AGROS 2022

Page 1

ANO MMXXI

A sustentabilidade como papel principal

edição n .º 102
AGROS
omia
Green Té o fi a da Associação do s Estudantes do Institu

EDITORIAL

lterações climáticas, crise económica, escassez de recursos, fome, pobreza, decaimento da biodiversidade… Vivemos num mundo insustentável onde existem locais do globo onde a fome é a realidade, e outros em que o desperdício é o problema. O Ambien te é cada vez mais afetado pelas atividades humanas e a sua degradação começa agora a mostrar consequências cada vez mais visíveis. O aqueci mento global altera as temperaturas e o regime pluviométrico, afetando diretamente a agricultura, que por sua vez tem consequências na nossa economia e na sociedade, é algo nos preocupa cada vez mais.

A Sustentabilidade pode ser definida pelo equilíbrio entre os três grandes pilares: Economia, Ambiente e Sociedade. Agricultura sustentá vel, economia sustentável, consumo sustentável são tópicas que se tor naram moda, mas que de facto tem um enorme potencial e que devem ser postos em prática de maneira correta e para nós, Associação dos Estudantes do Instituto Superior de Agronomia consideramos o tema importantíssimo para as áreas de estudos existentes no Instituto e para toda a comunidade. Deste modo, achámos que faria todo o sentido dedi car esta edição da revista Agros a esta temática, uma vez que a Associa ção dos Estudantes está na linha da frente na representação das preocu pações e ideais dos nossos estudantes.

- 2 - - 1AGROS

Agroecologia, a agricultura sem adjectivos Alfredo Cunhal Sendim

MICROALGAS: O ‘novo’ ingrediente na formulação de um futuro sustentável Marco Freitas

Microalgas: um ingrediente sustentável na alimentação de frangos e suínos Madalena Lordelo e André M. de Almeida

- 3 - - 2AGROS
Os Suspeitos do Costume!
Azul As florestas e a importância da gestão sustentável APEF 4 8 12 16 18 Ano MMXXI AGROS Coordenação | Redação | Edição | Projecto Gráfico | Colaboração | Margarida Próspero Margarida Próspero Francisco Lopes Francisco Lopes Alfredo Cunhal Sendim, Marcos Freitas, Madalena Lordelo e André M. de Almeida, Bandeira Azul e APEF FICHA TÉCNICA Fundada em 1917 por Artur Castilho ÍNDICE
Bandeira

AGROECOLOGIA, A AGRICULTURA SEM ADJETIVOS

Otermo sustentável pressupõe o uso come dido de um recurso por forma a não com prometer a viabilidade das gerações futuras. Desde o neolítico antigo, há pelo menos 7.000 anos que, aqui na nossa Terra, começámos paulatinamente a olhar para tudo o que mexe e não mexe à nossa volta como um recurso para usar. Primeiro, aquilo a que chamamos natureza quando não nos identifica mos como fazendo parte dela, mas logo a seguir alar gámos o conceito a nós próprios mercantilizando o outro. Começo por destacar esta atitude de utiliza

dores inerente ao conceito “Agricultura Sustentável”, pois esta deriva, evidentemente, de uma noção de superioridade por parte da nossa espécie, segundo a qual esta nos conferiria o direito e, para alguns, o dever de ordenar a “Selva” que está à nossa volta.

O meu segundo comentário prende-se com o facto de que para que a naïf condição de sustentabi lidade se cumpra, ser necessário definir outras variá veis como o universo temporal a que nos referimos, ou a dinâmica populacional desse tempo, já para não falar do nível de tecnologia existente. Assim,

para aqueles que, como Jacques Monod, pensam que fazemos parte de um sistema natural cujos elemen tos se relacionam uns com os outros, a narrativa do utilizador é, no mínimo, desadequada. Temos então, em primeiro lugar, um problema de narrativa. Sendo que o problema se agrava se atendermos à forma leviana como normalmente se aborda o assunto. Estas duas ideias conjugadas ape nas podem indicar-nos que a utilização do termo Sustentável ou qualquer outro como Regenerativo, de Conservação, Holístico, Sintropico, etc, desde que utilizado numa atitude de “Uso” e sem parametriza ção completa de todas as variáveis envolvidas, ape nas pode ter fins propagandísticos. Uso esta palavra, na sua pior assunção, ou seja, promovendo a desin formação de muitos para salvaguarda do interesse de poucos. Por exemplo, A agricultura química passa a ser sustentável porque é circular, porque é menos nefasta para os polinizadores e porque em vez de espalhar indiscriminadamente um sem número de venenos sobre os ecossistemas, fá-lo agora com muito mais precisão!

