Carta Pastoral 2015/2016 - Diocese de Viana do Castelo

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✤ SEDE MISERICORDIOSOS ✤

“Tal amor — escreveu S. João Paulo II — torna-se notório especialmente no contacto com o sofrimento, a injustiça, a pobreza, no contacto com a «condição humana» histórica, que de vários modos manifesta as limitações e a fragilidade, tanto físicas como morais, do homem. Precisamente o modo e o âmbito em que se manifesta o amor são chamados na linguagem bíblica «misericórdia».”6 E se o amor faz parte da essência de Deus, também se pode dizer, com S. Tomás de Aquino, que “é próprio de Deus usar de misericórdia e é, sobretudo nisto, que se manifesta a sua omnipotência.”7 06 A própria terminologia o exprime, sobretudo aquela em que entram órgãos vitais. É o caso de “misericórdia”: remete-nos para o “coração” (cor, em latim), visto como a parte mais íntima do nosso ser, berço dos sentimentos, das emoções, do afecto, da coragem, do amor; e, na concepção bíblica, sede também das faculdades intelectuais e volitivas. É tudo isso, todo esse centro vital, que sofre e reage perante a “miséria” dos outros. “Que é a misericórdia — pergunta S. Agostinho — senão uma compaixão do nosso coração perante a miséria de outro, que nos leva a socorrê-lo, se pudermos?”8 O grego bíblico, nomeadamente do Novo Testamento, vai mais longe, ao alargar a sede dessa compaixão a todas as “entranhas”. Assim acontece no Benedictus de Zacarias: Graças às entranhas de misericórdia do nosso Deus é que Ele nos salva, pela remissão dos pecados (Lc 1, 78). E S. Paulo exorta-nos, como eleitos de Deus, santos e amados, a revestir-nos igualmente de entranhas de misericórdia (Col 3, 12). Daí o comentário do Papa Francisco: “É verdadeiramente caso para dizer que se trata de um amor «visceral». Provém do íntimo como um sentimento profundo, natural, feito de ternura e compaixão, de indulgência e perdão.”9

6.  Em: Rico em Misericórdia, n. 3. 7.  Citação do Papa Francisco em: A Alegria do Evangelho, n. 37, e O Rosto da Misericórdia, n. 6. 8.  Em: De Civitate Dei, IX, 5. 9.  Em: O Rosto da Misericórdia, n. 6.

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