não era outro senão Ricardo I, rei da Inglaterra, popularm e n t e c o n h e c i d o c o m o Coração d e Leão. Ricardo estava retornando a seu reino após c o n duzir u m exército d e cruzados até a Palestina. Naufragado na costa croata, decidira viajar por terra até a Saxônia. Infelizmente, o c a m i n h o passava pelo território d e seu inimigo jurado, o d u q u e I e o p o l d o da Áustria. Viajando c o m roupas discretas por estradas rurais, a c o m p a n h a d o por poucos cavaleiros, Ricardo esperava passar despercebido. Mas olhos atentos notaram os modos incomuns e a riqueza daqueles misteriosos estrangeiros. Q u a n d o as autoridades descobriram a identidade d e Ricardo, ele se tornou u m fugitivo caçado e depois d e algum t e m p o passou a cavalgar noite e dia, a c o m p a n h a d o apenas d o criado, até a f o m e e a exaustão o obrigarem a descansar. Em I rdberg, seu anonimato não durou muito. 0 criado, que saíra para comprar comida, atraiu atenção por causa das m o e d a s d e prata. Três dias depois, os soldados d e L e o p o l d o cercaram a hospedaria e fizeram uma busca. Encontraram Ricardo, tentando se fazer passar por u m simples templário. Ele foi preso e levado até L e o p o l d o na estrada para Viena. L e o p o l d o e n c a r c e r o u Ricardo n o c a s t e l o

Reprodução posterior de um manuscrito do século XIV mostrando Ricardo na prisão e m Viena.

de

Durnsteín e leiloou seu cativo para q u e m pagasse mais. Ricardo foi vendido para o sacro imperador romano Henrique VI, q u e o libertou e m fevereiro d e 1194 e m troca d e u m resgate d e 150 mil marcos q u e sua mãe, Eleonora da Aquitânia, teve d e juntar cobrando impostos dos ingleses. A o voltar, Ricardo encontrou u m reino enfraguecido por conta d e sua longa ausência. R G

O

"Aquele que a morte ou a prisão esconde/Fica privado de parentes e amigos." R i c a r d o I, p o e m a e s c r i t o n a p r i s ã o



1194 10 DE J U N H O

1204 1.2 DE A-B

Milagre em Chartres

Cruzada vergonhosa

Relíquia sagrada resiste a incêndio na Catedral de Chartres.

Constantinopla é incendiada pelo exército da Quarta Cruzada.

Assim q u e as chamas q u e destruíram grande parte da

A Quarta Cruzada, convocada pelo papa Inocêncio III,

Catedral d e Chartres e m j u n h o d e 1 1 9 4 se apagaram, o

não deveria ter passado por Constantinopla. Os cruza-

c h o q u e dos g u e haviam t e s t e m u n h a d o o incêndio se

dos haviam se reunido e m Veneza, e m j u n h o d e 1 2 0 2 ,

t r a n s f o r m o u e m desespero q u a n d o se percebeu q u e

para atacar a dinastia aiúbida d o Egito, que controlava

a relíquia sagrada da túnica da A b e n ç o a d a Virgem M a -

Jerusalém e a maior parte da Síria, mas não consegui-

ria tinha sido destruída. A túnica era visitada por p e r e -

ram angariar o dinheiro necessário para reunir uma fro-

grinos, sendo uma valiosa fonte d e renda.

ta. Enganados pelos venezianos e levados a atacar o

No entanto, três dias depois d o incêndio, u m g r u -

porto d e Zara, na Croácia, e m troca d e uma parte d o

p o d e sacerdotes emergiu das ruínas trazendo a céle-

butim, eles então avançaram e m direção a Constanti-

bre relíguia sagrada. Durante o incêndio, eles haviam

nopla, o n d e se juntaram ao exército veneziano para

buscado refúgio na cripta e esperado até p o d e r e m

atacar a cidade e recolocar o imperador Aleixo IV no tro-

"O rei deu 200 libras de Paris para a construção da igreja."

"Eles destruíram imagens sagradas... e levaram cavalos e mulas para dentro da igreja."

Cartulaire

N i c e t a s C o n i a t e s , O saque de Constantinopla,

de Chartres,

século XII

1204

sair e m segurança. Testemunhas d e seu a p a r e c i m e n -

no. Mas Aleixo não pagou a recompensa e, quando ele

to, incluindo o cardeal Melior d e Pisa, c h a m a r a m a s o -

foi assassinado seis meses depois, os cruzados tornaram

brevivência dos padres e da relíquia d e milagre. O car-

a atacar a cidade.

deal, legado d o papa, disse ao povo d e Chartres g u e

Eles saquearam Constantinopla durante três dias,

era preciso construir uma catedral ainda mais e s p l ê n -

d e s c o n t a n d o sua fúria nos gregos g u e acreditavam

dida para celebrar o milagre da sobrevivência da relí-

tê-los traído. Os cruzados então fundaram u m "Império

quia. C o n f o r m e a história d o milagre se espalhou, c o -

Latino" c o m sede e m Constantinopla, assumindo o c o n -

m e ç a r a m a chegar contribuições para a construção

trole d e Estados feudais na Grécia e nos Bálcãs, e n q u a n -

vindas d e toda a Europa.

to os imperadores bizantinos viram seus domínios se-

E m b o r a os a c o n t e c i m e n t o s relativos a o incêndio

rem reduzidos a u m território insignificante e m torno d e

t e n h a m o a s p e c t o suspeito d e u m g o l p e publicitário

Nicéia, na Turquia. O saque a Constantinopla azedou as

para resgatar u m projeto impopular, a nova catedral

relações entre o Ocidente católico e o Oriente ortodoxo

foi u m triunfo da arquitetura gótica. C o m seus m a g -

e destruiu a credibilidade d o ideal das Cruzadas. S K

níficos arcobotantes e altos arcos, ela inaugurou n o vas técnicas d e construção g u e lhe permitiram atingir alturas nunca antes tentadas. T B

O

O detalhe de u m mosaico no chão da igreja de São J o ã o Evangelista mostra o cerco a Constantinopla.


