Recolhimento e Internação Compulsória

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desta racionalidade é o de risco. As novas estratégias penais se caracterizam cada vez mais como dispositivos de gestão do risco e de repressão preventiva das populações consideradas portadoras desse risco. Não se trata de aprisionar criminosos perigosos individuais, isto é, de neutralizar fatores de risco individual, mas sim de gerir, ao nível de populações inteiras, uma carga de risco que não se pode (e, de resto, não se está interessado em) reduzir (DE GIORGI, 2006, p.97).

Menegat (2006) nos chama a atenção de que o espírito de nossa época é marcado pela presença efetiva de uma tendência do aprofundamento da barbárie. Observamos que “os fascismos nossos de cada dia” se diluem e vão se manifestando, implícita ou explicitamente, sejam nos discursos e práticas cotidianas de governo, em parcela da sociedade e da mídia nas diferentes abordagens e intervenções com a população em situação de rua na cidade do Rio de Janeiro. Fica a pergunta: não seria a manutenção do recolhimento de crianças e adolescentes em situação de rua, feito de forma arbitrária e violenta por instituições do Estado, com o apoio e consentimento de segmentos do judiciário, da mídia e de boa parcela da população carioca, um exemplo que aponta a permanência da barbárie, de práticas desumanas e fascistas em nosso tempo? Referências bibliográficas: ABRAMOVAY, P.; BATISTA, V. M. Depois do grande encarceramento. Rio de Janeiro: Renavan, 2010. ARANTES, Esther M. M. Rostos de crianças no Brasil. In: PILITTI, Francisco ; RIZINJI, Irene (Org.). A Arte de governar crianças: a história das políticas sociais, da legislação e da assistência à infância no Brasil. Rio de Janeiro: Instituto interamericano Del Niño; Universitária Santa Úrsula; Amais, 1995. BALSA, C; BONETI, L. W; SOULET, Marc-Henri. Conceitos e dimensões da pobreza e da exclusão social. Rio Grande do Sul: Unijuí & CEOS – Investigações Sociológicas, 2006. BAUMAN, Z. Globalização: As conseqüências humanas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1999. CASTEL, Robert. A discriminação negativa. Rio de Janeiro: Vozes, 2008.


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