A AGROECOLOGIA É UMA PRÁTICA ATUAL QUE ALIMENTA MAIS DE 60% DOS HUMANOS NOS NOSSOS DIAS

Esta auto-visão generalizada da espécie “esco lhida”, cuja missão é ordenar, é, à luz do conheci mento atual, equivocada e totalmente responsável pela situação insustentável que criámos. No entanto, a grande maioria de nós ainda nega este facto e con tinua a participar apenas em estratégias individuais de curto prazo.

Como explica um Agricultor amigo da ilha ter ceira, isto é “olhar pelo funil pela parte mais larga”. Existe porém, segundo ele, uma outra forma de olhar para o mundo. Pela parte mais estreita. Dessa forma conseguimos ver o todo e perceber que somos apenas um elemento do sistema que nos criou e do qual dependemos por completo. Não somos donos nem apenas usuários do sistema natural. Somos uma parte dele. Esta atitude é, porventura, a única que, em consciência, nos permite, pelo menos, acre ditar que não estamos a comprometer o futuro do todo e com isso das próximas gerações. Se nos empe nharmos em cumprir bem as nossas funções no sis tema terrestre, e respeitarmos o funcionamento do mesmo e dos outros seres, teremos pelo menos a

- 4 - - 5 -
Por Alfredo Cunhal Sendim
WORLD BANK PHOTO COLLECTION/VISUALHUNT.COM

certeza de actuarmos em harmonia com a paisagem e não da forma cega e devoradora.

Esta atitude ética de base científica e tradicional vertida para a forma como nos relacionamos com os ecossistemas (Agricultura) denomina-se hoje por Agroecologia. A agricultura biológica é apenas a moral normativa e a ferramenta essencial desta ética. A Agroecologia é uma prática atual que ali menta mais de 60% dos humanos nos nossos dias, ao contrário do que a maioria dos ocidentais pensa (Olivier De Schutter, relatório Conselho de Direi tos Humanos da ONU, 2014). É também uma ciência aplicada multidisciplinar e um movimento de transi ção social à escala global. É tão simples como seguir a receita original, permitindo e potenciando a cons trução de solo, através da fotossíntese e da biodiver sidade. Isto significa carregar a bateria, que o solo é, através do painel solar original baseado em seres perenes e biodiversos e não através do petróleo. Passa também por permitir e fomentar a distribui

ção de alimentos não centralizada através de feiras francas locais e programas de cooperação entre pro dutores e consumidores (AMAP/CSA).

Esta transição ecológica está a acontecer de forma espontânea e efetiva, com ganhos para todos, em realidades tão próximas como Espanha, França ou Itália. Portugal conta já com 7 Programas AMAP/CSA, formais e outros grupos informais de consumo, para além dos Cabazes PROVE e outros modelos. Está nas nossas mãos continuar sozinhos a caminhar pelo Antropoceno teimando em não mudar o sistema que criámos, pondo em risco o sistema natural, o frá gil sistema democrático e a Humanidade, ou parar, virar o funil, e perceber que somos uma parte mais ou menos especial num universo complexo, mas compreensível, harmonioso e seguramente cheio de boas surpresas.

Origem Colombia

Elevada em todos os sentidos

Nas altas encostas dos Andes, nasce um grão de café à altura dos mais exigentes apreciadores. Um café 100% arábica, que eleva o sabor e o aroma a cada chávena. Cultivado e apanhado grão a grão no topo dos terroirs vulcânicos e húmidos da Colômbia, este arábica revela-se uma bebida aveludada, com elevada suavidade e ligeiras notas cítricas.

Eleve já a sua experiência de café.