O primeiro rei da França Filipe li, o Augusto captura Rouen e toma a Normandia dos ingleses. 0 rei francês Filipe II, o Augusto, q u e m o n t o u u m cerco à c i d a d e n o r m a n d a d e R o u e n e m m e a d o s d e maio d e 1204, não foi uma figura heróica. Fie p o u c o se identificava c o m o ideal cavalheiresco d e proezas militares e feitos nobres. N o entanto, foi u m governante muito inteligente, cuja astúcia superou totalm e n t e a dos reis a n g e v i n o s da Inglaterra. Q u a n d o Filipe subiu a o poder, e m 1180, o rei inglês Henrigue II governava uma parte da França maior d o q u e a sua, incluindo a Normandia. Mas a ascensão d o impopular J o ã o a o trono inglês após a morte d e Ricardo I e m 1199 d e u a Filipe sua oportunidade. Explorando c o m habilidade uma brecha na lei feudal que, e m determinadas circunstâncias, subordinava J o ã o à sua jurisdição, Filipe convocou-o e m 1201 para defender a legalidade contestada d e seu casamento com

Isabela d e A n g o u l ê m e . Compreensivelmente,

J o ã o n ã o c o m p a r e c e u . Filipe reagiu declarando c o n fiscada a maior parte das terras francesas d e J o ã o . Q u a n d o o j o v e m sobrinho d e J o ã o , Artur, seu rival pelo coroa inglesa, foi assassinado e m Rouen e m abril d e 1203, a maior parte da nobreza francesa nas áreas controladas pelos angevinos voltou-se contra J o ã o . Diziam q u e o monarca inglês havia assassinado Artur e amarrado uma pedra ao corpo, q u e j o g o u no Sena. Filipe invadiu a Normandia c o m seis mil h o m e n s e O

Manuscrito iluminado mostra a captura de Rouen dos

capturou a fortaleza inglesa d e Château-Gaillard após

ingleses pelos franceses.

u m cerco prolongado. O resto da Normandia s u c u m biu sem luta. Rouen, contudo, tinha fortes vínculos

"Depois de o rei João capturar Artur... ele [o] matou com as próprias mãos."

comerciais c o m a Inglaterra. Q u a n d o Filipe estava se

Anais deMargam,

c l a m o u pela primeira vez rexFranciae

a b a d i a d e M a r g a m , século XIII

aproximando da cidade, seus habitantes destruíram as pontes d e quatro arcos sobre o Sena para impedir sua entrada. A p ó s u m cerco d e 40 dias, sem ajuda d e J o ã o , R o u e n se rendeu. Ao entrar na cidade, Filipe se proe m vez d e rex Francorum

("rei da França")

("rei dos francos"). R G


Gêngis Khan unifica os mongóis O guerreiro mongol Temujin é proclamado "Líder Universal". N o verão d e 1206, as tribos n ô m a d e s m o n g ó i s se reuniram junto à cabeceira d o rio O n o n para uma g r a n d e quriltai

("assembléia") q u e estabeleceria as

bases da organização d o primeiro Estado m o n g o l unificado. Durante a quriltai,

as tribos a c l a m a r a m for-

m a l m e n t e Temujin c o m o seu líder supremo, dandohe o título d e Gêngis Khan ("Líder Universal"). Nascido por volta d e 1162, Temujin era filho d e Yesügei, chefe d e u m p e q u e n o clã m o n g o l q u e fora assassinado pela mais poderosa das tribos mongóis, os tártaros, q u a n d o Temujin tinha apenas 9 anos. O menino era j o v e m demais para se tornar chefe, d e m o d o q u e o clã expulsou sua família e confiscou-lhe os bens. S e m a proteção d e u m clã, a família teve d e lutar para sobreviver, o q u e forçou remujin a virai ban doleiro e ladrão d e cavalos q u a n d o adulto. Por sua habilidade e ousadia, ele logo reuniu u m séquito fiel d e jovens guerreiros e e m 1195 foi aceito c o m o

khan

dos mongóis. Talvez tenha sido t a m b é m nessa é p o c a q u e ele usou pela primeira vez o título d e Gêngis Khan. E m 1202, Temujin arrasou os tártaros, e e m 1206 já havia unificado todas as tribos m o n g ó i s sob sua a u toridade e c o n v o c a d o os guerreiros para seu exército. Os chineses e m geral empregavam contra os inimigos uma estratégia d e dividir para reinar, e Gêngis Khan sabia q u e eles tentariam minar a unidade dos nômades. Isso não deveria ter sido difícil - ataques e disputas faziam parte da vida mongol e eram uma forma d e jovens

O Um manuscrito persa de Rashid al-Din (1247-1318) mostra Gênc|i-. Khan e sua esposa sentados no trono diante de cortesãos.

guerreiros conquistarem riqueza e reputação, c o m o o próprioTemujin tinha feito. Mas Gêngis Khan direcionou a agressividade mongol para o exterior e m uma série d e campanhas aterrorizantes. U m d e seus exércitos assolou o Oriente Médio, enquanto outro conquistou a Geórgia e o que hoje é a Rússia. A expansão prosseguiu após a morte d e Gêngis Khan e m 1227, criando o maior império terrestre contíguo da história d o mundo. J H

"Eles ergueram nove estandartes e deram a Gêngis o título de 'Khan'. História

secreta

dos mongóis,

século XIII


Perseguição aos cátaros Pregação da palavra A morte de Castelnau instiga uma cruzada contra os cátaros.

Francisco ouve uma mensagem e cria a Ordem dos Frades Menores.

I in 14 d e janeiro d e 1208,omonge Pedro d e Castelnau

E m 24 d e fevereiro d e 1208, Francisco assistia à missa

< avalgava j u n t o a o rio R ó d a n o , a o norte d e Aries. P e -

na Porziuncola, a capela q u e havia reconstruído c o m

dro era u m l e g a d o pontifício q u e havia recebido a

as próprias mãos perto d e Assis, q u a n d o foi visitado

missão d e eliminar a heresia no L a n g u e d o c , sul da

pelas palavras d e Cristo s e g u n d o o Evangelho d e São

frança. D e repente, outro cavaleiro aproximou-se d e -

Mateus: "É c h e g a d o o reino dos céus!... N ã o possuis

le e varou-o c o m sua lança. E n q u a n t o seu c o r p o era

ouro, n e m prata, n e m cobre e m vossos cintos, n e m

l e v a d o para ser enterrado na Abadia d e Saint-Gilles,

alforjes para o caminho, n e m duas túnicas, n e m alpar-

mensageiros corriam para dar a notícia ao papa Ino-

cas, n e m bordão." Francisco descalçou os sapatos, ves-

( ê n c i o III, e m R o m a .

tiu uma roupa grosseira e partiu pela estrada para

Havia muito t e m p o g u e o papa incitava uma ação contra os hereges d o L a n g u e d o c , conhecidos c o m o

pregar a o p o v o da Itália Central. Ele logo conquistou seguidores q u e passaram a

"Insuflem suas almas de raiva divina para vingar o insulto feito ao Senhor."

