Revista de janeiro 2012

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Revista Ano I Nº I Janeiro de 2012 3,50 euros (IVA incluído)

Promoção cultural de novos autores

Victor Lages Do Surrealismo à Arte Fantástica

Fado Património da Humanidade

Luís Ferreira O céu também tem degraus

Noémia Travassos A arte do fogo

Random.Mov Uma nova geração na Arte

Júlio César A Arte de representar em todo o palco

e muito mais... entre e veja!



Digo-vos eu...

Propriedade/Edição Meiostextos,Edições, Lda.

Revista

Luís Fernando Graça Artista Plástico

Publicação Mensal NPC nº 510028810 Capital social 5.000€

“Deus quer, o homem sonha, a obra nasce!” Fernando Pessoa Chegou a Revista Novos Talentos e com ela, o espaço para a Cultura que faltava nas nossas bancas. A Revista Novos Talentos, tal como o nome indica, irá ter uma particular atenção aos talentos que todos os dias são descobertos, e não conseguem mostrar o seu trabalho, falamos nas áreas gerais da Cultura: pintura, escultura, instalação, poesia, escrita, fotografia, dança, bailado, música, teatro, etc.

Diretor Executivo e Financeiro Lina Conceição Editor / Designer Gráfico Luís Fernando Graça Deptº Comercial Andreia Campante Fotografia Paula Cardoso Graça Colaboradores Carlos Almeida Sónia Pessoa Vitor Lages Vitor Loureiro

Um dos objectivos da Revista Novos Talentos é trazer esses nomes até ao grande público, tirar projectos da “gaveta” e mostrá-los a quem de alguma forma possa ajudar a concretizar, chegar a todo o país e além-fronteiras onde estiver um português, mostrando a Portugal e ao mundo o que de melhor se faz em terras lusas, sempre com a cumplicidade de artistas mais experientes e que vão de alguma forma dar o seu testemunho no sentido de “apadrinhar” os nomes mais recentes da Cultura. Não fazemos julgamentos e nem pretendemos ser “elitistas”, achamos que quem tem de o fazer é o público e não só algumas pessoas por muitos conhecimentos que tenham. A observação não é um fenómeno, como tal, todos a podem fazer, apreciar uma obra de arte e fazer o seu próprio juízo sem influências mercantilistas.

Administração, Redacção e Publicidade R. D. Augusto Pereira Coutinho, 15 2870-309 Montijo Telef. 210 886 287 Fax. 210 880 898 E-mail: revistanovostalentos@gmail.com ERC nº (aguarda) Depósito legal nº33542/11 ISSN nº 2182-4029 Tiragem 10.000 ex. Impressão PERES - SocTIP,SA

Desde o “Artshow2011 – Papergift 2011 - na FIL – Parque das Nações” passando depois pelo “Artshow/ Open House da Paula Mendes, Lda – na Expoeste - Caldas da Rainha”, que senti que o caminho era este, a divulgação, a união e a força por parte de todos os artistas.

Distribuição Logista Publicações

Esperamos desta forma conseguir trazer até si uma revista suave, de fácil leitura, acessível, com publicidade “low cost”, para incentivar mais a criação cultural. Estamos receptivos a receber as vossas propostas, façam-nos chegar os vossos projectos, as vossas notícias e aventuras pelo mundo da cultura. A Arte pela Arte. Muito obrigado a todos!

Capa: Victor Lages - Artista Plástico 1


ÍNDICE 1 – Digo-vos eu… Luís Fernando Graça

Projecto Editorial Revista Novos Talentos A “Revista Novos Talentos” é um novo projecto editorial para o campo cultural, académico e profissional, das artes plásticas, fotografia, teatro, cinema, bailado, musica e lingua portuguesa.

2 – Índice

3 . 16 – Artes Plásticas 3 – 6 - Entrevista com Victor Lages do Surrealismo à Arte Fantástica. 8 – 9 – A escultura de Adália Alberto 10 – 11 – A pintura de Silvia Marieta 13 – 15 – Noémia Travassos – A arte do fogo

17 . 20 – Artes dos palcos

Não apenas mais um projecto que venha ampliar os meios já existentes neste domínio, mas um espaço de publicação concebido com a pretensão de acolher novos nomes que diáriamente “constroem” a cultura nacional, independentemente da diversidade de perspectivas, linguagens, contextos e objectivos que os caracterizem, façam das formas de arte o seu objecto comum. Pretende-se portanto divulgar os novos valores da cultura nacional nas áreas acima descritas.

Julio César – A Arte de …representar em qualquer palco

21 – Pontos de Vista… Carlos Almeida - Artista Plástico

22 – Tecnologias Arte Digital de …Deiwooh

24 . 25 – Como entendo a Arte Victor Lages – Artista Plástico

26 . 28 – Anonymous Urban Art Paula Cardoso Graça - fotografia

29 . 31 – Caminhos diversos Luís Ferreira – O Céu também tem degraus!

32 . 33– Sonhei um dia… ser poeta! A poesia de Gabriel Rito

34 . 38 – Música 34 - Fado – Património Imaterial da Humanidade 37 - 38 - Cordas N'água – a vida de Silvino Pais da Silva

39 – A escrever é que a gente se entende Sónia Pessoa

40 . 42 – Projectos vários Random-mov – Movimento Multicultural de Promoção Artística A Bilha - Projecto de Arte

46 . 47 – Portfólio Fotografia de Vítor Loureiro

A edição da nossa revista terá a tiragem de 10.000 exemplares, com o preço capa de 3,5 euros, periodicidade mensal e será distribuída pelo território continental, ilhas e posteriormente por países de língua oficial portuguesa e comunidades de emigrantes espalhados pelo mundo. Estatuto Editorial Revista Novos Talentos 1 – A "Revista Novos Talentos" é uma publicação de divulgação da criação cultural e artística. que se orienta pelos princípios da liberdade, do pluralismo e da independência, procurando assegurar a todos o direito à informação. 2 – A "Revista Novos Talentos" respeita os direitos, liberdades e garantias consignadas na Constituição da República. 3 – A "Revista Novos Talentos" assume-se como independente de todos os poderes políticos e económicos, bem como de qualquer credo, de qualquer doutrina ou ideologia, respeitando todas as opiniões ou crenças. 4 – A "Revista Novos Talentos" privilegia, no seu conteúdo, a divulgação isenta, rigorosa e objectiva, distinguindo claramente os espaços de opinião livre e assegurando nestes o confronto das diversas correntes ideológicas. 5 – A "Revista Novos Talentos" considera a sua actividade como um serviço de interesse público, com respeito total pelos seus leitores, em prol do desenvolvimento da identidade e da cultura nacional, da promoção do progresso cultural e artístico das populações. 6 – A "Revista Novos Talentos" subordina-se à deontologia da Comunicação Social, cumpre a Lei de Imprensa, respeita as normas do Estatuto do Jornalista e observa as orientações definidas neste Estatuto Editorial. Luís Fernando Graça o editor

48 - Próxima edição


Artes Plásticas

Revista

Entrevista

VICTOR LAGES

Do surrealismo à arte fantástica

Nasceu em Lisboa em 1952. Desde sempre desenhou e pintou. Cursou na Escola António Arroio. Durante 12 anos trabalhou em artes gráficas, sem no entanto deixar as artes plásticas.

Foi membro da ANAP associação nacional de artistas plásticos durante seis anos. Em 1997 é co-fundador da Arcoartis, associação de artistas plásticos da Damaia, sendo presidente da mesma durante oito anos, é distinguido como membro Honorário em 2005.

Trabalha no seu atelier (Artezen) desde 1980. Até 1992 teve uma grande actividade na área da publicidade e na criação gráfica (concepção de logótipos e embalagens) e na ilustração na qual conta com duas dezenas de livros publicados.

Começa em 1996 e termina em 1999 as pinturas sacras na Igreja de Nª. Srª do Cabo de Linda-a-Velha, sendo esta, a sua maior obra e, considerada o maior conjunto de arte sacra em pintura mural, em tela e óleo, do século XX em Portugal.

Desde então tem-se dedicado exclusivamente á pintura e escultura. Expõe desde 1981. Em 1993, é um dos fundadores do Grupo Artitude o qual se extinguiu em 1996. Fez parte do júri do IX Salão Nacional de Caricatura/VI Festival de Humor Oeiras/95 e do 1º Concurso Damaia Encontro com os seus Pintores, este em conjunto com Artur Bual em 1995.

Foram inauguradas pelo Ministro da Administração Interna Dr. Jorge Coelho, pelo o Presidente da C. Municipal de Oeiras Dr. Isaltino Morais e D. Tomás Bispo Auxiliar de Lisboa e estiveram presentes muitas outras individualidades.

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Artes Plásticas

Executa na Damaia em 2005 uma pintura mural com 88 metros quadrados no “Parque Goa” e na Rua Duarte Pacheco Pereira cria “Os Mirones” que são 50 bolas pintadas com expressões diferentes, estando colocados nas zonas relvadas dos jardins numa extensão de 300 m.

Em 2000 a associação Paço de Artes e o jornal A Voz de Paço de Arcos atribui-lhe uma homenagem pela actividade artística desenvolvida no concelho de Oeiras. Em 2001 executa o mural em mosaicos (Um grande passo para o Homem) com cem metros de cumprimento, situado junto ao cruzamento no Borel na Amadora. Foi-lhe atribuído pela Câmara Municipal de Oeiras, o Mérito Municipal Grau Prata por actos e serviços praticados de relevo, no âmbito do Município e do País em 2002. Entre 2002 e 2003 cria e executa mais de 500 telas, um mural e três esculturas para o Solplay Hotel que foi inaugurado pela Presidente da C. Municipal de Oeiras Dra. Teresa Zambujo com a presença do Ministro da Educação David Justino.

Participou em 2006 no programa televisivo “Divercidades” transmitido em directo pela RTP Internacional e retransmitido na RTP África. Concorreu com três propostas para pintar vacas para a exposição CowParade Lisboa 2006 e todas foram seleccionadas. Criou em 2008 o Núcleo Português de Arte Fantástica com o blogue Utopia, que é um projecto virtual para o desenvolvimento e promoção da Arte Fantástica. Tem organizado e promovido o Prémio Utopia, para premiar a melhor obra anual de arte fantástica, em pintura, escultura e digital, tendo sido já realizadas duas entregas do prémio, de 2008 e 2009, em Cerimónia de Gala, com espectáculo e exposição dos concorrentes, nos Recreios da Amadora. Tem sido citado nos mais diversos meios de comunicação social, entre revistas, jornais, rádios e televisões. Tem obras espalhadas em Portugal, Espanha, França, Itália e EUA em colecções particulares. Está representado no Museu Municipal Armindo Teixeira Lopes (Mirandela) e no Museu do Mar (Cascais), tem obras nas Câmaras Municipais, Amadora e Oeiras, bem como no SMAS de Oeiras e Amadora. Já efectuou 21 exposições individuais e participou em 207 colectivas.

