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Cultural Rota Rupestre valoriza a bioeconomia no arqueoturismo

Vocação para o arqueoturismo

Região norte do estado pode se tornar referência no turismo arqueológico

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Texto: Tathiane Panziera, com colaboração de Christiane Reis Fotos: Acervo Museu de Arqueologia da UFMS

Abiodiversidade de Mato Grosso do Sul atrai o olhar de pesquisadores, interessados em saber mais sobre o ecossistema ou a relação que os dos moradores têm com as regiões. Mas, como um jovem estado que é, Mato Grosso do Sul possui ainda outros destinos que tem atraído essa mesma atenção dos pesquisadores.

Um exemplo, é a região norte, contemplada pelo Programa Institucional “Rota Rupestre UFMS: inovações e tecnologias sociais, a bioeconomia na perspectiva do arqueoturismo”, iniciativa, que cria um novo olhar para a região e com isso, novos caminhos para o desenvolvimento dos municípios que abrigam sítios arqueológicos em Mato Grosso do Sul.

A Rota Rupestre vai passar por municípios como Alcinópolis, Corguinho, Rio Negro, Rio Verde, Chapadão do Sul, Jaraguari, Figueirão, Alcinópolis, Paraíso das Águas, Sonora, São Gabriel do Oeste e Coxim, cidades com alta concentração de sítios com arte rupestre e potencial para produtos que ativem a bioeconomia local. Agregando história, arqueologia, paleontologia, botânica, química, engenharias e as riquezas oferecidas pela vegetação nativa do Cerrado tudo isso

em localidades, com forte apelo também para o turismo de contemplação.

A Rota Rupestre, em desenvolvimento por aqui, tem inspiração em projetos que aplicam o turismo arqueológico em diferentes regiões do Brasil, como por exemplo, a Chapada Diamantina na Bahia, a Ilha do Campeche, em Santa Catarina ou a Serra da Capivara, no Piauí. Entre os desafios propostos pelo Programa está criar essa rota com potencial turístico com objetivo de fortalecer a bioeconomia local.

A iniciativa reúne pelo menos 25 pesquisadores da UFMS e de instituições parceiras do Programa, que iniciaram as pesquisas em agosto do ano passado e tem previsão de ser implantada em cinco anos. Os estudos estão divididos em seis eixos, sendo arqueologia; paleontologia; botânico; químico-farmacêutico; alimentos e cerâmico. Além das novas descobertas, eles contam com o que já foi levantado há pelo menos 30 anos por outros pesquisadores da instituição.

Segundo a coordenadora do Programa Rota Rupestre, Lia Brambilla Gasques, a Rota Rupestre tem apoio da cátedra da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) Fronteiras e Migrações, sediada na Universidade Federal de Santa Maria. Ela destaca que a iniciativa trará benefícios em diferentes aspectos para a comunidade. “Este projeto tem por objetivo fazer com que o arqueoturismo, por meio das pinturas rupestres, seja reconhecido como um processo participativo entre os diversos municípios de Mato Grosso do Sul, em uma transmissão de conhecimentos arqueológicos da pré-história regional, ressaltando ao mesmo tempo: a preservação do patrimônio cultural; a bioeconomia e a educação patrimonial e ambiental.

Segundo o coordenador do programa e professor do Instituto de Química da UFMS, Ivo Leite Filho. “No momento que se tem serviços diferenciados para uma população que queira conhecer as diversas cavernas, com pinturas rupestres, então, a cidade terá de se preparar com melhor qualidade de comida usando produtos da região, para trabalhar com extratos colhidos, sejam eles sementes, herbáceas ou frutas. É mexer em uma cadeia produtiva, transformando um potencial de mais de 12 mil anos, no caso das pinturas rupestres, ou o ‘Mar Devoniano’ de mais de 350 milhões de anos, em produtos que podem ser a cerâmica, uma camiseta, ou um suvenir. A ideia é que quem visite o estado tenha um olhar para todas as regiões.”