"É isto que eu desejo; é isto que eu procuro... do fundo do meu coração."

P a p a I n o c ê n c i o III à a r i s t o c r a c i a f r a n c e s a

São Francisco ao escutar o Evangelho d e São Mateus

"cátaros" o u "albigenses". Eles acreditavam q u e o m u n -

viver d e forma simples e m u m antigo leprosário perto

d o havia sido criado por uma entidade semelhante a

d e Assis e dedicavam a vida a pregar. Não eram padres,

iei •ncarnação. Embora se considerassem cristãos, não

q u e significa irmão - e, c o m o viviam d e esmolas, passa-

re< o n h e c i a m a Igreja.

ram a ser conhecidos c o m o esmoleiros o u mendicantes.

Satã, praticavam o vegetarianismo e acreditavam na

portanto adotaram o n o m e d e frades - d o latim frafer,

Antes d e sua morte, Pedro havia brigado c o m Rai-

Em 1209, Francisco viajou até Roma para pedir ao

m u n d o VI, c o n d e d e Toulouse, o h o m e m mais p o d e -

papa Inocêncio III que aprovasse a sua nova ordem. No

roso d o L a n g u e d o c , e x c o m u n g a d o por não ter c o m -

início, Inocêncio hesitou, mas acabou abençoando a or-

batido a heresia c o m o d e v i d o vigor. O assassino d e

d e m e m abril d e 1210 após u m sonho e m q u e viu u m

Pedro foi portanto identificado c o m o criado d e Rai-

h o m e m pobre erguendo uma igreja desmoronada. Ino-

m u n d o , e este taxado d e assassino. No dia 10 d e mar-

cêncio percebeu que os frades seriam u m poderoso ins-

i,o, o papa c o n v o c o u a nobreza francesa para uma

trumento d e ensino para a Igreja numa época e m g u e

i ruzada contra os cátaros e o c o n d e d e Toulouse. O

se considerava q u e a heresia estava e m plena expansão.

c a m i n h o estava aberto para aqueles considerados h e -

E m 1216, seu sucessor, o papa Honório III, aprovou outra

reges serem massacrados e o L a n g u e d o c , posterior-

ordem d e frades, a dos dominicanos, criada por São D o -

mente, ser incorporado ao reino da França. R G

mingos para pregar contra a heresia albigense. S K


Milhares trucidados em Béziers A cruzada contra a heresia catara resulta em uma carnificina indiscriminada que mata milhares de pessoas e causa mais de um século de tensões. E m 21 d e julho d e 1209, as forças da Cruzada A l b i g e n se d o papa Inocêncio III contra a heresia catara cercaram a c i d a d e d e Béziers, n o sudoeste da França. Seus c o m a n d a n t e s , S i m ã o d e M o n t f o r t e o l e g a d o pontifício Amaldo-Amalrico, exigiram q u e os católicos da c i d a d e e n t r e g a s s e m os cátaros q u e ali b u s c a v a m r e fúgio. Os católicos, p o r é m , se recusaram, e alguns a l e g a m q u e exemplares d o Antigo Testamento f o ram atirados das muralhas e m sinal d e resistência. Os habitantes d e Béziers tentaram romper o cerco enviando uma pequena força d e soldados, mas os cruzados a repeliram e entraram à força na cidade. Todos e m Béziers foram aniquilados. M e s m o q u e m buscou refúgio dentro das igrejas foi massacrado. A Catedral d e São Nazário foi incendiada e ruiu, esmagando centenas d e pessoas. Por ironia, os relatos contemporâneos estim a m o número d e mortos entre 10 e 20 mil, dos quais apenas 200 eram cátaros. A medida q u e a notícia d o destino d e Béziers se espalhou pela França, muitas cidades cátaras se renderam, e seus habitantes foram forçados a ir embora sem nada. Muitos cátaros escolheram voltar para o catolicismo. Os q u e não o fizeram foram queimados na fogueira. No entanto, apesar das táticas da cruzada, muitas cidades cátaras mais tarde se rebelaram. C o n s e q ü e n temente, a luta entre a Igreja Católica Romana e os c á taros perdurou durante boa parte d o século XIII, e a última execução registrada ocorreu e m 1321. A cruzada e m p o b r e c e u a região sudoeste da França e destruiu grande parte d e sua antiga cultura. T B

O A expulsão dos hereges cátaros (c. 1390-1430), de As crônicas da França, por mestre Boucicaut. O

Representação gótica do início do século XIV da Cruzada Albigense contra os cátaros.


1212 16 DE J U L H O

1215 15 DE J U N H O

Cai a Espanha muçulmana Restrições ao poder do rei A vitória cristã em Las Navas de Tolosa acaba A Magna Carta se revela um marco no com o domínio muçulmano na Espanha. desenvolvimento da democracia. A conquista árabe e moura da Espanha entre 711 e

M e s m o antes d e se tornar rei da Inglaterra, as f r e q ü e n -

713 c h e g o u muito p e r t o da vitória total, mas u m a e s -

tes conspirações d e J o ã o contra seus irmãos Henrique,

treita faixa d e território n o e x t r e m o noroeste c o n t i -

Ricardo e G o d o f r e d o lhe valeram a reputação d e trai-

nuava nas m ã o s d o s cristãos. S e g u n d o a tradição es-

dor. Seu reinado é tido c o m o u m dos mais desastrosos

panhola, a vitória cristã e m C o v a d o n g a e m 719 m a r c o u

da história inglesa.

o início da Reconquista, e m b o r a na realidade o b a -

Essa r e p u t a ç ã o n ã o é d e t o d o justa. J o ã o foi u m

luarte cristão na I-sp.inha tenha c o n t i n u a d o frágil

administrador eficiente, u m g o v e r n a n t e bem-infor-

a t é a q u e d a d o califado o m í a d a no Início d o século

m a d o e u m juiz justo na corte real. N o entanto, ele é

X I . A partir daí, o equilíbrio d e poder se alternou e n -

l e m b r a d o principalmente por trazer infortúnio ao

tre os reinos cristão e m u ç u l m a n o , mas a tendência

reino d e v i d o à sua c o n t e n d a c o m o papa e às guerras

geral favorecia os cristãos.

