4 minute read

Aqueduto das Nove Janelas | Ponta Delgada

Na Ilha de S. Miguel, enquadrado na bonita paisagem açoriana, surge um curioso aqueduto construído em 1830 e destinado ao abastecimento de água à cidade de Ponta Delgada. Através do aproveitamento das nascentes da Lagoa do Canário e das Lagoas das Empadadas, a água proveniente destes mananciais era aduzida graviticamente, vencendo diversas barreiras orográficas, até chegar ao seu destino.

Com a entrada em funcionamento deste aqueduto assistiu-se ao rápido desenvolvimento urbano de Ponta Delgada, facto que contribuiu para a sua prosperidade económica, chegando a ser no século XIX, durante a sua época áurea, a terceira cidade mais importante de Portugal.

Advertisement

O troço mais emblemático deste aqueduto de basalto, que integra a arcaria de maior monumentalidade, é conhecido na região pelo “Muro das Nove Janelas”, em virtude dos seus nove arcos sobrepostos, cinco superiores e quatro inferiores, permitirem a sua travessia sobre um vale existente na Serra da Devassa.

Para além deste magnífico troço, considerado uma das mais belas construções hidráulicas micaelenses, existe um segundo de maior extensão designado por “ Muro do Carvão”, edificado com arcos de volta inteira suportado por contrafortes. Ambos os muros foram construídos com estas características de forma a resistir aos fortes ventos que, por vezes, se fazem sentir naquele lugar.

Em 1869 e sobre esta importante obra hidráulica, fazendo referência ao efeito dos ventos, o escritor Joaquim Cândido Abranches publicou no Álbum Micaelense: “No meio das serras, na que tem o nome de serra Devassa, por ser logradouro público, e quase junto à sua nascente, há uma série de arcos por cima dos quais passam as águas, tendo de distância em distância vigias. No começo destes há um elevado muro reconstruído em 1830, a que se dá o nome de muro das nove janelas, em razão de outras tantas aberturas em forma de pequenos arcos que tem; no meio há um grande servindo de base e dando escoamento às águas que da serra emanam; quatro outros pequenos ficam acima deste e em andar superior mais cinco nos intervalos dos quatro. Estes arcos ou janelas foram abertos para dar passagem ao vento que com fúria reina naqueles lugares, no Inverno.”

Embora desactivada, esta obra oitocentista apresenta-se como um importante testemunho na história do abastecimento à capital da ilha de S. Miguel, integrando actualmente diversos roteiros turísticos e percursos pedestres, sendo por isso um monumento de visita obrigatória e a preservar.

Bibliografia

BARBOSA, Ignacio de Vilhena. (1886). Monumentos de Portugal - Históricos, artísticos e archeológicos. Lisboa: Castro Irmão Editores. CABRAL, João. (1971). Arquivos de Serpa: Câmara Municipal de Serpa. CAETANO, Joaquim. (1991). Aquedutos em Portugal. Lisboa: Liber Lda / EPAL S. A. CASEIRO, Carlos, PENA, António, VITAL, Raul. (1999). Histórias e Outras Memórias do Aqueduto das Águas Livres. Lisboa: EPAL. CORREIA, Virgílio Hipólito. (2003). Conimbriga – guia das ruínas. Lisboa: Instituto Português de Museus. DIAS, Rodrigo A. R.. História e “Histórias” do Jardim Francês em Portugal ESPANCA, Túlio. (1944). A cidade de Évora, in «Boletim da Comissão Municipal de Turismo». FREITAS, Eugénio de Andrea da Cunha e. In separata do n.º 2 de «Vila do Conde». Barcelos: Tipografia «Vitória». GANDRA, Manuel. Monumento de Mafra de A a Z, 1º volume. Mafra: Câmara Municipal de Mafra, pág. 67 – 77. Hidráulica Monástica Medieval e Moderna. (1996). Lisboa: Fundação Oriente. MECO, José. (1982). O Palácio e a Quinta do Marquês, em Oeiras. Lisboa: Editorial Estampa, MOITA, Irisalva (dir.). (1990). D. João V e o Abastecimento de Água a Lisboa, vol. I e II. Lisboa: CML. MOURINHO, António Rodrigues. (1988). Abastecimento de água a Miranda do Douro, desde o século XVI aos nossos dias, in separata da revista Brigantia, pág. 47 – 93. NABAIS, António, PEREIRA, Mário, PINTO, Natália. (1991). Castelo de Elvas. Lisboa: Instituto Português do Património Cultural. Nos 350 Anos do Aqueduto da Amoreira. (1973). Elvas: Câmara Municipal de Elvas. Noticia acerca das Aguas que abastecem os Almoxarifados das Reaes Propriedades, quer próprias quer Nacionais no usufructo da Coroa. (1904). Lisboa, Typographia da “ A Editora”. PIMENTEL, António Filipe. (1992). Arquitectura e Poder: O Real Edifício de Mafra, in Instituto da História da Arte. Coimbra: Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. PINTO, Luís Leite. (1972). História do Abastecimento de Água a Lisboa. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda. Reforço do Caudal do Aqueduto. (1951). Évora: Câmara Municipal de Évora. SARAMAGO, Alfredo, VIEGAS, Mariana. (1999). Os Rostos e as vozes da Água. Lisboa: Assírio e Alvim. SILVA, Augusto Vieira da. O Arco e a Mãe D’Água da Amoreiras, in Separata do número Comemorativo da Exposição de Obras Públicas do Boletim da Comissão de Fiscalização da águas de Lisboa.

This article is from: