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Entrevista Copa Energia e UFMS desenvolvem pesquisas com GLP
from Revista Candil n.11
by Agecom UFMS
Entrevista
Texto: Rose Pinheiro Fotos: Arquivo Copa Energia
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Graduado em Gestão e Planejamento de Marketing e Vendas, Antonio Carlos Moreira Turqueto é CEO da Copa Energia, empresa detentora das marcas Copagaz, Liquigás e Purogas. Ingressou na Copagaz em 1977, como gerente do Departamento de Obras e Engenharia. Entre 1990 e 2017 ocupou o cargo de vice-presidente do Grupo Zahran, formado pela Copagaz Distribuidora de Gás S/A e a Rede Mato-grossense de Comunicação, afiliada à Rede Globo. Em 2018, assumiu a Presidência do Grupo Zahran. Nesta entrevista exclusiva, ele fala sobre os projetos em desenvolvimento com a UFMS e sobre a utilização do GLP para a expansão do agronegócio, os desafios e o potencial energético para o país.
Antes de falar sobre o uso do GLP, gostaria de saber um pouco mais sobre a trajetória da Copagaz, que surge em 1955 como a primeira empresa do grupo Zahran, aqui em Campo Grande (MS), e se transforma numa gigante nacional no setor de energia. A máxima de que estar fora do eixo Rio-SP não valeu para essa empresa?
A questão geográfica da empresa teve sim um momento importante, no início de sua existência. Campo Grande, no então Mato Grosso único, era uma referência histórica para a família Zahran e, por isso, foi marcante na decisão da escolha do local de atuação. De uma forma direta, isso acabou sendo uma vantagem estratégica para a Copagaz, pois a distância dos grandes centros urbanos e a densidade populacional não tornava atrativa a operação na região para as
empresas já estabelecidas no eixo Rio-São Paulo. Atuar de maneira individual nesse mercado permitiu que a Copagaz adquirisse experiência, podendo ajustar seu aprendizado na prática diária, muito embora já tivesse, simultaneamente, iniciado suas operações em São Paulo.
Por que surgiu a necessidade da Copa Energia? Uma empresa que reúne as duas marcas Copagaz e Liquigás, com 25% da distribuição de Gás Liquefeito de Petróleo (GLP) do Brasil, operações em 24 estados e Distrito Federal e cerca de 90 mil colaboradores diretos e indiretos?
A Copa Energia congrega abaixo de si as duas empresas, Copagaz e Liquigás, sendo que cada uma destas marcas com elevada relevância de mercado em situações distintas no Brasil. Por exemplo, a Copagaz era líder inconteste no mercado do Centro-Oeste, enquanto que a Liquigás era líder no Sudeste do país. Com a aquisição da Liquigás pela Copagaz, em dezembro de 2020, sentimos a necessidade de criar uma empresa única, fruto da nossa incessante busca por inovar de forma sustentável. Uma empresa capaz de traduzir a nossa aspiração, que é liderar as mudanças da matriz energética do Brasil para o mundo, a partir de soluções sustentáveis, confiáveis e que tragam resultados sólidos. Contudo, abrir mão da relevância que as marcas Copagaz e Liquigás possuem no mercado não fazia sentido, por isso, criamos esta grande empresa, que acolhe as duas marcas entre outras.
A Copa Energia representa 25% da distribuição de GLP, com a união da Copagaz e Liquigás Desde quando o GLP tem sido utilizado como uma alternativa energética?
Na Copa Energia, o GLP vem sendo utilizado como fonte energética alternativa, em caráter excepcional, em estudos acadêmicos. Como exemplo, de maio a setembro de 2020, durante o período mais grave de enfrentamento à pandemia covid-19, quando foram instalados quatro contêineres com energia elétrica e água aquecida no estacionamento do Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian (Humap, abastecidos por geradores movidos a
“As parcerias com as universidades são GLP. Podemos dizer que essenciais para a evolução tecnológica e é uma solução viável a troca de conhecimento. Sendo esta, a para abastecer o mercado brasileiro, uma segunda colaboração que oficializamos vez que hoje ele é imeste ano com instituições acadêmicas e portado dos nossos países vizinhos? Quais a terceira com a UFMS em três anos” são as suas principais
vantagens?
