de um fascismo pluralista e, por isso, de um fascismo que nunca existiu (SANTOS, 1998, p.26).
Segundo Boaventura (1998), “o capitalismo deixou de fazer concessões, a democracia perdeu a capacidade de distribuir riqueza, e as sociedades acabaram desenvolvendo relações fascistas”, diz ele, referindo-se ao número cada vez maior de pessoas excluídas do contrato social. Ou seja: onde os direitos estão ausentes ou minimizados. O estabelecimento de uma sociedade é, para Boaventura, a estabilização das expectativas. Diz ele que “hoje, como no fascismo, há pessoas que não sabem se amanhã terão comida ou se continuarão vivas.” A perda de direitos e da noção de cidadania está ligada ao que Boaventura chama de “colapso das expectativas”. Reportando-nos às crianças e aos adolescentes em situação de rua, podemos dizer que este “colapso das expectativas” pode ser traduzido num tipo de sentimento presente em muitas delas. Apesar da grande capacidade de resistência dessas crianças e adolescentes frente às práticas bárbaras e desumanas das quais são vítimas, em contrapartida isso gera conseqüências que refletem em seu cotidiano nas ruas, em seu comportamento, e em sua visão de futuro. Vivendo muito em função da busca de estratégias de sobrevivência do hoje e do agora, muito poucas são as perspectivas de futuro. O autor Alessandro De Giorgi (2006), fazendo uma comparação entre dois textos de épocas diferentes (um de um autor anônimo de Paris, no ano de 1676, que falava da situação de mendicância; e outro texto de W. J. Bratton, exchefe de polícia da cidade de Nova Iorque, em 1997, na época da execução do programa “Tolerância Zero”), comenta: O autor anônimo do opúsculo do século XVII e o exchefe de polícia de Nova York, que foi o principal artífice das estratégias da Zero Tolerance, parecem se inspirar na mesma filosofia: idêntico é o desprezo por aquela pobreza extrema que, de modo desabusado, ousa mostrarse, contaminando o ambiente metropolitano, idêntico o entrelaçamento entre motivos morais e alusões vagamente eugênicas; idêntica a hostilidade contra tudo aquilo que