- 6AGROS Grao Agora em
C M Y CM MY CY CMY K CIFOR/VISUALHUNT.COM

MICROALGAS: O ‘NOVO’ INGREDIENTE NA FORMULAÇÃO DE UM FUTURO SUSTENTÁVEL

Por Marco Freitas (aluno finalista, Mestrado em Engenharia Alimentar)

1. O PARADIGMA ATUAL

Nas últimas décadas, o crescimento exponencial da espécie humana tem provocado um inegável agrava mento da insegurança alimentar global. Só em 2020, com 7,8 mil milhões de indivíduos a esgotarem os recursos planetários enquanto se tentava travar a

pandemia COVID-19, o risco de subnutrição e insegu rança alimentar escalou de tal forma que se estima ram 265 milhões de pessoas em condições críticas de fome1. A crescente procura por alimentos seguros e nutritivos tem, portanto, resultado numa expansão

e transformação do setor alimentar. Mas a que custo? Para além de contribuir para o aumento global da emissão de gazes com efeito de estufa, a intensifica ção agrícola, da maneira que acontece, tem sido res ponsável por mudanças irreversíveis na biodiversi dade e ecossistemas naturais2

Não é sustentável agir em conformidade com a certeza de que a forma com que se produz alimento no presente está, paradoxalmente, a agravar as crises alimentares globais. São necessárias amplas respos tas por parte das organizações internacionais, gover nos, mas também da própria indústria e socieda de. Há, sobretudo, que mudar o paradigma e adotar soluções mais sustentáveis, coerentes e conscientes.

2. O POTENCIAL DAS MICROALGAS

Capazes de crescer nas condições mais extremas, presentes quer em meios terrestres como aquáticos, as algas são dos organismos mais comuns a habitar a Terra3. O conjunto de organismos assim designados são, na realidade, taxonomicamente muito diferen tes, pelo que o termo alga reúne os protistas euca riontes fotossintéticos de diferentes filos4.

As microalgas, por sua vez, têm o potencial de ser uma solução alimentar sustentável. O facto de serem microscópicas apresenta uma série de vantagens, como a facilitada manipulação genética, o seu rápi do crescimento, e um teor proteico superior àquele encontrado nos seus homólogos macroscópicos4. A versátil possibilidade de poderem crescer num vasto

- 8 - - 9 -

A URGÊNCIA DA INOVAÇÃO ALIMENTAR

VAI CONTINUAR A ABRIR OPORTUNIDADES PARA PROFISSIONAIS COM PERFIS PESSOAIS MUITO DISTINTOS

leque de diferentes substratos, desde águas efluen tes a resíduos alimentícios minimiza as necessida des especiais para o cultivo de microalgas, apesar das exigências quando se destinam a uso alimentar. Simultaneamente, há também que fazer referência ao seu impacto positivo no meio ambiente enquan to agentes de biorremediação.

No que toca à sua utilização como alimento, a génese deste tipo de aplicação remonta à China de há 2000 anos. Contudo, a biotecnologia de microal gas apenas se começou a desenvolver na segun da metade do século passado5. Com um crescimen to multidirecional desta tecnologia, hoje, o mercado está recheado com um alargado número de ingre dientes, nutracêuticos e alimentos funcionais obti dos a partir destes microrganismos.

Representando ainda uma excelente fonte ali mentar, a composição química equilibrada das microalgas, rica em proteínas, perfil de ácidos gor dos polinsaturados (dos quais polifenóis e carotenoi

A URGÊNCIA DA INOVAÇÃO ALIMENTAR VAI CONTINUAR A ABRIR OPORTUNIDADES PARA PROFISSIONAIS COM PERFIS PESSOAIS MUITO DISTINTOS

des), vitaminas (A, B1, B2, B3, B5, B9, B12, C, D e E), minerais, e outras moléculas bioativas sejam o veículo perfeito para a biofortificação ali mentar. Ainda, a riqueza destes organismos em ter mos de antioxidantes e agentes antimicrobianos, faz com que sua adi tar possibilite n cional dos produtos, mas tamb utilização de conservantes artificias, para al oferecer variad as inclui no seu regime alimentar.

3. AS MICROALGAS NO ISA

No Centro de Investigação LEAF do ISA (Grupo 3 –Food and feed), têm sido já desenvolvidos vários pro dutos com a incorporação de microalgas, como mas sas alimentícias7 e bolachas6,8 Mais recentemente, no âmbito dos projetos “A2F - Algae To Future”, (https://www.algae2future.no) e “AlgaeHealthyBread” foram desenvolvidos pães isen tos de glúten (GF) enriquecidos com as microalgas Tetraselmis chuii (Tc), Chlorella vulgaris (Cv), e Nan nochloropsis gaditana (Ng).

