Agenda Cultural de Lisboa | maio'18

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L I T E R AT U R A O S L I V R O S D E M A I O

VICTOR CORREIA HOMOSSEXUALIDADE E HOMOEROTISMO EM FERNANDO PESSOA

MARGARET ATWOOD SEMENTE DE BRUXA

EDIÇÕES COLIBRI

Os livros de Margaret Atwood são estudos profundos da psicologia feminina que expõe sem subterfúgios e com uma boa dose de ironia. As questões de género são cruciais na sua obra que explora os ideais culturais da feminilidade, a representação do corpo feminino na arte, o relacionamento entre os sexos e os “comportamentos transgressores” da mulher. Para a autora, a poesia representa o cerne da sua relação com a linguagem, enquanto a prosa reproduz a sua visão moral do mundo. Nesta obra plena de engenho, Atwood revista a Tempestade de Shakespeare. Felix Phillips é traído e despedido do cargo de diretor artístico do Festival de Teatro de Makeshiweg, que fundara e ao qual dera celebridade mundial. Com a ajuda do Grupo de Teatro da Penitenciária de Fletcher, que entretanto dirige com falsa identidade, convoca os seus inimigos e prepara-lhes uma espetacular vingança. Tal como Próspero, tem a magia do seu lado porque, afinal, “somos feitos da mesma matéria com a qual se constroem os sonhos”. Apaziguado, por fim, percebe que “a mais subida ação reside na virtude e nunca na vingança”. LAE

“Há em todos nós uma tragédia enorme (…) Também tenho a minha. Tenho um pensamento masculino e uma sensibilidade feminina, e não consegui ainda o casamento entre eles, isto é, entre ele e ela.” Este é um excerto de um texto de Fernando Pessoa, pertencente ao espólio da Biblioteca Nacional, em que o poeta explora o tema da dualidade da identidade de género, que por vezes associa à homossexualidade. A presente obra reúne os muitos textos de poesia e de prosa em que o autor exprime sentimentos homoeróticos, ou em que aborda o tema da homossexualidade, de forma mais ou menos explícita. Estão reunidos neste livro por vários tipos de texto (poesia, contos, textos de ensaio, textos autobiográficos, etc.), e por diferentes temas, incluindo ainda alguns textos onde Fernando Pessoa exprime o seu desinteresse pelas mulheres, sob o ponto de vista afetivo. Este volume contém também alguns textos inéditos, e que só agora são publicados, e outros que foram escritos e publicados em inglês e em francês, e que aqui se encontram traduzidos, pela primeira vez, para português. LAE

BERTRAND

VICTOR CUNHA REGO NA PRÁTICA A TEORIA É OUTRA DOM QUIXOTE

Explicam Vasco Rosa e André Cunha Rego, organizadores do monumental volume (856 pp.), que não teríamos oportunidade de conhecer, não tivesse surgido o patrocinador que possibilitou quer a existência do livro, como a sua venda a um preço mais acessível. Na Prática a Teoria é Outra, Escritos 1957-99 parte da junção de dois títulos já existentes, um que reunia crónicas dos derradeiros anos de vida de Victor Cunha Rego (1933-2000) na última página do Diário de Notícias, a uma edição feita com o essencial da sua produção para os grandes jornais de São Paulo, O Estado e a Folha, entre 1958-73, acrescentados dos escritos publicados em jornais por ele fundados e dirigidos, casos de A Tarde (1981-83) e O Semanário (1983-91). A edição encontra-se ainda enriquecida com prefácios para os diferentes períodos, da responsabilidade de José Cutileiro, Otavio Frias Filho, Manuel de Lucena e José Miguel Júdice. Victor Cunha Rego pode agora ser (re)conhecido panoramicamente no papel fundamental que desempenhou na história portuguesa da última metade do século XX. RG

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SINCLAIR LEWIS BABBITT E-PRIMATUR

O primeiro escritor norte-americano a receber o prémio Nobel de Literatura, Sinclair Lewis (1885-1951) trabalhava como jornalista antes de atingir a fama com Main Street, retrato da vida numa pequena cidade do interior dos EUA, que expunha a tacanhez e o provincianismo dos seus cidadãos. Babbitt (1922) também ambientado numa dessas cidadezinhas, narra com génio satírico a história do vendedor imobiliário George F. Babbitt. Auto-satisfeito, manifesta uma fé inabalável no americam way of life e na democracia americana “que não implica igualdade de fortuna, mas exige uma salutar uniformidade de pensamento, de vestir, de pintura, de ética e de linguagem”. O impacto do romance foi enorme e o seu protagonista inscreveu-se de imediato na consciência coletiva: as palavras “Babbitt” e “Babbittry” passaram a integrar os dicionários como sinónimo de excessiva complacência e consumismo. Hemingway referiu-se a Lewis como “ aquele maldito que nos fez ver o mal que anda neste mundo”, e diz-se que Somerset Maugham terá adiado indefinidamente a sua mudança para a América depois de ter lido Babbitt. LAE


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