c o m a França, por taxar seus barões a p o n t o d e pro-

I m 1160, a Espanha muçulmana passou ao controle da militante dinastia almôade d o Marrocos. E m 1195, os almôades conquistaram uma esmagadora vitória sobre o rei cristão Afonso VIII d e Castela na Batalha d e Alarcos. E m 1211, a posição cristã havia se tornado tão difícil que o papa Inocêncio III convocou uma cruzada contra os almôades. C o m o apoio d o papa Inocêncio, Afonso

"Joào... concedeu as leis e liberdades, e confirmou-as com esta Carta." R o g é r i o d e W e n d o v e r , Flores da história,

o 1215

montou uma coalizão c o m os reis d e Navarra, Portugal e Aragão, b e m c o m o c o m os cruzados templários e c o m

vocar uma guerra civil e por ser forçado a se s u b m e -

os cavaleiros d e Calatrava. Embora os almôades tives-

ter às leis da M a g n a Carta e m R u n n y m e d e e m 15 d e

sem uma vantagem numérica d e pelo menos dois c o n -

j u n h o d e 1215.

tra u m e m relação aos cristãos, Afonso conseguiu invadir

A Magna Carta tentava restringir os poderes d o rei

o território m u ç u l m a n o sem ser detectado. Q u a n d o os

e m relação aos barões e proibia as prisões arbitrárias.

cristãos atacaram o exército almôade e m Las Navas d e

Continha poucas inovações d e conteúdo, uma vez g u e

Tolosa, conseguiram fazê-lo totalmente d e surpresa, m a -

era copiada da Carta d e Liberdades d e Henrique I, que

tando ou capturando 100 mil soldados muçulmanos.

remontava a 1100. Mas J o ã o estava preparado para pro-

O d o m í n i o m u ç u l m a n o na Espanha jamais se r e -

vocar uma guerra civil guando tentou faltar c o m a pala-

c u p e r o u dessa devastadora derrota. Durante o resto

vra depois d e ter assinado a Carta sob pressão. Ele mor-

d o século, os reinos cristãos a v a n ç a r a m g r a d u a l m e n -

reu e m o u t u b r o d e 1216 e foi sucedido p e l o filho d e

te à custa dos m u ç u l m a n o s até, e m 1294, restar a p e -

9 anos, Henrique. A Carta passou por várias revisões

nas Granada. Esta só cairia e m 1492. J H

durante o reinado d e Henrique III e foi incorporada às

O Batalha de Las Navas de Tolosa em que os reis de Castela derrotam

tuição norte-americana e é u m dos d o c u m e n t o s jurí-

leis da Inglaterra. A M a g n a Carta influenciou a Consti-

os almôades em 1212, por Francisco de Paula van Halen.

dicos mais importantes da história da democracia. T B



1 ?19 s nE N O V E M B R O

Mais uma guerra santa Cruzados no Egito 0 quarto Concilio de Latrão se reúne por ordem do papa Inocêncio III.

Damietta se rende à Quinta Cruzada, mas o Cairo resiste.

A Igreja Católica estava e m polvorosa e m n o v e m b r o

O fracasso da Terceira Cruzada (1190-1192) e m recon-

d i ' 1215, q u a n d o o papa Inocêncio III c o n v o c o u u m a

quistar J e r u s a l é m dos m u ç u l m a n o s levou os cruzados

• 11 izada e m u m concilio d e cerca d e 400 bispos, mais

a a d o t a r e m estratégia mais sofisticada. Jerusalém não

1 h • /() patriarcas e mais d e 900 a b a d e s e priores. R e - poderia ser d o m i n a d a c o m segurança e n q u a n t o o sultado d e u m a bula papal d e 1213, o Concilio Geral

Egito continuasse a ser o centro d o poder m u ç u l m a -

do I atrão t a m b é m formalizou os sete sacramentos

no. Se tivessem o controle d o Egito, os cruzados c o n -

l i Igreja Católica.

seguiriam capturar e manter Jerusalém.

A c o n v o c a ç ã o d e I n o c ê n c i o para d e f e n d e r os Es-

A primeira tentativa fracassou q u a n d o a Quarta

tados cruzados da Palestina resultou na fracassada

Cruzada se desviou para saquear Constantinopla e m

Quinta Cruzada d e 1217-1221, q u e tentou reaver a Ter-

1204. E m maio d e 1218, os navios da Quinta Cruzada

ra Santa c o n q u i s t a n d o o Estado aiúbida d o Egito. Os

c h e g a r a m ao porto d e Damietta, na foz d o Nilo, g u e

"Os cruzados se reunirão no reino da Sicília em 1° de junho depois do próximo."

"Se houvesse um líder sábio e respeitado, o Cairo poderia ter sido ocupado."

Quarto Concilio de Latrão

S t e v e n R u n c i m a n , História

i MI.-ados se r e n d e r a m a p ó s u m a derrota a c a c h a p a n -

seria usado c o m o apoio na tentativa d e capturar o Cai-

tr diante d o sultão Al-Kamil.

das Cruzadas,

1954

ro. Enguanto a guarnição d e Damietta resistia aos ata-

No entanto, d o p o n t o d e vista da Igreja, os a s -

gues, os cruzados repeliram as tentativas egípcias d e

pei tos teológicos d o concilio d e 1215 tiveram mais

socorrer a cidade, d e m o d o q u e u m cerco foi armado.

sue esso. I n o c ê n c i o o havia c o n v o c a d o para proteger

E m 1219, p o r é m , os cruzados perceberam q u e as mura-

i li iieja Católica na Europa c o m proposta d e m e d i d a s

lhas d e Damietta não estavam guamecidas e, ao invadi-

:>au d e s e n c o r a j a r a heresia e para padronizar a d o u -

rem a cidade n o dia seguinte, encontraram a guarnição

iin.i e as práticas da Igreja. Mais d e 60 c â n o n e s foram

inteira adoentada, à beira da morte o u já morta por c a u -

< i ' l i o s , incluindo a eleição d e Frederico II, rei da Ale-

sa d e uma epidemia.

i iii lha, c o m o sacro i m p e r a d o r r o m a n o .

