Revista Ecológico 47

Page 1

RevEco_Ago12_IMAGEM.indd 1

20/07/2012 14:06:44


1 ÍNDICE O LEGADO DA RIO+20 As lições e as reflexões sobre o meio ambiente deixadas pela Rio+20 Pág XX

ENTREVISTA

E mais... ● IMAGEM DO MÊS XX

O publicitário Roberto Hilton fala da sustentabilidade no mercado da propaganda

● IMAGEM DO MÊS XX

Pág XX

● IMAGEM DO MÊS XX

● IMAGEM DO MÊS XX

● IMAGEM DO MÊS XX ● IMAGEM DO MÊS XX

MEMÓRIA

● IMAGEM DO MÊS XX ● IMAGEM DO MÊS XX

Livro reúne depoimentos da família e dos amigos de Célio de Castro, ex-prefeito de BH

● IMAGEM DO MÊS XX

Pág XX

● IMAGEM DO MÊS XX

● IMAGEM DO MÊS XX

● IMAGEM DO MÊS XX ● IMAGEM DO MÊS XX

CIDADES SUSTENTÁVEIS

● IMAGEM DO MÊS XX

Conheça locais no Brasil e no mundo que conciliaram biodiversidade com a vida urbana

● IMAGEM DO MÊS XX

Pág XX

● IMAGEM DO MÊS XX

● IMAGEM DO MÊS XX ● IMAGEM DO MÊS XX ● IMAGEM DO MÊS XX ● IMAGEM DO MÊS XX ● IMAGEM DO MÊS XX

INSETOS Alimentação humana à base de insetos é opção curiosa e sustentável

● IMAGEM DO MÊS XX ● IMAGEM DO MÊS XX ● IMAGEM DO MÊS XX

Pág XX

RevEco_Ago12_INDICE.indd 1

20/07/2012 14:07:05


RANN SAFARIS

1 I M AG E M D O M Ê S

DIA DE MANDELA “Pela minha alma inconquistável, nas garras das circunstâncias eu não recuei e nem gritei.... Minha alma é invencível. Eu sou o capitão do meu destino. Eu sou o capitão da minha alma”. Esses são trechos do poema que Nelson Mandela proferia para si mesmo durante os 27 anos em que esteve preso. Liberto, continuou na luta pela igualdade racial, conquistou o Prêmio Nobel da Paz em 1993 e tornouse, no ano seguinte, o primeiro presidente negro da África do Sul, dando fim ao apartheid. No dia 18 de julho, o símbolo maior da libertação racial do século XX, completou 94 anos. Data em que a ONU instituiu como o Dia Internacional de Mandela.

XX

Q ECOLÓGICO/AGOSTO DE 2012


1 CARTAS DOS LEITORES O Entrevista

“Quero felicitar a Revista ECOLÓGICO pela entrevista com Alexandre Sion (edição 44, pág. 72). Ele foi ao centro da questão ao falar sobre os diversos atores que estão num jogo complexo de negociações. É evidente que a criação de estratégias de diálogo é o caminho com mais ganhos. Vejo poucos colegas nossos com essa abordagem.” AUGUSTO HENRIQUE LIO HORTA, assessor-chefe de Relacionamento Institucional do Governo de Minas O Rio+20

“Concordo com o texto do ex-ministro do Meio Ambiente José Carlos Carvalho, não podemos perder as esperanças!” JOANA ELEUTHÉRIO, pelo Facebook O Visão

e atitude libertárias “Trabalho exemplar, admirável e necessário que o pessoal da Amda, Ibama, fazendeiros e estudantes estão fazendo, parabéns! É gratificante saber que tem gente tomando iniciativas, fazendo alguma coisa, muito show!” SÔNIA MAIA ARAGÃO, pelo Facebook. O Congresso

Prêmio Hugo Werneck 2012 “Que maravilha! Ficamos felizes com a escolha do canarinho-da-terra como símbolo do Oscar da Ecologia 2012! Atentaremos e batalharemos para sua preservação!” O

Quero agradecer à Revista ECOLÓGICO pela oportunidade de participar do II Congresso Brasileiro de Direito e Sustentabilidade. Foi fantástico e muito esclarecedor! Aproveitei e renovei minha assinatura!! BETÂNIA LARA, pelo Facebook

BRENO CAMPOS E FÁTIMA SANTOS, Floricultura Domi

“A capa ficou atrativa demais e muuuito bonita!” DANI DINIZ BARROS, pelo Facebook O Cumprimentos

“Tomo a liberdade de entrar em contato para dar mais do que parabéns pela Revista ECOLÓGICO. Trabalho digno de jornalista e cidadão, belas imagens, excelente editoração e principalmente conteúdo pra lá de interessante, muito bem produzido e redigido! Sucesso sempre!” SÉRGIO MONTEIRO, jornalista Caxambu MG

XX

Q ECOLÓGICO/AGOSTO DE 2012

EU ASSINO “A Revista ECOLÓGICO é uma importante fonte, de leitura agradável e atrativa, das principais informações nas temáticas socioambientais, culturais e políticas da atualidade. Além de assinar, eu a recomendo para todas as pessoas que possuem a consciência de que podem fazer algo em prol da sociedade e do meio ambiente. Após a minha leitura eu a encaminho para uma biblioteca para que se cumpra o seu papel na disseminação da sustentabilidade, conforme ensinava o professor Hugo Werneck.” RAFAEL THIAGO DO CARMO, biólogo e consultor em mudanças climáticas – WayCarbon FALE CONOSCO Envie sua sugestão, opinião ou crítica para cartas@revistaecologico.com.br Faça contato também pelo nosso site: www.revistaecologico.com.br

ARQUIVO PESSOAL

Edição 44 “A reportagem da Paixão e Morte da Amazônia é reveladora. Não sabia que os números de assassinatos e ameaças eram tão altos. Ficou muito bem escrito, como se estivesse lendo um livro.” ISABELLA DINIZ BARROS, pelo Facebook O


Café ecológico “Amigo editor. Taí uma amostra do café da Matinha. Puro que nem nós mesmos. Jamais viu qualquer tipo de adubo. Este é 100% ao sabor da natureza. Nascido, crescido e frutificado na borda da mata. Plantei e colho com ajuda dos de casa; seco ao sol na ex quadra de peteca, limpo com uma maquininha manual comprada na Loja do Paulo, torro naquela velha bola de lata movida a manivela, em fogão de lenha. É a parte mais difícil. Uma arte saber o ponto certo de tirar do fogo, antes que torre muito e fique amargoso. A moagem também é na máquina manual e a embalagem varia de ano pra ano. Uma saca de café em grão me oferece a alegria de, a cada Natal, brindar os amigos com este mimo que não deve ter mais que 200 gramas. Duas ou três coadas. E o melhor: tem história. Quando eu estava no MIC, com Camilo Pena, o ministério completou 20 anos e, na comemoração, o IBC, que era vinculado à Indústria e ao Comércio, ofereceu aos funcionários uma mudinha de café. Levei a minha para casa e tratei de arranjar um vaso grande para plantá-la e cuidar dela na sacada do apartamento na 402 Asa Norte brasiliense. Cresceu, ficou robusta, viçosa até que chegou o dia da mudança para BH, a convite do Francelino, para dirigir o nosso querido Palácio das Artes, onde nos encontramos, em 80. O cafeeiro veio no caminhão de mudança – sob licença do Ministério da Agricultura, providenciada pela Liginha, minha mulher - e foi também para a varandinha do apartamento que alugamos na Rua Ceará. Continuou vistoso, verde, com cara de feliz. Um ano depois vendemos o apartamento de Brasília e compramos uma casa na Rua Tobias Moscoso, no Santa Lúcia, onde tínhamos um pequeno jardim frontal. A primeira casa, o primeiro jardim. Era hora de libertar do vaso o cafeeiro, que virou peça principal do paisagismo improvisado na área verde mínima. Por lá ficamos 10 anos, tempo suficiente para os frutos caírem de maduros e germinarem na grama algumas mudas que foram crescendo por ali, naturalmente, a espera de destino mais espaçoso. Foi aí que você me convidou para comprarmos, em parceria – não tínhamos grana para comprar sozinhos - um lote rural de 20 mil m2 na Mata do Engenho, em Nova Lima, no coração da APA Sul. Recanto de ambientalistas de vocação e fé que se comprometiam a não desmatar, não agredir, não prender nem espantar passarinhos, não caçar as ainda várias espécies de animais de pelo da região. Fui mais rápido que você e, na minha metade, nas pequenas clareiras existentes na parte menos acidentada do terreno, assentei um bangalô de madeira e plantei algumas fruteiras ao redor da casa. Não

SANAKAN

O

O QUE ACONTECEU COM UMA MUDINHA DE CAFÉ TRAZIDA DE BRASÍLIA PARA MINAS, MUITO ANTES DA RIO/92

havia luz, nem água encanada, nem telefone, nem televisão. Uma ilha de paz e sossego a 18 km de Belo Horizonte. As mudas de café rodearam também a casa e gostaram do clima. Deram frutos e outras mudas que foram replantadas. Hoje são perto de 60, muitas à sombra, convivendo em harmonia com candeias, maçarandubas, quaresmeiras, ipês e outras nativas do nosso recanto na montanha, aninhando sabiás, saíras, trinca-ferros, tico-ticos e escondendo jacus, tucanos, micos, macacos, caxinguelês... maravilha. Pois é, já se vão 26 anos e perto de 20 que a gente toma um cafezinho puro que é neto ou bisneto da mudinha dos 20 anos do MIC, criada na varanda do apartamento da 402 norte. Saúde pra você e sua mudinha que também vingou, virou revista especializada, especial, que dá frutos ecológicos pra muita gente. Com afeto e amizade”. NESTOR SANT’ANNA, jornalista, ex-presidente da Fundação Clóvis Salgado (Palácio das Artes) e da Rádio Inconfidência , diretor da NS Consultoria e conselheiro da Revista ECOLÓGICO

ECOLÓGICO /AGOSTO DE 2012 Q XX


1

CARTA DO EDITOR HIRAM FIRMINO hiram@souecologico.com

A REVOLUÇÃO RUIDOSA

XX

Q ECOLÓGICO/AGOSTO DE 2012

FERNANDA BUSTAMANTE

E

u me lembro da Eco/92 como se fosse ontem. Depois do que de gravidade planetária ali se discutiu e nós, jornalistas, difundimos de maneira irrefutável e espetacular, a humanidade iria mudar seu comportamento e relação com a natureza. Ledo engano. Quando a mesma imprensa, de volta à sua ansiedade e estreita visão ecológica, a chamou de “fracasso”, uma vez que não aconteceu nada de imediato, eu vi outra lição igualmente irrefutável da natureza. Sábia, e no seu tempo cósmico, ela não dá saltos. Tal como nós, que viemos dela, também não conseguimos nos mudar assim repentinamente. Ainda somos uma espécie sedentária, contidos no tempo humano e não no tempo repetitivo e sempre novo das estações. Continuamos reticentes, egoístas. Abrimos mão até da qualidade de vida, se necessário, para não sairmos da nossa zona de conforto. Daí a tragédia do que o nosso desamor por nós mesmos e pela natureza continuava fazendo após a Eco/92. Continuávamos uma ova. Como dizia Freud, a única coisa capaz de mudar o olhar e a forma de viver de um ser humano passa pela consciência. Seu outro nome, eternamente revolucionário, é informação. Quando somos informados de uma verdade, um fato ou consequência, não tem mais jeito. Somos outra pessoa. Podemos até insistir em negar. Mas o tempo nos fará mudar, primeiro de opinião. E, depois, de atitude, o que demora mais. Arquimedes já dizia: “dê-me uma alavanca que eu moverei o mundo”. Esta alavanca hoje se chama informação em tempo real. Informação sobre o estado do mundo, externo e interno, em que vivemos. Por isso, quando a mesma imprensa que ungiu a Eco/92 e passou a se referir a ela negativamente como uma “ressaca”, por nada ter mudado radicalmente na humanidade e no mundo, eu me lembrei de Rachel Carson. Da bióloga e escritora norte-americana autora do livro “Primavera Silenciosa”, em junho de l962, denunciando os estragos ocultos do uso de agrotóxicos no verde e pulsar humano do planeta. Ela estava certa. A revolução provocada pela primeira Conferência do Rio, tal como um

A ECOLÓGICO TAMBÉM SE FEZ PRESENTE NA CÚPULA DOS POVOS

olhar diferente da humanidade sobre o uso de produtos químicos, já estava em curso. E desse mesmo jeito: lenta, invisível e irreversível. E com isso, o lema adotado após a Eco/92 passou a ser um só, como na canção de Roberto, e endereçado somente aos outros: “É proibido poluir!” - endereçado principalmente aos empresários e suas indústrias, que eram grandes, tinham endereço certo, com CGC e tudo, e não podiam mais esconder o que faziam. Com a Rio + 20, quase a mesma coisa aconteceu. A


“A natureza não dá saltos, mas vem se tornando cada dia mais violenta e barulhenta.”

DOMINIO PÚBLICO

única e mais revolucionária mudança passou a ser gostavam de meio ambiente: porque era um assunto no método deflagrado, em curso mais ainda irrever- inconveniente uma vez que nos exige coerência e atisível: ao invés do silêncio, o seu efeito foi e será tão tude. Exige de nós também, e não apenas dos outros. ruidoso como os seus participantes mostraram, não Pode um profissional da informação que fuma um no Riocentro, mas no aterro do Flamengo e nas ruas cigarro cancerígeno, que polui o seu meio ambiente do Rio: “É obrigado fazer alguma coisa!”. Detalhe: os interno, criticar uma indústria que polui e enche de outros e nós também. Simultaneamente. câncer todo o ambiente social externo? Ou seja, a natureza continuará sem pressa e não Esse tempo passou. Com a Rio + 20 e depois dela, dando saltos. Mas igualmente ruidosa e aumentando até a imprensa vem se colocando não mais silenciosa o tom. Ora causando a maior enchente na história do em defesa do que nos resta de natural. O desenvolviRio Negro, ora a maior mento sustentável, ela seca no interior da também vem aumenBahia. O maior degelo tando o tom, se tornou no Everest. A quantidaa pauta conceitual, de jamais vista de refuheroica, emocionada, giados ambientais da racional e não mais África, famintos, com outras pautas enfaa terra seca, querendo donhas e previsíveis, invadir a Europa em o que mais nos fazia busca de sobrevivência. envelhecer antes da Esta foi a contribuihora. Nós agora temos ção maior da Rio+20. uma ideologia não Antes, a consciência mais somente antrosilenciosa. Doravanpológica, mas unite, o clamor sonoro. versal e democrática Antes a imprensa trapara acreditar e lutar, dicional, em cima do sem enganos. muro, só denuncianAntes, durante e dedo os fatos, sem se pois da Rio+20, até as posicionar. Agora tocrianças mudaram mando partido, ao ver sua visão de mundo. o poder concorrente Elas não falam mais das redes sociais. Anem salvar seu papai, tes, o pensar; hoje, o sua mãezinha, suas RACHEL CARSON: 30 ANOS ANTES DA ECO/92: “OS PESTICIDAS TÊM O PODER DE SILENCIAR O CANTO DOS PÁSSAROS” falar. Antes o guardar bolas e bonecas, a florsó pra si, que fazia o zinha na janela ou o jogo da situação. Hoje, o agir necessário de todo e peixinho esquecido no aquário. Preferem dizer, com qualquer político, estadista, economista, cidadão e mais sabedoria e convicção do que todos os seus anlíder que se preze. tepassados: “Quando crescer, eu quero salvar a mãe Nem nós, jornalistas e fiscais da sociedade, que natureza, salvar o mundo!” acostumamos ditar (apenas apontar) regras de Elas são, como na canção de Marcus Vianna, “os filhos conduta somente para os outros, ficamos imunes às dos filhos dos....” e nos salvarão unidas. Elas são o futuro! duas conferências do Rio. Até a primeira tentamos É este legado, o recado da Rio+20, que a ECOLÓGIficar confortáveis, ouvindo e repercutindo os dois CO continua abordando nesta edição. Afinal, a nova lados, menos o nosso. revolução só começou. Já sabemos que nós é que teEu me lembro de uma pesquisa feita pelo nos- mos de nos salvar, e não o planeta que se regenera soso colega Washington Novaes, que explicou à época zinho, segundo a cartilha de seu criador. da Eco/92, porque os jornalistas, de modo geral não Boa leitura. Até a próxima lua cheia.

ECOLÓGICO /AGOSTO DE 2012 Q XX


BRANCO


1 E C O N E C T AdD O Twittando ECO MÍDIAS O “Bem, da próxima vez faz só a Cúpula dos Povos e economiza.” @blogdosakamoto Leonardo Sakamoto , jornalista

“Felicidade? É aquele momento em que você e a natureza se bastam.” @mauriciodesousa - desenhista O

“Fim do voto secreto é aprovado na @ cmbhinforma! Parabéns a todos os envolvidos!” @nossabh – Movimento Nossa BH O

“Gravação vídeo institucional Unesco-Hidroex no lindo Jardim Botânico!” @pires_cleo – Cléo Pires, atriz O

“Sem-terra ficaram de fora das ações de governo, diz Oswaldo Dehon, convidado do Sala de Imprensa sobre crise no Paraguai.” @tvalmg - TV Assembleia MG O

Lester Brown é um renomado escritor da área ambiental e fundador do Earth Policy Institute, instituto de pesquisas verdes com sede em Washington (EUA). Em 2009, ele lançou o livro “Plano B 4.0- Mobilização Para Salvar a Civilização” que trata principalmente dos desafios de como reduzir os níveis de CO2 em 80% até 2020. Um progresso que refletiria em dois outros eixos: o aumento da eficiência energética e a adoção de fontes renováveis, como a térmica, a eólica e a solar. Interessados na obra de Brown podem fazer o download do Plano B 4.0. Basta acessar o link: http:// www.worldwatch.org.br/plano_b.pdf Já imaginou ter acesso a frutas, legumes, bebidas, laticínios e grãos orgânicos com direito a entrega domiciliar? A boa ideia já foi colocada em prática, mas até o momento somente na cidade do Rio de Janeiro (RJ). O serviço é prestado pela Organomix, uma empresa que promete uma linha completa de produtos orgânicos. Os interessados podem fazer o pedido por meio do site www.organomix.com.br ou televendas. Os horários de entrega são agendados pelos clientes; e os produtos, entregues dois dias após a realização do pedido. Quem sabe a ideia é lançada em outros estados!

ECO LINKS Com objetivo de difundir o Movimento Sou Ecológico que trata da mudança de comportamento em relação ao meio ambiente, o Grupo Ecológico que incorpora a “Revista ECOLÓGICO”, o “Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade & Amor à Natureza” e a “Hiram Firmino Consultoria” agrega todas as mídias sociais ao nome SOU ECOLÓGICO. Fique de olho nas mudanças! Uma garrafa PET cheia de água e duas tampinhas de água sanitária. A mistura simples e prática é a solução sustentável para tirar da escuridão locais que necessitam do uso da luz também durante o dia. Palafitas, barracos ou mesmo locais mal iluminados podem fazer uso da engenhoca que poupa energia elétrica e o meio ambiente. Como fazer? Mais simples do que você imagina! É só conferir na área de vídeos do nosso site “Litros de luz” - www.souecologico.com.br

A técnica em Meio Ambiente, Isabella Diniz Barros tem muita vontade de ver fotos dela nas páginas da Revista ECOLÓGICO. Pedido feito e aceito, publicamos aqui a foto que ela fez de um belo casal de mandarins (Taeniopygia guttata). Ela, que se diz fotógrafa por hobby, acredita que “a natureza é rica demais para não ser observada e apreciada!”

ISABELLA GOSTA DE REGISTRAR A DIVERSIDADE E OS MOMENTOS RAROS DA NATUREZA.

ECO PROMOÇÃO Quer presentear um amigo com uma assinatura trimestral? Basta seguir o @sou_ecologico e twittar a frase: “Eu leio a Revista ECOLÓGICO e quero presentear um amigo. Via @sou_ecologico!” A primeira pessoa que twittar a frase ganha! Não é sorteio! Boa sorte!

XX

Q ECOLÓGICO/AGOSTO DE 2012

ISABELA DINIZ BARROS

REPÓRTER ECOLÓGICO


STR NEW/REUTERS DOMINIO PÚBLICO

1GENTE ECOLÓGICA

“É triste pensar que a natureza fala e que o gênero humano não a ouve”

RAPHAEL KOERICH

VICTOR HUGO, ESCRITOR FRANCÊS

“É ultrajante, repugnante e indigno de uma pessoa do seu nível. O senhor não vale mais que os caçadores ilegais que roubam e saqueiam a natureza. Você é a vergonha da Espanha”

HAYLLI

BRIGITTE BARDOT, 77 ANOS, EX-ATRIZ FRANCESA, EM CARTA ABERTA AO REI DA ESPANHA, JUAN CARLOS,POR TER CAÇADO E MATADO ELEFANTES NA ÁFRICA

“Jorge Amado me chamava de coqueiro, por causa das pernas compridas” IVETE SANGALO, QUE FAZ A CAFETINA MARIA MACHADÃO, NO REMAKE DA NOVELA “GABRIELA”

XX Q ECOLÓGICO/AGOSTO DE 2012

“O corpo não é uma máquina como nos diz a ciência. Nem uma culpa como nos fez crer a religião. O corpo é uma festa” EDUARDO GALEANO, JORNALISTA E ESCRITOR URUGUAIO


CRESCENDO

RENÊ JERÔNIMO DE ARAÚJO

WORLD/TELEGRAM PHOTO

BILL GATES,XXXXXXXXXXXXX

“Eles podem nos dizer o que ler, o que falar, o que fazer. Mas não podem nos dizer o que pensar.Isso dá uma sensação de grandeza. É como estar sozinho no topo de uma montanha à noite, sem nada à sua volta, a não ser estrelas”

“Esta corrida faz as pessoas pensarem mais em si, na natureza, no corpo e na saúde”. A frase é de Renê Jerônimo de Araújo, um senhor de 72 anos, que chegou na 697º posição na Meia Maratona das Cataratas, realizada no Parque Nacional do Iguaçu, em Foz do Iguaçu. Com alegria e disposição, o ex-pescador que está acostumado a viver em meio à natureza, já que mora em Fernando de Noronha, deu a fórmula da vitalidade. “Viver é bom demais, basta saber viver. Hoje minha vida é correr, correr, correr”.