Dada a pobreza nutricional e sensorial da grande maioria dos produtos GF disponíveis no mercado, a adição destes 3 microrganismos à formulação base dos pães9–11 tinha em vista o melhoramento destas cara terísticas. E, de facto, os pães preparados neste senti do, com a adição da biomassa microalgal de Tc, Ng e Cv, mostraram um aumento significativo de proteínas, lipídios e minerais (Ca, Mg, K, P, S, Fe, Cu, Zn, Mn).

Após um subsequente branqueamento etanólico da biomassa para abordar questões sensoriais12, tes

cipalmente naqueles com N. gaditana. Conseguiu-se ainda um aumento considerável do teor de flavonoi des com a introdução das microalgas nas formula ções do pão GF, nomeadamente com C. vulgaris e N. gaditana, apesar do tratamento etanólico ter pro movido uma ligeira diminuição dos teores tanto de fenólicos como flavonóides. O pão GF enriquecido com C. vulgaris apresentou também capacidade de inibição da ɑ-amilase (quase 90%, quando compara do ao pão controlo).

O valor nutricional do pão GF preparado foi tam bém avaliado antes e após um método de digestão estática in vitro13,14. No entanto, o facto é que a diges tão das amostras revelou que, do conteúdo total em proteína presente nos pães antes de serem consu midos, cerca de 50% é perdido durante todo pro cesso digestivo, para todas as amostras. Além disso, foi também observada uma perda considerável de minerais após a digestão.

Não obstante, a incorporação de microalgas nes tes produtos GF demonstrou ser uma boa estratégia para elevar as caraterísticas nutricionais e dotar com capacidades bioativas produtos que, de outra forma, pouco acrescentariam à saúde do consumidor.

4. A TÍTULO DE CONCLUSÃO

Com o forte potencial revolucionar por completo a indústria agroalimentar, as microalgas são fontes promissoras de alimentos sustentáveis, altamente nutritivos e que, sobretudo, promovem a seguran ça alimentar global. Devido às mudanças de estilo de vida, regimes alimentares, e à crescente conscienti zação dos consumidores no que diz respeito à sua saúde e ao ambiente, o consumo de produtos deri

vados de algas, bem como a sua produção global, aumentaram nos anos transatos. No presente e no futuro, optar por soluções como esta, que contribuem para satisfazer as necessidades nutricionais básicas da população global sem com prometer as gerações futuras, torna-se verdadeira mente essencial. Afinal de contas, não há planeta B.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. Laborde, D., Martin, W., Swinnen, J. & Vos, R. COVID-19 risks to global food security. Science (1979) 369, 500–502 (2020).

2. Timmer, C. P. Food Security, Structural Transforma tion, Markets and Government Policy. Asia & the Paci fic Policy Studies 4, 4–19 (2017).

3. Ścieszka, S. & Klewicka, E. Algae in food: a general review. Crit Rev Food Sci Nutr 59, 3538–3547 (2019).

4. Torres-Tiji, Y., Fields, F. J. & Mayfield, S. P. Microal gae as a future food source. Biotechnology Advan ces vol. 41 Preprint at https://doi.org/10.1016/j.biote chadv.2020.107536 (2020).

5. Sahni, P., Aggarwal, P., Sharma, S. & Singh, B. Nuances of microalgal technology in food and nutraceuticals: a review. Nutrition and Food Science vol. 49 866–885 Preprint at https://doi.org/10.1108/NFS-01-20190008 (2019).

6. Batista, A. P. et al. Microalgae biomass as an alter native ingredient in cookies: Sensory, physical and chemical properties, antioxidant activity and in vitro digestibility. Algal Research 26, 161–171 (2017).

7. Fradique, M. et al. Isochrysis galbana and Diacrone ma vlkianum biomass incorporation in pasta pro ducts as PUFA’s source. LWT - Food Science and Technology 50, 312–319 (2013).

8. Gouveia, L., Batista, A. P., Miranda, A., Empis, J. & Ray mundo, A. Chlorella vulgaris biomass used as colou ring source in traditional butter cookies. Innovative Food Science & Emerging Technologies 8, 433–436 (2007).

9. Khemiri, S. et al. Microalgae biomass as an additional ingredient of gluten-free bread: Dough rheology, tex ture quality and nutritional properties. Algal Research 50, (2020).

