Identidades

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Viver, C O L E Ç Ã O

Aprender 9 Ensino Fundamental

o

ANO

Identidades Carolina Amaral de Aguiar • Claudio Bazzoni Dulce Satiko Onaga • Fábio Madeira Heloisa Cerri Ramos • José Carlos Fernandes Rodrigues Maria Amábile Mansutti • Maria Cecilia Guedes Condeixa Marina Marcos Valadão • Mirella Laruccia Cleto Roberto Giansanti • Rosane Acedo Vieira Sueli Aparecida Romaniw

EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

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Hino Nacional Letra: Joaquim Osório Duque Estrada Música: Francisco Manuel da Silva Ouviram do Ipiranga as margens plácidas

Deitado eternamente em berço esplêndido,

De um povo heroico o brado retumbante,

Ao som do mar e à luz do céu profundo,

E o sol da liberdade, em raios fúlgidos,

Fulguras, ó Brasil, florão da América,

Brilhou no céu da Pátria nesse instante.

Iluminado ao sol do Novo Mundo!

Se o penhor dessa igualdade

Do que a terra mais garrida

Conseguimos conquistar com braço forte,

Teus risonhos, lindos campos têm mais flores;

Em teu seio, ó liberdade,

“Nossos bosques têm mais vida”,

Desafia o nosso peito a própria morte!

“Nossa vida” no teu seio “mais amores”.

Ó Pátria amada,

Ó Pátria amada,

Idolatrada,

Idolatrada,

Salve! Salve!

Salve! Salve!

Brasil, um sonho intenso, um raio vívido

Brasil, de amor eterno seja símbolo

De amor e de esperança à terra desce,

O lábaro que ostentas estrelado,

Se em teu formoso céu, risonho e límpido,

E diga o verde-louro desta flâmula

A imagem do Cruzeiro resplandece.

– Paz no futuro e glória no passado.

Gigante pela própria natureza,

Mas, se ergues da justiça a clava forte,

És belo, és forte, impávido colosso,

Verás que um filho teu não foge à luta,

E o teu futuro espelha essa grandeza.

Nem teme, quem te adora, a própria morte.

Terra adorada,

Terra adorada

Entre outras mil,

Entre outras mil,

És tu, Brasil,

És tu, Brasil,

Ó Pátria amada!

Ó Pátria amada!

Dos filhos deste solo és mãe gentil,

Dos filhos deste solo és mãe gentil,

Pátria amada,

Pátria amada,

Brasil!

Brasil!

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Carolina Amaral de Aguiar

Doutora em História Social pela Universidade de São Paulo

Claudio Bazzoni

Licenciado em Letras e professor de Língua Portuguesa para a EJA

Dulce Satiko Onaga

Licenciada em Matemática e autora de livros didáticos para a disciplina

Fábio Fernandes Madeira Lourenço

Pós-doutor em Linguística Aplicada pela Universidade Estadual de Campinas

Heloisa Cerri Ramos

Licenciada em Letras e formadora de professores para a disciplina de Língua Portuguesa

José Carlos Fernandes Rodrigues

Licenciado em Matemática e mestre em Educação Matemática

Maria Amábile Mansutti

Licenciada em Pedagogia, autora de currículos e materiais didáticos de Matemática para o Ensino Fundamental

Maria Cecilia Guedes Condeixa

Licenciada em Biologia e consultora para o ensino de Ciências

Marina Marcos Valadão

Enfermeira, doutora em Saúde Pública pela Universidade de São Paulo

Mirella Laruccia Cleto

Licenciada em Letras e professora de Língua Portuguesa para o Ensino Médio

Roberto Giansanti

Licenciado em Geografia e autor de livros didáticos para a disciplina

Rosane Acedo Vieira

Licenciada em Arte, formadora de professores e autora de materiais didáticos para a disciplina

Sueli Aparecida Romaniw

Licenciada em Letras e professora de Língua Espanhola para Ensino Médio e Ensino Superior

2a edição, São Paulo, 2013


© Ação Educativa, 2013 2a edição, Global Editora, São Paulo 2013 Global Editora Diretor editorial Jefferson L. Alves Gerente editorial Dulce S. Seabra

Ação Educativa Diretoria Luciana Guimarães Maria Machado Malta Campos Orlando Joia

Gerente de produção Flávio Samuel

Coordenação geral Vera Masagão Ribeiro

Coordenadora editorial Sandra Regina Fernandes

Coordenação editorial Roberto Catelli Jr.

Edição e produção editorial Todotipo Editorial Assistente editorial Rubelita Pinheiro Revisão de texto Cassilda Guerra Danielle Mendes Sales Desirée Araujo S. Aguiar Enymilia Guimarães Hires Héglan Luciane Boito Mag Reim Marcos Santos Nair Hitomi Kayo Roberta Oliveira Stracieri Tereza Cristina Duarte Silva

Consultoria Denise Delegá (Língua Inglesa) Assistentes editoriais Dylan Frontana Fernanda Bottallo Estagiária em editoração Camila Cysneiros Apoio EED – Serviço de Igrejas Evangélicas na Alemanha para o Desenvolvimento

Pesquisa iconográfica Tempo Composto Ilustrações Caco Bressane Luis Moura Pingado Sociedade Ilustrativa Planeta Terra Design Cartografia Maps World Mario Yoshida Sonia Vaz Capa Eduardo Okuno Mauricio Negro Foto da capa Fabio Colombini (Vista aérea da tribo indígena Kalapalo, aldeia Aiha, no Parque Indígena do Xingu, MT, 2011) Projeto gráfico e editoração eletrônica Planeta Terra Design

Direitos Reservados Global Editora e Distribuidora Ltda.

Rua Pirapitingui, 111 – Liberdade CEP 01508‑020 – São Paulo – SP Tel.: (11) 3277‑7999 – Fax: (11) 3277‑8141 e-mail: global@globaleditora.com.br www.globaleditora.com.br

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CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ I22 2. ed. Identidades, 9º ano : ensino fundamental : educação de jovens e adultos/ Carolina Amaral de Aguiar ... [et al.]. - 2. ed. - São Paulo : Global, 2013. 432 p. : il. (Viver, aprender) Inclui bibliografia ISBN 978-85-260-1874-7 1. Educação - Estudo e ensino (Ensino fundamental) I. Aguiar, Carolina Amaral de. II. Série. 13-00373 CDD: 370 CDU: 37

Colabore com a produção científica e cultural. Proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem a autorização do editor. No de Catálogo: 3495

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Apresentação

E

sta obra é destinada a jovens e adultos que iniciam ou retomam seus estudos no segundo segmento do Ensino Fundamental. A elaboração da coleção parte do princípio de que a educação, além de um direito, é uma chave importante para o exercício da cidadania e para a plena participação na vida social. Dessa forma, a coleção tem o propósito de oferecer livros de qualidade, que atendam às necessidades específicas de aprendizagem de jovens e adultos. O livro compõe um conjunto de quatro volumes integrados, com propostas de leitura e escrita, conhecimentos matemáticos e científicos, além de temas relevantes da área de Ciências Humanas, que possibilitam uma melhor compreensão de aspectos da realidade brasileira e mundial. Como em toda obra didática, não temos a pretensão de esgotar conteúdos. Realizamos uma seleção de assuntos e conceitos que consideramos essenciais para jovens e adultos que buscam ampliar a sua formação acadêmica e prosseguir em seus estudos. As abordagens das diferentes áreas de conhecimento orientaram-se pelo respeito à dignidade humana, à igualdade de direitos, à participação e pela corresponsabilidade pela vida social. Estudar significa aprender em uma multiplicidade de sentidos: aprendemos conceitos básicos das diversas áreas do conhecimento, desenvolvemos habilidades e podemos nos tornar também mais competentes para refletir sobre o mundo que nos cerca, em seus muitos aspectos. Desejamos, assim, que esse material didático seja um meio para que jovens e adultos consigam maior qualificação escolar. Mas, além disso, criamos um material didático com a intenção de proporcionar um conhecimento significativo aos estudantes, que trazem para a sala de aula muitas vivências pessoais e profissionais. Os autores


Sumário UNIDADE 1 – LÍNGUA PORTUGUESA CAPÍTULO 1 – Tecendo o texto

9

CAPÍTULO 2 – Crônica: histórias do cotidiano

22

CAPÍTULO 3 – A arte de argumentar

39

CAPÍTULO 4 – A opinião (assumida) do jornal

59

BIBLIOGRAFIA

68

UNIDADE 2 – ARTE CAPÍTULO 1 – A natureza e suas múltiplas possibilidades

71

CAPÍTULO 2 – Existem limites para a arte?

91

BIBLIOGRAFIA

111

UNIDADE 3 – LÍNGUAS ESTRANGEIRAS MODERNAS CAPÍTULO 1 – Língua Inglesa – Brazil, Brazilian culture and people

115

CAPÍTULO 2 – Língua Inglesa – Brazil in figures: information from new agencies

125

CAPÍTULO 3 – Língua Espanhola – ¿Cuándo iremos a Cuba?

134

CAPÍTULO 4 – Língua Espanhola – ¿Dónde estabas quando te busqué?

147

BIBLIOGRAFIA

165

UNIDADE 4 – HISTÓRIA CAPÍTULO 1 – Conflitos pelo poder: o mundo em disputa

169

CAPÍTULO 2 – Ditadura e democracia no Brasill

186

CAPÍTULO 3 – Visões do Brasil contemporâneo: um olhar sobre a periferia

205

BIBLIOGRAFIA

222


UNIDADE 5 – GEOGRAFIA CAPÍTULO 1 – Globalização, territórios e redes geográficas

225

CAPÍTULO 2 – Conflitos e tensões no mundo atual: uma geografia

247

CAPÍTULO 3 – Paz e cooperação entre povos e países: uma governança global?

274

BIBLIOGRAFIA

297

UNIDADE 6 – CIÊNCIAS CAPÍTULO 1 – Os materiais e a Química

301

CAPÍTULO 2 – A energia em transformação

321

CAPÍTULO 3 – Saúde e qualidade de vida

338

BIBLIOGRAFIA

366

UNIDADE 7 – MATEMÁTICA CAPÍTULO 1 – Desde tempos remotos

371

CAPÍTULO 2 – Conexões matemáticas

384

CAPÍTULO 3 – Matemática nas finanças

400

CAPÍTULO 4 – Uma leitura por meio de tabelas e gráficos

412

BIBLIOGRAFIA

431



UNIDADE 1

Língua Portuguesa



Capítulo

1

PORTUGUÊS

Tecendo o texto

E

m volumes anteriores, tratamos do conceito de texto. Você leu que a palavra texto significa “aquilo que foi tecido”. E tecido, seja relacionado a pano, seja relacionado à linguagem, traz a ideia dos fios que foram entrelaçados e que criam um todo, uma unidade. O que garante essa unidade aos bons textos é a presença de coesão e coerência. Neste capítulo, você vai estudar como essas propriedades podem orientar nossa leitura e como é preciso proceder para que elas estejam presentes nos textos que escrevemos. RODA DE CONVERSA

Courtesy Sikkema Jenkins Co., NYC

Para começar, observe a imagem e responda às questões a seguir.

Detalhe da obra Soldadinho de brinquedo (série Mônadas). Impressão cromogênica de Vik Muniz, 90 × 72 cm, 2003.

1. Que elementos você identifica? 2. Você acha que a disposição das peças nessa imagem foi planejada?

9º ano

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Courtesy Sikkema Jenkins Co., NYC

3. Observe a imagem a seguir. Que figura você vê?

Soldadinho de brinquedo (série Mônadas). Impressão cromogênica de Vik Muniz, 90 × 72 cm, 2003.

Vik Muniz Juan Guerra/Agência Estado/AE

Vik Muniz (Vicente José de Oliveira Muniz) nasceu em 1961 na cidade de São Paulo. É fotógrafo, desenhista, pintor e gravador. Em 1988, começou a investigar a representação de imagens do mundo das artes por meio de técnicas variadas e inusitadas. Com chocolate líquido e lixo, por exemplo, ele compõe imagens em uma superfície e produz uma fotografia. Na Rio+20 ele criou uma imagem da Baía de Guanabara com o lixo trazido pela população. O documentário Lixo extraordinário, que concorreu ao Oscar de melhor documentário em 2011, mostra o aproveitamento de lixo para a produção de arte e como esse trabalho, que foi realizado no aterro sanitário Jardim Gramacho, no Rio de Janeiro, transformou a vida dos catadores.

4. Com que material essa obra foi construída? 5. Em sua opinião, o que foi necessário para que as peças resultassem na figura que você reconheceu? 6. Se a primeira imagem do capítulo fosse um texto verbal, as peças seriam equivalentes a quê?

PARA O TEXTO SER UM TEXTO: COESÃO E COERÊNCIA A unidade do texto, aquilo que permite que uma sequência de palavras ou frases seja chamada de texto, é a presença de determinadas características. Quais? Em primeiro lugar, deve haver afinidade entre as várias ideias que compõem o texto, e elas também devem estar dispostas em uma ordem lógica. Além disso, 10

Língua Portuguesa


na passagem de uma para outra, o leitor precisa perceber que existe uma relação entre elas, que elementos específicos de um trecho se ligam ao trecho seguinte. Mencionamos no início deste capítulo que a unidade do texto deve-se à existência de determinadas características. Essas características são a coesão e a coerência. O que significa quando alguém comenta, por exemplo, “Aquela equipe venceu porque é muito coesa” ou “Essa é uma classe coesa”? Certamente essa pessoa está fazendo referência à união que existe entre os membros da equipe e da classe. E, quando alguém diz “Fulano teve uma atitude incoerente” ou “Essa resposta não tem coerência”, provavelmente a pessoa agiu de um modo que não combina com sua forma habitual de agir, ou fez algo que contraria o que ela falou anteriormente; enfim, algo em sua atitude destoou. Com uma resposta sem coerência, acontece coisa semelhante, ou seja, alguma coisa não faz sentido. E no texto? O que essas duas palavras representam?

COESÃO Vamos analisar três trechos: 1. Visitei Belém do Pará recentemente. Nessa cidade é possível experimen-

tar alguns pratos com sabor bem diferente. 2. Descasque três batatas médias e cozinhe-as inteiras. 3. Fui ao baile. Não dancei. Meu pé doía.

Você já viu que coesão tem a ver com união. No trecho 1, há duas ideias bem ligadas. Primeiro, fala-se em Belém; depois, conta-se que em Belém há pratos com sabor diferente. Em vez de repetir a palavra “Belém”, o autor escolheu uma expressão substituta (“nessa cidade”), mas que retoma a ideia já citada. O mesmo acontece no trecho 2: o autor menciona “as batatas” e, em seguida, emprega o pronome “as” no lugar dessas palavras. Dessa forma, “cidade” e “as” são termos que contribuem para que, nos dois trechos, as ideias estejam bem relacionadas ou articuladas. No trecho 3, não há palavras que sejam responsáveis pela ligação das ideias, mas o leitor tem uma experiência sobre o conteúdo que está lendo: ele sabe que nos bailes em geral as pessoas dançam e que é difícil dançar com o pé machucado. Além disso, a ordem em que os acontecimentos estão escritos ajuda o leitor a ter uma noção clara do que o autor da fala quer comunicar. Portanto, podemos dizer que, apesar da ausência de algumas palavras, esse trecho apresenta coesão, isto é, há uma articulação entre as ideias. Se o autor do trecho 3 quisesse deixar mais clara para o leitor a relação que existe entre os três fatos, ele poderia escrever: “Fui ao baile, mas não dancei porque meu pé doía”. Dizemos nesse caso que a relação entre as ideias é explícita. O texto é ainda mais coeso. 9º ano

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COERÊNCIA Vamos analisar mais três trechos: 4. Choveu durante o tempo em que estivemos no parque. Voltamos verme-

lhos do sol. 5. Gosto muito de dançar, mas sempre que posso vou aos bailes. 6. O aluno esqueceu o livro. O livro trata do lixo. O lixo é um tema impor-

tante na atualidade. Os trechos acima provocam um estranhamento em quem os lê porque não fazem sentido, não têm nexo. No trecho 4, como entender que as pessoas tomaram sol se choveu? Essa situação faria sentido se houvesse uma explicação plausível. Por exemplo: “Choveu durante todo o tempo em que estivemos no parque, mas ficamos vermelhos do sol porque, durante o trajeto que fizemos a pé, na volta, o sol saiu”. No trecho 5, o problema de incoerência seria solucionado com a simples troca da palavra que está articulando as ideias. Verifique: “Gosto muito de dançar, portanto sempre que posso vou aos bailes”. Nesse caso, o novo termo selecionado para o encadeamento das ideias (“portanto”) tem coerência. A palavra “mas”, que é usada para quebrar expectativas, tornava a frase incoerente. O trecho 6 não permite uma correção simples. Falta unidade de sentido. Embora exista uma relação da primeira oração com a segunda e desta com a terceira, seu autor falou de aspectos que não conseguem, juntos, comunicar determinada ideia. A impressão a é de que está tudo “solto”.

RESUMINDO... A coerência tem a ver com o sentido, a lógica entre as ideias, e a coesão tem a ver com o modo como as partes do texto estão encadeadas. Na maioria das vezes, a coesão conta com elementos linguísticos (trechos 1 e 2). Em alguns casos, o elemento linguístico responsável pela coesão pode interferir na coerência (trecho 5). Quando o texto é coerente e coeso, as informações fluem durante a leitura, e o texto se mostra como uma unidade dotada de sentido. O mesmo vale para a escrita. Se seguirmos essas orientações ao escrever, nosso texto dará ao leitor todas as possibilidades de ser compreendido.

A COERÊNCIA E A COESÃO NA PRÁTICA Como tudo o que foi dito até aqui se concretiza? Podemos perceber esses aspectos de coesão e coerência analisando o texto “Os indesejáveis ratos”. Ele foi extraído de um livro que trata da questão do lixo em nosso planeta. Leia-o. 12

Língua Portuguesa


Os indesejáveis ratos No início deste século, as cidades de São Paulo e Rio de Janeiro fizeram uma campanha de saúde pública em que se ofereciam 100 réis por cada rato levado ao incinerador público. Nessa época, o lixo vivia espalhado por todo lado e esses animais proliferavam em abundância, transmitindo doenças à população. A campanha inicialmente foi um sucesso, mas algumas pessoas mal-intencionadas passaram a criar ratos para ganhar dinheiro! Até hoje, a quantidade de roedores dispersos no mundo todo é tão grande que a proporção chega ao alarmante número de três ratos para cada habitante. Durante a Idade Média, mais exatamente entre os anos de 1340 a 1360 d.C., cerca de um quarto da população europeia morreu em consequência da peste bubônica, também chamada de peste negra, transmitida pela pulga dos ratos. Naquela época, o lixo das casas era simplesmente jogado nas ruas, o que favorecia a proliferação de roedores, que circulavam por toda a cidade. Felizmente essa doença está erradicada, mas na Índia já surgiu um outro tipo de epidemia chamada peste pneumônica, muito grave, também causada pela pulga do rato. Provavelmente, a peste apareceu nas favelas de uma cidade chamada Surat, que disputa o título de ser a mais suja da Índia. No Brasil, esses animais são ainda responsáveis por diversas moléstias. A mais comum é a leptospirose, transmitida por bactérias que parasitam esses roedores, e que são eliminadas pela sua urina, contaminando o ambiente. Em épocas de enchente, o caminho por onde os ratos circulam é inundado pelas águas das chuvas, que espalham os germes, inclusive para dentro das casas. [...] RODRIGUES, Francisco Luiz; CAVINATTO, Vilma Maria. Lixo: de onde vem? Para onde vai? São Paulo: Moderna, 1997. p. 38.

Você compreendeu tudo que o autor do texto apresentou porque acompanhou o encadeamento das ideias, ou seja, você se beneficiou da estratégia de coesão que foi usada nesse texto. Outro fator que contribuiu para sua compreensão foi a estratégia de coerência que o autor usou. No texto, todas as ideias estão relacionadas e voltadas a um objetivo, que é o de mostrar as doenças causadas pelos ratos. Vamos primeiramente analisar a estratégia de coesão. Logo no princípio do texto, quando lê “No início deste século...”, o leitor é chamado a dialogar com o que está lendo. No início de qual século? “Este” é sempre o mês, a semana, o século em que estamos. Se levarmos em conta o momento da leitura, estamos no século XXI, que se iniciou em 2001. Foi nesse século que os autores escreveram? Na referência bibliográfica, que marca a primeira edição do livro, quer dizer, o ano da sua primeira publicação, a data é 1997, portanto século XX. Isso permite concluir que, quando lemos “No início deste século”, o texto refere-se ao século XX, começado em 1901. Há outro ponto: a moeda usada; fala-se em “100 réis”, e, no começo no século XXI, as transações comerciais são feitas em reais. Repare que foi necessário buscar fora do texto uma referência para a expressão “este século”. Ela poderia significar muitos momentos diferentes em outras

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ocorrências, mas significa apenas um no texto que estamos lendo. E é o próprio texto que nos aponta que momento é esse. Essa operação de estabelecer relações continua. Vamos examinar algumas passagens. • “Nessa época, o lixo vivia espalhado por todo lado e esses animais pro-

liferavam em abundância, transmitindo doenças à população.” Em que época o lixo vivia espalhado? De acordo com o que acabamos de ler, a época à qual o texto se refere é o início do século XX, e “esses animais” só pode ser uma alusão aos ratos. “Rato” e “animal” não são a mesma coisa; o segundo termo abrange muitas outras espécies, mas é importante perceber que, nesse texto, “animal” equivale a “rato”. É um termo que estabelece coesão, porque a expressão “esses animais” retoma uma ideia já citada. Ela evita a repetição desagradável da mesma palavra e obriga o leitor a executar uma operação: voltar ao que já leu. Quando tenta, com o auxílio do próprio texto, determinar de que animais se está falando, o leitor obrigatoriamente vai “tecendo” as partes do texto. Dessa forma, ele vai acompanhando a progressão das ideias. • “Até hoje, a quantidade de roedores dispersos no mundo todo é tão

grande [...].” Entre os roedores, estão as cotias, as capivaras... Mas é desses seres que o texto trata? Naturalmente o leitor pensa em um roedor específico: o rato. “Roedores” tem um papel coesivo no texto: liga as ideias e evita a repetição de palavras. • “A campanha inicialmente foi um sucesso [...].”

Que campanha?, perguntaria o leitor, se isso já não tivesse sido esclarecido anteriormente. Empregamos os artigos definidos (o, a, os e as) justamente para nos referir a ideias já apresentadas. Caso contrário, empregamos os indefinidos (um, uma, uns e umas). Por exemplo: “Na minha rua mora um menino... Um dia o menino encontrou...” Quando o leitor estabelece mentalmente uma relação entre “fizeram uma campanha de saúde pública” e “a campanha foi um sucesso”, vai “costurando” as ideias do texto. É a coesão em ação. • “Felizmente essa doença está erradicada, mas na Índia já surgiu um

outro tipo de epidemia [...].” Que doença é essa? O leitor sabe: é a peste bubônica, ou peste negra. Ele acabou de ler a informação no parágrafo anterior. Repare a pista que o texto fornece para o leitor continuar acompanhando a exposição: a peste negra está erradicada, mas surgiu outro tipo de epidemia. O lei14

Língua Portuguesa


tor já se prepara para o que vai ler; a informação que virá pode se referir a muitas doenças, menos à peste bubônica ou negra. Isso é indicado pela palavra “outro”. Essa palavra tem a função de excluir do conjunto o termo que já foi citado. Veja mais um exemplo: “O filho caçula ficou em casa; os outros seguiram junto com os avós” (fora o caçula, os demais filhos saíram). No trecho há outra palavra responsável pela coesão textual. É a palavra “epidemia”. Em vez de escrever “essa doença está erradicada, mas surgiu outro tipo de doença”, o autor escreve “essa doença está erradicada, mas surgiu outro tipo de epidemia”. Nem toda doença é uma epidemia; porém, no contexto desse texto, uma palavra substitui a outra. • “A mais comum é a leptospirose, transmitida por bactérias que parasi-

tam esses roedores, e que são eliminadas pela sua urina [...].” Sua? De quem? O leitor que vem acompanhando a progressão das ideias no texto sabe: dos roedores, que, no caso, são os ratos. Esse trecho também exemplifica mais uma estratégia que a língua oferece para a coesão do texto: a omissão de uma palavra. Isso quer dizer o seguinte: o autor oculta uma palavra quando é fácil saber o que estaria no lugar dela. Examine: “A mais comum é a leptospirose [...]”. Não é necessário repetir “a moléstia mais comum é a leptospirose”, pois, intuitivamente, o leitor “preenche o vazio” com informações coerentes colhidas no texto. E a vantagem é que, ao fazer isso, o leitor vai “costurando” as ideias. • “Naquela época, o lixo das casas era simplesmente jogado nas ruas, o

que favorecia a proliferação de roedores [...].” Repare a importância de estabelecer relação entre as ideias do texto. No primeiro parágrafo apareceu a expressão “nessa época”, que indicava “no começo do século XX”. No entanto, no trecho transcrito, a expressão “naquela época” indica outro momento. Como saber qual? É simples: basta levar em conta o que está escrito no parágrafo em que essa expressão aparece e avaliar se a ideia é coerente no conjunto do texto. A época mencionada dessa vez foi a Idade Média, precisamente entre 1340 e 1360. Muitas vezes, um texto não apresenta palavras difíceis, mas o leitor não o compreende porque não percebe as relações de coesão que certas palavras estabelecem e, dessa forma, não acompanha o desenrolar das ideias. Ao mesmo tempo que é preciso compreender o que o texto diz a fim de estabelecer essas relações, também é necessário estabelecer tais relações a fim de que se possa compreender o texto. Uma coisa leva à outra. Trata-se de um comportamento “de mão dupla”, que ajuda tanto na leitura quanto na redação. Além desse aspecto, ou seja, da retomada de ideias anteriores, a coesão também se manifesta de outra forma. Há palavras que marcam a relação que já existe 9º ano

15


entre duas ideias próximas. Esse segundo aspecto da coesão está associado à coerência entre as ideias, ou seja, ao nexo que existe entre elas. Vamos examinar em alguns exemplos como isso ocorre. • “Felizmente essa doença está erradicada, mas na Índia já surgiu um

outro tipo de epidemia [...].”

Existem acima duas ideias: 1) A doença foi erradicada; 2) Surgiu uma epidemia. Há uma oposição: o fim da doença versus a existência da doença. A palavra “mas” foi empregada para articular essas duas ideias porque “avisa” o leitor de que virá algo contrário ao que foi dito. Quando você lê “Ele chegou no horário, mas...”, já fica aguardando algo que se opõe a chegar no horário em um compromisso. Imagina logo que a pessoa não foi atendida, por exemplo. Examine como ficaria o trecho tirado do texto sem essa palavra: “Felizmente essa doença está erradicada. Na Índia já surgiu um outro tipo de epidemia”. Para o leitor, tudo fica mais claro se ele já for “avisado” de que em seguida virá uma ideia oposta. O que nos dá esse aviso é o conectivo, isto é, a palavra que une ideias estabelecendo entre elas determinada relação. No exemplo citado, o conectivo é o “mas”, que estabelece a relação de oposição entre ambas as ideias. Em resumo, existe um nexo entre as duas ideias, mas elas poderiam estar escritas sem um termo que tornasse esse nexo evidente. No entanto, o autor preferiu explicitar que relação havia e deixou o texto mais coeso, mais “amarrado”, já que as ideias estão bem ligadas por meio do “mas”. • “[...]algumas pessoas mal-intencionadas passaram a criar ratos para

ganhar dinheiro!”

A relação que existe entre as duas ideias acima é outra. Analise: 1) Algumas pessoas passaram a criar ratos; 2) Essas pessoas queriam ganhar dinheiro. A segunda ideia (ganhar dinheiro) é a finalidade da criação de ratos. Por isso, o autor empregou a palavra “para”, que indica a noção de objetivo, finalidade. Essa palavra deixa explícita uma relação que já existia. • “[...] surgiu um outro tipo de epidemia chamada peste pneumônica,

muito grave, também causada pela pulga do rato.”

Nesse trecho há ideias semelhantes; são duas as doenças transmitidas pela pulga do rato: a peste pneumônica e uma outra que já tinha sido mencionada. Por isso, empregou-se a palavra “também”, que soma, inclui. • “[...]cerca de um quarto da população europeia morreu em consequên-

cia da peste bubônica [...].”

Ocorreu no trecho uma relação muito comum entre duas ideias: a relação de causa/consequência. Relembre as duas ideias: 1) Morte de um quarto da população europeia; 2) Ocorrência da peste bubônica. A segunda ideia indica a razão pela qual a primeira ocorreu. Podemos afirmar também que a primeira ideia é consequência da segunda. A expressão 16

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responsável por deixar claro o vínculo de causa e conquência é “em consequência de”. A seguir, estão algumas relações que podem ocorrer entre as ideias de um texto e exemplos de expressões que podem indicá-las: Oposição: mas, porém, no entanto, entretanto, contudo, por outro lado, apesar de, embora... Adição: e, além disso... Finalidade: para, a fim de que, com o objetivo de... Causa: porque, pois, já que, devido a, em razão de, graças a, por causa de... Conclusão: portanto, então, dessa forma... Tempo: quando, antes que, depois que, assim que, sempre que, primeiramente, depois, em seguida...

É importante ressaltar que a coerência do texto não se manifesta apenas pela relação que existe entre as orações. É preciso também que os vários “blocos de ideia” do texto tenham uma relação lógica entre si, para que a passagem de uma parte para outra não comprometa a leitura. Observe como isso acontece no texto “Os indesejáveis ratos”. Todos os parágrafos estão escritos de modo a associar os ratos com a grande quantidade de lixo espalhado e com a existência de doenças graves provocadas por esses animais. Não se fala sobre outros aspectos relativos ao rato; não se apontam outras questões referentes ao lixo; não são citadas doenças que não tenham relação com esses dois elementos. Dessa forma, os blocos de ideia desse texto estão integrados.

APLICAR CONHECIMENTOS

1. Releia o último parágrafo do texto “Os indesejáveis ratos”. a) Que palavras retomam “ratos”? b) Que expressões diferentes das que foram usadas no texto poderiam ser empregadas para reto-

mar “ratos”? 2. Examine o trecho a seguir do texto “Os indesejáveis ratos”. Provavelmente, a peste apareceu nas favelas de uma cidade chamada Surat, que disputa o título de ser a * mais suja da Índia. a) Que palavra foi omitida no local onde aparece o símbolo *? b) Assinale o nome da doença a que a palavra peste se refere, nesse caso.

( (

) peste bubônica ) leptospirose

( (

) peste negra ) peste pneumônica

3. Leia o trecho a seguir de “Os indesejáveis ratos”. A campanha inicialmente foi um sucesso, mas algumas pessoas mal-intencionadas passaram a criar ratos para ganhar dinheiro! a) Nesse trecho, as ideias são articuladas pelo conectivo “mas”. Que relação esse conectivo anun-

cia? Que outro conectivo poderia ser usado para indicar a mesma relação?

9º ano

17


b) Leia outra versão para esse trecho. A campanha inicialmente foi um sucesso, mas fracassou. Algumas pessoas mal-intencionadas passaram a criar ratos para ganhar dinheiro.

Termine de reescrever a reformulação proposta, preenchendo as lacunas com uma expressão que torne as ideias ainda mais claras para o leitor. A campanha inicialmente foi um sucesso, mas, fracassou,

,

algumas pessoas mal-intencionadas passaram a

criar ratos para ganhar dinheiro. 4. Leia este trecho de “Os indesejáveis ratos”. Naquela época, o lixo das casas era simplesmente jogado nas ruas, o que favorecia a proliferação de roedores, que circulavam por toda a cidade. a) A expressão “o que” retoma algo dito antes. Qual é essa ideia anterior? b) Reescreva esse trecho, substituindo a expressão “o que” por “isso”. Faça as adaptações necessárias. 5. O trecho a seguir fala da descoberta de diamantes na atual cidade mineira de Diamantina, no

século XVIII. Leia-o para responder às questões. [...] Não se sabe ao certo quando e por quem foram descobertas as primeiras minas de diamantes no Brasil. Relatos esparsos sobre a existência desse mineral remontam à segunda metade do século XVI e é certo que, já no início do século XVIII, os diamantes eram extraídos às margens do Rio Tijuco [...]. Porém, apenas em 1729 sua existência foi oficializada pelo então governador da capitania de Minas Gerais, dom Lourenço de Almeida, que justificava a demora em noticiar as descobertas pela suposta incerteza quanto à qualidade e autenticidade das pedras. Na verdade, tal atraso deveu-se à lucrativa exploração clandestina estabelecida desde os primeiros achados, atividade que envolveu o próprio governador e ganhou notoriedade. A partir daí, tamanha foi a profusão dos diamantes que foram suspensas todas as minerações de ouro nas terras diamantinas. [...] SILVA, Ana Rosa Cloclet. “O tesouro de Minas”. Revista Carta Fundamental , n.º 36, mar./2012. p. 30.

a) No primeiro parágrafo, foram empregadas três palavras equivalentes a “diamante(s)”. Quais? b) Que ideias, nesse texto, são retomadas pelas expressões: • tal atraso? • a partir daí 6. Termine de escrever o parágrafo a seguir, preenchendo as lacunas com um conectivo coerente. Em algumas cidades, a prefeitura tem um programa de reciclagem de água. A água reciclada não é usada em residências para o consumo, ruas e apagar incêndios,

é imprópria

serve para regar jardins de praças, lavar economiza a água potável utilizada

nessas atividades. 7. Examine as ideias que seguem: • É difícil encontrar alguém que ignore que o hábito de fumar faz mal ao sistema respiratório e vascular. • A novidade é que o fumo pode estar correlacionado ao declínio da atividade cerebral. 18

Língua Portuguesa


a) Complete o trecho, preenchendo as lacunas com um conectivo coerente. É difícil encontrar alguém que ignore que o hábito de fumar faz mal ao sistema respiratório e vascular,

a novidade é que o fumo pode estar

correlacionado

ao declínio da atividade cerebral.

b) Os conectivos que você acrescentou tornam mais explícitas as relações entre as ideias. Que

noção eles reforçam? 8. Complete as frases com ideias que sejam coerentes com o que o conectivo “avisa” ao leitor. a) O rio da nossa cidade deve ser preservado limpo, porque b) O rio da nossa cidade deve ser preservado limpo, antes que c) O rio da nossa cidade deve ser preservado limpo, embora 9. Leia o trecho a seguir. O Brasil central foi fracamente povoado por mineradores e criadores de gado, desde o século XVIII. O povoamento efetivo do Brasil central iniciou-se apenas em meados do século XX e o povoamento efetivo do Brasil central ganhou forte impulso com a construção de Brasília. No Brasil central, a quantidade de pessoas, em geral, ainda é pequena. Os locais com maior número de pessoas revelam o trajeto das rodovias, em torno das quais se desenvolveram as cidades. MAGNOLI, Demétrio. Geia: fundamentos da Geografia. São Paulo: Moderna, 2002. v. 6. p. 89-90. (Texto adaptado.)

Reescreva-o, substituindo as expressões sublinhadas por outras. 10. Leia o trecho a seguir. Todas as paisagens estão sempre em mudança. Mas, em geral, a mudança é tão lenta que não pode ser percebida pelos nossos sentidos. Não é isso que acontece nos desertos de areia – nesses ambientes, a erosão provocada pelo vento faz mudanças rápidas nas formas de relevo. Nos desertos, praticamente não há vegetação. As partículas de areia e os seixos encontram-se soltos, sem fixação. Soprando sobre esse tipo de solo, o vento remove, transporta e deposita fragmentos. Quanto mais leve o material, maior a distância do transporte. Minúsculos grãos de areia do deserto do Saara atravessam o oceano Atlântico e depositam-se na Amazônia brasileira. Uma tempestade no Saara, em 1901, depositou 4 milhões de toneladas de areia e pó na Europa. MAGNOLI, Demétrio. Geia: fundamentos da Geografia. São Paulo: Moderna, 2002. v. 5.p. 61. (Texto adaptado.)

a) Cada expressão sublinhada remete o leitor a algo que foi tratado antes. Escreva que ideias são

retomadas em cada uma delas. b) Releia o trecho a seguir e responda: Que ideia representa a causa? E que ideia representa a

consequência? [...] a mudança é tão lenta que não pode ser percebida pelos nossos sentidos. c) Complete os trechos a seguir com uma palavra ou expressão coerente.