CATARATAS DO IGUAÇU

DIVULGAÇÃO

“Meus filhos terão computadores, sim, mas antes, terão livros. Sem livros, sem leitura, os nossos filhos serão incapazes de escrever – inclusive a sua própria história”

TRECHO DA PEÇA NÃO SOBRE ROUXINÓIS DO ESCRITOR AMERICANO TENNESSEE WILLIAMS INSPIRADA EM UMA REBELIÃO DE PRESOS EM 1930 NOS EUA

RENAN CALHEIROS

“Na próxima vez que você tomar um copo de água, lembre-se que está bebendo o oceano. Só há um sistema de água, e nós estamos usando esse sistema como esgoto”

“A sustentabilidade também faz parte do DNA do nosso grupo” EIKE BATISTA, EMPRESÁRIO DO GRUPO EBX

JULIANA COUTINHO

JEAN-MICHEL COUSTEAU, FILHO DO FAMOSO EXPLORADOR FRANCÊS JACQUES COUSTEAU

A negativa do Ibama de conceder licença prévia para construção de um estaleiro em Alagoas provocou a ira dos senadores do estado. Renan Calheiros (PMDB) - apoiado por Fernando Collor (PTB) e Benedito de Lira (PP) - disse que a negação é de origem política, e que, por isso, também dificultará a tramitação de um projeto que beneficia servidores da área ambiental. Segundo o Ibama, “mais da metade da área proposta para instalação do estaleiro encontra-se numa região de mangue, considerada área de preservação permanente (APP)”.

ECOLÓGICO /AGOSTO DE 2012 Q XX

AGÊNCIA SENADO

TOM ORDWAY/OCEAN FUTURES SOCIETY AND KQED

MINGUANDO


CÉU DE BRASÍLIA VINÍCIUS CARVALHO

DIVULGAÇÃO

redacao@revistaecologico.com.br

MPF X INCRA 1

MPF X INCRA 2 A área desmatada pelos assentamentos na Amazônia é cerca de cem vezes o tamanho da cidade de São Paulo. Só dentro de assentamentos criados pelo Incra no ano passado, desapareceram 1,6 milhão de hectares de floresta. Entre 2000 e 2010, mais de 60 milhões de campos de futebol em florestas teriam sido derrubados. Segundo contas do MPF, os danos ambientais chegam a R$ 38, 5 bilhões.

ENERGIA SOLAR 1 Um estudo divulgado em julho pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), do Ministério de Minas e Energia, mostra que a produção residencial de energia solar já é economicamente viável para 15% dos domicílios brasileiros. Por outro lado, o estudo mostra que a geração deste tipo de energia em grande escala por usinas comerciais ainda não é viável economicamente.

ENERGIA SOLAR 2 Segundo a EPE, o custo atual de produção da energia solar em larga escala gira em torno de R$ 405 por MWh, enquanto a média do preço de outras fontes de energia é de R$ 150 por MWh. Ou seja, mesmo com incentivos que barateiem em 28% o preço da energia, informa a EPE, a solar ainda custaria hoje o dobro da média cobrada nos leilões de venda de energia.

BRASILEIROS EM RISCO MULTAS AMAZÔNICAS Uma conta no valor de R$ 181 milhões em multas por desmatamento está sendo cobrada pela Advocacia Geral da União (AGU) e pelo Ibama na Amazônia Legal. O foco são os desmatadores que sofreram autuações entre R$ 1 milhão e 10 milhões. A ação corresponde a 21 Ações Civis Públicas, movidas contra os responsáveis pela devastação de 35,6 mil hectares de floresta nativa.

XX

Q ECOLÓGICO/AGOSTO DE 2012

Dados divulgados pelo Serviço Geológico do Brasil (CPRM) indicam que existem atualmente no país pelo menos 680 mil pessoas morando em áreas consideradas de risco alto ou muito alto de deslizamento de terra ou inundações. E o número vai aumentar. Segundo a CPRM, foram monitorados cerca de 140 municípios até agora. O número chegará a 286 municípios até o final do ano, saltando para 821 até 2014.

ANDREVRUAS

Segundo investigação do Ministério Público Federal (MPF), os assentamentos de reforma agrária tornaram-se os maiores desmatadores da Amazônia. Respondiam por 18% do desmatamento anual em 2004, mas somaram 31,1% de toda a devastação em 2010. Foram 133.644 quilômetros quadrados de floresta derrubados dentro dos 2.163 projetos de assentamento que existem na região.


MARIZILDA CRUPPE/EVE/GREENPEACE

EXTINÇÃO 1 Em estudo publicado na revista “Science”, cientistas britânicos e americanos estimaram quantas espécies da fauna amazônica podem desaparecer em decorrência do desmatamento ocorrido entre 1978 e 2008. O cálculo foi feito por estado. Os pesquisadores afirmam que 12 espécies de mamíferos, 13 de aves e três de anfíbios poderiam sumir no Tocantins a partir do desmate histórico. O estado seria o mais afetado.

TENSÃO EM BELO MONTE Após 21 dias de ocupação no sítio Pimental, um dos principais canteiros de obra da usina de Belo Monte (Pará), índios aceitaram proposta da Norte Energia para desocupar a área. Além do cumprimento das condicionantes da hidrelétrica, eles pedem indenizações pelos danos que já sofreram por conta do empreendimento. ALEX RIO BRAZIL

EXTINÇÃO 2 Na perspectiva para 2050, em projeção com índices superiores a 28 mil km² ao ano nos próximos 38 anos, o extermínio seria ainda maior. Neste caso, Rondônia lideraria a perda de biodiversidade de mamíferos, aves e anfíbios, com o desaparecimento de 59 espécies. Roraima e Amapá perderiam, cada um, 46 espécies.

CÓDIGO FLORESTAL

EMISSÕES E DESMATAMENTO Um estudo publicado na revista “Science” revela que as emissões de gases de efeito estufa decorrentes do desmatamento tropical são menores do que se pensava. De acordo com o levantamento, elas representam cerca de 10% da liberação total de carbono, e não entre 20% e 30% como afirmavam pesquisas anteriores.

A ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, declarou que o governo quer a aprovação da medida provisória do Código Florestal sem qualquer flexibilização. A MP editada por Dilma exige dos médios produtores uma recomposição florestal de 20 metros em áreas de produção nas margens de rios com até 10 metros. A bancada ruralista pressiona para reduzir a recomposição para 15 metros.

ECOLÓGICO/AGOSTO DE 2012 Q XX


BRANCO


1

ROBERT LINDER

DIVULGAÇÃO BB

ECONOTAS

t ÁGUA PARA TODOS

t ENERGIA LIMPA

t EM DEFESA DOS ANIMAIS Sabe aquele xampu colorido e perfumado que as crianças usam? Antes de chegar às prateleiras, ele pode ter sido testado em muitos animais a custo de dor e sofrimento. E o mais complicado é que muitas vezes o consumidor não é informado sobre isso para decidir se compra ou não, marcas que fazem esses testes. Em alguns países, escolher produtos que não utilizam cobaias é mais rápido. Muitos fabricantes informam sobre isso nos rótulos e há selos de certificação concedidos pela Peta, ONG que age em defesa dos animais. Já aqui no Brasil existe o Projeto Esperança Animal (Pea) que divulga uma lista on-line de empresas que não realizam testes em animais. SAIBA MAIS: www.peta.org e www.pea.org.br

XX

Q ECOLÓGICO/AGOSTO DE 2012

CORBIS

O governo do Amazonas promete instalar, em Manaus, a maior usina solar da América Latina. Ela terá capacidade para atender 3.757 residências, com consumo médio de 154 kWh/mês e potencial de 6MW. A capital amazonense, que já possui energia gerada a partir de óleo combustível e diesel, à base hídrica e gás natural, pretende adicionar a energia solar como opção limpa e sustentável na cidade. O projeto será desenvolvido pelo governo do Amazonas, baseado em pesquisas da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e recursos do Banco de Desenvolvimento da Alemanha. O projeto custará R$40 milhões e deve ser concluído em dois anos.

A questão da seca no semiárido brasileiro é antiga, mas as soluções são viáveis e possíveis. Basta ver o projeto “Água para todos”, fruto da parceria entre a Fundação Banco do Brasil, o Banco do Brasil, a Articulação do Semiárido (ASA) e a Associação Programa Um Milhão de Cisternas (AP1MC). A previsão é construir 60 mil cisternas com formato cilíndrico, cobertas e semienterradas. Um encanamento simples recolhe no telhado das casas a água da chuva e a encaminha para a cisterna feita de placas de cimento. Cada cisterna tem a capacidade de acumular 16 mil litros de água que, se usados com moderação, podem durar até oito meses para uma família de cinco pessoas. A primeira unidade da “Tecnologia Social Cisterna de Placas” foi instalada na propriedade da senhora Afifa Gonçalves de Souza, zona rural da cidade de Salto da Divisa (MG), distante 877 km da capital Belo Horizonte e cerca de 140 km de Porto Seguro (BA). A iniciativa que faz parte do Plano Brasil Sem Miséria pretende abranger 89 municípios de 40 microrregiões. SAIBA MAIS: www.fbb.org.br


1

E N T R E V I S TA

" SUSTENTABILIDADE É "

RESPEITO Cíntia Melo redacao@revistaecologico.com.br

R

JBIS

ROBERTO HILTON: "A PROPAGANDA TEM MUITO A CONTRIBUIR PARA A DISSEMINAÇÃO DA SUSTENTABILIDADE NO SEIO DA SOCIEDADE E DO PLANETA"

XX XX

Q ECOLÓGICO/AGOSTO DE 2012

Q ECOLÓGICO/ABRIL DE 2012

oberto Hilton é presidente da JBIS Propaganda, com sede em BH e atuação nacional. Faz parte do conselho da Associação dos Dirigentes de Marketing e Venda do Brasil (ADVB), é diretor nacional da Associação Brasileira de Propaganda (ABAP) e membro do Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (CONAR). Tanto na profissão, quanto na vida pessoal, o sinônimo de sustentabilidade para ele é respeito. “Sustentabilidade é olhar para o outro, com credo e cor diferente, com respeito. É saber que uma baleia tem tanto valor quanto um ser humano. E que, matar uma planta (embora ela não tenha representação jurídica) é como matar um ser humano. As agências de propaganda têm de cultivar o respeito pelo anunciante, pelo veículo, pelo consumidor e também por seus concorrentes”, defende. O publicitário é diretor de Sustentabilidade na ABAP e no CONAR e participou da comissão que estudou a aplicação do tema no setor. “Elaboramos um documento que diz como as agências devem praticar a sustentabilidade, uma espécie de protocolo com regras mínimas e recomendações a serem seguidas”, diz. Para Roberto, a despeito de todo o modernismo e sofisticação atuais não herdamos das sociedades primitivas o respeito que elas tinham pela natureza, incluindo a convivência com o próximo. E é papel das agências o resgate destes princípios. “A propaganda é uma centelha de recuperação dos conceitos que se perderam ao longo do tempo pela força do capitalismo, embora não creia que a sustentabilidade tenha alguma veiculação ideológica” (ele a considera muito menos moral e mais ética). Falar sobre sustentabilidade é fácil. Mas Roberto procura praticá-la também. Na grande sala em que trabalham os funcionários da JBis não há uma parede sequer. “Não acredito em fronteiras. Elas são motivos de guerra e conflito no mundo todo. Os pássaros migram para diversas regiões e não aprendem outras línguas, muito menos regras diferentes das que já possuíam. Não existem barreiras na natureza. Por que deveria haver entre os homens?” Como a sustentabilidade pode ser aplicada no mercado da propaganda e na vida? Confira a seguir:


ROB ERTO HILTON

BSCHWEHN

PRESIDENTE DA JBIS PROPAGANDA

“Sustentabilidade é saber que uma baleia tem tanto valor quanto um ser humano”

Como aplicar o conceito da sustentabilidade à propaganda? ● É não deixar mais que as empresas vendam produtos sem sabermos suas reais funcionalidades, suas verdadeiras mensagens e as consequências de seu uso para o indivíduo, a empresa e a sociedade. Esse tripé nos leva a um quarto, que é o planeta. Por isso acredito que a sustentabilidade é considerar o indivíduo, o agente (a empresa), a sociedade e o planeta que será atingido em sua atmosfera, fauna e flora. Não existe primazia de indivíduo, sociedade e cultura na sustentabilidade. Simplesmente uma corrente ética em que as pessoas começam a perceber realmente que estão em um mesmo ambiente. E que para que tudo corra bem é preciso que haja, principalmente, o respeito. Na prática, como as agências estão trabalhando? ● Já existem algumas iniciativas

de regulamentar e de normatizar tudo isso. Foi criada uma comissão na ABAP. Fizemos um trabalho de amplitude nacional, selecionando algumas agências para dar início a projetos embrionários. Entre elas, a própria JBis. Durante esse processo, diversos parâmetros de aplicações da sustentabilidade foram discutidos. Ouvimos as agências para saber o que elas pensavam e demos abertura a todos os filiados para que contribuíssem com opiniões e sugestões, trabalho que foi feito junto a Escola Superior de Propaganda e Marketing de São Paulo. Posteriormente, elaboramos uma espécie de protocolo com regras a serem aplicadas. Qual o principal fundamento? ● Respeitabilidade. Ninguém pode dizer que um produto é verde ou orgânico sem que seja verdadeiramente comprovado. O objetivo é proteger o consumidor e valorizar quem pratica a sustentabilidade.

No âmbito da ABAP isso ainda funciona de forma voluntária. Qualquer mudança na sociedade obedece a etapas, como conhecer, sensibilizar-se e conscientizar-se. Depois vem a mudança e a construção dos embaixadores que irão defender a causa. Em que ponto estamos? ● Na fase da sensibilização. Ao mesmo tempo em que temos empresas extremamente avançadas, existem outras que ainda não têm uma noção muito clara da importância disso. Mas não tenho dúvidas de que a propaganda é uma alavanca propulsora, capaz de disseminar conceitos, tornando -os conhecidos, desejados e consumidos pela sociedade. Acredito firmemente que a propaganda tem muito a contribuir para a disseminação da sustentabilidade no seio da sociedade e do planeta. Os integrantes da agência têm obrigação de checar o que é verdadeiro ou não. Esses são os princípios

2

ECOLÓGICO/AGOSTO DE 2012 Q XX


1

E N T R E V I S TA

do nosso negócio. Se o produto não é verdadeiro, se houver denúncia, o CONAR vai agir. Esse é o papel da propaganda hoje? ● Exatamente. O papel da ABAP, como associação, e do CONAR, como órgão regulador do setor. Temos setores como o da energia elétrica e da mineração e outros também que se utilizam de linguagens metafóricas. Vamos checar o que é verdadeiro e o que não é. No caso de mineradoras, por exemplo. Elas realmente fazem bem ao meio ambiente? Faz sentido dizer isso? Será que para que haja a extração é preciso jogar dejetos nos córregos dos rios? Não pode haver um lago de contenção? Será que não deveria haver uma estrada lateral para os caminhões das mineradoras trafegarem, minimizando os impactos ambientais que eles geram? Será que não deveria haver uma recuperação do que já foi degradado? Não quero cometer injustiça, mas não dá para reduzir impactos?

“Quem sofreu verdadeiramente com o Mensalão foram as agências mineiras, ainda discriminadas. Somos zero em Brasília hoje” duzem a realidade dos impactos de suas operações. O CONAR vai estar de olho nisso. Agora, se as mineradoras estiverem negociando todos os seus impactos com os órgãos ambientais, então isso não é problema da propaganda.

Onde a ABAP e o CONAR entram nisso? ● Vamos atenuar ao máximo qualquer tipo de falsa mensagem.

A propaganda, que estimula o consumo, pode trabalhar em prol da sustentabilidade? ● A questão do consumo deve ser analisada com cuidado para não cairmos em clichês. Vivemos em uma sociedade democrática e num estado democrático de direito onde qualquer um pode anunciar um produto e oferecê-lo ao público. Temos de ter discernimento para saber o que é bom ou ruim para nós. Essa é a regra do jogo e é democrática. Não vai e nem pode mudar. O que precisamos é ir além.

Como? ● É preciso construir um acordo com a sociedade. O correto é dizer a verdade, que esse tipo de exploração é degradante, mas que pode ser feito dentro de determinadas condições. Isso, sim, é aplicar a sustentabilidade. Ainda mais que existe uma parte nessa história que não se pronuncia, que é a fauna e a flora. As agências têm de checar se a empresa está falando a verdade ou não. E não pode é utilizar-se de mensagens e elementos metafóricos que não tra-

Em que sentido? ● No que é ético e depende de valores e da percepção de mundo. Dentro de minha empresa, não vou trabalhar com um cliente que quer vender um produto que não faz bem a outras pessoas. Essa é uma posição minha, são minhas crenças e valores. Acho que é nisso que a sustentabilidade vai atuar porque já existe uma normatização jurídica da moral. Veja o problema da obesidade nos Estados Unidos. As pessoas não nascem obesas, elas se tornam obesas.

XX

Q ECOLÓGICO/AGOSTO DE 2012

Essa é uma questão de cultura alimentar. Agora, dentro das normas jurídicas é possível impedir que as empresas parem de fabricar produtos com alto teor de gorduras saturadas? Acho que não. Mas uma agência de propaganda pode dizer que não vai atender aquele cliente que produz um alimento que faz mal a saúde. Como um advogado pode se negar a defender um assassino. Acredita na mudança a partir da ética? ● Sim. Mas creio que a percepção do peso e do valor da ética só vai se dar por meio do estudo da filosofia. Só ela é capaz de mudar paradigmas e construir uma sociedade melhor. O poder público pode colaborar muito com isso, colocando na grade curricular a obrigatoriedade do ensino da filosofia para que os indivíduos aprendam a pensar e a questionar e também a estarem abertos para o novo, mudando conceitos. Quais os principais desafios do mercado mineiro de propaganda? ● O baixo nível profissional do cliente, que tem uma percepção muito provinciana em relação a seus negócios. Talvez seja um resquício da cultura da própria BH, que deseja se tornar uma cidade grande, mas insiste nas práticas de uma cidade pequena. Como o mineiro dirige suas empresas? Pode exemplificar? ● Há muita interferência na comunicação, às vezes até de uma forma muito personalista. O planejamento estratégico e a aplicação de ferramentas são pouco valorizados. No limiar da propaganda hoje há a questão do Retorno do Investimento em Comunicação e Marketing, o Roi, que é


ROB ERTO HILTON

pouco valorizado pelo cliente. Sabe aquela piada do mineiro: não importa qual é o remédio, se tem desconto eu compro? Nossa propaganda é de boa qualidade? ● De altíssimo nível. Temos ótimas estruturas de ensino fundamental e médio. Minas se destaca no setor de ensino. Nossas escolas têm um corpo docente de excelente nível. Somos celeiros de bons profissionais. Vários que aqui se graduam acabam indo para outros centros como São Paulo, Rio e também para o exterior. Sempre haverá um mineiro se destacando no campo da mídia, do planejamento, da criação, do atendimento. Ainda existem vestígios do episódio do Mensalão no mercado publicitário mineiro? ● Nosso Estado sempre foi reconhecido porque o mineiro tem uma imagem de pessoa laboriosa, séria, trabalhadora, pacata, honesta, com valores estruturados. E nós, que somos mineiros, sabemos que essa é uma expressão da verdade. A figura que apareceu no Mensalão (Marcos Valério) nem publicitário é. Não o conheço, nunca o vi e acho que o que ocorreu foi um encontro da oportunidade com o momento, e cabe aos tribunais julgarem. Não podemos confundir alhos com bugalhos. O setor da propaganda é uma indústria organizada. Que recolhe impostos e emprega pessoas. E participa com um PIB (Produto Interno Bruto) no país, de mais de 40 bilhões, com pelo menos 3 bilhões de reais. Somos profissionais, empresários e não admitimos ser envolvidos com determinadas práticas de uma pessoa ou um grupinho de pessoas que se utiliza de má fé para fazer ne-

ANTONIO CRUZ-ABR

PRESIDENTE DA JBIS PROPAGANDA

“A figura do Marcos Valério que apareceu no Mensalão nem publicitário é.”

gócio. Quem sofreu verdadeiramente com o Mensalão foram as agências mineiras, que até hoje estão sendo discriminadas. Somos zero em Brasília hoje. Você enxerga o futuro com bons olhos? ● Sim. Se não acreditar que o mundo vai melhorar vou ter dificuldades. Provavelmente serei uma pessoa depressiva. Acho que tudo vai melhorar: nossas ruas vão voltar a se encher de pássaros, em cada janela dos prédios deverá haver um jeito deles fazerem ninhos. Sou otimista porque acho que o ser humano é inteligente. Não é um ser bom. É violento, ruim, mas ao mesmo tempo é complexo e capaz de se socializar. E de mudar também? ● Sim. Mas só a partir da educação. Somos produtos dela e o que vai mudar esse mundo é única e somente a educação. Temos de recorrer aos gregos, tendo a fi-

losofia como base da educação para aprendermos a pensar e construirmos um mundo melhor. E usar a ciência como ferramenta. Quem aprende a pensar compreende qualquer teoria científica. E se conseguirmos criar pessoas mais éticas e morais, vamos melhorar muito. Como construiu esse seu senso crítico? ● Desde criança sempre olhei para tudo de forma muito crítica e ao mesmo tem muito imaginativa, o que aprendi com minha mãe. Ela olhava para uma rosa e achava que podia fazer um belo almoço. Acreditava que em um grande buraco poderia haver uma pepita de ouro. Estava sempre acreditando que as coisas poderiam ser melhores do que realmente eram. Acho que a gente sempre deve acreditar que existe uma pepita de ouro debaixo da terra e nos inspirarmos nisso para tornarmos o mundo melhor.

2

ECOLÓGICO/AGOSTO DE 2012 Q XX


1

E N T R E V I S TA

Ano de eleições municipais. Alguma mudança no mundo da propaganda política? ● O mercado se autorregula. E acredito que os políticos irão se surpreender porque a sociedade está mudando. A dependência e a veiculação do indivíduo com o poder público, de provedor social e paternalista, desde a Era Vargas, esse populismo, está com os dias contados. Com o advento da internet, muitas coisas, antes negligenciadas, agora estão se tornando públicas. Os políticos terão de se explicar um pouco mais para a sociedade, mostrando mais seus valores e propostas. Teremos grandes surpresas. As pessoas começam a questionar hoje quem é que é capaz de lhes dar segurança, transporte público, saúde... Procuram se informar o tempo todo nas redes sociais e começam a ter mais discernimento e opinião. Agora, elas participam de debates. Os políticos têm noção desse movimento forte e crescente das redes sociais? ● Não. Ainda acham que o político carismático, que tem a máquina pública a seu favor, controla essas variáveis. Vão “quebrar” a cara. Recentemente, no Egito, enquanto a população usava o Facebook para discutir a crise interna e as questões envolvendo o governo, os paramilitares, montados em camelos, chicoteavam as pessoas nas ruas. O político ainda não trabalha pensando no povo, para o povo? ● Não. E isso me lembra a história da indústria aeronáutica que fabricava aviões sem perguntar às empresas aéreas o que elas precisavam. Ao mesmo tempo, as empre-

XX

Q ECOLÓGICO/AGOSTO DE 2012

ROB ERTO HILTON PRESIDENTE DA JBIS PROPAGANDA

“Setores como o da energia elétrica e da mineração utilizam linguagens metafóricas. Vamos checar o que é verdadeiro e o que não é” sas aéreas também não perguntavam a seus passageiros o que eles queriam. Tempos depois eles perceberam que era muito mais viável construir um avião pensando no passageiro. Como é mais viável que se construa um prédio residencial pensando na pessoa que vai morar nele. Da mesma forma, os políticos precisam começar a pensar em se tornar produtos baseados nas aspirações de seus eleitores. Do contrário, se darão muito mal. Esse modelo de político que aí está já ruiu? ● Sim. A população quer pessoas éticas, honestas e, principalmente, comprometidas em solucionar problemas, como a questão da mobilidade, do transporte público. Chegou a hora da transparência, do comprometimento e da inovação. Os políticos têm de entender que dirigir a coisa pública é cuidar mais do bem comum e menos de si mesmos. O que você acha da nova geração digital? ● Tive uma formação clássica. Fui um devorador de livros na infância e adolescência. Os jovens hoje são mais práticos. Nós éramos enciclopédias ambulantes. Não somos melhores nem piores. Vivemos numa sociedade digital. Antes precisávamos acumular tudo na cabeça. Hoje tudo

é acumulado num chip de computador. O lado ruim, é uma certa alienação. Os jovens precisam aprender a pensar e elaborar o conhecimento que estão buscando na internet, sabendo lidar com o conhecimento e a informação. Fora do trabalho o que há de bom para fazer? ● Ler, viajar, ir ao cinema, cozinhar, curtir minha filha, Sofia (de três anos), e jogar tênis, meu esporte favorito! Sou extremamente competitivo, não gosto de perder. Por isso nunca perco a esperança naquilo em que acredito. Como dirige sua empresa? ● Sou uma pessoa extremamente simples e procuro passar isso às pessoas. Por exemplo, acredito que a boa forma faz parte do bem viver. Aqui na empresa as pessoas costumavam comer coxinhas, salgadinhos do tipo “Elma Chips” e sanduíches. Passei a oferecer salada de frutas na empresa todos os dias, o dia todo, porque acredito que uma boa alimentação faz bem as pessoas. Deu certo. Outra coisa, nossos horários de trabalho são flexíveis. As pessoas chegam a hora que querem e decidem que horas vão embora. Não acredito que pressionar as pessoas faz com que elas produzam mais. Procuro tornar o ambiente de trabalho um local agradável, motivando a equipe, fazendo com que cada um se sinta importante, com vontade de se encontrar com o grupo. Devemos tomar muito cuidado com dois lugares nessa vida: a empresa e o colchão, onde gastamos mais ou menos 18 horas por dia. E sustentabilidade é um pouco isso. Contribuir para um ambiente mais equilibrado e saudável.