Equipe de pesquisadores no sítio arqueológico de Alcinópolis Arqueologia e desenvolvimento

Para ser considerado um destino do Arqueoturismo, um elemento essencial é o patrimônio arqueológico que deve ser integrante do Patrimônio Cultural, um conjunto de bens culturais de valor reconhecido para um determinado grupo ou para toda a humanidade.

Segundo dados do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, em 2021, o potencial arqueológico de Mato Grosso do Sul, somava 743 sítios arqueológicos, 80 deles possuem

Base de Estudos do PANTANAL

A vegetação da região é influenciada por três biomas: Cerrado, Chaco Boliviano-Paraguaio e Floresta Amazônica, havendo ainda a presença da Caatinga. As espécies são múltiplas e a biodiversidade imensa, com grupos representativos como a avifauna, onde se destacam aves como o tuiuiú, símbolo do Pantanal. A biodiversidade do Pantanal representa também potencial para novos usos farmacêuticos e alimentícios. Por isso, a conservação da região tem sido a palavra-chave dos ambientalistas e pesquisadores, que querem entender a complexidade de seus ecossistemas para obterem instrumentos capazes de dimensionar até onde se pode interferir nesses ambientes.

Cheias e Secas

Todos os anos, de novembro a março, o Pantanal vive o período das cheias. A vegetação muda segundo o tipo de solo e de inundação. Com as cheias, as depressões são inundadas formando extensos lagos, denominados Baías, de extrema beleza e que apresentam diferentes cores em suas águas, criando matizes de verde, amarelo, azul, vermelho ou preto. Com ambientes diferenciados física, biológica e geologicamente no Pantanal configuram-se microbacias constituídas por vários sistemas de drenagem, formando, na verdade, vários pantanais dentro do que se denomina Pantanal. As águas, que têm origem nas chuvas ocorridas no planalto e em precipitações localizadas na planície, aliadas à baixa declividade, adquirem uma dinâmica que as faz demorar meses para escoar. Já na planície, o clima é semi-árido, comparável ao da Caatinga, onde a evaporação é intensa. Quando tem início o período das chuvas nas cabeceiras dos rios que abastecem o Pantanal, é verão. Nessa época, o Pantanal está baixo, ou na seca, como dizem os seus habitantes. Toda essa água, que vem descendo vagarosamente até atingir os rios da planície, demora meses para fazer seu percurso. Geralmente, o pico da cheia do Pantanal, na região de Corumbá, por exemplo, acontece em junho, para começar a diminuir e atingir o extremo da baixa das águas em novembro e dezembro.

Foto: ???

Produtos alimentícios que têm como base os frutos regionais também integram a Rota Rupestre

registros rupestres. Essas informações subsidiam o desenvolvimento do trabalho da Rota Rupestre e potencial para as fases seguintes do Pantanal e da Bacia do Paraná.

Nesse primeiro momento, os pesquisadores desenvolvem os trabalhos com foco localidades que têm alta concentração de sítios com arte rupestre – formada por registros de gravuras e pinturas nas paredes de grutas, abrigos ou cavernas que possibilitam aos pesquisadores e, eventualmente turistas, um vislumbre do mundo ideológico e imaginário dos povos originários, os caçadores e coletores, que estiveram por aqui há milhões e milhões de anos. De agosto do ano passado até agora, os pesquisadores já conseguiram obter dados para melhor direcionamento das ações. “Os resultados obtidos até agora demonstram que já temos bem claro vários produtos”, diz Ivo. Ele aponta que no eixo da arqueologia, o grupo identifica e traz das comunidades e dos municípios as informações, em alguns como Alcinópolis. “A equipe da arqueologia pretende fazer algumas escavações, bem como uma rota chamada expedição ao Cerrado Rota Pantanal/ Rota Rupestre”.

