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Pela primeira vez em série histórica, café ultrapassa calçados em exportações

De acordo com o Departamento de Negócios Internacionais da ACIF, efeitos da pandemia, investimentos e alta safra contribuíram para o resultado

Um levantamento do IE-ACIF (Instituto de Economia da Associação do Comércio e Indústria de Franca) e do DNI-ACIF (Departamento de Negócios Internacionais da ACIF) mostrou que, pela primeira vez na série histórica do Ministério da Economia, iniciada em 1997, o calçado não foi o produto mais exportado pela cidade de Franca. Em 2020, o ranking de exportações locais foi liderado pelo café, sendo Itália e Alemanha os principais consumidores externos da bebida local.

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De acordo com a coordenadora do DNI-ACIF Suyara Águila, os efeitos negativos da pandemia para os Bens de Consumo, os positivos para Alimentos e Bebidas bem como a alta safra do café em 2020 e estratégias locais influenciaram a Balança Comercial da cidade, o que levou ao fato inédito. “Grandes players de café da cidade mudaram suas estratégias de comercialização concentrando em Franca os faturamentos para exportação que eram enviados a tradings de outras cidades”, afirma Águila. “Também é preciso considerar que 2020 foi um ano de safra alta, gerando maior oferta ao mercado, bem acima da vista em 2019. A pandemia, por sua vez, afetou o desempenho dos Bens de Consumo, onde o calçado está inserido. O Brasil, de modo geral, nunca exportou tão pouco calçado. A pandemia afetou o comércio físico no mundo todo e isso deve ser considerado. Por outro lado, Alimentos e Bebidas, onde se insere o café, apresentou grande crescimento. As pessoas, em casa, passaram a consumir mais destes itens”, diz a coordenadora, que ainda pondera. “Se não houvesse o fator pandemia, teríamos, sim, um aumento nas exportações de café em razão das mudanças em estratégias de mercado e da alta safra, mas não teria sido suficiente para superar o calçado se este não tivesse sofrido queda em seu setor.”

De acordo a Abicalçados (Associação Brasileira das Indústrias de Calçados), o ano de 2020 foi difícil para o setor calçadista brasileiro, que pode ter perdido 21,8% da sua produção em 2020, retornando a patamares de 16 anos atrás (dado oficial do IBGE será divulgado até o fim deste mês). Na exportação, a queda foi de 18,6%, pior número desde 1983. Em 2021, a estimativa é de incremento tanto em produção (+14,1%) quanto em exportação de calçados (+14,9%) brasileiros.

Enquanto isso, o café brasileiro bateu recorde de safra, chegando a 63 milhões de sacas. Os dados são da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) e leva em consideração sua série histórica iniciada em 2001, ano em que a safra correspondeu a 31,3 milhões de sacas.

Para o diretor secretário da Cocapec (Cooperativa de Cafeicultores e Agropecuaristas), Saulo de Carvalho Faleiros, o crescimento nas exportações de café está atrelado a um conjunto de fatores. “A nossa região é produtora de grande parte do café que é exportado e entre 2016 e 2017 fizemos mudanças estratégicas de acesso ao mercado externo que agora estão dando resultado, além disso, o câmbio favoreceu a decisão de venda, o que aumentou o volume de negócios em uma safra que já foi alta”. Faleiros ressaltou ainda na última década a produtividade de café na área de abrangência da cooperativa – a Cocapec responde por 15 municípios - cresceu 40%, enquanto que a área de produção aumentou mais de 50% no período. “É uma atividade que cresceu muito e a cooperativa ajuda na inclusão do pequeno e médio produtor. A expectativa é que as exportações devam se manter em alta, pois há capacidade de investimentos e expansão, está tendo muita sucessão familiar e melhora da gestão”.

Balança Comercial de Franca

Em 2020, a cidade de Franca exportou US$ 118 milhões, variação 13,5% menor em relação ao ano anterior, mas com superávit de US$ 104 milhões. Apesar da queda das exportações observadas no ano passado, a participação da cidade nas exportações do estado se manteve em 0,3%, o que indica uma queda geral em São Paulo como um todo.

O café representou 52% das exportações de Franca, em 2020, chegando a US$ 61,8 milhões. Seu crescimento foi de 45,5% em relação ao ano anterior. Se comparados os resultados de 2018 e 2019, o crescimento chega a 1.219%. Já o calçado correspondeu 29% das exportações de Franca, em 2020, chegando a US$ 35,2 milhões. Em relação a 2019, a queda foi de 49,2%. Os principais países importadores dos produtos locais são os Estados Unidos, que representa 21% das exportações totais da cidade, seguido por Itália (16%) e Alemanha (10%).