Revista Conceitos | nº 19 | Dezembro 2013

Page 32

Visuais, que privilegiam, na maioria das vezes, os meios tradicionais em detrimento do ensino das novas tecnologias. Os conteúdos trabalhados em muitas disciplinas teóricas e práticas não ultrapassam a produção visual da década de 1980. Por esse motivo, temos uma febre de projetos de ensino de Artes Visuais focados na produção modernista da arte brasileira. Ainda vivemos uma Tarsilite1 aguda. Em exposições da produção de alunos da Educação Infantil ao Ensino Médio, ainda vemos séries de abaporus2, de bandeirinhas volpianas3, os clássicos girassóis e/ou o quarto de Van Gogh4. Nada contra o uso de conteúdos ligados à arte pós-impressionista e moderna, o grande problema é que muitos trabalhos são apresentados como contemporâneos, mas utilizam uma concepção moderna de arte, com recursos das novas tecnologias, como a manipulação de imagens no computador ou em rede, trabalhos que privilegiam a forma em detrimento do conceito. A Arte acompanha a tecnologia ao longo da história e sempre esteve à frente de novas descobertas e possibilidades. Tal como a Arte, o ensino deve utilizar a mediação tecnológica como veículo para a criação. A maioria dos professores ainda usa em suas aulas como tecnologia o mimeógrafo a óleo ou a álcool, o projetor de slides, o retroprojetor, o episcópio e a copiadora como meros recursos auxiliares do trabalho burocrático da secretaria da escola e não percebe o potencial educativo das novas tecnologias da informação e comunicação. Outro problema que tenho encontrado nas escolas é a falta de compreensão e de apoio das coordenações pedagógicas e da direção, no que diz respeito à autorização do uso desses recursos por parte do professor para as atividades pedagógicas, o qual, muitas vezes, sequer chega a manipular os equipamentos, que são utilizados de forma restrita por funcionários das escolas. A biblioteca é outro problema encontrado no contexto escolar, porquanto, não raras vezes, o acesso ao acervo é restrito ao bibliotecário ou ao funcionário. O final da década de 1980 e início dos anos

1990 foi o auge do uso do vídeo na escola, no Brasil, com a criação do Projeto TV Escola. A maioria das escolas de todo o país receberam antenas parabólicas, vídeos e kits de fitas para gravar a programação da TV Escola, com excelentes programas sobre arte e outras áreas do conhecimento. Cabia à escola gravar os conteúdos e utilizá-los em sala de aula. Esse serviço era disponibilizado gratuitamente em algumas capitais para os professores cadastrados. O uso do vídeo (imagem móvel) foi um fator preponderante para a divulgação, a implantação e a popularização da proposta triangular de ensino de Arte em todo o país, base para a ampliação do Projeto Arte na Escola, a partir da pesquisa do grupo do Rio Grande do Sul (PILLAR e VIEIRA, 1999). Existe hoje uma geração de professores que fizeram toda a formação inicial aprendendo a trabalhar com imagem móvel e fixa, a partir da leitura de imagens. O que mudou com o uso da imagem nas aulas de Artes Visuais não foi apenas a tecnologia aplicada, mas também a concepção de recurso e de arte inserida no processo. Nas últimas décadas, vivemos uma revolução mais acentuada, com o aprimoramento dos meios eletrônicos digitais - TV, DVD, MP3 a MP7, celular androide, GPS, notebook, netbook, datashow, câmera digital, filmadora digital, projetores digitais, etc. - e o acesso a eles, que são recursos amplamente utilizados pelos jovens e pelos artistas contemporâneos. Projetos de inclusão digital são alardeados em todos os recantos do país, com apoio governamental e do terceiro setor. A maioria das escolas públicas já conta com, pelos menos, um pequeno laboratório de informática, quase todos subutilizados e/ou sucateados, já que a tecnologia evolui rapidamente, e a reposição de máquinas e a atualização dos equipamentos não acompanham o ritmo dessas inovações. Além disso, os educadores não estão preparados para usar esses recursos. Tenho me deparado com professores que resistem em levar os alunos para o laboratório da escola, porque temem que danifiquem as máquinas e que as despesas com os reparos fiquem a seu encargo.

2. Tarsilite é um termo empregado para se referir à influência da obra da artista Tarsila (1886 - 1973) do Amaral e ao uso de referências visuais associadas as suas obras nas escolas brasileiras em todos os níveis de ensino. 3. Abaporu (1928) – óleo sobre tela - é considerada a obra-prima da artista Tarsila do Amaral da fase antropofágica do modernismo brasileiro, adquirida pelo colecionador argentino Eduardo Constantini, em 1995, por US$ 1,5 milhões. 4. Alfredo Volpi (1896 – 1988): artista brasileiro modernista, pintor ítalo-brasileiro, famoso pelo uso da têmpera sobre tela, associada às formas das bandeirinhas e dos casarios estilizados. 5. Vincent Van Gogh (1853 – 1890): pintor holandês do pós-impressionismo, conhecido em todo o mundo devido a sua trágica história de vida e à qualidade dos seus trabalhos. É considerado um dos mais talentosos artistas de todos os tempos. 34

Conceitos - N. 19, Vol. 2 (Dez. 2013)

ADUFPB - Seção SIndical do ANDES-SN


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.