No eixo da paleontologia, segundo o coordenador administrativo, a equipe já demonstra que o material encontrado é consistente e vai contribuir no esclarecimento diversos aspectos. Segundo ele, no caso do eixo cerâmico, a equipe já começou a manter contato com potenciais parcerias e está estudando de forma que esse tipo de tecnologia ou transferência de tecnologia vai ser possível.

O eixo da botânica já tem catálogo de publicações que faz exatamente a catalogação de plantas e que vem trabalha com o eixo do alimento ou do agro extrativismo. “Nós vamos começar a ter o mapeamento de quais são esses produtores locais, se são de assentamentos, agricultura familiar, que trabalham com produtos pertencentes, em grande parte, ao Cerrado/Pantanal, como a Guavira, na produção de bombons, picolés e cheese cakes. Assim como o Jatobá para a produção de biscoitos. O Jatobá e a Guavira já mostraram ser importantes também do ponto de vista de agro extrativismo dessa região”, explica.

No eixo de alimentos coordenado pela professora da Faculdade de Ciências Farmacêuticas Alimentos e Nutrição, Raquel Pires Campos, estão sendo desenvolvidos alimentos tendo como base frutos naturais da região entre eles a bocaiuva, jatobá, pequi. “A ideia é fazer uma linha de produtos direcionados para a Rota Rupestre, que tenham novos sabores e apoiado na socio-biodiversidade, com coloração naturais e quase caracterizando como alimento funcional. Como por exemplo, balas a base de proteínas e mucilagens usando bocaiuva. Ou o pequi de coloração amarela e o jatobá associado com urucum coloração vermelha e o laranja da bocaiuva que

Foto: Tânia Gimenez

A guavira é utilizada elaboração de produtos

estão sendo utilizados para desenvolver panificados, biscoitos todos usando esses frutos com diferentes colorações e com formatos da geobiodiversidade que seria formato tanto de tuiuiú, lagarto que são encontrados no local”, exemplifica.

A professora destaca ainda que as pesquisas criam novas possibilidades para a agroindústrias que produzem farinha de bocaiuva, farinha jatobá, baru torrado geleia de Guavira produtos importantes para estimular toda cadeia produtiva da região. Aliás, a Guavira, fruta nativa brasileira, comum na região do cerrado e rica em vitamina C é visto tanto pela professora Raquel quanto pelos demais pesquisadores com potencial para desenvolver produtos da Rota Rupestre.

Vem do fruto, um resultado prévio do programa que, segundo Lia Brambilla, chamou a atenção dos pesquisadores por possuir uma fragrância surpreendente. “A equipe do eixo química-farmacêutica já começou a fazer no laboratório toda a parte de extração da nossa matéria-prima mais charmosa, mais sul-mato-grossense – a Guavira. E está conseguindo despertar uma fragrância com jeito de Mato Grosso do Sul e sabor impressionante”.

A essência de Mato Grosso do Sul

Óleos essenciais conferem as plantas uma característica fundamental, o aroma, e por sua vez são explorados como aromatizantes, pelo forte apelo olfativo que remetem a sensações, lembranças e por isso são usuais no marketing natural. Além disso, são utilizados em conservantes e artigos farmacêuticos.

A professora do Instituto de Química da UFMS Nídia Cristiane Yoshida que está à frente do eixo químico farmacêutico dentro do programa Rota Rupestre explica que a intenção de trabalhar com óleos essenciais estava incluída desde o início. Ela integra também a equipe do Laboratório de Pesquisa em Produtos Naturais Bioativos, o PRONABio do Instituto de Química pioneiro no estudo de produtos naturais da nossa flora.

“Os óleos essenciais são uma temática que vem há anos sendo estudada pelo grupo. A partir dessas pesquisas nós estamos descobrindo óleos essenciais extraídos de plantas e de resíduos da agroindústria como nova fonte de essências a serem utilizadas na formulação de produtos originais a partir dos nossos biomas”, ressalta. Ainda segundo Yoshida, um dos caminhos para dinamizar a economia local consiste no fornecimento de produtos gerados através de estudos e apoio científico-acadêmico.