A mudança não pode ser percebida pelos nossos sentidos é muito lenta. A mudança não pode ser percebida pelos nossos sentidos em razão de

. 9º ano

19


MOMENTO DA ESCRITA

PROPOSTA Em revistas de divulgação científica, é comum haver uma seção em que as dúvidas dos leitores são respondidas. Junto com seus colegas, você vai escrever textos semelhantes e vai publicá-los em um mural da escola.

PLANEJAMENTO 1. Escolha um tópico sobre o qual você gostaria de ter mais informações. Por exemplo, a partir do

estudo do capítulo sobre saúde e doenças, em Ciências, um aluno pode se interessar em investigar as vacinas. Nesse caso, ele vai propor uma questão delimitada: como foi inventada/descoberta a vacina? Por que algumas pessoas desconfiam da vacinação?

2. Todos vão escrever sua questão em um pedaço de papel e, depois, guardá-lo em uma caixa. Em

seguida, cada aluno vai sortear com que pergunta vai ficar. Ele vai agir como a equipe da revista, ou seja, vai responder à pergunta em forma de texto.

3. O próximo passo é selecionar fontes de informação. 4. Tome nota dos dados relevantes para responder à dúvida pela qual você ficou responsável.

ELABORAÇÃO Redija a resposta de forma clara, levando em conta o que você estudou sobre o papel da coesão e da coerência na constituição de um texto.

AVALIAÇÃO Troque de texto com um colega (que não pode ser aquele que fez a pergunta) e considere os seguintes aspectos: 1. A dúvida foi respondida? 2. As etapas que envolvem o processo estão claras? O autor empregou expressões que evidenciam as

relações importantes, como causa, tempo etc.? Localize essas palavras no texto do colega.

3. Quando o autor empregou termos para resgatar ideias anteriormente expostas, a referência ficou

clara? Assinale as palavras que resgatam ideias anteriores.

REESCRITA 1. Considerando a avaliação que o colega fez do seu texto, reescreva-o, aperfeiçoando o que garante

o aspecto de unidade em um texto.

2. Siga as orientações do professor para passar o texto a limpo e exponha-o em um mural. A turma

pode optar por colocar alguns textos por semana, de modo que o mural tenha sempre novidades.

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Língua Portuguesa


PLANEJANDO A FALA

Os elementos responsáveis pela coesão e pela coerência de um texto precisam ser alvo de atenção nas situações de comunicação oral. Suponha que um funcionário, que recebe mensalmente uma cesta básica, encontre um de seus produtos com o prazo de validade vencido. Ao entrar em contato com o serviço de atendimento ao consumidor (SAC), ele diz, assim que o atendente responde: “Meu molho de tomate está vencido e eu quero ser recompensado”. Discuta com seus colegas: 1. O que isso dá a entender a quem o ouve? 2. A ideia de recompensa é coerente para a situação? 3. Com base na situação em que essa frase foi dita, você acha que o atendente pode compreendê-la? 4. Há nessa frase referências anteriores que estariam sendo retomadas? 5. Como o texto oral poderia ser formulado, de modo que o atendente não precisasse preencher

sozinho as lacunas que o texto deixa? Escreva uma versão de como essa frase poderia ser dita ao telefone. Na versão que você escreveu, há termos que retomam ideias anteriores? As referências estão claras? Se julgar necessário, faça alterações. Nas situações que você presencia no dia a dia, procure identificar uma em que a comunicação oral tenha problemas de coesão e coerência. Identifique outra em que essas propriedades estavam presentes e garantiram o sucesso da comunicação. Quando for possível, registre os textos para não esquecer. O professor vai programar a apresentação e a análise de alguns textos. PARA AMPLIAR SEUS ESTUDOS

Filme

Lixo extraordinário

Filmado ao longo de dois anos (agosto de 2007 a maio de 2009), Lixo extraordinário acompanha o trabalho do artista plástico Vik Muniz em um dos maiores aterros sanitários do mundo: o Jardim Gramacho, na periferia do Rio de Janeiro. Direção: Lucy Walker, João Jardim, Karen Harley. Brasil/Reino Unido, 2010. 90 minutos.

Site

A Vaguidão específica

Nesse texto de Millôr Fernandes, você pode analisar alguns aspectos relativos à coesão e à coerência textuais. A aparente ausência ou o aparente mau uso dessas propriedades podem constituir-se na fonte de sentido de um texto. Disponível em: <www2.uol.com.br/millor/aberto/textos/005/011.htm>. Acesso em: 10 out. 2012.

9º ano

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Capítulo

2

PORTUGUÊS

Crônica: histórias do cotidiano

V

Peanuts, Charles Schulz © Peanuts Worldwide LLC./ Dist. by Universal Uclick

ocê já estudou que o jornal apresenta grande variedade de gêneros de texto, cada um com uma finalidade. Pelos jornais você pode se informar sobre acontecimentos relevantes, que repercutem sobre sua vida, e também sobre fatos pitorescos. Pode obter informações práticas, como o resultado da loteria, um índice econômico, ou a programação do cinema e da TV. Pode, ainda, descobrir uma vaga de emprego, um imóvel para alugar, um carro usado para comprar. Pode receber dicas de passeios, livros e viagens e encontrar diversão e entretenimento nos quadrinhos, nas palavras cruzadas e nas crônicas. Dedicaremos este capítulo ao estudo específico de um gênero textual do jornal − a crônica. Observe e leia a tirinha de Charles Schulz:

RODA DE CONVERSA

Em dupla, converse com seu colega sobre as questões a seguir. 1. Comprove pelas falas das personagens da tirinha que o jornal tem variedade de gêneros textuais. 2. Quais são os gêneros textuais que aparecem nas falas da tirinha? 3. Qual é a fala que emite uma suposição? 4. Por que podemos afirmar que o pensamento do cãozinho Snoopy é o título de uma notícia? 5. O pensamento de Snoopy comprova a suposição do menino Charlie Brown? 6. Você achou graça na tirinha? Por quê?

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Língua Portuguesa


Douglas Kirkland/Corbis/Latinstock

Charles Monroe Schulz O cartunista Charles Schulz (1922-2000) nasceu nos Estados Unidos. É o criador da tira Peanuts, conhecida no Brasil como Minduim. O quadrinho da turma de Snoopy e Charlie Brown é um dos mais populares do mundo. Apareceu pela primeira vez em 1950. Chegou a ser publicado em 2 600 jornais e alcançou mais de 355 milhões de leitores em 75 países. Foi traduzido para mais de 21 idiomas. Schulz foi um inovador. Introduziu a vida cotidiana no mundo dos comics, dominados até então por histórias de ação. Outra característica marcante de seu trabalho é o fato de nunca aparecerem adultos desenhados. O mundo de Snoopy e de Charlie Brown pertence somente à infância. Disponível em: <www.tvsinopse.kinghost.net/art/c/charles-schulz>. Acesso em: 3 out. 2012.

A CRÔNICA E O LEITOR Em meio a tanta informação, a crônica surge na página do jornal ou da revista para compensar o peso das manchetes diárias, aliviando a tensão das notícias graves.

NOTÍCIA E CRÔNICA Assim como a notícia, a crônica também se alimenta dos fatos do cotidiano. Onde, então, está a diferença entre esses dois gêneros? A diferença principal está na intencionalidade de cada um deles. As notícias são escritas para informar o leitor dos principais acontecimentos nacionais e internacionais: políticos, esportivos, culturais, científicos, econômicos etc. Já as crônicas são escritas, sobretudo, para entreter esse mesmo leitor.

LINGUAGEM A segunda diferença decorre da primeira. É a linguagem. Por um lado, um texto escrito para informar, como a notícia, não tem a mesma linguagem de um texto que pretende entreter o leitor. A linguagem de um texto cuja finalidade é dar informações precisa ser objetiva e fornecer dados reais e precisos. Por outro lado, o texto que não tem esse mesmo compromisso com a realidade permite ao escritor usar a linguagem com mais liberdade, como nas crônicas. O escritor, nesse caso, tem de usar sua criatividade. Ele deve encontrar novas formas para narrar coisas corriqueiras. Para isso, precisa dar novos sentidos às palavras, diferentes dos sentidos conhecidos. Por meio de suas crônicas, com lirismo, humor, ironia ou sarcasmo, o cronista reflete sobre a realidade que nos rodeia e a critica de forma explícita ou implícita, ajudando a ampliar nossa visão de mundo.

9º ano

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LER CRÔNICA I

Vamos analisar um exemplo do que estudamos até aqui. O fato: No fim dos anos 1990, os ônibus urbanos da cidade de São Paulo foram equipados com bancos que ficam de frente um para o outro. Converse com os colegas sobre as perguntas a seguir. 1. Você já sentou nesse tipo de banco, no ônibus, no metrô ou no trem? Como se sentiu sentado de

frente para pessoas que não conhece? Ficou à vontade ou se sentiu constrangido? Como você reagiu? 2. O que você pensa que vai ler, sabendo que o título da crônica é “Banco dos bobos”?

Veja como o escritor Fernando Bonassi traduziu numa crônica o que ele pensava sobre esses bancos. Repare no uso da linguagem informal. O autor faz uso de expressões bastante populares como “imbecil”, “idiota” e “troço”. Ele inventa uma personagem chamada “Moura”. Por intermédio do “Moura”, podemos perceber o que o cronista pensa do ser humano. Agora, leia a crônica de Fernando Bonassi, publicada na coluna Da Rua, no caderno Ilustrada, do jornal Folha de S.Paulo, em abril de 2000. Banco dos bobos Moura não consegue entender o que leva a indústria a construir esses ônibus, que podem fazer três idiotas chegar a passar algumas horas olhando pra cara de outros três imbecis, conforme a duração da viagem. Não há livro, videogame ou walkman que distraia todo o tempo. Logo estão olhares enviesados se cruzando, escapando, rebatendo nas vidraças que ainda teimam em refletir. Aqueles engenheiros devem estar acreditando que a raça humana é um troço geneticamente dotado de simpatia. Parecem não imaginar o quanto um mísero contato é difícil por aqui. BONASSI, Fernando. Banco dos bobos. Folha de S.Paulo, caderno Ilustrada, 8 abr. 2000. Disponível em: <www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq0804200012.htm>. Acesso em: 1o out. 2012.

Responda às questões a seguir com um colega. 3. Para o autor, a simpatia não faz parte da natureza humana, e estabelecer contato com seu seme-

lhante é difícil para o ser humano. Você concorda com esse ponto de vista? Explique sua resposta. 4. Você mudaria o título da crônica? Em caso afirmativo, para qual? Explique sua escolha.

Karime Xavier/Folhapress

Fernando Bonassi

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Língua Portuguesa

Paulistano, nascido em 1962. Contista, cronista, romancista, dramaturgo, roteirista e cineasta, tem inúmeros livros publicados no Brasil, França, Alemanha e Estados Unidos.


CONHECER MAIS

A crônica

Carlos Heitor Cony (14/3/1926, no Rio de Janeiro – RJ).

Neco Varella/Folhapress

Paulo Liebert/Agência Estado/AE

tas para colunas que escritores mantêm nos periódicos. Luis Fernando Verissimo, Danuza Leão, Carlos Heitor Cony e Antônio Prata são alguns nomes de cronistas de jornais e revistas que circulam no país.

Daniel Marenco/Folhapress

Alguns cronistas baseiam-se nos fatos noticiados na imprensa. Outros vão buscar inspiração nos temas mais simples e comuns da vida de qualquer pessoa. A crônica é um gênero dirigido a um público específico – o leitor dos jornais ou revistas. As crônicas são, em geral, escri-

Luis Fernando Verissimo (26/9/1936, em Porto Alegre – RS).

Antônio Prata (24/8/1977, em São Paulo – SP).

A ORIGEM DA CRÔNICA Chronos, em grego, significa tempo. A palavra “crônica” deriva do latim chronica. No início da Era Cristã, ela significava o relato de acontecimentos em ordem cronológica, isto é, de acordo com seu desenrolar no tempo. Era um registro de eventos, a chamada crônica histórica. Na Europa, no século XIX, com a invenção da imprensa, a crônica passou a fazer parte dos jornais. Eram textos que comentavam, de forma crítica, os acontecimentos da época. Tinham, portanto, um sentido histórico e serviam, assim como outros textos do jornal, para informar o leitor. Essa prática foi trazida para o Brasil na segunda metade do século XIX. Veja a definição de crônica no dicionário. Crônica. [Do lat. Chronica.] S.f. 1. Narração histórica, ou registro de fatos comuns, feitos por ordem cronológica. [...] 4. Texto jornalístico redigido de forma livre e pessoal, e que tem como temas fatos ou ideias da atualidade, de teor artístico, político, esportivo etc., ou simplesmente relativos à vida cotidiana. 5. Seção ou coluna de revista ou de jornal consagrada a um assunto especializado: crônica política; crônica teatral... FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999.

Com o passar do tempo, a crônica brasileira foi, pouco a pouco, distanciando-se daquela crônica com sentido de documento histórico. Entretanto, não perdeu a ligação com o “tempo”, sua característica definidora, e a relação com os acontecimentos. 9º ano

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A PRIMEIRA CRÔNICA BRASILEIRA A carta que Pero Vaz de Caminha escreveu a d. Manuel, rei de Portugal, relatando o achamento do Brasil, é considerada a primeira crônica brasileira. Na época de Caminha, século XVI, crônica significava registro de acontecimentos históricos. É disso que se trata sua carta. No século XVIII, o termo com esse significado foi substituído pela palavra história. Desde então, história é o registro e a interpretação de acontecimentos históricos.

FOLHETINS OCUPAM O ESPAÇO MENOS NOBRE DO JORNAL: O RODAPÉ Entre o fim do século XIX e o início do século XX, escritores já consagrados ocupavam o rodapé, a parte inferior das páginas dos jornais, com pequenos textos: contos, artigos, ensaios etc. Eram os chamados folhetins, destinados ao entretenimento do leitor e muito apreciados na época. Machado de Assis e José de Alencar são alguns dos grandes nomes da literatura brasileira que foram folhetinistas. Nos folhetins eles escreviam crônicas e romances em capítulos, que eram acompanhados com tanto interesse como as novelas de televisão nos dias de hoje. A crônica atual nasceu dos folhetins. LER TEXTO JORNALÍSTICO

Mais adiante você vai ler uma crônica escrita por Moacyr Scliar baseada na notícia a seguir: “Igrejas são alvos de ladrões em São Paulo”, de Daniela Tófoli, publicada em 2006, no jornal Folha de S.Paulo. Antes de ler a notícia, converse com um colega sobre as questões a seguir. 1. Você tem ideia do que ladrões roubam das igrejas? 2. O que eles fazem com o que é roubado? Você conhece algum caso de roubo em igreja?

Agora, confirmem as hipóteses, lendo o texto de Daniela Tófoli.

Igrejas são alvos de ladrões em São Paulo Das 20 paróquias consultadas pela Folha na semana passada, 13 sofreram algum tipo de furto ou roubo no último ano Para tentar afastar os ladrões, padres passaram a instalar circuito de câmeras, contratar vigilantes e até a utilizar cães de guarda

Daniela Tófoli

Da reportagem local Só a proteção divina não está mais dando conta. Os assaltos a igrejas tornaram-se tão frequentes que padres e sacristães precisam dar uma ajudinha aos santos e passaram

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Língua Portuguesa

a contratar seguranças, instalar alarmes e até colocar câmeras no altar para evitar furtos e roubos. Nem sempre, no entanto, todo esse aparato é suficiente.


Bastou a última missa do domingo da semana passada terminar para os religiosos da igreja de São Judas Tadeu, no Jabaquara (zona sul), constatarem que, pela terceira vez em dois meses, tinham sido assaltados. O ladrão furtou o cofre onde estavam as oferendas do dia. Os padres não sabem o valor nem têm pistas do ladrão. Três semanas atrás, porém, um dos quatro seguranças que se revezam no local identificaram um assaltante. “A polícia o prendeu e recuperou o dinheiro. Era o mesmo ladrão que nos roubou há menos de dois meses”, diz o padre Augusto Pereira, um dos vigários da igreja. “Ainda não temos câmeras, mas a segurança se tornou preocupação nas paróquias.” Assaltar igreja não é caso raro na capital. De 20 paróquias consultadas pela Folha, 13 sofreram algum roubo ou furto neste ano ou no passado. Ou seja, 65% das paróquias foram vítimas de ladrões. De agosto para cá, foram sete assaltos. “Não tem ano em que a gente não seja roubado, mas agora está demais”, diz o padre João Enes, da paróquia Nossa Senhora Casaluce, no Brás, centro. “Em agosto, levaram botijão de gás e 600 refrigerantes e cervejas de uma festa. Não se respeita mais nem a igreja.” Furtos de para-raios Falta juízo aos ladrões, afirma padre Pascoali Priolo, da São Januário, na Mooca (zona leste). “A situação é terrível, não sei mais o que fazer. Os assaltantes abusam e só a guarda de Deus não dá conta de tudo.” A igreja de Priolo já foi furtada duas vezes neste ano. Em março, os ladrões levaram cálices, depredaram o sacrário e roubaram até o para-raios. “Como era de cobre, levaram para vender ao ferro-velho.” Na semana passada, a igreja da Consolação, no centro, foi mais uma que teve os fios de seu para-raios furtados. O ferro-velho foi o destino, ainda, da cruz de R$ 3.000 que adornava a igreja Nossa Senhora da Paz, no Glicério, centro, dizem os religiosos de lá. Já a Bom Jesus, no Brás, não

sabe o que aconteceu com a coroa de Nossa Senhora Aparecida, furtada há um mês. Histórias de assaltos são comuns entre os padres. No ano passado, roubaram o ofertório no meio de uma missa na paróquia Imaculada Conceição, na Bela Vista (centro). Também em 2005, ladrões levaram microfones e pedestais da Nossa Senhora do Rosário, na Pompeia (zona oeste). No mês passado, assaltantes furtaram o cofre do grupo de orações na igreja de Santa Cecília, no centro. Ímã para pegar moedinha Ladrão “pé de chinelo” também não falta, contam os párocos. Para roubar as moedinhas dos ofertórios, os assaltantes usam ímãs ou bolinhas de piche e, assim, atraem o dinheiro. É para evitar esse tipo de furto que a Sagrado Coração de Jesus, no Morumbi (zona oeste), assaltada em 2005, decidiu depositar no banco o dinheiro das oferendas logo após as missas. Segurança maior, porém, está na instalação de câmeras nas igrejas. Das 20 paróquias consultadas, seis já têm o sistema e muitas estudam a instalação. “Depois de sofrermos vários roubos, decidimos no começo do ano que era melhor gastar dinheiro com as câmeras e colocar o cofre no seguro”, conta Eugênio João Mezzomo, padre da igreja do Calvário, em Pinheiros (zona oeste). “Sempre somos assaltados na época da quermesse; desta vez, só tivemos pequenos furtos.” A manutenção do sistema custa cerca de R$ 900 por mês. As paróquias que não podem colocar câmeras contratam seguranças. Das 20 consultadas, 13 têm vigias. Mas na igreja da Cruz Torta, também em Pinheiros, o que espanta os ladrões são os nove cachorros do padre Ilson Frossard. “São cinco cães policiais e quatro vira-latas, que latem muito. Ninguém se atreve a chegar perto.” TÓFOLI, Daniela. Igrejas são alvos de ladrões em São Paulo. Folha de S.Paulo, 16 out. 2006. Disponível em: <www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff1610200601.htm>. Acesso em: 3 out. 2012.

Agora, responda a essas questões: 3. Qual é a data da notícia? 4. Que jornal a publicou? 9º ano

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5. Qual é o nome da redatora da notícia? 6. Localize na notícia e reproduza: a) o título: b) os subtítulos: 7. Das igrejas consultadas para a reportagem, qual é a porcentagem das que foram roubadas? 8. A rosa dos ventos é uma representação dos pontos cardeais usada para indicar direção e localiza-

Ilustração digital: Estúdio Pingado

ção nos mapas. A figura a seguir é uma rosa dos ventos. As letras N, S, L e O significam, respectivamente, norte, sul, leste e oeste. Escreva na rosa dos ventos o nome de cada bairro citado na reportagem na direção correspondente.

9. Complete o quadro abaixo com o nome de todas as igrejas ou paróquias citadas na notícia, o bair-

ro onde ficam situadas e os objetos roubados, seguindo o modelo:

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Nome da igreja

Bairro ou região

Objeto(s) roubado(s)

São Judas Tadeu

Jabaquara

Cofre

Língua Portuguesa


10. De que forma os padres estão defendendo suas igrejas? 11. O que os ladrões fazem com os para-raios roubados? 12. Como os ladrões roubam as moedinhas dos ofertórios? 13. As hipóteses que você levantou antes da leitura da notícia se confirmaram?

CONHECER MAIS A notícia que vocês acabaram de ler faz lembrar uma passagem bíblica muito conhecida em que Jesus expulsa os homens que faziam comércio ilícito dentro do templo. Apesar de no Evangelho este ser um curto relato, a história ganhou destaque no imaginário ocidental, ao longo dos séculos, simbolizando o conflito entre os valores espirituais e o interesse material. No capítulo IV do Evangelho de São Marcos, o episódio é relatado em apenas dois versículos, do 15 ao 17: “E ele os ensinava dizendo-lhes ‘Porventura não está escrito: que a minha Casa será chamada Casa de Oração entre todas as gentes? E vós tendes feito dela um covil de ladrões’?”. Artistas como o grego El Greco (1541-1614) e o italiano Bernardo Cavallino (1616-1656?) fizeram belíssimas pinturas representando esta passagem, que é conhecida como

Expulsão dos vendilhões GLOSSÁRIO do Templo. Os quadros Vendilhão: vendedor ambulante, que pode, ou não, aproveitar-se podem ser apreciados indevidamente de uma determinada no site da Galeria Naciosituação. nal de Londres: <www. Vendilhões do templo: mercadores que foram expulsos por Jesus Cristo nationalgallery.org.uk>. do Templo em Jerusalém, como Outro exemplo da é contado nos quatro evangelhos influência dessa pascanônicos do Novo Testamento. sagem bíblica é o livro Os vendilhões do templo, escrito por Moacyr Scliar. Ele toma como base esse evento para criar sua narrativa. A história é uma parábola sobre as relações entre crença e poder, interesses e ideais. A narrativa começa assim: “Nunca pensei em me tornar vendilhão do Templo, dizia ele, em alto e bom som, aos que quisessem ouvir”.

LER CRÔNICA II

Poucos dias depois de publicar a notícia “Igrejas são alvos de ladrões em São Paulo”, o mesmo jornal publicou a crônica “Não roubarás”, de Moacyr Scliar. Com base na notícia, Scliar diverte o leitor, contando o que aconteceu com um ladrão de igreja. Converse com o colega sobre as questões a seguir: • Você consegue imaginar o que passa na cabeça de um ladrão, antes de decidir se vai ou não

roubar uma igreja? • Pense no significado do título “Não roubarás”. É uma ordem? É o desejo de alguém? É um

artigo de um código moral? Confirme sua resposta, depois de ler o texto. Textos conversam com textos. Quanto mais um leitor conhece outros textos, mais ele entende o que está lendo. Um exemplo disso é que, para compreender melhor essa crônica, é bom que você saiba que existe um filme americano chamado O diabo veste Prada. Você já viu esse filme? Você sabe que Prada é o nome de uma famosa grife italiana especializada em vários produtos de luxo? Leia, agora, a crônica de Moacyr Scliar. 9º ano

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Não roubarás Tinha certeza de que, se entrasse numa igreja para roubar, mais cedo ou mais tarde seria castigado Moacyr Scliar

Verdade seja dita, ele hesitou muito. Porque, apesar de já ter assaltado gente em bares, em restaurantes, nas ruas, em carros, nunca o fizera numa igreja. Um amigo, que em outra época fora seu cúmplice, tentava inutilmente convencê-lo: é mole, cara, o pessoal que vai a igreja não reage, não é de briga, não precisa nem usar arma. A ele, aquilo parecia um sacrilégio, uma tentação. Não era religioso, mas acreditava em Deus e na justiça divina. Tinha certeza de que, se entrasse numa igreja para roubar, mais cedo ou mais tarde seria castigado. Mas então teve um sonho, um sonho que foi decisivo. Sonhou que estava num lugar distante, desolado, perdido entre dunas de areia: um deserto. Sem saber o que fazer, olhava ao redor, desorientado, quando de repente avistou um homem. Uma figura exótica, sinistra mesmo: vestia uma espécie de fraque, usava cavanhaque e exibia um sorriso malicioso. Você está indeciso, disse o estranho, você não sabe se assalta uma igreja ou não, mas você está só perdendo tempo: é a coisa mais fácil do mundo. Acordou resolvido: naquele mesmo dia faria o assalto. E, para a estreia, escolheu uma pequena e modesta igreja de bairro. O que se revelou uma verdadeira decepção. Quando lá chegou,

estava começando a chover e, talvez por causa disso, o lugar estava deserto. Nenhum fiel ali, nem homem, nem mulher, ninguém para ser assaltado. E na igreja propriamente dita, nada que aparentemente valesse a pena carregar; apenas algumas modestas imagens de santos. Foi até o ofertório, sacudiu-o: nada, estava vazio. Uma violenta trovoada fez estremecer o templo, o que lhe deu uma ideia: o para-raios. Sempre podia render alguma coisa, afinal era de cobre, e ele conhecia um ferro-velho que pagaria uma boa grana. Sem muito esforço, retirou o para-raios, uma haste com o seu fio, e foi embora sob o temporal. Ao atravessar o descampado, aconteceu aquilo que sempre pode ocorrer com quem carrega para-raios: foi atingido por uma descarga elétrica fulminante. A última coisa que viu foi o homem que aparecera em seu sonho, mostrando os caninos num sorriso irônico. E estava bem abrigado da chuva. Porque, em ocasiões de temporal, o diabo não veste Prada. O diabo veste uma elegante capa preta. Ótima para quem tem de seguir pecadores sob a tormenta. SCLIAR, Moacyr. Folha de S.Paulo, 23 out. 2006. Disponível em: <www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff2310200603.htm>. Acesso em: 3 out. 2012.

Todo leitor, mesmo diante de um texto que nunca leu antes, reconhece nele algum traço conhecido. São vestígios conhecidos que permitem o entendimento dos textos lidos pela primeira vez. Quanto mais elementos forem familiares ao leitor, mais fácil será a compreensão de um texto. Você vai ver que reconhecer o gênero do texto, por exemplo, é importante para a compreensão. Saber que o texto é uma crônica já permite antecipar algumas informações. O leitor que leu outras crônicas sabe que: • esse gênero é ficcional; • o autor inventa uma história, ou faz reflexões sobre um acontecimento que ele presenciou no

seu cotidiano, ou que está nos noticiários; • em geral, é um texto com humor; • por trás do humor, o autor critica um comportamento de sua época. 30

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A notícia começava assim: “Só a proteção divina não está mais dando conta”. E mais adiante: “[...] padres e sacristães precisam dar uma ajudinha aos santos”. Moacyr Scliar se inspirou nessas referências religiosas e criou um texto que mistura tentação, pecado e castigo. Essa mistura, que já foi tão temida em outras épocas, hoje, para muitas pessoas, não causa mais nenhum temor. Ladrões de igrejas roubam não só as pessoas que as frequentam como os bens das próprias igrejas. O mandamento que diz “Não roubarás” parece estar perdido no tempo. O que aconteceria se esse mandamento ainda fizesse sentido para um assaltante dos dias de hoje? A crônica cheia de humor de Moacyr Scliar é uma resposta a essa pergunta.

Tasso Marcelo/Agência Estado/AE

Moacyr Scliar O gaúcho Moacyr Jaime Scliar (1937-2011) é considerado um dos escritores mais representativos da literatura brasileira contemporânea e dos mais produtivos. Tem mais de setenta títulos publicados. Além de crônicas, escreveu contos, romances, ficção infantojuvenil e ensaios. Os temas dominantes de sua obra são a realidade social da classe média urbana no Brasil, a medicina e o judaísmo. Disponível em: <www.academia.org.br>. Acesso em 3 out. 2012. (Texto adaptado.)

Agora, em pequenos grupos, responda junto com seus colegas às perguntas: 1. O texto tem um subtítulo: “Tinha certeza de que, se entrasse numa igreja para roubar, mais cedo ou mais tarde seria castigado”

Títulos e subtítulos podem dar pistas do que vai acontecer numa narrativa. A certeza do castigo se confirmou? O assaltante foi castigado? Como? 2. Por que o ladrão nunca tinha assaltado uma igreja antes? 3. O que o fez decidir assaltar uma igreja pela primeira vez? 4. Como era o homem que apareceu no sonho do ladrão? 5. Por que ele se decepcionou com o assalto? 6. O que ocorreu e fez o ladrão se lembrar do para-raios da igreja? 7. O que o fez tomar a decisão de roubar o para-raios? 8. O que aconteceu ao assaltante, enquanto carregava o para-raios? 9. O homem do sonho reapareceu? Como ele estava vestido?

INTERTEXTUALIDADE Textos conversam entre si. Chama-se intertextualidade a referência explícita ou implícita que um texto faz a outro(s) texto(s). Na crônica que estamos ana9º ano

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lisando, a intertextualidade está presente em diferentes momentos: o autor faz referências implícitas à Bíblia; usa como título um dos dez mandamentos do Antigo Testamento, “Não roubarás” (Êxodo 20-15); cita a figura do diabo e fala em castigo, em Deus e na justiça divina. Além da Bíblia, há outra marca intertextual. O narrador diz que “o diabo não veste Prada”. Esta é uma referência ao livro O diabo veste Prada, que ganhou uma versão cinematográfica, dirigida por David Frankel. No filme, a atriz Meryl Streep faz o papel da exigente executiva de uma importante revista de moda. Ela é o “diabo” que veste Prada − centenária marca italiana que inicialmente fabricava malas e bolsas de couro e que hoje é uma grife de moda.

EXPLORANDO O UNIVERSO TEXTUAL Ao contrário da notícia, a crônica é um texto ficcional, uma recriação fictícia da realidade. Isso significa que o escritor não tem compromisso com a realidade e pode inventar todos os elementos da sua história. Assim fez Scliar no texto “Não roubarás”. Vamos analisar o universo textual dessa crônica.

1. A CRÔNICA COMO GÊNERO TEXTUAL NARRATIVO E SUA ORGANIZAÇÃO A crônica que estamos analisando apresenta as características essenciais do texto narrativo: um narrador, um enredo estruturado numa sequência de fatos, personagens, espaço e tempo. Toda história precisa ser contada por “alguém”; esse “alguém” que conta a história em um texto narrativo é chamado de narrador. É por meio dele que tomamos conhecimento do enredo, das características das personagens, da descrição dos cenários etc. Narrador-personagem – Quando o narrador participa da história como personagem, é chamado de narrador-personagem. Nesse caso, a narração é em primeira pessoa (“eu”). Narrador-observador – Quando o narrador sabe o que acontece na história, mas não participa dela, chama-se narrador-observador. Nesse caso, a narração se faz na terceira pessoa (“ele” ou “ela”). Na crônica “Não roubarás”, o narrador conta a história de um assalto a uma igreja praticado por um homem, mas não participa da história. É, portanto, um narrador-observador. Vamos trocar o narrador. Leia as frases a seguir: Verdade seja dita, ele hesitou muito. Verdade seja dita, eu hesitei muito. 32

Língua Portuguesa


Observe que a troca de um pronome por outro, ele por eu, alterou o sentido da frase. A terceira pessoa “ele” provoca um efeito de distanciamento maior dos fatos em relação à primeira pessoa “eu” e causa menos impacto no leitor. Já a narração em primeira pessoa traz a personagem para perto do leitor, provocando uma emoção maior. É como se a personagem estivesse “cara a cara” com o leitor, contando para ele sua história. Vejamos a seguir os demais elementos do texto narrativo. Enredo estruturado em uma sequência de fatos – O enredo é a própria história que se desenrola em fatos numa sequência temporal. Observe a sequência dos fatos na crônica “Não roubarás”: 1o O narrador explica por que o ladrão ainda não tinha assaltado uma igreja. 2o O ladrão tem um sonho decisivo. 3o O ladrão assalta uma igreja. 4o O assaltante é atingido por uma descarga elétrica.

Personagens – São representações de pessoas. As três personagens da crônica são: o assaltante, um amigo e o homem elegante do sonho. Personagem e pessoa – Nas notícias, é obrigatório dizer o nome completo das pessoas citadas. Já nas crônicas, o autor inventa uma história com personagens imaginadas por ele, que podem ter nome ou não. Na crônica que estamos analisando as personagens não têm nome. A personagem principal é chamada simplesmente de “ele”. (Volte ao texto e confirme essa afirmação.) Espaço – São os cenários, os espaços naturais, ambientais ou geográficos onde a ação da narrativa se desenvolve. Na crônica, aparecem três espaços: o lugar do sonho é um deserto distante, desolado, perdido entre dunas de areia; o assalto acontece numa igreja de bairro, pequena e modesta; e uma descarga elétrica atinge o assaltante num descampado. Tempo – É o transcurso da existência e das ações narradas no tempo. Os fatos, os acontecimentos e as ações das personagens se articulam no plano temporal; eles têm, necessariamente, uma duração. Na crônica, tudo acontece num curto espaço de tempo, entre uma noite e um dia. Observe a passagem do tempo nas frases: “Mas então teve um sonho”, “naquele mesmo dia”, “quando lá chegou”.

O enredo de uma narrativa é o resultado da atuação das personagens em determinados cenários, durante certos períodos de tempo; tudo isso contado, para o leitor, por um narrador.

2. ANÁLISE LINGUÍSTICA Vamos observar os recursos utilizados por Moacyr Scliar em sua crônica. A descrição

Quando lemos, formamos na nossa mente uma imagem de como são personagens, objetos e lugares da história lida. São as descrições desses elementos feitas pelo

9º ano

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escritor que nos ajudam a imaginar as diferentes situações da narrativa. Um dos recursos para a elaboração de uma descrição é o uso de adjetivos ou de locuções adjetivas. Assim, na crônica “Não roubarás”, por meio desses elementos ficamos sabendo como são a igreja, as imagens da igreja, a figura do diabo e seu sorriso. Observe os adjetivos e as locuções adjetivas no quadro a seguir: Substantivos

Adjetivos

Locuções adjetivas

igreja

pequena/modesta

de bairro

imagens

modestas

de santos

figura

exótica/sinistra

sorriso

malicioso/irônico

Linguagem formal e linguagem coloquial

Quando falamos ou escrevemos, usamos uma linguagem mais formal ou menos formal de acordo com a situação, com nosso interlocutor e com nossa intencionalidade. A personagem principal da crônica “Não roubarás” é um assaltante. Quando ele está em conflito, sem saber se vai ou não assaltar uma igreja, um amigo, também assaltante, tenta convencê-lo a praticar o crime. Nesse trecho, o autor abandona o padrão culto da língua e adota uma linguagem mais informal, empregando gírias para representar a fala de outro bandido: “é mole, cara”. Mais adiante, outra personagem, um homem elegante, vestindo uma espécie de fraque, aparece num sonho e também tenta convencer o ladrão a roubar a igreja. Nesse caso, a linguagem é mais formal: “Você está indeciso [...], você não sabe se assalta uma igreja ou não, mas você está perdendo tempo: é a coisa mais fácil do mundo.” Portanto, para convencer a personagem a roubar a igreja, o amigo assaltante e o homem elegante do sonho usaram o mesmo argumento: roubar igreja é fácil. No entanto, a linguagem empregada por eles não foi a mesma. O assaltante diz: “é mole, cara”, enquanto o homem bem-vestido fala “é a coisa mais fácil do mundo”. Tempo verbal (presente, passado e futuro)

Você já estudou que títulos de notícia geralmente têm verbo no presente e que, no corpo da notícia, o verbo, quase sempre, é usado no passado. Neste capítulo, você está estudando crônica, que é um gênero textual narrativo. Nos textos narrativos, os verbos são usados frequentemente no passado. Isso ocorre por causa de uma característica do próprio ato de contar histórias. Escritores ou contadores orais narram histórias acontecidas num tempo anterior ao tempo da leitura ou da audição da história. Assim acontece não só com as crônicas, mas também com as parábolas, os apólogos, as lendas, as fábulas, os mitos, os contos e os romances. 34

Língua Portuguesa


O passado é o tempo verbal predominante nas narrativas, mas não é o único. Vamos observar os tempos verbais na crônica “Não roubarás”. O verbo roubar do título está no futuro. A forma roubarás concorda com a segunda pessoa do singular, representada pelo pronome tu. Hoje, o uso da segunda pessoa do singular prevalece no Sul do país, nos estados do Norte e em estados do Nordeste. Em regiões do Sul e do Norte, ainda há a variação da concordância com o verbo na segunda pessoa ou verbo na terceira pessoa: tu vai/tu vais. Na fala carioca também ocorre o primeiro caso: tu vai. Na maior parte do Brasil, o pronome tu foi substituído pelo pronome você. O verbo é a única categoria de palavra amei, bebi, parti – passado que pode ser flexionada para indicar o temamo, bebo, parto – presente po. Observe a seguir algumas formas que o amarei, beberei, partirei – futuro verbo assume para indicar tempo passado, presente e futuro: Observe o uso dos tempos verbais no último parágrafo da crônica. Nesse trecho, você encontra verbos no passado e no presente: “Sem muito esforço, retirou (pretérito) o para-raios, uma haste com o seu fio, e foi (pretérito) embora sob o temporal. Ao atravessar o descampado, aconteceu (pretérito) aquilo que sempre pode ocorrer (presente) com quem carrega (presente) para-raios: foi atingido (pretérito) por uma descarga elétrica fulminante. A última coisa que viu (pretérito) foi (pretérito) o homem que aparecera (pretérito) em seu sonho, mostrando os caninos num sorriso irônico. E estava (pretérito) bem abrigado da chuva. Porque, em ocasiões de temporal, o diabo não veste (presente) Prada. O diabo veste (presente) uma elegante capa preta. Ótima para quem tem (presente) de seguir pecadores sob a tormenta.”

Chama-se pretérito o tempo verbal que indica o passado. No modo indicativo, há três tipos de pretérito: • perfeito – indica uma ação que se produziu e foi concluída em certo

momento do passado. • imperfeito – indica um fato passado, mas não concluído. • mais-que-perfeito – indica uma ação que ocorreu antes de outra ação já passada. APLICAR CONHECIMENTOS I

Para responder às questões a seguir, releia a crônica de Moacyr Scliar. 1. Vamos refletir sobre o uso dos adjetivos no texto. a) Que palavras mostram como eram o lugar do sonho do assaltante e a capa usada pelo diabo?

Para isso, registre as palavras “lugar” e “capa”. Depois, anote os adjetivos correspondentes a essas palavras no texto. 9º ano

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b) Para que o ladrão pudesse ter tido algum lucro com o assalto, a igreja e as imagens de santos

precisariam ser diferentes. Nesse caso, que adjetivos você acrescentaria às palavras “igreja” e “imagens”? Escreva alguns adjetivos relacionados a essas palavras. 2. Sobre o vocabulário usado na crônica, responda: a) As passagens a seguir dizem respeito às duas vezes em que o narrador se refere à insegurança

do assaltante. Que expressões revelam essa insegurança? “Verdade seja dita, ele hesitou muito.” “Você está indeciso, disse o estranho [...]” b) O homem que aparece no sonho do ladrão é chamado de figura exótica e sinistra. Qual é a

diferença entre exótico e sinistro? c) Você sabe o que é um fraque? Se souber, explique a um colega que não saiba. Se você não sou-

ber, pergunte a um colega que saiba ou procure no dicionário o significado dessa palavra. d) Na primeira vez em que o homem de fraque aparece, ele exibe um sorriso malicioso. Na se-

gunda vez, mostra os caninos num sorriso irônico. No texto, qual é a diferença entre o sorriso malicioso e o sorriso irônico do homem de fraque? e) Por que o sorriso do homem mudou de malicioso para irônico? 3. Marque um X no espaço correspondente ao tempo em que cada verbo está. Verbo

Pretérito perfeito

Pretérito imperfeito

Pretérito mais-que-perfeito

Viu Foi Aparecera Estava

4. Em dupla, cada um em seu caderno, reescreva três vezes o trecho a seguir, passando os verbos

sublinhados primeiro para o pretérito imperfeito, depois para o pretérito perfeito e o pretérito mais-que-perfeito. “Porque em ocasiões de temporal, o diabo não veste Prada. O diabo veste uma elegante capa preta. Ótima para quem tem de seguir pecadores sob a tormenta.” 5. Comente com seu colega a diferença de sentido que a mudança dos tempos verbais provocou e registre no caderno.

ORTOGRAFIA: COM QUE LETRA EU ESCREVO? Ortografia é a maneira correta de escrever as palavras de uma língua, de acordo com uma convenção. Observe o início da crônica: “Verdade seja dita, ele hesitou muito.” A escrita de algumas palavras da nossa língua exige uma atenção redobrada. Uma delas é o verbo hesitar. Hesitar significa ficar em dúvida entre uma coisa e outra. 36

Língua Portuguesa


Por que é difícil escrever essa palavra? Porque ela tem o som (fonema) z, que em português pode ser grafado com as letras s, z ou x. Daí pode surgir uma dúvida sobre que letra usar ao escrever esse verbo. As letras do alfabeto representam os sons da língua, mas não há uma correspondência perfeita entre letras e sons. Comprove isso, lendo em voz alta as palavras a seguir. Em seguida, também em voz alta, pronuncie as sílabas em destaque. Preste atenção no som das consoantes x, s, z: asa a – sa

casebre ca – se – bre

azia a – zi – a

zebra ze – bra

exército e – xér – ci – to

êxito ê – xi – to

exótico e – xó – ti – co

Leia em voz alta as palavras êxito e hesito. Perceba que os sons são iguais, mas a escrita é diferente. Outra diferença é a posição da sílaba tônica. Em ê-xi-to, a sílaba tônica é a antepenúltima. Essa palavra é, então, proparoxítona. Em he-si-to, a sílaba tônica é a penúltima. É uma palavra paroxítona. êxito ê – xi – to proparoxítona

hesito he – si – to paroxítona

A segunda dificuldade é a letra h no início da palavra. A letra h inicial não representa nenhum fonema (som), como nas palavras hélice, horta, harmonia e haste. Por isso, se você não gravou na memória a ortografia da palavra, pode surgir a dúvida: “hesito se escreve com h?”. Em casos como esse, uma boa alternativa é consultar um dicionário. Nessa consulta, você deverá levar em consideração as possíveis grafias da palavra que quer escrever. APLICAR CONHECIMENTOS II

1. Explique o significado das palavras “êxito” e “hesito” nas frases a seguir: a) A campanha teve grande êxito. Foram arrecadados milhares de agasalhos. b) Quando estou fazendo dieta para perder peso, sempre hesito diante de uma barra de chocola-

te: como ou não como?

2. Reescreva as frases abaixo de forma mais sintética, usando dois-pontos no lugar adequado para

substituir uma das palavras. Faça adaptações, se necessário. Exemplo: Sonhou que estava num lugar distante, desolado, perdido entre dunas de areia, era um deserto. Sonhou que estava num lugar distante, desolado, perdido entre dunas de areia: um deserto. a) O lugar estava quieto e vazio, parecia um cemitério.

b) As águas fortes cobriram totalmente as ruas, tudo se transformou num rio.

9º ano

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MOMENTO DA ESCRITA

Agora é a sua vez de ser cronista. Um escritor competente é alguém que planeja o que vai escrever de acordo com seu objetivo e o do leitor a que o texto se destina, sem desconsiderar as características específicas do gênero. Para seu texto cumprir a finalidade de comunicação, os seguintes elementos devem ser considerados no momento da produção da crônica: o leitor, o local da publicação e a intenção. Produza uma crônica para ser publicada no mural ou no jornal da escola. Pense no leitor que lerá sua crônica. Será toda a comunidade da sua escola? Serão apenas os colegas da classe? Considere que crônica é um gênero textual que tem como intenção entreter. Selecione os recursos linguísticos mais adequados à finalidade do texto e ao interlocutor a que ele se destina. Faça um rascunho e, antes de passá-lo a limpo, revise o que escreveu. Peça para um colega ler e propor melhorias. Só então faça a versão definitiva. Não se esqueça do título. Escolha uma das propostas a seguir. 1. Selecione uma foto de jornal ou revista e, com base nessa imagem, elabore uma crônica em pri-

meira pessoa (com narrador-personagem). Lembre-se de que o cronista, por meio de uma história, transmite ao leitor uma visão pessoal dos acontecimentos que o cercam. 2. Escreva uma crônica em terceira pessoa (com narrador-observador). Escolha um acontecimento

atual que tenha chamado a sua atenção. Para tanto, consulte jornais, revistas e acompanhe noticiários no rádio, na TV e na internet, para entrar em contato com os acontecimentos do momento. É importante que o tema escolhido cause em você alguma sensação: entusiasmo, surpresa, indignação, alegria etc. PARA AMPLIAR SEUS ESTUDOS

Livros

As cem melhores crônicas brasileiras

Esta obra contém, organizadas cronologicamente, cem ótimas crônicas de nossos melhores autores. Entre eles estão Rubem Braga, Luis Fernando Verissimo, Xico Sá, João do Rio, Nelson Rodrigues, Paulo Mendes Campos, Antônio Maria e Fernando Sabino. SANTOS, Joaquim Ferreira dos. As cem melhores crônicas brasileiras. Rio de Janeiro: Objetiva, 2007.

A vida ao rés do chão

Texto introdutório do volume 5 da Coleção Para Gostar de Ler, em que o autor explica de forma bastante didática sua teoria sobre crônica. CANDIDO, Antonio. “A vida ao rés do chão”. In: Para gostar de ler: crônicas 5. São Paulo: Ática, 1981.

Comédias para se ler na escola

Seleção de crônicas que permite ao leitor mergulhar no universo das histórias e personagens de Luis Fernando Veríssimo. A seleção foi organizada por Ana Maria Machado, uma das mais populares e importantes escritoras do país. VERISSIMO, Luis Fernando. Comédias para se ler na escola. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.

Crônicas para ler na escola

Carlos Heitor Cony parte de temas e objetos cotidianos para criar textos em que examina o futuro e o passado. CONY, Carlos Heitor. Crônicas para ler na escola. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009.

Histórias que os jornais não contam

O autor reúne 54 crônicas, já publicadas em jornal, em que consegue transformar, com leveza e humor, o mais comum dos acontecimentos em ótima literatura. SCLIAR, Moacyr. Histórias que os jornais não contam. Rio de Janeiro: Agir, 2009.

O imaginário cotidiano

O volume é composto de crônicas publicadas na seção Cotidiano, do jornal Folha de S.Paulo. Para escrever seus textos, Scliar tira inspiração dos episódios do cotidiano. SCLIAR, Moacyr. O imaginário cotidiano. São Paulo: Global, 2002.

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Língua Portuguesa


Capítulo

3

PORTUGUÊS

A arte de argumentar

O

objetivo deste capítulo é que você conheça um gênero de texto em que o autor expressa e defende seu ponto de vista sobre um tema, geralmente controverso: o artigo de opinião.

RODA DE CONVERSA

Observe a tirinha a seguir e converse com seus colegas sobre as questões propostas.

QUINO. Toda Mafalda. São Paulo: Martins Fontes, 1991. p. 100.

Quino Joaquín Salvador Lavado nasceu na Argentina, em 17 de julho de 1932. Em 1949, decide tornar-se desenhista de histórias em quadrinhos e humor. Em 1957, Quino começa a publicar regularmente seus desenhos em jornais e revistas.

A obra de Quino é apreciada no mundo inteiro pela agudeza e crítica que faz da vida em sociedade. Mafalda é a sua personagem mais conhecida. Disponível em: <www.quino.com.ar/bra-quino-biografia.html>. Acesso em: 17 fev. 2013. (Texto adaptado.)

1. Você reparou que a palavra “veículo”, na tirinha, aparece com dois sentidos diferentes. Quais são

esses sentidos? 2. Por que, em sua opinião, a personagem Mafalda aconselha a cultura a saltar do veículo e ir a pé? 3. A tirinha está transmitindo um ponto de vista sobre um assunto. Qual é o assunto? Qual é o ponto

de vista? 4. Muita gente acha que a TV é apenas um meio pelo qual os fatos chegam aos indivíduos, ou seja,

ela apenas reflete o que acontece em nossa sociedade. Dê sua opinião sobre o tema. Os veículos de comunicação apenas refletem a violência que há no mundo, ou podem incentivá-la, por meio de programas e notícias? Justifique sua resposta. 5. De que maneira, em sua opinião, a TV poderia ser efetivamente um veículo de cultura? 9º ano

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OPINAR E ARGUMENTAR O tema da imagem anterior é um dos muitos que circulam no mundo sobre o qual podemos opinar, dar um parecer, fazer um julgamento. É comum, no trabalho, na escola e no convívio com a família e com os amigos, declararmos o que pensamos sobre diferentes temas e ideias. Opinamos sobre as vantagens e desvantagens de seguir uma carreira profissional; sobre o comportamento de alguém; sobre uma notícia publicada em um jornal; sobre a atuação da Seleção Brasileira; sobre as razões da violência, do preconceito, da fome, dos hábitos alimentares de algumas pessoas, da existência da guerra, do sentimento de solidão... Opinar é “achar”, é “conjecturar”. O que é opinável é discutível, ou seja, admite a possibilidade de que outra pessoa não aceite e, inclusive, apresente razões contrárias ao que foi manifestado por nós. Não existe opinião unânime sobre um assunto. Por isso, tão importante quanto opinar é saber defender sua opinião. Apresentar fatos, ideias, dados, informações e mostrar causas e consequências ajudam a convencer e persuadir alguém sobre o que é postulado em uma opinião. Em alguns dos textos que circulam nos meios de comunicação de massa – jornal, revista, rádio, televisão –, as opiniões podem aparecer camufladas; em outros – nos artigos de opinião, por exemplo –, os autores argumentam claramente em favor de um ponto de vista.

ARTIGO DE OPINIÃO Um artigo de opinião é um texto escrito que aborda uma questão controversa ou polêmica. Esse gênero de texto apresenta uma argumentação bem caracterizada, que busca conduzir o raciocínio do leitor, a fim de que ele reflita e, possivelmente, passe a compartilhar da opinião do autor. Esse gênero de texto é normalmente veiculado em revistas e jornais, impressos ou on-line. É importante considerar duas coisas, quando temos em mãos um artigo de opinião: 1. Não é necessário concordar com tudo que está escrito. Você pode reconhecer argumentos sensatos, lógicos, mas também pode perceber que são tendenciosos, que mostram apenas um dos lados da questão e manipulam os fatos de acordo com os interesses do autor. 2. Uma leitura crítica de diferentes artigos de opinião sobre um mesmo tema

pode fornecer elementos para que você construa o próprio ponto de vista sobre o que está sendo discutido. Para fazer uma boa análise dos artigos, convém que você se familiarize com o modo como a argumentação desse gênero de texto é construída. 40

Língua Portuguesa


Dessa forma, estudar artigos de opinião implica estudar estratégias argumentativas, isto é, a maneira como o autor expõe e organiza ideias, fatos e dados, com o objetivo de defender um ponto de vista e influenciar o leitor. Vamos ler alguns artigos de opinião e analisar algumas estratégias argumentativas, para que você possa produzir o próprio artigo. LER ARTIGO DE OPINIÃO I

Antes de ler o próximo texto, examine-o e responda às questões a seguir: 1. Quem escreveu o texto que você vai ler? Que informações você tem sobre esse autor? 2. Essas informações (ou a falta delas) criam expectativas em relação ao texto? 3. Esse texto trata de atendimento médico. Qual é sua opinião sobre o atendimento médico hoje

no Brasil? Agora, leia o artigo:

Médico de família 1

Há pessoas mais velhas que morrem de saudade do médico de família. Contam, com nostalgia, que ele visitava os doentes em casa, ouvia suas queixas, medicava e fazia as recomendações necessárias. Depois, tranquilizava os familiares na sala, ouvia confidências, dava conselhos. É possível comparar com a velocidade do 2 atendimento no serviço público, nos convênios e mesmo nas clínicas particulares? Por que os médicos atuais teriam perdido essa delicadeza no trato? Antes de responder, quero deixar claro que não pretendo fazer a defesa corporativa dos profissionais que maltratam pacientes humildes, dos irresponsáveis que sequer os ouvem, dos incompetentes e desonestos que envergonham a profissão. Estabelecida tal premissa, voltemos à ques3 tão: esse tipo de médico foi extinto por várias razões. Primeiro, porque desapareceram as famílias numerosas de antigamente que se reuniam em torno do patriarca para o cafezinho na sala com o doutor. Segundo, porque as cidades pacatas nas quais ele se movimentava não existem mais. Terceiro, porque os honorários recebidos por um médico daquele tempo eram suficientes para uma vida confortável, sem precisar de três ou quatro empregos. E, acima de

Drauzio Varella

tudo, porque médico de família era privilégio de poucos. Nasci durante a Segunda Guerra, no bairro 4 operário do Brás, a 15 minutos da praça da Sé. Quando aparecia um homem com maleta de médico na porta de uma das casas coletivas características do bairro, a molecada do futebol de rua já sabia que alguém estava à beira da morte. Aos sete anos, acordei com os olhos inchados, e meu pai me levou ao pediatra pela primeira vez; na volta, meus amigos queriam saber se era verdade que os pediatras amarravam as crianças na cama para aplicar injeções enormes no traseiro. 5 Se a 15 minutos da praça da Sé não chegava assistência médica à classe operária, o que aconteceria na zona rural, residência de mais de 70% dos brasileiros na época? Os médicos do interior do Ceará assolado pelas secas também sentavam com as famílias na sala de visita? Hoje, num país urbano, apesar do descalabro 6 administrativo em que vive parte significativa das unidades de saúde estatais, do desperdício absurdo de recursos e da praga da corrupção que infesta de forma crônica o Ministério e as secretarias de Saúde, a assistência médica é incomparavelmente mais democrática. Quase 100% das crianças

9º ano

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a mesma, caso a população tivesse duplicado são vacinadas, a maioria das mães faz pré-nanos últimos 35 anos. tal, dá à luz em maternidades e encontra postos Às custas de perdas salariais e de enfrentar de Saúde. Esperam horas para ser atendidas, 9 condições precárias de trabalho, não apenas muitas vezes saem insatisfeitas, é verdade, mas médicos, mas enfermeiras, assistentes sociais seus filhos são examinados pelo pediatra, luxo e todos os profissionais que prestam serviinatingível para as crianças da minha geração. 7 ços de saúde foram os heróis anônimos dessa Embora insuficientes, capengas, sempre em revolução, que poderia ter sido muito mais luta contra a falta de recursos, temos alguns proabrangente se houvesse menos demagogia gramas de distribuição gratuita de medicamenpolítica e maior envolvimento da sociedade. tos que jamais seriam acessíveis sequer à classe Quando ouço exaltar as qualidades humanimédia, hospitais que realizam procedimentos de 10 tárias dos antigos médicos de família, sinto resalta complexidade pelo SUS e equipes de agenpeito por eles. Mas o desprendimento dos protes de saúde que prestam atendimento em comufissionais de saúde que trabalham nas frentes de nidades que jamais puderam sonhar com ele. batalha recebendo salários baixos para atender 8 Por mais incompetente, corrompida e cagente pobre em comunidades distantes, nos amótica que seja nossa administração pública, é bulatórios, pronto-socorros e enfermarias dos preciso reconhecer o esforço realizado pelo hospitais públicos me comove muito mais. país nos últimos 40 anos para levar assistênO desafio atual é como conciliar o trabalho cia médica à população. Em 1970, éramos 90 11 duro realizado por eles, com a preservação do milhões de habitantes servidos por um sistesentimento de solidariedade diante do sofrimento ma de saúde muito mais precário do que o humano, sem o qual a medicina não tem sentido. atual. Perguntem a franceses, ingleses ou aleDisponível em: <http://drauziovarella.com.br/wiki-saude/medico-de-familia>. mães se a saúde pública de seus países seria Acesso em: 5 dez. 2012.

4. O texto “Médico de família” pode ser considerado um artigo de opinião? Por quê? 5. O texto discute um atendimento específico, dado a determinada pessoa, em local e momento bem

marcados, ou o atendimento médico de maneira geral? 6. A base desse texto é uma comparação. Qual? 7. Que ponto de vista sobre o atendimento médico atual é defendido pelo autor? 8. O autor expõe vários dados estatísticos e ocorrências que comprovam o que ele defende. a) Como você acha que ele obteve essas informações? b) Em sua opinião, qual é a função das informações que aparecem ao longo do texto? 9. Releia o que escreveu sobre o atendimento médico atual. O texto “Médico de família” apresentou

dados novos? Os argumentos do texto fizeram que você mudasse de opinião? Justifique sua resposta.

A CONSTRUÇÃO DE UM ARTIGO DE OPINIÃO Vamos retomar o texto e verificar como Drauzio Varella expôs sua opinião e como a defendeu. Leia novamente os dois primeiros parágrafos. O autor, se quisesse, poderia ter escrito: “Os médicos de hoje não dão aos pacientes o tratamento compreensivo 42

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que era dado antigamente pelo médico de família”. Entretanto, em vez de apresentar com rapidez essa ideia, ele a apresenta de uma forma que conquista o leitor e o faz concordar com ele: primeiro descreve como era bom o contato do médico de antigamente com as famílias, depois pergunta: “Dá para comparar?”. A resposta que intimamente o leitor dá é “não”. Porém, sem perder tempo, e para não encerrar a discussão com um lamento saudosista, o autor provoca: “Por que os médicos atuais teriam perdido essa delicadeza no trato?”. Muitas seriam as respostas que você ouviria se lançasse essa questão num bate-papo. Provavelmente seriam ditas frases como “porque os médicos hoje só querem saber de dinheiro”; “porque eles são obrigados a atender muitos pacientes”; “porque tudo mudou, a vida antes era mais tranquila” etc. Mas o que é feito num texto de opinião? Para que o autor defenda um ponto de vista, ele investiga o tema mais a fundo, procura dados estatísticos para procurar entender o que ocorre de fato, lê o que especialistas pesquisam. Enfim, não emite apenas uma opinião, mas procura fundamentá-la para defendê-la. Releia o terceiro parágrafo. O que o autor faz aí se chama contra-argumentar. Prevendo a alegação que o leitor poderia fazer, ele já se defende, definindo uma posição. É claro que a atitude desrespeitosa é inaceitável no médico. Isso não será discutido. O que, então, é válido considerar? No quarto parágrafo, a frase “Estabelecida tal premissa, voltemos à questão” funciona como fator de coesão. Como o autor interrompeu o que estava dizendo, ele retoma formalmente o percurso inicial do texto, para orientar a leitura do leitor, já enumerando quatro razões. Nesse momento, é importante o auxílio de termos que ordenam ideias (“primeiro”, “segundo”). Repare no modo como ele apresenta a última razão. Ele escreve: “E, acima de tudo, porque...”. O que a expressão “acima de tudo” revela para o leitor? Das quatro razões apresentadas, qual o autor considera a mais importante? Nesse parágrafo, o autor retoma o que disse antes (que aquele médico antigo não existe mais) e apresenta motivos para isso. Você percebeu que esses motivos são expostos em uma ordem que revela um valor? O primeiro nada tem a ver com o profissional (aquele médico de família sumiu porque não há mais aquele tipo de família). Os dois seguintes já pressupõem circunstâncias ligadas ao médico: ele não teria a possibilidade de visitar os doentes em razão da vida turbulenta na cidade hoje; além disso, precisa trabalhar mais do que naquela época para obter um rendimento adequado. Não é à toa que o autor dá tanto destaque ao último argumento; é nele que toda a discussão restante vai se fundamentar. O médico de família de antigamente é um modelo, porém, para quantas pessoas ele estava disponível? O leitor que examina atentamente o que lhe é apresentado reflete que algo mais precisa ser analisado nessa situação antes de continuar o saudosismo pelo

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médico de antigamente. O autor já preparou o terreno para expor o ponto de vista que quer defender. Diante de uma boa argumentação, o leitor aceita ideias diferentes daquelas que tinha quando começou a ler. É comum que isso aconteça durante a leitura de um artigo de opinião, mas é preciso ser crítico e não se deixar convencer por argumentos fracos ou falsos. Volte ao quinto e ao sexto parágrafo. Você reparou que o autor lançou mão de um exemplo para justificar a ideia que é a base de sua reflexão? A distância que uma família como a do autor mantinha de um médico é representativa da distância de toda uma classe social, que nem era extremamente pobre, do atendimento médico. E o autor estende o pensamento. Se era desse jeito em um centro urbano desenvolvido, que pensar de um lugar afastado, no interior do Brasil? Realmente, a figura do médico de família era muito importante, mas que eficácia ela tinha na sociedade como um todo? Veja que o leitor participa da discussão que ele acompanha no artigo de opinião. O advérbio “hoje” que aparece no sétimo parágrafo faz muito mais do que apenas indicar a que tempo o autor se refere. Ele é marcador da comparação que está na base desse artigo: ontem x hoje. E qual é a situação hoje? “A assistência médica é incomparavelmente mais democrática”, diz o autor. Isso quer dizer que mais gente tem acesso a ela. Enfim, nesse ponto do texto, o autor propõe que houve um ganho; passamos de um atendimento limitado, restrito a poucas pessoas, a um atendimento mais abrangente. E comprova com dados: • “quase 100% das crianças são vacinadas, a maioria das mães faz pré-natal, dá à luz em maternidades e encontra postos de saúde”; • “seus filhos são examinados pelo pediatra”; • “temos alguns programas de distribuição gratuita de medicamentos que jamais seriam acessíveis sequer à classe média, hospitais que realizam procedimentos de alta complexidade pelo SUS e equipes de agentes de saúde que prestam atendimento em comunidades que jamais puderam sonhar com ele”. Enfim, ainda que não tenha a qualidade desejável, o atendimento na área da saúde pública chega a mais pessoas do que antigamente. O Estado levou assistência médica à população, mesmo tendo ela duplicado nas últimas décadas. Este é o ponto de vista que o autor quer provar. Ele levantou uma questão, fez uma comparação e, para concluir, provou que os médicos de hoje merecem respeito, porque atendem populações pobres em comunidades distantes, nos ambulatórios, prontos-socorros e enfermarias dos hospitais públicos. Mas repare que há uma crítica: o atendimento poderia ser mais eficiente “se houvesse menos demagogia política e maior envolvimento da sociedade”. Será que o autor poderia esclarecer de que forma a sociedade poderia se envolver? Será que poderia entrar em detalhes sobre a demagogia política e suas implicações? Claro! Mas de que tamanho ficaria o texto? Seria possível esgotar o assunto? De forma alguma. Uma ideia puxaria outra, e ele perderia seu principal objetivo, aquele que o autor propôs discutir. Esta é outra regra para quem escreve um ar44

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tigo de opinião. É preciso saber delimitar o assunto. Não é recomendável fazer uma discussão superficial, mas é preciso ter consciência de que não é possível abranger tudo. Há limite de espaço e de alcance. Assim, muitas outras questões ficam fora do texto, porque não é a intenção do autor discuti-las ali. A conclusão do texto é a necessidade de conciliar o “trabalho duro realizado por eles, com a preservação do sentimento de solidariedade diante do sofrimento humano, sem o qual a medicina não tem sentido”. Como isso poderia ser feito? É assunto para outro texto e requer outra investigação... Depois da leitura desse artigo de opinião, poderíamos dizer simplesmente que, no passado, o serviço médico era bom e hoje não é? No mínimo teríamos de pensar que critérios definem um bom atendimento médico. Dica Um bom artigo de opinião não precisa dizer apenas o que interessa e esconder dados inconvenientes, justamente porque esses últimos, quando a reflexão é benfeita, não destroem a argumentação do autor. Vale a pena salientar (e imitar) os termos empregados com o objetivo de admitir o outro lado: • “apesar do descalabro administrativo, …” • “muitas vezes saem insatisfeitas, é verdade, mas…” • “embora insuficientes, …”

MOMENTO DA ESCRITA I

As questões abaixo devem ser respondidas em seu caderno. Elas vão ajudá-lo a refletir sobre a redação de um artigo de opinião. 1. Muitas estruturas empregadas nesse artigo de opinião podem ser repetidas em textos de tema

diferente. Veja o trecho do texto de Drauzio Varella a seguir. “[...] esse tipo de médico foi extinto por várias razões. Primeiro, porque desapareceram as famílias numerosas de antigamente que se reuniam em torno do patriarca para o cafezinho na sala com o doutor. Segundo, porque as cidades pacatas nas quais ele se movimentava não existem mais. Terceiro, porque os honorários recebidos por um médico daquele tempo eram suficientes para uma vida confortável, sem precisar de três ou quatro empregos. E, acima de tudo, porque médico de família era privilégio de poucos.”

Agora, complete os parágrafos a seguir sobre os temas sugeridos. a) Futebol O futebol é um esporte popular no Brasil por várias razões. Primeiro, porque Segundo, porque

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Terceiro, porque E, acima de tudo, porque b) Televisão

A televisão é um dos mais eficazes meios de comunicação criados pelo homem. Primeiro, porque Segundo, porque Terceiro, porque E, acima de tudo, porque c) Carreira profissional

Poder escolher uma carreira profissional é muito importante. Primeiro, porque Segundo, porque Terceiro, porque E, acima de tudo, porque

2. Examine o trecho abaixo:

“Se a 15 minutos da praça da Sé não chegava assistência médica à classe operária, o que aconteceria na zona rural, residência de mais de 70% dos brasileiros na época?” Escolha livremente dois temas e complete as frases: Tema 1: Se

o que aconteceria

?

o que aconteceria

?

Tema 2: Se 46

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3. Termine as frases a seguir, acrescentando causas no lugar do *. Para introduzir a causa, use conec-

tivos, como: porque, já que, uma vez que, em virtude de, por e como. a) O atendimento médico, nas grandes cidades, vem se tornando um problema *. b) Hoje em dia, os cursos de medicina são os mais concorridos *. c) O tratamento de doenças como o câncer e a aids desenvolveu-se muito nas últimas décadas *. d) A realização pessoal está muito ligada à escolha de uma profissão *. e) Vem crescendo o consumo de álcool, sobretudo cerveja, *. f) A pesquisa e o estudo contam muito na hora de escrever um artigo de opinião *. 4. Examine o contraste de ideias. Comerciais de TV

→ antigamente: dirigidos às donas de casa → hoje: dirigidos às crianças

Observe como essas ideias foram organizadas nas frases abaixo: Antigamente, a maioria dos comerciais de TV era dirigida à dona de casa. Hoje, muitos têm como alvo as crianças. Com base no exemplo, organize outras frases com as ideias que se seguem: → antigamente: menor em função do número de carros a) Poluição atmosférica

→ hoje: põe em risco a vida de milhares de pessoas, sobretudo daquelas que sofrem de problemas respiratórios

b) Violência nas grandes cidades

→ antigamente: era um problema que podia ser resolvido apenas pela polícia → à hoje: é um problema que vem aumentando, e solucionálo requer um esforço de toda a sociedade

→ antigamente: atendiam menos pacientes c) Médicos

→ hoje: atendem várias pessoas, pois, para se manter, precisam trabalhar em muitos hospitais

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ARGUMENTAÇÃO Você conhece a fábula “O lobo e o cordeiro”, de La Fontaine? Veja como ela começa: Um cordeiro estava bebendo água num riacho. O terreno era inclinado e por isso havia uma correnteza forte. Quando ele levantou a cabeça, avistou um lobo, também bebendo água. Como é que você tem a coragem de sujar a água que eu bebo? – disse o lobo, que estava alguns dias sem comer e procurava algum animal para matar a fome. – Senhor – respondeu o cordeiro –, não precisa ficar com raiva porque eu não estou sujando nada. Bebo aqui, uns vinte passos mais para baixo. É impossível acontecer o que o senhor está falando. [...] LA FONTAINE, Jean de. O lobo e o cordeiro. Porto Alegre: Kuarup, 1994. (Texto adaptado.)

O lobo quer castigar o cordeiro por ter sujado a sua água. Repare na razão que o cordeiro aponta para não ser castigado. Ele está vinte passos abaixo, ou seja, está num ponto do rio onde corre uma água que já tinha passado pelo lobo. O que o cordeiro apresenta é inegável. Ele poderia ter discutido que não estava sujo e, portanto, não sujava nada, mas nem se preocupou com isso. Afinal, essa questão dependeria do que o lobo entende por “sujar” e a discussão poderia ser interminável. Dizemos, então, que o cordeiro apresentou um bom argumento. Essa fábula exemplifica como os argumentos podem ser usados. Há muitas estratégias para argumentar. Vamos conhecer algumas.

1. ARGUMENTO DE CAUSA E CONSEQUÊNCIA Esse argumento ocorre quando se esclarece o motivo pelo qual é possível fazer determinada afirmação. Exemplo: O tempo se encarregou de deixar claro que a varíola foi mais fácil de eliminar [do que a poliomielite]. Primeiro, porque seus portadores são facilmente identificáveis a partir das lesões que surgem na pele, enquanto a maioria das infecções pelo vírus da pólio são inaparentes: apenas um em cada cem a 200 infectados desenvolve a forma paralítica da doença, mas todos eliminam o vírus nas fezes. Segundo, porque enquanto uma única dose da vacina contra a varíola confere imunidade em 95% a 98% das vacinações, a da paralisia infantil exige três, quatro e, às vezes, seis doses de reforço para a imunização. (Drauzio Varella, Folha de S.Paulo, 5 ago. 2006.)

É simples verificar em que se baseia a declaração de que eliminar o vírus da varíola foi mais fácil que eliminar o da poliomielite: a fácil identificação da doença e a necessidade de menos doses de vacina. Na tentativa de justificar alguns pontos de vista, é preciso cuidado para não repetir de outra forma o que já foi dito, em vez de apontar a causa. É o que aconteceria se escrevêssemos: “O número de casos da pólio aumentou, porque um número muito maior de crianças foi infectado”. Aumento de casos equivale a mais gente infectada; nada foi acrescentado. Esse é um defeito na argumentação. 48

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2. ARGUMENTO DE AUTORIDADE Às vezes, para atestar a veracidade do que se apresenta como prova, cita-se uma pessoa ou uma instituição que tem muita credibilidade no assunto que está sendo discutido. Exemplo: Do outro lado da equação, a ONU diz que os indivíduos precisam de 5 litros de água por dia, simplesmente para sobreviver em um clima moderado, e de ao menos 50 litros diários para beber e cozinhar, tomar banho e usar em saneamento. (Juliette Jowit, Carta na Escola, fevereiro de 2009, edição 33. p. 20.)

Os dados que aparecem são confiáveis, uma vez que são da Organização das Nações Unidas (ONU), cujos objetivos são “manter a paz e a segurança internacionais; desenvolver relações amistosas entre as nações; e realizar a cooperação internacional para resolver os problemas mundiais de caráter econômico, social, cultural e humanitário” (ONU-BR. Disponível em: <www.onu.org.br>. Acesso em: 23 out. 2012.)

3. ARGUMENTO POR EXEMPLIFICAÇÃO Nesse tipo de argumento, cita-se uma ocorrência concreta para dela extrair uma conclusão geral. Exemplo: O caso da Nigéria é didático. Em 2003, grupos que se opõem à vacinação de crianças [...] lançaram boatos de que a vacina estaria contaminada pelo vírus da aids ou misturada com hormônios destinados a esterilizar meninas muçulmanas, e conseguiram suspender a vacinação em vários Estados no norte do país.” (Drauzio Varella, Folha de S.Paulo, 5 ago. 2006.)

Com base em um exemplo, conclui-se que problemas sociais e políticos podem interferir negativamente na erradicação da poliomielite. É preciso ter cuidado, porém, para não fazer generalizações falsas. O exemplo de um prefeito que desviou dinheiro público não comprova que todos os prefeitos são corruptos. Esse exemplo serviria para mostrar que é necessário haver leis para fiscalizar e punir os ocupantes de cargos executivos.