10. Graça, C., Fradinho, P., Sousa, I. & Raymundo, A. Impact of Chlorella vulgaris on the rheology of wheat flour dough and bread texture. LWT - Food Science and Technology 89, 466–474 (2018).

11. Nunes, M. C., Fernandes, I., Vasco, I., Sousa, I. & Ray mundo, A. Tetraselmis chuii as a sustainable and healthy ingredient to produce gluten-free bread: Impact on structure, colour and bioactivity. Foods 9, (2020).

12. Qazi, M. W., de Sousa, I. G., Nunes, M. C. & Raymundo, A. Improving the Nutritional, Structural, and Sensory Properties of Gluten-Free Bread with Different Spe cies of Microalgae. Foods 11, (2022).

13. Lopes, M. et al. Legume Beverages from Chickpea and Lupin, as New Milk Alternatives. Foods 9, (2020).

14. Brodkorb, A. et al. INFOGEST static in vitro simulation of gastrointestinal food digestion. Nature Protocols 2019 14:4 14, 991–1014 (2019).

- 10 -

MICROALGAS: UM INGREDIENTE SUSTENTÁVEL NA ALIMENTAÇÃO DE FRANGOS E SUÍNOS

Atualmente, na área de Zootecnia do Instituto Superior de Agronomia, somos pioneiros na investigação sobre a utilização de microalgas como ingrediente alimentar alternativo e sustentável para frangos e suínos.

Tradicionalmente, o estudo das microalgas em ali mentação animal tem-se baseado na incorporação a teores muito baixos. Com efeito, podem ir desde

0.001%, mas raramente ultrapassando 3% de inclu são. Baixos níveis de incorporação são utilizados com objetivos específicos nos animais, tais como melho rar as características nutricionais da carne e dos ovos ou melhorar a cor da carne e da gema do ovo. No entanto, o objetivo dos nossos projetos de investigação é manifestamente alcançar níveis de incorporação até 15% de microalga, com o propósi

Composição nutricional

Produção local Alto teor proteico de terra arável Agente de pigmentação Fixação de carbono Ácidos gordos polinsaturados

Figura 1 - A necessidade de matérias-primas alternativas na alimentação animal é de suma importância para a sustentabilidade económica e ambiental da produção animal. As microalgas são um alimento com várias vantagens, tanto do ponto de vista da sua composição nutricional como da sustentabilidade da sua produção

to de conseguir substituir ingredientes alimentares convencionais, melhorando a sustentabilidade dos recursos ambientais, tendo em conta a composição nutricional da alga em estudo.

Tal como ilustrado na figura 1, as preocupações com o ambiente e as alterações climáticas abriram caminho para uma maior consciência para a sus tentabilidade na produção pecuária. Os principais alimentos convencionais para aves e suínos são o milho, trigo e a soja, que requerem uma grande área de terra arável e grande abastecimento de água para o seu cultivo. Tal pode causar perdas de habitat, des florestação e contribuir para o aquecimento global, com graves consequências para todos nós. Adicio nalmente, países como Portugal estão particular

mente dependentes do exterior para se abastece rem de matérias-primas para a alimentação animal. Sendo que, tipicamente, o bagaço de soja é importa do da América do Sul e os cereais dos países que são banhados pelo Mar Negro. Por isso, desde o inicio do conflito na Ucrânia, se tem vindo a sentir um aumen to inédito do preço dos cereais, o que naturalmen te afeta largamente os produtores pecuários, com consequências diretas para o consumidor, ao nível do preço de produtos de origem animal. Para além disto, o transporte internacional marítimo de maté rias-primas, contribui sobejamente para emissões de dióxido de carbono para a atmosfera. Sendo assim, torna-se urgente encontrar ingredientes alimentares alternativos que sejam produzidos localmente. Ao contrário das matérias-primas convencionais, a produção de microalgas é pouco exigente. Não necessita de terra arável, podendo ser produzida em fotobioreatores que se podem montar em qualquer local. Para o seu crescimento e desenvolvimento, as microalgas apenas necessitam de luz solar, minerais e dióxido de carbono. A captura de dióxido carbono por parte das microalgas comporta um papel muito importante na mitigação da acumulação de gases

- 12 - - 13 -
Por LEAF—Linking Landscape, Environment, Agriculture and Food Research Center, Associated Laboratory TERRA, Instituto Superior de Agronomia, Universidade de Lisboa, Tapada da Ajuda, 1349-017 Lisboa, Portugal.
O TEOR DE PROTEÍNA EM MICROALGAS PODE CHEGAR A 75%
75%

com efeito de estufa. Como é sabido, o efeito de estu fa é necessário para captar o calor do sol e conse quente manutenção da temperatura da Terra. Mas, a acumulação do dióxido de carbono e outros gases de efeito de estufa, leva a um aumento progressivo da temperatura atmosférica.