A pesquisa no eixo química-farmacêutica tem início com a seleção e coleta do material vegetal que é encaminhado para a identificação da planta, realizada pelo eixo da botânica. Em seguida, diferentes plantas passam por processos para a extração dos óleos essenciais. Segundo a professora, os próximos passos [da pesquisa] consistem em mapear espécies ou materiais que apresentem características mais promissoras para obtenção dos óleos essenciais e produzir fichas técnicas sobre suas características químicas, biológicas e organolépticas tudo isso visando o aproveitamento das essências par formulação de novos produtos com marca regional.

Top 10: mercado da ovinocultura cresce no Mato Grosso do Sul

Desenvolvimento do setor de ovinos está relacionado com a criação de sistemas de produção adaptados ao Cerrado

Texto: Thalia Zortéa Fotos: Arquivo Pesquisadores

Osetor da ovinocultura encontra-se em expansão no Mato Grosso do Sul. Em 2017, estávamos entre os dez estados brasileiros com maior efetivo ovino, segundo o Censo Agropecuário. Entre 2020 e 2021, o abate de ovinos cresceu mais de 46% no estado, levando-o a ocupar a segunda posição no ranking nacional, de acordo com o levantamento do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Ainda em 2020, o rebanho de ovinos de Mato Grosso do Sul era composto por 412.551 cabeças, distribuídas em 7.801 propriedades, com maior número de animais localizados em Corumbá, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

Este crescimento deve-se, principalmente, ao investimento em tecnologias e à união entre a iniciativa privada, federações, Sistema S, e instituições de ensino, pesquisa e extensão para produção e comercialização da carne de cordeiro em grande escala. De acordo com o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural Mato Grosso do Sul, a profissionalização dos ovinocultores melhora o manejo e bem-estar dos animais, fator principal

Livro Viva Ovinocultura produzido pela Editora UFMS

para a comercialização de mais de 1,7 mil ovinos e caprinos, com receita de 778 mil reais em 2021.

Para além da comercialização da carne de cordeiro, com o aumento do interesse do produtor e o crescente número de técnicos especializados no nosso estado, as áreas de produção de lã e leite ovino estão em pleno desenvolvimento, de acordo com a professora Camila Celeste Brandão Ferreira Ítavo, coordenadora do Grupo de Estudos em Ovinocultura da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e bolsista produtividade em pesquisa pelo CNPq. “Apesar da forte concorrência com os lácteos dos rebanhos bovinos e bubalinos, os produtos oriundos do leite de ovelha, como queijo, iogurte e requeijão, apresentam um grande valor agregado devido às suas características nutricionais, sendo, neste caso, uma grande oportunidade de geração de renda ao produtor rural”, enfatiza.

O grupo é uma das iniciativas que têm contribuído para o desenvolvimento do produtor rural por meio de atividades de ensino, pesquisa e extensão que envolvem a participação de técnicos, professores e estudantes de graduação e pós-graduação da UFMS. “O GEO já tem mais de 13 anos de atuação e, além de ser capaz de atender a demanda dos produtores rurais, formou extensionistas especializados na utilização de técnicas adequadas para a produção de carne ovina dentro de um projeto com um sistema produtivo sustentável e rentável adequado ao bioma Cerrado”, explica.

Em 2019, o grupo lançou o livro “Viva Ovinocultura”, apresentando os resultados das pesquisas realizadas na UFMS, direcionadas aos produtores de ovinos. O material foi produzido pela Editora UFMS, com recursos do edital da Fundação de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, Ciência e Tecnologia do Estado de Mato Grosso do Sul (Fundect-MS). Ao todo, são 30 autores, entre pesquisadores e estudantes da UFMS e de outras instituições.