4. ARGUMENTO DE PRINCÍPIO É um tipo de argumento bastante empregado. Baseia-se nas ideias de bom senso, normalmente aceitas e que dispensam maiores justificativas. Exemplo: País nenhum pode se considerar imune às epidemias alheias. (Drauzio Varella, Folha de S.Paulo, 14 out. 2006.)

O senso comum é a chamada opinião pública; é aquele saber que adquirimos espontaneamente, no nosso contato com os outros. É um saber superficial, que não exige especialização. O contrário seria o senso crítico. É preciso ter cuidado ao usar opiniões do senso comum, que podem não se justificar. É o caso de um argumento como “A pena de morte vai fazer diminuir a criminalidade”. 9º ano

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ARTICULADORES Palavras soltas, sem nenhuma organização, não constituem um texto. É preciso uni-las com outras palavras que tenham o sentido que desejamos. Uma coisa é escrever “Foram para lá, apesar do calor”; outra é escrever “Foram para lá, por causa do calor”. Esse trabalho de unir ideias de forma coerente é chamado de articulação. Há articuladores que unem orações e há os que unem parágrafos, e eles são extremamente importantes para expressar os argumentos usados em um artigo de opinião. Durante a leitura que faremos de alguns textos, repare na importância deles na expressão dos argumentos.

Zig Koch/Pulsar Imagens

MAIS POLÊMICA

Zig Koch/Opção Brasil Imagens

Vista aérea do rio São Francisco em Juazeiro (BA), 2012.

Encontro do rio São Francisco com o rio Grande em Barra (BA), 2012.

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Você já ouviu falar sobre o projeto de transposição das águas do rio São Francisco? Esse projeto divide opiniões. A ideia é construir dois canais ligando o rio São Francisco a bacias hidrográficas menores do Nordeste, bem como aos seus açudes. Segundo o governo federal, o intuito dessas obras é melhorar a distribuição da água para uma população de 12 milhões de nordestinos. O prazo para realização do projeto é de vinte anos. Até 2009, seu custo total estimado era de R$ 4,5 bilhões. Além da interligação das bacias, há um projeto para recuperar os afluentes do rio São Francisco, pois vários deles sofrem problemas de assoreamento, decorrentes do desmatamento para a agricultura. Como toda questão polêmica, há argumentos a favor e contra. Alguns grupos da sociedade consideram o projeto caro e que, no lugar dele, pequenas obras poderiam ser feitas para resolver o problema. Outra questão polêmica diz respeito a quem vai realmente se beneficiar com a transposição. Entretanto, o governo federal afirma que o número de empregos que serão criados, direta e indiretamente, e a solução do problema da seca trariam muitos benefícios para a população. MOMENTO DA ESCRITA II

Antes de ler dois artigos de opinião, escreva o seu ponto de vista sobre a alteração do curso do rio São Francisco. O que você acha desse projeto? É a melhor maneira de melhorar a qualidade de vida de quem vive em regiões castigadas pelas grandes secas? Ou obras assim não resolvem o problema e colocam em risco a fauna e a flora da região? Escreva também seus argumentos a favor e/ou contra. Ponto de vista:

Argumentos:

O quadro a seguir reúne argumentos a favor do projeto de transposição e argumentos contrários. Escolha e grife os argumentos que, em sua opinião, podem ajudar a fundamentar seu ponto de vista sobre esse projeto. 9º ano

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ARGUMENTOS A FAVOR DO PROJETO • Garantir água potável para 12 milhões de habitantes do semiárido é construir o futuro do Nordeste. • A disponibilidade hídrica atual de algumas cidades do Nordeste é inferior a 1/3 do recomendado pela Organização Mundial da Saúde. • “As terras lindeiras dos 620 quilômetros de canais da interligação foram previamente declaradas de interesse público para fins de desapropriação do futuro. Elas compreendem uma faixa de 2,5 quilômetros de cada lado, que poderá assegurar a arrecadação de mais de 350 mil hectares de terras férteis, o que produzirá no futuro cerca de 200 mil empregos permanentes.” (José Graziano da Silva, professor titular de economia agrícola da Unicamp. Folha de S.Paulo, 9 out. 2005.) • Nos EUA, há 30 anos, as águas do rio Colorado foram canalizadas pelo deserto de Phoenix, no Arizona, com um desvio de 4 mil quilômetros. A China constrói um canal de mil quilômetros para levar águas do Yang-tsé, do Sul, ao Norte do país. (José Graziano da Silva, Folha de S.Paulo, 9 out. 2005.)

• Extinção de fatores resultantes da seca, como escassez de alimentos, baixa produtividade no campo, morte de rebanhos e desemprego no meio rural. • A oferta de água vai contribuir para a fixação do homem no campo. • A região onde o projeto será construído apresenta um alto índice de doenças ligadas à água. Com menos pessoas doentes pela má qualidade da água, haverá menos pressão na infraestrutura da saúde.

ARGUMENTOS CONTRA O PROJETO • Não há projeto que resolva o problema histórico da seca. • “Ao invés de se combater as secas com soluções de engenharia hidráulica, deve-se desenvolver

uma política de convivência com o semiárido.” (Marco Antônio Tavares Coelho, jornalista, autor do livro Os descaminhos do São Francisco. Folha de S.Paulo, 9 out. 2005.) •“O projeto baseia-se na tese falsa “de que a escassez de água na região impede a sobrevivência em condições dignas das populações.” (Marco Antônio Tavares Coelho. Folha de S.Paulo, 9 out. 2005.) • “O projeto, que utiliza imensos recursos públicos, não tem por objetivo ajudar a população pobre, mas impulsionar a exportação de produtos agrícolas.” (Marco Antônio Tavares Coelho. Folha de S.Paulo. 9 out. 2005.) • “Diminuiria a geração de energia elétrica no Nordeste; teria de fixar caríssimas tarifas pelo uso de águas transportadas por centenas de quilômetros e elevadas por bombas elétricas para vencer altitudes de mais de 300 metros.” (Marco Antônio Tavares Coelho. Folha de S.Paulo, 9 out. 2005.)

• Perda de emprego por causa das desapropriações e no fim da obra, quando trabalhadores não devem conseguir vagas de trabalho para permanecer na região. • Poderá haver desaparecimento da biodiversidade nos rios da região. Estima-se que 430 hectares de vegetação serão desmatados. • A desapropriação das terras pode gerar conflitos, além de romper laços formados no cotidiano. • Haverá menos espaço para peixes com a mudança de volume nos açudes. Isso pode acarretar a diminuição de espécies usadas na pesca e no comércio. 52

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Agora escreva um artigo de opinião sobre a transposição do rio São Francisco. Imagine que ele será publicado em um jornal de grande circulação, cujos leitores não têm necessariamente muitas informações sobre o tema. Organize seu texto em parágrafos. No primeiro escreva seu ponto de vista sobre o projeto de transposição do rio. Nos parágrafos seguintes, escreva seus argumentos (de causa e consequência, de autoridade, de exemplificação, de princípio). Reserve o último parágrafo exclusivamente para a conclusão. LER ARTIGO DE OPINIÃO II

Você vai ler agora dois artigos de opinião sobre a transposição do rio São Francisco. Depois de lê-los com muita atenção, responda às questões.

Demora a transposição EDITORIAL 28.8.2012

A transposição das águas do Rio São Francisco para as bacias hidrográficas do Nordeste Oriental vem sofrendo atrasos identificados pelo Tribunal de Contas da União (TCU), ao avaliar o cumprimento de seus organogramas físico e financeiro. A conclusão desse projeto ciclópico, inicialmente prevista para entre 2010 e 2012, foi reestimada para o período compreendido entre 2014 e 2015, portanto, fora da administração da presidente Dilma Rousseff. Essa hipótese representa risco de postergação, diante da má vontade manifestada de segmentos influentes em relação a esse macroprojeto. Ademais, a protelação do prazo de um dos maiores investimentos do governo federal no Nordeste tem-se refletido no seu valor inicial, estimado em R$ 4,7 bilhões, mas já alterado para mais de R$ 8 bilhões. Evidentemente, a obra com execução programada para médio prazo sofreria reajustes contratuais e, mais ainda, por outros ditados pelo encarecimento dos insumos utilizados nos canteiros. O quadro de dificuldades provocado pela escassez de chuvas, neste ano, diz bem da re-

levância da interligação das águas do Rio São Francisco com as bacias hidrográficas do Nordeste Oriental, beneficiando porções significativas do Ceará, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Alagoas. Além dos municípios situados no entorno dos grandes reservatórios construídos pelo Dnocs na região, há também carência de água para suprir o abastecimento humano de, pelo menos, três das maiores cidades interioranas: Campina Grande, na Paraíba; Caruaru, em Pernambuco; e Mossoró, no Rio Grande do Norte, com fontes hídricas insuficientes. O projeto é gigantesco para a região, mas minúsculo em relação a investimentos realizados pelo poder público no Centro-Sul, no Sudeste ou no Centro-Oeste. Quando concluído, ele irá assegurar o suprimento de água potável para 12 milhões de pessoas, distribuídas por 1 100 cidades disseminadas pelo semiárido nordestino, sem água no subsolo. O último relatório setorial do TCU é, de certa forma, desanimador, quando aponta irregularidades na condução das obras. Empresas contratadas para supervisionar a construção

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encontraram defeitos de responsabilidade das construtoras. De outra parte, alguns lotes passaram quase um ano sem o acompanhamento das equipes responsáveis pelo controle de qualidade. Por esse ato falho, o que as empreiteiras faziam não era fiscalizado de forma adequada, gerando consequências nocivas. Houve, igualmente, excessivas mudanças no projeto, forçando aditivos contratuais no limite do valor legal, mas sem que o projeto ficasse pronto. Há, até mesmo, segundo o TCU, indícios de obras com pagamento duplicado. A experiência tem demonstrado ser diferente a realidade dos canteiros de obra das exigências contidas nas normas de fiscalização e controle dos órgãos incumbidos dessa tarefa.

Diante da magnitude do empreendimento, poderia haver esforço conjunto para a unificação dos critérios de execução das obras e de verificação da procedência das despesas, sem deixar dúvidas quanto a seu valor. As divergências alimentam as correntes contrárias a essa obra que deveria ser incontestável. O governo é o maior empreendedor no País, movimentando as obras diversificadas do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Contudo, suas obras têm sofrido críticas em decorrência da má gestão. Enquanto essa questão básica não for resolvida, o País estará com seu desenvolvimento atolado em obras vítimas de paralisação. Disponível em: <http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=1175068>. Acesso em: 9 set. 2012.

1. O texto “Demora a transposição” é um editorial. Segundo o Manual de redação e estilo do jornal

O Estado de S. Paulo, o editorial é um “texto jornalístico opinativo, escrito de maneira impessoal e publicado sem assinatura, que expressa o ponto de vista da empresa responsável pela publicação”. Qual é o ponto de vista do Diário do Nordeste sobre o projeto de transposição do rio São Francisco?

2. No título do editorial, já é possível perceber se o jornal é a favor ou contra o projeto de transposi-

ção do rio? Justifique sua resposta. 3. Localize o parágrafo em que o editorial afirma que a obra é muito importante para a região atin-

gida pelo projeto. 4. Quais problemas o editorial aponta como consequência da reestimativa dos prazos do projeto? 5. “O projeto é gigantesco para a região, mas minúsculo em relação a investimentos realizados pelo

poder público no Centro-Sul, no Sudeste ou no Centro-Oeste.” a) Quais palavras são indicadoras da opinião do editorialista? b) Na frase transcrita há uma comparação e uma crítica que vai além do tema da transposição do

rio. Qual é a crítica que está subentendida? 6. Compare as frases e responda às questões.

Frase 1: O último relatório setorial do TCU aponta irregularidades na condução de obras. Frase 2: O último relatório setorial do TCU é, de certa forma, desanimador, quando aponta irregularidades na condução das obras. a) Qual das duas expressa uma opinião? Justifique a resposta. b) Quando o editorialista escreve “de certa forma”, ele expressa possibilidade ou certeza? Justifi-

que sua resposta. 7. Qual é a sugestão que o autor do editorial faz para que a obra prossiga sem adiamentos?

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8. “A experiência tem demonstrado ser diferente a realidade dos canteiros de obra das exigências

contidas nas normas de fiscalização e controle dos órgãos incumbidos dessa tarefa.” Esse argumento deve ser considerado um argumento de autoridade ou de princípio? Justifique a resposta. 9. “O governo é o maior empreendedor no País, movimentando as obras diversificadas do Programa

de Aceleração do Crescimento (PAC). Contudo, suas obras têm sofrido críticas em decorrência da má gestão.” Usando o conectivo que aparece em cada quadro, junte os dois períodos num só. Atente para as modificações necessárias. Ainda que

Apesar de

10. “As divergências alimentam as correntes contrárias a essa obra que deveria ser incontestável.”

Que palavra nessa frase mostra claramente que o editorialista é a favor da obra de transposição do rio? LER ARTIGO DE OPINIÃO III

Rio São Francisco: A quem vai servir a transposição das águas? Aziz Ab’Sáber*, Especial para a Folha 20/2/2005

É compreensível que em um país de dimensões tão grandiosas, no contexto da tropicalidade, surjam muitas ideias e propostas incompletas para atenuar ou procurar resolver problemas de regiões críticas. Entretanto, é impossível tolerar propostas demagógicas de pseudotécnicos não preparados para prever os múltiplos impactos sociais, econômicos e ecológicos de projetos teimosamente enfatizados. Tem faltado a eventuais membros do primeiro escalão dos governos qualquer compromisso com planificação metódica e integrativa, baseada em bons conhecimentos sobre o mundo real de uma sociedade prenhe de desigualdades. Nesse sentido, bons projetos são todos aqueles

que possam atender às expectativas de todas as classes sociais regionais, de modo equilibrado e justo, longe de favorecer apenas alguns especuladores contumazes. Pessoalmente, estou cansado de ouvir propostas ocasionais, mal pensadas, dirigidas a altas lideranças governamentais. Nas discussões que ora se travam sobre a questão da transposição de águas do São Francisco para o setor norte do Nordeste Seco, existem alguns argumentos tão fantasiosos e mentirosos que merecem ser corrigidos em primeiro lugar. Referimo-nos ao fato de que a transposição das águas resolveria os grandes problemas sociais existentes na região semiárida do Brasil.

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Trata-se de um argumento completamente infeliz lançado por alguém que sabe de antemão que os brasileiros extranordestinos desconhecem a realidade dos espaços físicos, sociais, ecológicos e políticos do grande Nordeste do país, onde se encontra a região semiárida mais povoada do mundo. O Nordeste Seco, delimitado pelo espaço até onde se estendem as caatingas e os rios intermitentes, sazonários e exoreicos (que chegam ao mar), abrange um espaço fisiográfico socioambiental da ordem de 750 000 quilômetros quadrados, enquanto a área que pretensamente receberá grandes benefícios abrange dois projetos lineares que somam apenas alguns milhares de quilômetros nas bacias do rio Jaguaribe (Ceará) e Piranhas-Açu, no Rio Grande do Norte. Portanto, dizer que o projeto de transposição de águas do São Francisco para além-Araripe vai resolver problemas do espaço total do semiárido brasileiro não passa de uma distorção falaciosa. Um problema essencial na discussão das questões envolvidas no projeto de transposição de águas do São Francisco para os rios do Ceará e Rio Grande do Norte diz respeito ao equilíbrio que deveria ser mantido entre as águas que seriam obrigatórias para as importantíssimas hidrelétricas já implantadas no médio/baixo vale do rio − Paulo Afonso, Itaparica, Xingó. Devendo ser registrado que as barragens ali implantadas são fatos pontuais, mas a energia ali produzida, e transmitida para todo o Nordeste, constitui um tipo de planejamento da mais alta relevância para o espaço total da região. De forma que o novo projeto não pode, em hipótese alguma, prejudicar o mais antigo, que reconhecidamente é de uma importância areolar. Mas parece que ninguém no Brasil se preocupa em saber nada de planejamentos pontuais, lineares e areolares. Nem tampouco em saber quanto o projeto de interesse macrorregional vai interessar para os projetos lineares em pauta. Segue-se na ordem dos tratamentos exigidos pela ideia de transpor águas do São Francisco para além-Araripe a questão essencial a ser feita para políticos, técnicos acoplados e demagogos: a quem vai servir a transposição das águas? Uma interro-

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gação indispensável em qualquer projeto que envolve grandes recursos, sensibilidade social e honestas aplicações dos métodos disponíveis para previsão de impactos. Os “vazanteiros” que fazem horticultura no leito dos rios que “cortam” − que perdem fluxo durante o ano − serão os primeiros a ser totalmente prejudicados. Mas os técnicos insensíveis dirão com enfado: “A cultura de vazante já era”. Sem ao menos dar qualquer prioridade para a realocação dos heróis que abastecem as feiras dos sertões. A eles se deve conceder a prioridade maior em relação aos espaços irrigáveis que viessem a ser identificados e implantados. De imediato, porém, serão os fazendeiros pecuaristas da beira alta e colinas sertanejas que terão água disponível para o gado, nos cinco ou seis meses que os rios da região não correm. É possível termos água disponível para o gado e continuarmos com pouca água para o homem habitante do sertão. Nesse sentido, os maiores beneficiários serão os proprietários de terra, residentes longe, em apartamentos luxuosos em grandes centros urbanos. Sobre a viabilidade ambiental pouca coisa se pode adiantar, a não ser a falta de conhecimentos sobre a dinâmica climática e a periodicidade do rio que vai perder água e dos rios intermitentes-sazonários que vão receber filetes das águas transpostas. Um projeto inteligente e viável sobre transposição de águas, captação e utilização de águas da estação chuvosa e multiplicação de poços ou cisternas tem que envolver obrigatoriamente conhecimento sobre a dinâmica climática regional do Nordeste. No caso de projetos de transposição de águas, há de ter consciência que o período de maior necessidade será aquele que os rios sertanejos intermitentes perdem correnteza por cinco a sete meses. Trata-se, porém, do mesmo período que o rio São Francisco torna-se menos volumoso e mais esquálido. Entretanto, é nesta época do ano que haverá maior necessidade de GLOSSÁRIO reservas do mesmo para hiFalaciosa: enganadora, drelétricas regionais. Trata-se mentirosa. de um impasse paradoxal, do Paradoxal: contraditório. qual, até agora, não se falou.


Por outro lado, se esta água tiver que ser elevada ao chegar a região final de seu uso, para desde um ponto mais alto descer e promover alguma irrigação por gravidade, o processo todo aumentará ainda mais a demanda regional por energia. E, ainda noutra direção, como se evitará uma grande evaporação desta água que atravessará o domínio da caatinga, onde o índice de evaporação é o maior de todos? Eis outro ponto obscuro, não tratado pelos arautos da transposição. A afoiteza com que se está pressionando o governo para se conceder grandes verbas para início das obras de transposição das águas do São Francisco terá consequências imediatas para os especuladores de todos os naipes. Existindo dinheiro − em uma época de escassez generalizada para projetos necessários e de valor certo −, todos julgam que deve ser democrática a oferta de serviços, se possível bem rentosos. Será assim, repetindo fatos

do passado, que acontecerá a disputa pelos R$ 2 bilhões pretendidos para o começo das obras. O risco final é que, atravessando acidentes geográficos consideráveis, como a elevação da escarpa sul da chapada do Araripe − com grande gasto de energia! −, a transposição acabe por significar apenas um canal tímido de água, de duvidosa validade econômica e interesse social, de grande custo, e que acabaria, sobretudo, por movimentar o mercado especulativo, da terra e da política. No fim, tudo apareceria como o movimento geral de transformar todo o espaço em mercadoria. *Aziz Ab’Sáber, 80, é geógrafo, professor-emérito da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP e professor convidado do Instituto de Estudos Avançados da USP. Disponível em: <http://educacao.uol.com.br/atualidades/rio-sao-francisco-a-quemvai-servir-a-transposicao-das-aguas.jhtm>. Acesso em: 23 out. 2012. GLOSSÁRIO

Arauto: pregoeiro, anunciador.

1. Em sua opinião, o autor Aziz Ab’Sáber domina o assunto sobre o qual escreve? Por quê? 2. Para o autor, a transposição das águas do rio São Francisco resolveria os grandes problemas so-

ciais existentes na região semiárida do Brasil? 3. Em qual parágrafo o autor responde à pergunta feita no título do artigo? 4. Em qual parágrafo o autor expressa seu ponto de vista sobre a transposição das águas? 5. Faça uma tabela com duas colunas (causas e consequências) e escreva os argumentos de causa

e de consequência usados pelo autor para defender seu ponto de vista sobre a transposição das águas do rio São Francisco. 6. Retire um argumento de princípio dos parágrafos 1, 2, 6 e 10. 7. Observe as expressões destacadas nas frases retiradas do texto: “Mas parece que ninguém no Brasil se preocupa em saber nada de planejamentos pontuais, lineares e areolares.” “É possível termos água disponível para o gado e continuarmos com pouca água para o homem habitante do sertão. Nesse sentido, os maiores beneficiários serão os proprietários de terra, residentes longe, em apartamentos luxuosos em grandes centros urbanos.” a) As expressões destacadas indicam certeza ou possibilidade em relação aos argumentos apre-

sentados? b) Em sua opinião, porque expressões assim são comuns em artigos de opinião? 8. Na frase “dizer que o projeto de transposição de águas do São Francisco para além-Araripe vai

resolver problemas do espaço total do semiárido brasileiro não passa de uma distorção falaciosa”, quais palavras mostram claramente que o autor Aziz Ab’Sáber é contra o projeto de transposição das águas do rio São Francisco? 9º ano

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Dica Os adjetivos, palavras que atribuem características (qualidade, estado, modo de ser, aspecto) ao substantivo, funcionam como uma das pistas em um artigo de opinião para que possamos distinguir fatos de opiniões. As características positivas ou negativas apontadas são questionáveis e podem ser refutadas. Veja alguns exemplos: a) Há uma lei que proíbe fumar em locais públicos. Há uma lei correta que proíbe fumar em locais públicos. b) O projeto de transposição das águas do São Francisco acontece na região semiárida do Brasil. O equivocado projeto de transposição das águas do São Francisco acontece na região semiárida do Brasil. O necessário projeto de transposição das águas do São Francisco acontece na região semiárida do Brasil.

MOMENTO DA ESCRITA III

Retome o artigo de opinião que você escreveu sobre a transposição do rio São Francisco. Depois da leitura dos textos “Demora a transposição” e “A quem vai servir a transposição das águas?”, você vai poder alterar seu artigo, caso julgue necessário. Lembre-se de levar em consideração seus possíveis leitores, os de um jornal de grande circulação em sua cidade, os quais não estão necessariamente inteirados sobre o tema abordado. Faça a revisão, observando os itens abaixo: • Seu texto apresenta um título instigante? Caso não tenha, você deve criar um. • Você, como autor do artigo, preocupou-se em escrever uma descrição do projeto de transposição do rio para os leitores se inteirarem do assunto que será discutido? Caso não tenha feito isso, escreva um parágrafo contextualizando a questão. • Seu ponto de vista está explicitado? Se quiser dar ênfase a um ponto de vista, pode escrever certamente, sem dúvida, com certeza etc. Se quiser atenuar alguma declaração, convém usar as palavras provavelmente, talvez, possivelmente etc. • Você reuniu argumentos consistentes para defender a posição assumida? Verifique se você utilizou argumentos de diferentes tipos: de causa e consequência, de exemplificação, de autoridade e de princípio. • O último parágrafo ficou reservado para a conclusão? Para concluir, você pode fazer uso de palavras como portanto, enfim, dessa forma etc. • Você citou opiniões diferentes das suas? Caso queira inserir uma, empregue termos como embora, ainda que, mesmo, por mais que, por menos que, porém, por outro lado etc. • Você acha que seu texto está legível e adequado às normas gramaticais? • Acha que conseguiu atingir seus objetivos de tentar convencer seus leitores? PARA AMPLIAR SEUS ESTUDOS Redação linha a linha Livros

Nesse livro, a autora revisa e comenta textos de opinião escritos por leitores do jornal Folha de S.Paulo. Além das correções gramaticais, a autora mostra como encadear ideias e reformular parágrafos. O livro traz ainda um conjunto de tópicos gramaticais que podem ser consultados para resolver dúvidas comuns surgidas na hora de elaborar um texto. CAMARGO, Thaís Nicoleti de. Redação linha a linha. São Paulo: Publifolha, 2004.

Pontos de vista

Esse livro faz parte do conjunto de cadernos elaborados para fornecer subsídios para quem quer participar da Olimpíada de Língua Portuguesa. O material proporciona um mergulho no gênero artigo de opinião, inclui textos para serem lidos e analisados, além de atividades que ajudam na produção. GAGLIARDI, Eliana; AMARAL, Heloísa. Pontos de vista. São Paulo: Cenpec: Fundação Itaú Social; Brasília, DF: MEC, 2008.

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Língua Portuguesa


Capítulo

4

PORTUGUÊS

A opinião (assumida) do jornal

Edu Oliveira/Agência RBS

A

notícia e a reportagem são gêneros que se caracterizam pela divulgação objetiva dos fatos, apesar de a intencionalidade de quem os produz deixar neles algumas marcas. Mas os jornais também fazem uso de um gênero cujo traço principal é justamente a manifestação da posição assumida por esse veículo de comunicação. Trata-se do editorial. Neste capítulo, vamos estudar o editorial de jornal diário. Para começar o estudo desse gênero, observe a charge publicada em um jornal, e converse sobre as questões propostas a respeito dela com seus colegas e o professor.

Esta charge foi utilizada para ilustrar um editorial publicado no jornal Zero Hora no dia 23 de outubro de 2012. O título do editorial era “Mais estudo, mais renda”.

RODA DE CONVERSA

1. No desenho, uma letra “a” está sendo guardada no cofre. a) Há razões para o leitor compreender literalmente essa imagem? Justifique sua resposta. b) O que a letra “a” pode representar? c) Quais as vantagem em ter consigo aquilo que você respondeu no item anterior? 2. Há uma diferença entre guardar dinheiro por meio do sistema representado na charge e por meio

de uma poupança bancária. a) Explique qual.

b) Apesar do que foi apontado no item anterior, a imagem do cofrinho costuma ser usada como

símbolo de investimento financeiro, até mesmo nos cadernos de economia dos jornais e nos folhetos bancários. Você considera que a imagem do cofrinho na charge pretende despertar no leitor a ideia de perda ou de ganho?

3. Associando o que você respondeu nas questões anteriores, o que provavelmente o autor da charge

desejou expressar?

4. A opinião manifestada na charge é muito pessoal ou é compartilhada pelas pessoas em geral?

9º ano

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O EDITORIAL O editorial é um texto argumentativo, de estrutura semelhante à do artigo de opinião, mas apresenta algumas especificidades. Curiosamente, apesar de haver nele um ponto de vista sobre determinado tema, ele é um texto impessoal. Como isso se dá? Naturalmente ele foi redigido por um indivíduo, mas não é a visão desse indivíduo que se manifesta, e sim a do jornal como instituição, tanto que ninguém assina o texto. Outro fator que contribui para a impessoalidade do editorial é um recurso linguístico: o emprego da terceira pessoa. Não se costumam ver nesse tipo de texto expressões como “Eu acho...”, “Para mim...”, “A nosso ver...”. Portanto, dizemos que não há marcas de primeira pessoa (um “eu” que fala). Alguns editoriais empregam a primeira pessoa do plural para impessoalizar o texto. Nesses casos, o “nós” representa uma coletividade. Graças a esse recurso, os pontos de vista assumidos parecem pertencer a uma voz geral, soam como uma ideia da qual todos parecem compartilhar. Os editoriais publicados em um jornal costumam ser escritos pelo mesmo profissional ou pelo mesmo grupo restrito de profissionais. Por representar a empresa responsável por aquele veículo de comunicação, o ponto de vista defendido no editorial é sempre algo socialmente aceito, politicamente correto e relevante para a coletividade. Para a comprovação desse ponto de vista, é fundamental a argumentação. Ela consiste na escolha de ideias que sustentem uma opinião (para que ela não pareça uma impressão) e na ordenação adequada dessas ideias (para que o leitor possa acompanhar o raciocínio realizado pelo autor). A variedade linguística empregada no editorial é a formal. Outro traço desse gênero é que ele tem uma ligação forte com o momento de sua produção. Ele avalia sempre um fato recente, noticiado no próprio jornal, ou então um debate em curso na sociedade, estimulado por trabalhos de centros universitários, estatísticas dos institutos de pesquisa e relatórios oficiais. Enfim, o editorial usa os ganchos fornecidos pelo próprio jornal. O fato de se basear em informações precisas o ajuda a garantir objetividade. No contexto jornalístico, gancho é o motivo que justifica a publicação de uma matéria, pela primeira vez ou como continuação de outra.

O Estado de S.Paulo resume o caráter do editorial: é um “texto jornalístico opinativo, escrito de maneira impessoal e publicado sem assinatura, que expressa o ponto de vista da empresa responsável pela publicação”. MARTINS FILHO, Eduardo Lopes. Manual de redação e estilo de O Estado de São Paulo. 3.ed. revista e ampliada. São Paulo: O Estado de S. Paulo, 1997.

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Língua Portuguesa


Além dos jornais, as revistas e telejornais também podem ter editoriais. Ao contrário do editorial do jornal diário, o das revistas muitas vezes identifica fotograficamente o editor que assina o editorial. Nesse caso, o editorial comenta a própria edição e apresenta um tom mais subjetivo. O editorial pretende levar o leitor a refletir e a agir. Isso fica bem marcado nas sugestões normalmente feitas no texto, conforme você vai constatar na leitura a seguir. Além do editorial, existe opinião nas colunas assinadas, que são da responsabilidade das pessoas que o jornal convida a escrever, e também nas resenhas, isto é, nas críticas a filmes, livros etc.

LER EDITORIAL

O editorial que você vai ler foi publicado no jornal Zero Hora, de Porto Alegre (RS). Examine o seu título e reflita sobre as questões a seguir: 1. Relacionar pais e educação é algo frequente ou incomum? 2. Você supõe que o editorial vá abordar algo previsível ou apresentar um dado surpreendente? 3. Você esperava encontrar esse tema em um editorial de jornal diário? Por quê? 4. Que relação você supõe que o editorial estabelece entre os pais e a educação?

Os pais e a educação Uma mudança no comportamento dos pais, consolidada nas últimas décadas, vem interferindo diretamente nos resultados da educação de crianças e adolescentes. É o enfraquecimento da figura da mãe também como educadora, o que acabou sobrecarregando a escola com uma responsabilidade historicamente compartilhada. O fenômeno, provocado pela participação cada vez mais intensa das mães no mercado de trabalho, não é, no entanto, o único a comprometer a educação como atribuição da escola e da família. Há um distanciamento generalizado entre família e escola, determinado por omissões que podem ser medidas de várias formas. Uma pesquisa do Ibope, por exemplo, revela que apenas 7% da população brasileira considera que a educação também é uma responsabilidade dos pais. O que aparece na pesquisa e em outras manifestações, de forma nem sempre explícita,

como revelou reporta- GLOSSÁRIO gem publicada ontem Consolidada: fixada. por Zero Hora, é a Ibope: sigla de Instituto Brasileiro de Opinião Pública e confusão sempre preEstatística. sente entre a educação Omissões: falta de cuidado, de atenção; descuidos, negligência. formal e a educação Efetivos: que produzem um em seu sentido mais efeito real, que atingem seu amplo. Mudar esse objetivo; bem-sucedidos. quadro não significa cobrar apenas das mães, envolvidas cada vez mais em tarefas fora de casa, uma participação ativa na vida escolar dos filhos. Significa chamar também o pai, os cuidadores, enfim, todas as pessoas que têm a obrigação de proteger suas crianças e seus adolescentes, para que sejam efetivos no envolvimento com professores e com o ambiente escolar. A necessidade da aproximação dos pais do processo educacional é o foco da terceira das

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seis interrogações apresentadas pela campanha da RBS A Educação Precisa de Respostas. Por que é importante os pais participarem da vida escolar dos seus filhos? Algumas conclusões, como as apresentadas por ZH em sua edição dominical, podem parecer elementares. Pais participativos sabem que seus filhos terão melhor desempenho, desde a escola infantil. O que se apresenta como óbvio, no entanto, não vem sendo traduzido em atitudes, como comprova a realidade do ensino brasileiro. Infelizmente, não são maioria os pais que participam das lições que os filhos levam para casa, que incentivam a leitura, elogiam seus esforços, apontam e ajudam a corrigir erros e, o que mais importa, inspiram a convicção de que estudar não é um sacrifício. Ainda são minoritários os pais que contagiam os filhos com a certeza de que têm responsabilidades complementares na educação formal.

Não se espere que as respostas a essa terceira pergunta, que vão inspirar outras reportagens durante as próximas duas semanas em ZH, sejam originais ou espetaculares. As melhores respostas são as cotidianas, de quem não se contenta em transferir aos governos, às escolas e aos professores todas as culpas pelas insuficiências da educação. Pais precisam passar, pelo exemplo, a convicção de que suas atitudes são coerentes com o que pregam, ou não terão autoridade para exigir um melhor ensino para seus filhos. Zero Hora, 1o out. 2012. Disponível em: <http://diariodonordeste.globo.com/ materia.asp?codigo=1175068>. Acesso em: 9 set. 2012.

GLOSSÁRIO

RBS: sigla de Rede Brasil Sul de Televisão, empresa cujas emissoras e retransmissoras cobrem os estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina.

5. O editorial faz referência ao fato que o motivou. a) Qual é esse fato? b) Sublinhe o trecho que faz referência a esse fato. c) O jornal já tinha divulgado esse fato em matérias anteriores. Comprove com trechos do texto. d) Que informação de matérias anteriores é aproveitada pelo editorial? 6. No primeiro parágrafo, o editorial apresenta uma mudança na relação entre “os pais e a educação”. a) Qual é essa mudança? b) Em que momento o editorial a situa? c) Por que ocorreu a mudança, segundo o editorial? d) O que o editorial declara sobre como as coisas se passavam antes? e) Ele avalia a mudança positiva ou negativamente? Que palavras comprovam sua resposta? 7. No final do primeiro parágrafo, o editorial menciona um dado de uma pesquisa do Ibope. a) Por que é importante para o editorial fazer referência a esse dado? b) Pode-se dizer que o editorial manifesta um ponto de vista sobre o dado do Ibope. Que palavra

demonstra isso? Explique.

8. O editorial atribuiu um motivo à mudança constatada na relação entre pais e educação. Prevendo

a reação que esse conteúdo poderia despertar no leitor, o editorial, no segundo parágrafo, apresenta uma espécie de resposta a um provável contra-argumento do leitor. Que resposta é essa?

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Língua Portuguesa


9. Leia a informação a seguir. Educação formal é a educação planejada, que ocorre por meio de instituições de ensino e envolve o aprendizado de conteúdos das ciências e das artes, com profissionais especializados, legislação específica etc. A educação informal ocorre ao longo da vida e não pressupõe planejamento, é basicamente a que envolve o processo de socialização do ser humano. Ela se dá pela percepção de comportamentos e valores em espaços diversos. A educação não formal é intencional, mas não conta com a fixação de períodos e locais nem de conteúdos rígidos. Está envolvida com a transformação social e relaciona-se a movimentos sociais, grêmios e associações. a) Que modalidade de educação se deve entender, no segundo parágrafo do editorial, por “edu-

cação no sentido mais amplo”?

b) Quando o editorial menciona a relação entre pais e educação, ele se refere à participação deles

em que forma de educação?

c) Por que provavelmente há uma confusão entre “a educação formal e a educação em seu senti-

do mais amplo”?

10. No terceiro parágrafo, uma palavra revela o ponto de vista expresso no editorial a respeito da

atuação dos pais. Qual é essa palavra? Justifique sua resposta.

11. Releia este trecho. Pais participativos sabem que seus filhos terão melhor desempenho, desde a escola infantil. O que se apresenta como óbvio, no entanto, não vem sendo traduzido em atitudes, como comprova a realidade do ensino brasileiro.