Sim. O GLP possui uma grande viabilidade energética no mercado brasileiro, uma vez que ele já possui grande capilaridade no país, conseguindo também ser abastecido e transportado para locais remotos e de difícil acesso, onde outras fontes energéticas não chegam. Além disso, o GLP não necessita de grande infraestrutura para ser operacionalizado.

em uma condição de retorno à normalidade, restabelecendo as atividades de rotina, sem descuidar das pessoas.
Segundo dados divulgados pela ANP, as vendas de GLP, em 2020, cresceram 3,01% em relação ao ano anterior, somando 13,60 bilhões de litros. O aumento também pode ser explicado pela pandemia, uma vez que, como a maior parte da população passou mais tempo em casa, houve maior procura pelo produto. Como a pandemia afetou os negócios da Copa Energia?
Realmente, houve uma elevação de consumo neste período mais crítico da pandemia. A população reclusa passou a preparar suas refeições em casa e isso impactou no crescimento de consumo do botijão P13 (uso doméstico) em detrimento ao mercado do industrial, que são tanques de maior tamanho e/ou centrais de GLP voltadas ao abastecimento empresarial. O setor industrial/empresarial, inclusive, ficou muito afetado com o fato das pessoas estarem mais recolhidas durante a pandemia. A companhia, por trabalhar com um produto essencial, manteve suas frotas nas ruas e suas as unidades operacionais em franca atividade: focamos no cuidado de nossas equipes mantendo plantões de colaboradores da área de Qualidade, Segurança, Meio Ambiente e Saúde (QSMS) e toda a alta direção da empresa acompanhou em detalhes os cuidados e necessidades demandadas pelas equipes. Tivemos uma elevação de custos operacionais, originados por estes cuidados e manutenção de acompanhamento médico de todos os funcionários e, como todo o país, estamos hoje
Em relação aos projetos desenvolvidos com a UFMS, a primeira proposta inovadora foi em 2020, durante o período pandêmico, quando foram instalados contêineres de GLP para procedimentos de higienização e desinfecção no HosContêineres no Humap-UFMS/Ebserh ampliaram a área de assepsia para funcionários pital Universitário Maria Aparecida Pedrossian. Qual o interesse da Copa Energia em se aproximar da Universidade e financiar esse tipo de projeto?
Os projetos com a universidade são extremamente importantes. São bases e referência de laboratório experimental, cujos resultados das análises nos permitem avaliar o uso do GLP em seus aspectos técnicos, econômicos, de segurança e ambiental, identificando as vantagens de utilização do insumo frente a outras fontes energéticas, como energia elétrica, gasolina e óleo diesel. Outro vetor importante também para Copa Energia, é o desenvolvimento humano, acadêmico e a capacitação técnica dos estudantes para inseri-los em nosso setor.
Que outros exemplos de projetos a Copa Energia realiza com instituições de ensino no Brasil?
Recentemente, assinamos um acordo de cooperação com a Universidade de São Paulo (USP) para desenvolvermos um estudo de viabilidade de produção do BioGLP no Brasil, um combustível gasoso, que pode ser obtido a partir do tratamento do lixo, do bagaço da cana-de-açúcar e/ou do óleo vegetal. Este projeto estratégico ocorrerá nos próximos quatro anos. O BioGLP é uma nova fonte de energia sustentável, que usualmente possui as mesmas características de desempenho do GLP de origem fóssil, porém com uma redução da pegada de carbono que pode chegar até a 80%. Este

projeto, por exemplo, direciona a Copa Energia para os novos rumos, em termos de desenvolvimento tecnológico e de sustentabilidade.
Recentemente, a Copa Energia e a UFMS firmaram novos acordos de cooperação, com investimentos de até R$ 2 milhões, para o desenvolvimento do agronegócio, no setor de piscicultura, e para o abastecimento energético da instituição. Por que esses acordos foram selecionados e entraram no planejamento estratégico da companhia?