Ao nível da alimentação animal, as microalgas trazem inúmeras vantagens. O teor de proteína em microalgas pode chegar a 75%, enquanto que fon tes de proteína de origem vegetal como o bagaço de soja tem apenas aproximadamente 43% de proteína bruta. As microalgas apresentam outras vantagens e podem ser adicionadas às dietas de aves como uma fonte rica de ácidos gordos polinsaturados de cadeia longa n-3 (ómega-3), e como fonte mineral, vitamíni ca e antioxidante. Além disso, em produção animal, as microalgas têm um papel importante de agente de pigmentação natural de carnes e de gemas de ovos.

No entanto, as microalgas apresentam uma pare de celular muito rígida constituída por longas molé culas de polissacáridos com ligações difíceis de clivar. O aparato enzimático dos animais monogás tricos carece pois de capacidade para quebrar estas ligações e por isso, os compostos bioativos do inte rior da célula permanecem indisponíveis. Por isso, uma das nossas atuais linhas de investi

gação é justamente perceber como podemos que brar estas paredes celulares de modo a que o animal possa usufruir destes bioativos benéficos. A nossa hipótese é que tal pode ser alcançado através de pro cessos químicos e/ou tecnológicos que estão neste momento a ser estudados.

No Instituto Superior de Agronomia, temos uma experiência de meia década na utilização de microalgas na alimentação de frangos, galinhas poedeiras e leitões. Presentemente somos três pro fessores, dois técnicos, cinco doutorandos e vários mestrandos e bolseiros a trabalhar no tema. Traba lhamos com microalgas mais conhecidas como por exemplo a Spirulina ou a Chlorella, mas também com outras menos estudadas como a Tetraselmis ou a Nannochloropsis. O nosso objetivo é fundamen talmente estudar as performances zootécnicas dos animais quando alimentados com tais microalgas, e os efeitos ao nível da sua fisiologia digestiva, uti lizando técnicas de biologia molecular, que permi tem uma visão muito abrangente ao nível das várias vias metabólicas. Nos últimos anos, e em colabora ção com a secção de Química e a secção de Enge nharia Alimentar do ISA, temos estudado a temáti ca das emissões de gases provenientes dos estrumes de animais alimentados com microalgas e as carac

terísticas tecnológicas e organoléticas da carne des tes animais. Nas figuras 2 e 3 apresentamos imagens de um dos ensaios por nós realizados no âmbito da Unidade Curricular Nutrição Animal Avançada do primeiro ano do Mestrado em Engenharia Zootécni ca – Produção Animal. Estes ensaios, realizados cada ano com um tema diferente, constituem uma situa ção única no país em que alunos da parte curricular de um mestrado de zootecnia realizam um ensaio de alimentação de cariz científico, atestando desta forma a qualidade do nosso programa de formação em Engenharia Zootécnica.

As microalgas poderão vir a ser uma matéria-pri ma muito interessante e sustentável para a alimenta ção animal, contribuindo para uma diminuição das emissões de gases de efeito de estufa. Constituem

também uma temática de investigação muitíssimo promissora no âmbito dos programas de Licenciatu ra e Mestrado em Engenharias Zootécnica, Agronó mica, do Ambiente, Alimentar ou em Biologia; assim como do Doutoramento TERRA, recém criado. Gos taríamos de aproveitar para convidar toda a comu nidade ISA, em especial os alunos para virem conhe cer o nosso laboratório e linhas de trabalho.