Assinale o que o editorial apresenta depois dessa declaração. ( ) Uma justificativa para o quadro apresentado. ( ) Uma recomendação aos pais e responsáveis sobre como atuar em benefício da educação de crianças e adolescentes. ( ) Uma crítica à política do governo para a educação. 12. Escreva em uma frase a tese que o editorial defende. 13. Releia este trecho. As melhores respostas são as cotidianas, de quem não se contenta em transferir aos governos, às escolas e aos professores todas as culpas pelas insuficiências da educação.

Confronte-o com a versão a seguir. As melhores respostas são as cotidianas, de quem não transfere aos governos, às escolas e aos professores todas as responsabilidades pelas insuficiências da educação.

Qual versão é capaz de sugerir mais fortemente uma tomada de posição diante do que é dito? Explique.

APROFUNDANDO A LEITURA DE UM EDITORIAL O conteúdo explícito dos dados que o autor escolhe encaminha a interpretação que o leitor faz. Entretanto, o leitor também pode inferir o que não está 9º ano

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explícito, e sim insinuado. E, se a leitura for feita com crítica, o leitor acaba avaliando também se os argumentos são plausíveis. Por exemplo, releia este trecho: As melhores respostas são as cotidianas, de quem não se contenta em transferir aos governos, às escolas e aos professores todas as culpas pelas insuficiências da educação.

Nele fica implícito que algumas responsabilidades podem, sim, ser atribuídas a outras instâncias que não a família. O editorial poderia ter optado por discutir brevemente essa questão. Ele não o fez. Trata-se de algo que um leitor crítico pode considerar. Por exemplo: crianças e adolescentes de famílias que não têm a preocupação reivindicada pelo editorial estariam fadadas ao fracasso escolar? Como pode ser equacionada a questão? Considere este outro trecho: Pais participativos sabem que seus filhos terão melhor desempenho, desde a escola infantil. O que se apresenta como óbvio, no entanto, não vem sendo traduzido em atitudes, como comprova a realidade do ensino brasileiro.

A realidade do ensino brasileiro (constatada por meio de exames oficiais e pela prática) comprova que os pais não participam da educação formal dos filhos? O que se pode concluir é que essa realidade é fruto de um conjunto de vários fatores. A leitura de textos argumentativos, como o editorial, contribui para que o leitor exercite a leitura crítica. APLICAR CONHECIMENTOS

O editorial a seguir foi publicado no jornal O povo, de Fortaleza (CE). Leia-o para responder às questões.

Ciência e consciência animal: descoberta aquece debate O grau de humanização de uma sociedade pode ser medido pela forma como trata os animais. As confusões reinantes no planeta por conta de guerras e crises financeiras tiraram de foco um importante manifesto lançado, há duas semanas, por neurocientistas, alertando para confirmações de pesquisas que apontam a existência de graus de consciência – mais do que os suspeitados – em animais. As im-

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Língua Portuguesa

plicações de tais resultados poderão revolucionar a forma como os humanos veem e se relacionam com os animais. A prova de que não se trata de sensacionalismo está na respeitabilidade de instituições envolvidas na pesquisa – tais como os institutos de tecnologia Caltech, MIT e Max Planck. A eles pertence o grupo de neurocientistas responsável pelo manifesto no qual se afirma que o estudo da neurociência evoluiu


João Prudente/Pulsar Imagens

pela forma como de modo tal que trata os animais. O não é mais possível combate à crueldaexcluir mamíferos, de deve ser feito aves e até polvos não só pela represdo grupo de seres são, mas, sobretuvivos que possuem do, pela educação. consciência. A deEm certas áreas ruclaração está senrais, por exemplo, do encarada como considera-se natuum possível marco ral a tortura empredivisor na forma Em criação de porcos no interior paulista, porcas amamentam seus filhotes em gada por crianças e como o pensamen- um espaço muito pequeno e cercado por grades. Bragança Paulista (SP), 2011. adolescentes conto filosófico e o pensamento político encararam a questão dos tra animais silvestres e domésticos. Isso embota a qualidade da compaixão e cria as condições animais até agora. Tais conclusões reforçam a luta pelos direi- psicológicas para a violência contra o próprio tos dos animais. O racionalismo ocidental havia ser humano. Que esta nova descoberta da ciência sirva quebrado a respeitosa visão originária das antigas tradições em relação aos bichos. No entan- para remover tal deformação cultural e meto, no próprio Ocidente, a evolução da doutrina lhorar a legislação e as formas de tratar os anidos direitos fundamentais levou à incorporação mais, inclusive os meios de abate dos que são também de outros seres vivos, além dos huma- sacrificados para servirem de alimento ao bicho nos. Hoje, não é possível conceber o Estado De- homem. Até que um dia, quem sabe, o próprio mocrático de Direito sem incluir uma legislação abate possa ser dispensado para sempre. protetora dos animais. É a base para se combater O povo, 25 jul. 2012. Disponível em:<www.opovo.com.br/app/ opovo/opiniao/2012/07/25/noticiasjornalopiniao,2885127/ a crueldade contra eles. ciencia-e-consciencia-animal-descoberta-aquece-debate.shtml>. Acesso em: 22 nov. 2012. Por isso, o grau de humanização alcançado por uma sociedade pode ser medido também

GLOSSÁRIO

Caltech: sigla em inglês do Instituto de Tecnologia da Califórnia, universidade estadounidense que está entre as principais do mundo em ciências naturais e engenharia. Doutrina: conjunto de princípios adotados em determinado ramo do conhecimento. Embota: enfraquece. Estado Democrático de Direito: aquele que respeita as liberdades civis, os direitos humanos e as liberdades fundamentais. Max Planck: designação da Sociedade Max Planck para o Progresso da Ciência, instituição alemã que reúne centros de pesquisa. MIT: Sigla em inglês de Instituto de Tecnologia de Massachusetts, universidade americana que está entre os líderes mundiais em ciência e tecnologia e outros campos, como administração, economia, linguística, ciência política e filosofia. Racionalismo: modo de pensar que privilegia a razão, o pensamento lógico como meio de conhecimento.

1. Que fato motivou o editorial? 2. Que implicação o editorial vê nesse fato? 3. De que forma o editorial atesta a credibilidade do fato que está analisando?

9º ano

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4. O Ocidente rompeu a visão respeitosa em relação aos animais, mas, por outro lado, a restaurou. a) O que, segundo o editorial, permitiu que ela fosse restaurada? b) Que conclusão o editorial propõe no quarto parágrafo a respeito da mudança mencionada no

item anterior? 5. O editorial apresenta um fato que pode ser observado: a eventual crueldade de crianças e adoles-

centes contra animais. a) De acordo com o editorial, em que medida esse fato pode atingir negativamente o próprio ser

humano? b) A partir da ideia que você mencionou, o que o editorial deixa implícito para o leitor? 6. Pode-se dizer que o editorial faz uma convocação ao leitor, propondo-lhe uma mudança de com-

portamento. a) Que expressão usada no texto anuncia isso? b) Em linhas gerais, o que o editorial julga recomendável? 7. Que opinião você tem sobre a perspectiva de eliminar o abate de animais para a alimentação humana? 8. Sem comprometer o ponto de vista que defendeu, que alternativas o editorial poderia apresentar

à eliminação do abate animal?

MOMENTO DA ESCRITA

PROPOSTA Você vai produzir um editorial para um jornal da escola ou do bairro. O tema será escolhido por você, com base nos acontecimentos da semana e no que foi divulgado sobre eles.

PLANEJAMENTO 1. Depois de acompanhar o noticiário da semana, determine uma notícia cujo tema seja relevante

para a comunidade. 2. Estabeleça a posição que o jornal que você representa deve assumir diante do fato escolhido.

Lembre-se de que o bem-estar coletivo deve predominar. 3. Defina uma tese específica que o editorial possa defender. 4. Com base nas matérias divulgadas pela imprensa, reúna dados que possam sustentar sua tese. 5. Verifique se a discussão presente no editorial leva o leitor a uma ação, a uma formação de opinião.

ELABORAÇÃO Redija a primeira versão do editorial. 66

Língua Portuguesa


AVALIAÇÃO Troque de texto com um colega e verifique: a) A tese fica clara para o leitor? b) Os argumentos (dados e exemplos) são coerentes com a tese e são consistentes para sustentá-la? c) Eles foram apresentados com clareza para o leitor ao longo de alguns parágrafos? d) Eles se encaminham para a conclusão presente no texto? e) O editorial convida o leitor à ação ou à reflexão? f) O ponto de vista defendido é socialmente aceitável? g) O editorial foi escrito em uma variedade urbana de prestígio? h) Há elementos que asseguram a coesão do texto?

Escreva suas observações a lápis após o texto ou faça marcas no próprio texto.

REESCRITA Com base nos comentários do seu colega, revise o que for necessário e reescreva o texto para entregar ao professor. PARA AMPLIAR SEUS ESTUDOS

Site

A educação precisa de respostas

O site apresenta as seis perguntas da campanha “A educação precisa de respostas” e as respostas dadas pelos especialistas a cada uma delas. Trata-se de material interessante para a produção de outros editoriais. Disponível em: <www.clicrbs.com.br/especial/br/precisamosderespostas/pagina,1428,0,0,0,Sobre-o-projeto.html>. Acesso em: 22 nov. 2012.

9º ano

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Bibliografia

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Língua Portuguesa


UNIDADE 2

Arte



Capítulo

A natureza e suas múltiplas possibilidades

A

natureza tem sido uma importante fonte de inspiração para os artistas, desde os primórdios da humanidade. Na tentativa de compreendê-la e dominá-la, os seres humanos imitaram suas manifestações e representaram suas formas. Podemos perceber isso em obras cujos temas são animais, plantas e paisagens. Elas são bastante comuns na história da arte. Movido pelo desejo de registrar o que vê, percebe e imagina, o ser humano cria e desenvolve técnicas e recursos de representação que servem tanto à representação fiel como à transformação da natureza. A relação entre a arte e a natureza e seus múltiplos aspectos é o assunto que desenvolveremos neste capítulo.

RODA DE CONVERSA Hermitage, St. Petersburg, Russia. Foto: The Bridgeman Art/Keystone

ARTE

1

Caspar David Friedrich. Pôr do sol (irmãos), 1830-1835. Óleo sobre tela, 25 × 31 cm. Hermitage, São Petersburgo.

Função da Arte/1 Diego não conhecia o mar. O pai, Santiago Kovadloff, levou-o para que descobrisse o mar. Viajaram para o Sul. Ele, o mar, estava do outro lado das dunas altas, esperando. Quando o menino e o pai enfim alcançaram aquelas alturas de areia, depois de muito caminhar, o mar estava na frente de seus olhos. E foi tanta a imensidão do mar, e tanto seu fulgor, que o menino ficou mudo de beleza. E quando finalmente conseguiu falar, tremendo, gaguejando, pediu ao pai: – Me ajuda a olhar! GALEANO, Eduardo. Livro dos abraços. Porto Alegre: L&PM, 2005. p. 15.

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A pequena história escrita por Eduardo Galeano e a obra de Caspar David Friedrich (1774-1840) revelam o encantamento do ser humano por formas, cores e mistérios da natureza, ou seja, da relação entre ambos. • O que as pessoas representadas na obra de Friedrich estão admirando? • Em que estarão pensando? • Por que gostamos de admirar um pôr do sol e apreciar representações desse fenômeno? • Qual é a função da arte na história contada por Galeano? A que o autor se refere? Você já deve ter se deslumbrado ao observar um jardim florido, as cores das asas de uma borboleta, a correnteza de um rio, as ondas do mar ou qualquer outro fenômeno da natureza. Procure se lembrar de uma dessas experiências para representá-la. LER IMAGENS E LETRAS DE CANÇÕES

Coleção particular

O artista japonês Hokusai (1760-1849) observou o movimento das ondas do mar e o oscilar de suas cores antes de representá-lo. Por meio da xilogravura, produziu muitas imagens em que o mar é representado ora mais calmo, ora mais bravo.

Hokusai. A grande onda de Kanagawa, 1830. Xilogravura, 25,7 × 37,8 cm.

Observe bem a obra de Hokusai e descreva as sensações que ela desperta em você.

Compare-a agora com a pintura do brasileiro Aldemir Martins. Observe as linhas e as cores. Identifique em que aspectos as duas obras se diferenciam e que elementos são comuns a ambas. 72

Arte


Coleção particular

Aldemir Martins. Marinha, 1989. Acrílica sobre tela, 70 × 100 cm.

A xilogravura de Hokusai faz parte da série “As trinta e seis vistas do monte Fuji”, que, como o próprio nome indica, tem em comum um dos símbolos do Japão: seu monte mais alto. Katsushika Hokusai Katsushika Hokusai nasceu em 1760, no Japão, e foi um dos grandes mestres da gravura japonesa. Aos catorze anos foi apresentado ao ofício de gravador e, a partir de então, demonstrou, além de grande habilidade, um atento perfeccionismo, qualidade essencial à técnica da gravura. Sua capacidade criativa foi fruto de sua inquietude e, ainda bem jovem, suas obras começaram a ser publicadas. Outros artistas de sua época estavam presos à forte tradição japone-

sa e mantinham-se fiéis aos seus princípios. Com Hokusai foi diferente. O artista buscou outras referências, inclusive na arte ocidental. Sua inventividade e apuro técnico produziram gravuras originais, sobretudo representações de aves e pássaros e paisagens naturais como a apresentada neste capítulo. Hokusai morreu em 1849. Anos depois, suas gravuras tornaram-se famosas na França e influenciaram pintores como Claude Monet e Vincent van Gogh.

A obra de Aldemir Martins (1922-2006) é uma das muitas que ele pintou tendo o mar como tema. De um azul denso e com áreas de cores bem definidas, a pintura representa uma praia brasileira, imortalizada também na composição de Vinicius de Morais e Toquinho: “Tarde em Itapoã”. É bom Passar uma tarde em Itapuã Ao sol que arde em Itapuã Ouvindo o mar de Itapuã Falar de amor em Itapuã Toquinho. As canções de minha vida. Universal, 2003.

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Aldemir Martins Aldemir Martins nasceu no Ceará, na cidade de Ingazeiras, em 1922, e morreu em São Paulo, em 2006. Além da pintura, Martins também tem gravuras, ilustrações e esculturas em sua extensa lista de obras. Ainda no Ceará, o artista produziu desenhos, xilogravuras, aquarelas e pinturas, além de trabalhar como ilustrador na imprensa cearense. Em 1946, estabeleceu residência em São Paulo, tendo morado um ano antes no Rio de Janeiro. Foi em

São Paulo que realizou sua primeira exposição individual. Recebeu como prêmio uma viagem ao exterior, do Salão Nacional de Arte Moderna, em 1959, e permaneceu por dois anos na Itália. Sua produção é majoritariamente figurativa, com uso de cores contrastantes e intensas, na qual são constantes algumas figuras: gatos, flores, frutas, paisagens do Nordeste brasileiro – como o sertão e o litoral –, entre outras.

Que mar teria visto Diego Kovadloff, personagem do autor Eduardo Galeano? Seria mais parecido com o que Aldemir Martins pintou ou com aquele pintado por Hokusai? Que mar você pintaria agora? Descreva-o em forma de texto.

Dorival Caymmi, músico baiano, eternizou o mar em suas canções. Leia o refrão da canção “O mar”, uma de suas grandes composições. O mar Quando quebra na praia É bonito, é bonito... CHEDIAK, Almir. Dorival Caymi Songbook vol.1. Rio de Janeiro: Lumiar, 2010.

Na canção “Como uma onda”, escrita por Lulu Santos e Nelson Motta, a vida é comparada ao mar. Nada do que foi será De novo do jeito que já foi um dia Tudo passa Tudo sempre passará A vida vem em ondas Como um mar Num indo e vindo infinito [...] SANTOS, Lulu. O último romântico II. Warner Music, 1991.

Essas são apenas duas canções em que o mar foi elemento inspirador. Tente se lembrar de outras canções, obras literárias e pinturas e verá como o mar serviu de inspiração para um sem-número de obras artísticas. Em todas as obras mencionadas até este ponto, percebemos que seus autores tinham certa intimidade com o mar. Hokusai, como já vimos, era um observador das ondas do mar do Japão. Caymmi foi admirador confesso do mar, e os compositores da canção “Como uma onda” foram muito felizes ao escolher o movimento infinito de suas ondas para falar do movimento da vida. Você não concorda? 74

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PARA CRIAR I

Vamos fazer um exercício de imaginação? Para isso, forme uma dupla com um colega e retome as descrições de paisagens marinhas que fizeram anteriormente, trocando-as entre vocês. A seguir, cada um deverá desenhar ou pintar o mar que o outro tinha em mente, procurando ser fiel à descrição que leu. Observem, ao final do trabalho, se as representações correspondem à ideia de mar que cada um tinha em mente. Discutam sobre os resultados e anotem suas conclusões. CONHECER MAIS

Observação e imaginação baleia, mas esculpiu esses animais junto aos profetas Jonas e Daniel. Tais obras fazem parte de um conjunto de doze esculturas em pedra-sabão produzidas entre 1800 e 1805 no do santuário de Congonhas do Campo (MG). O escultor deve ter se baseado em informações orais e escritas ou mesmo em outras imagens, o que fica evidente na estilização que empregou aos animais que esculpiu. Embora o leão e a baleia não correspondam em detalhes às características reais desses animais, sua presença como símbolo é inegável.

João Prudente/Pulsar Imagens

Daniel Cymbalista/Pulsar Imagens

A observação é muito importante a quem deseja representar algo. Por isso, na formação de um artista, os exercícios de observação são um recurso comum. Porém, uma representação pode também ser resultado da imaginação. Antes da invenção da fotografia, a divulgação de imagens era muito escassa. Por isso, representá-las por meio de figuras que representassem descrições e interpretações dessas imagens era prática comum entre os artistas. Antônio Francisco Lisboa (1730-1814), mais conhecido como Aleijadinho, nunca deve ter visto um leão ou uma

Escultura do profeta Daniel com o leão a seus pés, esculpida em pedrasabão por Aleijadinho. Congonhas (MG).

Escultura do profeta Jonas, esculpida em pedra-sabão por Aleijadinho. Podemos observar a baleia aos pés do profeta. Congonhas (MG).

LER IMAGENS

Nossa imaginação não nasce do nada. Imaginamos a partir daquilo que vivemos e conhecemos. Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, concebeu a baleia e o leão a partir dos animais que conhecia, acrescentando-lhes as características de animais imaginados.

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Assim também fez Tarsila do Amaral em suas representações da natureza. Porém, ao contrário de Aleijadinho, ela tinha grande intimidade com os elementos da natureza que pintou. Afinal, Tarsila nasceu em uma fazenda e, desde pequena, pôde observar e apreciar animais e plantas. A artista não se contentou em pintar apenas o que via. Ela inventou novas formas de representação para o que conhecia, permitindo o surgimento de imagens que revelam seu próprio estilo. Observe atentamente as duas pinturas de Tarsila e responda:

Coleção particular, RJ

Coleção particular, Buenos Aires

• O que elas têm em comum e que elementos as diferenciam? • O que cada uma delas tem em especial? • Em sua opinião, em qual das duas obras Tarsila inventou mais?

Tarsila do Amaral. Árvore, 1922. Óleo sobre tela, 61 × 46 cm.

Tarsila do Amaral. Cartão-postal, 1929. Óleo sobre tela, 127,5 × 142,5 cm.

Observe as datas em que ambas foram pintadas. Você vai perceber que, como outros artistas, Tarsila também passou por fases distintas em sua carreira. A obra Árvore é uma de suas primeiras pinturas. Já Cartão-postal, pintada sete anos depois, pertence à fase chamada “antropofágica” (1928 e 1929), quando a artista pintou figuras de seres humanos, animais e vegetais sem qualquer preocupação com a realidade exterior. Com o predomínio de linhas curvas e cores fortes, Tarsila representou imagens nascidas de sua imaginação nessa fase. Faça uma pesquisa sobre as fases da pintura de Tarsila do Amaral. Observe outras obras da fase antropofágica e escreva um breve relato sobre o que achou de tais produções.

REPRESENTAÇÃO E ILUSÃO Vimos que a imaginação é um dos ingredientes da representação e que ela parte do repertório que já temos. Hoje em dia, temos à nossa disposição inúmeras formas de representação em todas as manifestações artísticas, e os artistas têm liberdade para ousar e criar outras tantas possibilidades. No entanto, nem sempre foi assim. 76

Arte


Na história da arte, a busca por uma representação fiel à realidade, ou seja, a representação de uma pessoa ou uma paisagem como se fosse uma fotografia, ocupou grande parte dos artistas durante muitos séculos. No caso das artes visuais, são conhecidas algumas histórias que ilustram bem o desejo humano de copiar a natureza de maneira fidedigna e de valorizar os artistas que conseguiram realizar tal feito. Na Grécia antiga, quando os pintores e escultores buscavam incessantemente técnicas que lhes possibilitassem a ilusão da realidade, foram instituídas as quadrienais gregas. Assim como ocorria nos jogos olímpicos, as quadrienais promoviam disputas entre pintores, visando a demonstrações de aperfeiçoamento nas representações de elementos da natureza. Em uma delas participaram os pintores Zêuxis e Parrásio. O primeiro já se gabava havia muito tempo de ser o maior de todos os pintores gregos e tratava todos os seus pares como inferiores. Parrásio, apesar de se autopromover proclamando-se “príncipe dos pintores”, era também conhecido por sua cordialidade e humor. Durante o concurso, as obras ficavam cobertas por cortinas que eram abertas pelos artistas ao apresentá-las à comissão julgadora. Quando Zêuxis afastou a cortina e apresentou sua pintura de cachos de uvas perfeitos, imediatamente alguns pássaros se aproximaram tentando bicá-las, comprovando, assim, que se tratava de uma cópia fiel da realidade. Os jurados vibraram e, certo de que ganhara o concurso, Zêuxis não esperou que chegasse a vez de Parrásio descortinar sua obra. Ele próprio tomou a iniciativa de fazê-lo. Surpreso, reconheceu imediatamente a sua derrota: não havia o que descortinar, pois as cortinas que aparentemente cobriam o quadro eram a pintura de Parrásio. Se Zêuxis enganara os animais com seus cachos de uvas, Parrásio foi além e produziu uma pintura ainda mais perfeita, capaz de enganar o próprio Zêuxis. Independentemente de ser verdadeira, a história demonstra como a ilusão já foi muito importante na representação da realidade. Mas é preciso considerar que, embora os artistas estivessem focados em iludir o espectador, aproximando-se ao máximo da realidade, estavam também representando de forma pessoal. É importante notar que, quando representamos algo, fazemos sempre algum tipo de seleção. Enfatizamos e excluímos determinados elementos de acordo com nossa percepção e determinação, realizando o que podemos chamar de recortes. A ênfase e a exclusão são sempre resultados de nossas escolhas pessoais, do que achamos que é mais ou menos importante e do que acreditamos que deve ou não fazer parte de uma composição. Assim, quando apreciamos uma obra de arte, estamos diante de um “recorte” realizado pelo artista. Mesmo ao ver uma obra em que os elementos são representações muito próximas da realidade, é importante lembrar-se de que ela é resultado de escolhas pessoais. Isso é aplicado a todas as manifestações artísticas, inclusive a fotografia. 9º ano

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CONHECER MAIS

Recursos para a ilusão ticos e de acordo com o espírito cientificista dos séculos XIV ao XVII, em um período conhecido como Renascimento. Trata-se da organização geométrica do espaço sobre linhas que se encontram em um ponto chamado de ponto de fuga.

The National Gallery, Londres

Ilustração digital: Estúdio Pingado

Na busca por representações realistas, durante muitos séculos os artistas recorreram a recursos como os efeitos de luz e sombra e a perspectiva. A representação do espaço mais próxima do real que conhecemos foi concebida a partir de cálculos matemá-

Meindert Hobbema. A alameda de Middelharnis, 1689. Óleo sobre tela, 103,5 × 141 cm. The National Gallery, Londres.

da pelas proporções das coisas representadas (pessoas, objetos, construções etc.). As que estão mais próximas do observador são representadas maiores e, à medida que se distanciam desse olhar, diminuem de tamanho. Existem composições que apresentam dois ou três pontos de fuga, conferindo à representação efeitos muito interessantes. Observe o esquema a seguir:

Ilustração digital: Estúdio Pingado

O esquema à direita mostra a estrutura da perspectiva na obra de Meindert Hobbema. A linha vermelha é chamada de linha do horizonte e o ponto situado no meio dessa linha, onde as linhas azuis se juntam, é conhecido como ponto de fuga. Perceba como toda a composição está sujeita à ordem apresentada por essas linhas. A perspectiva cria a ilusão de profundidade, reforça-

Esquema com a estrutura da perspectiva da obra de Meindert Hobbema.

“A perspectiva é de natureza tal, que faz parecer relevo o que é plano e converte em plano o que é relevo.” Leonardo da Vinci

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REGRAS E CONTRARREGRAS

Acervo Musée de Grénoble, França.

Foi no Renascimento que os pintores criaram recursos matemáticos para a representação, aliando a arte à ciência. Assim, aprimoraram as técnicas anteriores e, a partir desse período, a perspectiva passou a ser uma regra para quem quisesse desenhar e pintar de maneira convincente. No início do século XX, o movimento modernista quebrou muitas dessas regras, sobretudo a que se refere à perspectiva. Os artistas modernistas não se preocupavam mais com a “cópia” da realidade e se sentiam livres para recriá-la.

Tarsila do Amaral. A cuca, 1924. Óleo sobre tela, 73 × 100 cm. Museu de Grenoble, França.

Observe como Tarsila do Amaral realizou essa composição, dispondo os elementos em um único plano. Na obra, não é possível indicar os pontos de fuga. No entanto, a artista usou outro recurso para “iludir” nosso olhar. Veja como ela pintou cada elemento sombreando as bordas e deixando o centro mais claro. Sua intenção foi dar às suas figuras um aspecto volumoso. Usou, de forma bem estilizada, um recurso muito aplicado nas representações que chamamos efeito de luz e sombra.

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Ilustração digital: Estúdio Pingado

Esse efeito é bastante explorado por aqueles que desejam que suas pinturas ou desenhos ganhem um aspecto mais realista, porque confere à representação a aparência de volume.

Observe a mesma composição em desenho linear e com a aplicação de efeito de luz e sombra.

APLICAR CONHECIMENTOS

Pintar paisagens tornou-se uma atividade muito difundida a partir do Renascimento, embora, muito antes do século XIV, artistas chineses já se dedicassem a esse tema. Desde então, as paisagens são registradas por pintores e fotógrafos e fazem parte do acervo cultural da humanidade. Selecione uma dessas imagens e identifique os recursos que o autor da obra usou ou optou por não usar ao representar uma paisagem. Apresente sua imagem a seus colegas fazendo comentários. Perceba se fizeram outras observações além das que você já tinha feito e identifique, nas imagens que eles trouxeram, as opções dos artistas que as produziram.

A NATUREZA IMÓVEL Os pintores holandeses do século XVII chamaram de “vida silenciosa” a representação de alimentos e objetos dispostos sobre uma mesa. Entre nós, esse gênero de pintura é conhecido como natureza-morta. Ao pintar uma natureza-morta, os artistas podem escolher os objetos que lhes agradam e dispô-los sobre uma mesa de forma harmoniosa. O desafio daqueles pintores holandeses era representá-los de maneira perfeita, a fim de despertar os sentidos do olfato, da gustação e até do tato do espectador, pois era isso que recomendavam os academicistas. Os recursos para alcançar os efeitos pretendidos eram muitos, e os artistas realizavam inúmeras experiências nesse sentido. Willen Kalf (1622-1693), por exemplo, dedicou-se a estudar os reflexos da luz sobre os vidros. Suas naturezas-mortas apresentam grande variedade de texturas: frutos, vidros, tapetes e porcelanas. 80

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Academicismo lizar o ensino das artes por meio de normas e regras, as academias também promoviam exposições e concursos com o objetivo de controlar os padrões estéticos da época, determinados por elas próprias. No século XX, as academias perderam sua força diante das diversas tendências propostas pelo modernismo. Tal movimento pregava a ruptura com todas as convenções acadêmicas.

Gemäldegalerie, Berlim

As academias de arte nasceram na Itália, durante o Renascimento, com o objetivo de formar artistas, garantindo o aprendizado artístico e científico. Na segunda metade do século XVIII, espalharam-se por toda a Europa. No Brasil, a primeira academia foi fundada com a chegada da Missão Artística Francesa, formada por um grupo de artistas trazidos por dom João VI, em 1816. Além de oficia-

Willen Kalf. Natureza-morta com porcelana chinesa, 1662. Óleo sobre tela, 64 × 53 cm. Gemäldegalerie, Berlim.

Até a última década do século XIX, as convenções para a pintura de naturezas-mortas prevaleceram. Mas, a partir do século XX, os artistas que mantiveram a temática produziram novas composições, de maneira distinta da que era utilizada até então. O artista francês Paul Cézanne (1839-1906) foi um dos que produziram inúmeros quadros de naturezas-mortas, criando sensações de forma, relevo e volume sem usar as técnicas tradicionais da perspectiva. Com massas de cor pintava o que via, conferindo a objetos e paisagens um aspecto bastante interessante. Mesmo se afastando das representações convencionais, as telas de Cézanne provocam nossos sentidos. Embora suas pinturas tenham sido ridicularizadas no início de sua carreira, Paul Cézanne é considerado hoje o pai da “arte moderna”. 9º ano

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Museu de Arte de São Paulo - MASP. © Léger, Fernand/Licenciado por AUTVIS, Brasil, 2013

Museu d'Orsay, Paris

Paul Cézanne. Maçãs verdes, 1872-1873. Óleo sobre tela, 26 × 36 cm. Museu D’Orsay, Paris.

Fernand Léger. A compoteira de peras, 1923. Óleo sobre tela, 79 × 98 cm. Masp, São Paulo.

Seu compatriota, Fernand Léger (1881-1955), inspirou-se em Cézanne e buscou geometrizar suas composições. Suas pinturas incluem algumas naturezas-mortas, como A compoteira de peras. “É tarefa do artista fazer algo tão formoso como a natureza, mas não imitando a natureza.” Museu de Arte Contemporânea, USP

Fernand Léger

Francisco Brennand. Bandeja verde, 1959. Óleo sobre tela. Museu de Arte Contemporânea, USP, São Paulo.

O artista brasileiro Francisco Brennand pintou as frutas do Nordeste do Brasil. Perceba como ele as distribuiu sobre uma bandeja, mas sem sobrepô-las. A composição é vista de cima, dispensando os recursos de perspectiva e de luz e sombra para evidenciar seu formato arredondado. Marcel Duchamp (1882-1968) tratou esse tema com muito humor, realizando o que intitulou de escultura morta. Reuniu legumes e frutas feitos de doce e os 82

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enquadrou. Com essa e outras obras que produziu durante sua carreira, fez críticas à arte tradicional, defendendo que arte não é apenas o que vemos, mas o que pensamos ao observar suas manifestações. O tema, de origem acadêmica, rompeu as barreiras das convenções e dos estilos, possibilitando muitos outros tipos de representações. Hoje, os artistas podem optar por seguir as convenções criadas ao longo do tempo ou criar sua própria maneira de representar. Por isso, convivemos com uma grande diversidade de expressões, de técnicas, de recursos e de materiais. PARA CRIAR II

É chegada a hora de você construir sua própria natureza-morta! Lembre-se de que não há limites para a inovação. Pense, consulte outras obras, invente! O importante é que se valha dos recursos de que dispõe e procure sua própria forma de expressão. Você poderá, inclusive, fazer uma natureza-morta industrializada com produtos naturais processados, como sucos de frutas, doces, flores artificiais etc. Colete os elementos que considerar interessantes para sua obra, organize-os em um espaço no qual possa trabalhar de maneira concentrada e registre sua composição por meio de desenho, pintura, colagem ou fotografia. Se tiver outra ideia para representá-la, também será bem-vinda. Lembre-se de que fazer arte é também experimentar; por isso, crie diversas composições e compare-as entre si. Ao concluir seu trabalho, dê-lhe um título e organize uma exposição com os outros trabalhos da turma. PARA REFLETIR I

1. Em sua composição, você preferiu manter uma configuração mais tradicional ou preferiu inovar?

O que interferiu em sua decisão?

2. Comparando sua obra com as de seus colegas, pode perceber uma diversidade de soluções para

representar uma natureza-morta? Que aspectos contribuíram para haver ou não resultados diversificados?

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3. As referências apresentadas neste capítulo ou as que você tenha buscado em outras fontes auxilia-

ram na concepção de sua obra? De que maneira?

MÚSICA-IMAGEM Em 1725, o compositor italiano Antonio Lucio Vivaldi (1678-1741) apresentou ao público um conjunto de doze concertos. Quatro deles ficaram conhecidos como As quatro estações. Por meio da música, Vivaldi “pintou” verdadeiros quadros sonoros representando cada uma das estações do ano: primavera, verão, outono e inverno. Seus “quadros musicais” são inspirados no campo e no trabalho dos camponeses, e cada peça é acompanhada de um soneto ilustrativo do tema da estação. Acredita-se que tenha sido o próprio Vivaldi que os escreveu. A primeira peça refere-se à primavera e é caracterizada por uma alegre melodia em que os violinos nos dão a sensação de um despertar da natureza. A melodia se intensifica como se a luminosidade sobre os campos também crescesse. Sons como o barulho dos pássaros são reproduzidos também pelas cordas dos violinos. O texto do soneto refere-se a um pastor de cabras que dorme com um cão ao seu lado. Na representação do verão, o músico intensificou a sonoridade; o movimento mais lento refere-se ao sol intenso que atinge os camponeses, diminuindo seu ritmo de trabalho. Pastores e seus rebanhos sonolentos assustam-se com os relâmpagos que anunciam a chuva, que chega em forma de granizo. O movimento para o outono é o de uma festa rural em que os camponeses dançam e comemoram a boa colheita que fizeram. As danças e a embriaguez dos camponeses são representadas pelas escalas que sobem e descem no violino até que a cadência diminui, indicando a hora de descansar. Uma caçada finaliza a peça do outono. Para representar o inverno, o músico inspirou-se no rigoroso frio do norte da Itália, onde viveu. Dessa vez, o som do violino é utilizado para imitar o vento e o gélido arrepio causado pela visão de uma paisagem coberta de neve. Essa visão alterna-se com momentos calmos junto ao fogo. A música foi composta a partir de cenas que Vivaldi imaginou e essas, por sua vez, possibilitam a construção de outras cenas na mente de quem ouve a música. Muitas peças de música erudita foram criadas dessa maneira, ou seja, com base em imagens e histórias que envolvem a imaginação de cenários naturais revelados pela sonoridade. É considerada erudita a música composta a partir de estudos de teorias musicais, ou seja, fruto da erudição, do conhecimento específico de uma área – no caso, a da música. O termo é aplicado a determinada variedades de músicas de diferentes 84

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épocas e culturas, distinguindo-as das produções folclóricas e populares. As composições de música erudita são também conhecidas como música clássica.

Giuseppe Arcimboldo. Outono, 1573. Óleo sobre tela, 76 × 64 cm. Museu do Louvre, Paris.

Museu do Louvre, Paris

Giuseppe Arcimboldo. Verão, 1573. Óleo sobre tela, 76 × 64 cm. Museu do Louvre, Paris. Museu do Louvre, Paris

Giuseppe Arcimboldo. Primavera, 1573. Óleo sobre tela, 76 × 64 cm. Museu do Louvre, Paris.

Museu do Louvre, Paris

sentou as quatro estações. São figuras humanas vistas de perfil. Contra um fundo escuro, destacam-se as frutas e outras plantas de cada estação do ano. São composições de detalhamento impressionante.

Museu do Louvre, Paris

O pintor italiano Giuseppe Arcimboldo (1527-1593) ficou famoso por seus retratos fantásticos feitos com determinados objetos e com frutas, legumes, flores e outras espécies vegetais. Nesta série, pintada em 1573, Arcimboldo repre-

Giuseppe Arcimboldo. Inverno, 1573. Óleo sobre tela, 76 × 64 cm. Museu do Louvre, Paris.

