AcheiUSA 367

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edição de 23 a 29 de setembro de 2011 – número 367

ENTREVISTA

Tonia Elizabeth é jornalista e também locutora. Atuou como produtora de companhias de publicidade e canais de televisão a cabo e satélite. Foi “hostess” do programa “Entertainment Tonight” por dois anos, na versão brasileira. É também cantora de Brazilian Jazz e gravou e fez shows com artistas consagrados.

Ciro Batelli, o Mr. Las Vegas Este brasileiro descobriu ser possível viver de jogo e ao mesmo tempo ser muito prazeiroso e lucrativo Paulista de Ribeirão Preto, o empresário Ciro Batelli mora na ponte aérea Las Vegas/São Paulo hoje em dia. Isso depois de se aposentar do cargo de vice-presidente sênior da rede de hotéis-cassino Caesars Palace, onde atuou por 16 anos, tornando-se um profundo conhecedor do universo dos shows e espetáculos internacionais. Essa experiência deu a ele o título de “Mister Vegas”. Hoje, ele também é famoso por suas reportagens especiais para o programa do Fausto Silva, o “Domingão do Faustão”, aos domingos, na Rede Globo. Antes de sua carreira de sucesso nos Estados Unidos e sua vida na ponte aérea, o então advogado foi procurador do Estado, em São Paulo, por cerca de oito anos. E também chegou a advogar na área de Direito de Família, como voluntário na área pobre do Guarujá, no mesmo estado. Ele conta que sempre gostou de “passar as férias em Las Vegas, porque tem uma hotelaria bonita, shows baratos, e eu me apaixonei por essa cibernética, essa loucura aqui”. Numa dessas vezes, Ciro pediu uma licença do trabalho por um ano, sem remuneração, para fazer um curso de administração de hotéis e cassinos em Las Vegas, e viajou para lá com a família, “por hobby, sem objetivos profissionais”. Depois de estudar um ano na Universidade de Nevada, voltou ao Brasil e começou a questionar porque o jogo no Brasil não era legalizado: ”O jogo foi fechado no Brasil em 1946. Sempre achei que isso beneficiaria o turismo interno. Sempre questionei esse fechamento, que ocorreu por razões religiosas”. Segundo Ciro, a igreja que mais influenciou essa decisão, na época, foi a católica. “A esposa do presidente Dutra era muito carola, dona Carmela, e chegou a ter o apelido de dona Santinha e eles eram muito chegados ao bispo do Rio de Janeiro, Dom Jaime de Barros Câmara. “ Convite para trabalhar com o grupo Caesars Muitos anos se passaram e, ainda, sem nenhum plano profissional, por pura paixão, Ciro começou a convidar amigos a

Uma carreira sui generis. Ciro passou de procurador da Justiça para executivo de cassinos e chegou à repórter

Las Vegas, a ser abordado pela imprensa e a participar de discussões sobre a legalização do jogo no Brasil: ”Participei de uma semana de estudos sobre a legalização dos jogos e, como era estudioso da matéria, me saí muito bem. O auditório apoiou minha posição, aí o secretário de Turismo e hoteleiros brasileiros sugeriram que fosse criada uma comissão de luta pela legalização dos jogos e me aclamaram presidente.” Paralelamente, continuava trabalhando como procurador. “Eu fazia tudo com autorização do meu chefe. E houve muito movimento. A imprensa se interessou e foram realizadas muitas entrevistas, muito bate-papo, até que uma revista americana foi ao Brasil e me entrevistou também, a Game and Business. Comecei, então, a participar de congressos estaduais e, de três em três meses, fazia jornadas–sempre apoiado pelas prefeituras, por secretários de Turismo ou hoteleiros, para esclarecer a opinião pública de que o jogo bem fiscalizado, bem regulamentado, com rigor, poderia trazer muitos benefícios ao governo e ao turismo brasileiro. Não que isso fosse resolver o problema do turismo brasileiro, mas certamente seria uma máquina importante no lazer e turismo brasileiros. Isso era um sonho do setor hoteleiro brasi-