As parcerias com as universidades são essenciais para a evolução tecnológica e a troca de conhecimento. Sendo esta, a segunda colaboração que oficializamos este ano com instituições acadêmicas e a terceira com a UFMS em três anos. A intenção é que a prática se torne cada vez mais corriqueira na empresa. Necessitamos dos pesquisadores para aperfeiçoar as técnicas e criar soluções, em contrapartida, as instituições necessitam de subsídio para desenvolver e aplicar seus projetos. A expectativa e conhecimento já temos. Agora, o que precisamos, é substanciar isso de forma acadêmica para ter o selo de competência e competitividade que a própria universidade dá ao processo. A nossa expectativa é que superemos as barreiras, que hoje existem com limitações legais de restrições de usos que não têm mais o menor sentido. Isso só conseguiremos comprovar quando tivermos projetos como esses, dentro do nosso planejamento estratégico. No momento em que colocamos vetores tão importantes, quanto à indústria e o meio acadêmico, apontamos o destino do futuro. É dos mantos das universidades que saem as inteligências que vão gerir este futuro. Então, temos o propósito muito firme de trabalhar junto com a
“Imagine uma energia limpa, com UFMS e todo o meio esta portabilidade e estes benefícios acadêmico. ambientais: que cenário futuro Em termos de desennão podemos vislumbrar” volvimento do agro-
negócio, considerando a vocação do nosso Mato Grosso do Sul, há perspectivas de utilização do GLP em larga escala? Qual o potencial técnico e mercadológico para o fornecimento do GLP como fonte de energia para o produtor, já que a região Centro-Oeste é a segunda menor do país em consumo de GLP?
No mercado mundial, conseguimos identificar inúmeros processos que comprovam a utilização do GLP como energético em práticas que vão além das já utilizadas no dia a dia. Nosso agronegócio possui uma grande dificuldade no recebimento de energia, pois grande parte dos produtores estão distantes dos grandes centros. Isso gera um grande impacto tecnológico para o setor, uma vez que as tecnologias atuais do agronegócio demandam a utilização de energia para uma produção eficiente e de boa qualidade. O GLP está disponível mesmo nas áreas mais remotas, melhorando a vida de milhões de pessoas em todo o mundo e
Foto: Osni MIranda
Na UFMS, um dos projetos é o uso do GLP na geração de energia para produção de peixes

proporcionando um impulso ao desenvolvimento No Brasil, a presença do GLP é superior à rede global. Como relativamente poucas áreas rurais de esgotos, de energia elétrica e da água encanaou remotas podem se beneficiar de outras fontes da, segundo o SINDIGÁS. O GLP é a fonte de de energéticas, o GLP energia com maior é uma fonte de energia penetração nacioideal para essas áreas, seja como fonte primária “O Brasil é um país continental, o GLP de nal, atingindo 95% do território nacioou em combinação com fato tem uma penetração relevante no nal. Como garantir energia renovável. O GLP também é cada vez cotidiano do povo brasileiro, maior que a qualidade e a inovação de um produto mais usado para geração saneamento, luz e isto nos imputa uma imprescindível para de energia em grande ou pequena escala. maior responsabilidade e torna mais a comunidade brasileira e ainda investir complexo e necessário servir bem” em outros segmentos
Temos exemplos do uso desse mercado tão do GLP em outros paí- competitivo?