Publicação internacional

A UFMS possui na Fazenda Escola, na cidade de Terenos, o setor de Ovinocultura, onde são desenvolvidas ações de ensino, extensão e pesquisa. As pesquisas são direcionadas para formação do pacote tecnológico, para produção de ovinos no cerrado.

A iniciativa gerou frutos para a comunidade universitária e para o grupo de produtores rurais que se beneficiaram dos resultados das pesquisas desenvolvidas. “Tivemos produções e publicações de artigos científicos em revistas internacionais de grande impacto.”, pontua a professora. As publicações, veiculadas na PlosOne, na Tropical Animal Health and Production e na Food Science and Technology, discutem, entre outros assuntos: a comparação de métodos analíticos para o perfil de ácidos graxos no leite; os efeitos da suplementação na produção e antecipação da idade ao primeiro acasalamento de ovelhas em pastagens tropicais; e a capacidade da fonte lipídica em modificar o perfil de ácidos graxos saturados e insaturados da carne de cordeiros. É a ciência contribuindo para o desenvolvimento do estado e do país.

Quem também segue no ramo da pesquisa e se inspira nas produções com veiculação internacional são os estudantes do 7º semestre do curso de Zootecnia e os bolsistas de iniciação científica que participam do grupo de estudos. Bruno do Prado Silva desenvolve o projeto “Influência da suplementação materna nas características de carcaça e qualidade da carne de cordeiros Texel”, sob orientação da professora Camila Ítavo, com o objetivo de analisar como a dieta fornecida para as matrizes afeta o nascimento, a taxa de sobrevivência, o peso no desmame e a maciez da carne dos cordeiros. Importado da Holanda, a raça Texel foi introduzida no país

na década de 1970 e ocupa uma posição de destaque devido à aptidão para produção de carne magra, à lã de boa qualidade, à alta fertilidade e à adaptação em vários tipos de solo. Já a aluna Isabela Toledo Yafusso investiga o polimorfismo do gene Calpastatina (CAST) associado às características de carcaça em raças ovinas adaptadas ao Cerrado brasileiro. O gene é responsável pela maciez da carne de ovinos e tem potencial para identificação e seleção da qualidade da carne.

Extensão

Com o projeto de extensão Viva Ovinocultura, existente há 13 anos, mais de 1000 pequenos e médios produtores já foram atendidos de forma multidisciplinar, com propósito de aumentar os índices produtivos e econômicos da comunidade regional e suprir a demanda de mão de obra especializada. Ao todo, mais de cem estudantes dos cursos de graduação em Medicina Veterinária e Zootecnia, de mestrado e doutorado e de escolas agrícolas do ensino médio já passaram pela ação e foram treinados dentro da área, abrangendo desde o manejo de animais até a elaboração de projetos de implantação de ovinocultura. “O Viva Ovinocultura tem condições de formar futuros extensionistas na utilização de técnicas adequadas na criação de ovinos e na elaboração de um sistema produtivo sustentável e rentável, buscando proporcionar a transferência do conhecimento e práticas à sociedade, com consequente fortalecimento do setor”, relata a professora a Camila Ítavo.

Os estudantes aprendem atividades como tosquia, casqueamento, pesagem dos animais, aplicação de vacinas e vermífugos e realização de curativos na Fazenda Escola, em Terenos. A coordenadora do projeto acredita que a difusão de técnicas, vivência e conhecimentos gerados faz com que, enquanto futuros egressos, os acadêmicos se tornem multiplicadores do Viva Ovinocultura e compreendam sua função e responsabilidade social no ensino superior.