Em 2004 foi gravada uma entrevista para o programa “Entre Nós” da Universidade Aberta que foi transmitida no Canal 2 da RTP, no Canal África e Canal Internacional da RTP. 4


Artes Plásticas

Revista

NT – Como começou esta aventura? Trabalhava eu em artes gráficas, depois de ser encarregado geral da empresa e de estar farto daquele ambiente, surgiu um anúncio num jornal a pedir pintores de arte para pintar as caixas de relógios clássicos de sala, com motivos das caçadas inglesas, século XVII ou XVIII, fiz um teste e contrataram-me logo e a ganhar o mesmo que ganhava nas funções que exercia na empresa. Tinha na altura 29 anos, uma filha e um filho a caminho e a mulher já estava em casa sem trabalhar para tratar dos filhos. NT – Qual foi a obra que mais o marcou? Não existe uma obra que me tenha marcado de modo a registar essa memória. Existem de facto várias obras de que gosto mais, por ter conseguido realizar melhor a ideia que pretendia transmitir e mesmo a estética e a técnica terem sido bem conseguidas.

NT – A reacção dos nossos pais às nossas opções são sempre engraçadas. Como foi consigo e com a opção “artista”? A minha mãe não teve qualquer problema com a situação, porque eu desde que me lembro de existir, sempre desenhei e pintei e mesmo paralelamente à profissão que tinha, realizava trabalhos diversos ligados às pinturas, aos desenhos e à criatividade. Posso dizer que quando tinha uns 10 anos já desenhava em papel cenário, figuras religiosas com um metro e tal, para o meu avô depois as ir pintar em igrejas que restaurava. Isto acontecia quando ir passar férias a casa dos avós maternos, porque o meu avô tinha dificuldade em desenhar.

NT – Qual é a parte no papel de artista plástico que mais o fascina? Aquilo que mais me fascina na criação artística, é mesmo a criação e depois a execução da obra e como resolver os problemas que vão surgindo, durante a execução da mesma. NT – É fácil para si, “descolar-se” de uma obra e passar a outra sem levar “réstias” da primeira? Sim, não tenho qualquer problema em passar de uma obra para outra, sem levar réstias da anterior. O meu processo criativo normalmente é pensado primeiro e depois executado, por outro lado como costumo trabalhar por encomenda, consigo desligar de um assunto e começar outro. Por outro lado tenho o hábito de realizar séries ou seja faço uns quantos trabalhos ao mesmo tempo e por isso com a mesma temática.

NT – Como foi a 1ª exposição? Ainda se lembra? A primeira exposição em que participei foi na Junta de Turismo da Costa do Sol no Estoril, integrada numa exposição realizada pelo Museu do Mar em Cascais sobre a baleia, onde eu realizava lá alguns trabalhos de pintura de dioramas e de modelos de mamíferos marinhos e peixes, isto aconteceu em Junho de 1981. Assim comemoro no próximo ano, 30 anos de exposições.

NT – De todos os projectos por sí empreendidos, qual o marcou mais? Talvez o projecto que mais me marcou, tenha sido, as obras de arte sacra que realizei em várias igrejas católicas. As igrejas de Pêro Pinheiro, Linda-a-Velha, Queijas e a capela do Carmelo de Faro. NT – Sendo o Victor Lages um artista plástico, com mais de 30 anos de carreira, como vê o caminho da Cultura em Portugal? Isto de cultura é relativo e falando de artes plásticas a minha observação é que existe uma elite de artistas, que conseguiram por várias razões serem projectados. Por outro lado existem muitos bons artistas menos conhecidos e que não conseguem essa projecção, também por várias razões. Mas, verifico que em geral as galerias de arte, são um mundo comercial e não cultural, que também se compreende e por outro lado, só as autarquias é dão mais relevo à cultura.

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Artes Plásticas

NT – Como vê o apoio que o Estado presta à nossa cultura. O apoio que o Estado dá à cultura é também subjectivo, porque esse apoio é muito direccionado a determinado objectivos, instituições e pessoas. Como tal a cultura é controlada e segue padrões, porque todo aquele que for diferente e não seguir o que está institucionalizado, tem sempre menos hipótese de apoio estatal, directo ou indirecto. NT – Quer comentar o que se passou com o seu projecto Utopia? O projecto Utopia, é um projecto que visa promover a arte fantástica. É um projecto virtual que começou em 2008 na net e que se materializa em exposições e num prémio anual. Depois da realização de três prémios, em que o seu máximo expoente é a Cerimónia de Gala da Entrega do Prémio e da exposição dos concorrentes, onde o único apoio tem sido o do Município da Amadora e todos os espectáculos têm sido realizados com a amizade dos mais variados intervenientes. Este ano de 2011, vi-me obrigado a não realizar o prémio, porque preciso de algum dinheiro que nunca arranjei, para pagar as despesas mais básicas, bem como, nem que seja para agraciar todos os que participam no espectáculo da Gala. Por outro lado, também tive a necessidade de ajustar alguns pontos no regulamento do concurso. Farei tudo para que o projecto não morra e decerto, continuará no próximo ano.

NT – São artistas como o Victor Lages que alimentam os sonhos dos novos aspirantes, o que é que lhes diria, que conselhos lhes daria, para que as suas carreiras edificassem, tal como a sua, a nossa cultura e identidade? Penso que o mais importante é a determinação em crer realizar um objectivo. Se alguém quer seguir uma carreira, em primeiro tem de trabalhar muito, acreditar no que faz e ser rigoroso consigo próprio. NT – Como lida com a sua popularidade? Não me considero popular, sou sim conhecido em alguns meios ligado às artes plásticas. É certo que muitas pessoas me reconhecem por aquilo que tenho realizado, mas não ligo demasiado ao assunto, não me sinto diferente das outras pessoas e estou em qualquer lado sem qualquer presunção. NT – Projectos futuros? Continuar com o projecto Utopia. Existem outras ideias que espero concretizar no próximo ano, mas que por enquanto ainda só existem em esboços mentais. Gostava de editar uns livros que há muito tempo tenho vindo a escrever. NT – A questão que não lhe pus e que gostaria de ter respondido? Gostava de dizer e ainda a propósito de cultura, é que o que normalmente realizo é arte cultural, que difere um tanto da comum arte comercial. É certo que preciso de viver, mas o que mais gosto de realizar e de transmitir é a parte cultural. Assim transmito o que penso e não tanto os sentimentos ou o que é perceptível à visão. Considero ser a “Grande Arte”, toda a obra de arte ligado ao mundo do fantástico, do sonho e do imaginário. NT – Deixe-nos uma frase sua e que queira partilhar. É a arte que faz a humanidade. NT – Muito obrigado pela sua disponibilidade sempre tão genuína.

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Revista publicidade

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Artes Plásticas

Revista

“A Toureira” – Retail Park de Santarém

Sempre achei mágico, na arte da Escultura, o polido entendimento do que já lá estava, como sempre, oculto para quem não sabe. E que a Mestra vai buscar, directa ao corpo e à forma, sempre plena de instinto, de erotismo e de oferta.

Guerreiro II

“Passei um dia com Adália pela Serra d' Aire. Vi os seus olhos brilharem o tempo todo na paisagem, perscrutando, inquieta e criativa, as formas e texturas das pedras e das fragas. Quando me pede, quase a medo, que lhe faça um texto, dou por mim sorrindo. Soubesse eu faze-lo em pedra e sonho, como ela, e tudo escorreria fácil, tal o trânsito de admiração que tenho pela sua obra, sobretudo pelas “suas mulheres”.

A menina tímida que brincava com a pedra cresceu muito. É hoje um exemplo de renovação, interrogação e partida permanente. Do descritivo, partiu para a descoberta de simbolismos maiores, onde, com humor provocatório, a mulher sai por cima do trato vulgar e se converte em deusa superior, desafiadora de todos os tabus. E como lhe sai fácil o sopro de vida nascido da matéria. A Adália esta cada vez mais a procurar o sonho que nos leva. E a ironia reside no seu ar simples, pacato, quase discreto. Como quem nos pede desculpa de ser, a cada dia, criativamente maior”. Pedro Barroso – autor, compositor e músico

Conheço-lhe o jeito, a forma de ser. Fica muitas vezes em silêncio, olhando e pensando. Porque lhe faltam as palavras. As mesmas que lhe sobram, esculpidas no peito do sonho e nos fascinam. E eu escrevo, sim. Escrevo e descrevo o deslumbre dos corpos elegantes. Tal como a utopia e a carícia, numa viagem cheia de desejos infinitos.

Introspecção Linguagem corrente

Nesta mostra, uma vez mais, mulheres-coragem erguem-se do maciço, onde sempre habitaram, apenas despidas dos excessos de pedra que as ocultavam.

Pecado original

Obras Públicas 2010 - “Pega de Caras” - Jardim da Liberdade, Santarém 2008 – “Calceteiro” – Rotunda do Major, Alqueidão da Serra, Porto de Mós “ A Toureira” – Retail Park de Santarém 2006 – “ 35 Anos de Música e Palavras” – Homenagem a Pedro Barroso, Torres Novas

2008 – “Calceteiro” – Rotunda do Major, Alqueidão da Serra, Porto de Mós

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Artes Plásticas

Revista

“A Toureira” – Retail Park de Santarém

Sempre achei mágico, na arte da Escultura, o polido entendimento do que já lá estava, como sempre, oculto para quem não sabe. E que a Mestra vai buscar, directa ao corpo e à forma, sempre plena de instinto, de erotismo e de oferta.

Guerreiro II

“Passei um dia com Adália pela Serra d' Aire. Vi os seus olhos brilharem o tempo todo na paisagem, perscrutando, inquieta e criativa, as formas e texturas das pedras e das fragas. Quando me pede, quase a medo, que lhe faça um texto, dou por mim sorrindo. Soubesse eu faze-lo em pedra e sonho, como ela, e tudo escorreria fácil, tal o trânsito de admiração que tenho pela sua obra, sobretudo pelas “suas mulheres”.

A menina tímida que brincava com a pedra cresceu muito. É hoje um exemplo de renovação, interrogação e partida permanente. Do descritivo, partiu para a descoberta de simbolismos maiores, onde, com humor provocatório, a mulher sai por cima do trato vulgar e se converte em deusa superior, desafiadora de todos os tabus. E como lhe sai fácil o sopro de vida nascido da matéria. A Adália esta cada vez mais a procurar o sonho que nos leva. E a ironia reside no seu ar simples, pacato, quase discreto. Como quem nos pede desculpa de ser, a cada dia, criativamente maior”. Pedro Barroso – autor, compositor e músico

Conheço-lhe o jeito, a forma de ser. Fica muitas vezes em silêncio, olhando e pensando. Porque lhe faltam as palavras. As mesmas que lhe sobram, esculpidas no peito do sonho e nos fascinam. E eu escrevo, sim. Escrevo e descrevo o deslumbre dos corpos elegantes. Tal como a utopia e a carícia, numa viagem cheia de desejos infinitos.

Introspecção Linguagem corrente

Nesta mostra, uma vez mais, mulheres-coragem erguem-se do maciço, onde sempre habitaram, apenas despidas dos excessos de pedra que as ocultavam.