leiro, que continua até hoje.” Destino muda sua rota profissional Numa dessas jornadas, com apoio da Federação do Comércio do Estado de São Paulo, Ciro foi abordado por alguns representantes de um grupo de hotéis americano: o Caesars Holding Corporation que, na época, “era a maior empresa de hotéis-cassino dos Estados Unidos”. Na ocasião, ele foi convidado para representar a cadeia no Brasil. Ciro não aceitou a oferta, devido ao seu cargo público, mas continuou mantendo comunicação com o grupo e participando dos congressos sobre o jogo. De repente, um acidente do destino mudou o rumo da história. Informado sobre um concurso que lhe daria uma melhor posição a nível federal, benefícios e condições de trabalho resolveu prestar concurso para inspetor da Receita Federal. Ciro passou no concurso e ficou muito tempo esperando para ser chamado: ”Ficou no esquecimento como tantos outros concursos públicos que acontecem no Brasil”. Cerca de seis meses mais tarde, Ciro é informado pela Secretaria da Receita Federal, através de um telefonema que, na semana seguinte, deveria tomar posse do novo cargo e, para tanto, teria que estar já exonerado de seu posto no Estado.

Feliz, Ciro rapidamente tomou as providências para se desligar de seu cargo estadual. Tudo feito, Ciro se apresentou para a posse do seu posto de delegado da Receita Federal. Já no local, foi chamado por uma secretária: “Senhor Ciro, sentimos muito, mas há um problema, disse ela. Tremi, pois já estava desligado do meu posto anterior, com publicação no Diário Oficial e tudo mais. Ela explicou que haviam cometido um erro e não tinham prestado atenção à minha idade, que ultrapassava por um ano a idade máxima permitida por Lei para o referido cargo: 35 anos. Eu queria morrer! Perguntei se eles tinham idade da irresponsabilidade que haviam cometido mas nada pôde ser feito.” Desempregado, muito devoto de São Judas Tadeu, Ciro pensou que isso poderia ser um sinal de uma mudança boa em sua vida. Contatou o grupo do Caesars e decidiu aceitar a proposta que havia recebido, começando a trabalhar como representante do Ceasars no Brasil, em parceria com uma agência de turismo, para o apoio logístico. Após três anos no grupo, Ciro Batelli foi a Las Vegas e, num jantar com o presidente do Caesars, foi convidado para se mudar para os Estados Unidos com a família e assumir a gerência do grupo em Atlantic City, em New Jersey. Ciro atribui isso aos excelentes

resultados de sua atuação no Brasil e sua dedicação ao trabalho. Dois anos depois, o brasileiro assumiu a vice-presidência do Caesars em Atlantic City. Outros dois anos se passaram e Ciro passou então a ser o vicepresidente sênior do Caesars Palace em Las Vegas. Ciro chegou a abrir 27 escritórios do grupo por todo o mundo, da Austrália a Turquia. Ciro confessa que, na época da sua primeira promoção de gerente para diretor, alguns acharam que seu inglês era fraco para a posição que iria ocupar, então o presidente do grupo respondeu: “Com os números do Batelli, ele poderia até ser mudo”. Em 2001, Ciro recebeu uma proposta impossível de rejeitar de uma empresa concessionária de máquinas para cassinos, como caça-níqueis. Já pensando em se aposentar, foi trabalhar com a empresa e fez um projeto de expansão, como empresa fornecedora de equipamentos e operadora de cassinos nas áreas indígenas, como na Flórida. Nova atividade: repórter A carreira de repórter começou com o amigo Amaury Júnior, que vinha muito aos Estados Unidos. Ele sempre arrumava uma entrevista do Amaury com as celebridades que chegavam ao Caesars Palace. “Na base da brincadeira, eu acabava fazendo algumas matérias, quando ele não estava presente. Isso nunca criou nenhum conflito de interesse com a posição que eu ocupava. Mais tarde, ele me convidou para fazer produção de matérias internacionais. Hoje, trabalho com o Fausto Silva, que também é muito amigo meu. Cheguei a recebê-lo em Las Vegas, ainda no grupo Caesars. Há quatro anos, ele me convidou a participar do programa. Como já me dividia entre Las Vegas e São Paulo e tenho uma agência de turismo, aceitei o desafio”, contou Batelli. E suas matérias têm dado muito o que falar, principalmente a matéria num presídio do Arizona e a das “comidas exóticas” na China, onde Ciro comeu baratas na frente da câmera, entre outros quitutes: “Foi horrível. Os piores foram as baratas e pênis de touro. Se não comesse, não teria sentido a reportagem. O


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