ses? Em que segmentos ou cadeias produtivas? O Brasil é um país continental, o GLP de fato Há pesquisas que comprovam seus benefícios? tem uma penetração relevante no cotidiano do
Existem mais de mil maneiras de usar o GLP. povo brasileiro, maior que saneamento, luz e isto Centenas de milhões de pessoas, atualmente, usam nos imputa uma maior responsabilidade e torna GLP em uma variedade de suas funções e depen- mais complexo e necessário servir bem. Nosso dem dele para milhares de aplicações, em negó- setor demonstra sua enorme eficiência quando cios comerciais, indústria, transporte, agricultura, entrega um botijão a cada 5 segundos nos lares geração de energia, culinária, aquecimento e para brasileiros, somos os precursores do maior e mais fins recreativos. Como exemplo: ar condicionado, eficiente sistema de delivery do país. Isso demancombustível automotivo, combustível de aviação, da muito investimento em logística, segurança, lavagem de carros, limpeza, produção e enrique- treinamento e visão de futuro: se queremos ser os cimento de CO2, cura de concreto, resfriamento, maiores, não podemos deixar de pensar em sergerenciamento de emergências e desastres, com- mos os melhores. Quanto a outros investimentos, bustível de motor, dispersão de neblina, controle de diria que isto é fruto de nosso DNA herdado da insetos, pássaros e roedores, irrigação, serviços de história do fundador da companhia, Ueze Elias lavanderia, iluminação, GLP como matéria-prima Zahran, que sempre acreditou neste país e suas química, combustível para transporte marítimo, energia móvel e geração de eletricidade, controle de pragas, geração de vapor, gestão de resíduos, controle de ervas daninhas, entre outros. Os benefícios e pesquisas podem ser encontrados de forma fácil, em associações globais que atuam com o energético. Exemplo: WLPGA, AIGLP, Sindigás, NPGA, European LPG Congress, Foto: Mylena Rocha LPG WEEK, e etc. O acordo foi assinado com o reitor Marcelo Turine no final de abril na Sala de Atos da Reitoria

oportunidades. Voltando à primeira questão, foi aqui que nasceu esta crença no futuro, que seria da empresa se tivéssemos nos assossegados aos limites puramente geográficos naquela ocasião?
Apesar de todo esse crescimento nos últimos anos, a demanda de GLP representa apenas 5,4% da matriz energética brasileira, sendo que 80% deste volume é consumido por residências, que em sua grande maioria utilizam essa fonte energética para cocção de alimentos. Quais são as tendências e perspectivas de futuro para esse consumo?
De fato, existe uma discrepância nesta questão e aqui reside uma distorção histórica, originada pela 1ª Guerra do Golfo, no início da década de 1990, quando o Brasil tinha uma dependência de importação do GLP na casa de 32% de seu consumo. Foram criadas normas restritivas para o uso de GLP quase que exclusivamente para cocção alimentar e poucos e quase insignificantes potenciais de outros usos como, por exemplo, geração de energia. Como sempre, para cada problema complexo se criam soluções simplistas e que, invariavelmente, são erradas. Passados 30 anos, ainda se mantem a restrição por conta de percentuais de importação
em torno de 27% da demanda local e, devido a isso, mantem-se as restrições de uso. Vejamos o gás natural (GN) tem 52% de sua demanda de origem importada e não tem nenhuma restrição de uso. O botijão de GLP é o maior pacote energético que existe: eficiente, impacto ambiental muito baixo e contribui com o meio ambiente, já que um botijão P13 equivale a queima de 10 árvores adultas (que deixam de O setor de GLP entrega um botijão a cada 5 segundos nos lares brasileiros em todo o país ser incineradas). Agora, a possibilidade de outros usos abre um potencial de demanda crescente e que, analisando comparativamente, só no agronegócio americano se consome mais GLP que toda a cadeia de consumo industrial do Brasil, isto levando em conta que o consumo doméstico está na média de 74% do total do consumo nacional. Imagine uma energia limpa, com esta portabilidade e estes benefícios ambientais: que cenário futuro não podemos vislumbrar!
O que podemos esperar em termos de pesquisas acadêmicas relacionadas ao uso do GLP para o desenvolvimento de Mato Grosso do Sul e do país?
Com as pesquisas “Com as pesquisas acadêmicas, queremos acadêmicas, queremos identificar como o identificar como o agronegócio pode agronegócio pode ser ser beneficiado com a introdução de beneficiado com a introdução de mais posmais possibilidades na escolha de seus sibilidades na escolha insumos energéticos, contribuindo para de seus insumos enera melhoria na eficiência, no desempenho géticos, contribuindo para a melhoria na e na competitividade do negócio” eficiência, no desempenho e na competitividade do negócio. Além de o GLP apresentar economicidade superior à gasolina para geração de energia, ele também leva grande vantagem no que tange aos impactos ambientais, pois apresenta níveis de emissão de CO2 significativamente inferiores.