Pecado original

Obras Públicas 2010 - “Pega de Caras” - Jardim da Liberdade, Santarém 2008 – “Calceteiro” – Rotunda do Major, Alqueidão da Serra, Porto de Mós “ A Toureira” – Retail Park de Santarém 2006 – “ 35 Anos de Música e Palavras” – Homenagem a Pedro Barroso, Torres Novas

2008 – “Calceteiro” – Rotunda do Major, Alqueidão da Serra, Porto de Mós

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Artes Plásticas

A irreverência de

a i v l i S ieta r a M Sílvia Marieta, nasceu em Lisboa, em 1982. Na infância, passada em Sines, despertou a atenção de professores, pais e amigos, com os seus desenhos repletos de detalhes. Mais tarde, na adolescência, passada no Entroncamento, iniciou-se no desenho de retrato a a partir de fotografia, por sugestão de sua mãe, para prenda de aniversário do pai, e na pintura a óleo, por iniciativa própria, como forma de expressão de sentimentos, como ainda é hoje o caso. O tema de eleição é a figura humana, ser que considera admirável mas simultaneamente confuso, que melindra e seduz, entre muitas outras características. Mas também já tem pintado outros temas, a pedido ou para experimentação de materiais e técnicas. Sempre teve o apoio da família para seguir pintura, bem como o de professores e amigos. Em 2006 entrou na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa, onde teve contacto com uma arte que desconhecia, e estudou algumas novas técnicas, com destaque para as técnicas de gravura antiga.

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Artes Plásticas

Revista

Após terminado o curso sentiu a necessidade de se afastar por uns tempos da pintura, mas pontualmente eram-lhe solicitados desenhos de retratos ou pinturas, que não recusava e a partir de 2010 voltou a sentir uma grande vontade de pintar e foi expondo mais regularmente, tornouse sócia de várias associações e grupos de artistas e tem vindo a participar em exposições colectivas em Portugal, Espanha, Inglaterra, França e Bulgária, contando também com algumas exposições individuais em Portugal.

Tem arrecadado alguns prémios e mensões honrosas, principalmente em concursos de pintura rápida, em Portugal e Espanha. Actualmente divide-se entre Sacavém/Lisboa e Entroncamento e dedica-se inteiramente à sua pintura e por vezes obras de encomenda. Luís Fernando Graça

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Artes Plรกsticas

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Artes Plásticas

Revista

A arte do fogo

Noémia Travassos Registar as percepções advindas do meio ambiente foi e continua a ser, uma forma de saciar necessidades prementes do seu ser. Desde sempre a fascinaram as cores pastel, os limites esbatidos de um arco-íris, as luzes brancas num rosto queimado pelo sol ou o contraste colorido dos tecidos africanos.

Nasceu em Lisboa em 1956 e as suas aventuras começam com apenas um ano de idade, quando os seus pais decidem partir para África e fixar residência em Moçambique.

O que se seguiu, foi um não mais parar de querer um pouco mais, um caminho incessante de aperfeiçoamento pessoal e um desafio perseverante, entre a criatividade da alma e a habilidade técnica para a transmitir.

Crescer na geografia africana (Gorongoza, Gondola, Vila Pery, Manica, Beira, Lourenço Marques) foi a bigorna que modelou firmemente a sua personalidade. Aos 22 anos regressa a Portugal, para a cidade do Porto onde ainda reside. O forte cenário africano, a luz intensa, a multiplicidade de cores, brilhos e cheiros, não deixaram indiferente os sentidos daquela menina sensível. O despertar para a arte acontece inevitavelmente desde muito cedo, ainda no raiar dos primeiros anos de escola.

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Artes Plásticas Detentora do Diploma de Mestre em Artes sobre Porcelana, outorgado pela IPAT – International Porcelain Artist and Teacher's com sede no Texas ( www.ipat.org/), a mais certificada organização a nível mundial; Curso de “Técnicas de Cerâmica e Azulejaria”, com o Prof. João Carqueijeiro Curso de “Moldes para Cerâmica”, com o Prof . Carlos Azevedo; Curso I e II, de “Vitrais Tiffany”, com o Prof. António Costa ( www.decovitral.com );

Esta dedicação extravasou os limites do individual quando em 1991 e na qualidade de professora certificada pela Associação americana, IPAT- International Porcelain Artists & Teachers Inc, começou a ministrar formação artística e a transmitir aos seus alunos os segredos da fascinante arte milenar – a Arte em Porcelana.

Curso de “Raku – Técnicas de Cerâmica Japonesas” , com a Prof. Nadine Guéniou.

FORMAÇÃO ARTÍSTICA Na demanda pela sua arte de eleição, faz o primeiro contacto com a porcelana em 1990, nela encontrando as transparências das cores naturais e que o alto-fogo imprime perenemente. Durante os 19 anos que se seguiram, fez inúmeros de cursos e Workshop's de arte, dentro e fora do país, ministrados por mestres de renome internacional na área da cerâmica, nomeadamente Peter Faust (Alemanha), Filipe Pereira (México), Lourdes Abraços (Brasil), Elvira Aguiar (Brasil), Prof. Carlos Spina (Brasil), Mário Watanabe (Japão), Pilar Burgos (Espanha).

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Artes Plásticas

Revista

Ministrou seminários e Workshop's em Convenções nacionais e internacionais, (anexos I e II); Directora Cultural da ACLAL -Academia de Letras e Arte Lusófonas www.aclalusofonas.blogspot.com/ Co-fundadora da Pinacoteca da Câmara Municipal de Figueiró dos Vinhos; Académica da ALAP -Academia de Letras e Artes de Paranapuâ – Brasil (cadeira nº 35, patronímica do Pintor Pain Vieira) desde Out-2004

ACTIVIDADE ARTÍSTICA

PRÉMIOS E DISTINÇÕES – África do Sul, Bolívia, Mónaco, Egipto, Brasil, México, Itália, Estados Unidos da América, Suíça, Austrália,

Promove e desenvolve cursos de arte em porcelana e vidro na sua Oficina de Artes, na cidade da Maia (www.noemiatravassos.net) ;

50 Exposições Nacionais 16 Exposições Internacionais

Lecciona com carácter periódico na Escola “Jocum D'Arte”, na cidade de Braga;

Luís Fernando Graça

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Andreia Campante Telef.:919 304 217

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Arte dos Palcos

Revista

JÚLIO CÉSAR A Arte de Representar em qualquer palco. Fez parte do elenco que representou “Morangos com Açúcar”, (Prof. Ravina) e mais recentemente, participou nos elencos de “Sentimentos” e “Mar de Paixão” , da TVI, como Guilherme Peixoto D'Almeida. Está a gravar uns episódios para a série "Velhos Amigos", para a RTP1. Foi distinguido dia 4 de Novembro de 2011, com o prémio carreira pela revista MAIS ALENTEJO, no Teatro Garcia de Resende em Évora evento que homenageou figuras como Eunice Muñoz, Rui Nabeiro, Luís Mira Amaral, Marco Paulo, Fernando Correia, Júlio César, Paulo Caetano, José Ribeiro e Castro e António Costa Pinheiro sem que houvesse qualquer menção por parte dos outros meios de comunicação, mesmo os ditos de “serviço público”. Revistas como a “MAIS ALENTEJO” fazem deste país, uma pátria com uma cultura mais alta e estas iniciativas deviam ser mais apoiadas.

A 16 de Junho de 1947, Alter do Chão vê nascer o que seria um dos maiores nomes da representação nacional. Do teatro às novelas, passando pelo cinema e direcção de actores, nomeadamente do Casino do Estoril e Casino da Póvoa, onde durante mais de 20 anos, foi autor, actor e encenador de mais de 30 espectáculos, sendo o musical “Dalí” um exemplo de um enorme sucesso, entre outros.

O principal objectivo da nossa revista, é dar a conhecer os novos talentos que vão surgindo no panorama cultural português, todavia, não podemos esquecer os que antes destes, surgiram e alimentam agora os sonhos dos mais recentes, a “Revista Novos Talentos” tem o grato orgulho de apresentar no seu número primeiro, uma entrevista com este homem da cultura.

Júlio César é um actor e apresentador de televisão português de uma simplicidade e humildade exemplar. A sua vasta experiência em Teatro, Rádio, Cinema e Televisão, deu-lhe um Prémio de Interpretação do Instituto Português de Cinema ( filme JOGO DE MÃO de Monique Rutller ). Prémio Nova Gente (Rádio) com o Programa Chinelo de Quarto - Antena 1, e Prémio Popularidade Casa da Imprensa (novela Passerelle). De Pessoa a Dali já se destacou em muitas áreas da cultura até como artista plástico, com uma vasta experiência e carreira paralela ao êxito que têm obtido como actor, encenador e criador. Em cinema destaca-se em INFERNO de Joaquim Leitão e ultimamente no filme de Leonel Vieira “ O Julgamento” . Do mesmo realizador representa em Adão e Eva e 12.13 (purgatório), mas não fica por ai, destacou-se em mais de 40 aparições entre cinema, teatro, novelas e concursos bem conhecidos. Os filmes “Um passeio no parque”, “Uma outra ordem”, “Esta noite sonhei com Brueghel”, “Era uma vez um Alferes”, “A relíquia”, “Resposta a Matilde”, “Há petróleo no Beato”, “Os imortais” foram dos mais importantes da sua carreira.

NT – Ser ator é uma aventura. Como começou esta sua aventura? Há muitos anos, mais de 50, no Alentejo em Chança, num Grupo Cénico fundado por dois tios meus. O Grupo pretendia angariar dinheiro para instalar na terra a luz eléctrica, imaginem. Chamava-se Grupo Cénico Pró Luz da Casa do Povo de Chança. Hoje, sempre que uma luz acende na minha terra, sorrio e lembro-me que eu também ajudei. Depois essa luz ... iluminou-me o caminho e cá estou ... 17


Arte dos Palcos

JÚLIO CÉSAR

A Arte de Representar em qualquer palco.

NT – A reacção dos nossos pais às nossas opções são sempre engraçadas. Como foi consigo e com a opção “Actor”? Acharam graça quando as coisas eram só ao nível Amador. Depois, já em Lisboa, não olharam com bons olhos a ideia da profissionalização. O meu pai dizia que aquilo não era vida. Chegou a proibir-me de ir para o ABC fazer uma revista. Só me tornei profissional quando eles já não podiam mandar em mim, na minha vontade e nas minhas escolhas. Claro que depois aceitaram, que remédio, e eram meus fãs. Mas foi dura a luta... NT – Como foi a 1ª vez no palco? Ainda se lembra? No Grupo Cénico da Casa do Povo, como lhe disse. A peça chamava-se Martírio de uma Alma, um dramalhão de faca e alguidar. Eu fazia de cauteleiro e o lucro da venda da lotaria era para ajudar uma pobre menina orfã e tísica. Enfim ... só desgraças. A plateia chorava baba e ranho ahahahah ...