- 14 - - 15AGROS
Figura 2 – Comedouros com alimento composto e utilizados num ensaio de alimentação de frangos com níveis de incorporação de 0% (esquerda) e 20 % (direita) da microalga Chlorella vulgaris Ensaio realizado no âmbito da Unidade Curricular de Nutrição Animal Avançada (1º semestre do MEZ-PA do ISA/ULisboa). Fotografias gentilmente cedidas pelo Engº Leonardo Pombinho Malhão, alumni ISA. Figura 3 – Fotografias a várias idades animais utilizados num ensaio de alimentação de frangos utilizando-se níveis de 0, 10, 15 e 20% de incorporação da microalga Chlorella vulgaris. Ensaio realizado no âmbito da Unidade Curricular de Nutrição Animal Avançada (1º semestre do MEZ-PA do ISA/ULisboa). Fotografias gentilmente cedidas pelo Engº Leonardo Pombinho Malhão, alumni ISA.

OS SUSPEITOS DO COSTUME!

Uma Praia com Bandeira Azul é, reconheci damente, há 35 anos, uma praia de excelên cia. A qualidade da água balnear, a seguran ça, os equipamentos e os serviços disponibilizados, a limpeza da areia e da área envolvente, assim como a acessibilidade são alguns dos pontos abrangidos pelos critérios do programa. Mas, tão importantes comos os aspetos acima, são a informação disponibi lizada e o trabalho de educação e sensibilização para a sustentabilidade desenvolvido por todas as entida des responsáveis pela gestão das zonas balneares. O Programa Bandeira Azul é, acima de tudo, um pro grama de educação ambiental.

A educação ambiental não se esgota nos painéis colocados nas praias ou nas atividades feitas duran

uma escola) é monitorizar os resíduos que se encontram, compreender as ori gens, os impactos e, acima de tudo, perce ber o que podemos fazer para os reduzir.

Fruto dos vários registos das visitas às praias - de mar e interiores - foram iden tificados ‘Os Suspeitos do Costume’, ou seja, aos resíduos que ocorrem, invaria velmente, até nas praias que, à partida, parecem limpas.

Ao analisar estes suspeitos, podemos tirar, pelo menos, duas importantes con clusões: o lixo não é marinho e muito dele nem foi deixado na praia. O lixo que não é depositado no sítio adequado - nas cidades (exemplo as beatas deitadas nas sar jetas ou o lixo colocado nos caixotes cheios e sujeitos ao vento), nas casas de banho (exemplo os cotonetes e os toa lhetes despejados nas sanitas), nas flo restas (exemplo cartuxos de caça ou outros itens que vão através dos rios até ao mar) - acaba no mar, na praia, no bico de uma ave marinha ou no estoma go de um peixe.

das, que não garantem os períodos de reprodução das espécies ou que não recolhem as redes danifica das, contribui para o aparecimento das redes fantas ma, que ficam anos no fundo do mar a causar danos nos grandes cetáceos, nos pequenos peixes e, conse quentemente, na saúde humana.

te o Verão, nem no trabalho feito nas escolas, apesar de serem dimensões muito importantes.

As limpezas de praia são das ações mais procura das e a primeira imagem que nos ocorre são gran des sacos de lixo e um grupo de muitos voluntários motivados. Mas, a educação ambiental vai além de apanhar lixo, uma vez que, mais importante do que limpar uma praia (ou uma floresta ou o recreio de

Quando nas compras, seja de comida, de roupa ou de produtos de higiene e limpeza, não pensamos no impacto dos diversos artigos, nomeadamente na origem das matérias primas, no método utilizado na sua transformação e no seu transporte, estamos a mandar lixo para o mar. Como? O peixe, por exem plo, quando é pescado por empresas que não respei tam códigos de conduta e\ou que não são certifica

As fibras da roupa e as micropartículas dos pro dutos de higiene são plástico que vai diretamente das nossas casas para o mar, mesmo que de forma involuntária, mas que nenhuma limpeza de praia vai retirar dos animais e da cadeia alimentar. As opções mais sustentáveis estão disponíveis, cabe-nos estar atentos nos momentos de escolher.

Alem destes resíduos invisíveis, é importante des tacar os produtos de utilização única e interiorizar que não é por não serem de plástico que são susten táveis. Uma palhinha, um copo de água ou um mistu rador de café de papel não deixam de ter uma gran de e desnecessária pegada ambiental.

Então, a solução para a poluição marinha está nos comportamentos de cada um, muito antes de chegar à praia: recusar, reduzir, repensar; consumir menos e tentar contrariar os objetivos das ações de publici dade, que criam necessidades inexistentes; respon sabilizar a industria que desenha e produz embala gens; procurar as alternativas com menor impacto (de produção e de transporte); passar mais tempo em contacto com a natureza, abrandar o ritmo de vida, desacelerar o dia-a-dia e não ficar satisfeito por ter tirado uns kgs de lixo da praia e depois esquecer os impactos de cada atividade.

