Macaco Galego.Terra da Gente.Gambarini

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Viver de perto

T E R R A D A G E N T E | fa u n a bra s i l ei ra

Ter alma de andarilho e crenças ambientalistas, sempre proporciona ótimas experiências. Documentar o trabalho de Marcelo Marcelino e sua equipe foi como uma viagem no tempo: ver o passado em surreais pinturas de aventureiros, o presente na redescoberta de uma espécie esquecida nas sombras da floresta, o futuro em forma de esperança, refletido no dócil olhar de Maria. Entendi o ‘andar no escuro’ dos pesquisadores, comprovei os ‘causos’ populares, ao registrar um filhote comendo um pedaço de cana ‘roubada’ do sítio vizinho, no alto de uma árvore! Desde o primeiro clique do topete dourado do macaco-galego há três anos, entrei num caminho sem volta, aquele onde entendemos a necessidade do envolvimento, o valor da verdade. Agradeço a todos pelo privilégio. E assim como uma fotografia se recria aos olhos de cada leitor, a proteção à biodiversidade brasileira pode ser recriada na mudança de atitude de cada um de nós.

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Contudo, pelo fato de C. libidinosus ocorrer na Caatinga, há uma imprecisão de onde termina a ocorrência de uma espécie e onde começa a outra. A dúvida deverá ser sanada pelo biólogo Thiago Silva, cujo projeto de pesquisa é detalhar os contornos a oeste da distribuição de C. flavius, e apontar, inclusive, a eventual existência de zonas de hibridização, ou seja, áreas onde as duas espécies se encontram e se reproduzem, gerando filhotes híbridos. Até agora, a equipe de especialistas já percorreu cerca de 6.100 km, só no Rio Grande do Norte e na Paraíba, tendo detectado mais de 20 áreas de possível ocorrência em 63 municípios, seja pelas informações obtidas em entrevistas, seja por registro visual

São poucas as

matinhas

onde o

macaco-galego tem abrigo desses primatas. A partir do mapeamento será possível inferir, mesmo que aproximadamente, o número de indivíduos na natureza e assim planejar ações de conservação. Segundo Marcelo Marcelino, até agora foram confirmadas apenas 8 localidades com ocorrência de macaco-galego. A estimativa é de algo em torno de 200 indivíduos em vida livre. Isso coloca

a espécie num estado extremamente crítico de conservação. Num dos maiores fragmentos de floresta da Paraíba, a Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Gargaú, em parceria com outros pesquisadores, o biólogo Marcos de S. Fialho procura estimar as populações de C. flavius por meio de um sofisticado censo, com apoio de softwares avançados de avaliação. Por enquanto, porém, ele chegou a um número nada promissor: 0,3 bandos a cada 100 km percorridos. De acordo com Fialho, um dos maiores problemas atuais é a caça de macacos-galegos para abastecer o tráfico de animais. A constância com que eles aparecem nos centros de animais apreendidos, inclusive em cidades como Petrolina (PE), totalmente


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