Cadernos da Liberdade - Sergio Augusto de Avellar Coutinho

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Sergio Augusto de AveIlar Coutinho =======

====== Cadernos da Liberdade ======

duto no mundo. Até lá, uma fonte de energia alternativa

pela escassez de água que já começa a se antecipar pelo

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provavelmente já estará em uso. Outro recurso natural que tem sido apontado como motivo de "cobiça" é o que passou a s e chamar

biodiversidade. A expressão foi inventada para indicar justamente o conjunto dos recursos da flora e da fauna amazônica

(i). Na realidade, a variedade de espécies

animais e, principalmente, de espécies vegetais é assom­ brosamente rica na região, mas o seu valor econômico é pequeno. Tirando os produtos extrativos (castanha, es­

crescente consumo nos países do Primeiro Mundo. Deste modo a Amazônia seria, a curto prazo, o grande manancial da humanidade, foco da "cobiça" dos países ricos, particularmente da América do Norte, Euro­ pa e Extremo-Oriente. A afirmação é uma simplificação semelhante àquela que os ambientalistas diziam e as personalidades estrangeiras repetiam: "a Amazônia é o pulmão do mundo". A bacia hidrográfica amazônica cons­ titui realmente uma grande disponibilidade de água doce. Porém, as maiores reservas do líquido estão bem espa­

sências, frutas, fibras, etc) só podemos apontar como de

lhadas pelo planeta, nas calotas polares, nas geleiras das

valor comercial a madeira de lei e a borracha, esta já sem

montanhas e cordilheiras e na precipitação da neve nos

grande expressão. A exploração ilegal e predatória da

países frios. Dois exemplos ilustrativos: O Canadá retira

madeira e o seu descaminho para compradores no exte­

água doce das geleiras e até cogitou de exportá-Ia para a

rior é uma prática duplamente criminosa, infelizmente motivada pela "cobiça" de brasileiros. A flora medicinal é apontada como uma riqueza cobiçável. Realmente há uma grande potencialidade para a pesquisa e identificação de princípios ativos importan­ tes. Entretanto, este valor só existe para quem tem capa­ cidade de pesquisar, identificar e, principalmente, de sin­ tetizar a droga em laboratório. A "biopirataria" é um es­

Califórnia; na Serra da Estrela em Portugal há barragens (muros de pequena altura) ao longo de sucessivas cur­ vas de nível das encostas para deter a neve, capitar a água do degelo e dirigi-Ia para as tubulações que a levam a uma usina hidrelétrica antes de ser distribuída para con­ sumo (I). Realmente a Amazônia possui riquezas naturais

cândalo mais pela falta de vigilância, incompetência, cor­

variadíssimas que podem sustentar seu próprio desen­

rupção e cobiça de pessoas inescrupulosas, do que pela

volvimento. Entretanto não possui nada tão extraordiná­

atividade dos coletores estrangeiros disfarçados de mis­

rio que possa ser causa de "cobiça" internacional e de

sionários, turistas, viajantes e amantes da natureza. A

uma conseqüente invasão militar.

pesquisa nacional independente ou mesmo associada a

Os recursos disponíveis não são negados aos

grandes laboratórios internacionais é algo mais racional

países interessados e têm sido exportados sem restrições,

do que acreditar na "sabedoria milenar dos pajés" ou con­

com vantagens recíprocas para os vendedores nacionais

tinuar a deblaterar a "cobiça" dos países ricos e imperia­

e compradores estrangeiros. O bom senso indica que não

listas (j). Ainda sobre interesses internacionais, recente­ mente tem sido apontada a vasta disponibilidade de água

há necessidade da conquista física das fontes produto­ ras para se obter os bens desejados.

É uma questão de

investimento e de comércio, contratos livremente negoci­

potável dos rios da Bacia Amazônica. Os recursos hídricos,

ados, como tem sido há mais de 200 anos. Por isto, não

como se diz, vão se tornando cada vez mais importantes

parece provável uma guerra de conquista desencadeada

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