PARA CRIAR III OUVIR E INTERPRETAR

Por meio de uma gravação em áudio ou uma apresentação em vídeo de uma orquestra, ouça As quatro estações, de Vivaldi, sozinho ou em companhia de seus colegas. O importante é que se dedique a apreciá-la e, para isso, precisará de atenção e concentração. Lembre-se de que a forma como nos relacionamos com uma obra de arte é diferente da relação cotidiana e utilitária que temos com as coisas corriqueiras. A arte amplia nossos sentidos e precisamos estar atentos a isso. 9º ano

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Ao apreciarmos uma música, é necessário que estejamos abertos e prontos para ouvir seus sons e seus silêncios de maneira atenta e intensa. Lembre-se de que esse é um momento em que damos outros significados à obra e que as interpretações que podemos fazer podem ser muito variadas. Assim, uma mesma música ouvida em um determinado momento poderá não ter o mesmo significado em outro. Depende muito de como nos sentimos e do que já conhecemos até o momento em questão. As interpretações também não são as mesmas entre diferentes pessoas. Isso tudo indica que as obras compostas há muito tempo podem ter sido interpretadas de muitas formas. As plateias de três séculos atrás, quando não havia outra forma de audição que não a audição em teatros e salas de concerto, ou seja, ao vivo, encontraram sentidos distintos dos que encontramos hoje ao ouvir a mesma música gravada em um CD ou em um DVD. É essa possibilidade de impressionar plateias, de tempos e lugares tão distintos, que levam tais composições a ganhar o título de “clássicas” ou “eruditas”. Ao ouvir As quatro estações, procure perceber as nuances da música, ou seja, suas variações. Tente identificar os sons produzidos pelos diferentes instrumentos. Ouça com tranquilidade, coloque-se em cada cena imaginada para cada estação do ano. Depois da apreciação, relacione as sensações percebidas em cada uma das peças com cores. Procure se desvencilhar de ideias preconcebidas sobre o que já sabe sobre as estações do ano e tente direcionar seus pensamentos e emoções para atribuir cores à cada parte da composição de Vivaldi. Com as cores selecionadas para cada estação, ouça a música novamente enquanto traça sobre uma folha de papel os movimentos que os ritmos da música lhe sugerem. Você pode usar lápis de cor, giz de cera ou tinta. Não se preocupe em figurar, em desenhar formas conhecidas, mas deixe que suas emoções guiem sua mão, produzindo movimentos que vão gerar os traçados. Use uma folha para cada estação da composição de Vivaldi. 1. Em uma roda de apreciação, compare os seus resultados com os de seus colegas, discutindo o que

puderam observar quanto à experiência realizada e quanto às produções resultantes. Anote suas conclusões.

2. Que impressões a obra de Vivaldi lhe causou?

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Arte


3. Houve alguma diferença entre a primeira audição e a segunda? Em caso positivo, explique o que

ocorreu.

ARTE NA PAISAGEM

George Steinmetz/Corbis/Latinstock

A “arte da terra” (ou, em inglês, land art) é também conhecida como earth work. Trata-se de uma tendência contemporânea em que os artistas atuam na própria paisagem natural. Campos, montanhas, lagos, praias e desertos transformam-se em suportes para todo tipo de intervenção. A land art é uma reação à arte das galerias e um chamado de olhares para a natureza. Por sua vez, as intervenções de land art sofrem desgastes pela ação da própria natureza. Como obras efêmeras, transformam-se ao longo de sua existência, que é registrada por meio de fotografias e de filmes. Cada registro é feito de um ponto de vista, multiplicando, de certa forma, a obra e oferecendo diversas percepções e visões a seu respeito. Hoje em dia, a arte é, mais uma vez, uma forma potente de sensibilização para um mundo no qual as questões ambientais estão sempre no centro das discussões nacionais e internacionais. O artista tunisiano radicado na França Jean-Paul Ganem executa Spiral Jetty (1970), de Robert Smithson (1938-1973). grandes projetos paisagísticos inEm 1970, Robert Smithson criou uma gigantesca espiral de terra e pedras em Great Salt Lake, Utah, Estados Unidos. terferindo esteticamente em áreas muitas vezes degradadas. Entre 2000 e 2002, transformou um aterro sanitário em jardim na cidade de Montreal, Canadá. A gigantesca obra de arte que foi o resultado dessa transformação causou uma impressão bastante positiva na população local. Por meio de instituições e organizações não governamentais, o artista ajudou a plantar flores e a manter o jardim sempre belo. No Brasil, o paulista Vik Muniz (1961-), conhecido por suas obras com materiais inusitados, como lixo e sucatas, fez também uma série intitulada “Earth works”, registrando com fotos desenhos realizados em áreas de mineração em 9º ano

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Fotografia do próprio artista

Minas Gerais e no Pará. As fotos foram feitas a centenas de metros de altura para que os desenhos “tomassem forma” e fossem reconhecidos. Tratores e escavadeiras traçaram no chão os desenhos concebidos pelo artista.

Vick Muniz, Outlet, 2005. Pintura feita na terra.

PARA REFLETIR II

Por meio de alguns exemplos, vimos que a natureza em toda sua amplitude tem sido tema constante da arte produzida em todos as épocas. Além disso, percebemos a arte de ampliar e de sensibilizar olhares que a natureza nos proporciona, como expressou Eduardo Galeano ao relatar a emoção de Diego Kovadloff: “Me ajuda a olhar!”. É justamente essa uma das funções da arte: ela nos ajuda a perceber. Pense e escreva sobre isso.

PARA CRIAR IV

No início do século XX, o maestro Heitor Villa-Lobos (1887-1959) rompeu com padrões musicais acadêmicos ao incorporar traços marcantes da música popular brasileira às suas composições de música erudita. Em suas viagens pelo interior do Brasil, coletou o material musical que o inspirou a produzir peças de grande arrojo nas manifestações populares das regiões que visitou. A canção “Trenzinho do Caipira” é uma de suas composições inspiradas na cultura popular brasileira. De melodia simples e de orquestração impactante, a canção reúne um universo de sons brasileiros em uma cadência que nos remete à velocidade do trem puxado por uma locomotiva “maria-fumaça”. Anos mais tarde, o poeta Ferreira Gullar (1930-) escreveu um poema como letra para a peça musical. 88

Arte


Trenzinho caipira [...] lá vai o trem com o menino lá vai a vida a rodar lá vai ciranda e destino cidade e noite a girar lá vai o trem sem destino pro dia novo encontrar correndo vai pela terra vai pela serra vai pelo mar cantando pela serra do luar correndo entre as estrelas a voar no ar piuí piuí piuí no ar Gullar, Ferreira. Melhores poemas. Alfredo Bosi (Sel.). 6. ed. São Paulo: Global, 2000. p. 106-107.

A proposta agora é que você produza, em grupo ou individualmente, painéis musicais, baseando-se na canção “Trenzinho do Caipira”, de Heitor Villa-Lobos. Vejamos os passos a seguir para a realização da oficina proposta. 1o passo: a audição da música Escute a canção atentamente. É possível encontrar diversas versões na internet. Lembre-se de que, para uma apreciação, é fundamental que você e os outros integrantes do grupo fiquem em silêncio e ouçam com atenção a canção de Villas-Lobos, concentrando-se no ritmo e no andamento musical, ou seja, na cadência da música. 2o passo: a imaginação Imagine-se no trem de Villa-Lobos, percorrendo paisagens brasileiras. Busque em sua memória as referências que tem sobre uma viagem de trem. 3o passo: a confecção dos desenhos Procure desenhar o que imaginou. Lembre-se de que você (ou você e seus colegas) é o autor e a forma de expressão é sua; não há, portanto, necessidade de representar o que imaginou de maneira estritamente realista. Você poderá imprimir um estilo próprio à sua representação. Faça ao menos dois desenhos. 4o passo: a seleção dos desenhos Selecione em seus desenhos os elementos que considerar mais interessantes para a sua composição final. 5o passo: a ampliação dos desenhos Amplie seus desenhos sobre uma superfície que tenha uma área maior e que seja firme, como papelão, lona ou madeira. 6o passo: a seleção da técnica Selecione a técnica que mais se adequar à sua expressão: pintura, colagem, grafite ou outra que considerar apropriada. Caso ache pertinente, poderá usar mais de uma técnica, combinando, por exemplo, pintura com colagem. A esse tipo de trabalho damos o nome de técnica mista. 7o passo: a apreciação Finalizado o trabalho, é chegado o momento da apreciação. Faça-a, primeiro em silêncio, ao som da música “Trenzinho do Caipira”. Procure, ao observar os trabalhos realizados (seu e de seus 9º ano

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colegas), fazer novamente a viagem pelas paisagens brasileiras, agora por meio da interpretação e não da imaginação. 8o passo: a exposição Organize, com seus colegas e com o professor, uma exposição dos painéis. Durante a mostra, os visitantes também poderão ouvir a música e viajar no trem proposto por cada um dos grupos. Boa viagem! PARA AMPLIAR SEUS ESTUDOS

Livros

O livro dos abraços

O autor constrói pequenas narrativas baseadas em sua memória pessoal, refletindo a memória coletiva da América Latina. GALEANO, Eduardo. O livro dos abraços. Porto Alegre: L&PM, 2005.

Pequena viagem pelo mundo da música

A autora apresenta os compositores mais significativos da música ocidental erudita. Sua obra traz algumas curiosidades a respeito da arte dos sons musicais. GUSMÃO, Cinthia. Pequena viagem pelo mundo da música. São Paulo: Moderna, 2008.

Mesa de artista

O livro faz parte da série “‘Mundo de artista” e apresenta uma introdução ao estilo estudado neste capítulo: a natureza-morta. Detalha-o desde a representação do cotidiano até o exercício da composição. A autora apresenta o contexto histórico da “mesa posta” e evolui para os diversos processos de construção da cena na pintura, destacando a natureza-morta como uma natureza reinventada, controlada pela mão e pelo olhar do homem. O livro ensina ao leitor a observação detalhada da composição dos objetos e mostra como esse estilo pode ser construído pelo artista contemporâneo de uma maneira mais “artificial”. Assim, além dos artistas clássicos no gênero, a autora apresenta também artistas como Andy Warhol, Mira Schendel e Tunga. KANTON, Katia. Mesa de artista. São Paulo: Cosac Naif, 2008.

História da Arte

O livro traça um panorama da arte ocidental, desde a pré-história. Os períodos da história da arte são desenvolvidos, assim como as tendências, os artistas e os materiais. A arte no Brasil recebe destaque, e a obra apresenta reproduções em cores que apoiam as explicações do texto. PROENÇA, Graça. História da Arte. São Paulo: Ática, 2010.

Vistas e paisagens do Brasil

O autora traça um panorama das vistas e das paisagens das mais variadas regiões do Brasil, com base na visão e na inspiração de artistas brasileiros e estrangeiros. É possível notar o percurso da arte brasileira, desde a pintura documental dos viajantes nos séculos XVII a XIX, como Frans Post e Johann Moritz Rugendas, até a visão contemporânea e abstrata de artistas como Cláudio Tozzi, passando pelos traços modernistas de Cícero Dias e José Pancetti. SANTA ROSA, Nereide Schilaro. Vistas e paisagens do Brasil. São Paulo: Pinacoteke, 2005.

A magia na arte

O autor apresenta diversos recursos para a representação visual, destacando o poder de ilusão contido nas imagens. A obra é bastante didática e apresenta boas reproduções. Além disso, aborda diferentes períodos da história da arte por meio da análise de obras emblemáticas. STURGIS, Alexander. A magia na arte. Lisboa: Estampa, 1994.

Sites

Itaú Cultural

O portal abriga a Enciclopédia de Artes Visuais, que apresenta mais de 3 mil verbetes e é um grande referencial da arte brasileira. Disponível em: <www.itaucultural.org.br>. Acesso em: 18 abr. 2013.

Pinacoteca do Estado de São Paulo

O portal da Pinacoteca de São Paulo possui um grande acervo de obras com temáticas apresentadas neste capítulo, sobretudo paisagens e naturezas-mortas. Disponível em: <www.pinacoteca.org.br>. Acesso em: 18 abr. 2013.

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Capítulo

Existem limites para a arte?

A

o longo dos capítulos sobre arte, você teve a oportunidade de conhecer e transitar por diversas manifestações. Perceber e se relacionar positivamente com essa linguagem são os principais objetivos do estudo proposto nesta obra, pois, com a visão e a audição sensivelmente ativadas, podemos ler as diversas interpretações da realidade produzidas pelos seres humanos ao longo de sua história. Atualmente, vivemos em um tempo em que a velocidade e a quantidade de informações aumentam a cada dia. Além disso, estamos diante de recursos tecnológicos que há bem pouco tempo nem imaginávamos que um dia iriam existir. Nessa época de cultura de massa em que obras são reproduzidas, a linguagem da arte se renova e se amplia. Observamos a presença da arte até na propaganda e nos produtos de consumo. Nossa relação com esse universo de reproduções de obras de arte e a formação de um repertório pessoal são os assuntos que compõem este capítulo.

RODA DE CONVERSA Museu do Louvre, Paris

ARTE

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Leonardo da Vinci. Mona Lisa [Gioconda], c. 1503-1506. Óleo sobre madeira, 77 × 53 cm. Museu do Louvre, Paris.

“A mina bela de pele lisa Com quatro letras é a Mona Lisa” Junior Blau

9º ano

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É bem possível que você já conheça essa tela de Leonardo da Vinci. A moça retratada no século XVI não imaginou que seria, mais de quinhentos anos depois, uma das mais populares figuras usadas na promoção de produtos. Sua imagem virou produto de consumo, sendo impressa em canecas, roupas, aventais e brinquedos. Hoje, ela aparece em comerciais de xampu, automóveis, perfumes, maquiagem, sanduíches, amaciantes, entre muitos outros produtos. Em 2009, o Museu Ideale Leonardo da Vinci organizou uma exposição de pinturas e desenhos feitos entre os séculos XVI e XX inspirados na Mona Lisa. O objetivo da mostra, segundo seus organizadores, foi discutir o fenômeno da Gioconda – como também é conhecida a Mona Lisa – na arte, na literatura, no design, na propaganda e nos produtos de consumo da sociedade contemporânea. A popular Gioconda não é a única obra a figurar em nosso cotidiano. Você já deve ter se deparado com outros exemplos. Procure em revistas, na internet ou em sua casa alguns exemplos de utilização de obras de arte em objetos ou em publicidades. Selecione aqueles que considerar mais interessantes e compartilhe-os com seus colegas. A partir da apreciação das imagens e dos objetos selecionados, discuta com seus colegas sobre a atitude de se apropriar de obras de arte aplicando-as a objetos do cotidiano e peças publicitárias. A prática é polêmica: alguns críticos se manifestam dizendo que, apesar de as imagens conferirem um toque de classe e sofisticação aos produtos, existe o risco da produção em larga escala diluir ou acabar com o sentido da própria obra de arte. Já outros acreditam que essa é uma forma democrática de divulgar a arte, apropriando-se de algumas obras e utilizando-as para divulgar produtos populares. 92

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CONHECER MAIS Você poderá até questionar: O que faz essa tela ser tão mencionada por tantas áreas distintas? O que a tornou tão famosa? Para encontrar as respostas, temos de observar a imagem de Leonardo da Vinci com muita atenção. Perceba a expressão da moça retratada. Observe os cantos dos olhos e da boca. Note sua posição, a forma como suas mãos foram modeladas, seus cabelos, as minúsculas pregas das mangas. Em seguida, perceba os detalhes da paisagem ao fundo. Sem pressa, permita que seu olhar caminhe pela imagem. Que impressões ela lhe causa? Ao pintar essa obra, Leonardo utilizou uma técnica que vinha desenvolvendo há anos, chamada sfumato – palavra italiana que significa fumaça e que podemos traduzir como esfumaçado ou sombreado. Esse efeito, que é obtido com a sobreposição de inúmeras finas camadas de tinta, consiste em não deixar aparentes as linhas de contorno, causando um efeito de esfumaçado que confere mais realismo à composição. Se você percebeu um ar de mistério na expressão da Gioconda, é por causa dessa técnica, que foi usada nos cantos da boca e nos olhos. Ela foi tão bem aplicada na obra que ficamos em dúvida quanto ao seu estado de espírito. Estaria ela triste, cansada ou prestes a abrir um sorriso de satisfação? Apesar de muito inovador para a época, não foi apenas esse efeito que tornou o quadro uma obra-prima. Da Vinci foi um grande estudioso das proporções humanas e da perspectiva, embora nem sempre se prendesse rigorosamente às regras, acreditando que elas deveriam estar sempre aliadas à observação atenta do artista. Na representação de espaços, desenvolveu estudos de perspectiva atmosférica que, com o uso da cor e do sfumato, conferiam ao fundo de suas obras uma aparência mais realista de profundidade. Quanto mais longe estivessem objetos, plantas ou relevos representados, mais imprecisas eram as pinceladas que utilizava para defini-los. Assim, a paisagem ao fundo não é tão importante, aparece apenas com certa delicadeza, encaminhando nosso olhar para a figura da mulher. A forma como foi representada nos dá a impressão de que a Gioconda está viva diante de nossos olhos. Imagine o impacto causado há mais de 500 anos, quando Leonardo da Vinci apresentou ao público o fruto de seus experimentos e estudos para a representação. Quanto à dama retratada, os historiadores da arte concordam em dizer que se trata de Lisa Gherardini, esposa de um rico e influente comerciante da época, Francesco di Bartolomeo di Zanoli del Giocondo, o que explica a obra ser também conhecida como La Gioconda ou La Joconde. É claro que o uso da técnica do sfumato é apenas um dos muitos aspectos que fazem dessa obra uma referência em arte.


• O que você e seu grupo pensam sobre o uso de obras de arte em artigos de consumo? • Você valorizaria mais um objeto que fizesse referência a uma obra de arte? • A que público podem ser dirigidas as propagandas que se utilizam de obras de arte? O que

tem motivado alguns publicitários a utilizá-las? Não se esqueça de anotar as observações do grupo. Mesmo que não haja consenso, registre as afirmações que julgar relevantes. Utilize-as na produção de um pequeno texto argumentativo.

PARA REFLETIR

Com frequência, a publicidade tem usado obras de arte em suas mensagens, sejam visuais, sonoras ou gestuais. Em suma, aquilo que foi criado para outros fins está presente em nosso cotidiano para nos seduzir a comprar os produtos divulgados. Procure se lembrar de uma ou mais propagandas – de televisão, de jornal ou revista – associadas a manifestações artísticas como a música, a pintura, o teatro e a dança. Colete alguns exemplos, compartilhe-os com seus colegas e reflita sobre as seguintes questões: • O público submetido a essas propagandas pode entrar em contato com a arte? • Elas são acessíveis àqueles que não conhecem as obras apresentadas? • É lícito se apropriar de obras que não foram criadas com o propósito de vender mercadorias em propagandas? Por quê? • Em uma propaganda, uma obra de arte pode ser apreciada como se estivéssemos um museu? Ou como se tivéssemos comprado uma reprodução da obra para pendurar na parede de nossas casas? Discuta com seus colegas, anote o que considerar mais significativo e produza um texto reflexivo.

O CONSUMO COMO TEMA A relação entre a arte e o consumo é bem antiga, mas foi na década de 1960 que um grupo de artistas tomou a cultura das cidades e do consumo como tema, tratando-a ora com ironia e criticidade, ora de maneira positiva. A proposta era derrubar as barreiras entre a arte e a vida cotidiana. Anúncios, letreiros luminosos, produtos do consumo de massa, sinais de trânsito, imagens de pessoas famosas, tudo cabia em suas obras. Quanto às técnicas, tentava-se a substituição dos processos artesanais pela máquina. Andy Warhol (1928-1987) foi um dos artistas que se destacaram nesse movimento. Publicitário bem-sucedido, ele considerou a arte como mais um produto de consumo que poderia ser fabricado em larga escala. Batizou seu ateliê de Factory – palavra que, em português, significa fábrica – e, com a técnica utilizada até então para a estamparia industrial, produziu imagens em série partindo de fotografias de celebridades, produtos de consumo, objetos, obras de arte. Tal técnica é chamada de serigrafia ou silkscreen. 9º ano

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Andy Warhol. Mona Lisa, 1963. Serigrafia e acrílico sobre tela, 320 × 208,5 cm.

The Metropolitan Museum of Art, Nova York/Andy Warhol Foundation/Licenciado por AUTVIS, Brasil, 2013

Coleção particular © Andy Warhol Foundation/Licenciado por AUTVIS, Brasil, 2013. Foto: Album/AKG-Images/Latinstock

As imagens em repetição nos passam a ideia de que, assim como objetos do cotidiano, as pessoas famosas têm suas imagens transformadas em artigos de consumo pelos meios de comunicação em massa.

Andy Warhol. Campbell’s Soup Can – Beef Noodle, 1962. Serigrafia, 50,8 × 40,6 cm. The Metropolitan Museum of Art, Nova York.

Museum Ludwig, Colônia. © Lichtenstein, Roy/Licenciado por AUTVIS, Brasil, 2012

Outro artista que aderiu ao movimento foi Roy Lichtestein (1923-1997), que apreciava as imagens publicitárias e as incorporava em suas obras. Ficou conhecido por suas pinturas que aplicam a técnica das imagens impressas nas histórias em quadrinhos.

Roy Lichtestein. M-Maybe, 1965. Magna sobre tela, 152 × 152 cm. Museum Ludwig, Colônia.

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Coleção do artista

Não foi por acaso que o movimento da Pop Art ganhou força nos Estados Unidos, sobretudo em Nova York, importante centro financeiro do mundo, em uma época em que o consumo crescente empolgava multidões e impulsionava as mídias. O movimento – do qual fazem parte Warhol, Lichtestein e muitos outros artistas – foi tão forte e contou com a adesão de tantos artistas que Nova York ultrapassou Paris como centro de arte contemporânea. A capital francesa era, até então, referência internacional de estética. No entanto, o movimento não ficou restrito a esse país: artistas de outras partes do mundo também adotaram sua estética. No Brasil, Antonio Dias (1944-), Claudio Tozzi (1944-), Rubens Gerchman (1942-2008), Wesley Duke Lee (1931-2010), entre outros receberam influências do movimento Pop Art, sobretudo na figuração, na adesão a técnicas como o silkscreen e na incorporação de materiais industrializados. Quanto ao conteúdo das obras, uma das principais características notadas é a irreverência, marca do movimento. Ela está presente em obras de conteúdo político e social.

Cláudio Tozzi. Bandido da luz vermelha, 1967. Liquitex sobre hardboard, 95 × 95 cm.

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DE LONGE É ARTE, DE PERTO É LIXO

Jacques-Louis David. A morte de Marat, 1793. Óleo sobre tela, 162 × 128 cm. Musées Royaux des Beaux-Arts de Belgique, Bruxelas.

Coleção particular

Musées Royaux des Beaux-Arts de Belgique, Bruxelas.

Meio século após o surgimento da Pop Art, o consumo continua a ser tema para artistas, sobretudo para aqueles que, engajados em causas ambientais, utilizam sua arte como forma de alerta e reflexão. O lixo e os descartes se tornam materiais para as obras do brasileiro Vik Muniz (1961-) e do estadunidense Chris Jordan (1963-). Ambos usam os processos fotográficos para mostrar seu trabalho de construção de imagens – conhecidas ou não – a partir de sucatas.

Vik Muniz. Marat – Sebastião, 2008. Impressão digital. 129,5 × 101,6 cm. A obra é uma releitura da obra de David, A morte de Marat (1793).

O lixo é a principal matéria-prima das obras de Vik Muniz. Por isso, o artista pôde retratar catadores de um aterro do Rio de Janeiro, chamado Jardim Gramacho. Sebastião, um desses catadores, foi retratado pelo artista como Marat, personagem da Revolução Francesa. O contato com essas pessoas levou o artista a querer registrar em filme seu cotidiano e seus depoimentos diante da perspectiva de extinção do lixão e de seu contato com a arte. O resultado foi o documentário Lixo extraordinário, que revela a dignidade dos catadores em seu trabalho e também o poder transformador da arte. Com direção de Lucy Walker, João Jardim e Karen Harley, o longa-metragem recebeu importantes prêmios nacionais e internacionais. Na série “Running the Numbers”, Chris Jordan explora as estatísticas traduzindo números em imagens. Refere-se a esse trabalho como “um olhar para a cultura americana contemporânea através da lente austera de estatísticas”. 96

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Acervo do artista

Assim, as 106 mil latinhas de alumínio consumidas a cada 30 segundos nos Estados Unidos são representadas em uma reprodução de uma obra do artista francês Georges Seurat. As 32 mil cirurgias de aumento dos seios realizadas por mês, em 2006, nos EUA, são traduzidas na imagem de 32 mil bonecas formando um busto feminino. São diversas obras impactantes, tanto pelo tema que retratam como pelo número de elementos que as constitui. Sua principal motivação é a esperança de que a tradução dos números em figuras seja capaz de alertar sobre o significado do modo de vida consumista e seu negativo impacto ao meio ambiente. Como as de Vik Muniz, as “obras” de Jordan são conjuntos enormes e repetitivos de dejetos dispostos de maneira a formar padrões ou imagens e, a partir dessa disposição, são então fotografados.

Chris Jordan. Gyre, 2009. A releitura da obra A grande onda, de Hokusai, é composta de 2,4 milhões de peças de plástico equivalentes ao número de quilos desse material jogados ao mar a cada hora. Todo o material empregado na obra foi coletado no Oceano Pacífico.

Detalhes da obra de Crhis Jordan.

QUANDO AS COISAS VIRAM ARTE Objetos manufaturados ou industrializados podem ser transformados em arte, como já nos mostrou o artista francês Marcel Duchamp (18829º ano

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Museu Picasso, Paris.© Succession Pablo Picasso / Licenciado por AUTVIS, Brasil, 2013. foto: Scala/Glow Images

1968). Ele retirava objetos de seu contexto original e os categorizava como obra de arte. Já o espanhol Pablo Picasso (1881-1973) figurava a partir de objetos, demonstrando o potencial dos materiais não convencionais para a construção de uma obra de arte.

Pablo Picasso. Cabeça de touro, 1942. Escultura confeccionada com um selim e um guidão de bicicleta. Museu Picasso, Paris.

O brasileiro Arthur Bispo do Rosário (1911-1989) passou grande parte de sua vida internado em um hospital psiquiátrico, onde fez arte com os objetos que tinha a seu alcance. Recolhia-os e organizava-os de acordo com suas formas e cores. Acreditava que suas obras seriam apresentadas ao “Todo-poderoso” no dia do juízo final e não imaginava que um dia sairiam do país e chegariam a ser expostas até em Paris, Nova York e Veneza, além de fazer parte de importantes mostras no Brasil. Em 2007, foi homenageado pela escola de samba Império Serrano. Veja, a seguir, um trecho do samba-enredo da escola. [...] É difícil Conviver na adversidade Com arte ser eficiente Fazer da pintura sua liberdade Fazer esculturas usando a paixão Feitiço de poeta invade o coração Divino é o poder da criação Eu pergunto a você Será que existe? Limite entre a loucura e a razão. CRUZ, Arlindo; MAURIÇÃO; MACHADO, Aluísio; SENNA, Carlos; BOSCO, João. Samba-enredo 2007: Ser diferente é normal. O Império Serrano faz a diferença no carnaval.

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Museu Bispo do Rosário. Foto: Fernando Chaves Museu Bispo do Rosário. Foto: Fernando Chaves

Arthur Bispo do Rosário. Vinte garrafas: vinte conteúdos (s/d). Museu Bispo do Rosário, Rio de Janeiro.

Arthur Bispo do Rosário. Planeta paraíso dos homens (s/d). Museu Bispo do Rosário, Rio de Janeiro.

PARA CRIAR

A percepção e a capacidade de transformar objetos é um ato de criação, e reciclar é hoje uma necessidade. Diante de tantos descartes, saber reaproveitá-los de maneira criativa é um desafio e quase uma obrigação. A artista brasileira Leda Catunda (1961-) optou por criar um suporte para sua pintura com camisetas velhas, deixando expostas as imagens preexistentes. A técnica utilizada é conhecida como assemblage, palavra de origem francesa usada para as obras de arte que resultam da justaposição de diversos objetos, fabricados ou naturais. 9º ano

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Coleção Gilberto Chateaubriand

Leda Catunda. Camisetas, 1989. Acrílica sobre camisetas, 220 × 190 cm.

A proposta para essa atividade é a produção de uma assemblage. Como já vimos que não há limites para a criação em arte, realize uma obra a partir do reaproveitamento de sucatas. Você poderá iniciar o trabalho de duas maneiras: • coletando materiais e se inspirando em suas formas, como fez Picasso ao criar a escultura Cabeça de touro; ou • projetando, mentalmente ou por meio de desenhos, o que vai construir e, então, iniciando a coleta de materiais que atendam à sua criação. Procure fotografar a construção de seu trabalho, documentando todo o processo. Não se esqueça de nomear seu trabalho. Apresente a seus colegas o resultado final e o processo documentado. Se sua escola tiver acesso à internet, procure realizar uma exposição virtual dos trabalhos de toda a turma, postando-os no próprio site da escola ou criando uma página para registrar e divulgar o trabalho realizado.

TER OU NÃO TER REPERTÓRIO, EIS A QUESTÃO! Você já leu ou ouviu algo parecido? A frase é uma adaptação de um famoso verso da obra Hamlet, escrita pelo dramaturgo inglês William Shakespeare (1564-1616) entre 1599 e 1601. A obra relata a dor e o sofrimento do príncipe Hamlet quando descobre as ações de seu tio para tomar o trono da Dinamarca após a morte de seu pai. 100

Arte


“To be or not to be, that’s the question”, que, em português, podemos traduzir por “ser ou não ser, eis a questão”, é a frase original da obra do dramaturgo inglês. A frase é mencionada em discursos das mais variadas tendências com bastante frequência. Quem a ouve passa adiante, mesmo que não conheça sua origem. A formação de repertório cultural é muito importante, sobretudo para nos relacionarmos no mundo contemporâneo, repleto de informações que precisamos ler e decodificar. Quanto mais variado for o repertório cultural de uma pessoa, mais criativas serão suas relações e suas ações transformadoras e, nesse sentido, as linguagens artísticas permitem ampliar o entendimento de temas diversos. Quem tem repertório compreende melhor o que ouve e vê e possui mais dados para criar e recriar.

LER E RELER, CRIAR E RECRIAR

Fernando Botero. Mona Lisa, 1978. Óleo sobre tela, 166 × 183 cm. Museu Botero, Bogotá. Botero arredondou e “engordou” as formas de sua Mona Lisa, assim como o faz com todas as outras figuras que retrata.

Fernand Léger. Mona Lisa com chaves, 1930. Óleo sobre tela. Museu Nacional Fernand Léger, Biot. Cortesia José Nesa, Genebra

Museu Botero, Bogotá

Marcel Duchamp. L.H.O.O.Q., 1919. O artista acrescentou bigode e cavanhaque a uma reprodução da Mona Lisa.

Museu Nacional Fernand Leger. © Léger, Fernand/Licenciado por AUTVIS, Brasil, 2013. Foto: The Bridgeman ArtLibrary/Keystone

Coleção particular/Succession Marcel Duchamp/ Adagp, Paris, 2003/Scala/Imageplus

A obra Mona Lisa, de Leonardo da Vinci, faz parte do impressionante acervo do Museu do Louvre em Paris, França. Além de tema para peças publicitárias e produtos comerciais, a obra já foi referência para muitos artistas. Foi copiada repetidas vezes por artistas aprendizes e resignificada em obras de artista famosos, sobretudo no século XX. Veja, a seguir, alguns exemplos desses usos.

Jean-Michel Basquiat. Mona Lisa, 1983. Acrílico e tinta a óleo em barra sobre tela, 169,5 × 154,5 cm. O artista estadunidense de origem caribenha pintou a imagem de Mona Lisa acrescentando elementos presentes em cédulas de dinheiro.

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Na história da arte ocidental, insCONHECER MAIS pirar-se em uma obra consagrada para Museu espanhol encontra cópia da Mona Lisa elaborar outra é uma atividade que reMADRI – O Museu do Prado encontrou em seus monta à Antiguidade. Os romanos, por arquivos uma cópia da Mona Lisa, de Leonardo da Vinexemplo, copiaram largamente as esci, que parece ter sido pintada ao mesmo tempo que culturas gregas. Copiar é uma atividao retrato original no ateliê do artista italiano, segundo uma publicação artística. de bastante comum no aprendizado de A revelação foi feita por uma especialista do museu técnicas e recursos de representação espanhol em um seminário na Galeria Nacional de Lon(como mostramos no quadro apresendres há duas semanas e foi divulgada pela primeira vez na revista The Art Newspaper. tado anteriormente). [...] Muitos artistas confessam ter coSegundo a revista, o quadro teria sido feito por um pupilo de Leonardo da Vinci ao mesmo tempo em que piado os grandes mestres em seu apreno mestre pintava sua obra mais famosa, entre 1503 e dizado. Também os artistas artesãos, no 1506, mas ficou relegada nos depósitos do Prado por Brasil e no exterior, aprendem seu ofíse pensar que era mais uma cópia do famoso retrato exposto no Museu do Louvre. cio muitas vezes copiando as obras e as Análises de raios X permitiram comprovar que sob técnicas de outros de sua comunidade, um verniz escuro na obra – praticamente do mesmo perpetuando, assim, as tradições. tamanho que a Mona Lisa autêntica – havia um fundo paisagístico da Toscana parecido ao do quadro original. No entanto, se pesquisarmos além [...] dos exemplos expostos neste capítulo, vamos encontrar inúmeros exemplos Disponível em: <www.estadao.com.br/noticias/arteelazer,museu-espanhol-encontra-copiada-mona-lisa,830069,0.htm>. Acesso em: 25 out. 2012. (Texto adaptado.) de obras criadas a partir de outras, alterando-se, porém, o contexto da obra original. Isso não significa que se trata de uma cópia. Nesse caso, chamamos de releitura da obra. Diferente da cópia, que como o próprio nome indica, visa à reprodução idêntica de uma determinada obra, em uma releitura espera-se uma reinterpretação. As alterações podem ocorrer apenas do ponto de vista da técnica ou da estética ou ainda em relação à própria temática da obra. Nos exemplos citados em relação à Mona Lisa, podemos perceber diferentes maneiras de se fazer uma releitura. Observe-as bem. As releituras foram um recurso bastante explorado pelos artistas do século XX, sobretudo quando Pablo Picasso realizou um grande número delas. De uma só obra – As meninas (1656), do também espanhol Diego Velásquez (1465-1524) –, Picasso fez mais de 150 esboços, desenhos e pinturas. De outra famosa obra – Almoço na relva (1863), de Edouard Manet (1832-1883) – ele fez cerca de 27 quadros. Picasso admirava profundamente essas obras e seus autores quando decidiu recriá-las. Considerando-se que, para executar uma releitura, uma pessoa deva ter apreciado determinada obra, estudando-a em seus mais diferentes aspectos (época, estilo, significados etc.), é possível dizer que esse tipo de trabalho constitui uma verdadeira homenagem às obras originais. 102

Arte


Tarsila do Amaral. Abaporu. Óleo sobre tela, 73 × 85 cm. Museo de Arte Latinoamericana (Malba), Buenos Aires.

Romulo Fialdini

Siron Franco. S/ título. Técnica mista sobre tela. 80 × 90 cm. Siron Franco trabalhou a imagem com areia e terra.

Cia. Articularte – Teatro e Bonecos

José Roberto Aguilar. A noite da antropofagia. Acrílica sobre tela. 205 × 212 cm. Aguilar inseriu um trecho do Manifesto Antropofágico à obra.

Museo de Arte Latinoamericano de Buenos Aires, Buenos Aires, Argentina. Foto: Romulo Fialdini

Romulo Fialdini

Foi o desejo de homenagear uma obra brasileira, o Abaporu, pintado em 1928 por Tarsila do Amaral, que motivou um grupo de doze artistas brasileiros das mais diversas tendências a produzir obras para a exposição “Filhos do Abaporu”, realizada pela Galeria Arte do Brasil em 1985. Tal homenagem também teve outro motivo bastante importante: a obra iria deixar o Brasil para compor o acervo do Malba (Museu de Arte Latino-Americana de Buenos Aires), na Argentina. Cada artista imprimiu à releitura do Abaporu as marcas de seu trabalho pessoal.

O grupo Articularte, por meio da manipulação de bonecos, criou o espetáculo “A cuca fofa da Tarsila”, repleto de recursos cênicos bastante originais.

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AS ADAPTAÇÕES TEATRAIS [...] Já lhe dei meu corpo, minha alegria Já estanquei meu sangue quando fervia Olha a voz que me resta Olha a veia que salta Olha a gota que falta Pro desfecho da festa Por favor... Deixe em paz meu coração Que ele é um pote até aqui de mágoa E qualquer desatenção, faça não Pode ser a gota d’água. BUARQUE, Chico. Gota d’água. In: Chico 50 anos – O político (CD). Polygram/Philips, 1994.

O trecho é cantado pela personagem Joana, na peça musical Gota d’água, escrita por Chico Buarque (1944-) e Paulo Pontes (1940-1976). Ao escrever a peça, seus autores desejaram dar voz ao povo que, segundo eles, estava afastado da vida cultural do país, aparecendo apenas nas estatísticas e nas notícias de jornais sensacionalistas. No drama, Joana é uma mulher do povo, moradora do conjunto habitacional Vila do Meio-Dia e casada com o sambista Jasão. O casal e seus vizinhos enfrentam problemas para pagar os altos preços dos reajustes e juros das prestações de suas casas, que são propriedade de Creonte, um explorador da comunidade da vila. Na peça, Jasão apaixona-se por Alma, filha de Creonte, traindo não apenas Joana, mas também seus pares. Impossibilitada de pagar as prestações de sua casa, Joana é despejada por Creonte. Inconformada, transforma sua dor em ira e jura vingar-se do marido. Ela planeja matar Alma e seu pai, oferecendo-lhes um bolo envenenado. Este é recusado por Creonte, que a vê como uma mulher de feitiços. Quando percebe que seu plano fracassou, oferece o bolo a seus próprios filhos, matando-os e suicidando-se em seguida. Assim, Gota d’água faz uma crítica social aos interesses capitalistas e à falta de habitação, mas também aborda as relações humanas. A história, que poderia ter se desenrolado aqui no Brasil, nasceu na Grécia há muito tempo com o mito de Medeia. Ela era uma mulher que, para se vingar do marido infiel, afrontou as leis humanas e divinas, matando os próprios filhos. O dramaturgo grego Eurípedes (480-406 a.C.) apropriou-se da história e escreveu a peça Medeia, encenada pela primeira vez em 431 a.C. e reescrita muitos séculos depois por Chico Buarque e Paulo Pontes. 104

Arte


Museu do Louvre, Paris

Na tragédia grega, vivida na cidade de Corinto, Medeia é uma princesa com dons de feiticeira que se apaixona por Jasão, deixando para trás pátria e família para seguir ao lado de um grande amor – até descobrir ser traída por ele. Transtornada pelo ódio, oferece à noiva de Jasão um manto com o poder de queimá-la, matando também seu pai, o rei Creonte. Em seguida, mata seus filhos, frutos de seu casamento com Jasão, abrindo mão de sua condição humana. Transforma-se então em uma feiticeira vitoriosa, saindo de cena no carro de seu avô, o Sol.

Eugène Delacroix. Medeia, 1838. Óleo sobre tela, 260 × 165 cm. Museu do Louvre, Paris. Delacroix foi um dos artistas que representaram Medeia, pintando a cena em que ela se prepara para matar os filhos.

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No relato teatral do mito de Medeia, Eurípedes também faz críticas à sociedade da época, sobretudo à condição feminina e ao abuso de poder dos soberanos. Chico Buarque e Paulo Pontes mantiveram tanto o tema como a crítica social e política da peça, adaptando-os à realidade brasileira da época, referindo-se ao sofrimento da classe trabalhadora e ao autoritarismo do regime militar. O embate da oprimida Joana, a Medeia brasileira, contra Creonte, símbolo do poder, e Jasão, que por interesse se rende a ele, conquistou o público e a crítica teatral em meados dos anos 1970. Nossa tragédia é uma tragédia da vida brasileira. BUARQUE, Chico; PONTES, Paulo. Gota d’água. 27. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1997.

Escrita em versos, os diálogos poeticamente revelam a realidade de pessoas simples com seus dramas pessoais e sociais. Segundo os autores, a poesia exprime melhor a densidade de sentimentos que movem os personagens. Quatro músicas de Chico Buarque compõem o texto teatral de Gota d’água. São elas: “A flor da idade”, “Bem querer”, “Basta um dia” e “Gota d’água”. É possível observar em alguns trechos da escrita de “Gota d’água” as referências que seus autores fazem à origem grega do drama, ao lado de elementos da religiosidade brasileira. Observe: [...] Eu quero ver sua vida passada a limpo, Creonte. Conto co’a Virgem e o Padre Eterno, todos os santos, anjos do céu e do inferno, eu conto com todos os orixás do Olimpo! [...] BUARQUE, Chico; PONTES, Paulo. Gota d’água. 27. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1997.

A arte alimenta a própria arte; suas releituras e adaptações chegam até nós de muitas maneiras. É importante estar informado e ser um conhecedor para melhor apreciá-las. Aqui, apresentamos alguns exemplos de como as obras clássicas chegam até nós e, no caso das peças teatrais, apenas um breve resumo. Mas, sempre que possível, você pode pesquisar para conhecer mais sobre esse e muitos outros assuntos.

LER IMAGENS

Como já pudemos ver, a arte é um meio para se falar de qualquer assunto. Nas três obras selecionadas para esta atividade, seus autores representaram pessoas. Se pensarmos que cada uma delas carrega uma história pessoal, poderemos dizer que foram retratadas muitas vidas, não é mesmo? Observe bem as três obras. Procure as semelhanças e diferenças entre elas e escolha uma para fazer uma leitura mais aprofundada. 106

Arte


Coleção particular Coleção do artista Mario Tama/Staff/Getty Images

As questões a seguir orientarão sua leitura. Você poderá respondê-las de maneira individual ou coletivamente. 9º ano

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O QUE OS OLHOS VEEM A obra que você lê – pintura ou escultura – representa um grupo de pessoas. Como elas estão distribuídas no espaço? Horizontal ou verticalmente? Como estão vestidas? Em que ambiente se encontram? Que cores predominam na obra? As pessoas representadas expressam movimentos? Além de pessoas, que outros elementos estão representados? Na pintura, você percebe a utilização dos recursos da perspectiva e de efeitos de luz e sombra para dar noção de volume? Se você lê a escultura, de que materiais imagina terem sido feitas as pessoas representadas? Como é o fundo da cena representada?

O QUE OS OLHOS PERCEBEM E SENTEM A que classe social você imagina pertencerem as pessoas representadas? Que nacionalidade elas poderiam ter? Que sentimentos elas expressam? Você gostaria de se juntar a elas na cena em que estão representadas? Que sensações a obra lhe causa? As cores utilizadas pelo artista colaboram para esse sentimento? Além das cores, que outros elementos podem lhe ter causado essa sensação? Que título você daria a esta obra?

O OLHAR QUE CONHECE A seguir você encontrará algumas informações que complementarão sua leitura. A pintura que representa um grupo sentado a olhar para o céu foi realizada em 1960 por Edward Hopper (1882-1967). O artista se destacou por pintar paisagens urbanas e cenas em que a imobilidade e a solidão estão sempre presentes. A luz do sol ou de fontes artificiais tem um destaque especial em sua pintura. Ele a utilizava para dar às suas obras um clima de opressão e isolamento aos ambientes. O título desta obra é Pessoas ao sol. A xilogravura é de autoria do brasileiro Rubem Grilo (1946-). Criada e produzida em 1985, faz referência à vida nas grandes cidades. Toda a superfície é densamente trabalhada. As pessoas representadas integram-se e confundem-se com o ambiente, e seus olhares não se cruzam. Nas décadas de 1970 e 1980, Grilo trabalhou como ilustrador na imprensa brasileira e escolheu a xilogravura como linguagem por seu alcance popular. Suas imagens dessa época refletem o cotidiano e os efeitos da política no país sob a ditadura militar. As esculturas em gesso foram feitas em 1964 pelo estadunidense George Segal (1924-2000). Segal começou sua carreira como pintor, mas decidiu-se pela escultura. Não as convencionais em bronze, madeira ou argila: preferiu modelar suas figuras humanas em tamanho natural a partir de moldes feitos com ataduras gessadas. Seus amigos e familiares eram seus modelos. Seus homens e suas mulheres de gesso aparecem em bancos de praça, lanchonetes, filas, em situações que vivemos em nosso cotidiano. Segal tinha 108

Arte


Coleção Particular

Coleção do artista

Mario Tama/Staff/Getty Images

a intenção de representar o anonimato imposto pela vida nas grandes cidades. As figuras brancas, sem cor que as individualizem, reforçam essa ideia. O título da obra é Street Crossing.

Edward Hopper. Pessoas ao sol, 1960. Óleo sobre tela, 102,6 × 153,4 cm.

Rubem Grilo. Urbanoides, 1985. Xilogravura, 23 × 33 cm.

George Segal. Street Crossing, 2003. Escultura. Pedestres passam ao lado das esculturas de Segal, em frente ao Central Park, em Nova York.

O OLHAR QUE INTERPRETA Observe novamente as três obras. Perceba o que as pessoas representadas podem ter em comum. A partir da frase a seguir, escreva outras frases sobre o que percebeu. A arte me faz ver muito do que sou no outro que me apresenta. PARA CRIAR

Agora é sua vez de interpretar e recriar as obras que acabou de ler. Escolha uma das imagens para esse trabalho. A partir do que você viu, sentiu, imaginou e conheceu, selecione uma das cinco sugestões apresentadas a seguir para realizar a sua atividade. 1. Elabore um comercial para a divulgação de um produto. Você

poderá escolher entre as seguintes versões: impresso para divulgação em periódicos, sonoro para divulgação no rádio ou no formato de filme para divulgação em televisão e cinema. Não se esqueça de criar um slogan. No caso de uma propaganda sonora, lembre-se do jingle.

GLOSSÁRIO

jingle: música composta especialmente para propaganda. Assim como os slogans, elas ajudam muito na fixação da imagem do produto. slogan: frase de efeito que se relaciona diretamente ao produto.

2. Com o auxílio de colegas, crie um quadro vivo. 3. Escreva uma poesia sobre a obra. 4. Escreva uma nota jornalística sobre uma hipotética exposição em que a obra estaria presente. 5. Transforme as pessoas representadas em personagens e crie uma cena teatral envolvendo-os.

Lembre-se de que não é próprio da arte ficar escondida, longe dos olhos dos espectadores. Portanto, organize, com seus colegas, apresentações de seus trabalhos. Promova um grande evento e muito sucesso!

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É inegável que os recursos da tecnologia têm facilitado imensamente o acesso a produções artísticas realizadas em outros tempos e em lugares distantes, a começar pelos livros e demais publicações como jornais e revistas. Desde a invenção da imprensa, muito se avançou nesse campo e hoje podemos encontrar excelentes reproduções de obras de arte, cujos originais talvez nunca tenhamos a possibilidade de apreciar. Quanto à internet, são inimagináveis as possibilidades que a cada dia nos apresenta. Bastam alguns toques no teclado ou no mouse e visitamos virtualmente museus, salas de concerto, teatros, espaços e apresentações de todo o mundo. Filmes, que até certo tempo só podiam ser assistidos nas salas de cinema ou na televisão por meio de um aparelho de reproduzir DVDs, hoje podem ser apreciados na tela do computador. Podemos ainda optar por ouvir música por meio de vários tipos de aparelho, como rádios, tocadores de CDs ou de arquivos MP3 e MP4, e celulares. No entanto, nada supera a experiência de se apreciar ao vivo. Sempre que tiver oportunidade, não deixe de visitar museus, assistir a apresentações teatrais, musicais e de dança. O contato com a arte lhe apresentará um novo mundo, no qual você tem papel fundamental, seja como ator, seja como espectador. PARA AMPLIAR SEUS ESTUDOS

Livros Arthur Bispo do Rosário: o senhor do labirinto

O livro aborda as relações entre loucura e criação artística na obra de Arthur Bispo do Rosário. A obra deu origem a um filme com o mesmo nome. HIDALGO, Luciana. Arthur Bispo do Rosário: o senhor do labirinto. Rio de Janeiro: Rocco, 1996.

Vik Muniz: obra completa 1987-2009

O livro de autoria do próprio artista apresenta sua produção entre os anos 1987 e 2009. O catálogo inclui mais de mil obras, permitindo a visualização e até a percepção dos materiais usados pelo artista, muito importantes no impacto de seus trabalhos. MUNIZ, Vik. Vik Muniz: obra completa 1987-2009. Rio de Janeiro: Capivara, 2009.

Mona Lisa: a história da pintura mais famosa do mundo

O autor relata como o famoso quadro de Leonardo da Vinci tornou-se um ícone global e investiga as razões do fascínio pela obra, que mede apenas 77 × 53 centímetros. Mostra também como o artista italiano criou a obra destacando as técnicas para a composição do sorriso enigmático e como artistas como Fernando Botero e Andy Warhol usaram e abusaram dela. Aspectos da história do quadro, como o roubo em 1911, são também mencionados na obra do historiador inglês Donald Sassoon. SASSOON, Donald. Mona Lisa: a história da pintura mais famosa do mundo. Rio de Janeiro: Record, 2004.

Os pintores mais influentes do mundo e os artistas que eles inspiraram

Em uma linha do tempo, o livro revela as conexões entre cinquenta pintores que estabeleceram ou redefiniram movimentos e tradições, mostrando as influências de uns sobre os outros. GARIFF, David. Os pintores mais influentes do mundo e os artistas que eles inspiraram. Barueri: Girassol, 2008.

Pop Art

O livro traça um histórico do movimento com a apresentação de obras de artistas da Pop Art de forma detalhada. HONNEF, Klaus. Pop Art. Colônia: Tashen, 2004.

110

Arte

Filmes Basquiat

Inspirado na vida do artista nova-iorquino Basquiat, descoberto nas ruas por Andy Warhol em 1981, o filme apresenta o panorama artístico da cidade de Nova York e a carreira meteórica e atribulada do pintor. Direção de Julian Schnabel. EUA, 1996. (106 min.)

O senhor do labirinto

Produzido a partir do livro homônimo, relata a vida de Arthur Bispo do Rosário como interno na Colônia Juliano Moreira, no Rio de Janeiro. Direção de Geraldo Motta e Gisella de Mello. Brasil, 2010. (80 min.)

Site Medeia

Nesse endereço, é possível encontrar outras representações de Medeia em pinturas e gravuras. Disponível em: <http://personal.centenary.edu/~cmanning/medeaart.html> Acesso em: 22 abr. 2013.


Bibliografia

ARTE BUARQUE, Chico; PONTES, Paulo. Gota d’água: uma tragédia brasileira. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1999. CARPEAUX, Otto Maria. O livro de ouro da música: da Idade Média ao século XX. Rio de Janeiro: Ediouro, 2001. COSTA, Cristina. Questões de arte: a natureza do belo, da percepção e do prazer estético. São Paulo: Moderna, 1999. EURÍPIDES. Medeia. Trad. Trajano Vieira. São Paulo: Editora 34, 2010. GOMBRICH, Ernest. A história da arte. São Paulo: Martins Fontes, 1998. HIDALGO, Luciana. Arthur Bispo do Rosário: o senhor do labirinto. Rio de Janeiro: Rocco, 1996. HONNEF, Klaus. Pop Art. Colonia: Tashen/Paisagem, 2004. MUNIZ, Vick. Vick Muniz: obra completa 1987-2009. Rio de Janeiro: Capivara, 2009. READ, Herbert. Arte de agora, agora: uma introdução à teoria da pintura e escultura modernas. São Paulo: Perspectiva, 1991. SASSOON, Donald. Mona Lisa: a história da pintura mais famosa do mundo. São Paulo: Record, 2004. VÁRIOS AUTORES. Arte y propaganda: Carteles de la Universitat de Valencia. Valencia: Universidad Valencia, 2003.

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UNIDADE 3

LĂ­ngua Estrangeira Moderna



Capítulo LÍNGUA INGLESA

1

Brazil, Brazilian culture and people

N

Bettmann/Corbis/Latinstock

este primeiro capítulo vamos refletir um pouco sobre como nosso país é visto pelos estrangeiros. Analisaremos algumas informações sobre o Brasil encontradas em um guia turístico conhecido por trazer, além de dados turísticos, informações históricas, políticas, sociais e culturais. Será uma prática de leitura crítica e de reflexão sobre a imagem que passamos para outros povos. Assim como nos outros textos que você já estudou, muitas das informações apresentadas podem já ser conhecidas, pois se referem a assuntos que fazem parte do cotidiano do país. Assim, antes de iniciar a leitura, pense no que sabe sobre os assuntos — obserPelé e o senador estadunidense Robert F. Kennedy se cumprimentam nos vestiários ve o título do texto e o gênero do Maracanã após partida da seleção brasileira no Rio de Janeiro (RJ), em 1965. A (reportagem, lista, artigo etc.) imagem do Brasil no exterior frequentemente foi associada à beleza de suas paisagens naturais, ao carnaval e ao futebol. Será que isso mudou? Como o nosso país é visto para antecipar o assunto e faciliatualmente pelos estrangeiros? tar a sua leitura.

LER TEXTO EM INGLÊS I

Leia os textos e responda às questões a seguir. Em seguida, compare suas respostas com as de um colega. Why is Brazil so special? Because it is a fantastic place, one of the largest, most populous countries in the world. Although Brazil is a specially beautiful and interesting place, people in the world know very little about its rich and diverse culture.

Some information about Brazil • Brazil is the fifth largest country in size and the eighth in population. Brazil is larger than the United States, excluding Alaska. • Brazil is larger than Argentina, Mexico, Venezuela, Colombia and Peru combined.

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• The social, historical and economic development of Brazil is unique. It has a large and growing economy which presents great opportunities for investment. • Portuguese is the language spoken in Brazil, and many other people around the world speak Portuguese as their first language. Portuguese is the sixth most common language in the world. As Brazil is the biggest country in Latin America, almost half of the people in Latin America don’t speak Spanish – they speak Portuguese. Texto elaborado para fins didáticos, 2012.

1. Leia a primeira parte do texto e note que há uma pergunta em seu título. Procure no dicionário,

se precisar, as palavras que você desconhece e tente entender o sentido da frase. Com base na sua compreensão, faça o que se pede a seguir. a) Antecipe o que você acha que aquele pequeno parágrafo vai conter sem lê-lo. Lembre-se do

que foi explicado anteriormente sobre antecipação de assuntos para a compreensão do texto. b) Observe as palavras do texto que você consegue entender e veja se suas previsões foram ou

não confirmadas. 2. No texto, o que se afirma sobre o tamanho do Brasil e que comparação é feita com outro país? 3. O que se fala sobre a língua portuguesa?

LER TEXTOS INFORMATIVOS I

Fernando Donasci/Folhapress

Ao apresentar a cultura brasileira, um guia turístico do Brasil divide-se em diferentes seções: estilo de vida, população, economia, hábitos, crenças. Selecionamos três dessas seções para sua reflexão. Primeiramente, pense um pouco sobre o que vamos ler. Observe a foto a seguir, converse com um colega e responda: a imagem tem relação com qual das três partes do texto que será lido, “The national psyche”, “Lifestyle” ou “Multiculturalism”? Por quê? O que você diria a alguém sobre esses três assuntos?

Carnival in Olinda (PE), 2008: the traditional “bloco dos bonecos gigantes” of Olinda parade through the streets of the historic centre of the city.

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Língua Inglesa


The national psyche Brazilians are known for lively celebrations: carnival, football matches, samba clubs. Nearly every Carioca (Rio resident) and Paulistano(São Paulo city resident) has a horror story of robbery. There is an official way of doing things and there is the jeitinho: a characteristically Brazilian way around it. In a land of profound diversity, the Brazilians exhibit some deep contradictions. Brazilian racial harmony is an accepted ideal, but the blacks are among the poorest people. Carnival is a time for wild freedom, but sexual repressiveness is a reality in the country. Some people profess to be catholic, but believe in Candomblé and other Afro-Brazilians cults. Poor and rich people live in close proximity. […] ST. LOUIS, Regis. Brazil. Hong Kong: Lonely Planet, 2008. p. 51.

1. Quais comemorações típicas do Brasil são mencionadas no texto? 2. Como o “jeitinho brasileiro” é explicado no texto? O que você pensa sobre esse “jeitinho”? 3. O que o texto diz a respeito dos pobres e ricos? Qual a consequência disso, em sua opinião?

Lifestyle It is difficult to construct a portrait of the typical Brazilian because of the mix of social, cultural and economic factors. The rich people send their children to private schools and abroad to university. Depending on where the person lives in the country, the Brazilians are very worried about crime. Maids are common, even among middleclass Brazilians. The children tend to live at home until they are married. Below the elite are the working class people, and at the bottom of the socioeconomic ladder are the favelados(slum dwellers). […] ST. LOUIS, Regis. Brazil. Hong Kong: Lonely Planet, 2008. p. 52.

4. Quais fatores econômicos, culturais e sociais são mencionados no texto? Você concorda com a

descrição que é feita do Brasil? Multiculturalism The Brazilian identity is the union of many races and nationalities: the Portuguese, the native Indians, Africans and immigrants from Europe, the Middle East and Asia. Many indigenous foods and beverages have become popular. Gauchos speak a Spanish-inflected Portuguese. Baianos, descendents of the first Africans in Brazil, are famous for being the most extroverted and celebratory of Brazilians. Mineiros are considered more serious and reserved than the Brazilians who live close to the sea. It is not uncommon for apparently white Brazilians to have a mix of European, African and indigenous ancestors. ST. LOUIS, Regis. Brazil. Hong Kong: Lonely Planet, 2008. p. 54.

5. O que você acha que é verdade nesse trecho? Você acha que o autor tem razão em relação aos

nossos hábitos, considerando seu conhecimento e sua experiência? 6. Há no guia a seguinte informação sobre os negros no Brasil:

Blacks are underrepresented in the government. O que você acha sobre o trecho, que diz que os negros são mal representados no governo? Há motivos para concordar e também discordar dessa informação. Procure justificar sua resposta. Em geral, um bom modo de expressar sua opinião é usar argumentos que você tenha lido no jornal, visto na TV ou ouvido falar. 9º ano

117


Nesta atividade, aproveite e pratique duas habilidades: entender o texto em inglês e escrever comentários em português. Releia sempre suas sentenças, verificando se elas são bastante claras e se fazem sentido, isto é, se expressam exatamente o que você tem em mente. Ao escrever, é normal haver muita releitura, muita revisão. Sem essa revisão, dificilmente o texto final sairá do jeito que se espera.

PREFIXOS E SUFIXOS NA LÍNGUA INGLESA Uma característica comum entre muitas línguas é o uso de prefixos e sufixos. Trata-se de partes de palavras que trazem diferentes significados quando acrescentadas no começo (prefixo) ou no fim (sufixos) de outras palavras. Veja alguns exemplos em português de prefixos e de sufixos, alguns dos quais bastante semelhantes. irresponsável

desigual

impróprio

inaceitável

desorganizado

despercebido

inacabado

participação

machismo

cientista

Veja alguns exemplos de prefixos e sufixos nos textos em inglês que você já leu neste capítulo. largest

populous

specially

interesting

population

bigger

excluding

combined

social

historical

development

growing

investment

biggest

Brazilians

celebrations

robbery

doing

characteristically

diversity

contradictions

racial

accepted

poorest

sexual

repressiveness

reality

proximity

typical

dwellers

social

cultural

depending

worried

married

working

identity

nationalities

Portuguese

Indians

Africans

indigenous

inflected

descendents

famous

being

extroverted

celebratory

considered

serious

reserved

uncommon

apparently

SUFIXOS -ED E -ING Dois sufixos em inglês merecem atenção especial, pois, além de serem muito usados, têm significados diferentes. O -ed é usado para mostrar o passado de verbos regulares, mas o que se chama de “passado” pode ter outras funções, como a de adjetivo. Veja exemplos: Brazilian racial harmony is an accepted ideal. Brazilians are very worried about crime. The children tend to live at home until they are married. Gauchos speak a Spanish-inflected Portuguese. Baianos, descendents of the first Africans in Brazil, are famous for being the most extroverted and celebratory of Brazilians. Mineiros are considered more serious and reserved than the Brazilians who live close to the sea. 118

Língua Inglesa


O sufixo -ing tem várias funções. Forma o gerúndio dos verbos, como em fazendo, comendo, olhando e pensando. Nesse caso, é sempre usado com o verbo to be (estar) para significar “estar fazendo alguma coisa”. Por exemplo: “You are studying English now”. Depending on where the person lives in the country, the Brazilians are very worried about crime.

(Dependendo de onde a pessoa mora [...] — o sufixo -ing mostra o gerúndio.) O sufixo -ing também pode ser usado para formar o infinitivo de verbos, principalmente quando usados no início de uma sentença ou logo após uma preposição. Além disso, o -ing pode ser usado como sufixo com verbos para transformá-los em adjetivos (to interest – interessar / interesting – interessante). Veja alguns exemplos do texto que você leu: There is an official way of doing things and there is the jeitinho.

(Há um modo oficial de fazer coisas [...] — o sufixo -ing mostrando o infinitivo do verbo “do”: doing = fazer.) Baianos, descendents of the first Africans in Brazil, are famous for being the most extroverted and celebratory of Brazilians.

(Os baianos, descendentes dos primeiros africanos no Brasil, são famosos por ser [...] — o sufixo -ing mostrando um verbo no infinitivo.) Below the elite are the working class people, and at the bottom of the socioeconomic ladder are the favelados (slum dwellers).

(Abaixo da elite estão as pessoas da classe trabalhadora […] — o sufixo -ing forma um adjetivo.)

LER TEXTO EM INGLÊS II

Você verá a seguir algumas palavras com as terminações -ing e -ed, como located, logo na primeira linha do texto sobre o Rio de Janeiro. Lembre-se sempre de utilizar as estratégias de leitura. Veja um guia básico para ajudá-lo a lembrar delas. • Identifique palavras cognatas: palavras grafadas em inglês que se parecem com palavras em

português e que têm significado semelhante. • Adivinhe o significado de certas palavras que desconhece. Para isso, é preciso atentar para o contexto em que estão sendo utilizadas. • Localize palavras-chave, aquelas que fornecem a ideia central e que se repetem num texto. • Use o dicionário somente quando necessário. As palavras com sufixos estão marcadas em itálico. 9º ano

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Rio de Janeiro Rio de Janeiro is located in southeastern Brazil, on the Atlantic Ocean. It is Brazil’s second largest city, and the country’s leading tourist center. It is separated from the rest of the country by mountains, including the Serra da Mantiqueira. Rio was the capital and dominant city of Brazil from 1763 to 1960. It is an important seaport located along the maritime traffic routes that link the coastal cities of the northeast with the more economically developed areas of southeastern Brazil. Rio is also a manufacturing and service center. The service sector dominates the economy and includes banking and other financial functions. Tourism and entertainment are also important.

Forests, mountains and beaches

Celso Ávila/Folhapress

Rio’s lush forests, spectacular mountains, and sparkling beaches make it one of the most beautiful cities of the world. The city occupies a magnificent natural setting between the mountains and the sea. From its beginnings as a fort and trading outpost, Rio has spread to fill the space between the beaches and the mountains. Its more famous landmarks are Sugarloaf Mountain, situated on a peninsula in Guanabara Bay, and the large statue called Christ the Redeemer, atop Corcovado Mountain.

Christ the Redeemer in Corcovado Mountain, Rio de Janeiro (RJ), 2005.

Traduza as frases a seguir e observe os diferentes significados das palavras com -ed e com -ing. a) Kissing upon greeting is common in Brazil. b) Brazil is a great country − one of the most interesting places in the world. c) Brazil has a large and growing economy. d) Brazil is a country worth visiting. e) Women should be very cautious about giving gifts to male colleagues or customers. 120

Língua Inglesa


f) Rio de Janeiro is an enchanting city. g) The racial mixing in Brazil is the result of the increasing number of immigrants from all over

the world. h) The country offers a welcoming social environment. i) Visitors are fascinated by the incredible natural beauty of the country. j) Tourists are surprised to know that the National Park of Tijuca in Rio de Janeiro is considered

the largest urban forest in the world. k) Brazilians are disappointed that Brazil did not win World Cup. l) Brazilian music is much appreciated abroad. m) Learning a new language can be a challenging task.

PARA REFLETIR I

Continue sua análise do que acha verdadeiro ou não nas informações retiradas do guia turístico. Lembre-se de que se trata de uma leitura crítica (sua opinião), baseada em sua experiência de vida e em seus conhecimentos. Desenvolva uma metodologia por meio da qual você possa melhor organizar esta atividade. Por exemplo, utilize T para true e F para false, indicando o que você acha que é verdadeiro (true) ou falso (false). Ou algo como I agree ou I don’t agree, para opiniões com as quais você concorda ou não concorda, respectivamente.

LER TEXTOS INFORMATIVOS II

Leia outras seções do guia de turismo do Brasil, apresentadas a seguir. Sports: soccer Soccer, or football, as it is also called, was introduced in Brazil in the 1890s, when a young student from São Paulo, Charles Miller, returned from studies in England with two footballs and a rule book and began to organize the first league. It quickly became the national passion, and Brazil is the only country to have won five World Cups. See some information about this fact: • Most people in the world acknowledge that Brazilians are among the best footballers. GLOSSÁRIO • Brazilians are insane about the sport. Acknowledge: reconhecer. • No one goes to work on big international game days. Just about: quase. • When Brazil unexpectedly lost to France in the 1998 World Cup final, millions cried on the street. • Most of the best players leave Brazil for lucrative contracts with European clubs. It seems that many gifted kids are waiting to replace the stars. You will see tiny children playing skilled, rough matches in the streets, on the beaches, in a jungle clearing − just about everywhere. ST. LOUIS, Regis. Brazil. Hong Kong: Lonely Planet, 2008. p. 59.

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Alexandre Tokiaka/Pulsar Imagens

Kids play football while they wait for the school bus in Bom Jesus da Serra (BA).

Economy Brazil was noted by economists, in 2003, as a country with a very big economic potential. In the Latin American context, it is the biggest economy. Brazilian economy has been growing in the last years and the growth has been particularly strong in agribusiness, which employs about 20% of the country’s workforce. Brazil is now the leader in sugar, coffee, orange juice, soy and beef exportation. Biofuel has gained more and more attention in the last decades in Brazil. During the oil crisis in the 1970s, Brazil transformed its sugarcane into an alternative fuel: ethanol. Today, 70% of its cars run on gasoline, ethanol or some combination of the two, and ethanol provides 40% of the country’s fuel. But environmentalists point out that Brazil’s growth in agribusiness has led to the continued destruction of GLOSSÁRIO the rain forest. Big forests have been chainsawed to make way for fields, a Growth: crescimento. practice with enormously damaging implications for Brazil’s environment. Soy: soja. ST. LOUIS, Regis. Brazil.. Hong Kong: Lonely Planet, 2008. p. 53.

1. Que combustível é mencionado no texto e produzido em larga escala no Brasil? Qual a sua im-

portância?

2. Quais vantagens e desvantagens são mencionadas no texto a respeito do agronegócio no Brasil?

Explique.

Women in Brazil In spite of having one of the earliest feminist movements in Latin America, chauvinist stereotypes persist in Brazil, and women are still underrepresented in positions of power. See some facts about the women’s situation in Brazil: • Brazilian women were among the first in Latin America to gain the right to vote, in 1932. • There is a growing number of feminist NGOs dedicated to educating women about their legal rights. • Only about 9% of all legislators are women. • Although women represent 44% of the workforce, they tend to be GLOSSÁRIO Low paying jobs: trabaconcentrated in low paying jobs. lhos que pagam pouco • A woman usually earns 70% of a man’s salary. 122

Língua Inglesa


Beaten (to be beaten): ser espancado(a)

• Instances of domestic advances are frighteningly common: one report stated that every 15 seconds a woman is beaten in Brazil. • Since 1990, 250 women’s Police stations have been created. • Many attribute the significantly decline in birth rate to the aids epidemic and to sterilization. • Sterilization is such a large problem that in 1997 the government passed a law allowing sterilization only for women who have had at least two children and are over the age of 25. • Abortions are illegal, except in cases of rape and maternal health risks. • An estimated one million clandestine abortions are performed every year. • More than 200 000 women each year are hospitalized from clandestine abortions.

Sempreviva Organização Feminista (SOF)

GLOSSÁRIO

The World March of Women is an action of the international movement against poverty and sexist violence.

ST. LOUIS, Regis. Brazil. Hong Kong: Lonely Planet, 2008. p. 59.

3. Com relação às mulheres no Brasil, há mais aspectos positivos ou negativos no texto? Por que

você acha que isso acontece?

4. O texto menciona a expressão domestic advances. Discuta com um colega ou em grupos qual é o

possível significado da expressão. Após chegarem a uma conclusão, anote alguns exemplos recentes noticiados na TV, internet ou rádio que se relacionem com a sua resposta. PARA REFLETIR II

Continue sua leitura crítica e reflita sobre as opiniões e recomendações que são dadas aos que pretendem visitar o Brasil. Para orientar sua leitura, faça anotações que apresentem a sua opinião sobre as informações apresentadas, considerando os seguintes pontos: • realidade sobre o contexto brasileiro; • mitos construídos que não se aplicam mais à nossa realidade.

O PRESENT PERFECT Esse tempo verbal é um tipo de mistura entre presente e passado. Veja o exemplo explicado: The number of higher education students in Brazil has doubled in ten years.

(O número de alunos no ensino superior no Brasil dobrou em dez anos.) A frase expressa um verbo no passado, mas a informação refere-se ao presente: “o número de alunos no ensino superior dobrou em dez anos até agora”. Note que essa é justamente a informação que fica implícita com o uso desse tempo verbal: a escolha por has doubled mostra que a ação dura até agora, no presente (present perfect). Se fosse em dez anos em algum período do passado, a sentença seria feita utilizando-se outra forma verbal, o passado simples, apenas com o ver-

9º ano

123


bo doubled. Em português não se faz essa diferenciação. Ou seja, has doubled tem a ver com o presente e doubled, com o passado. No que diz respeito ao sentido da frase, em português, o verbo “dobrou” é utilizado no passado, mas pode trazer (e traz, nesse caso) informação sobre o presente. O exemplo apresentado anteriormente é o da utilização de um verbo regular. No caso desses verbos, que têm o passado formado pelo sufixo -ed, o particípio passado é igual à forma usada no passado. Mas, no caso de verbos irregulares, muitos têm forma diferente. Veja um exemplo com o verbo irregular spend, que significa “gastar” e tem como passado a forma spent, que é igual ao particípio. Brazil has spent over US$ 670m promoting tourism.

(O Brasil gastou mais de 670 milhões de dólares promovendo o turismo.) Nesse caso, o uso da forma has spent implica que “vem gastando até agora”, “tem gastado”. É importante lembrar que, nesses casos, o verbo have funciona como verbo auxiliar e, na maioria das vezes, não tem tradução. Esse aspecto verbal muitas vezes pode ser traduzido como o passado simples em português. Observe alguns exemplos retirados de textos deste capítulo. Many indigenous foods and beverages have become popular.

(Muitas comidas e bebidas nacionais tornaram-se populares.) Brazil is the only country that has won five World Cups.

(O Brasil é o único país que ganhou cinco Copas do Mundo.) APLICAR CONHECIMENTOS II

1. Observe as sentenças a seguir, releia as explicações e tente extrair dos exemplos como a estrutura

do present perfect é formada:

The growth has been particularly strong in agribusiness. Biofuel has gained more and more attention in the last decades in Brazil. Brazil’s growth in agribusiness has led to the continued destruction of the rain forest.

No present perfect, temos: No presente contínuo, temos: verbo to be + verbo + ing No tempo futuro, temos: will + verbo No tempo condicional ou futuro do pretérito, temos: would + verbo 2. Escreva em inglês, usando o present perfect, sobre algumas de suas ações recentes no passado.