1

ESTADO DE ALERTA MARIA DALCE RICAS (*) redacao@revistaecologico.com.br

VOÇOROCAS: QUEM VAI RESOLVER?

C

om uma “boa” foto de erosão marginal em bém continuam sendo ignoradas pelos municípios e uma rodovia asfaltada, o jornal Hoje em Dia pelo governo do Estado. publicou matéria sobre voçorocas formadas É claro, multar prefeituras, convocá-las para licenciaem função de intervenções irresponsáveis no solo do mento, exigir cumprimento de condicionantes é muito Estado, baseada em pesquisa realizada pelo Instituto mais difícil do que agir em relação a empreendimentos Voçorocas, que identificou 798 barrancos, em 33 mu- privados. E os conselhos municipais de meio ambiente, nicípios da bacia do Alto Rio Grande, entre o Campo com raras exceções, continuam a ser arremedos de coledas Vertentes e o Sul de Minas. giados deliberativos e democráticos. A postura de toleTalvez a pesquisa tenha incluído as famosas e gi- rância do poder público consigo mesmo é muito maior. gantescas voçorocas na cidade de Morro dos Ferros, “Macaco senta no rabo e fala dos outros”, diz um antigo próxima a Oliveira, cujas fotos estão disponíveis na ditado. O que dizer das centenas de erosões resultaninternet e que ameaçam ruas, casas e até o cemitério tes também das rodovias estaduais? O DER, há alguns local. São, entre as muitas, talvez a mais grave heran- anos, fez levantamento e criou um mapa tampado por ça do Dnit para a cidade e para o meio ambiente, re- bolinhas coloridas representando-as. E elas continuam sultante da BR-381. “firme e forte”. Em torno de BH, área não Não podemos esquecer também da “A postura de tolerância abrangida pela pesquisa, voçocontribuição dos loteamentos, mina do poder público consigo rocas podem ser vistas com facide dinheiro para um punhado de mesmo é muito maior.” lidade. A mais próxima, talvez, gente, fontes de degradação ambienseja a gigantesca erosão deixada tal, desespero para outros e exemplo pela prefeitura da capital, através de uma empresa perfeito da privatização de lucros e socialização de prepública que não mais existe, chamada Ferrobel, em juízos. E ainda tem treeiros, jipeiros, super pastoreio, parceria com a empresa mineradora, que também ocupação de APPs, incêndios e desmatamentos diversos. já se foi, na margem esquerda da BR-40 (sentido RJ). Que aqueles que me concedem a graça da atenção, não Parte da área foi ocupada pelo Leroy Merlin, e o res- pensem que sou negativista. A insistência representada tante continua “fornecendo” terra para os manan- por mais de 30 anos de militância na causa ambiental ciais da Copasa situados no lado oposto da rodovia. mostra o contrário: sou otimista e insistente. Em Piedade do Paraopeba, distrito de BrumadiE que também saibam que não ignoro a super denho, também tem uma voçoroca digna de ser vista, manda sobre a Semad, sua precária e insuficiente resultante da tentativa de abertura de estrada até a estrutura de pessoal, seus baixos salários. Pelo conBR-040, atravessando a Serra da Moeda. Isso aconte- trário. Por isto propusemos a criação de uma agênceu há mais de 30 anos, e a voçoroca continua cres- cia (ou algo inovador e ousado) que poderia facilitar cendo e descendo, como sangue, pela serra até chegar a mudança desse quadro. Chegamos até a acreditar ao Córrego Fundo, afluente do rio Paraopeba. Ainda que seria criada. E por último, nem ouso pensar que há a cratera deixada pela Extrativa Paraopeba, bem os órgãos ambientais resolverão todos os problemas, na divisa do Parque do Rola Moça, que tirou o miné- se seus “colegas” que interferem ou estimulam interferio de ferro e se mandou. Portanto, nenhuma delas foi rências no meio ambiente natural não ajudarem. resultado de processos naturais. Faço coro. Comando e controle, somente, não mudam O presidente do Instituto, Marcus Ferreira, aponta essa situação. Mas não seria legal jogar alguns “deles” que a abertura de estradas rurais na área pesquisada, dentro das voçorocas? De paraquedas é claro, pois alé a maior causa das erosões, “sendo a razão de 70% gumas são tão fundas que eles poderiam se machucar. delas”. Eu diria estradas municipais e diria também que se trata de um dos mais graves problemas ambientais do país, ganhando facilmente das cicatrizes (*) Superintendente-executiva da Associação deixadas por minerações irresponsáveis. E que tamMineira de Defesa do Ambiente (Amda).

XX

Q ECOLÓGICO/AGOSTO DE 2012

RevEco_Ago12_ESTADO DE ALERTA_OK_R_C.indd 1

20/07/2012 14:56:48


ERALDO MEDEIROS COSTA NETO

1 ENTOMOFAGIA

IGUARIAS COMO PÃO-DE-QUEIJO RECHEADO DE TENÉBRIOS E GRILOS COM DAMASCO SÃO FONTES DE PROTEÍNAS

O hábito de comer insetos, conhecido como entomofagia, é uma prática sustentável e curiosa Cristiane Mendonça redacao@revistaecologico.com.br

I

magine que um amigo o convide para almoçar na casa dele. Ansioso pelos pratos especiais, você se depara com uma pizza de grilos coberta por queijo e farofa de tanajura. E de sobre-

XX

Q ECOLÓGICO/AGOSTO DE 2012

mesa, morangos com creme de leite e larvas de besouros, também conhecidos como tenébrios. Esses insetos, que podem soar bizarros para uma nutrição ocidental, são consumidos há séculos

em países como China, Malásia e Indonésia. Estima-se que existem 1417 espécies de insetos comestíveis conhecidas e que cerca de 3000 grupos étnicos ao redor do mundo que se alimentam deles.


“Acheii a barata mais gostosa que o tenébrio, tenébr pois o tenébrio tem gosto de camarão e eu não gosto” SUELEN SOARES DA SILVA

tuição, é que o consumo de carne anual - que hoje gira em torno de 20 quilos por pessoa - chegará a 80 quilos. Resumo da previsão: muita gente, pouco alimento. Porém, as informações que soam catastróficas para alguns, representam novas oportunidades para outros. Empresas e pesquisadores que estudam o uso de insetos comestíveis defendem a entomofagia como uma prática saudável, nutritiva e, principalmente, sustentável. Para ser ter uma ideia, uma formiga-tanajura tem mais proteína que um bife de filet mignon. Para se produzir um quilo de grilos é necessário alimentá-los com 1,7kg de alimentos. O frango, em contrapartida, necessita de 2,2 kg FERNANDA MANN

Mas, você deve estar se perguntando: por que comer insetos? A prática conhecida como entomofagia é explicada em muitos países por questões históricas de escassez de alimentos, contextos religiosos, além do simples fato de ser um alimento que estava disponível. Quando o homem viu animais comendo insetos, aprendeu que também podia comê-los. Daí ser reconhecida como fonte alimentar foi um pulo. O cientista e filósofo grego Aristóteles escreveu sobre a coleta de “saborosas” cigarras. E na Bíblia, estão passagens como a de João Batista, que no deserto se alimentava de mel silvestre e gafanhotos. Registros históricos à parte, a entomofagia tem sido defendida pela Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO) como solução para a escassez de alimento, que a instituição prevê para as próximas décadas. Segundo dados da FAO, até o ano de 2050 a população mundial passará dos nove bilhões de pessoas, o que poderá causar uma crise na indústria de alimentos. Faltarão terras e água para produção de mantimentos. Outro agravante, de acordo com a insti-

FERNANDA MANN

A UX NA ARI CAT

OS INSETOS DA NUTRINSECTA TAMBÉM RECEBERAM AVAL DO MINISTÉRIO DA AGRICULTURA PARA ALIMENTAÇÃO HUMANA

de alimentos para produzir um quilo de carne. O biólogo Eraldo Medeiros Costa Neto é referência no Brasil na área de pesquisas sobre a nutrição baseada em insetos, além de ter organizado o livro “Antropoentofagia: Insetos na Alimentação Humana”. Divulgador da prática, Neto argumenta que alimentar-se de insetos é um hábito ecológico já que a criação demanda muito menos recursos naturais. Outro ponto positivo para o professor é o fator econômico, que ao contrário da criação de gados, não demanda derrubada de pastos. Questionado sobre o paladar, Neto explica que os sabores dos insetos estão mais ligados a preferências culturais e dependem também de como eles são preparados. “O uso de especiarias, tal como em outros pratos, é fator determinante para que os insetos fiquem saborosos.” Além do mais,

ECOLÓGICO /AGOSTO DE 2012 Q XX


FOTOS FERNANDA MANN

NA NUTRINSECTA, AS ESPÉCIES SÃO SEPARADAS POR ESTUFAS E TRATADAS POR UMA EQUIPE DE SEIS PESSOAS.

o pesquisador conta que aquilo que é comido pelo inseto é determinante para o gosto que ele terá. “Tenébrios que se alimentam de flores açucaradas terão um sabor doce”, exemplifica. Gosto que a atendente Suelen Soares da Silva diz ter aprovado. Ela já comeu baratas (Nauphoeta cinérea) e tenébrio comum (Tenebrio molitor) e disse que repetiria os pratos sem problemas. “Achei a barata mais gostosa que o tenébrio, pois o tenébrio tem gosto de camarão e eu não gosto. Já a barata comi pura e coberta de chocolate e gostei”. Já a auxiliar administrativa Gleis Rodrigues é veemente ao afirmar que jamais comeria e brinca: “Morreria de fome se precisasse comer insetos!” As espécies comestíveis devem ser produzidas em condições sanitárias ideais. Outro dado importante é que nem todas são adequadas para alimentação humana, sendo algumas até venenosas. CRIAÇÃO DE INSETOS

Existe um mercado que vê na produção de insetos para alimentação uma fonte de renda sustentável. Em Betim, região metropolitana de Belo Horizonte, a empresa Nutrinsecta produz insetos para ração animal desde 2007. E já planeja para o próximo ano um quiosque para que as pessoas degustem pratos feitos à base de insetos, tal como tenébrios caramelados. A empresa que pertence ao grupo Vale Verde, mesmo criador da cerveja Kaiser e da Cachaça Vale Verde, produz as espécies tenébrio comum (Tenebrio molitor), tenebrio gigante (Zophobas morio), grilo preto (Gryllus assimilis), barata cinérea (Nauphoeta cinérea) e mosca doméstica (Musca domestica). Como atividade pecuária, a criação de insetos requer baixo investimento e tem menos impacto ambiental. Há uma reduzida necessidade de água, visto que os insetos consomem umidade por meio de frutas da época ou em forma de gel. Os resí-

O GRILO PRETO (GRYLLUS ASSIMILIS) É UMA DAS ESPÉCIES QUE PODEM SER CONSUMIDAS TANTO POR ANIMAIS QUANTO POR PESSOAS


GILBERTO SHICKLER É O ZOOTECNISTA RESPONSÁVEL PELA PRIMEIRA FÁBRICA DE INSETOS COMESTÍVEIS DO BRASIL

duos orgânicos são reciclados transformando-se em húmus de minhoca. Os insetos são separados por espécies em estufas, alimentados com farelo de trigo, soja e milho, além de leveduras e premix mineral e vitamínico. Ao atingir a fase comercial, são desidratados, empacotados e têm validade de até seis meses, já que não são utilizados conservantes. A produção do insetário atinge duas toneladas por mês, valor que reduz cerca de 2/3 depois de desi-

dratados. Para se ter uma ideia, somente na China são produzidas 30 toneladas por mês de tenébrios. Os insetos são vendidos para vários lugares do Brasil e também são utilizados para consumo interno da Fazenda Vale Verde que cria várias espécies de animais como avestruzes, pavões e seriemas. Mesmo atendendo todas as exigências sanitárias, a ideia de vender insetos para alimentação humana surgiu da vontade dos próprios visitantes da Fazenda Vale Verde. Ao saber que existia um insetário, eles procuravam os funcionários do local e perguntavam se podiam experimentar as iguarias. Mesmo sendo um mercado promissor, segundo o zootecnista Gilberto Schickler, responsável pela Nutrinsecta, ainda faltam investimentos em pesquisas para que o mercado alavanque. “É importante a parceria com universidades e instituições para investimento em estudos e pesquisas que permitam cataPARCERIA ENTRE A NUTRINSECTA E SIMPÓSIOS RENDEM A PRODUÇÃO DE PRATOS COM VARIADOS INSETOS

logar mais espécies e descobrir o potencial nutritivo de muitas delas.” O zootecnista conta que faz parcerias com pesquisadores e chefs de cozinha para participação de simpósios e preparação de pratos. “Forneço a matéria-prima e eles nos ajudam a divulgar. A informação é muito importante para que as pessoas possam quebrar preconceitos e enxergar o potencial desse mercado”, esclarece. Hoje com aval do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento para alimentação humana, Schickler conta que já foi procurado por atletas que estavam em busca de baratas para alimentação, já que elas são as mais ricas em proteínas e que já forneceu insetos para reality shows e programas de TV que utilizam as espécies para provas de resistência.

PARA SABER MAIS www.insetosonline.com.br

ECOLÓGICO /AGOSTO DE 2012 Q XX


DIVULGAÇÃO

1 LAZER

SONHO RENOVADO: QUATRO ANOS DEPOIS, A FONTE LUMINOSA DA PRINCIPAL PRAÇA AO LONGO DO RIO SABARÁ VOLTA A ENCANTAR A POPULAÇÃO E TURISTAS

Sabará reinaugura a

PRAÇA DO BARÃO Voltam as águas do símbolo maior do Projeto “Boulevard de Sabará”, até hoje não implantado por falta de visão e vontade política J. Sabiá redacao@revistaecologico.com.br

C

om direito a viola, caldos de mandioca e feijão, e ainda uma lua cheia no céu, a prefeitura da cidade histórica de Minas que mais atrai visitantes da Região Metropolitana de BH conseguiu recuperar, fazer funcionar e entregar a fonte luminosa da Praça do Barão novamente à sua população. Essa notícia boa ocorreu na primeira quarta-feira de julho, numa cerimônia simples e festiva. Projetada e patrocinada pela mineradora Anglo-

XX

Gold Ashanti, a um custo de R$ 600 mil, a fonte só funcionou um dia, em 12 de dezembro de 2008, para tristeza de seus frequentadores. Foi durante a inauguração do Projeto de Recuperação Ambiental, Urbanística e Paisagística do Rio Sabará– “Boulevard de Sabará” – em uma parceria público-privada (PPP) também apoiada pela Arcelor Mitall, ex-Belgo Mineira, que nasceu e atua igualmente no município. A siderúrgica contribuiu com R$ 1 milhão, para custear os trabalhos técnicos

doados depois à prefeitura. A exemplo das crianças, até o ex-prefeito na época, Sérgio Freitas, entrou e brincou literalmente em suas águas . Mas no dia seguinte, a praça amanheceu como dantes: sem a fonte. Uma infiltração em sua base, mais outros defeitos e imperfeições estruturais no projeto doado pela AngloGold fizeram secar toda expectativa da população. Nesses quatros anos a mineradora de ouro não assumiu nem se ofereceu para resolver o problema.

Q ECOLÓGICO/AGOSTO DE 2012

RevEco_Ago12_LAZER_R_OK_C.indd 1

20/07/2012 14:11:19


“Conseguimos recuperar a graciosidade da praça”

BOULEVARD DIFÍCIL Desde a administração do prefeito Wander Borges, que obteve a segunda maior votação no país e a maior em Minas, o projeto “Boulevard de Sabará” tenta virar realidade. Graças à PPP financiada pela AngloGold e a Arcelor Mittal, Sabará ganhou um projeto técnico e executivo final completo, capaz de recuperar totalmente a qualidade de suas águas, além de recolher e tratar seus esgotos, evitando que eles continuem caindo

RICHARDSON SILVA, JUNIA SIBELE, WILLIAN BORGES, ARGEMIRO RAMOS E HIRAM FIRMINO: SONHO MANTIDO

RevEco_Ago12_LAZER_R_OK_C.indd 2

no rio, e ainda transformar ambas as suas margens em “ramblas”, tal como existem em Barcelona e ao longo do Rio Sena, em Paris. O projeto, porém, continua engavetado na prefeitura. Nenhuma de suas sucessivas administrações desde então, conseguiu sensibilizar os governos federal e estadual, para financiarem ou apoiarem a sua implantação, incluindo o Projeto Manuelzão, leia-se a sua não inclusão na Meta 2014 em parceria com o governo do Estado. Sabará e Santa Luzia são os municípios que mais poluem o Rio das Velhas, dentro da Bacia Hidrográfica do Velho Chico. E o Rio Sabará é o mais fácil de ser despoluído. O município tem projeto, feito dentro das normas da Codevasf, o que a maioria dos municípios brasileiros não tem, por falta de estrutura e capacidade técnica-consultiva. Na administração Sérgio Freitas, a Copasa se propôs a custear e executar o projeto. Mas exigiu, em contrapartida, que o município

DIVULGAÇÃO

E agora, por conta própria e empenho criativo de seus funcionários, a prefeitura conseguiu fazer a fonte borbulhar novamente. Foi uma festa, estranhamente só com a presença de representantes da Vale, que também aderiram à parceria, na época, fornecendo as mudas plantadas em ambas as margens do rio. Na placa alusiva ao projeto original continua escrito, de Guimarães Rosa, “que perto de muita água tudo é feliz”. Foi isso, o papel educativo e inclusivo da praça reinaugurada que o atual prefeito Willian Borges destacou na solenidade: “Conseguimos recuperar a graciosidade da praça”. O Grupo Ecológico, através da Revista Ecológico, que idealizou e coordenou o projeto de despoluição e recuperação do Rio Sabará, financiado pelas empresas, para a prefeitura, resolveu “adotar” a conservação doravante da Praça do Barão, através do Programa “Sabará mais Verde”. A adoção começará a partir de setembro próximo, quando terão terminado os últimos retoques de iluminação, reforma dos canteiros e paisagismo. O editor da Ecológico, jornalista Hiram Firmino, foi quem trouxe de São Paulo para Belo Horizonte, quando assessor e depois secretário municipal de Meio Ambiente, a idéia do projeto “Adote o Verde”, hoje intitulado “Cidade Jardim”. Presente na solenidade, ele lembrou a importância de se dar exemplo e ser parceiro onde a questão ambiental primeiro acontece, que é no município: “A realização recente do Congresso Mundial de Governança local (Iclei) na capital mineira e a Rio +

ELOAH RODRIGUES

20 comprovaram isso. Até o final do século, 90% da população global estará vivendo em cidades. Em 2050, dos nove bilhões estimados, 6,7 bilhões de pessoas já terão se migrado do campo. Seremos cidadãos urbanos, e não mais rurais. O nosso viver será no concreto, no asfalto. E tornar nossas cidades sustentáveis, com um mínimo de natureza protegida, água pura e qualidade de vida, preservando os já poucos espaços públicos de verde e lazer, será fundamental”. Em vez de só cobrar das autoridades, os cidadãos, as empresas e instituições conscientes, incluindo os órgãos de imprensa, terão também de fazer a sua parte, declarou Hiram: “Ao invés de obrigação, é um dever de todos, notadamente de uma revista de ecologia como a nossa, ajudar a revitalizar e cuidar das águas, praças e jardins que nos restam. Que essas (Anglo, Arcelor e Vale) e outras empresas do município entrem neste mutirão. Sabará, que sempre lhes deu tanto ouro e minério, merece!” - exortou.

ECOLÓGICO /AGOSTO DE 2012 Q XX

20/07/2012 14:11:22


lhe passasse também a concessão do tratamento do esgoto, repassada depois à conta dos munícipes. Como era véspera de eleição, o prefeito não quis correr o risco de ficar impopular, por autorizar o aumento da conta de água. E nada fez, engavetou o projeto, apesar de toda a população estar ecologicamente consciente e mobilizada sobre a sua proposta ambiental e turística. A notícia boa agora, dada pelo prefeito Willian Borges, na reinauguração da Praça do Barão, é que a Câmara Municipal conseguiu aprovar, finalmente, passar ambos os serviços públicos para a Copasa, o que aumentará, em média, 40% o valor da conta de cada cidadão sabarense, para ter um rio limpo, com paisagismo e urbanismo de primeiro mundo, mais todo o seu esgoto recolhido e tratado, antes de voltar ao Velhas.

YAM MACIEL

1 LAZER

O EX-PREFEITO SÉRGIO FREITAS, A SECRETÁRIA MUNICIPAL DE MEIO AMBIENTE, JUNIA SIBELE, JÚLIO NERY (VALE), HÉLCIO GUERRA (ANGLOGOLD) E ROBSON ALMEIDA (ARCELOR): SONHO ANTIGO

A notícia ruim é que, ao longo de todas essas administrações, a prefeitura continuou pavimentando e fazendo obras nas margens do Rio Sabará, em desalinho à proposta conceitual do Boulevard. O que pode estar começando a mudar agora, com a entrada da Copasa no município fundado por Borba Gato. Pela primei-

ra vez, uma cidade ribeirinha do Rio das Velhas tem um projeto pronto e saneador como esse, capaz de limpar suas águas e fazer a população se apoderar do “rio da sua aldeia” como poetizava Fernando Pessoa. A graciosidade e a esperança parecem estar se namorando de novo, na Praça do Barão.

YAM MACIEL

A PRIMEIRA INAUGURAÇÃO, QUE DUROU SÓ UM DIA: ALEGRIA E FESTA DA CRIANÇADA

XX

Q ECOLÓGICO/AGOSTO DE 2012

RevEco_Ago12_LAZER_R_OK_C.indd 3

20/07/2012 14:11:28


BRANCO


AFP PHOTO-CHRISTOPHE SIMON

LEGADO DA

36

Q ECOLÓGICO/JUNHO DE 2012


DAFP PHOTO-VANDERLEI ALMEIDA

Lições+20 Esperança, urgência de mudanças, lições. Leia a seguir a opinião de quem esteve na Rio+20 e seguiu de perto os avanços e recuos da conferência mundial sobre o meio ambiente Vinícius Carvalho redacao@revistaecologico.com.br

N

a mesma semana em que os países ricos alegaram na Rio+20 falta de recursos para inviabilizar a criação de um fundo de US$ 30 bilhões para financiar o desenvolvimento sustentável no mundo, o FMI liberou mais de US$ 125 bilhões só para salvar os bancos espanhóis da crise financeira. Talvez seja o retrato mais simbólico do que foi a Rio+20: uma conferência cujo objetivo era discutir um novo marco civilizatório para o planeta, mas que viu os países mais ricos do mundo tentando resolver a crise a partir do mesmo arsenal que a criou. Talvez seja também o maior legado desta conferência: a lição de que a solução para os problemas do mundo certamente não virá de um consenso entre 200 chefes de estado metidos num centro de convenções. E não virá, entre outras coisas, porque o encaminhamento dos debates que precisamos realizar está simplesmente equivocado. Cultura em nenhum momento foi tema central para a Rio+20 oficial. E não foi porque o intangível, o imensurável e o imaterial – verdadeiros motores da experiência existencial humana – são basicamente descartados por um

modelo de civilização incapaz de abraçar os mistérios intrínsecos à vida como uma benção, e não como problema a ser resolvido. É o tipo de miragem que nos faz buscar verdades, não significados; resultados quantificáveis, não vivências. É como se aquilo que não pudesse chegar a um número validado por um programa de computador fosse algo menor, quando, na verdade, é aquilo que temos de mais precioso. Estamos abolindo a ética e a dimensão imaterial da reflexão sobre nosso estilo de vida. E a coleção de estatísticas apresentada na Rio+20 pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) é um bom sinal desta armadilha matemática. US$ 1,3 trilhão ao ano para “tornar verdes os dez setores estratégicos da economia”? 0,03% do PIB mundial para “aumentar em 20% o valor adicionado da indústria florestal”? É mesmo desse tipo de decisão que precisamos? Ou dito de outro modo: é “apenas” deste tipo de decisão que precisamos? Não são alguns bilhões de dólares pra cá e outros pra lá que resolverão nossos problemas, embora seja realmente impera-

ECOLÓGICO/AGOSTO DE 2012 Q XX


LEGADO DA

"Cultura, por exemplo, em nenhum momento foi tema central para a Rio+20 oficial." servada só pelos remédios que gera, assim como uma árvore não deve ficar em pé simplesmente pelo carbono que é capaz de estocar. Merecem estar aí pelo simples fato de serem o que são: seres portadores de vida. O mundo é de todos nós, seres humanos inclusive. Se fizermos o que sempre fizemos, vamos continuar a obter o que sempre obtivemos. E sejamos francos. Durante a Rio+20, países ricos e em desenvolviMARCELLO CASAL JR/AGÊNCIA BRASIL

tivo inverter a conta que devasta o planeta para o lucro de poucos à custa de tantos. “Economia verde” não pode ser o tema principal de uma conferência desta natureza, sobretudo quando a base do argumento é a de que o caminho em direção à sustentabilidade serve para aumentar a competitividade da economia. Nosso principal desafio contemporâneo é justamente o oposto: colocar a cooperação no centro do empreendimento humano. O que realmente precisamos discutir a fundo são coisas como ética nos relacionamentos, o primado do afeto e a possibilidade real de uma experiência espiritual não necessariamente religiosa com o mundo. Uma planta não deve ser pre-

XX

Q ECOLÓGICO/AGOSTO DE 2012

mento negligenciaram o debate cultural para voltar a defender a retomada do crescimento econômico a partir de uma renovada expansão do consumo, sustentada por tecnologias inovadoras de mitigação das mudanças climáticas. É a versão mais do mesmo, e se fia no argumento de que a tecnologia e o engenho humano serão capazes de resolver nossos problemas sem necessidade de alteração estrutural no motor que move o sistema: a expansão contínua dos bens de produção e consumo, e não dos serviços essenciais de que carece a maior parte da população mundial. O bom senso, por outro lado, demonstra que o sistema cairá pela impossibilidade material desta mesma reprodução. Afinal, a capacidade de reposição ecológica do planeta está no limite num momento em que bilhões de pessoas sequer acessaram a classe mundial de consumo. E como este promete ser o século dos países em desenvolvimento e de toda essa gente que estava aí excluída dos “benefícios” da globalização, resta tomar a sério a questão imediata do porvir: se o objetivo propagado destes países ainda é assegurar a seus cidadãos as mesmas condições de vida que há nos países ricos, e se é sabido de antemão que isso é materialmente impossível, como a humanidade resolverá seu dilema de perpetuar-se garantindo oportunidades e condições de vida digna para todos, com respeito ao gigantesco patrimônio cultural e ambiental do planeta? Não é uma porcentagem do PIB mundial que vai resolver isso. Talvez um dia, oxalá, consigamos colocar estas questões – e não cifras – no centro das discussões sobre o futuro que realmente queremos. PROTESTO CONTRA A MERCANTILIZAÇÃO DA VIDA


MARCELLO CASAL JR/AGÊNCIA BRASIL

a

“A população quer escolher e não apenas comprar mais e mais”

O PODER DA INFORMAÇÃO Pesquisa revelou que 74% da população carioca conhecia os objetivos da Rio+20

Q

uem soube o que foi a Rio+20? Segundo levantamento inédito do movimento Rio Como Vamos (RCV), feito com o apoio da The Climate Works e executado pela M.Sense Pesquisa, 74% da população do município do Rio souberam. E mais: essa parcela de cariocas entendeu que os temas discutidos nas conferências tinham relação direta com o cotidiano de todos e, principalmente, com a qualidade de vida de gerações futuras. Segundo análise do RCV, o resultado da pesquisa evidencia o nível de informação e de consciência da população. Além disso, pode representar uma ponte importante para diminuir a distância entre o cotidiano dos cidadãos e os discursos oficiais de governos e empresas. O RCV destaca ainda, a percepção da população sobre o consumo: um em cada cinco habitantes do Rio tende a optar pela quali-

dade. No momento da compra está disposto a pagar mais por produtos menos nocivos ao meio ambiente. Isso vale para equipamentos eletroeletrônicos e material de limpeza, por exemplo. Mas o tema alimentação é o que mais preocupa o carioca: 26% dos entrevistados pagariam o necessário e 32% um pouco mais que a média por um produto sustentável. Muitos (64%) optariam por uma alimentação de melhor qualidade se tivessem mais dinheiro. Ou seja, a população quer escolher e não apenas comprar mais e mais. Entre os temas apontados pela população como os que mais contribuíram para melhorar o bem -estar coletivo, a saúde ficou em primeiro lugar (91%) seguida pela educação (89%), segurança (81%) e proteção ao meio ambiente (63%). Este último item superou áreas como saneamento básico, trabalho

e política de inclusão de portadores de necessidades especiais. As soluções propostas para melhorar o problema do lixo na cidade foram reveladoras: segundo a pesquisa, a população conhece e quer programas de incentivo à reciclagem (58%) e coleta seletiva (46%). Sobre o tema educação,a população do Rio deixou claro o que deseja para gerações futuras. Os entrevistados querem, por exemplo, inovação no currículo das escolas. Das várias opções fornecidas para a inclusão de novos temas em salas de aula, além das matérias tradicionais (português, matemática, geografia, história),foram ressaltados “ética e valores sociais”(71%) e cuidados com o meio ambiente (70%). Publicado no jornal O Globo PARA SABER MAIS: www.riocomovamos.org.br

ECOLÓGICO /AGOSTO DE 2012 Q XX


BRENO PATARO

FOTOS MARCELLO CASAL JR/AGÊNCIA BRASIL

LEGADO DA

NOSSO ÚNICO CAMINHO É ENVOLVER A SOCIEDADE CIVIL E GOVERNOS; LÍDERES POLÍTICOS, EMPRESARIAIS E AMBIENTALISTAS; CIENTISTAS E PAJÉS

ESPAÇO PARA O OTIMISMO Virgilio Viana (*) redacao@revistaecologico.com.br

XX

Q ECOLÓGICO/AGOSTO DE 2012

sido colocado no texto, teria sido aprovado? Diante dessa incerteza, a diplomacia brasileira optou por um texto que, a rigor, atende a um dos principais objetivos da conferência: renovar o compromisso dos países quanto à sustentabilidade, no âmbito do multilateralismo. Todos os países fizeram declarações alinhadas com o documento e o assinaram. A crítica das lideranças não governamentais ao documento oficial, ARQUIVO FAS

A

Rio+20 pode ser dividida em duas. De um lado, a negociação oficial e o texto produzido no Riocentro. De outro, os mais de três mil eventos que ocorreram durante os dez dias da Conferência. Um balanço equilibrado da Rio+20 tem que avaliar ambos. O texto aprovado pelos países presentes é o suficiente para enfrentar a séria crise de sustentabilidade ecológica, pobreza e desigualdade social? Não. Entretanto, o texto merece ser lido e analisado cuidadosamente. Trata-se de um grande esforço, liderado pela diplomacia brasileira, de renovar os compromissos dos países em caminhar rumo à sustentabilidade. Os princípios defendidos e a abrangência do texto são bons. Falta o que se chama de “ambição”: metas mais claras e compromissos específicos. A pergunta é: se isso houvesse

por outro lado, tem plena justificativa. A ciência nos mostra que o planeta já está no seu limite de sustentação ecológica e, em alguns casos, já ultrapassou esse limite. Estamos caminhando perigosamente para a ruptura de ecossistemas e ciclos ecológicos essenciais para manter a vida humana. É necessária uma mudança radical no nosso estilo de desenvolvimento, rumo a uma economia verde, com mais eficiência no uso de recursos naturais, menos consumo de energia, menos emissão de carbono e menor pegada ecológica. Tudo isso combinado com a necessidade imperiosa de erradicar a pobreza extrema e promover maior equidade social A pergunta que deve ser feita é: a expectativa criada em relação à Rio+20 e outros processos da ONU é razoável? Creio que não. Existe VIANA: “CABE À ECONOMIA PRIVADA FAZER AS MUDANÇAS”


uma expectativa que não é realista diante do sistema de tomada de decisões multilaterais, baseado no consenso. É muito difícil a construção de consensos num mundo marcado por circunstâncias locais muito contrastantes diante das mudanças climáticas (exemplo: ilhas oceânicas x países árabes produtores de petróleo), ou diante de questões geopolíticas (exemplo: EUA x Irã). Assim, é quase impossível obter acordos que contenham metas ambiciosas, compromissos financeiros significativos etc. Se não é possível esperar metas rígidas e compromissos legalmente vinculantes dos processos da ONU, como enfrentar a urgência das mudanças necessárias rumo à sustentabilidade e à economia verde? A resposta está dividida em dois segmentos: governamentais e não governamentais. No âmbito governamental, caberá aos governos nacionais e subnacionais (estados, municípios) definir políticas de incentivo à economia verde e desincentivo à “velha economia” (poluidora, degradadora e injusta). No âmbito não governamental, caberá a empresas e ONGs fazer ações práticas. Mais de 75% da economia global é privada. Portanto, cabe aos agentes privados fazer acontecer as mudanças necessárias. A boa noticia é que há muitas novidades no campo não governamental. As empresas incorporam cada vez mais políticas e práticas coerentes com os conceitos de sustentabilidade. É razoável dizer que a Rio+20 marcou o fim da fase de maquiagem verde. Um número cada vez maior de empresas incorporou especialistas em sustentabilidade nos seus conselhos de administração e diretorias. Não se trata de modismo: é uma tendência que veio para ficar. Também existem boas noticias no campo do terceiro setor. Existe uma

AGENCIA BRASIL

“A Rio+20 marcou o fim da fase de maquiagem verde. Não se trata mais de modismo: é uma tendência que veio para ficar”

O DIÁLOGO QUE PRECISA SER CONSTRUÍDO ENTRE OS POVOS

tendência de profissionalização das ONGs, que passam a serem cobradas por resultados, aferidos por indicadores sólidos e verificados por auditorias e certificação independente. Não basta apenas trabalhar por uma causa nobre. É cada vez mais necessário comprovar os impactos e resultados alcançados. A DÚVIDA PRINCIPAL As mudanças estão ocorrendo na escala e velocidade necessárias? Infelizmente não. A gravidade das crises ecológica e social exige que as mudanças sejam profundas e rápidas. Infelizmente o quadro atual não estimula o otimismo. Ao contrário: dos 34 objetivos e metas analisados pelo relatório GEO-5 do PNUMA, apenas três tiveram progresso dentro do esperado. 13 tiveram melhorias em nível inferior ao necessário e 18 tiveram piora. O quadro é preocupante. Apesar dos avanços das empresas, ONGs e governos nacionais e subnacionais, a velocidade e a magnitude das mudanças ainda está muito abaixo do necessário. Entretanto, não devem passar despercebidos os 692 compromissos, totalizando cerca de 513 bilhões de dólares que constam do anexo da declaração da Rio+20. Isso é significativo!

A questão central é: como aumentar a velocidade e escala das mudanças rumo à sustentabilidade? É necessário um plano que envolva e inclua todos, sem exceção. São ações estratégicas nas áreas da Educação e Sensibilização porque empresas e governos só mudarão suas políticas e estratégias se forem pressionados por consumidores e eleitores. Na da Capacidade de Implementação porque modelos de gestão inovadores e lideranças empreendedoras são essenciais. Na de Recursos, devem ser criados: mecanismos para incentivar inovações; e incentivos fiscais para empreendimentos verdes; e taxas crescentes para empreendimentos poluidores. E ainda as estratégias das Métricas e Indicadores e do Diálogo e Avaliação Coletiva da nossa trajetória rumo à sustentabilidade. Elas são básicas para conciliar as aspirações das gerações atuais com os direitos das gerações futuras. Essas cinco estratégias não representam uma lista exaustiva, mas são pilares essenciais. Não há chance de, nos dias de hoje, uma assembleia da ONU tomar uma decisão revolucionária para os desafios da sustentabilidade. Infelizmente. Nosso único caminho é um movimento que envolva toda a sociedade civil e governos; líderes políticos, empresariais e ambientalistas; cientistas e pajés. Só isso criará as bases para uma mudança de políticas, públicas e privadas; individuais e coletivas. Quando todos estiverem convencidos de que temos soluções verdes viáveis e atraentes para todos haverá espaço para otimismo. (*) Ph.D. por Harvard; ex-secretário de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas e atual superintendente geral da Fundação Amazonas Sustentável (FAS)

ECOLÓGICO /AGOSTO DE 2012 Q XX


RIO ZERO A ZERO José Claudio Junqueira (*) redacao@revistaecologico.com.br

A

última reunião da Organização das Nações Unidas realizada na cidade do Rio de Janeiro, tendo como tema central a economia verde e a erradicação da pobreza, foi alcunhada de Rio+20, em referência à reunião, também da ONU, em 1992, quando o termo desenvolvimento sustentável foi consagrado universalmente, como um mantra a ser seguido por todos. Após a Segunda Guerra Mundial, o chamado mundo desenvolvido, notadamente os países do hemisfério norte, conheceram um crescimento espantoso na economia. Para isso criaram o Grande Deal, o Plano Marshall, o conhecimento científico e desenvolvimento tecnológico acumulado nos duros anos da guerra, mas também a exploração dos recursos naturais daqueles abaixo da Linha do Equador. As perdas dos processos de produção, nas formas de emissões atmosféricas, efluentes líquidos e resíduos sólidos, foram consideradas externalidades pelas ciências econômicas. Traduzindo: seriam questões externas ao sistema de produção, deixando para o meio ambiente – o ar, as águas, o solo e a biota – a responsabilidade de internalizar. Quando, na década de 1950, ocorreram eventos significativos como a morte de

XX

Q ECOLÓGICO/AGOSTO DE 2012

JUNQUEIRA: “JÁ FOMOS CHAMADOS DE OBSTÁCULOS DO PROGRESSO”

cerca de quatro mil pessoas em Londres, em apenas uma semana, devido à poluição atmosférica; e, no Japão, uma aldeia de pescadores foi dizimada pela contaminação das águas da Baía de Minamata, os donos do progresso do pós-guerra começaram a sentir os efeitos colaterais do modelo econômico escolhido. Na década de 1960, Rachel Carson surpreendeu os Estados Unidos e o mundo com seu livro “A Primavera Silenciosa”, onde denunciou a contaminação do solo e dos alimentos, o desaparecimento da fauna e os danos à saúde pelos efeitos, inclusive cancerígenos, dos agrotóxicos. Literalmente, a salvação da lavoura foi colocada em xeque. Os limites Essas e outras levaram a variável ambiental entrar na pauta de preocupações dos senhores do desenvolvimento. Aconteceu no final da década de 1960. A reunião ficou conhecida como Clube de Roma, quando governantes e empresários decidiram contratar o prestigioso Massachusetts Institute of Technology (MIT) para análise da situação. O documento final foi intitulado “Os Limites do Crescimento”. Aí começava a “cair a ficha” que os recursos naturais são limitados e que não havia para todos, na taxa elevada e crescente de consumo dos países ricos. ARQUIVO PESSOAL

ALEXANDRE MACIEIRA-RIOTUR

LEGADO DA


KUMARNM

"Para os críticos, a reunião deveria ser conhecida como Rio-20"

Para sua reunião anual em 1972, ocorrida em Estocolmo, Suécia, a ONU elegeu o meio ambiente como seu tema central. Daí para sua inclusão na pauta dos países membros foi um pulo. Entretanto, isso não significou que a questão sendo tratada com a seriedade que exige. Primeiramente, meio ambiente foi visto como certo modismo romântico no Brasil da ditadura, foi taxado de ideológico, e jocosamente comparado a melancias: verdes por fora e “vermelhos” por dentro. Mais tarde, como radicais obstáculos do progresso, os ecochatos. A Eco’92 deu nova dimensão à questão ambiental. O Relatório Brundtland, intitulado “ O Nosso Futuro Comum” mostrou a necessidade de integrar as variáveis ambiental, econômica e social para um desenvolvimento sustentável, baseado na solidariedade dos povos nas atuais gerações e nas futuras. Foi aprovada a Agenda 21, para que neste século pudéssemos redirecionar os rumos da economia, com mais justiça

“Os ambientalistas já foram comparados a melancias: verdes por fora e 'vermelhos' por dentro” social e respeito ao ambiente. Em 2002, na chamada Rio + 10, em Johanesburgo, África do Sul, os governantes que deveriam fazer um balanço dos compromissos assumidos na Eco 92, mostraram mais discurso do que ações. Rascunho Zero Para a Rio+20, inicialmente houve muita expectativa. Depois, frustração com o anúncio da ausência dos principais líderes mundiais. A proposta de transformar o Programa das Nações Unidas para Meio Ambiente - PNUMA em agência ambiental internacional foi abortada. Objetivos e metas, nem pensar. O Rascunho Zero, documento inicial, após discussões intermináveis noite adentro, deu origem ao documento final, em que mais de

uma centena de parágrafos não vão além dos “reafirma, assegura, etc.” Os otimistas exaltaram a oportunidade de troca de ideias nos eventos paralelos. A Cúpula dos Povos, no Aterro do Flamengo, proporcionou ao terceiro setor e à sociedade exprimir o desejo uníssono de mudanças, que os senhores do desenvolvimento teimam em não ouvir. Para muitos, a indústria roubou a cena com a magnífica exposição Humanidade e os seminários de alto nível técnico no Forte de Copacabana. Para os críticos, a reunião deveria ser conhecida como Rio – 20. Houve muita conversa e nada de concreto para mudar os rumos do Planeta, cada vez mais insustentável. O Ministro Patriota declarou que o grande ganho foi não retroceder. Fui, vi e me convenci. Cheguei à conclusão que houve empate: Rio Zero a Zero. (*) Doutor em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos. Professor da Universidade FUMEC e da Faculdade Dom Helder, ex-presidente da Feam

ECOLÓGICO /AGOSTO DE 2012 Q XX


LEGADO DA

FOTOS AGÊNCIA VALE

A MINERAÇÃO + SOCIAL Vania Somavilla (*) redacao@revistaecologico.com.br

N

a Rio+20, a exemplo dos países ricos, o mundo quase todo ali representado fez a sua opção clara de crescer. Não mais crescer a qualquer custo, mas construindo um diálogo com a sociedade, compartilhando valor e deixando um legado sustentável. Minimizando e compensando, em muito maior grau, os impactos socioambientais. No setor da mineração moderna e responsável, os impactos positivos já superam os negativos. Essa foi a contribuição que mostramos. Nossa atividade não é bonita visualmente. Nós sabemos disso. Como também sabemos que a maior poluição que continua nos desafiando globalmente, como empresas, governos e sociedade, é a poluição humana, a miséria absoluta. Neste cenário, o setor de recursos naturais e o de mineração, particularmente, têm um papel fundamental. Lidamos com grandes volumes de terra e com o dia a dia das pessoas. Portanto, somos forçados a estar à frente destas questões críticas da sociedade, mais até que o setor de petróleo, cada vez mais em alto-mar. Se trabalharmos nesta visão que foi consolidada na Rio+20, podemos deixar um importante legado para as atuais e próximas gerações. Isso passa pela ideia maior de compartilharmos os desafios e resultados que nos são inerentes, como também à toda sociedade e o meio ambiente à nossa volta. LICENÇA SOCIAL A mineração atual só acontece se os diversos atores sociais fizerem parte deste compartilhamento e discus-

XX

Q ECOLÓGICO/AGOSTO DE 2012

DESAFIO: MINERAR E PRESERVAR O MEIO AMBIENTE

são, se pudermos deixar um legado positivo onde atuamos. Mais que a licença ambiental, oficial, que é necessária e nos legaliza, o que buscamos é a sua legitimidade também por parte da sociedade. Todas estas mudanças, esforços e desafios difundidos pela Rio+20, e eu participei de seus vários e distintos fóruns, fazem parte de um contexto histórico. Estamos aprendendo e evoluindo juntos com as governanças locais e a sociedade organizada e consciente. Eu sou otimista. Sou a favor da transparência para fazer

estes acordos, onde todos ganham. Isso já trouxe muitos avanços. O mundo hoje é muito melhor. Em Minas, onde a Vale nasceu há 70 anos, uma pesquisa recente feita pela Fundação João Pinheiro mostrou que, das 10 cidades com maiores índices de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM), sete delas têm na mineração o seu principal indutor socioeconômico. Nosso desafio é deixarmos no planeta mais do que retiramos. E isso, minerar e preservar nessa ordem, já acontece. Em uma área de 400 mil hectares de florestas que preservamos em Carajás, no Pará, a mineração acontece pontualmente em apenas 3% dela. Nesta ótica, a atividade econômica se faz necessária como instrumento de preservação, e não mais o contrário. (*) Diretora-executiva de Recursos Humanos, Saúde e Segurança, Sustentabilidade e Energia da Vale

SOMAVILLA: “A MAIOR POLUIÇÃO É A POLUIÇÃO HUMANA, A MISÉRIA ABSOLUTA”



ANDREAS KRAPPWEIS

LEGADO DA

SUSTENTABILIDADE OU SOBREVIVÊNCIA? Márcia Vieira(*) redacao@revistaecologico.com.br

XX

Q ECOLÓGICO/AGOSTO DE 2012

plantas, animais, rios como se estivessem separados de nós, como se fosse apenas uma obrigação ambiental. Será? Corte as árvores e não terá sombra, ar puro... Polua os rios e comerá peixes contaminados. Polua o ar e terá STEWART PRICE

N

osso tempo traz, por necessidade, evolução ou inquietação, algumas reflexões sobre como estamos vivendo na Terra, como nossa civilização optou por marcar esta etapa da vida no planeta. Vivemos uma transição marcada por aprendizados e frustrações. Fim de um ciclo e começo de outro com dúvidas naturais. O que vamos levar das experiências desta era e quais novas escolhas faremos? Até aqui, nossa ilusão de separação dos seres trouxe um desencadear de escolhas feitas de causa e “inconsequência”. Falamos em cuidar do planeta,

problemas em sua saúde. Talvez se o termo sustentabilidade fosse substituído por sobrevivência levaríamos mais a sério. Imagine a diferença! Já leu o material sobre sobrevivência? Como estão as medidas de sobrevivência em sua casa e empresa? Sustentabilidade não é opção, inovação, causa ou moda… é garantia da vida. Já teorizamos demais, diagnosticamos o suficiente. A vida na Terra aguarda ações individuais e coletivas agora. Consciência ambiental é a consciência do que estamos fazendo aqui, quem somos, como cuidamos de nós mesmos e o que

MÁRCIA: “NOSSAS VIDAS SÃO ESCOLHAS E CONSEQUÊNCIAS”


“Pense em Você+20, Seu Filho+20, Sua Empresa+20, Sua Cidade+20...”

deixaremos aos filhos dos nossos filhos. Cresci no interior quando não havia sacolas plásticas; os pães eram embalados sem papel; o leite em garrafas retornáveis; as sobras orgânicas alimentavam animais domésticos ou se tornavam adubo; das folhas e cascas eram feitos chás; os doentes eram tratados com ervas medicinais e somente quando inevitável eram comprados remédios; todos os meus vizinhos tinham hortas; os carros eram usados apenas para longas viagens; caminhávamos; havia tempo para trabalhar, brincar,estudar e conviver com as pessoas amadas; não me recordo dos termos stress,síndrome do pânico e outros. Em 30 anos evoluímos em muitos aspectos, porém,deslumbrados como acesso ao consumo,não percebemos o acúmulo

"Corte as árvores e não terá sombra, ar puro... Polua os rios e comerá peixes contaminados" de danos causados. As “facilidades” da vida moderna trouxeram prós e contras. Agora vamos separar o joio do trigo, fazer as escolhas para os próximos 10,20,30 anos.Tempo de decidir o que permanece e o que vamos reinventar. Não precisamos esperar as grandes reuniões de cúpula. Pense em Você+20, Seu Filho+20, Sua Empresa+20, Sua Cidade+20... O hoje é fruto do ontem… Amanhã será fruto do agora. Nossa vida, indivi-

dual e coletiva, é “sustentada” por escolhas. Todas trazem sequências…consequências ou inconsequências. Como trato os efeitos das pressões da vida moderna em meu corpo, em meu pensamento? Como cuido dos meus templos sagrados: minha casa, meu corpo, minha mente, minhas emoções, meu espírito? Cada ação, palavra, sentimento emanam reflexos no mundo externo, um desencadear de efeitos capaz de impactar indefinidamente pessoas, lugares, vidas. Estamos todos interconectados em uma teia de “múltiplas escolhas”. E sustentabilidade é a nossa capacidade de sustentar as escolhas fundamentadas no amor à vida.

(*) Administradora / marcia@mvibank.com.br


LEGADO DA

“SENTIMENTO MAIS VERDE” Luciana Morais redacao@revistaecologico.com.br

H

MAGALHÃES: “FOI A CONFERÊNCIA DA ESPERANÇA”

ora de mudar o tom do discurso e centrar esforços na solução dos problemas s a partir da erradicação de suas causas. Essa é também a visão do secretário de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Minas, Adriano Magalhães, que faz um balanço da participação de Minas na Rio+20. Ele destaca avanços ocorridos no Brasil e no mundo desde a Rio/92.Reafirma que o momento atual é de ação e anuncia um plano estratégico para desarticular a chamada ‘máfia do carvão vegetal’, desafio secular a ser superado. Minas ainda é o estado brasileiro campeão em desmatamento da Mata Atlântica. Tranquilo e determinado, Adriano reconhece que é essencial acelerar as ações de controle e destinar mais recursos a programas como o Bolsa Verde, que recompensa produtores rurais e posseiros que conservam suas florestas de pé: “Sem pagamento por serviços ambientais e a inclusão sócio-produtiva das comunidades locais não teremos sucesso no combate ao desmatamento”.


“Não adianta a imposição dos governos ou instituições. Todos têm de fazer a sua parte.”

Como foi a participação de Minas na Rio+20? Que contribuições, impressões e aprendizados ficaram? ● Minas se preparou. Enviamos uma equipe de 45 pessoas , incluindo seis secretários de Estado e servidores de diferentes pastas. O estande do governo mineiro foi um dos mais visitados. Durante cinco dias, tivemos participação direta em diversos fóruns e painéis de debates. Entre eles, o de Secretários Estaduais de Meio Ambiente, no qual apresentamos as ‘Cartas do Cerrado e da Caatinga’, com diretrizes e prioridades para conservação desses importantes biomas, alertando inclusive para a necessidade de estabelecermos legislação mais rigorosa para protegê-los. Elaboramos um documento contendo 57 iniciativas já adotadas e em implantação pelo governo estadual, distribuídas em 17 projetos estruturantes, todos elas alinhadas aos dois pilares centrais da Rio+20: a erradicação da pobreza e a economia verde. Além da experiência adquirida durante os debates, assinamos um acordo de cooperação técnica com a Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD), envolvendo investimentos de 100 mil euros em parcerias e estudos nas áreas de mobilidade urbana, proteção de florestas, gestão de resíduos sólidos e, principalmente, recuperação de áreas degradadas pela mineração. A França tem elevado know-how nesse assunto e várias iniciativas de sucesso na recuperação de passivos ambientais, pilhas de rejeito de minério. Muito do nosso modelo de licenciamento, fiscalização e normatização ambiental é inspirado na experiência francesa.

Algo o surpreendeu ou decepcionou? ● Em um dos últimos painéis de que participei, com ministros de Meio Ambiente e integrantes de vários países, sobre a proteção de florestas, o nível da discussão deixou um pouco a desejar. Em especial depois do contratempo envolvendo a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, que acabou se ‘indispondo’ com manifestantes contrários à construção da Usina de Belo Monte. Mas tudo serviu para a reflexão. Principalmente para nós, que trabalhamos em órgãos ambientais e sentimos na pele as dificuldades de assegurar a proteção ambiental em um país com as dimensões do Brasil. E, claro, num estado territorial, como Minas, com seus 853 municípios. Minas é um ‘resumo’ do Brasil. Essa experiência mostrou, mais uma vez, a importância de nos mantermos serenos e centrados, buscando sempre, o caminho do meio que permita equilibrar desenvolvimento econômico com inclusão social e a conservação dos nossos recursos naturais, que não são ilimitados. Como homem público, morador de BH e cidadão de Aiuruoca, que sentimento ficou da conferência? ● Esperança. E a certeza de que a construção de soluções para um mundo mais sustentável passa necessariamente pelo diálogo. Só é possível ter melhorias e avanços por meio de soluções compartilhadas, coletivas e com foco cada vez mais local. Não adianta a imposição dos governos, de setores ou instituições. Todos têm de fazer a sua parte. Os desafios a serem superados são muitos, inclusive no que se

refere ao termo economia verde, ainda muito subjetivo. Prefiro falar em economia de baixo carbono. Isto permite a discussão e análise de metas concretas e mensuráveis, definindo, por exemplo, o nível de qualidade do ar e da água que queremos para uma determinada cidade ou região. Considero esse ponto uma das frustrações da Rio+20. Por quê? ● A expectativa era de que sairíamos de lá com uma definição mais clara sobre o conceito de economia verde e sua aplicação efetiva. Por outro lado, a presença de delegações de 188 países mostra a importância que o tema sustentabilidade tem para o mundo, indica o quanto evoluímos. Desde a Eco’92, mais de 100 países incluíram a gestão ambiental em suas Constituições.E tivemos vários desdobramentos positivos, entre eles, a criação do Protocolo de Kyoto e o estabelecimento das Agendas 21 locais. Agora, na Rio+20, ficou claro que a palavra de ordem é ação. Este é o momento de revermos conceitos e, acima de tudo, de mudar o tom e o foco das discussões, centrando nossos esforços na solução dos problemas ambientais a partir da erradicação de suas causas. E isso envolve, a meu ver, centrar foco em seis itens essenciais já contemplados na pauta de políticas públicas e na agenda da gestão ambiental em Minas: proteção de florestas, gestão de recursos hídricos, gestão de resíduos sólidos urbanos, melhoria do saneamento, recuperação de solos degradados e controle da qualidade do ar. CONTINUA NA PRÓXIMA EDIÇÃO “MINAS +20”, ESPECIAL SOBRE A REALIDADE E OS DESAFIOS DO ESTADO DIANTE DA MÁFIA DO CARVÃO

ECOLÓGICO /AGOSTO DE 2012 Q XX


1 ESTANDES DA RIO +20

A ESPERANÇA NAS MARCAS

C

VISTA GERAL DA PRAÇA CENTRAL DO PARQUE DOS ATLETAS DECORADA COM ÁRVORES DE FIBRAS NATURAIS

FERNANDA BUSTAMANTE

om seus estandes politicamente corretos, várias marcas e instituições estiveram presentes e deram seus recados na maior conferência ambiental do século. Além de participar da Cúpula da Terra, no Aterro do Flamengo, com um estande sobre o Projeto Estação Viçosa + 20, o publicitário Paulo Bustamante teve um dia de observação solo no Riocentro, onde estava concentrada a maior quantidade de marcas e instituições. Logo após o evento, quando não havia mais ninguém, nem autoridades ou visitantes, e o sol voltou a brilhar, ele revisitou o local. E fotografou as principais instalações alusivas à Rio + 20. Confira!

ESTANDE DO GOVERNO DE MINAS: APRESENTAÇÃO DOS PROGRAMAS Q ECOLÓGICO/AGOSTO XX COM AMBIENTAIS DESTAQUE PARA DE 2012 O AMBIENTAÇÃO E O HIDROEX RevEco_Ago12_STANDS_OK_R_C.indd 1

O INCENTIVO ÀS COOPERATIVAS DE CATADORES APOIADAS PELA ONG “DOE SEU LIXO” DA ATRIZ ISABEL FILARDIS, FOI UM DOS PROJETOS SOCIAIS MOSTRADOS PELA COCA-COLA

O GOVERNO DA ITÁLIA MESCLOU TECNOLOGIA (FIBRAS NATURAIS) E SIMPLICIDADE (PAPELÃO) EM SEU BELO ESTANDE.

20/07/2012 13:32:39


ENTRADA PRINCIPAL DO PARQUE DOS ATLETAS, EM FRENTE AO RIOCENTRO, ONDE FICARAM INSTALADOS OS ESTANDES FOTOS PAULO BUSTAMANTE

A BRASKEM DEMONSTROU A MONTAGEM DE UMA USINA PARA PRODUÇÃO DA “MADEIRA PLÁSTICA” A PARTIR DA RECICLAGEM DE EMBALAGENS

UM DOS DESTAQUES FOI O ESTANDE DO GOVERNO DO RIO DE JANEIRO, MONTADO COM MADEIRA DE PALETES E CAIXOTES

A PETROBRAS DEMONSTROU SUAS PRINCIPAIS AÇÕES AMBIENTAIS, COMO O PATROCÍNIO AOS PROJETOS TAMAR, CORAL VIVO E GOLFINHO-ROTADOR

RevEco_Ago12_STANDS_OK_R_C.indd 2

PROJETO “THINK BLUE” DA VOLKSWAGEN: AÇÕES SOCIOAMBIENTAIS QUE INCLUI A RECICLAGEM DE RESÍDUOS INDUSTRIAIS

A FOZ DO BRASIL, DO GRUPO ODEBRECHT FOI EMBLEMÁTICA: OFERECEU ÁGUA GELADA ECOLÓGICO/AGOSTO DE 2012 Q XX PARA OS VISITANTES DO RIOCENTRO.

20/07/2012 13:33:08


1C I D A D E S

SUSTENTÁVEIS

Justas e sustentáveis Programa levará aos candidatos das eleições, soluções sustentáveis de gestão urbana de mais de 60 cidades do mundo Vinícius Carvalho redacao@revistaecologico.com.br

C

erca de 3,5 bilhões de pessoas vivem hoje em centros urbanos, contra 2,4 bilhões à época da Eco 92. É um crescimento vertiginoso, segundo dados da ONU. O aumento no número de habitantes das cidades, nestes últimos 20 anos, equivale a nada menos que 110 cidades de Paris ou algo como 32 vezes a população de Tokyo, maior megalópole do mundo com 37 milhões de pessoas. Como, então, levar a pauta da

XX

Q ECOLÓGICO/AGOSTO DE 2012

sustentabilidade para cidades que crescem tão rapidamente? Encabeçado pela Rede Nossa São Paulo, Instituto Ethos e Rede Social Brasileira por Cidades Justas e Sustentáveis, um grupo de organizações da sociedade civil, empresas e governos adotou sua estratégia: aproveitar as eleições municipais deste ano para apresentar, aos candidatos, experiências inovadoras e exemplares de gestão urbana e sustentável de mais de 60 cidades

do mundo. A ação faz parte do Programa Cidades Sustentáveis, que também apresenta um conjunto de indicadores de gestão urbana a ser perseguido pelos próximos gestores municipais. “São boas práticas de vários países em cultura de paz, manejo sustentável da água, coleta seletiva de lixo, redução da poluição do ar, implantação de ciclovias e priorização do transporte público que queremos levar aos candidatos e candi-


datas nestas eleições”, explica o coordenador da Rede Social Brasileira por Cidades Justas e Sustentáveis, Maurício Broinizi. O relógio, diz, está correndo. Apesar de abrigarem pouco mais da metade da população mundial, as cidades consomem hoje 75% de toda a energia e respondem por 80% das emissões globais de carbono. “Podemos nos inspirar no que deu certo adaptando estas práticas para nossas condições locais”, diz Broinizi. Entre outras ações, o Programa Cidades Sustentáveis oferece uma relação de casos exemplares para a melhora integrada dos indicadores das cidades. Entre elas, a experiência de Copenhage, na Dinamarca, onde 55% da população já vai para o trabalho de bicicleta. Ou a experiência de Los Angeles, nos Estados Unidos, que levou à redução de 62% dos resíduos depositados nos aterros da cidade, com a meta de ampliar este número

“Podemos nos inspirar no que deu certo adaptando estas práticas apra nossas condições locais” MAURÍCIO BROINIZI

para 89% até 2015. Para assegurar o avanço, o programa prevê a mobilização de candidatos a cargos executivos para que confirmem seu engajamento assinando uma carta compromisso. Nela, os signatários eleitos deverão estar dispostos a promover a Plataforma Cidades Sustentáveis em suas cidades e a prestar contas das ações desenvolvidas e dos avanços alcançados por meio de relatórios mensais. “Hoje somos 5.565 municípios.

Destes, mais de 4.700 tem menos de 50 mil habitantes. São cidades que também podem começar a se organizar de forma inteligente, promovendo alianças estratégicas e complementando dinâmicas políticas verdadeiramente transformadoras. Temos uma grande oportunidade”, diz o professor e consultor das Nações Unidas Ladislau Dowbor. Também participaram do lançamento do programa, realizado em Brasília, representantes dos Movimentos Nossa Betim/Nossa BH, Nossa São Luís, Nossa Belém, Nossa Campo Grande, Nossa Recife, Nossa São Paulo e Nossa Brasília. “O que marca esses movimentos é uma participação ativa e colaborativa para a gestão urbana. Qualquer que seja o grupo político, estamos dispostos a discutir uma visão de futuro para a cidade”, afirma o jornalista e coordenador do Movimento Nossa Betim, Luiz Guilherme.

Sustentabilidade na prática Londres 2.012 hortas até 2012 Esta iniciativa de alimentação sustentável, batizada Capital Growth, tem encorajado os londrinos a criar hortas para produção local e orgânica de alimentos em espaços urbanos inutilizados como pátios escolares, casas de repouso, ferrovias abandonadas, margens de canal, complexos habitacionais e telhados de edifícios comerciais e residenciais por meio de incentivos fiscais. Além de oferecer produtos saudáveis a preços acessíveis, a iniciativa promove o aumento das áreas verdes e permeáveis e melhora o aspecto visual da capital da Inglaterra. Até o momento, há 1.500 hortas criadas e mais de 40 mil voluntários para o cuidado desses espaços. A meta é implementar 2.012 jardins do tipo até o fim deste ano.

ECOLÓGICO /AGOSTO DE 2012 Q XX


SUSTENTÁVEIS

Bangladesh Resíduo orgânico vira fertilizante Grandes êxitos na redução das emissões em várias cidades de Bangladesh, Sri Lanka e Vietnã se deram por meio da promoção da compostagem de resíduos sólidos, no lugar da queima, para depois vendê-los a empresas de fertilizantes. Os objetivos principais da experiência em Daca, iniciada em 1995, são reduzir as emissões de CO2 e o desperdício de resíduos sólidos gerando renda. Hoje o modelo já é utilizado em 47 projetos por 26 cidades diferentes. Entre os resultados, redução de 18 mil toneladas na emissão anual média de CO2 em Bangladesh e geração de 16 mil novos empregos para a população pobre da região na compostagem de resíduos orgânicos em Daca.

XX

Q ECOLÓGICO/AGOSTO DE 2012

HAND CRANK FILMS-IFPRI

JOAN GRIFOLS

1C I D A D E S

Vitoria-Gasteiz Capital Verde Europeia de 2012 Em muitas cidades europeias é utilizado um indicador que mede a quantidade de habitantes que mora num raio de 300 metros dos serviços básicos (saúde, escolas, lojas de alimentos e espaços para atividades culturais e de lazer). Em Vitoria-Gasteiz, na Espanha, 99% da população têm acesso a serviços básicos e áreas verdes nesse raio de 300 metros em relação a suas residências. Vitoria-Gasteiz foi nomeada como Capital Verde Europeia de 2012. São também 787 hectares de novo cinturão verde, levando uma relação de 465 m² de floresta por habitante e um total 130 mil árvores nas ruas da cidade, além de 95 km de ciclovias e 598 estacionamentos de bicicletas.


Linköping

Reykjavik O chão aquece a cidade Reykjavik, capital da Islândia, tem uma localização geológica privilegiada. Todos os dias, energia que vem de fontes termais subterrâneas (geotérmica) é usada para gerar eletricidade e aquecimento a 95% de todos os edifícios da cidade. Em termos de emissões de CO2, a cidade é hoje uma das cidades mais limpas do mundo. Reykjavik tem o maior e mais sofisticado sistema de aquecimento geotérmico do planeta, que utiliza água quente natural para fornecer calor aos edifícios e casas desde 1930. Foram reduzidas as emissões de CO2, entre 1944 e 2006, em até 110 milhões de toneladas, evitando o lançamento de até 4 milhões de toneladas do gás por ano.

ALEX J WHITE

Comida gera energia para transporte Em Linköping, na Suécia, os resíduos provenientes de cantinas e restaurantes são utilizados para produzir biogás. Isso resultou em menor volume de resíduos, em maior uso de combustível não fóssil no transporte público da cidade e em mais disponibilidade de biofertilizante para a agricultura. O projeto, iniciado em 2001, é um bom exemplo de como uma autoridade local pode combinar separação de resíduos de forma mais eficiente, com produção de combustível renovável e contribuições para a agricultura local. Além do aumento na produção de biogás em 1,3 milhão de m³/ ano, equivalente a 12,65 GWh de combustível renovável por ano, a medida leva à produção de 3.422 toneladas de biofertilizante para a agricultura anualmente.

ECOLÓGICO /AGOSTO DE 2012 Q XX


SUSTENTÁVEIS

Jacarta Sistema de corredores de ônibus Em 15 de fevereiro de 2004, a linha de ônibus Transjakarta iniciou as operações ao longo de um corredor de 12,9km pelo centro de Jacarta, capital da Indonésia. A linha foi implementada no curto prazo de 9 meses e presta serviços para 39 milhões de pessoas. São 256 ônibus movidos a GNV - o que reduz em 120 mil toneladas o CO2 produzido por ano. O corredor do Transjakarta fica separado e tem uma estrutura de ônibus específica. As estações de ônibus fornecem plataformas elevadas para assegurar o embarque e desembarque rápido. Na maioria dos casos, as estações estão ligadas à calçada por uma ponte de pedestres e rampas para fácil acesso. Calcula-se que 5% daqueles que normalmente usavam carros passaram a usar ônibus devido ao novo sistema.

BIS TRANSJOGJA

1C I D A D E S

Copenhague Melhor cidade do mundo para ciclistas Copenhague, capital da Dinamarca, tem o objetivo de ser considerada a melhor cidade do mundo para ciclistas até 2015. Para que isso se concretize, a cidade elaborou políticas, planos, programas e projetos que incentivam o uso de bicicletas. Atualmente a cidade conta com cerca de 340 km de ciclovias. Os problemas de estacionamento também foram resolvidos com a instalação de stands de bicicletas por toda a cidade: nas ruas, nos estacionamentos públicos e privados e em conjuntos habitacionais, sendo possível também trafegar com elas no trem e no metrô. Todos os dias, 55% dos moradores da cidade vão para o trabalho de bicicleta. E, em conjunto, a população pedala mais de 1.210 km por dia.

XX

Q ECOLÓGICO/AGOSTO DE 2012


TAXIGUERRILLA

Academia de resíduos zero Kamikatsu é um vilarejo de 2 mil habitantes em uma região relativamente isolada do Japão. A iniciativa começou com a decisão de diminuir as taxas de incineração dos resíduos domésticos na cidade. No Japão, o lixo não reciclado é geralmente incinerado, já que a ilha sofre com problemas de espaço que tornam aterros sanitários muitas vezes inviáveis. Os moradores da cidade passaram a separar seu lixo em 34 tipos diferentes, que é levado a um posto de coleta pelos próprios cidadãos, em vez de ser recolhido da maneira tradicional (apenas idosos sem carro estão isentos desta responsabilidade). Como há subsídios para a compra de material para compostagem, estimulada pela prefeitura, a taxa de reciclagem da cidade, que era de 55% em 2000, agora gira em torno de 80%.

TAXIGUERRILLA

Kamikatsu

Milão Linha de metrô alimentada por energia solar A linha vermelha do metrô de Milão, na Itália, é alimentada com energia solar gerada a partir de uma usina localizada sobre o telhado da Azienda Trasporti Milanesi, o depósito Precotto: uma instalação de 23.000 m2 com medidores de capacidade para produzir até 1,4 milhão de kilowatts de energia por ano. Isso se traduz em economia para a Azienda Trasporti Milanesi e, portanto, para o cidadão comum. Além de economizar dinheiro, o projeto já evitou a emissão de 70 mil toneladas de CO2.

ECOLÓGICO /AGOSTO DE 2012 Q XX


SUSTENTÁVEIS ALEX J WHITE

1C I D A D E S

Vauban Uma cidade sem carros e ambientalmente amigável Quando a área militar conhecida como Vauban, em Friburgo do Sul, na Alemanha, fechou em 1992 o município comprou os 38 hectares de terra desocupados para criar um novo distrito onde o planejamento fosse baseado na sustentabilidade. Foi dada ênfase à participação da comunidade, à interação social, à mobilidade, à eficácia energética e às construções ambientalmente sustentáveis. Um dos principais objetivos foi manter o centro da cidade com o trânsito livre e um número reduzido de carros particulares. Para isso, o município criou um sistema de compartilhamento de carro, estabeleceu 500 km ciclovias e acrescentou 5 mil lugares de estacionamento para bicicletas. Hoje, 40% dos cidadãos de Vauban não têm nem precisam de automóveis particulares.

XX

Q ECOLÓGICO/AGOSTO DE 2012

Cincinnati Abatimento de impostos residenciais A cidade de Cincinnati aprovou uma medida que fornece até 100% de isenção fiscal para imóveis recém-construídos ou reabilitados, comerciais ou residenciais, que ganham uma avaliação mínima com a designação de “prata” no certificado LEED. LEED é um sistema de certificação de construção verde que é reconhecido internacionalmente, o qual verifica se um prédio ou comunidade foi projetado e construído pensando em estratégias de sustentabilidade como economia de energia, eficiência da água, redução das emissões de CO2, melhor qualidade ambiental interna e gestão de recursos. No final de 2008, a cidade já possuía 64 prédios registrados como LEED, número que saltou para 99 em 2009 (crescimento de 54%, o maior dos EUA).


Estocolmo Veículos não poluentes O programa Veículos Limpos em Estocolmo, capital da Suécia, que teve início em 1996, pretendeu transformar todos os veículos da cidade em não poluentes. Segundo este programa, todos os carros devem usar biocombustíveis ou emitir menos de 120g de CO2/km, utilizando tecnologia híbrida ou veículos extremamente pequenos. A cidade tomou iniciativas para que esta meta se tornasse realidade. A prefeitura iniciou uma negociação com fabricantes de automóveis e os incentivou a comercializar modelos não poluentes e de menor preço que os já existentes. Articulações com o governo nacional, juntamente com outros municípios e ONGs, levaram a descontos fiscais sobre veículos e combustíveis – inicialmente a título experimental e, finalmente, como uma política nacional de longo prazo.

FERNANDO STANKUNS

Planejamento da mobilidade Amsterdã, capital da Holanda, é uma cidade com características distintas. Construída em volta do rio Amsted, a cidade passou por um processo de drenagem para que pudesse ser habitada, o que fez que suas ruas ficassem abaixo do nível do rio e do mar. Dessa mesma forma meticulosa foi planejado o tráfego da cidade. Não há prioridade para um tipo de transporte, mas sim para a articulação entre eles no espaço público. Nas ruas se intercalam espaços para bicicletas, carros, trens e bondes, além de ilhas e calçadas para os pedestres. Atualmente, um terço das viagens é feito por carro, enquanto que 36% são feitas por transporte público, 27% por bicicletas e 4% a pé.

LET IDEAS COMPETE

Amsterdã

ECOLÓGICO /AGOSTO DE 2012 Q XX


SUSTENTÁVEIS

MARCOS GUERRA

1C I D A D E S

PARQUE BARIGUI: O MAIS VISITADO E UM DOS MAIS ANTIGOS DA CAPITAL PARANAENSE

Exemplo brasileiro Curitiba colhe os louros dos benefícios de quem optou pela gestão municipal baseada na valorização dos ecossistemas urbanos Cíntia Melo redacao@revistaecologico.com.br

C

omo dar mais harmonia ao concreto das pequenas, médias e grandes cidades do mundo? Aproveitando o que ainda resta de área verde nas “selvas de pedra”. Defendendo a ideia de que a natureza não é privilégio somente das zonas rurais. E que, portanto, o entendimento e a valorização da biodiversidade urbana podem e devem ir além, harmonizando

XX

Q ECOLÓGICO/AGOSTO DE 2012

mais e melhor as cidades ao redor do planeta. E, claro, trazendo, de quebra, mais qualidade de vida às suas populações. Sobram exemplos de quem conseguiu conciliar o cuidado e a conservação da biodiversidade com a vida urbana. No sul do Brasil, Curitiba (PR), com quase 1,8 milhão de habitantes, é um deles. E fez bonito na plenária que discutiu o tema “Cidades Biodiversas” no congres-

so mundial do Iclei recentemente realizado em BH. Desde a década de 1970, a cidade trabalha em prol da natureza urbana. A partir da criação de leis ambientais mais rígidas, mas também de benefícios para a população, o município avançou no aproveitamento de seus espaços naturais. O resultado? Cada habitante curitibano usufrui hoje de 64, 5


ADELANO LÁZARO MORIO

ÓPERA DE ARAME: COM VISTA PARA O LAGO E A CASCATA ARTIFICIAL

PRAÇA DO JAPÃO: HOMENAGEM À IMIGRAÇÃO JAPONESA, EM CURITIBA

ADELANO LÁZARO

metros quadrados de área verde num contingente que se espalha por 3,9 milhões de metros quadrados só na arborização pública, mais 77,7 milhões de metros quadrados nos maciços vegetais. Isto significa cinco vezes mais o índice mínimo de área verde recomendado pela OMS como excelência em qualidade de vida. Ao todo, são 23 Unidades de Conservação (UCs), 16 bosques, uma estação ecológica, duas Áreas de Proteção Ambiental (APAs) e cinco Reservas Particulares do Patrimônio Natural Municipal (RPPNM). Segundo a assessora da prefeitura de Curitiba, Dâmaris Seraphim, a cidade é exemplo também na gestão dos resíduos sólidos. “Não dá para ser bom na biodiversidade se não cuidarmos de nosso lixo. Desde 1992 trabalhamos com programas que incentivam a participação e a colaboração de todos. Atendemos cem por cento da população com a coleta de lixo e já temos 85% da população separando seus resíduos”, comemora. Não é para menos. Desde 2010, a capital paranaense ostenta o título de metrópole mais verde da América Latina. A classificação foi dada pelo Green City Index (GCI), projeto que analisa o desempenho ambiental das principais cidades do mundo. E que considerou Curitiba muito acima da média quanto às normas ambientais adotadas na gestão municipal. No ano da Rio+20, Curitiba foi considerada pelo programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) como modelo de “economia verde”. O conceito, que foi tema da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, defende o desenvolvimento com baixa queima de carbono, eficiência no uso dos recursos e inclusão social.

JARDIM BOTÂNICO: ESTUFA ABRIGA PLANTAS DA FLORESTA ATLÂNTICA


SUSTENTÁVEIS

FERNANDA MANN

1C I D A D E S

PEDESTRES E CICLISTAS DEVEM TER PRIORIDADE SOBRE OS CARROS: TENDÊNCIA MUNDIAL

Cidades para as pessoas O pesquisador Gil Peñalosa defende a importância de os centros urbanos abrigarem pessoas saudáveis e felizes

XX

Q ECOLÓGICO/AGOSTO DE 2012

sa, já são 23 anos no volante. Casado, pai de três filhos, ele trabalha parte da tarde e a noite toda e diz que tem chegado tão cansado em casa que já não tem mais humor para aproveitar a família. “A cada dia no trânsito perco um dia de vida. Quando a gente menos espera já está arrastando bengala e nem viu os filhos crescerem. Rodar de taxi é passar raiva. Tem dia que a gente pensa que vai sofrer um ataque no volante”, diz. Juarez pensa em largar o ofício em dezembro deste ano. “Não aguento mais. Dirigir em BH ficou insuportável e daqui a mais dois ou três anos vai ficar impossível”, sentencia. Para Gil, as estatísticas no trânsito e o dilema de Juarez têm a ver com o estilo de vida que levamos hoje. “No passado, o homem enfrentou desafios que o ensinaram a sobreviDIVULGAÇÃO

S

e for para classificar, por grau de prioridade, quem vem em primeiro, segundo e terceiro lugares nos centros urbanos, Gil Peñalosa não pensa duas vezes: pedestres, ciclistas e, por último, carros. Para ele, observar como a cidade trata seus pedestres diz muito sobre ela. “Pense em uma criança que você ama. Agora pense em um adulto que você ama. Você deixaria que fossem sozinhos, caminhando até a padaria?”, indaga. Se a resposta for sim, segundo Gil, é porque a cidade está tratando bem seus pedestres e a mobilidade urbana. Do contrário, como ocorre na maioria das grandes cidades do mundo hoje, há que se pensar com mais cuidado em seus moradores. No Brasil, a cada 22 minutos, morre uma pessoa por acidente de trânsito. O país ocupa o quinto lugar no ranking de trânsito que mais mata no mundo. Só perde para a Índia, China, Estados Unidos e a Rússia. Juarez Rodrigues Coelho, taxista em BH há 18 anos, conhece de perto o problema. Se contar o tempo em que foi motorista de empre-

ver. Agora, precisa aprender a viver e a conviver. Se construo um passeio de dois metros, tenho uma passagem. Um de quatro metros impede que eu esbarre em outra pessoa. Já num de oito metros, dá para fazer uma festa, um verdadeiro encontro de pessoas!”, diz. Outra aposta de Gil como conexão de locais de origem e de destinos nos centros urbanos são as ciclovias. “Há duas condições para que se tenha mais de 10% da população pedalando: a velocidade máxima dos carros em toda a vizinhança não deve ser maior que 30 km/h e as ciclovias devem ser protegidas, com separação física entre ciclistas, pedestres e carros. Os bicicletários, sistema de aluguel de bicicletas e as sinalizações também são importantes”, diz. Preocupado com a realidade do planejamento urbano de muitas cidades hoje, o pesquisador alerta: “Pensar em cidades para pessoas significa priorizar pessoas. Quando a prioridade são os carros e a construção de ruas e avenidas, ampliamos os congestionamentos. É como se colocássemos fogo em gasolina”.

DIRETOR-EXECUTIVO COLOMBIANO DA 8-80 CITIES, ORGANIZAÇÃO CANADENSE SEM FINS LUCRATIVOS E CONSULTOR SÊNIOR DA GEHL ARCHITECTS


1 PRÊMIO HUGO WERNECK

O SÍMBOLO DO OSCAR

P

ersonagem presente na história de vida de quase todos os brasileiros, principalmente nas lembranças de quem já viveu no interior, ele tem vários nomes: Canário-chapinha, Coroinha ou Cabeça-de-fogo, em Minas. Canário-do-chão, na Bahia. Canário-da-telha, em Santa Catarina. Canário-verdadeiro ou Canário-da-terra, mais universal, em quase todo o Brasil, do Maranhão ao Rio Grande do Sul, e em grande parte da América Latina. Seu nome científico é Sicalis flaveola brasiliensis, da ordem dos passeriformes. Uma das aves mais admiradas pelas pessoas, por causa do seu canto triste e estalado. E por isso mesmo, até pouco tempo atrás, antes do advento da consciência ecológica, segundo listagem do Ibama, um dos dez passarinhos mais aprisionados em gaiola ou mortos a estilingadas por viverem em bandos e, em sua inocência, mais se aproximarem dos seres humanos. Soma-se ainda um de seus nomes de sentido duplo: Canário-da-terra, do chão, da roça, do sertão, do Cerrado e da Mata Atlântica brasileira. E Canário-da-Terra, significando a realidade, luta e sobrevivência de todas as espécies aladas do alaneta. Estes foram os motivos que levaram os ambientalistas mineiros a escolherem o nosso saudoso e afetivo canarinho amarelo, tal como a cor da camisa da seleção bras brasileira de futebol, com como o símbolo do “II “III Prêmio Wer Hugo Werneck de Sustentabili Sustentabilidade & Natu Amor à Natureza – o E Oscar da Ecologia” insc - cujas inscrições já aberta e seestão abertas rão encerra encerradas em O vencesetembro. Os dores deste a ano serão conhecidos n no dia 28, no lua cheia de novembro, no Teatro do Se Sesc-Palladium, em BH, dura durante cerip mônia de gala a ser presidida pela ministra do Meio Ambiente Izabella Teixeira. te,

ARTE

SOB R

E FO TO/F L

SÍMBOLO VITAL Por sua beleza e capacidade de sobreviver em ambientes extremos, inclusive à própria contaminação da natureza por agrotóxicos utilizados sem controle na lavoura até pouco tempo, o Canário-da-Terra também simboliza a luta pela economia verde e a erradicação da pobreza abraçada pelos governos, empresas e ONGs socioambientais na Rio+20. Segundo os promotores do Prêmio Hugo Werneck, capitaneado pelo jornalista e ambientalista Hiram Firmino, sua lembrança permite um resgate do amor à Terra, à vida mais natural no campo e seu retorno também urbano junto à ecologização em curso das cidades, onde 95% da humanidade estará morando a partir do ano 2.030. Como pregava e nos ensinava Hugo Werneck, um dos “pais” do ambientalismo brasileiro, que também amava e defendia as borboletas, “não há como separar a vida de um passarinho da vida de uma árvore, de um solo, da vida de um rio, da vida humana”. As empresas, instituições, pessoas, políticos, técnicos e organizações não-governamentais que não apenas cumprem, como vão além da legislação ambiental, e ajudam a construir uma sociedade mais sustentável, justa e inclusiva, já podem concorrer à láurea máxima do ambientalismo brasileiro. Para participar, se inscrever ou indicar uma personalidade ou iniciativa que mereça ser premiada e difundida, basta acessar o site www.premiohugowerneck.com.br . O evento este ano será correalizado pela Associação Brasileira das Agências de Publicidade (Apab-MG) e a Sucesu Minas, através da integração de seus respectivos prêmios sobre sustentabilidade. A MINISTRA IZABELLA TEXEIRA, HOMENAGEADA EM 2011, SE DISPÔS A PRESIDIR A PREMIAÇÃO ESTE ANO

ÁVIO

BRAN

DÃO

REUTE

ORAES GIO M RS/SER


1 PRÊMIO

HUGO WERNECK

Depoimentos

VITORIOSOS Com a abertura das inscrições do III Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade & Amor à Natureza, vencedores da primeira edição falam sobre o significado do Oscar da Ecologia Aécio Neves (*) - Melhor Político “O meio ambiente e o desenvolvimento sustentável integram hoje a agenda principal do debate da sociedade contemporânea no mundo graças ao trabalho incansável daqueles que souberam antever a importância que a preservação do planeta implicaria para o futuro das novas gerações. O professor Hugo Werneck esteve entre os maiores líderes ambientalistas do nosso tempo. Tive a honra de ter convivido com ele durante a formulação da política pública de meio ambiente para o Governo de Minas. O Prêmio Hugo Werneck faz uma justa homenagem ao nosso querido e saudoso professor, e contribui para o prosseguimento do imenso e valoroso legado que ele nos deixou.”

(*) Senador e ex-governador de Minas

Marina Silva (*) - Destaque Nacional “Agradeço a todos pelo Prêmio Hugo Werneck. Lembro que devemos, sim tratar bem a Terra. Ela não foi doada a nós pelos nossos pais e antepassados, mas tomada emprestada das crianças, dos nossos filhos e das futuras gerações.”

(*) Ex-ministra de Meio Ambiente

Carlos Eduardo Ferreira Pinto (*) Melhor Exemplo em Resíduos Sólidos “O Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade & Amor à Natureza foi recebido com muito orgulho pelo Ministério Público do Estado de Minas Gerais. Sobretudo pela grandeza do Dr. Hugo, que representa a defesa intransigente de nossa biodiversidade.”

(*) Promotor de justiça

XX

Q ECOLÓGICO/AGOSTO DE 2012


Angelo Machado (*) - Personalidade Ambiental “É muito gratificante receber um Prêmio que tem o nome de Hugo Werneck. Ele me introduziu no movimento ambientalista através do Centro para Conservação da Natureza em Minas Gerais, onde estive a seu lado durante 35 anos. Se ganhei este Prêmio devo a ele, pois apenas segui seu caminho.”

(*) Presidente da Fundação Biodiversitas, médico e entomólogo

Vitor Wanderley Junior (*) - Destaque Nacional “Ser agraciado com o Prêmio Hugo Werneck foi de um valor muito grande para mim e para toda a equipe que cuida da área ambiental de Coruripe. E nos incentiva a continuar e melhorar todo o trabalho que já estava sendo feito com muita perseverança. Resumindo: o Prêmio, é realmente o nosso Oscar ambiental, tem uma importância enorme para nós que trabalhamos com a natureza.”

(*) Diretor-Geral da Usina Coruripe

Verdemar (*) - Melhor Empresa “O Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade & Amor à Natureza foi um reconhecimento à nossa política de Sustentabilidade, valorizando, viabilizando e contribuindo para a preservação do meio ambiente. Este é um trabalho que já faz parte da cultura da empresa e que tende a se tornar padrão em todas as operações de nossa atividade.”

(*) Alexandre Poni, diretor do Verdemar

SISTEMA DE ILUMINAÇÃO NATURAL DA FIAT (*) Melhor Exemplo em Energia “O prêmio Hugo Werneck representou para nós, da Fiat, um expressivo reconhecimento ao esforço que fazemos para consolidar um modelo sustentável de negócios. Também tem a força de um poderoso estímulo para que continuemos a buscar soluções criativas e eficientes para tornar o processo produtivo cada vez menos impactante ao ambiente.”

(*) Victor Ambrosi, diretor-adjunto de Tecnologia Industrial da Fiat

ECOLÓGICO/AGOSTO DE 2012 Q XX


BRANCO


1

GESTÃO EMPRESARIAL & TI ROBERTO FRANCISCO DE SOUZA (*) redacao@revistaecologico.com.br

UM PRÊMIO PARA A BOA GESTÃO DE TI Gente de TI também precisa ter amor à natureza

N

o mesmo mês em que a americana Apple decidiu que seus computadores não precisam mais do selo verde da EPEAT, o Prêmio brasileiro “Hugo Werneck de Sustentabilidade & Amor à Natureza”, nosso Oscar da Ecologia, inova e lança a categoria de Sustentabilidade em TI, em parceria com a Sociedade dos Usuários de Informática e Telecomunicações de Minas Gerais, SUCESU MINAS. Se alguns dizem que a decisão da Apple é calculada porque somente parte de seus clientes exigem o selo, como a cidade de São Francisco, EUA, o Prêmio Hugo Werneck dá um passo importante para formar a opinião do mercado comprador de Tecnologia da Informação na direção da sustentabilidade. Por aqui os exemplos ainda são escassos. Pressionados pela necessidade de resultados, nem sempre a questão da sustentabilidade é posta como quesito para a decisão da tecnologia de escolha pelos “Chief Information Officers”, os CIOs. A SUCESU MINAS pensa diferente: acaba de lançar a INFORUSO 2012, seu maior evento anual, com o tema “O valor da TI para o negócio”. Se a tecnologia quer mesmo representar valor, tem que começar a pensar no crescente exército de consumidores que se preocupam com a poluição que os equipamentos descartados causam ao meio ambiente ou que mesmo em uso, consomem mais energia e rodam softwares pouco otimizados.

XX

O Prêmio de Sustentabilidade em TI não se destina somente a fabricantes. A exemplo da cidade de São Francisco, ele também se destina a premiar iniciativas de clientes que já cobram de seus fornecedores as estratégias de sustentabilidade em suas propostas. E vão além: pedem que esses fornecedores tenham uma sustentabilidade ética no fornecimento de seus produtos e serviços, setor onde o trabalho irregular é uma realidade. Ele é também para aquelas organizações que se preocupam com a universalidade do acesso e com a qualidade do conteúdo entregue à população pela WEB e ainda para aquelas que usam a TI para resolver problemas sociais de uma forma inovadora. Com esses focos, não há espaço

TECH NOTES Conheça iniciativas para certificação de cadeias de valor em Resíduos Sólidos Eletroeletrônicos:

zA posição da Apple http://goo.gl/FuSlV zUma cidade que pensa em TI Sustentável http://goo.gl/XTSNk zO que é a EPEAT http://epeat.net zA Apple reconsidera http://goo.gl/ojd1p zConheça a SUCESU MG http://www.sucesumg.org.br

para as empresas ou CIOs que julguem que o momento ainda não chegou, que o valor da tecnologia da informação para seus respectivos negócios ainda não precisa incluir o valor para a vida e para o meio ambiente. A estes só posso dizer que estão errados e não temos mais tempo! Sem dúvida, esta é uma oportunidade para que o Hugo Werneck e a SUCESU MINAS encontrem os exemplos entre os que vendem ou compram tecnologia. É o momento em que se poderá provar que, cada dia mais, o risco de causar danos à natureza é mesmo um risco calculado, mas o resultado deste cálculo é uma perda certa de lucro e já começa a incomodar. Foi o caso da Apple: preferiu evitar o azar de uma sexta-feira, 13 de julho e, nesse dia, voltou atrás e comunicou que todos os seus produtos voltarão a ter a certificação EPEAT. Lição dada pelo mercado, lição aprendida! E, se nenhum desses argumentos servir, olhando o maravilhoso canário da terra, símbolo de um país inteiro, escolhido para encantar o prêmio 2012, a gente lembra que profissionais de TI também precisam ter coração, sensibilidade e, principalmente, amor à natureza. Que comecem a provar isso!

(*) Diretor-geral da Plansis, vice-presidente de Sustentabilidade da SUCESU-MG e presidente do Comitê para a Democratização da Informática - CDI.