Já com o Viva Ovinocultura Mulher, projeto voltado especificamente para o público feminino oriundo de comunidades rurais, cerca de 105 mulheres foram capacitadas. Os treinamentos abordaram conceitos aplicáveis à criação de ovinos no cerrado para obtenção de desenvolvimento sustentável da cadeia produtiva da ovinocultura no estado. “O projeto contribuiu para inserção socioprofissional das mulheres visto que grande parte das participantes criavam ovinos apenas para consumo próprio de forma empírica sem obter retorno financeiro e hoje entendem a criação como uma alternativa de renda”, complementa a professora Camila.

Com a parceria de entidades como a Associação Sul-Mato-Grossense de Criadores de Ovinos, a Câmara Setorial da Ovinocultura de Mato Grosso do Sul, a Embrapa Gado de Corte e a Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural, as mulheres também participaram de oficinas de artesanato, onde puderam aprender sobre a transformação da lã em produtos artesanais, como o baixeiro, colchonilo e a manta. A produtora rural Nair Aparecida Ferreira Barbosa, moradora do Assentamento Estrela, em Jaraguari, foi uma das beneficiadas pelo projeto de extensão. “Até então, a gente não tinha tido conhecimento de um curso sobre o manejo, que é muito importante”. Ela possui 25 cabeças e conta que levantou às três horas “para tratar todos os animais, deixar eles bem, para poder estar aqui, participando. Tenho certeza que, agora sim, vou saber como fazer o manejo correto”, garante.

Da esquerda para direita, Kedma, Bruna de Sá, Gabriela Aquino e Mariana Bonin na Fazenda Escola

A professora Camila Ítavo, responsável pela iniciativa, ainda ressalta que o projeto de extensão também buscou garantir a participação das mulheres com filhos. “Foi preparada uma sala de acolhimento para as crianças de 3 a 10 anos com jogos educativos, jogos de montar, quebra-cabeças, blocos de formas, possibilitando a participação das mães nos cursos com maior tranquilidade”, afirma.

Contribuições

Para Kedma Leonora Silva Monteiro Ferelli, zootecnista, mestre e doutora em Ciência Animal pela UFMS, o investimento em pesquisa e o crescimento da ovinocultura estão associados aos resultados vistos no mercado de ovinos atualmente. “As pesquisas que estão sendo realizadas na UFMS estão diretamente ligadas ao mercado, porque nós vemos e testamos as condições que precisamos sanar, principalmente em relação à nutrição e à sanidade do animal, esse sistema adaptado às condições do Mato Grosso do Sul”, complementa. “Eu vejo que muito do que é aplicado a campo veio das pesquisas que são realizadas em nosso setor, que sempre trabalhou em parceria com outras instituições como a Embrapa. Nossas linhas de pesquisa sempre foram linkadas para oferecer um retorno melhor para a sociedade, que investe essa nossa formação”.

A história dela com a ovinocultura teve início em maio de 2013, quando começou a participar do Setor de Ovinocultura na Fazenda Escola da UFMS. Ao longo da pós-graduação, Kedma Ferelli desenvolveu pesquisas sobre a produção de ovinos de corte para o segmento de leite, atuou no projeto de extensão Viva Ovinocultura Mulher e integrou o GEO. Em parceria com a médica veterinária Mariana Bonin, também mestre em Ciência Animal pela UFMS, abriu, em 2020, a sua própria empresa, 100% feminina, direcionada à assistência técnica e gerencial da ovino e caprinocultura. “O Grupo de Estudos em Ovinocultura mudou minha vida, porque eu aprendi a realizar as práticas de campo vivendo o dia a dia dentro da Universidade Federal. Se não fosse por essa capacitação que eu tive e pelos ensinamentos que eu adquiri na Universidade, tanto eu quanto a minha sócia, não teríamos tanta propriedade para poder trabalhar em vários cenários e sistemas distintos de produção”.

É a formação profissional dedicada à solução de desafios e ao fortalecimento da produção na ovinocultura.

Kedma acompanhou o crescimento do setor na Fazenda Escola

O sistema de produção de ovinos é adaptado ao Cerrado

A produção de leite tem agregado valor para a Ovinocultura

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