O sultão al-Kamil se ofereceu para devolver Jerusa-

O a v a n ç o mais significativo foi a formalização

lém ao controle cristão e m troca d e Damietta, mas a

li)'. sete sacramentos: o s d e iniciação seriam o batis-

oferta foi recusada. Na primavera seguinte, os cruzados

iii), a c o n f i r m a ç ã o e a c o m u n h ã o ; os d e cura seriam

iniciaram o avanço planejado rumo ao Cairo, mas foram

jenitência e extrema-unção; e os sacramentos d e

demasiado lentos e se viram encurralados pela cheia d e

' o i a ç ã o seriam o r d e m e matrimônio. T B

verão d o Nilo e forçados a entregar Damietta e m troca da própria liberdade. J H


1224 14 DE SETEM

São Francisco recebe os estigmas Chagas aparecem nas mãos, nos pés e no flanco de São Francisco enquanto ele medita sobre os sofrimentos de Cristo em seu retiro nas montanhas perto de Assis. No o u t o n o d e 1224, Francisco d e Assis se recolheu a u m retiro d e m o n t a n h a e m La Verna, não muito longe d e Assis. Ali, e m 14 d e setembro, dia dedicado à adoração da Santa Cruz, diz-se q u e ele teve uma visão e rec e b e u os estigmas - marcas nas mãos, nos pés e no flanco parecidas c o m as cinco chagas no corpo crucificado d e Cristo. A p ó s a morte d e Francisco, o papa Alexandre IV e muitos outros confirmaram ter visto essas marcas - indicação clara da santidade d e São Francisco e poderosa propaganda para a recém-criada O r d e m dos Frades M e n o r e s (Franciscanos). S ã o Francisco foi o primeiro caso d o c u m e n t a d o d e estigmas - o aparecimento e s p o n t â n e o d e chagas (algumas vezes sangramentos), muitas vezes a c o m p a nhado d e dor. No entanto, n o século posterior à sua morte, mais d e 20 casos foram relatados. U m dos mais famosos é o d e Santa Catarina d e Siena (1347-1380), mística q u e experimentou a dor dos pregos nas mãos e pés sem lesões visíveis. Até hoje, mais d e 300 casos d e estigmas foram identificados pela Igreja Católica. E m cerca d e 60 deles, os estigmas foram usados c o m o prova para aguele q u e os recebeu ser declarado santo o u beatificado. Os estigmas são guase sempre relacionados ao êxtase religioso. Francisco viveu mais dois anos depois d e receber os estigmas, c o m dores constantes e guase totalmente cego. Implorou perdão ao próprio corpo, o "Irmão Asno", por tê-lo tratado c o m tanta severidade. Muitas das histórias a seu respeito - sua pregação para os pássaros e sua domesticação d o lobo - realçam o amor pela natureza, que t a m b é m é aparente no poema Cântico

do

sol, no qual ele louva todas as criações divinas. S K

O Sáo Francisco recebe os estigmas (c. 1240-1270), pelo Mestre da Capela dos Bardi d e São Francisco.


239 11 DE A G O S T O

Preciosa relíquia obtida por Luís IX O rei Luís IX da França, mais tarde São Luís, recebe a coroa de espinhos em Paris e constrói a magnífica Sainte-Chapelle para abrigá-la. E m uma é p o c a e m q u e reinos e cidades, catedrais e abadias a u m e n t a v a m seu prestígio graças à posse d e alguma relíquia d e santo, o rei Luís IX da França havia garantido para si uma das mais poderosas d e todas elas: a suposta coroa d e espinhos usada por Jesus na Cruz. Por ela, assim c o m o por várias outras relíquias, incluindo pedaços da Cruz, fraldas d o m e n i n o Jesus e u m frasco c o n t e n d o o leite da Virgem, ele havia pago a Balduíno II, imperador latino d e Constantinopla, a vultosa soma d e 135 mil libras. Então, e m uma c e r i m ô nia solene, recebeu a coroa d e espinhos das mãos dos dois freis dominicanos q u e a haviam levado até Paris. I loje p o d e m o s duvidar da aulentk idade desses objetos, mas, para os cristãos medievais, a romaria a o santuário d e uma relíquia sagrada trazia grandes rec o m p e n s a s espirituais, e Luís c o m e ç o u a criar u m a m b i e n t e d i g n o d e abrigar as relíquias por ele trazidas. Construída entre 1242 e 1248 e u m a das glórias d o estilo gótico francês, a Sainte-Chapelle, iluminada por e s t u p e n d a s janelas d e vitrais e c o m cada centímetro da alvenaria interna pintado e m cores vivas e incrustado d e jóias, foi criada para ser u m relicário, o rebuscadíssimo receptáculo d e uma relíquia. Para os contemporâneos, Luís IX personificava o mais elevado ideal d e monarca cristão: o q u e dispensava justiça c o m imparcialidade e defendia a Igreja. Luís liderou pessoalmente duas cruzadas para o Oriente, e m 1248 e 1270, e morreu d e disenteria e m Túnis d u rante a segunda. Foi canonizado e m 1298. Muito danificada durante a Revolução Francesa, a Sainte-Chapelle foi restaurada e m 1846, e as relíquias se encontram agora na vizinha Catedral d e Notre-Dame. S K

O

A Sainte-Chapelle na íle de la Cite, e m Paris, fotografada no final do século XIX.


1241 9 DE ABRIL

1240 15 DE J U L H O

Os suecos são repelidos Triunfo mongol O príncipe Alexandre derrota as forças suecas na Batalha de Neva.

A derrota de cavaleiros cristãos deixa a Europa aberta a invasões do Oriente.