Entrega do Prémio Carreira galardoado pela Revista Mais Alentejo

NT – Na novela “Fascínios”, o Júlio encarnou uma personagem (Leopoldo – Xerife) muito importante para os combatentes das nossas ex-colónias, retratando o problema do Trauma que a Guerra Colonial deixou. Falando com muitos ex-combatentes, quase todos se reviam nesse personagem. Onde começa o actor e acaba a experiência, também como ex-combatente? Não fiz a guerra colonial. Não tinha nenhuma experiência sobre o stress de guerra. Socorri-me de algumas conversas com ex-combatentes e tentei entender os seus dramas e angustias. É gente muito sofrida e há verdadeiros dramas calados em muitos deles. Observei atentamente um primo meu que ainda hoje sofre imenso. É um drama que a sociedade portuguesa nunca encarou e de que os governantes se alheiam.

NT – Qual foi o personagem que mais gostou de “encarnar”? Gostei muito de fazer o Raposão, na Relíquia de Eça de Queirós e o Almada Negreiros, na peça Almada Dia Claro. Em cinema também gostei de representar Fernando Pessoa, no filme " todas as cartas de amor são ridículas" e Jaime, em O Julgamento - de Leonel Vieira. NT – Qual é a parte no papel de actor que mais o fascina? O estudar o personagem, o encarar outros factos, o viver a vida de outra pessoa, o estudo da época? Tudo isso são fases do levantamento de uma personagem e toda essa fase de construção é desafiadora e única. A procura de uma personagem é sempre aliciante. Mergulhar num outro eu é sempre fascinante.

NT – Mudemos agora de assunto. Sendo o Júlio César mais do que um actor, apresentador ou artista plástico, é sobretudo um agente cultural, como vê o caminho da Cultura em Portugal? Os vários poderes enchem a boca de cultura durante as campanhas eleitorais. Servem-se dos agentes culturais para conquistar o poder e depois, descartam-nos como lixo. É uma vergonha. Um país que abandona a cultura e os seus agentes, coloca-se no ranking-lixo da civilização. Não há estimulo. Não há interesse... e, receio bem que não haja país.

NT – É fácil para si, “descolar-se” do personagem diariamente ou só o faz completamente, quando termina a série ou o filme? Não trago personagens para casa. Convivo com elas durante o tempo em que estou em estúdio. Depois desligo. O mesmo acontece com o texto. Esqueço-o assim que acabo de filmar. O disco rígido, que é a nossa memória, não aguentaria tanta coisa. É preciso fazer "delete" de vez em quando ...

NT – Como vê o apoio que o Estado presta à nossa cultura. Não há. Não há vontade politica. O que existe são uns balões-culturais, para armar. O pouco que se tem feito ao nível da cultura em Portugal deve-se mais ao empanamento autárquico do que propriamente do poder central.

NT – Qual foi o papel que ficou gravado na sua pele? Há papeis de que gostei. Uns mais que outros. Gravados na pele não ficaram. Não me deixo "tatuar" pelas personagens sob pena de, a seguir, não conseguir representar outras 18


Arte dos Palcos

Revista

JÚLIO CÉSAR A Arte de Representar

NT – Quer comentar a saída do Diogo Infante, do Teatro Dona Maria II?

em qualquer palco.

São lugares políticos. Mediatizados. Era espectável que acontecesse...apesar do bom trabalho que o Diogo fez lá. NT – Como vê a chegada de tantos e tão bons actores ao pequeno ecrã e o apoio dado pelas televisões aos novos talentos? As televisões não dão apoio. Ajudam a revelar e beneficiam com isso. Depois ficam os bons, os que têm jeito, os que trabalham. Pena que muitos deles se deslumbram com a popularidade imediata. Mas há várias fornadas de gente com talento televisivo. Estão aí e têm ajudado à maior aceitação que a ficção portuguesa começou a ter junto do público.

NT – São atores como o Júlio César que alimentam os sonhos dos novos aspirantes, o que é que lhes diria, que conselhos lhes daria, para que as suas carreiras edificassem, tal como a sua, a nossa cultura e identidade? Não darei conselhos. Apenas algumas recomendações. Muito trabalho, dedicação, crer ... e procurar a sorte, a tal pontinha de sorte que não cai do céu. A sorte constrói-se e dá muito trabalho ... NT – Como lida com a sua popularidade? Sempre lidei bem com isso. Nunca me deslumbrei. Encaro a popularidade como um reconhecimento publico do meu trabalho. Sinto que as pessoas gostam de mim e isso deixa-me feliz. NT – Agora, quero fazer uma pergunta ao artista plástico. Como nasceu essa necessidade de projectar os sentidos em tela e qual é a sua opinião sobre as artes plásticas em Portugal? Não me considero um artista plástico. Essa não é, seguramente, a minha área. Sou um curioso das telas e das tintas. Sempre fui, mas não me considero pintor. NT – Fale-me da importância do papel das televisões no sentido da empregabilidade dos nossos actores? As televisões não empregam. Dão trabalho. Tem havido mais trabalho, fruto da muita ficção em português que se tem feito. É um bom sinal mas não podemos olhar só para os que aparecem. Há muita gente da profissão que está no desemprego. E gente de talento, de muito talento ... e que as televisões não chamam ... 19


Arte dos Palcos publicidade

JÚLIO CÉSAR A Arte de Representar em qualquer palco.

Sinto, porque me o dizem, que tenho algum jeito. Gosto de cor e do que dela se pode retirar, a beleza que tem, os efeitos que provoca, as sensações e emoções que ali são transmitidas. Descarrego na tela muito de mim ... com prazer e entrega, com verdade. Mas daí a ser pintor ... falta muito. NT – Projectos futuros? Não sou de fazer projectos. A vida acontece-me. Sempre foi assim e assim continuará ...

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NT – A questão que não lhe pus e que gostaria de ter respondido? As questões têm a ver com projectos. Se houvesse uma questão, aqui não posta e que eu gostasse de responder, era sinal que tinha pelo menos um projecto de resposta a que não tinha respondido ahahahahah ... NT – Deixe-nos uma frase sua e que queira partilhar? " A Liberdade é um boato Universal "

publicite connosco

NT – Muito obrigado pela sua disponibilidade sempre tão genuína! Muito obrigado sou eu. Abraço aos leitores e muitas felicidades para este projecto. Força na vida e na arte! Uma aventura editorial é como um filho. Encaminha-se e ganha asas. Oxalá os leitores entendam isso e acarinhem este esforço. Sorte !

ajude-nos a promover os artistas portugueses

Tlm.: 938 677 426

Luís Fernando Graça

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Ponto de vista... carlos Almeida

Revista

PONTO DE VISTA

Carlos Almeida

Produzir, produzir! Fazer do acto de produzir o sol de cada dia a

eles, pobres coitados, a definir o que melhor nos convém a nós! Bem hajam semelhantes criaturas que zelam, quais deuses omnipresentes, pelas bem-aventuranças das gentes da plebe que não têm querer. Zelam bem, porque nos tiram as culpas de nos responsabilizarmos pelos nossos próprios passos, e missionariamente não se importam e até compreendem que os culpemos e os responsabilizemos pelo que nos acontece; é que ainda assim, têm a compensação mundana de nos livrarem da tremenda carga de sermos nós a gerir os nossos destinos, e ao mesmo tempo, exercem o pesado sacrifício de nos obrigarem resolutamente a cumprir o que eles tão doutamente entendem ser o melhor para nós a cada momento, que, por incrível que possa parecer, coincide perfeitamente com o que lhes interessa a eles. Mera coincidência, genialidade, ou os estranhos desígnios deste Olimpo?! E neste Olimpo onde fica a zona viver?

iluminar intensamente os nossos olhos já cegos de tanta luz! Crescer! Crescer, até perdermos a medida real de quem somos e já não nos conseguirmos ver nem alcançar! Mais! Sempre mais, cada vez mais, mais depressa! Cada vez mais rápido, vertiginosamente veloz, mais rápidos do que a própria sombra, tropeçando nela até perdermos o fôlego, para não cairmos na aviltante tentação de ousar pensar! Consumir! Sim claro… consumir, consumindo-nos completamente, até à pior das misérias de já quase só sermos coisas e não nos possuirmos a nós próprios, a troco das pequenas ilusões de conforto e esperanças coloridas que nos perpetuam perfilados e dóceis como formigas obreiras, pelos obscuros carreiros desta tão providencial sociedade. Pagar! Pagar é como o acto de respirar; está sempre presente, e fazemo-lo muitas vezes com todo o nosso tempo de vida, e vivemos os sonhos que outros sonharam e que com mil estratagemas nos levaram a acreditar tratarem-se de sonhos nossos, e lutamos e labutamos como se as verdades deles fossem as nossas, e hasteamolas como bandeiras imaculadas acreditando no que nos dizem; que as coisas têm de ser mesmo assim… é o destino!

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Vamo-nos alimentando do vício de não pensar, e o que é ainda mais perturbador, vamos acomodados e dormentes, dando preferência ao estranho vício de não sentir, transformando-nos em magos da mais fria desertificação emocional, e quase achamos isso normal! Dormir…dormir… TRIIIIIM! TRIIIIIM! Acordar! Maldito despertador! Acordar, mas sem despertar porque isso é uma loucura imperdoável, depois de uma breve passagem pelo mundo de Morpheu, onde se enganam sonhos e cansaços, recomeçamos tudo de novo, num ciclo de perpétuo e desenfreado processo de extinção do ser que habita amordaçado, nas profundezas da nossa essência. Temos muita pressa; é um caso de vida ou de morte! Viver? Parar para pensar? Pensar em quê? No que verdadeiramente queremos para as nossas vidas? Que confusão! Que desperdício! Há que pisar as horas e os dias, pisar o tempo como se fosse um verme a destruir. Lixo! Lixo! Muito lixo! É preciso soterrar todas as frustrações e medos e manter a indústria a laborar! Lucrar! Lucrar! Descartar! Descartar tudo, para não perder tempo! Descartarmo-nos a nós próprios, atribuindo a outros a difícil tarefa de serem 21


Tecnologias

DEIWOOH Um algoritmo existencial elevado a Arte

O transcendente na arte digital Deiwooh, é o nome artístico de Gilberto dos Santos Silva, nascido a 23 de Janeiro de 1968. Neste momento, apresenta-se aos outros com o intuito de materializar estados de sonhos multidimensionais utilizando ferramentas digitais. Recebeu formação em informática - multimédia (FUNDETEC – INESC / Rumos) concluída em finais de 1993 e tem feito uma evolução/reciclagem autodidáctica na Alemanha e em Portugal.

Alquimia Ignia

Radiância Final

Ama acolher no seu coração, em profunda observação, diferentes vectores expressivos que o inspiram.