O MAR COMEÇA AQUI – O MAR COMEÇA EM TI.

- 16 - - 17AGROS
AO ANALISAR ESTES SUSPEITOS, PODEMOS TIRAR, PELO MENOS, DUAS IMPORTANTES CONCLUSÕES: O LIXO NÃO É MARINHO E MUITO DELE NEM FOI DEIXADO NA PRAIA.
PAOLOGMB/VISUALHUNT

A GESTÃO SUSTENTÁVEL É ESSENCIAL PARA A MANUTENÇÃO E PERMANÊNCIA DE TODAS AS FORMAS DE VIDA

AS FLORESTAS E A IMPORTÂNCIA DA GESTÃO SUSTENTÁVEL

As florestas são multifuncionais e capazes de proporcionar inúmeros benefícios nos âm bitos social, econômico, ambiental e polí tico. Elas atuam como reguladoras do clima e da hi drografia, como habitats para muitos seres vivos, são fontes de informação científica, educacional, cultu ral e até mesmo espiritual. Podem funcionar como áreas de recreação e lazer, além de nos oferecer mui

tos produtos, como madeira, óleos essenciais, se mentes, frutos e flores.

Portanto, é comum dizer que as florestas nos pro porcionam benefícios diretos, que são os produtos lenhosos e não lenhosos e benefícios indiretos, tam bém conhecidos como serviços ambientais ou servi ços dos ecossistemas.

Os serviços dos ecossistemas são aqueles que tem efeito no solo, no clima, na hidrografia, na atmosfe ra e na paisagem. Eles têm potencial para reduzir a emissão de gases do efeito estufa, regular o regime hídrico, controlar a erosão, conservar a biodiversida de e melhorar a beleza cênica.

A gestão florestal sustentável, ao mesmo tempo que consegue usufruir dos benefícios econômicos, sociais e ambientais que as florestas proporcionam, também respeita o ritmo do ecossistema, garantin

do a conservação dos recursos naturais, a preser vação da estrutura da floresta e de suas funções, a manutenção da biodiversidade e o desenvolvimento socioeconômico.

Quando bem aplicado, esse tipo de gestão assegu ra que a intensidade de exploração seja compatível com a capacidade da floresta e que um sistema de exploração adequado seja adotado. Também garan te a viabilidade técnica, econômica e social, promove a regeneração natural, proporciona que o desenvol vimento da floresta remanescente seja monitorado e ainda garante que medidas mitigadoras dos impac tos ambientais sejam frequentemente tomadas.

A gestão sustentável é essencial para a manuten ção e permanência de todas as formas de vida, no presente e no futuro, cabendo a todos nós a respon sabilidade de conservar e proteger as florestas.

- 18 - - 19 -
Por APEF
HANS POHL/VISUALHUNT

CONCLUSÃO E AGRADECIMENTOS

Chegámos ao fim de mais uma edição da emblemática Agros, desta vez com um tema especialmente importante na atualidade. Sentimos que tínhamos o dever de dar voz ao planeta e à importância que existe em manter o mesmo.

Claro que, como sempre, contámos com o apoio de ilustres investigado res das mais variadas áreas que, com toda a sua amabilidade, escreveram um pouco do que é o seu trabalho realizado da forma mais sustentável possível, mostrando que é possível proteger o ambiente em qualquer área de estudos. Por outro lado, tivemos também o apoio dos nossos estimados patrocinadores, patrocinadores esses que têm também como pilar nas suas empresas a pro teção e preservação do ambiente, aos quais não podemos deixar de enviar o nosso mais sincero agradecimento.

Cada vez mais é imperativo protegermos o mundo em que vivemos, não só por nós, mas pelas gerações vindouras, que merecem um ar limpo para respi rar, uma água transparente para mergulhar e um local silencioso para viver. Esperamos que esta edição tenha tocado cada um dos nossos leitores e que tenham ficado sensibilizados para uma temática que todos os dias nos toca. Vamos fazer do mundo rural e industrial um setor mais verde.

Agronómicas, Margarida Próspero

AGROS
Saudações
COM O APOIO DE:
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.