Em julho d e 1240, uma e n o r m e frota sueca invadiu a

Na primavera d e 1241, os mongóis, q u e já haviam c o n -

Rússia, c o m u m grande exército c o m p o s t o d e suecos,

quistado uma grande área da Eurásia, da China até a

noruegueses e os finlandeses da Tavástia, e aportou

Ucrânia, avançaram sobre a Hungria e a Polônia. E n -

na confluência dos rios Izhora e Neva. É provável q u e

quanto a Hungria cuidava da própria defesa, os reis

os invasores quisessem assumir o controle da foz d o

Venceslau da Boêmia o l lenrique II da Silésia reuniram

rio Neva e da cidade d e Lagoda. Caso o lograssem, os

exércitos mais a o n o r t e . B e m i n f o r m a d o s q u a n t o à

suecos teriam o domínio d e uma rota comercial q u e

m o v i m e n t a ç ã o das forças cristãs, os m o n g ó i s q u e es-

N o v g o r o d controlava havia tempos.

t a v a m na Polônia partiram para atacar Henrique antes

A o saber da invasão, o príncipe A l e x a n d r e Ya-

d e este poder se juntar a Venceslau.

roslavich d e N o v g o r o d r a p i d a m e n t e d e s l o c o u seu

Eles se c h o c a r a m c o m o exército d e H e n r i q u e

p e q u e n o exército a o e n c o n t r o dos invasores antes

e m I i e q n i l / (l.eqnk a, na aluai Polônia). Os cavaleiros deste último d e s p r e z a v a m os cavaleiros m o n g ó i s c o -

"Eles carregaram dois navios com os corpos... mas os outros foram jogados em uma vala." Primeira

crônica

de Novgorod,

século XIV

m o u m a horda d e "bárbaros". N o entanto, as táticas d e batalha d o s m o n g ó i s eram incrivelmente sofisticadas. Velozes, m o n t a d o s e m pôneis resistentes, eles a t o r m e n t a v a m os cristãos, alvejando-os c o m flechas atiradas d e cima das montadas, e e m seguida recua v.im, simulando uma luqa, para provocar uma perseguição dos cavaleiros. As m o v i m e n t a ç õ e s d e seus

q u e estes c h e g a s s e m a L a g o d a . E m 15 d e j u l h o d e

bandos esparsos d e guerreiros m o n t a d o s eram e n -

1240, a p e q u e n a força d e Alexandre c h o c o u - s e c o m

cobertas por cortinas d e f u m a ç a . As pesadas a r m a -

os invasores n o rio N e v a . S e g u n d o crônicas russas

duras dos cristãos os protegiam das flechas, mas não

d o século XIV, A l e x a n d r e infligiu pesadas baixas aos

a seus cavalos. U m a v e z sem montaria, o cavaleiro era

invasores. M u i t o s n o b r e s m o r r e r a m , e seus c o r p o s

presa fácil para os mongóis, q u e concluíam a matan

foram postos e m navios para serem l e v a d o s d e v o l -

ça c o m lanças, espadas e maças. Q u a s e toda a força

ta à Suécia. E n q u a n t o o exército d e A l e x a n d r e e n -

cristã d e cerca d e 20 mil h o m e n s foi massacrada.

terrava m u i t o s m o r t o s e m u m a imensa vala, vários

Henrique, d e c a p i t a d o , teve a c a b e ç a exibida na p o n -

d o s feridos n ã o e s p e r a r a m ser c a p t u r a d o s e fugiram

ta d e uma lança.

para a zona rural. As crônicas suecas t ê m p o u c o s registros da bata-

O exército húngaro t a m b é m foi logo derrotado, deixando a Europa Ocidental à mercê d e uma invasão

lha. A influência política d e Alexandre (que passou a

m o n g o l , impedida pela morte inesperada d e seu líder,

usar o s o b r e n o m e Nevsky) foi fortalecida, e seu êxito

o grande Khan Ogatai. Os mongóis tiveram d e voltar a

e m Neva p o d e ser visto c o m o parte d e uma s e q ü ê n -

sua distante capital, Karakorum, para escolher seu su

cia d e vitórias importantes para o d e s e n v o l v i m e n t o

cessor, e nunca mais conseguiram organizar uma inva

da Rússia moscovita. T B

sâo e m larga escala da Europa. R G



1

1

Conquistada e perdida

Catedral de Colônia

Jerusalém é retirada da cristandade de forma permanente pelos turcos corásmios.

É iniciado o projeto que levará mais de 600 anos para ser concluído.

lerusalém, tomada por Saladino e m 1187, foi devolvida

E m 15 d e agosto d e 1248, o arcebispo Konrad v o n

244 23 DE A G O S T O

48 15 DE A G O S T O

ao controle cristão pelo imperador Frederico II e m 1229

Hochstaden assentou a primeira pedra da nova Cate-

graças a uma negociação c o m al-Kamil, sultão aiúbida

dral d e Colônia, q u e iria substituir a construção d e cinco

do Egito. Frederico recebeu p o u c o crédito pelo feito,

naves completada e m 818 e incendiada e m abril d e 1248.

pois não havia conquistado território suficiente para

O local vinha sendo o c u p a d o d e forma contínua desde

I noteger Jerusalém d e u m futuro atague muçulmano.

que ali havia u m templo romano, no final d o século II.

F m 23 d e agosto d e 1244, o inevitável a c o n t e c e u .

Era importante que a nova catedral tivesse propor-

Alguns anos antes, os m o n g ó i s haviam destruído o

ções épicas, uma vez q u e iria abrigar as célebres relí-

sultanato turco d e Corásmia, província q u e abarcava

quias dos três reis q u e haviam levado presentes para o

b o a parte da Ásia Central e d o Irã, fazendo os refugia-

menino Jesus, trazidas d e Milão pelo sacro imperador

dos turcos fugirem para oeste. E m j u n h o d e 1244,

romano Frederico Barbarossa e m 1142. Os planos d o arcebispo Konrad, portanto, estavam b e m d e acordo c o m

"Os corásmios surgiram de repente em terras cristãs passando por Safed e Tibérias." O continuador

Rothelin,

o 1250

uma catedral q u e atrairia romeiros d e toda a Europa. A obra da ala leste foi concluída e m 1322, e as paredes foram impermeabilizadas para a nova c a t e dral p o d e r ser utilizada. O i m e n s o frontão oeste foi iniciado e m m e a d o s d o século XIV, mas as obras p a raram e m 1473, deixando u m i m e n s o guindaste susp e n s o acima da torre incompleta. U m a gravura d e

r orca d e 10 mil cavaleiros corásmios invadiram o território d e D a m a s c o , s a q u e a n d o seus c o m p a n h e i r o s m u ç u l m a n o s . D a m a s c o era forte d e m a i s para ser i ' mquistada, d e m o d o q u e os corásmios r u m a r a m I'.na lerusalém. O s cristãos só p e r c e b e r a m o perigo tarde d e mais. A parte principal d e sua força estava a c a m i n h o (Io I gito para socorrer o sultão d e Damasco. E m 11 d e julho, os corásmios invadiram J e r u s a l é m . A p e quei ia guarnição d e templários e hospitalários a g ü e n tou firme até os corásmios lhes p r o m e t e r e m u m salv o - c o n d u t o a t é o litoral. E m 23 d e agosto, seis mil • rlstãos deixaram a c i d a d e r u m o a Jaffa, mas foram atacados n o m e i o d o c a m i n h o . A p e n a s 300 chegaI.IIII

