Sem clima para o amor - Rachel Gibson

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de determinação que lhe corria nas veias. Fora acusado de arrogante, o que, imaginava, tinha muito de verdade. Entretanto, o que incomodava seus críticos era que a verdade o mantinha acordado. Não. Havia outra coisa mantendo-o acordado. Algo que o atingira de surpresa. Havia estado em todos lugares do mundo, sempre ficando muito impressionado com o que via. Tinha feito reportagens sobre diversas coisas, desde arte pré-histórica em cavernas de Bornéu oriental até incêndios furiosos no Colorado. Viajara pela Rota da Seda e ficara diante da muralha da China. Era um privilegiado por ter conhecido tanto o comum quanto o extraordinário, e adorara cada minuto. Quando parou para examinar a vida, novamente havia se impressionado. Claro que também havia passado por maus bocados. Havia se envolvido com o Primeiro Batalhão do Quinto Regimento dos Fuzileiros Navais, quando foi forçado a caminhar quase cinco mil quilômetros no Iraque, em direção a Bagdá. Participara de programas de treinamento para lideres militares e conhecia os sons de homens lutando e morrendo bem diante de si. Experimentara o gosto do medo e de cordite8 na boca. Conhecia o cheiro da fome e da violência, vira as chamas do fanatismo queimando nos olhos de homens-bomba e as esperanças de homens e mulheres corajosos determinados a defender a si mesmos e suas famílias. Pessoas desesperadas olhando para ele como se pudesse salvá-las, e a única coisa que podia fazer por elas era contar suas histórias. Escrever uma reportagem e chamar a atenção do mundo. Mas não era o bastante. Nunca era o bastante. Realmente se empenhava, mas ninguém estava nem aí. A menos que acontecesse com alguém próximo o que Sebastian divulgava. Dois dias antes do 11 de setembro, fizera uma matéria sobre o Talibã e a interpretação explícita das leis islâmicas do mulá Muhammad Omar. Escrevera sobre as execuções em praça pública e os açoitamentos de civis inocentes, enquanto as nações poderosas — as campeãs da democracia – permaneciam em seus trabalhos secundários, sem tomar nenhuma providência. Redigira um livro – Fragmentados: vinte anos de guerra no Afeganistão – sobre sua experiência e as conseqüências que isso teria num mundo, que olhava para o outro lado. Embora recebesse elogios da critica, as vendas da obra foram modestas. Tudo mudou em um dia ensolarado de setembro, quando terroristas seqüestraram quatro aviões comerciais, e de repente as pessoas voltaram suas atenções ao Afeganistão. Jogava-se uma luz sobre as atrocidades perpetradas pelo Talibã em nome do islamismo. Um ano depois do lançamento de seu livro, a obra alcançou o primeiro lugar na lista dos mais vendidos. De repente, Sebastian se tornava o garoto mais popular do colégio. Todos os meios de comunicação, do jornal Boston Globe ao programa Good Morning, America, desejavam uma entrevista. Algumas foram concedidas, mas a maioria, rejeitada. Ele não ligava para holofotes, política nem políticos. Era um eleitor que tendia a votar em todas as tendências partidárias. Preocupava-se mais em chamar a atenção para verdade e expô-la para o mundo. Aquele era seu trabalho. Havia batalhado para chegar ao topo – às vezes à força -, e adorava. Só que, ultimamente, não estava tendo resultados com tanta facilidade. Sua insônia o consumia tanto física quanto mentalmente. Podia sentir que tudo aquilo por que se empenhara tanto estava se escapando. O fogo interior diminuía. Quanto mais batalhava, mais esse fogo enfraquecia, e isso o deixava apavorado. O trajeto até o Double Tree, que para um cidadão local, teria levado 15 minutos, tomoulhe uma hora. Fez uma curva errada e acabou indo parar nos pés das montanhas, até reconhecer a derrota e acionar o GPS e preferia fingir que não precisava daquilo. ___________ 8 N.T.: Cordite ou cordita: pólvora sem fumaça, à base de nitrocelulose.


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