Q ECOLÓGICO/AGOSTO DE 2012

RevEco_Ago12_GESTÃO E TI_R_OK_C.indd 1

19/07/2012 16:58:09


ANDRÉA ZENÓBIO GUNNENG (*) De Belo Horizonte, Minas Gerais redacao@revistaecologico.com.br

COHDRA

1

OLHAR EXTERIOR

CRIANDO UM MUNDO MELHOR A

ntes mesmo de começar a Rio+20, já se observava, como vem sendo de praxe, o tom pessimista, as declarações sem esperança, a torcida pelo negativo não somente dos jornalistas, mas também dos políticos, empresários e outros profissionais que, supostamente, trabalham objetivando a implementação do desenvolvimento sustentável. E me perguntava: mas o que seria preciso acontecer para esse público declarar como “um sucesso” a Rio+20 – em números, a maior conferência da ONU já realizada? O que deveria ser acordado para que, então, a imprensa pudesse publicar como manchete: “Rio+20: O planeta na direção correta da sustentabilidade”? Vamos analisar os resultados dessa Conferência da ONU. O 705 compromissos voluntários foram assinados entre governos, organizações não-governamentais (ONGs) e os principais grupos da sociedade, incluindo 500 empre-

XX

Q ECOLÓGICO/AGOSTO DE 2012

sas, indústrias e universidades, entre outros. O 50 acordos foram assinados envolvendo governos; 72 entre o Sistema ONU e ONGs; 226 entre empresas e a indústria; 243 entre universidades e escolas de todo mundo. O 513 bilhões de dólares serão disponibilizados durante os próximos 10 anos para serem investidos em 13 dos principais projetos da ONU, bem como nas demais parcerias, programas e ações nas áreas de transporte, energia, economia verde, redução de desastres e proteção ambiental, desertificação, mudanças climáticas, entre outros assuntos relacionados ao desenvolvimento sustentável. O Milhares de eventos foram realizados no período que antecedeu e durante a Rio+20, incluindo mais de 500 eventos oficiais e paralelos no Centro de Convenções Rio-


O que ganham os jornalistas e pessimistas de carteirinha em manter e perpetuar o tom de derrota?

centro, onde a Conferência foi realizada.

dos e sincronizados em pensamentos e atitudes visando ao melhor para cada um de nós, para a nossa comunidaO 45.381 pessoas participaram do evento, entre eles, de, o nosso país, até alcançarmos um bem global? Pense 188 delegações de Estados-Membros e três observadores no efeito multiplicador se nossos meios de comunicação (totalizando 12 mil negociadores), mais de 100 Chefes abrissem espaços também para as ações positivas e conde Estado e de Governo, 9.856 ONGs e outros grupos da cretas que estão sendo implementadas para promover o sociedade; 4.075 profissionais da mídia. Cerca de 5.000 desenvolvimento sustentável? pessoas trabalharam no Riocentro diariamente. Problemas existem, sim. Mas se desejarmos, centrarSomente esses dados não seriam suficientes para valer mos nossos pensamentos e visualizarmos as imagens uma manchete positiva? das realidades que queremos estar inseridos, acredite, o O que ganham os jornalistas e pessimistas de cartei- mundo será outro. Aliás, não é uma questão de acreditar, rinha em manter e perpetuar o tom de derrota?Quer já que isso implicaria num ato de fé. Essa abordagem faz um exemplo: as reportagens que as revistas Veja e Isto parte do corpo de conhecimento teórico da física quântiÉ publicaram às vésperas da Rio+20, e os principais ca e das abordagens filosóficas milenares. jornais da mídia brasileira. Todos O mundo é assim: somos o que destacaram os problemas que tepensamos. Em seu livro “Desejo, “Se desejarmos, riam de ser abordados durante a logo realizo – A saúde plena deCúpula da ONU: desertificação, centrarmos nossos pende de nós”, o médico Roberto explosão demográfica, poluição Zeballos afirma: “O ser humano pensamentos e dos oceanos, mudanças climádeste século precisa urgentemente visualizarmos as ticas. Matérias cheias de dados, aprender a controlar seus pensailustradas com fotografias fantásimagens das realidades mentos da mesma maneira que ticas. Junto a elas, foi publicado o aprendeu a caminhar em pé. Será que queremos estar que vem sendo feito pelos goveresse um marco evolutivo da nosnos, empresas, ONGs e cidadãos inseridos, acredite, o sa espécie tão importante quanto como eu e você para combater os o domínio do fogo, a invenção da mundo será outro.” problemas? Para mostrar que os roda e a criação da escrita. Precidesafios não estão sendo ignorasamos nos conscientizar de que, quando enxergamos dos, mas que estratégias de ação já estão sendo imple- as metas já alcançadas, o universo conspira para a mentadas? Infelizmente, não. materialização.” E o pior: depois do encerramento, nas matérias de anáEsse conhecimento já é de domínio público há séculos. lise do evento, o prazer em escrever que os nossos líderes Aqueles que o praticam, se beneficiam com todas as connão se interessam por nosso destino comum; de ressaltar quistas que colecionam, através do hábito de direcionar a inoperância de nossos negociadores, com afirmações suas vidas – e não apenas deixar o mundo rolar. do tipo “se não andou para trás, também não avançou Podemos, sim, construir uma sociedade sustentáem nenhuma questão” (Veja, pg. 102, 27/6/2012). vel. Aliás, já o estamos fazendo. Precisamos, entretanEntão, eu pergunto: como vamos criar um mun- to, que esse desejo, de viver em um mundo melhor, se do melhor para vivermos quando todo o nosso pen- torne viral; faça parte de nossos pensamentos, de nossamento, palavras, atenção e energia estão voltados sas intenções, não só pessoais, mas também como sopara o negativo? ciedade. Que esteja estampado nas primeiras páginas Bater incessantemente na tecla da inoperância da dos jornais. Que seja tema das discussões que aconONU, de nossos líderes políticos, da má vontade da- tecem no mundo virtual. É preciso desejar primeiro, queles que nos representam diplomaticamente – espe- para que então se torne realidade. Deseje, pense e vicialmente quando o cenário é o contrário – não nos sualize um mundo melhor. Para todos nós! levará a lugar algum. Ou melhor, nos guiará para as trevas do sofrimento. DESEJO, LOGO REALIZO Por outro lado, imagine se todos estivéssemos concentra-

(*) Jornalista ambiental e editora do Portal Conexão Verde www.conexaoverde.com

ECOLÓGICO /AGOSTO DE 2012 Q XX


1VO C Ê

SABIA?

MA

BENDITA SOIS VÓS

NTA

ECO

LOG YP

ROJ EC

T

Assim como na Bíblia, que e tem na história de Maria uma gravidez avidez sem fecundação, no mundo animal também existem fêmeas “benditas”. enditas”. Pesquisadores americanos descobriram, scobriram, na espécie de tubarão galha-preta, a, duas fêmeas que conseguiram engravidar sem m fecundação. Não há evidências, no entanto, se nesse esse caso foi o Espírito Santo quem promoveu o milagre... lagre...

MESMO VALOR

DAVIDE GUGLIELMO

Quem é que não gosta de comer um ovinho com arroz quando a fome aperta? Ou alguns ovos de codorna como aperitivo? Mas será que existem diferenças nutricionais entre um e outro? Segundo a pesquisadora Nilce Maria Soares, do Laboratório de Patologia Avícola do Instituto Biológico, não. Quanto ao sabor dos ovos, a variação está na alimentação das aves. Se for de peixe, por exemplo, o gosto do ovo tenderá a ser este.

XX

Q ECOLÓGICO/AGOSTO DE 2012

RevEco_Ago12_VOCE SABIA_R_OK_C.indd 1

19/07/2012 16:55:34


AZUL DA COR DO CÉU A atmosfera é composta de moléculas que refletem, absorvem e difundem a luz solar. Devido a um fenômeno chamado refração, a luz solar que se difunde por essas moléculas espalha-se para todos os lados. Quando o sol está bem acima do horizonte, a luz atravessa uma camada menos espessa da atmosfera, deslocando-se para a extremidade azul da sucessão de cores em que decompõe - ou seja, do seu espectro. Por isso, o céu fica a maior parte do tempo azul, com exceção do amanhecer e anoitecer, quando a atmosfera é mais densa e as ondas luminosas se alongam, levando a luz a se deslocar no espectro para a faixa do alaranjado.

DE PÉ Já repararam que os cavalos passam a maior parte do tempo de pé? Inclusive quando estão dormindo? Para eles é mais confortável ficar de pé, já que quando se deitam seu peso faz pressão sobre os órgãos internos do corpo. Esses animais têm um mecanismo nos tendões e ligamentos das pernas que lhes permite ficar de pé sem utilizar os músculos. Só em fases mais profundas do sono é que costumam se deitar.

ALLHD

RevEco_Ago12_VOCE SABIA_R_OK_C.indd 2

19/07/2012 16:55:39


AS A SRPPNS RPPNS R PPNSDA D DA AVALE V VALE ALE(VII ((1) 1) ) AS

ROBERTO MURTA

COMODATO PETI: UNIDADE DE CONSERVAÇÃO PRIVILEGIADA

XX

Q ECOLÓGICO/AGOSTO DE 2012

RevEco_Ago12_RPPN_PETI_R_OK_C.indd 1

20/07/2012 10:26:57


FERNANDA MANN

LEOTACÍLIO, ADMINISTRADOR DA UNIDADE DE CONSERVAÇÃO DE PETI: “PRIMEIRO, ABRO UMA BRECHA NO CORAÇÃO DAS PESSOAS PARA DEPOIS SENSIBILIZÁ-LAS”

COMODATO PETI Localizada na Mina de Brucutu, no município de São Gonçalo do Rio Abaixo (MG), a reserva da Vale é vizinha da Estação Ambiental Peti, da Cemig. Juntas, as duas áreas somam 609,41 hectares e guardam a biodiversidade local Cíntia Melo redacao@revistaecologico.com.br

P

ode-se dizer que a Unidade de Conservação (UC) Comodato Peti , a pouco mais de 100 quilômetros de Belo Horizonte, é privilegiada. A reserva encontra-se bem ao lado da Estação Ambiental Peti, da Cemig, parceira da Vale na proteção da UC. As duas áreas formam um importante corredor ecológico de Mata Atlântica para a fauna local. No inventário da fauna e flora

da estação da Cemig foram identificadas 502 espécies vegetais, 556 espécies de insetos, 10 de peixes, 24 de anfíbios, 26 de répteis, 256 de aves e 39 espécies de mamíferos. Algumas são novas para a ciência, como a libélula Heteragrion petiense e a árvore canela Licaria triplicalyx. Com vegetação típica de transição da Mata Atlântica e Cerrado, a reserva da Vale abriga pássaros raros. E espécies ameaçadas de

extinção, como o pavó (Pyroderus scutatus), que, inclusive, virou símbolo da Estação Ambiental da Cemig. “Hoje existem apenas 22 indivíduos aqui”, relata Leotacílio da Fonseca, que há 28 anos comanda as atividades na estação da Cemig. Outros que também sofrem ameaça de extinção e vivem em Peti são o jacu (Penelope obscura), o catitu (Pecari Tajacu), o lobo-guará e a suçuarana (Puma concolor).

2

ECOLÓGICO/AGOSTO DE 2012 Q XX

RevEco_Ago12_RPPN_PETI_R_OK_C.indd 2

20/07/2012 10:27:03


AS A SRPPNS RPPNS R PPNSDA D DA AVALE V VALE ALE(VII) ((1) 1) AS

RPPNs

LORENA FERNANDES

RPPN Comodato Peti

“Só cuidamos do que amamos” SÉRGIO, SUPERVISOR DAS RPPN’S DA VALE

Sérgio Pessôa, supervisor das RPPNs da mineradora, credita à criação da Gerência de Áreas Protegidas da Vale e o fortalecimento da parceria com a Cemig, a maior proteção da reserva. “Sempre tivemos um ótimo relacionamento de parceria com a Cemig. Mas agora essa relação está mais fortalecida ainda”, observa. Ele sente-se honrado em trabalhar em prol do verde da Vale, tarefa que considera muito gratificante. “Só cuidamos do que amamos. A empresa confiou em mim quando me passou a responsabilidade de cuidar de suas áreas verdes. Portanto, procuro fazer meu trabalho abraçando-as e protegendo-as como um pai”, frisa. Ele enfatiza que um dos principais desafios é vencer as invasões e os incêndios, comuns nas UCs da empresa. Para isso, conta com uma equipe que monitora toda a área diariamente, além dos brigadistas

da ONG Terra Brasilis, que faz parte do Acordo de Cooperação técnico financeiro entre a Vale, Semad e Sindiextra. Esses brigastistas atuam nas ocorrências de incêdios. Jacqueline dos Santos, por exemplo, está na coordenação e controle de pessoal e é uma das que arregaça as mangas quando vê um foco de incêndio. Quem pensa que o fato de ela ser mulher a desencoraja de subir morro para apagar o fogo, se engana! Nessa hora, sobram fôlego e vontade. “Sempre que somos acionados, corremos para área. Se ficar próximo da natureza já é bom, imagine então quando a gente pode socorrê-la! É melhor ainda, não é?”, diz. PETI CEMIG A Estação Ambiental Peti, da Cemig, foi criada em 1983. Alunos do Ensino Fundamental, Médio e Superior, de escolas públicas e

XX Q ECOLÓGICO/AGOSTO DE 2012

RevEco_Ago12_RPPN_PETI_R_OK_C.indd 3

20/07/2012 10:27:06


FERNANDA MANN

VIVEIRO DE PETI: CUIDADO COM AS AVES APREENDIDAS DO TRAFEGO DE ANIMAIS

particulares, que ficam na área de influência da reserva e na Região Metropolitana de Belo Horizonte, podem fazer visitas e desenvolver pesquisas no local. A Cemig integrou, ao programa de educação ambiental, a visita de grupos de terceira idade e alunos especiais e portadores de deficiências visuais e auditivas. Outro trabalho desenvolvido na estação é o cuidado com os bichos que o Ibama apreende no combate ao tráfico de animais. Entre as espécies estão um casal de araras-canindé, outro de tucanos, uma coruja, alguns papagaios, um carcará e um sofrê, que há 12 anos vive no local. Depois de devidamente tratados, os animais trazidos pelo Ibama são devolvidos a seus ambientes naturais de origem. Nem todos, no entanto, são passíveis de serem reintroduzidos. “Alguns exemplares chegam aqui bastan-

te machucados e levam muito tempo para se recuperar. Se ficam muito tempo no cativeiro a readaptação na mata é complicada”, explica Leotacílio que, na hora de sensibilizar as pessoas, costuma mostrar as consequências dos maus-tratos a que esses bichos foram submetidos. “Costumo falar das coisas difíceis que ocorrem no meio ambiente, como a crueldade dos homens, para abrir uma brecha no coração das pessoas. Desse modo, consigo sensibilizá-las”, explica. A Estação Ambiental de Peti conta com um laboratório que faz às vezes de berçário de muitos filhotes de aves e outros animais. E funciona como um típico pronto-socorro, livrando os animais que chegam por lá de maus-tratos e da crueldade dos homens. Mais: alojamento, refeitório, Centro de Pesquisa e fiscalização motorizada.

SAIBA MAIS

Apresentando fisionomias de floresta estacional semidecidual e pequenas manchas de Cerrado e vegetação rupícola, as matas da RPPN hoje se encontram em estágio secundário. De acordo com o Plano de Manejo elaborado para a UC, nas áreas mais conservadas, a floresta apresenta de dois a três extratos com espécies emergentes, como o angicobranco (Anadenanthera colubrina), além de um sub-bosque com espécies arbóreas em regeneração, com destaque para o angelimpedra (Hymenolobium janeirense), a braúna (Melanoxylon braúna) e o jacarandá-da-bahia (Dalbergia nigra), ambos da família Fabaceae, típicos da Mata Atlântica. Outras espécies observadas no sub-bosque e indicadoras de uma boa conservação da mata são a negramina Siparuna guianensis, Siparunaceae, Erythroxyllum sp. (Erythroxylaceae), a erva-de-rato Palichourea marccgravii (Rubiaceae), entre outras. Algumas espécies amostradas como jacarandá-da-bahia Dalbergia nigra (Papilionoideae) e Melanoxylon brauna (Fabaceae), são consideradas vulneráveis e constam da lista de espécies ameaçadas de extinção em Minas Gerais. Outra espécie, Vernonanthura diffusa (Asteraceae), compõe a lista daquelas presumivelmente ameaçadas no estado. Quanto à caracterização da avifauna foram constatadas e identificadas 44 espécies de aves. Entre elas, a juruviara (Vireo chivi), o pichito (Basileuterus hypoleucus), a saíra-setecores (Tangara seledon), a chorozinha-dechapéu-preto (Herpsilochmus atricapillus) e o piolhinho (Phyllomyias fasciatus). Segundo o Plano de Manejo, a reserva é pouco suscetível à ocorrência de queimadas devido à ausência de propriedades rurais em seu entorno, à existência de aceiros no limite norte, à continuidade da área florestada nas demais porções e à existência de corpos hídricos limitantes a leste.

NA PRÓXIMA EDIÇÃO, LUA CHEIA DE 31 DE AGOSTO, A ECOLÓGICO VISITA AS RPPNS DE SOBRADO E DIOGO. ACOMPANHE!

ECOLÓGICO/AGOSTO DE 2012 Q XX

RevEco_Ago12_RPPN_PETI_R_OK_C.indd 4

20/07/2012 10:27:14


1

NATUREZA MEDICINAL MARCOS GUIÃO (*) redacao@revistaecologico.com.br

Vai plantar BATATA!

D

rindo de suas muitas histórias. Num dilatou muito e a conversa deu-se por encaminhar para as plantas medicinais da região. Sabedor de minha paixão pelo tema, ele me encarou com seriedade e declarou enfático: Fui curado de uma diabetes braba com uma pranta... Óia que nesse tempo minha vida era só internado, fazendo exame de tudo quanto é qualidade. Teve dia deu tomar inté 18 comprimido de manhã e outra remessa dessa mesminha em antes de dormir... Aquilo era uma fadigação sem base, pois só de insulina eu tomava três ferroada no dia e mermo assim a glicose só viajava nas alturas, lá pelos 800. Eu já tava sem espeMARCOS GUIÃO

ia desses fui parar num lugar chamado “Péla Jegue”, comunidade com nome dos mais esquisitos que já estive. Lá tive a felicidade de conhecer Geraldo Bruaca, um moreno de barbas e cabelos já esbranquiçados, rosto redondo sempre ornado com um sorriso franco, olhar doce e andar arrastado. O apelido é derivado de um namoro ainda nos tempos de ginásio com uma moça sem muitos encantos, que a garotada de antanho assim lhe caçoavam. Os anos se passaram, a moça sumiu, mas o apelido ficou. Sujeito de boa prosa, esticada nos detalhes, fui me agradando daquilo e acabei por passar boa parte de minhas horas de folga ouvindo relatos e

BATATA YACON: SANTO REMÉDIO PARA OS HIPERTENSOS XX

rança de vida mió, quando certo dia uma vizinha me trouxe umas batatas escuras, uma tal de Yacon (Smallanthus sonchifolius). Pois foi minha valença! Dispois de uma semana a glicose deu ponto de queda, daí regulou e já se vão dois anos que num tomo nem aspirina. Ocê que é jornalista, conta esse caso pros outros, quem sabe preles tamém vai sê bão... Prá mim foi bão por demais! Assim fica o registro do que ouvi, e aproveito para acrescentar outras informações que andei recolhendo sobre a Batata Yacon. Originária da região dos Andes, tem sabor adocicado e textura semelhante a uma maçã. De acordo com pesquisas realizadas pelos orientais, parece que ela atua no intestino, diminuindo a absorção da glicose. A recomendação é consumir diariamente de três a quatro fatias da yacon cruas, sem cozimento. Os efeitos costumam aparecer a partir de 7 a 10 dias depois. Seu consumo também é recomendado para os hipertensos, e o mineral mais abundante encontrado nela é o potássio, com 230mg para cada 100g da batata. Um adoçante natural de baixa caloria, a inulina, é um tipo de carboidrato presente em grandes concentrações naYacom, conferindo-lhe um agradável sabor de pêra. Experimente e depois me conte os resultados. Inté a próxima lua!

(*) Jornalista e consultor em plantas medicinais.

Q ECOLÓGICO/AGOSTO DE 2012

RevEco_Ago12_NATUREZA MEDICINAL_R_OK_C.indd 1

20/07/2012 14:57:41


1

OLHAR POÉTICO ANTONIO BARRETO (*) redacao@revistaecologico.com.br

PeixePeixePeixe é uma pedra que eu vejo viva entre as águas molhando a linha torta do horizonte sem linha e não o arisco peixe que cisca clarágil a superfície da nuvem sem fim sim deve haver algo táctil entre nós e não mais será necessário despertar-lhe o sonho o sono o limo e o cheiro a lua o luar o mar ou o ar porque talvez só

assim en ten da o

XX

Q ECOLÓGICO/AGOSTO DE 2012

ISTOCK

e e o vento sã peix o ape o a nas rio que a pedr pequen ua não sabe os e a ág decif d o i rar nigm as que o silênc


1H U M O R

Consciência ambiental pelo riso Fernanda Mann redacao@revistaecologico.com.br

“H

umor e criatividade que chamam à seriedade”. Essa é a definição de José Alberto, presidente da Associação dos Cartunistas do Brasil, para o livro “Aquecimento Global em Cartuns”. Para Léo Valença, organizador do livro, “é importante disseminar a sustentabilidade ao máximo possível. Quanto mais pessoas,

XX

empresas e instituições se envolverem nessa jornada, melhores condições de vida conseguiremos no futuro. Mas, acima de tudo, é importante fazer a nossa parte.” Por isso, a editora Pod foi escolhida a dedo. Ela utiliza o sistema “print on demand”, ou seja, ao invés de produzir estoques de livros, eles só são impressos depois de encomendados pelo site www.

podeditora.com.br/livros/humor E se uma imagem vale mais que mil palavras, são muitas as reflexões sobre esse tema nessa publicação que reúne 25 charges de diferentes autores. Algumas delas, premiadas pelo festival Green Nation Fest, foram divulgadas pela ECOLÓGICO, na edição de junho. As demais você confere nesta edição e nas próximas luas cheias.