a o seu destino. J e r u s a l é m nunca mais foi recon-

qi listada pelos cristãos. J H

m e a d o s d o século XIX, antes da c o n c l u s ã o da c a t e dral, mostra c o m clareza o velho guindaste medieval ainda n o m e s m o lugar após g u a s e 400 anos. Depois da descoberta d o projeto original, a obra foi reiniciada e m 1842. Concluída e m 1880, a catedral era u m primor d e arguitetura gótica, e a cerimônia d e sua inauguração c o n t o u c o m a presença d o cáiser Guilherme I, O frontão oeste é maior d o q u e o d e qualquer outra catedral, e as duas torres q u e se tornaram o símbolo d e Colônia garantiram à igreja o posto d e construção mais alta d o m u n d o até o obelisco e m h o m e n a g e m a G e o r g e Washington ultrapassá-la e m 1885, seguido d e perto pela Torre Eiffel e m 1889. T B

O Ilustração d e 1493 mostrando Colônia e sua catedral, tirada d o LiberChronicarum

de Hartmann Schedel.


58 13 DE FEVEREIRO

1260 3 DE SETEMBRO

Bagdá arde em chamas Batalha de Ain Jalut Os mongóis destroem Bagdá e executam 0 último califa abássida.

A vitória em Ain Jalut salva o Oriente Médio muçulmano da conquista mongol.

1 in 13 d e fevereiro d e 1258, os m o n g ó i s invadiram

E m 1256, o líder m o n g o l , g r a n d e Khan M o n g k e , o r d e -

Bagdá, d a n d o início a uma orgia d e uma semana d e

n o u ao irmão Hulagu q u e conquistasse o território

mortes, estupros, saques e destruição desenfreada.

m u ç u l m a n o a oeste d e seu império. E m 1260, Hulagu

0 exército m o n g o l c h e f i a d o por Hulagu havia sitiado

já havia destruído Bagdá, sede d o califado abássida, e

a cidade e m 29 d e janeiro, mas o califa al-Musta'sim

c a p t u r a d o a capital síria, Damasco. Sobrava apenas o

tomara p o u c a s providências além d e avisar Hulagu

Egito, g o v e r n a d o d e s d e 1250 por uma implacável eli-

q u e ele teria d e enfrentar a ira d e Alá caso atacasse

te d e soldados escravos, os m a m e l u c o s . Q u a n d o H u -

Bagdá. Hulagu, p o r é m , não se deixou deter - o saque

lagu e n v i o u u m embaixador p e d i n d o sua rendição, o

1 Bagdá e a destruição d o califado abássida foram uma das

piores atrocidades c o m e t i d a s pelos m o n g ó i s . A Casa d o Saber, grande biblioteca d e textos cien-

sultão m a m e l u c o , Said ad-Din Qutuz, m a n d o u matar o mensageiro. Qutuz assumiu corajosamente a ofensiva, avan-

tíficos e filosóficos reunida ao longo d e 500 anos, foi destruída, e dezenas d e milhares d e livros foram j o g a dos n o rio Tigre, deixando suas águas negras d e tinta. As estimativas d o n ú m e r o d e mortos giram entre 90 e 200 mil. O califa foi capturado e forçado a assistir ao massacre d e seus súditos, s e n d o e m seguida execulado. Supersticiosos, os mongóis t e m i a m derramar

"''Acabe comigo o mais rápido possível.' Qutuz ordenou sua decapitação." M o r t e d e K i t b u q a , História dos mongóis,

c. 1300

sangue real sobre a terra, então enrolaram o califa e m u m tapete e mataram-no pisoteado pelos cascos dos

ç a n d o pela Palestina. Enguanto isso, Hulagu foi forçado

cavalos. Diz-se q u e Hulagu transferiu seu a c a m p a -

a voltar à Mongólia c o m parte d e seu exército. O res-

m e n t o vento acima e m relação à cidade para evitar o

tante, liderado por Kitbuqa Noyen, chocou-se c o m o

m a u cheiro dos cadáveres.

exército m a m e l u c o e m Ain Jalut, n o leste da Galiléia.

E m b o r a o califado abássida já não passasse d e

As duas forças tinham cerca d e 20 mil cavaleiros

u m a sombra d e sua antiga grandeza, a m o r t e d o c a -

cada, mas os m a m e l u c o s se mostraram superiores

lifa e a destruição da maior c i d a d e d o Islã abalou pro-

e m termos táticos. Seu c o m a n d a n t e , Baibars, c o n d u -

l u n d a m e n t e o m u n d o m u ç u l m a n o . Mas essa cho-

ziu parte d o exército para terreno aberto e n q u a n t o o

• a n t e a t r o c i d a d e n ã o t e v e o efeito d e s e j a d o . O s

restante se escondia na retaguarda. Kitbuqa caiu na

m o n g ó i s e s p e r a v a m desmoralizar e aterrorizar tanto

armadilha - os m o n g ó i s foram destroçados e Kitbu-

os outros líderes d o Oriente M é d i o q u e estes se r e n -

qa d e c a p i t a d o . Qutuz foi assassinado a c a m i n h o d o

deriam s e m lutar. Os governantes m a m e l u c o s d o

Egito, possivelmente por Baibars, q u e virou sultão.