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Revista

Planos Vobratórios

Regresso ao Útero azul

Tecnologias

DIVULGAÇÃO

A Utopia – Núcleo Português de Arte Fantástica na sequência da sua actividade como tem vindo a fazer todos anos, realiza mais uma exposição de artes plásticas “ A R T E FA N T Á S T I C A E SURREALISMO 1” de 28 de Janeiro a 18 de Fevereiro de 2012 na Casa Roque Gameiro, Praceta 1º de Dezembro, 2 – Venteira 2700 - Amadora. Esta exposição conta com artistas de várias localidades do país e de diferentes disciplinas das artes plásticas, mostrando assim e mais uma vez, uma arte imaginativa e criativa como são o surrealismo e o fantástico.

com o apoio:

Victor Lages

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Tecnologias

Como entendo a Arte por Victor Lages

O mundo e a sociedade humana, tal como no passado, também hoje estão em contínua mudança e as artes sofrem também transformações desde a génesis, à interpretação e compreensão da mesma. O mesmo acontece também se for tecnicamente perfeita, mas tenha deficiências estéticas, tal como, se tiver uma mensagem extraordinária, mas técnica e esteticamente não forem bem conseguidas, ficamos na mesma, não deve também ser considerada obra de arte. E o mesmo sucede com qualquer outra profissão, temos que saber o que fazemos, para sermos profissionais nessa área, isto é, tomar consciência do que fazemos e do que somos.

Hoje a comunidade científica e em especial a psicologia, considera que qualquer pessoa pode exercer qualquer actividade, porque todos têm as mesmas capacidades para o fazerem. As artes plásticas, a música, a dança, entre outras actividades, de expressão interior, que mexem com os sentimentos e sensibilidades de cada um e também com a forma de pensar, são utilizadas para fins de tratamento do foro psicológico e motor.

Não se pode ser matemático ou músico por exemplo, sem se compreender o que é a matemática ou a música. Hoje o mundo é regido pela comunicação. Tudo acontece através da rápida informação entre todos, que por sua vez se tornou global e já não podemos estar fora desse fenómeno, desde os telemóveis à net, tudo se faz a uma velocidade muito grande e também tudo o que contém espectáculo e movimento atrai muitas pessoas, porque tudo está em constante mudança tornando-se diferente, comunicando, informando ou simplesmente divertindo.

Devo afirmar que a utilização das artes plásticas, como meio terapêutico e ocupacional, não faz dessas pessoas artistas e ainda menos, essas pessoas produzem obras de arte. Para isso, será necessário que as pessoas realizem um percurso de actividade artística, de forma que as levem à compreensão e entendimento do que efectivamente é arte e o que é uma obra de arte.

Ao contrário, as artes plásticas que são actividades isoladas e estáticas, como tal, cada vez menos pessoas são atraídas para verem pinturas ou esculturas. As galerias encontram-se normalmente vazias e só aparecem pessoas quando cheira a muito movimento e diversão. Um quadro por exemplo, que é uma imagem parada, fica ali o tempo inteiro sem fazer nada sempre igual a si mesmo, de forma que não atrai ninguém.

Acontece também com muitos, que de uma forma ou de outra, estão inseridos no meio artístico mas no entanto, não sabem distinguir uma obra de arte de um trabalho artístico decorativo. Cada pessoa devido ao factor genético, familiar ou social, tem mais predisposição para uma actividade ou outra, seguindo uma para a qual tenha predisposição, poderá vir a ser bom profissional, tudo depende com que determinação e trabalho se dedique a essa actividade.

Assim, é necessário tomarmos uma atitude diferente e alterar este complexo problema das artes plásticas. É urgente que pessoas mais novas e que se estão a iniciar no mundo das artes, consigam fazer a diferença e à semelhança do renascimento dê uma volta a tudo isto.

Refiro isto para dizer, que a genética tem muita influência nas actividades profissionais de cada um, assim como na atitude psicológica.

Existem cada vez mais artistas ou pseudo-artistas, que se juntam para mostrar os seus trabalhos e também conviver uns com os outros, mas é necessário despertar as pessoas comuns a gostarem e apreciarem arte, porque só assim faz sentido ser artista e fazer obras de arte.

Mas e o que é arte? E também como se distingue uma obra de arte de algo muito parecido com arte? Com o decorrer do tempo e com a experiência que fui adquirindo, compreendi que uma obra de arte tem de ter três pontos essenciais para poder ser considerada como tal, a criatividade, a técnica e a mensagem.

Por tudo o que foi dito, a arte deve ser mais um meio de comunicação.

Uma obra artística pode ser esteticamente muito bela, mas sem uma técnica adequada ou ausência de mensagem, de certo que não é obra de arte.

Podemos então ver como tem evoluído o pensamento sobre a interpretação da arte e que em linhas gerais tem três teorias essenciais.

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Victor lages

Apresentação da Revista Novos T l ntos

A primeira é considerada a Teoria como Imitação e a ideia é que para ser obra de arte, ela tem que imitar ou representar qualquer coisa. A segunda teoria é a Teoria como Expressão, que começou a ser implementada no século XIX e o objectivo é que para ser obra de arte, ela tem que exprimir os sentimentos e as emoções do artista.

Revista

exposição de artes plásticas

A terceira teoria é a Teoria Formalista e a ideia desta teoria é que para ser obra de arte, tem que provocar nas pessoas emoções estéticas. De acordo com o exposto, penso ser necessário modificar alguns conceitos estabelecidos. Assim, tento implementar um novo conceito que é a Teoria em Rede, que considero ser mais adequada aos tempos de hoje e de amanhã. O mundo está globalizado através da comunicação e informação, dessa forma a tendência é as pessoas se tornarem mais conscientes de si e do mundo, das sociedades e de tudo. Portanto a arte deve ser cada vez mais um produto da consciência do artista e não tanto das emoções, das sensibilidades ou da intuição. Assim as obras produzidas devem incluir as três teorias principais, acrescentando a mensagem que o artista pretende transmitir com a sua obra e a isto chamo arte cultural. Portanto a ideia é que para ser obra de arte, ela deve comunicar ou transmitir pensamentos ou a imaginação do artista, através da representação de algo, onde exprime os seus sentimentos e onde a obra por si própria, deve provocar no observador emoções estéticas. Enfim, a arte além do seu lado estético, deve reafirmar valores sociais ou mesmo critica-los, para muitos artistas pode ser um grito de liberdade interior que pode ser ouvido por quem contemple a obra e até mesmo materializar sonhos, assim, a arte deve ser a manifestação cultural de uma sociedade. Por outro lado a arte e a tecnologia estão sempre em competição, quando da invenção da fotografia, a arte deixou de retratar o que via e passou a mostrar os sentimentos do artista, mais tarde com a evolução das tecnologias, a arte deixou os sentimentos de lado e a própria obra, para se tornar somente uma concepção. Agora com as novas tecnologias da globalização, a arte deve ser uma comunicação directa, entre o artista e o observador da obra.

Um dia terá que ser admitido oficialmente. que o que batizamos de realidade é uma ilusão maior do que o mundo dos sonhos

com a participação de:

Victor Lages Paula Cardoso Graça Vitor Loureiro Té Salvado Luiz Morgadinho Vitor Zapa Anna Veiga Vitor Moinhos Jorge Rebelo Xico Fran Jorge Bandeira Luís Fernando Graça Adália Alberto Silvia Marieta Carlos Almeida Manuela Leal Armando Magno Gabriel Rito Cláudia Graça Noémia Travassos Carlos Godinho Aucta Duarte

dia 7 de janeiro de 2012 pelas 16 horas

Rua Dom Joaquim Pereira Coutinho, 15 2870-309 Montijo

Salvador Dali 25


Anonymous urban art

S U O

M Y N N O A AN URB T R A PAULA CARDOSO GRAÇA Fotografia Paula Cardoso Graça, nasceu em Lisboa, a fotografia foi uma descoberta fantástica. Autodidacta, possuidora de uma técnica e sensibilidade muito genuínas. A fotografia tornou-se um vício, que a tem ajudado a olhar a beleza do mundo de uma outra forma, a viajar, procurar novos lugares, novas gentes e novas experiências. “Digamos que a mente se juntou à alma para pedir que o corpo voasse.” Paula Cardoso Graça

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Anonymous urban art

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Revista


Anonymous urban art

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Revista

foto de Sérgio Guerreiro

Caminhos diversos

NT – Como é que tudo começou ? Tudo começou em 2006 quando um grupo de amigos desafiou-me a fazer um Blog. Sempre tive o gosto pela escrita e sempre escrevi. No entanto os “fantasmas” e todos os medos de colocar as minhas palavras perante um outro olhar, condicionaram que tivesse iniciado mais cedo. A partir de 2006 e com a criação do blog “Mar de Sonhos” as coisas fluíram com naturalidade num abrir e fechar de o l h o s . NT – Como “saiu” o 1º poema? Ainda te lembras? Não me lembro, nem mesmo aquele que coloquei pela primeira vez online. Penso que o primeiro poema terá surgido na primária, pois recordo-me vagamente de umas palavrinhas que rimavam numa aula de Português. Seria interessante hoje poder ler esse primeiro apontamento. Há dois anos, encontrei um velho caderno dos tempos do liceu, com alguns poemas, era um revolucionário e um jovem sempre preocupado com os problemas sociais. (risos) NT – Quem são as tuas inspirações? Tudo o que existe. No entanto o “amor” é por excelência o tema, onde melhor desenvolvo a minha escrita. Naturalmente a minha musa só poderia ser a minha esposa. Existem outros temas que abraço e por isso tudo o que me rodeia, poderá servir de elo catalisador a um apontamento ou poema.

Luís Ferreira nasceu no Barreiro a 8 de Maio de 1970, vive actualmente em Alcochete.

NT – Dentro dos livros já editados qual é o teu “filho mais querido”? Seria injusto escolher um, pois todos eles tiveram e possuem uma vital importância para mim. Independente de hoje, achar normal que o último é sempre o melhor, pela evolução e capacidade poética que ganhei com o tempo. Será injusto no entanto, esquecer qualquer um dos livros, pois todos eles fazem parte da minha biografia, do meu percurso como autor e guardo todos eles no meu coração.

Publica em diversos sites ligados à escrita e às artes. Publicações editadas: “Mar de Sonhos” em Novembro de 2007, “Rio de Sal” em Maio de 2008, “Momentos…” em Setembro de 2009 e “Rosas & Espinhos” em Novembro de 2010, “O céu também tem degraus” Julho de 2011. A sua poesia encontra-se publicada em diversas colectâneas: “Nas Águas do Verso 100 autores/100 poemas” (Agosto de 2008). “A Arte pela Escrita” (Outubro de 2008), “Antologia 2008 Luso Poemas” (Dezembro de 2008), “A Arte pela Escrita 2” (Outubro de 2009), “Antologia Tu Cá, Tu Lá” (Outubro de 2009), “A Traição de Psiquê” (Dezembro 2009), “I Antologia Temas Originais” (Fevereiro de 2010), “A Arte pela Escrita 3” (Outubro 2010), “II Antologia Temas Originais” (Fevereiro de 2011), “Por um sorriso” (Maio 2011), “A Arte pela Escrita 3” (Outubro de 2011). Do seu currículo consta ainda, uma menção honrosa no XIVº Concurso de Poesia da APPACDM – 2009.