Q ECOLÓGICO/AGOSTO DE 2012

RevEco_Ago12_HUMOR_R_OK_C.indd 1

19/07/2012 16:02:26


QUEM SÃO ELES

CHARGE: ADRIANO LOUZADA

ADRIANO LOUZADA O jovem de Campinas, de 20 anos, já participou de diversas exposições, como “Homenagem a Hanna-Barbera, “Hiroshiuma e Nagasaki” e salões de humor como Redman Art. Desenha desde a infância e seus traços têm grande influência de Mangás e Animês. ALAN SOUTO MAIOR O publicitário carioca, ilustrou o jornal português Expresso, em 2006 e ganhou vários prêmios como o 1º Lugar no VIII Salão de Artes Plásticas Elisabeth Kinga da Associação Brasileira de Desenhos e Artes Visuais e Menção Honrosa no Festival Internacional de Humor e Quadrinhos de Pernambuco, entre outros. www.fotolog.com/alansoutomaior CASSO De Belém do Pará, Carlos Augusto Nascimento, desistiu da profissão de administrador e virou cartunista, caricaturista, chargista e ilustrador. Instruiu oficinas de desenho de humor para fundações, é chargista esportivo do tablóide “O Bola”, que sai diariamente no Diário do Pará e ilustra também para o Diarinho, caderno infanto-juvenil. Conquistou vários prêmios e seu trabalho é reconhecido internacionalmente, já tendo publicado em catálogos no Brasil, Iran, Turquia, China, Portugal, Índia, Croácia, Itália, Yugoslávia, entre outros. cassocartuns.blogspot.com BIRA DANTAS Paulista da capital, ele fez o curso de Editoração de História em Quadrinhos na Escola de Comunicação e Artes da USP em 1985 e o curso Design Gráfico na Escola Arquitech de Campinas em 1995. Participou da Associação de Quadrinhistas e Caricaturistas de SP e passou por diversas mídias, como as revistas Pantâno, Tralha, Porrada, Megazine e de jornais como Retrato do Brasil, Folha da Tarde, Diário do Povo e Pasquim. Professor na Escola de Arte Pandora, em Campinas, desde 2002, publica charges no site. www.chargeonline.com.br. CHARGE: ALAN SOUTO MAIOR

RevEco_Ago12_HUMOR_R_OK_C.indd 2

19/07/2012 16:02:34


1H U M O R

CHARGE: CARLOS AUGUSTO R. NASCIMENTO

CHARGE: UBIRATAN LIBANIO DANTAS DE ARAÚJO

XX

Q ECOLÓGICO/AGOSTO DE 2012

RevEco_Ago12_HUMOR_R_OK_C.indd 3

19/07/2012 16:02:37


BRANCO


1 TURISMO

FAZENDA DA ROSETA: A ANTIGA MORADA DO BARÃO DE MACIEL É ORIGINÁRIA DE UMA SESMARIA DE 1738, CUJA HISTÓRIA ESTÁ PRESERVADA COMO ATRAÇÃO HISTÓRICA.

FAZENDA

PARQUE DA ROSETA FOTOS RICARDO MELO

Inaugurada, em Baependi, a mais nova opção de lazer e turismo histórico-cultural do Circuito das Águas

XX

Q ECOLÓGICO/AGOSTO DE 2012

RevEco_Ago12_TURISMO ROSETA_02 (3pg)_R_OK_C.indd 1

Hiram Firmino redacao@revistaecologico.com.br

C

om direito a lua cheia no céu, fogueira para espantar o frio e violão de Juarez Moreira, o ambientalista Paulo Maciel Júnior, ex-secretário de Meio Ambiente de BH e ex-diretor da FEAM, realizou seu sonho antigo. Na última noite de junho, ele inaugurou o Parque do Cavalo e do Pouso do Tropeiro na antiga Fazenda da Roseta, ex-morada da família do Barão de Maciel, seu bisavô, em Baependi, no Sul de Minas. O evento contou com a presença de quase 200 pessoas, entre autoridades, empreendedores de turismo, produtores rurais, criadores de cavalos, jornalistas e ambientalistas. Logo após missa e benção celebrada pelo Pe. Itamar, defronte à antiga Gruta de N. S. de Lourdes, também restaurada, o Parque do

GRUTA NOSSA SENHORA DE LOURDES: RELIGIOSIDADE RESTAURADA

19/07/2012 16:01:21


COMO IR

A BELEZA E O ADESTRAMENTO DOS CAVALOS FORAM UM SHOW À PARTE

FAZENDA PARQUE DA ROSETA Para mais informações, agendamento de grupos e reservas, os interessados devem entrar em contato com a agência de receptivo regional- Caminho Natural Turismo e Meio Ambiente, parceira da Fazenda da Roseta. www.caminhonatural.tur.br contato@caminhonatural.tur.br (35) 3341-7525

Cavalo “Paulo Cesar Junqueira de Andrade” foi aberto ao trade turístico com um show, à parte, do adestrador Zé Trovão e seus cavalos Lusitanos e Mangalarga Marchador. O Pouso do Tropeiro, que doravante irá recepcionar os turistas e viajantes a cavalo pela região, também foi inaugurado na mesma oportunidade. Trata-se de espaço destinado à hospedagem de cavaleiros e amazonas que queiram desfrutar de um ambiente rústico, porém acolhedor, que remete aos velhos tempos dos tropeiros. Como atrativo tradicional, a pousada possui fogão a lenha e churrasqueira que podem ser utilizados pelos próprios hóspedes, caso queiram preparar sua própria comida. Eles contam ainda com assistência veterinária de emergência para os animais além de transporte em micro-ônibus de um destino a outro, com todo conforto e segurança. HISTÓRIA REVISITADA Nascido em 1837, naquele município, Justo Domingues Maciel III era também conhecido como o Barão da Roseta, das Águas ou de

Contendas. Iniciou suas atividades como tropeiro, levando produtos da fazenda para a corte no Rio de Janeiro e São Paulo. Casado com Luíza Leocádia Ribeiro da Cunha, que era cantora lírica e interpretava Chopin, a baronesa fez parte da comitiva que recepcionou a visita da família imperial a Caxambu, em 1868. A princesa Izabel, que casada com o

Conde D´Eu, diz a lenda, só conseguiu engravidar após beber as águas ferruginosas desta estância hidromineral e, em agradecimento, mandou construir a belíssima igreja em sua homenagem, no alto da cidade. Justo Maciel também foi presidente da Câmara Municipal de Baependi e também o primeiro prefeito do município após a pro-

ECOLÓGICO/AGOSTO DE 2012 Q XX

RevEco_Ago12_TURISMO ROSETA_02 (3pg)_R_OK_C.indd 2

19/07/2012 16:01:24


1 TURISMO

A noite em que Chico Pelúcio virou Nhá Chica MIRIAN VILAS BOAS

Várias autoridades, políticos e personalidades da região prestigiaram o evento, como o prefeito de Baependi, Efrain Lemos, o promotor de Justiça, Bergson Guimãraes, e o promotor cultural Cláudio Mourão. Mas a figura que mais chamou a atenção foi do também baependiense Chico Pelúcio, do Grupo Galpão. Nesta mesma data, sua cidade natal estava toda “vestida” com fotos, bandeiras e posters da ex-moradora mais ilustre, Francisca de Paula de Jesus, a “Serva de Deus”, como Nhá Chica era conhecida, por causa da sua beatificação reconhecida e recém-anunciada pelo Papa Bento XVI. A noite enluarada já entrava a madrugada. O frio estava de rachar. A pinga já tinha acabado; a fogueira, quase; e um nevoeiro tipo londrino acabara de envolver toda a fazenda e seus últimos visitantes. Foi quando, parece que do nada, Chico Pelúcio apareceu de repente para se despedir. Envolto num casaco com o capuz amassado na cabeça contornando o rosto, a lembrança da Santa de Baependi veio na hora, e unânime. Todos a “viram” ali no estilo Galpão, também benzendo a Fazenda do Barão”.

FOTOS RICARDO MELO

O COMPOSITOR JUAREZ MOREIRA COM AS FOTOS DO BARÃO E DA BARONESA AO FUNDO: ALTAR DA HISTÓRIA

PAULO MACIEL: “O NOSSO OBJETIVO É PRESERVAR O PATRIMÔNIO ARQUITETÔNICO, OS COSTUMES, A CULTURA E A HISTÓRIA SUL-MINEIRA COM SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL”

clamação da República, na época do regime parlamentarista. Em 1884, acompanhou o imperador D.Pedro II na inauguração da ferrovia “The Minas and Rio Railway”. Como empresário fundou e presidiu a “Empreza das Águas de Caxambu e Contendas” (sic), considerada a primeira indústria constituída de engarrafamento de águas minerais. Nesse período, importantes obras foram realizadas para implantação do Parque das Águas de Caxambu. Após a morte de Justo e Luíza, a propriedade da Fazenda da Ro-

XX

seta passou a pertencer aos seus descendentes, incluindo os pais de Paulo Maciel. Com o declínio das suas atividades produtivas, o patrimônio sofreu um forte desgaste e, desde 2005, vinha sendo restaurada para se transformar na primeira Fazenda-Parque da região e, assim, pode receber não somente cavaleiros e amazonas, como os turistas tradicionais em busca de beleza natural e a vida no campo. Segundo Paulo Maciel Jr., que preside a Lume Ambiental em Belo Horizonte, a ideia maior é integrar o Sul de Minas a ou-

tros polos de turismo equestre dos estados vizinhos do Rio e São Paulo, criando e aumentando a oferta de emprego e renda na região que já foi próspera no passado: “Mais que isso, queremos provar que recuperando o meio ambiente e trazendo a exuberância da natureza de volta, através do turismo ecológico, é possível desenvolver a chamada indústria sem chaminés de maneira simples e necessária.”

Q ECOLÓGICO/AGOSTO DE 2012

RevEco_Ago12_TURISMO ROSETA_02 (3pg)_R_OK_C.indd 3

19/07/2012 16:01:28


BRANCO


1E N S A I O

FOTOGRÁFICO

O VELHO CHICO DE ALAIN DHOMÉ

Marina Rodrigues redacao@revistaecologico.com.br

XX

Q ECOLÓGICO/AGOSTO DE 2012

RevEco_Ago12_ENSAIO_RIO SÃO FRANCISCO_F_R_OK_C.indd 1

mar. Por onde passa, se ouve histórias. Elas falam dos índios tapuias que viveram às suas margens. Das bandeiras e entradas paulistas, baianos e pernambucanos em busca de ouro e pedras preciosas. Do comércio entre os povoados feito por canoas ou barcaças movidas a remo e hoje feito por balsa. Ele é também o rio dos Currais. Por ali existiu e ainda existe um ambiente agropastoril que fomentou o homem são-franciscano, descendente dos tropeiros e sertanejos. A lente de Alain capta a fé dos ribeirinhos na procissão de Bom Jesus dos Navegantes. Revela o imaginário que ganha forma nas toscas esculturas de carrancas moldadas nos fundos de quintais. Eterniza o pescador, flagra a brincadeira, registra o olhar do velho escravo e denuncia a poluição. E por fim, e na esperança de que seja para sempre, mostra as exuberantes imagens de um rio místico. Da nascente à foz. JÚLIA COSTA

40 imagens, 40 histórias. É assim que o fotojornalista e publicitário franco-brasileiro Alain Dhomé vê e mostra o Rio São Francisco ao mundo. Catalogadas também na forma de um livro didático, suas fotos, tiradas de 1999 a 2003, já foram expostas em Brasília, França e Colômbia. Seu último itinerário, de propósito, foi em BH, mais precisamente na Fundação Zoo-Botânica, onde existe o maior aquário temático do Brasil, dedicado às espécies do Velho Chico. São 1.200 peixes de 50 espécies diferentes, distribuídos em 22 tanques, em um cenário que reproduz as margens e o fundo outrora viçoso, em processo de recuperação ambiental. O objetivo é mostrar a riqueza natural e cultural em torno de um rio considerado a coluna vertebral da conquista do território nacional. É uma homenagem ao povo ribeirinho e um apelo para sua conservação. Este rio com nome de santo que nasce no Parque Nacional da Serra da Canastra, em São Roque de Minas, corre por cinco estados, percorre centenas de comunidades, povoados e cidades até chegar ao

PARA SABER MAIS www.nossomundoaui.blogspot.com.br

ALAIN DHOMÉ: FOTOJORNALISTA E PUBLICITÁRIO. REALIZOU DOIS DOCUMENTÁRIOS PARA A TV FRANCESA.COLABORA EM VÁRIAS REVISTAS COMO GEO, PARIS-MATCH , TERRA E SIPA-PRESS.

19/07/2012 15:59:44


BARCO DE VELA QUADRADA SÓ ENCONTRADO NO BAIXO SÃO FRANCISCO

FOTOS: ALAIN DHOMÉ

FOZ DO RIO SÃO FRANCISCO ALAGOAS/SERGIPE

CIDADE DE PENEDO (ALAGOAS): AQUI SURGIU O PRIMEIRO POVOADO ÀS MARGENS DO RIO

2

ECOLÓGICO/AGOSTO DE 2012 Q XX

RevEco_Ago12_ENSAIO_RIO SÃO FRANCISCO_F_R_OK_C.indd 2

19/07/2012 15:59:47


1E N S A I O

FOTOGRÁFICO

PESCADOR DE PIRAPORA NA LIDA DO DIA A DIA

BREJO GRANDE (SERGIPE): JOGOS FLUVIAIS USANDO UM TRONCO COMO TRANPOLIM

XX

Q ECOLÓGICO/AGOSTO DE 2012

RevEco_Ago12_ENSAIO_RIO SÃO FRANCISCO_F_R_OK_C.indd 3

19/07/2012 15:59:49


PROCISSÃO DE BOM JESUS DOS NAVEGANTES (ALAGOAS/SERGIPE)

FOTOS: ALAIN DHOMÉ

FOZ DO RIO SÃO FRANCISCO (ALAGOAS/SERGIPE)

CACHOEIRA CASCA D'ANTA - SERRA DA CANASTRA /MG

BARCOS NA PROCISSÃO DE BOM JESUS DOS NAVEGANTES ( ALAGOAS/SERGIPE) ECOLÓGICO/AGOSTO DE 2012 Q XX

RevEco_Ago12_ENSAIO_RIO SÃO FRANCISCO_F_R_OK_C.indd 4

19/07/2012 15:59:54


1MEMÓRIA

RELATO DE UMA SAUDADE O temor consciente ou inconsciente do fim de todas as coisas é fonte de angústia e muitos transtornos, que podem ser tratados. Pedro Paulo Cava (*) redacao@revistaecologico.com.br

A

ADÃO RODRIGUES

gosto de 1971, tempo frio. Lá pelas cinco da manhã, Tetê, minha mulher, acordou assustada com as frases desconexas que eu dizia em delírio, tremendo com mais de 40 graus de febre. Éramos um casal muito jovem (eu tinha apenas 21 anos) e inexperiente diante da vida. Correu ao telefone da vizinha e aconselharam-na a chamar o Dr. Célio de Castro. Foi assim que em menos de meia hora ele chegou a minha casa e me viu prostrado e em volta, todo um alvoroço familiar. Com muita calma, examinou, revirou, mediu, auscultou, vasculhou e sentenciou. “Uma virose muito forte”. Receitou e alguém foi correndo buscar um antibiótico de amplo espectro,

XX

Q ECOLÓGICO/AGOSTO DE 2012

RevEco_Ago12_MEMÓRIA CELIO DE CASTRO_OK_R_C.indd 1

coisa moderna na medicina de então. Mais antitérmicos, alimentação frugal e deixar que o tempo se encarregasse do resto. Voltou no final da tarde. Novos exames e conseguimos conversar um pouco. Naquele dia eu perdi uma viagem a Lavras onde faríamos mais uma das apresentações de Oh! Oh! Oh! Minas Gerais. Cinco dias de repouso e recuperação. “Quando você melhorar, vá ao meu consultório que vamos fazer outros exames”, disse de saída. Calma e segurança era o que me passava aquela figura frágil e minuciosa. Dias depois fui ao consultório, ainda no Hospital Santa Mônica e lá conheci a Lia, secretária que o acompanhou por toda a vida e que se tornou minha amiga. Pediu exames depois de uma consulta de mais de uma hora revirando daqui e dali a procura de respostas. “Virose mesmo, isso não tem explicação, não tem causa aparente, está no ar”, explicou. E estendeu a conversa como se não tivesse mais nenhum paciente na sala de espera. Teatro, arte, literatura, política, vida, terapia. Célio fazia terapia e insinuou que eu deveria fazer o mesmo. “Muita sensibilidade aguçada gera ansiedade, depressão, angústia, você vai precisar deste suporte”, concluiu. Amigos desde então, meu médico e ouvinte atento durante mais de 30 anos. Bastava um pequeno sintoma, um medo à toa e lá ia eu ao João XXIII ou ao consultório clamando por socorro que nunca me foi negado. Parava tudo, examinava e conversava. “Mais uma crise de ansiedade, não é, Pedro Paulo?” E conversava, receitava e eu saia dali com a alma lavada, vendendo saúde. Estivemos juntos nos principais movimentos contra a ditadura e o arbítrio: Anistia, Cebrade (Centro Brasil Democrático), Fundação do MDB, campanhas políticas, luta contra a censura. Mais que amigos, nos tornamos companheiros de ideias e de utopias. Deputado Federal, atendia em BH às sextas e sábados aos incontáveis amigos, correligionários e até

“SUA SABEDORIA ESTAVA NO OLHAR QUE ELE POUSAVA SOBRE AS PESSOAS”

20/07/2012 10:06:02


QUEM É ELE

CÉLIO DE CASTRO Célio de Castro nasceu em Carmópolis de Minas em 1938. Se formou em medicina pela UFMG em 1958. Foi também presidente do Sindicato dos Médicos. Casado com Maria das Dores Matta Castro, teve 4 filhos: Adriana, Rodrigo, Marcelo e Ana Paula. Antes de ser eleito prefeito de BH em 1996 e reeleito em 2000, foi deputado federal e vice na gestão de Patrus Ananias em 1992. Morreu em 20 de julho de 2008.

GUTO MUNIZ

adversários políticos. Era referência na medicina nacional. Lia marcava as minhas consultas por último porque sabia que a prosa entre médico e paciente iria se estender. Na saída: “Dr. Célio disse que não vai cobrar a consulta”. Ele sabia que eu não tinha muitos recursos. E deve ter sido assim com tantos outros que ele, como um passe de mágica, aliviava as aflições. Ameaçado, perseguido, os homens da direita jogaram uma bomba em sua casa que destruiu parte da frente. Eu estava no trânsito e ouvi a notícia pelo rádio. Toquei para a casa dele na Rua Catete e devo ter sido dos primeiros a chegar. Maria e as crianças escondidas e aterrorizadas nos fundos da casa. Ele ao telefone e outros amigos foram chegando e a rua se encheu de medo e de gente. Enfrentou sem medo as ameaças, tornou-se constituinte, vice-prefeito e depois virou mito

como Doutor Beagá. Lançamos sua campanha para prefeito em noite memorável no Teatro da Cidade. Não mais que uns 40 amigos. Ele tinha naquele momento apenas 2% de intenção de votos. Ganhou na ponta das urnas. Conhecia as vísceras e os vícios da cidade, andava a pé por suas artérias e veias e sentia palpitar o coração dos miseráveis e desprovidos que habitavam os bairros mais pobres. A cada dia tomava o pulso e media a pressão da metrópole e se entristecia por não ter todos os remédios que pudessem dar cabo da pior doença: a miséria humana. Almoçávamos juntos quase toda semana. Ele saia a pé pela rua Goiás e enfrentávamos a fila do bandejão mais próximo. Simples em tudo. Sua sabedoria estava no olhar que ele pousava sobre as pessoas e os comentários que eventualmente emitia sobre a política. Quando adoeceu corri ao hospital e lá estava toda a família. Por covardia minha, nunca tive a coragem de visitá-lo em casa. Não queria vê-lo doente, logo ele que me aliviou de tantas dores e aflições. Encontrei-o numa homenagem na Câmara Municipal. Sorriu e gritou quando me viu. Ficamos um tempo abraça-

PEDRO PAULO CAVA: “ CÉLIO DE CASTRO CONHECIA AS VÍSCERAS E OS VÍCIOS DA CIDADE, ANDAVA A PÉ POR SUAS ARTÉRIAS”

RevEco_Ago12_MEMÓRIA CELIO DE CASTRO_OK_R_C.indd 2

ARQUIVO FAMILIAR

LIVRO CONTA A TRAJETÓRIA DO MÉDICO E POLÍTICO MINEIRO

CÉLIO DE CASTRO E SEU FILHO RODRIGO, IDEALIZADOR E REALIZADOR DO LIVRO

dos e chorei em seu ombro. Beijei suavemente a testa daquele amigo e ele sorriu feliz. Célio se foi e deixou uma marca na vida de cada um que teve a felicidade de conviver com ele. Em mim, talvez, tenha deixado muitas, mas a maior de todas é a saudade.

(*) Depoimento do diretor teatral no livro “Doutor Célio de Castro-Trajetória”

ECOLÓGICO /AGOSTO DE 2012 Q XX

20/07/2012 10:06:07


1

CONVERSAMENTOS ALFEU TRANCOSO (*) redacao@revistaecologico.com.br

A NATUREZA DE ROUSSEAU

J

ean-Jacques Rousseau (1712-1778) foi um dos pensadores modernos que mais defenderam o meio ambiente no século XVIII. Entendia que o amor à natureza deveria ser um dever pedagógico para aqueles que não mediam esforços em lutar contra os depredadores. Essa luta era no sentido de conscientizá-los da importância do convívio pacífico com a natureza como a condição primeira da felicidade humana. Seus ideais naturistas eram baseados no conceito de que sentir seria sempre antes de pensar, do bem pensar. A felicidade passa a ser um sentimento e não um pensamento. E, mais ainda, é esse sentimento que conduz, organiza e direciona o pensamento. É o coração que orienta a razão e, portanto, se a sua paixão é consistente, a sua conduta o será também. Uma das teses mais polêmicas de Rousseau é que o homem é naturalmente bom, mas a civilização o corrompe. O contato constante com o natural produz uma alma nobre no sentir e no pensar. Já a civilização corrompe aquilo que conquistamos na natureza: as

XX

exigências morais que norteiam e estruturam a nossa conduta no mundo. Corrupção, deslealdade, violência e egoísmo são frutos de um processo civilizatório desumano que o indivíduo não conhecia em estado primitivo. A grande desgraça das sociedades modernas é a instituição da propriedade privada. O dia em que um indivíduo traça um limite e afirma “isto é meu”, começa a luta encarniçada pela vida, pois os outros irão fazer a mesma coisa. O homem em contato com a natureza sabe das suas necessidades inatas, mas as sociedades modernas criam outras falsas necessidades, levando o ser humano ser a mais atraído pelo supérfluo do que pelo necessário. Quantos de nós não deixamos de lado um copo d’água para tomar um de refrigerante? O homem primitivo era feliz porque se sabia e se sentia inserido num contexto cósmico da existência, contexto esse já programado de geração em geração. As ritualizações do passado faziam com que esse homem se sentisse protegido da ação corrosiva do tempo, desse tempo que destrói e que mata. É a força dos laços comunidade-família que impede o indivíduo primitivo de escolher o caminho destruidor das mudanças contínuas, da angústia e da solidão modernas. Desse modo, Rousseau achava que o homem primitivo estava a uma distância astronômica das sociedades corruptas e egoístas do mundo moderno. É bom também advertir que esse pensador moderno não prega o retorno absoluto ao mundo natural e nem a destruição das sociedades civilizadas. Ele defende uma relação mais constante com a natureza conjugada com as conquistas tecnológicas. E é pela educação, (vejam a sua obra pedagógica Emilio) que podemos atenuar essa discrepância entre o natural e o cultural. A busca de uma vida mais próxima da natureza e, portanto, mais saudável, seria o objetivo de todo homem de bom senso. Para ele, o mergulho do indivíduo na magia grandiosa da natureza, faz com que ele sinta a própria infinitude do seu espírito. Essa entrega mística ao natural seria o reflexo objetivo de uma alma boa, feliz e integrada ao mundo em que vive.

Q ECOLÓGICO/AGOSTO DE 2012

RevEco_Ago12_CONVERSAMENTOS_R_OK_C.indd 1

20/07/2012 14:55:48


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.