Egito, p o r é m , n ã o se deixaram intimidar, e foi pelas

A batalha m a r c o u o fim da expansão ocidental

mãos deles q u e os m o n g ó i s sofreram u m revés i m -

d o Império M o n g o l , c o n f i r m a n d o t a m b é m a a s c e n -

p o r t a n t e na Batalha d e Ain J a l u t e m 1260, q u e p ô s

são dos m a m e l u c o s . Os sucessores d e Baibars gover-

lim à sua expansão r u m o a o Ocidente. J H

naram o Egito até o século XIX. R G


1265 20 DE J A N E I R O

Simão de Montfort convoca o parlamento Pela primeira vez na história inglesa, cidadãos eleitos representam cidades, assinalando o início da democracia parlamentar. O parlamento c o n v o c a d o por S i m ã o d e Montfort, c o n d e d e Leicester (1208-1265), reunido e m 20 d e j a neiro d e 1265, foi u m marco importante na e v o l u ç ã o d o g o v e r n o representativo. Os parlamentos anteriores haviam se limitado a m e m b r o s da nobreza. Essa era a primeira vez q u e se pedia aos cavaleiros d e cada c o n d a d o e aos burgueses (cidadãos) d e u m g r u p o d e cidades selecionadas q u e enviassem a o parlamento dois representantes eleitos por eles. Simão d e M o n t f o r t possuía extensas terras na Inglaterra e na França. Casou-se c o m a irmã d o rei H e n rique III e m 1238, mas foi se t o r n a n d o cada vez mais crítico d o g o v e r n o d o c u n h a d o . Simão uniu-se aos barões q u e exigiam a imposição d e limites a o p o d e r d o rei e maior participação n o g o v e r n o , sobretudo no q u e dizia respeito à política externa ambiciosa e dispendiosa d e I lenriquo. I m I264, Simão organizou u m a revolta e derrotou o exército d o rei na Batalha d e Lewes, c a p t u r a n d o Henrique e seu filho Eduardo. Ao tornar-se praticamente responsável pelo país, o arrogante S i m ã o d e s p e r t o u a oposição dos outros grandes barões, e o b t e v e apoio sobretudo dos b a rões m e n o r e s , cavaleiros d e c o n d a d o e cidadãos, cujos representantes c o n v o c o u ao parlamento c o m o forma d e fortalecer a própria posição. Q u a n d o o último barão partidário d e Simão d e sertou, Eduardo conduziu um grande exército para combatê-lo e Simão foi morto na Batalha d e Evesham e m 1265. Q u a n d o subiu a o trono, porém, Eduardo não deixou d e incluir e m seu parlamento representantes das cidades e condados, primeiro passo na criação da democracia parlamentar moderna. S K

O

A revolta de Simão de Montfort ajudou a inaugurar a democracia parlamentar representativa.



Í273 24 DE O U T U B R O

Rodolfo torna-se rei

Beatriz é vista

Rodolfo de Habsburgo é eleito rei da Alemanha e sacro imperador romano.

Beatriz Portinari inspira a obra-prima de Dante.

Hi •/<) a lenda q u e certo dia, q u a n d o estava c a v a l g a n -

Nascido e m uma família florentina d e ascendência

do i le volta para casa, Rodolfo d e H a b s b u r g o e n c o n -

nobre, Dante Alighieri entrou para a História c o m o

trou u m padre t e n t a n d o levar a extrema-unção a u m

u m dos maiores escritores d o Renascimento italiano.

In u n e m à beira da morte. 0 padre, q u e ia a pé, havia

Sua p r o d u ç ã o incluiu poesia, teoria literária, filosofia

pai.ido junto a u m rio. Rodolfo a p e o u , pediu a o p a -

moral e teoria política. M a s a l g u m a s das maiores

dre q u e montasse e c o n d u z i u o cavalo p e l o rio até o

obras d e D a n t e talvez nunca h o u v e s s e m sido escri-

i 'iilermo, d a n d o o cavalo d e presente ao padre e v o l -

tas não fosse u m encontro fortuito c o m Beatriz Porti-

t a n d o para casa a pé. A n o s depois, o padre, e n t ã o

nari g u a n d o ele tinha apenas 9 anos d e idade.

í n ebispo d e Mainz, ajudou a garantir a eleição d e Ri "lolfo c o m o rei da A l e m a n h a . Rodolfo foi coroado na catedral d e A a c h e n e m 24

Dante conheceu Beatriz na casa dos Portinari d u rante as c o m e m o r a ç õ e s d o início d o verão. Iria admirar Beatriz pelo resto da vida, m e s m o tendo ela desposado um banqueiro e m 1284 e o próprio Dante se casado e m

"A simples menção do seu nome espalhava terror entre os barões e alegria entre o povo" Elogio contemporâneo

1285. O relacionamento dos dois incluía encontros fortuitos s e g u n d o o m o d e l o d o "amor cortês" medieval. O amor cortês era uma forma d e admiração e respeito por outra pessoa, secreta e não correspondida. Q u a n d o Beatriz morreu, e m 1290, Dante buscou consolo na literatura e c o m p ô s uma série d e obras p o é ticas inspiradas por seu segundo encontro c o m ela nas

de i mtubro d e 1273, e seu reino ajudou a consolidar o

ruas d e Florença. Seus sonetos descreviam uma Beatriz

poder da dinastia Habsburgo dentro e fora da Alema-

que zelava por ele qual uma figura divina e tornaram-se

nha. Mas as tensões perduraram c o m Otocar II da B o ê -

conhecidos c o m o La vita nuova

mia, principal rival d e Rodolfo pelo trono alemão. Em

nea marcou o aumento de popularidade do amor c o m o

1274, Otocar recebeu a o r d e m d e devolver à coroa todas

tema literário. Os trabalhos posteriores d e Dante t a m -

as torras imperiais tomadas desde o governo d o impera-

b é m foram influenciados pela lembrança d e Beatriz:

("A vida nova"). A coletâ-

dor Frederico II. Ele se recusou, e a guerra resultante só

sua obra mais famosa, a Divina

l e i m i n o u c o m sua morte e m combate e m 1278.

sendo guiado pelo poeta latino Virgílio e m uma viagem

comédia,

mostra Dante

Rodolfo passou vários anos tentando estabelecer

ao inferno e ao purgatório, e depois ao paraíso por Bea-

••na autoridade na Áustria. Em 1282, conseguiu con-

triz, q u e ele descreve c o m o "a gloriosa dama da minha

|i listar os d u c a d o s da Áustria e Estíria para seus dois

mente". A Divina

filhos, e s t a b e l e c e n d o as bases da Casa d e Habsburgo,

escritas não e m latim, mas e m italiano, firmando-o c o -

mas jamais conseguiu m a n t e r á paz na Alemanha. An-

m o língua adequada à expressão literária. T B

comédia

foi uma das primeiras obras

les d e sua morte, e m 1921, Rodolfo tentou eleger o fiho Alberto, mas fracassou, talvez pelos temores d o a u m e n t o d e poder dos Habsburgo na Alemanha. T B

O

Um manuscrito da Escola Italiana do século XIII mostra o encontro d e Dante e Beatriz.


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