NT – Como vês o apoio que o Estado presta à nossa cultura. O Estado apoia a cultura? Vejo sempre a cultura como o parente pobre da sociedade, pois quando há corte de verbas, é sempre na cultura que se corta primeiro. Infelizmente temos de fazer por vezes omeletas sem ovos. Na minha opinião estamos a perder um pouco a nossa identidade cultural e ao mesmo tempo a afastar as populações (principalmente as novas gerações) dos mais diversos eventos. Admiro quem consegue desenvolver mesmo em tempos de “crise”bons apontamentos culturais (existe felizmente b o n s e x e m p l o s d i s s o ) .

“Nada sou… apenas palavras e nas suas asas, sonho…”

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foto de Sérgio Guerreiro

Caminhos diversos

Luís Ferreira

O Céu também tem degraus

NT – Como vês a chegada de tantos escritores, tendo como ponto de partida os cerca de 300 livros que são publicados diariamente! Todos possuem o direito de escrever ou o sonho de editar um livro. Paralelamente a isso, existe um grande negócio editorial por parte das editoras e ao mesmo tempo um grande perigo à custa disso. Edita-se tudo… basta ter alguma capacidade económica por vezes. Assim justifica que o mercado seja invadido por “n” livros diariamente e seja colocado nas livrarias, livros acerca de tudo. Naturalmente toda esta situação condiciona e satura esse mesmo mercado. Existem muitos livros a sair, e nem sempre com a qualidade apetecível (mas isso já é outra história). Na minha opinião, não é o livro editado que faz o escritor, mas tão só, a qualidade da sua escrita. Caberá ao público e à critica literária fazer essa destrinça.

NT – Projectos futuros? Existem sempre muitos projectos. Neste momento e após o lançamento e as diversas apresentações do meu último livro “o céu também tem degraus”, é tempo de descansar, fazer uma pausa. Sei o que irei fazer, qual o meu “caminho”, será um projecto ambicioso, diferente, um novo desafio. Peço desculpas por não abrir muito o jogo, porque primeiro quero materializar o projecto e tudo virá a seu tempo. A única coisa que sei é que apenas haverá novo livro em 2013.

NT – São escritores como tu, que alimentam os sonhos dos novos aspirantes, o que é que lhes diria, que conselhos lhes daria, para que as suas carreiras edificassem? Acima de tudo que vençam os fantasmas, tal como eu o fiz, esse é sem dúvida o primeiro passo a dar. Depois é começar degrau a degrau… não querer alcançar o céu de imediato (isso está destinado aos poucos eleitos, nem sempre a sorte bate à porta)... tudo tem um caminho natural. Como em tudo, existem barreiras, obstáculos… que necessitam de ser contornados, vencidos. É sempre necessário encontrar uma boa editora, uma boa parceira para construir neste caso um bom casamento. Poderemos ter más experiências, uma, duas e até três vezes… mas o caminho faz-se fazendo e isso enriquece um pouco a nossa experiência. Por fim, é fazer acontecer e não esperar que as coisas venham até nós… por isso continuo a fazer tantos quilómetros neste nosso Portugal, a divulgar os meus livros e as minhas palavras.

NT – A questão que não te pus e que gostarias de ter r e s p o n d i d o ? O acordo ortográfico? Toda a gente pergunta a minha opinião acerca disso (risos) Sinceramente não sei que outra pergunta poderiam fazer. No entanto acredito que haverá algo mais e que algum dos leitores gostaria de fazer. NT – Deixe-nos uma frase tua e que queiras partilhar? Não há verdades absolutas, nem distâncias impossíveis… Nem sempre o olhar vê para lá do horizonte, nem sempre as mãos sentem toda a plenitude. Apenas… mesmo que finjas não acreditar, só tu és o condutor do teu caminho.

NT – Como lida com a tua popularidade? Normalmente. Mantenho a minha humildade, o meu espaço. Não mudo os meus hábitos de vida, não altero rotinas, não mudo de opinião, nem a minha forma de pensar. Sou apenas uma pessoa como qualquer outra na sociedade, com os mesmos direitos, deveres, sonhos… apenas escrevo e por isso é normal que ao ser lido, seja mais mediático, mais exposto, mas tão só isso.

NT – Muito obrigado pela tua disponibilidade. Obrigado eu, sempre ao dispor. LFG

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Caminhos diversos

Revista

Murmúrio de um silêncio Esta é a folha vazia, Onde escorre a tinta das letras, Entre o silêncio inacabável Fecundando o poema. Este é o tempo dos tempos, Do murmúrio esculpido No ventre suave da nudez, Entre o recolher breve de um olhar. Este é o sonho bandido, Exposto na face efémera Despojando as mãos como ilhas, Entre a música de uma sílaba declamada. Esta é a alma, Que desprende os desejos Acariciando o mar, No descrever das ondas em seu peito. Este é o centro de mim, Que escorre no alegre horizonte A boca acesa ao amor Latejando a liberdade de um beijo. Este é o exílio sentimento, Suspenso na voz contida Regressando ao seio da sua mãe, No voo perpétuo de um pássaro.

Nasci das mãos Moldo as sílabas, No verso que se solta Fluindo nas mãos do poeta, Como ventre que o germina. Flui a palavra, De rosas a florir em liberdade A voz da alma… A folha que a beija Naquele encontro perpétuo. Talvez… Seja apenas o sentimento perdido, Que se solta em fragmentos O rumor que flutua Na ave que voa, Percorrendo a imensidão do teu olhar. Talvez… Seja apenas um pedaço do meu eu, Que se ergue entre as névoas Falando em silêncio No poema que nasce.

Quando tudo falta… Que importam as ilusões defuntas, O xadrez obsessivo das palavras, Os abismos que inebriam o perfume das rosas, Os dedos que choram No multiplicar dos beijos perdidos. Que importa, se cai o silêncio Entre os olhares de névoas Transfigurados nas labaredas de cinza Permanecendo na solidão Quando mais nada resta de nós. Que importa, se o barco se afoga no mar Quando a espada rasga o leito, Entre os traços de lamentos da noite Fecham-se as portas ao rosto, Na dor que arde no peito. Que importa, se surgem corredores e abismos E as carnes laceradas, míseros segredos Quando cegam os olhos ao voo das aves Morrendo as estrelas no filamento. Que importa quando nada mais se tem Ermo caminho na miséria do ser Tortura infinita que é demência Quando tudo falta… Quando me faltas tu.

Confissão Sou o que sou, A inquietação, A dor, A rosa perfumada O caminho perdido, Quando faço as minhas escolhas. A confissão do pecado, O peso das pedras que recuso, A areia que escorre entre os dedos, As linhas que cruzam as mãos, As lembranças esquecidas Num pretexto banal para evocar a alma. Nas faces do meu ser, O pó que traça o destino, Na inquietação permanente, Entre os ténues pensamentos Que amanhecem entre os muros. Confesso-me… Para que ninguém me inveje, E sinta o amor das minhas palavras, Que partem sem acenos Na maresia que abraça o porto. 31


Gabriel Rito

a t e n a c incel à

do p

NT - Quando é que sentiste necessidade de escrever? O meu primeiro poema foi em Fevereiro de 1972 e resultou de uma proposta de um amigo, que tinha um grupo (banda musical) que com ele ensaiava e que nunca mais vi, que sugeriu, (não sei o que viu em mim), que eu escrevesse a letra para uma música. Esse poema, “Nuvem Passageira”. Poema simples, simples, ingénuo e que ele nunca chegaria a conhecer, acabou por ser o despertar da poesia em mim, nunca mais parei. Agradeço ao amigo que nunca mais vi. NT - Como te sentes quando escreves? Sinto-me vivo e entusiasmado! Sendo a poesia uma criatividade que vem de dentro, tal como todas as criatividades, eu sinto-me a realizar algo de muito meu; de muito sentir e desejar. É a minha afirmação, tal como outra qualquer.

Rito é natural de Freixianda - Ourém, onde nasceu em 1952. Por ser, desde sempre, atraído para a criatividade, que se vai reflectindo no seu percurso de vida, a arte, preferencialmente pela via da pintura e da poesia, irá nele despoletar e evoluir bem. Como profissional e artista, a sua formação sempre foi a de um autodidacta. Ele sente, vive, observa, magica e resolve, autonomamente, todos os seus desafios, não fosse ele um verdadeiro artista! Na pintura, privilegiando sempre a vertente criativa, tem desenvolvido diversas ideias com excelentes resultados, tal como os lindíssimos “Alentejo's” sensuais e algo eróticos que, há vários anos, tanto têm sido apreciados. Em paralelo com as suas criatividades, tem desenvolvido e aplicado estilos diversos, que muito têm despertado a atenção dos apreciadores. Para ele, a arte tem apenas duas vertentes: Saber captar e saber criar. Não desprezando de modo algum a primeira, que também pratica, a criação é, para ele, a essência das artes. É como fazer um pouco o papel do CRIADOR: ELE criou a Realidade, o artista criou a Ilusão.

http://rito.webnode.pt

NT - Como defines a Poesia em relação à pintura, uma vez que és artista plástico? Como disse antes, a poesia é uma criatividade, tal como outra qualquer. Mas, todas diferem no seu conteúdo e razão de ser. Poesia tem a ver com a “alma”, o sentir as coisas, a maturidade, o ser, a sociedade, as causas. A pintura tem a ver com a matéria, o imaginário criativo, a simbologia, o grafismo da vida; a mensagem visual. Tudo isso mexe comigo e não me deixa parar. NT - Em que livro saíram publicados os teus poemas? Saí, há muitos anos, princípio dos anos 70, num jornal que não sei se ainda existe: “O Emigrante”. Esse jornal era propriedade da entidade patronal com quem primeiro trabalhei, durante dez anos, e que abrangeu a minha passagem pelo serviço militar. Nesse jornal, através da iniciativa de um colega amigo, Pedro da Silva Morais de Carvalho, revisor de texto, foram publicados alguns poemas meus, estando eu, nessa altura em Angola, ainda no serviço militar. Daí para cá, tive, pela primeira vez, participação numa colectânea de trinta poetas não publicados, num livro saído neste mês de Novembro de 2011, intitulado: “Palavras Nossas”, da Editora “Esfera do Caos”. NT - Que criticas já tivestes? Já tive algumas, muito boas. Dos meus amigos, todos os que já leram, têm sido muito agradáveis. NT - O que esperas da poesia? Que agrade e consiga transmitir algo de muito profundo para a sensibilidade positiva de cada um.


Sonhei um dia ser... poeta

Revista

Gabriel Rito do pincel à caneta

“Ser Artista”

NT – Tens algum autor que seja uma referência? Apesar de, em tempos, ter lido muito livro, de poesia incluída, confesso que, actualmente, pouco ou nada leio. Artista, ao contrário do que muitos pensam, não tem mãos a medir de projectos a concretizar. Mas, do pouco que já li e gostei, poemas de vários e excelentes poetas e poetisas, pela sua simplicidade e enorme profundidade de sentir, revejo-me naquele que é de todos o menos letrado: António Aleixo. Ele sabia exprimir-se numa linguagem e termos comuns e que todos entendiam.

Eu não consigo entender sobre algo invulgar que tanto me faz mexer querendo tudo inovar. Olhar algo que existe ou na tela da visão com a força, que insiste fazer ou dar solução. A coisa mexe comigo impossível de conter me transforma, se o digo muitos tratam em descrer.

NT – E, novos projectos? Uma outra colectânea, que me propuseram há dias. Mas, se não fossem as naturais dificuldades dos dias que se vivem, não faltariam. Pintura é que está sempre presente.

Será o tal dom inato que me custa aceitar? tudo que faço num acto dependeu de o desejar.

NT - Que conselhos deixas a alguém que queira neste momento a dar os primeiros passos? “Olhar” bem para dentro de si e à sua volta; tratar de se “libertar”; dar o “passo”; deixar fluir e ser autêntico.

Ou outra coisa qualquer que apetece e outros não? é uma vontade, sem querer que me dá esse empurrão.

Luís Fernando Graça

Ser capaz de o fazer com jeito de artesão? não há talento ao nascer é só sonho e aplicação. “…E o dia chegou!” De tudo isto, retiro afinal, a explicação: é conclusão que prefiro ser apenas ambição.

Deixem-me sonhar, sonhar bem alto e livre, em fim, afastar minha dor da noite arrepiante dar um salto e abranger com todo o ser o amor.

Sem horários nem regime activo, sempre em acção da mente, que tanto imprime sai-me tudo em turbilhão.

Agora, que não há risos fechados mordaças que nos façam calar nem braços e pernas algemados é preciso ao passado não voltar.

De prémio, me satisfaz resultar e agradar rico ou pobre, tanto faz vou com todos partilhar.

Se é no povo livre que está a força a alegria, a vida e a verdade deixem-no cantar para que se ouça a sua voz ao som da liberdade!

É assim, o ser artista que difere de outra gente vislumbra, sem ter à vista por fazer, fica contente.

Gabriel Rito Julho de 1974 (Este poema foi escrito, três meses após o 25 de Abril, no Interior-Norte de Angola, na zona de Quicabo, a norte da província de Luanda, na fazenda Maria Fernanda, onde me encontrava a cumprir o serviço militar.)

Gabriel Rito 25-11-2011

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música

Fado Património Imaterial da Humanidade Fado Vitor Zapa - acrílico s/madeira

“Nascido nos contextos populares da Lisboa oitocentista, o Fado encontrava-se presente nos momentos de convívio e lazer. Manifestando-se de forma espontânea, a sua execução decorria dentro ou fora de portas, nas hortas, nas esperas de touros, nos retiros, nas ruas e vielas, nas tabernas, cafés de camareiras e casas de meia-porta. Evocando temas de emergência urbana, cantando a narrativa do quotidiano, o fado encontra-se, numa primeira fase, vincadamente associado a contextos sociais pautados pela marginalidade e transgressão, em ambientes frequentados por prostitutas, faias, marujos, boleeiros e marialvas. Muitas vezes surpreendidos na prisão, os seus actores, os cantadores, são descritos na figura do faia, tipo fadista, rufião de voz áspera e roufenha, ostentando tatuagens, hábil no manejo da navalha de ponta e mola, recorrendo à gíria e ao calão. Esta associação do fado às esferas mais marginais da sociedade ditar-lhe-ia uma vincada rejeição pela parte da intelectualidade portuguesa.” In História do Fado – www.museudofado.pt

Dia 27 de Novembro de 2011 o FADO foi elevado a património imaterial da humanidade pela UNESCO. Foram precisas somente 48 horas para Portugal acordar com a noticia que chegou a Portugal por SMS por Sara Pereira, directora do Museu do Fado em Bali, na Indonésia, a mesma foi anunciado, na sala onde o comité da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) esteve a votar todas candidaturas a património cultural imaterial da humanidade dos diversos países. Coube à fadista Mariza e ao fadista Carlos do Carmo serem os embaixadores da candidatura do Fado a Património Imaterial da Humanidade. A força que a cultura portuguesa tem internacionalmente com o Fado fez com que a sua candidatura fosse aprovada por unanimidade em pouco mais de cinco minutos. No jornal Público, o presidente da comissão científica da candidatura e musicólogo - Rui Vieira Nery - disse que este resultado "pôs fim a uma grande ansiedade", após passarem á votação mais de trinta propostas, a portuguesa foi a última.

Estão e parabéns todos os intervenientes, a cultura portuguesa e não poderia vir em melhor altura em que os nossos valores nunca estiveram tanto em causa. Luís Fernando Graça

O presidente da Câmara Municipal de Lisboa, entidade que formalizou a candidatura junto da UNESCO terminou o breve discurso que fez no local aproximando o iPhone do microfone para Amália se fizesse ouvir, cantando 'Estranha forma de vida'. Em Outubro a comissão de peritos da UNESCO já tinha a considerado o Fado uma candidatura exemplar, fazendo parte da Chamada “Lista dos sete” candidatos exemplares. O processo que foi encerrado e apresentado em Junho de 2010 contou com cerca de 6 anos de trabalho para que nada impedisse este resultado. 34


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Antรณnio Joรฃo Parreira

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música

Revista

SILVINO PAIS DA SILVA cordas n’água Silvino Marques Pais da Silva, nasceu num frio dia de janeiro de 1954, já a Nazaré tinha ondas de trinta metros. Filho de peixe sabe nadar e tal como o seu pai, a musica nunca lhe foi indiferente, sendo mesmo a razão de viver deste artista. Desde cedo que começou a construir o sonho de ser músico, fazendo parte de inúmeras bandas tais como, Big Boys - Soure Sol Doirado - Paleão-Soure Os Cobaias - Nazaré A Nave - Peniche Zaratustra - Nazaré Orquestra do Casino - Espinho Hipper - Nazaré Sintoma 6 - Nazaré Oitava Sinfonia - Nazaré Os Ovnis - Nazaré Alarme - Nazaré Morituri - Algés - Lisboa "Mêsriquefilhes" - Nazaré banda 71 - Nazaré banda 115 - nazaré Karma - Nazaré

Após a morte do seu pai, edita um livro póstumo que mostra claramente quem o ensinou a respeitar as suas gentes, este livro foi uma sentida homenagem a Silvino Pais da Silva (pai) (1928-1994) mais conhecido por Bino e que retrata as gentes desta terra maravilhosa. “Das vidas e dos medos” que conta “estórias” de crenças e superstições de quem vivia no mar com a morte sempre a espreitar e onde a frase “morrer na praia” fez e faz ainda hoje todo o sentido. Conhecer este artista foi um momento de indescritivel prazer, pela história, pela música, pelo ser humano. Luís Fernando Graça

NT – Como começou esta aventura? Quando eu nasci já havia musica em minha casa, pois o meu pai já era musico e transmitiu-me todo aquele sentimento por ela, mas sem nunca me dizer que eu tinha que seguir, tanto o meu pai como a minha mãe, sempre me apoiaram. NT – Como foi a 1ª vez no palco? Ainda te lembras? O meu primeiro palco foi na rua com outros miúdos da altura e a partir daí outras formações se fizeram e por muitas outras passei. NT – Qual foi o concerto em que mais gostaste de actuar? Gostei de muitos lugares por onde passei, desde pequenos concertos a concertos maiores. Mas é sem dúvida nos anos 80 e com a primeira formação dos “Alarme” que a sua carreira deixa o anonimato e passa a ser mais publica, sempre com a Nazaré no seu peito, dentro e fora do nosso território.

NT – Qual é a parte no papel de músico que mais te fascina? o que mais me fascina na musica sempre, é o poder transmitir tudo o que sei e o que sinto através dela.

Em 2001, embarca num esplendido trabalho a solo “Cordas n'água”, que dedica às suas gentes. Gentes do mar, do sofrimento, gentes do trabalho árduo, mas principalmente gentes de muita fé.

NT – Qual foi a música que ficou gravado na sua pele? Muitos sons ficaram gravados na minha pele e é por isso 37


música

NT –Como vês o caminho da Cultura em Portugal? Em relação á cultura o que eu posso dizer é que sempre farei o meu melhor que souber na procura de ser ouvido como um naufrago do som. NT – São músicos como tu que alimentam os sonhos dos novos aspirantes, o que é que lhes dirias, que conselhos lhes darias, para que as suas carreiras edificassem, tal como a tua, a nossa cultura e identidade? Não sou muito bom a dar conselhos, o que eu sei é que amo a musica e com ela vou enfrentando todas as dificuldades, porque sem ela, certamente, que estaria muito pior, há que acreditar e continuar a sonhar.. tudo é possível tudo é sensível tudo é profundo tudo acontece tudo envelhece tudo é o mundo

A musica é o melhor passaporte para conhecer outros países e outras culturas e todos aqueles encontros com músicos tão bons e tão diferentes, em estilos musicais, que nos ajudam a crescer como músicos e como homens, penso que a musica nos leva por caminhos que nunca pensamos em lá ir, como é bom viver nos sons.

este pequeno poema já o meu pai mo dizia.

Não tenho projectos, mas sonhos sim, porque no caminho que eu ando, falar em projectos é sempre um pouco complicado por precisamos sempre de mais alguém, e como todos têm os seus próprios projectos à que saber esperar pela melhor altura. Gostava de deixar uma frase, é que toda a gente gosta da musica, mas a musica não gosta de toda a gente. Por fim, obrigado por me deixares ser teu amigo, e desejo as maiores felicidades para este vosso novo projecto, estarei sempre pronto para o que precisares de mim, um abraço muito especial para ti Luís Fernando Graça e espero que compreendam esta minha forma de falar e escrever, não sou lá grande coisa a responder, porque cada pergunta trazme sempre um vendaval de respostas e tenho sempre e só, de escolher algumas.

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Sónia Pessoa

Revista

Quando há cerca de 18 anos me passeava pelos supermercados com dois carrinhos de compras, em que num depositava as compras e no outro a minha filha, com pouco mais de um ano de idade, e uma resma de livros á sua volta, e suscitava a curiosidade alheia, eu sabia que passados estes anos esse gesto haveria de dar frutos, ainda que muitas vezes fizesse algum sacrifício em comprar o livro que entre tantos ela escolhera. A menina que, ainda mal andava e já folheava livros e devorava as suas imagens com enorme atenção tornar-se-ia numa cidadã interventiva, culta, informada e participativa. Por isso reitero, dêem-lhes as bases, eles construirão o futuro. Como li algures, e não posso deixar de aqui o partilhar convosco, se acham que a cultura é cara experimentem a ignorância. E se esta nova revista acabar nas mãos dos vossos filhos, ainda que para entretê-los enquanto comem a sopa e se distraem das birras normais da idade, estará cumprido o objectivo… porque de pequenino se torce o pepino.

