Exceção 02

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MARISA LORENZONI

DJ Zé

“Muitos pensam que trabalhar aqui nos faça perder o respeito”

N

oite de quinta feira, 19h. Estacionamos o carro em um local discreto para não chamar a atenção, afinal não seria muito agradável ser vista entrando em uma casa de prostituição, especialmente a mais conhecida da cidade. Na portaria, um simpático senhor nos recebe desconfiado, mas logo abre um sorriso confirmando se éramos esperadas para permitir nossa entrada. Os passos trêmulos de mulheres desacompanhadas entrando em território proibido nos levam até um grande salão bem iluminado, com muitos espelhos, sofás e um bar que divide o ambiente. Portas enormes do outro lado do recinto indicam que existe muito mais espaço pela frente. Tudo limpo, organizado, parecendo até um ambiente familiar, não fossem pelos palcos e mastros espalhados pelo salão. No pátio interno, estátuas ornamentam o corredor que leva até um quiosque com churrasqueiras e outro bar. Árvores e diferentes flores emolduram a piscina, o aquário natural de

proporções gigantescas, com carpas chinesas e uma cascata artificial. No palco externo, as colunas gregas contrastam com a modernidade dos holofotes coloridos e do globo espelhado. A casa, que promete satisfazer os mais íntimos desejos masculinos, nos surpreendeu por sua beleza; à luz do dia, passaria tranquilamente por um clube social. Um local para ser curtido com a família. A maior casa de comércio do sexo é o sonho de noitada dos “festeiros” de plantão. Rapazes cheios de testosterona economizam dinheiro para pagar os R$ 30,00 reais cobrados apenas para entrar no local. A competição é grande quando lá se encontram muitos estrangeiros à procura de diversão na cidade e com os bolsos cheios de dinheiro para bancar a folia. Mas a engrenagem que faz a casa manter-se em funcionamento vai muito além das meninas e seus shows de strip-tease. Existem outras pessoas que fazem a parte de suporte, muitas vezes sem sequer serem vistas. São os anônimos da noite. Essas pessoas da retaguarda vivem ali experiências não tão distintas da realidade de outro trabalhador qualquer. E ficou claro ao conhecer


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