Sónia Pessoa A falar é que a gente e entende... De pequenino se torce o pepino... O meu primeiro texto na revista Novos Talentos não podia deixar de ser sobre a mesma, a nova publicação que está agora nas vossas mãos. Abraço este projecto certa de que, mais do que a promoção de novos talentos, uma promoção que aplaudo e que abre horizontes a todos quantos se dedicam às artes mas nem sempre têm, pelas mais variadíssimas razões, forma de chegar ao grande público, esta é mais uma forma de contrariar a tendência actual de haver nos meios de comunicação nacionais cada vez menos espaço consagrado à cultura e a todas as suas formas de expressão. Não podendo ignorar o contexto actual da crise económica e financeira mundial devemos no entanto insistir no facto de que na aculturação de um povo residem mais benefícios do que prejuízos, e de que adquirindo, por exemplo, um livro, estamos a contrariar a ignorância e, em última instância, a contrariar a própria crise já que a promoção da cultura também gera dinheiro e empregos. Por isso vou mais longe, se na cultura pode residir a solução de muitos dos nossos problemas, ao mesmo tempo que se preserva a história da humanidade, promova-se a cultura nas escolas… porque de pequenino se torce o pepino. Mais importante do que bonitos edifícios, inclua-se a arte nos conteúdos programáticos das nossas crianças. Puxando a brasa á minha sardinha, encham-se as salas de aulas de livros, contem-se histórias, promovase o regresso á oralidade, á partilha de conhecimento. A cultura é a base da cidadania, e cabe a cada um de nós, pais e professores, e ao Estado enquanto detentor de políticas de educação, promover estas acções.

Sónia Pessoa

ARMANDO MAGNO artista plástico

Rio Tinto

PARABÉNS ASSINANTE Nº1

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Projectos Vários

Projecto Random.mov O Random.mov foi criado por estudantes de variados cursos da Escola Artística António Arroio, Lisboa, em meados de Abril de 2011. Confrontados com uma realidade de escassos apoios e da pouca importância por parte do estado e da sociedade portuguesa em relação á cultura e principalmente ás artes, sobreveio desta maneira uma necessidade de se criar um movimento multi cultural de promoção artística em todas as suas vertentes.

O nome Random.Mov surgiu de um evento de mostra de artes que decorreu na Escola Artística António Arroio no âmbito da disciplina de Gestão das Artes, por parte de alguns elementos do curso de Comunicação Audiovisual, Cinevideo.

O objectivo inicial é encontrar pessoas, instituições, organizações, locais comerciais que estejam na disponibilidade para ceder espaços para eventos culturais de Fotografia, Artes Plásticas, Projecção de Cinema, etc.

Formado inicialmente por Tico Esteves do curso de Comunicação Audiovisual com especialização em Cinevideo, Helena Kramer também do curso de Comunicação Audiovisual com especialização em Cinevideo, José Paulo Soares do curso de Comunicação Audiovisual, Fotografia, Inês Pinhão curso de Comunicação Audiovisual, Fotografia, e Vítor Loureiro curso de Comunicação Audiovisual, Fotografia.

Desta forma obtêm-se uma colaboração entre as duas partes, para a promoção de trabalhos artísticos bem como a dinamização cultural dos espaços em questão.

O grupo teve a sua primeira aparição fora de portas estudantis, no dia 3 de Junho de 2011, na 1ª Exposição Internacional de Arte Postal de São Francisco, Alcochete, organizado pela ArtKnusUne. Mais tarde junta-se ao grupo Filipe Silva do curso de produção artística com especialização em Realização plástica do espectáculo, com a função de curador e também Daria Freiheit do curso de Design de Produto como artista plástica. 40


Projectos Vários

Revista

DIVULGAÇÃO

Este movimento já é detentor de uma carteira de eventos realizados na área da fotografia e da pintura, estando já em vista um futuro evento de projecção de curtas-metragens. Actualmente o grupo conta com sete elementos permanentes e não sendo um circuito fechado estará sempre aberto a alargar o seu número de participantes e tendo como habitué nos seus eventos a participação de novos talentos e artistas consagrados como convidados. Contactos: random.mov@hotmail.com http://www.facebook.com/RandomMov http://www.randommov.tk/

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Projectos Vários Envolveram-se no projecto mais de uma centena de docentes e cerca de 1500 alunos. Na continuidade do projecto, em 2008 seguiram-se os mesmos princípios, mas a área geográfica foi alargada. No ano de 2009, para além do alargamento a todo o país, o projecto estendeu os seus objectivos a várias escolas e realidades de outras regiões. Sendo cada local uma realidade distinta, este projecto serve para criar na diversidade, um ponto de interesse comum. O tema foi “PORTUGAL E AS REGIÕES”. Um projecto pedagógico que contou com a participação de cerca de 50 Escolas e mais de 1800 alunos envolvidos directamente e aproximadamente 300 docente, para além de diversas comunidades educativas. Contou ainda com a participação de Pais e Encarregados de Educação em diversos estabelecimentos de ensino. A realidade estendeu-se a todo o Continente e Arquipélago dos Açores. O tema abordado este ano, sendo generalista, foi a base para mostrar a realidade de cada região, nos seus costumes e na diversidade cultural que cada uma contém. Este projecto, para além de pedagógico, está sedimentado em três princípios. O primeiro, revela as tradições e cultura de um povo, assente num objecto de uso diário e hoje remetido para a parte decorativa. O segundo, a bilha como objecto pedagógico de trabalho, pela sua forma simples, ondulada e de fácil transporte. Finalmente, do passado para o futuro, abordando as tecnologias de informação como forma de incentivo pedagógico e de aproximação de realidades distantes. O coordenador e mentor do projecto refere que é um projecto “sem papéis”, afastado da burocracia e motivador para quem dele usufrui, mas também para aqueles, que na fase final, observam as bilhas decoradas. Citando André Malraux, “A cultura não se herda, conquista-se.” O projecto A BILHA apareceu no decurso do ano escolar de 2007. Em meados de Outubro foram apresentadas as primeiras propostas para a realização do Projecto no Agrupamento de Escolas de Estremoz. Até Dezembro reuniu-se todo o material para efectuar o Projecto. Nos finais de Abril estavam todas as bilhas distribuídas para decoração e em Maio foram mostradas ao grande público, no espaço do supermercado Modelo e posteriormente no Monte Seis Reis. Três entidades privadas apoiaram a iniciativa: os supermercados Modelo, a Caixa Agrícola de Estremoz, Monforte e Arronches e a Adega Seis Reis. Na génese da ideia esteve a decoração artística de 110 bilhas de barro com materiais reutilizáveis, tendo por tema “A SERRA E A ÁGUA”.

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Portofólio

Revista

Ao longo de muitos anos pensei num projecto que para além de educativo tivesse uma forte componente cultural, pegando numa referência regional mas com uma ligação maior à história da humanidade. “A BILHA projecto de arte” remete-nos para este conjunto de princípios e como refere Marlaux a conquista deste novo território cultural tem sido constante. Comecei por plasmar na “arquitectura” educativa este sentimento, e neste momento já o alarguei a outro ideal, o das artes plásticas. Nos quatro anos que leva o projecto, mais de 500 Bilhas estiveram a Concurso, realizaram-se três Galas para Entrega de Prémios, fizeram-se Conferências, passámos por ter visibilidade na Comunicação Social escrita, radiofónica e televisiva, nacional e estrangeira, percorremos o país de norte a sul, chegámos às Regiões Autónomas, realizámos exposições em vários locais, abrimos uma Exposição Visitável Permanente, no Centro Cultural Dr. Marques Crespo, e muito mais poderá ser feito.

Resta-me nestas últimas linhas agradecer a todos aqueles que de uma forma anónima têm colaborado comigo e que são um rosto importante para o andamento de “A BILHA projecto de arte”. Mais pormenores podem ser vistos em: http://abilha-projectodearte.drealentejo.pt Os comentários e as questões podem ser remetidos para: abilha.projectodearte@gmail.com

Não poderei esquecer todos os apoios que foram chegando através das instituições públicas e privadas, porque sem elas não seria possível chegar aqui. A continuação deste trabalho, depende em muito da continuidade destes apoios. Julgo mesmo que eles não vão faltar, porque todos os dias se acrescenta uma medida nova a este projecto. PUBLICIDADE

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Portofólio

O Mundo pelos olhos de

o r i e r u o L r to

Vi

fotografia

Vítor Loureiro, nasceu em São Jorge de Arroios, Lisboa em 1978. Em criança teve o privilégio de crescer entre o campo e a cidade devido à naturalidade dos seus pais o que lhe permitiu aprender a lidar com os valores nestes distintos mundos.

Antisocial personality desorder

Frame on you

A paixão e o respeito pelos animais fazem parte desses valores. Ao que recorda, a fotografia sempre esteve presente na sua vida, embora nunca de uma forma tão intensa como a partir de 2004 onde começou a divulgar e apresentar os seus trabalhos, sensibilizando outros para atrocidades sofridas pelos animais, colaborando com algumas associações de defesa dos animais.

Continuando com essa colaboração, executou recentemente a capa do livro infantil "Paco" da escritora Ana Mafalda Damião, cujas receitas revertem a favor da Aanifeira. O gosto pela fotografia levou-o em 2007 a regressar aos estudos, desta vez procurando uma especialização dentro da área, na Escola Secundária Artística António Arroio. Foi vencedor do passatempo Uivos de Mudança em Março de 2009, com organização da Aanifeira, Santa

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Portofólio

Revista

Azula-te

Convidado pela LPDA (Liga Portuguesa dos Direitos dos Animais) pelas comemorações do dia mundial do animal a 3 e 4 de Outubro de 2009 a apresentar a sua exposição de fotografia Retratos de Vozes. A partir deste momento as participações em exposições e mostras de arte nunca mais pararam. “Quando me perguntam como classifico o meu trabalho e projectos, digo apenas, que faço o que gosto e vou encontrando inspiração no meu dia a dia mantendo as minhas lentes como formar de contestar.” PicaBoo DIVULGAÇÃO

em fevereiro tudo sobre o Circulo artístico e cultural Artur Bual 45


O que sinto no meu interior II

Sem título

Portofólio

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Portofólio

Revista

Pequenas coisas que nos dão vontade de crescer.

Vitor Loureiro - fotografia

Demand

Vitor Loureiro, faz parte do Random.Mov - Movimento Multicultural de Promoção Artística e dos Artéknusume – Grupo de artistas ara a promoção das artes. Facebook https://www.facebook.com/vitorloureirofotografia https://www.facebook.com/RandomMov http://twitter.com/lupussignatus http://lupussignatus.fotosblogue.com/ E-mail: vitordanielloureiro@hotmail.com

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Portofólio

PRÓXIMO NÚMERO entrevista com o realizador Fernando Fragata a pintura de Rita Melo Vitor Zapa - O pintor Voador Anonymous Urban Art por Maria João Rodrigues Ponto de Vista por Carlos Almeida A escrever é que a gente se entende ... Sónia Pessoa Projecto Artshow Circulo Cultural e Artístico Artur Bual

e muito mais

a poesia de Anna Veiga fotografia de Jorge Alves

OS ARTISTAS NOSSOS AMIGOS

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