Baseie-se nas dicas a seguir: a) Algo que venha estudando. b) Algo que comprou esta semana (sem dizer quando). c) Onde você trabalha.

124

Língua Inglesa


Capítulo LÍNGUA INGLESA

2

Brazil in figures: information from news agencies

N

este capítulo, você verá informações sobre o Brasil a partir da visão de grandes agências internacionais de notícias. O propósito da leitura será mais a compreensão da informação do que o questionamento dela. Entretanto, apesar de trabalharmos com fontes relativamente confiáveis (agências de notícias), você deve ter em mente que todas as notícias merecem um olhar crítico. Tenha em mente as estratégias de leitura apresentadas nos capítulos anteriores. • Identifique palavras cognatas, que se assemelham às da língua portuguesa. • Tente entender o significado de certas palavras com base no que você

sabe sobre o assunto. • Use os títulos, subtítulos e palavras destacadas no texto para guiar sua leitura e localize palavras-chave. • Use o dicionário se necessário. LER TEXTO JORNALÍSTICO I

Amazon deforestation hits record low Ilustração digital: Sonia Vaz

Deforestation in the Amazon rain forest has dropped to its lowest level in 24 years

N O

L

0

515

1 030 km

S

9º ano

125


Deforestation in Brazil’s Amazon rain forest has dropped to its lowest level in 24 years, the government said on Tuesday. “Satellite imagery showed that 1,798 square miles of the Amazon were deforested between August 2011 and July 2012”, environment minister Izabella Teixeira said, “27% less than the 2,478 sq miles deforested a year earlier.” Brazil’s National Institute for Space Research said the deforestation level is the lowest since it started measuring the destruction of the rain forest in 1988. Sixty-three percent of the rain forest’s 2.4m sq miles are in Brazil. The space institute said that the latest figures show that Brazil is close to its 2020 target of re-

ducing deforestation by 80% from 1990 levels. Up to July 2012, deforestation dropped by 76%. George Pinto, a director of Ibama, Brazil’s environmental protection agency, told reporters that better enforcement of environmental laws and improved surveillance technology are behind the drop in deforestation levels. Pinto said that in the 12-month period a total of 2,000 square metres of illegally felled timber were seized by government agents. The impounded lumber is sold in auctions and the money obtained is invested in environmental preservation programmes. The Guardian. Disponivel em: <www.guardian.co.uk/environment/2012/nov/28/ amazon-deforestation-record-low>.Acesso em: 26 mar. 2013.

1. Observe a figura que acompanha o texto e responda: quantos quilômetros de floresta foram des-

matados em 2006?

2. De acordo com a figura, quais países têm porções da Floresta Amazônica?

3. Houve diminuição no desmatamento? Explique.

4. Agora, vamos ouvir o texto que estudamos com o livro fechado. Enquanto ouve o texto,

anote em seu caderno todos os números que conseguir compreender. Em seguida, procure pensar a quais assuntos do texto os números se referem. Converse com os colegas da sala sobre suas escolhas. CONHECER MAIS

Unidades de medidas Você sabia que em alguns países, como os Estados Unidos, algumas medidas que usamos no Brasil são diferentes? No Brasil, quando medimos distâncias, utilizamos centímetros, metros e quilômetros. Nos Estados Unidos, as

126

Língua Inglesa

distâncias são medidas em milhas, pés e polegadas. Isso também acontece com as medidas de massa. Nós usamos medidas em quilos enquanto eles usam em libras. Veja a tabela de conversão abaixo com alguns exemplos em inglês:


Brazil

USA

1 kilometer = 0.62 mi

1 mile = 1.61 km

1 metro = 3.28 ft

1 foot = 0.3 m

1 centimeter = 0.39 in

1 inch = 2.54 cm

1 kilo = 2.2 lb

1 pound = 0.45 kg

1 square kilometer = 0.39 mi²

1 square mile = 1.52 km²

Portanto, se você percorrer 3 quilômetros no Brasil, nos Estados Unidos você vai percorrer o equivalente a 1,24 milhas (2 x 0,62). Se você tivesse 1,60 m no Brasil, nos Estados Unidos diríamos que você mede 5,3 ft (1,60 x 3,28). Converter as medidas americanas para as brasileiras não tem segredo, veja os exemplos:

70 milhas = 43,4 quilômetros (70 x 0,62) 6,2 pés = 1,86 metros (6,2 x 0,3) 12 quilômetros quadrados = 4,68 milhas quadradas(12 x 0,39)

APLICAR CONHECIMENTOS I

• Complete as sentenças abaixo, transformando as medidas que aprendemos: a) The scientists walked miles within the Amazon forest. (20 km) b) They work

miles away from the city. (47 km)

c) The average height for women in Brazil is

feet. (1,61 m)

MOMENTO DA ESCRITA

A atividade desta seção foi preparada para fazer você aplicar os conhecimentos adquiridos de língua inglesa e geografia, praticando, ao mesmo tempo, a produção de um texto em português. A ideia é levá-lo a uma prática interdisciplinar, isto é, que procura unir diferentes áreas do conhecimento. Escreva um parágrafo que resuma as informações apresentadas no textos e no gráfico da atividade “Ler texto jornalístico I”. Seu texto deve ser articulado de maneira que una as informações e, ao mesmo tempo, exclua ou resuma algumas.

O BRASIL EM NOTÍCIAS A seção a seguir foi preparada a partir de diferentes notícias sobre o Brasil divulgadas por agências de notícias internacionais. Para cada texto há diferentes atividades, visando não apenas promover a interação entre diferentes disciplinas (Língua Inglesa, Língua Portuguesa, Matemática, Ciências Sociais e Política, entre outras), mas também estimular as habilidades de compreensão e produção textual. Os textos de algumas notícias foram apresentados apenas parcialmente. Para ler os textos completos, acesse a fonte indicada no final de cada um deles. 9º ano

127


LER TEXTOS JORNALÍSTICOS II

1. Leia a seguir algumas notícias sobre personalidades brasileiras. Os textos foram reduzidos, de

modo que se apresenta apenas o primeiro parágrafo de cada um. Para isso, foram escolhidos textos cujo primeiro parágrafo, sozinho, fizesse sentido.

Brazilian physicist receives environmental award José Goldemberg, 80, a physics professor at the University of São Paulo (USP), has received the annual Blue Planet Prize from Japan’s Asahi Glass Foundation for “making major

contributions in formulating and implementing many policies associated with improvements in energy use and conservation”. Embassy of Brazil in London. 26 jul. 2008. Disponível em: <www.brazil.org.uk/press/ pressreleases_files/20080626.html>. Acesso em: 5 fev. 2013.

Brazilian architect Oscar Niemeyer dies, aged 104 Oscar Niemeyer, a towering patriarch of modern architecture who shaped the look of contemporary Brazil and whose inventive, curved designs left their mark on cities worldwide, died late on Wednesday. He was 104. President Dilma Rousseff, whose office sits among the landmark buildings Niemeyer de-

signed for the modernist capital city of Brasília, paid tribute by calling him “a revolutionary, the mentor of a new architecture, beautiful, logical, and, as he himself defined it, inventive”. BLOUNT, Jeb. Reuters, 6 dez. 2012. Disponível em: <http://uk.reuters.com/ article/2012/12/06/uk-brazil-niemeyer-idUKBRE8B500G20121206>. Acesso em: 3 fev. 2013.

Sua tarefa será escrever um pequeno texto que apresente comentários sobre as duas celebridades brasileiras citadas nos trechos. Seu texto deve ter um título, um breve parágrafo introdutório (que apresente os dois como personalidades destacadas, mencionando suas respectivas ocupações), um segundo parágrafo mais explicativo (que mostre por que eles são merecedores de reconhecimento) e um último parágrafo que feche o assunto. Veja alguns exemplos a seguir. • Exemplos de possíveis títulos: “Dois brasileiros ilustres” “Dois nomes que mudaram o Brasil” “Alguns brasileiros ilustres” • Exemplo de como iniciar o parágrafo introdutório: “Niemeyer e José Goldemberg são...” “Entre os brasileiros que se destacaram no século XX, temos Niemeyer...” 128

Língua Inglesa


• No parágrafo de explicação sobre eles, baseie-se nas informações contidas nos textos. Nessa

atividade, não se deve resumir, mas incluir todas as informações que estão nos textos, sobre cada uma das personalidades. • Exemplo de um parágrafo para o fechamento: “Esses exemplos mostram que o Brasil é mais do que samba e praia...” “Esses são apenas alguns exemplos do potencial dos brasileiros...” “O Brasil é mais do que...”

Você deverá escolher uma das duas celebridades para receber mais atenção, de acordo com o que pensa ou conhece sobre cada uma. Aliás, este pode ser um momento para você pesquisar um pouco mais sobre elas. 2. Para a leitura do texto a seguir, baseie-se no que você sabe sobre o caso do brasileiro Jean Charles

de Menezes, assassinado em Londres, em 2005. A intenção nesta seção é a prática da leitura com base em estratégias que vão além de simplesmente entender palavras ou fazer uma leitura linear (palavra por palavra e linha por linha). Pretende-se também levantar a discussão sobre esse caso tão polêmico. A polícia londrina é famosa por não portar armas de fogo e utilizá-las apenas em casos extremos. Nesse caso, no entanto, mataram uma pessoa por engano, julgando que fosse um terrorista. Leia o texto e responda às questões.

The Jean Charles de Menezes family campaign On 22nd July 2005, 27 year old Jean Charles de Menezes was shot 7 times in the head by London police officers at Stockwell tube station as part of a pre-planned anti-terrorism operation. No one has been held responsible for his death.

Menezes memorial univeiling stockwell tube station The family of Jean Charles de Menezes will be unveiling a permanent memorial to Jean Charles at Stockwell tube station at 10:00 am Thursday, 7 January 2010. Disponível em: <www.justice4jean.org>. Acesso em: 18 fev. 2013.

a) Faça um mapeamento do texto, com base nos nomes de pessoas, locais e instituições, escritos

com letras iniciais maiúsculas. A que se referem os nomes mencionados no texto? b) Baseando-se no assunto geral do texto, descubra quais são as principais informações dadas. c) Busque uma informação específica: que parte do texto traz a informação sobre o assassinato

de Jean Charles?

OS TEMPOS VERBAIS NO TEXTO Observe agora como os tempos verbais presente, passado e futuro se misturam de maneira natural nos textos. Observe que algumas notícias utilizam de-

9º ano

129


terminado tempo (ou aspecto) verbal na manchete e outro no texto. Veja um exemplo de uma matéria jornalística fictícia em que aparecem essas mudanças de tempos verbais, seguida de explicações, para ajudá-lo a melhor compreender. Lula says strike does not affect PAC Brazil’s President Luiz Inácio Lula da Silva said the national strike of the Brazilian Institute of the Environment and Renewable Natural Resources (Ibama) workers will not affect the Plan to Boost Economic Growth (PAC).

Observe que, na manchete, se utiliza o verbo no presente: says. Entretanto, na segunda linha do texto o mesmo verbo é utilizado no passado (said) e, em seguida, utiliza-se o verbo modal will como indicação de futuro. A proposta aqui é proporcionar a percepção de diferentes tempos verbais da língua inglesa, apresentados em volumes anteriores desta coleção. Lembre-se de que o passado dos verbos regulares da língua inglesa é marcado pelo sufixo -ed. É interessante ter em mãos a lista dos verbos irregulares no passado, já que nem sempre essas formas constam em dicionários. APLICAR CONHECIMENTOS II

Leia os textos sobre Jean Charles e Lula novamente e preencha a tabela a seguir com exemplos de alguns dos tempos verbais encontrados no texto: Presente simples

Passado simples

Futuro

was

LER TEXTOS JORNALÍSTICOS III

Leia a seguir dois textos a respeito de relações internacionais entre Brasil e outros países da América Latina.

Brazil and Venezuela strengthen bilateral and regional integration Lula said the “extraordinary” oil accords with Venezuela will improve national sovereignty, and Chávez said relations with Brazil are at an “optimum level”. (El Universal) The President of Brazil, Luiz Inácio “Lula” da Silva, and Venezuelan President Hugo Chávez met in Caracas last Friday to discuss the progress of bilateral accords re-

130

Língua Inglesa

garding the production and distribution of energy and food, Venezuela’s bid to become a member of the South American free trade bloc Mercosur, educational exchange, border relations, and the nascent South American Defense Council. Venezuela Analysis. 1 jul. 2008. Disponível em: <www.venezuelanalysis.com/ news/3609>. Acesso em: 5 fev. 2013.


President Lula arrives in Cuba Luiz Inácio Lula da Silva, president of the Federative Republic of Brazil, begins a visit to our country today with the purpose of expressing Brazil’s solidarity with the people and government of Cuba in the wake of the damages caused by hurricanes Gustav and Ike. During his visit, he is to sign a contract on participation in hydrocarbons production between Cubapetroleos and the Petrobras affilia-

te Petrobras Middle East B.V., and the Havana office of Brazil’s export and import promotion agency, Apex, is to be inaugurated. President Lula will hold official talks with General of the Army Raúl Castro Ruz, president of the councils of State and Ministers of the Republic of Cuba. Cuba Min Rex. 30 out. 2008. Disponível em: <www.cubaminrex.cu/English/ currentissues/2008/Octubre/Lula.html>. Acesso em: 14 out. 2009.

As atividades propostas a seguir visam promover a conscientização sobre a estrutura e algumas formas verbais da língua inglesa. Trata-se de uma explicação enfocando superficialmente a estrutura dessa língua. A intenção não é simplesmente ensinar a gramática, mas principalmente fazer com que o conhecimento da estrutura e da gramática sejam fatores facilitadores da compreensão de textos escritos. Assim, iniciaremos com uma breve explicação da estrutura verbal da língua. A estrutura básica das frases na língua inglesa é relativamente parecida com a estrutura da língua portuguesa. Segue a ordem sujeito-verbo-objeto. Veja um exemplo:

Você está aprendendo inglês. sujeito

verbo

objeto

Tendo isso em mente, você sabe que, de maneira geral, a estrutura é essa, mesmo quando mais de uma frase se sobrepõe a outra. 1. Escolha o texto apresentado que lhe pareça mais interessante. Faça sua escolha baseando-se nas

manchetes que indicam os assuntos tratados. Algumas palavras são parecidas com o português, portanto serão de fácil compreensão. Lembre-se de que você não precisa conhecer todas as palavras − algumas podem ser deduzidas. Se essa estratégia não levar à compreensão da manchete, você pode, ainda, usar o dicionário. Entretanto, procurar palavras em dicionários também requer certa técnica: algumas podem não ser encontradas e outras podem estar escritas de maneira ligeiramente diferente, sem prefixos ou sufixos. Observe as manchetes das notícias e antecipe o assunto tratado. Naturalmente, alguns assuntos devem ser mais conhecidos que outros, de acordo com a experiência de vida de cada um. 2. Releia cada um dos textos aplicando as estratégias de leitura para compreendê-los. Siga esses passos e veja quanto consegue entender. Observe o formato geral de cada texto − título, subtítulo e fotos − e registre o assunto que você acha que ele aborda. 9º ano

131


Faça uma lista de palavras que você não conhece, mas cujo significado você pode adivinhar (deduzir) sem consultar o dicionário. Faça uma lista de palavras que você precisa ou deseja procurar no dicionário. 3. Leia novamente o texto de sua escolha e procure entendê-lo mais detalhadamente. Não se pede aqui que você escreva a tradução do texto, mas que o compreenda. 4. Ainda trabalhando com o texto que você escolheu, separe as sentenças e observe o verbo utiliza-

do em cada uma. Veja que tempo verbal foi empregado (presente ou passado) e se os verbos são regulares ou irregulares, no caso de verbos utilizados no passado.

O SUFIXO -TION Agora que já conhecemos um pouco mais sobre a estrutura das frases em inglês, vamos aprofundar nosso conhecimento sobre algumas características linguísticas típicas de textos jornalísticos. Os textos jornalísticos costumam trazer um grande número de substantivos que utilização o sufixo -tion. Para isso, transforma-se um verbo ou substantivo em um substantivo com maior abrangência usando a terminação -tion. Nos textos deste capítulo há alguns exemplos desse recurso. Venezuelan President Hugo Chávez met in Caracas last Friday to discuss the progress of bilateral accords regarding the production and distribution of energy and food […] (Product – production / To distribute – distribution).

Releia os textos e encontre outras palavras desse tipo, colocando-as na tabela a seguir. Depois, descubra qual a sua origem:

132

Derivado com -tion

Radical

distribution

distribute

Língua Inglesa


Um outro fator de grande relevância na compreensão de textos é conhecer um pouco sobre a conotação das palavras. Algumas palavras, tanto do português como do inglês, têm uma carga positiva, neutra ou negativa. O verbo to cause (causar) tem carga negativa, pois, se observarmos os assuntos e vocabulário ao seu redor, poderemos notar que se referem a coisas ruins. This hit caused a concussion.

(Essa batida causou uma concussão.) What causes the common cold?

(O que causa o resfriado comum?) Air pollution so bad it caused a 40 car pileup.

(Poluição do ar tão ruim que causou um engavetamento de 40 carros.) Malaria is caused by the Plasmodium parasite.

(A malária é causada pelo parasita Plasmodium.)

APLICAR CONHECIMENTOS III

1. Encontre nos textos lidos neste capítulo uma frase com o verbo to cause. Escreva-a e destaque as

palavras de conotação negativa que se referem a esse verbo. 2. Em duplas, façam uma pesquisa com o verbo to improve. Anotem alguns exemplos, conversem

sobre eles e expliquem se esse verbo tem carga positiva ou negativa. Expliquem como chegaram a essa conclusão. PARA AMPLIAR SEUS ESTUDOS

Site

Convertword

Para ver outras medidas e aprender a converter os valores, você pode utilizar esse site. Disponível em: <www.convertworld.com/pt/>. Acesso em: 5 fev. 2013.

9º ano

133


Capítulo

3

LÍNGUA E S PA N H O L A

¿Cuándo iremos a Cuba? Tupungato/Dreamstime.com

La Habana, capital de Cuba, 2011.

Y

a hablamos de planes e intenciones. Ahora vamos a tratar del futuro, de lo que esperamos para nosotros y para el mundo. Hablaremos sobre cómo imaginamos que será el mundo dentro de unos treinta años, por ejemplo. El país elegido para nortear este capítulo es Cuba, un país lleno de historia, pero, como todos los demás, con muchas esperanzas en el futuro. Y, encima, es un país de mucho interés turístico, de ahí la pregunta que da nombre al capítulo: ¿Cuándo iremos a Cuba? ¡A HABLAR!

¿Te gustaría pasar unas vacaciones en el Caribe? ¿Qué te parecería elegir esta isla caribeña para empezar el paseo? ¿Qué referencias tienes sobre Cuba? ¿Piensas que la población cubana tiene alguna semejanza con nosotros, brasileños? ¿En qué aspectos crees que nos parecemos? 134

Língua Espanhola


Este capítulo será iniciado con la introducción que el poeta cubano José Martí hace en el libro Ismaelillo, con poemas dedicados a su hijo. Y no faltará poesía en esta unidad, pues Cuba nos brindó con grandes poetas y ellos estarán por aquí. LEER TEXTO LITERARIO

Hijo, Espantado de todo, me refugio en ti. Tengo fe en el mejoramiento humano, en la vida futura, en la utilidad de la virtud y en ti. Si alguien te dice que estas páginas se parecen a otras páginas, diles que te amo demasiado para profanarte así. Tal como aquí te pinto, tal te han visto mis ojos. Con esos arreos de gala te me has aparecido. Cuando he cesado de GLOSARIO Riachuelos: riachos. verte en una forma, he cesado de pintarte. Esos riachuelos han pasado por mi corazón. ¡Lleguen al tuyo! MARTÍ, José. Ismaelillo: versos libres, versos sencillos. Madrid: Catedra, 2001. p. 65.

1. Por la manera como abre esta introducción al libro, ¿qué estado de ánimo presenta el autor? 2. Discute con tus colegas y anota lo que has comprendido del texto de José Martí.

CONJUGACIÓN DE VERBOS Observa el siguiente fragmento de un poema de José Martí: Bosque de rosas GLOSARIO

Borraré: apagarei. Cuitas: aflições, anseios, desejos. Despacio: devagar. Oveja: ovelha. Roto: quebrado. Soledad: solidão.

Allí despacio te diré mis cuitas ¡Allí en tu boca escribiré mis versos! ¡Ven, que la soledad será tu escudo! Ven, blanca oveja, Pero, si acaso lloras, en tus manos Esconderé mi rostro, y con mis lágrimas Borraré los extraños versos míos, ¿Sufrir tú, a quien yo amo, y ser yo el casco Brutal, y tú, mi amada, el lirio roto? No, mi tímida oveja, yo odio el lobo, Ven, que la soledad será tu escudo.

¿Notaste que las palabras en negrita son verbos conjugados en el futuro? Observa el cuadro a continuación y verifica cómo se conjuga este tiempo verbal en español.

EL FUTURO SIMPLE DE INDICATIVO – VERBOS REGULARES E IRREGULARES En Futuro de Indicativo hay una única terminación para los verbos: é – ás – á – emos – éis – án. Se usa esta misma terminación en todas las conjugaciones, tanto para verbos regulares como para irregulares. Cuando se trata de un verbo regular, basta con usarlo en infinitivo y añadirle la terminación:

9º ano

135


Futuro Simple de Indicativo Cantar

Comer

Subir

Yo

cantaré

comeré

subiré

cantarás

comerás

subirás

Él/ella/usted

cantará

comerá

subirá

Nosotros(as)

cantaremos

comeremos

subiremos

Vosotros(as)

cantaréis

comeréis

subiréis

Ellos/ellas/ustedes

cantarán

comerán

subirán

Hay tres irregularidades en Futuro de Indicativo: -br / -dr / -rr. Los siguientes verbos sufren alteraciones en la raíz, pero usamos la misma terminación de los verbos regulares para conjugarlos. -BR → haber = habr / saber = sabr / caber = cabr -DR → tener = tendr / venir = vendr / poner = pondr / salir = saldr / valer = valdr / poder = podr -RR → querer = querr Siguen las mismas irregularidades Ejemplo: los derivados de los verbos, como: Mañana no podremos salir de casa porque habrá una reforma en el piso de arriba y los técnicos tendrán que ver cómo está el nuestro.

intervenir = intervendr / mantener = mantendr / componer = compondr / reponer = repondr.

APLICAR CONOCIMIENTOS I

1. Completa con el Futuro de Indicativo el correo electrónico que le ha enviado el agente de turismo

a Doña Margarita, un ama de casa que quiere conocer la capital de Cuba: Nuevo e-mail

×

Para Asunto

Estimada Doña Margarita, Usted

(viajar) a un país encantador.

mejores vacaciones. ¡Seguro! En La Habana usted

(encontrar) a una

gente muy alegre y acogedora. Los guías turísticos la

(llevar) a los mejo-

res lugares y usted Yo

(probar) de lo mejor de la cocina cubana. (cuidar) personalmente para que todo salga bien durante

su estancia en La Habana. Usted no

136

(ser) sus

Língua Espanhola

(preocuparse) con nada.


Yo

(reservar) los pasajes y el hotel. También

(con-

tratar) a los mejores guías para mostrarle esta preciosa ciudad. Mañana le

(enviar) todos los documentos para su viaje y la (encontrar) en el aeropuerto.

Hasta mañana, entonces. Atentamente, Javier Turismo Caribeño S.A. Enviar 2. Ordena las frases a continuación, conjugando los verbos destacados, en Futuro Simple de Indica-

tivo, de acuerdo con el sujeto indicado: a) estudiar / con más concentración / nosotros / en un lugar más silencioso. b) comprar / una nueva casa / mis vecinos / después de la primavera c) visitar / Cuba / el próximo verano / mis amigos y yo d) encantarse / estoy seguro de que / los paisajes caribeños / yo e) salir / el vuelo para La Habana / con retraso / avisaron f) venir / tus amigos cubanos / a visitarte / cuándo / (¿?) g) haber / la compañía de viajes / anunció que / descuentos / en hospedajes para familias h) saber / nosotros / sólo / el día del viaje / cuando lleguen los billetes i) poner / ellos / dónde / nuestros equipajes (¿?) j) poder / tú / comprar / cuándo / tu pasaje (¿?)

9º ano

137


Juvenal Pereira/Pulsar Imagens

ACTIVIDAD CON AUDIO

Área de facturación de equipajes en el Aeropuerto Internacional de São Paulo, Guarulhos (SP), 2012.

1. Escucha los diálogos e identifica en qué lugar del aeropuerto están esas personas:

(

) recogida de equipajes

(

) escaleras mecánicas

(

) aduana

(

) inmigración

(

) ascensor

(

) facturación de equipajes

(

) duty free

(

) puerta de embarque

(

) servicios

2. Cuando estamos de viaje hay que conocer un vocabulario específico. Escucha los diálogos y luego

relaciona las columnas según lo que hay en cada lugar o medio de transporte mencionado. Puede ser que haya más de una respuesta para cada ítem. ¡Ojo! Ni todos los elementos están mencionados en los diálogos, por eso, es importante que investigues en diccionarios y también en internet. ( ) ticket (1) hotel

138

(2) avión

(

) reserva

(3) autobús

(

) habitación

(4) tren

(

) cabina

(5) estación de trenes

(

) llaves

(6) estación de autobuses

(

) desayuno

(7) aeropuerto

(

) andén

(

) individual/doble

(

) taquilla

Língua Espanhola


CURIOSIDADES DE LA LENGUA FALSOS AMIGOS

Ilustració digital: Estúdio Pingado

Hay mucha gente por ahí intentando adivinar el futuro. ¿Crees que sería posible hacerlo? ¿Y si se cae en manos de falsos videntes que no conocen el español y menos aún los falsos amigos? Vamos a ver el significado de algunos para que no nos pase algo así. Observa la ilustración que sigue.

El pobre chico está asustado así porque no sabía que lo que decía la previsión era que él estaría por un buen tiempo en un lugar asustador y no con un ratón gordo en una finca vieja. INVESTIGAR

1. Con la ayuda de un diccionario, marca las palabras que corresponden a la traducción de los si-

guientes falsos amigos y luego verifica cómo se encajan en el contexto de las frases a continuación que vas a traducir: a) todavía

(

) ainda

(

) todavia

(

) no entanto

(

) acontecimentos

(

) êxitos

(

) capacidade

(

) concorrência

(

) concluído

(

) cedo, logo

b) sucesos

(

) sucessos

c) competencia

(

) habilidade

d) pronto

(

) pronto

9º ano

139


2. Observa las previsiones del Míster Todoloadivina y luego intenta explicarle a otro espantado chi-

co que lo consulta lo que el mago realmente quería decir, traduciendo sus frases con atención especial a las palabras destacadas: – Hijo mío, tu futuro te reserva muchas sorpresas. Vamos a ver... Estás soltero todavía, pero no desesperes. Encontrarás tu media naranja. – Los sucesos de tu vida te llevarán a una vida muy agitada y lejos de tu familia. – La competencia perjudicará tus planes de ampliación de la empresa, pero pronto resolverás todo.

LEER POEMA

Lluvia sobre tejados GLOSRIO

Alborotados: alvoroçados. Antaño: em um tempo antigo. Azoro: preocupação, inquietação. Huecos: vazios. Temblor: tremor.

Quien pudiera escribir sobre estos tejados musicales y casi dormidos por eso mismo quizás envueltos en la lluvia y por eso mismo quizás cayendo en el corazón ajustado de alguien sin que nadie se esté dando cuenta. Algunos tejados están cantando en su temblor, están mojándose por una lluvia que nadie ha anunciado, que nadie puede reconocer sino las gotas más pequeñas, las gotas que ruedan hacia el asfalto bordado de piedrecillas y huecos grandes como espacios abiertos ante las balas de un ejército de ocupación asesina. Estos animosos tejados grises en su esplendor urbano, alborotados en la pupila de alguien que los contempla con el azoro de antaño, cuando los negros curros campeaban bajo la luz de estos tejados buscando los colores de su pasado y el canto ciego de sus gargantas... MOREJÓN, Nancy. Disponible en: <www.poeticous.com/nancy-morejon/ lluvia-sobre-tejados?al=t&locale=en>. Acceso el: 25 mar. 2013.

1. ¿Cómo entiendes el poema que acabas de leer? 2. ¿Qué relación tiene la música mencionada con el tejado? ¿Por qué la autora los llama tejados

musicales? 3. ¿Y los demás adjetivos atribuidos a los tejados? ¿Cómo los interpretas? ¿A qué se refiere

la autora? 140

Língua Espanhola


LOS DEMOSTRATIVOS Nancy Morejón es una poeta cubana cuya obra merece la pena conocer. En el poema que acabas de leer, hay algunas palabras destacadas. ¿Sabes clasificarlas? ¿Conoces los demostrativos? Los demostrativos pueden ser:

ADJETIVOS POSESIVOS Cuando aparecen delante del sustantivo concordando con él en género y número. Esta casa es muy bien iluminada.

PRONOMBRES POSESIVOS Nunca acompañan un sustantivo, van en su lugar. Y éstos son los billetes de avión de su viaje a La Habana.

Los demostrativos en español son los siguientes: Pronombres demostrativos singular

plural

masculino

este ese aquel

estos esos aquellos

femenino

esta esa aquella

estas esas aquellas

Cuando funcionan como pronombres, hay también los demostrativos neutros que se refieren a una idea, a algo que se acaba de decir, y como son neutros, no varían ni de género ni de número: Todo eso que acabas de contarme es verdaderamente increíble.

Son demostrativos neutros: neutros esto (“isto”) eso/ello (“isso”) aquello (“aquilo”)

9º ano

141


APLICAR CONOCIMIENTOS II

La gran diferencia entre los demostrativos en portugués y español está en la formación del plural. Pasa las siguientes frases al plural, con especial atención al uso de los pronombres demostrativos: a) Este viaje que haré a Cuba va a ser un gran viaje para recordar. b) ¿Cuánto vale ese puro, por favor? c) Y esta es la principal atracción turística de La Habana. d) En aquella calle ustedes encontrarán bellos puntos de interés turístico. e) ¿De quién es esa canción que estás escuchando? f) Esta es de Pablo Milanés, pero aquella de ayer era de Silvio Rodríguez. g) Ya viajé muchas veces a Cuba. Recuerdo aquel tiempo con nostalgia. LEER TEXTO INFORMATIVO

Ya te preguntamos si hay algo de parecido entre Cuba y Brasil. ¿Y en la gastronomía? ¿Crees que hay semejanzas también? Lee el siguiente texto y luego haz una comparación con tus compañeros.

MARKA/Alamy/Other Images

Cocina cubana Reservada la comida típica cubana resulta sorprendente por la variedad de sus platos. Se comienza tomando cervezas heladas acompañadas con chicharrones de puerco. Las mujeres se encargan de preparar los frijoles negros dormidos, la yuca con mojo, frituras de malanga o maíz, arroz blanco abundante, plátanos chatinos, ensalada de tomates adornada con lechugas. Los hombres, casi todos agrupados en el patio, van asando en púa una pierna de puerco, o un puerco entero que se cubre con hojas de guayaba y cada cierto tiempo se empapa con zumo de naranja agria. Este asado puede durar horas en terminar, pero mientras, se sigue conversando y tomando GLOSARIO Buñuelos de yuca en almíbar de anís: bolinhos cervezas. Todo se sirve en fuentes, menos de mandioca com calda de anis. el puerco que se coloca en una bandeja y al Chicharrones: torresmos. centro de la mesa. Al cubano le gusta comerlo Fuentes: travessas. todo junto, casi siempre en el mismo plato. Malanga: tipo de inhame. Los chicharrones forman parte de la culinaria cubana. Mermelada: geleia, doce. El postre típico es la mermelada de guayaba Pero mientras: mas, enquanto isso. con lascas de queso amarillo, o los buñuelos Plátanos chatinos: bananas verdes amassadas de yuca en almíbar con anís. La sobremesa se hace bebiendo ron e fritas. y, después de haber comido hasta la saciedad, se empieza a bailar Postre: sobremesa. hasta el amanecer. Púa: tipo de espeto. Disponible en: <www.cultura-cubana.com/spanish/cocina.asp>. Acceso el: 30 ene. 2013. (Texto adaptado.)

142

Língua Espanhola

Yuca con mojo: mandioca com molho.


1. ¿Qué hay de parecido en la cocina cubana y la brasileña? ¿Qué ingredientes son muy usados en

ambas? ¿Cuál de ellos pertenece también a tu región?

2. ¿Y el postre típico que se menciona? ¿Dónde, en Brasil, se come algo parecido? ¿Cómo se lla-

ma por aquí?

3. En el texto se habla de postre y de sobremesa. ¿Cuál es la diferencia?

CONJUGACIÓN DE VERBOS En la oficina: – Gabriel, ¿contratarías a este contador si fueras el jefe? – No sé, creo que antes verificaría algunos currículos más y sólo entonces elegiría este o aquel candidato. – Pienso que yo haría igual.

En este diálogo los dos chicos están comentando sobre lo que harían si estuviesen en otra posición. Para ello están usando un tiempo verbal llamado Condicional Simple de Indicativo. Si observas el cuadro a continuación, verás que su forma de conjugación e irregularidades son iguales a las del Futuro Simple de Indicativo, que acabas de aprender en este capítulo.

EL CONDICIONAL SIMPLE DE INDICATIVO – VERBOS REGULARES E IRREGULARES En Condicional Simple de Indicativo también hay una única terminación para los verbos: ía – ías – ía – íamos – íais – ían. Se usa esta misma terminación en todas las conjugaciones, tanto para verbos regulares como para irregulares. El Condicional Simple se usa para indicar: • cortesía: ¿Te gustaría ver una película conmigo? • consejo: Yo que tú, trataría de estudiar un poco más este tema. • probabilidad: Serían unas diez de la noche cuando llegaron. 9º ano

143


Cuando se trata de un verbo regular, basta con usarlo en infinitivo y añadirle la terminación. Condicional Simple de Indicativo Cantar

Comer

Subir

Yo

cantaría

comería

subiría

cantarías

comerías

subirías

Él/ella/usted

cantaría

comería

subiría

Nosotros(as)

cantaríamos

comeríamos

subiríamos

Vosotros(as)

cantaríais

comeríais

subiríais

Ellos/ellas/ustedes

cantarían

comerían

subirían

Hay tres irregularidades en Condicional Simple también, y son las mismas del futuro: -br / -dr / -rr. Ejemplo: Si tuviésemos dinero suficiente podríamos comprar unos billetes de avión y hacer un viaje a Cuba, donde tendríamos deliciosos días de descanso y diversión en el Caribe. Pero no lo tenemos, entonces, a trabajar. APLICAR CONOCIMIENTOS III

1. Antonio tiene algunos problemas y está preocupado. ¿Por qué no

Tengo mucha hambre, soy capaz de comer cualquier cosa. (buscar comer cosas poco pesadas) Yo que tú buscaría comer cosas poco pesadas. a) Tengo un dolor de cabeza que me está matando. (tomar una aspirina) b) Ya tengo los billetes para el viaje, pero todavía no conseguí cambiar el dinero. (pedir ayuda al

agente de viajes)

144

Língua Espanhola

Ilustración digital: Estúdio Pingado

lo ayudas con algunos consejos? Puedes comenzar tus consejos con “Yo que tú... ” / “Yo en tu lugar…”. Observa el ejemplo:


c) No sé con quién dejaré mi perro durante el viaje. (preguntarle al portero si lo puede cuidar) d) No sé cómo sobrevivirán mis pobres plantas tanto tiempo sin agua. (dejarlas con un amigo

durante el tiempo del viaje)

e) No me gustan las despedidas y sé que mi sobrino llorará mucho con mi salida. (salir cuando

él estuviese durmiendo)

2. Ahora, vamos a usar el condicional para expresar probabilidad. a) – ¿Cuántos años tenía tu madre cuando se casó?

(tener) unos 25 ya.

– No estoy seguro, pero b) – ¿Qué hora era cuando sucedió el crimen?

– Nadie lo sabe, pero c) – ¿Qué

– Pues, yo d) – ¿Crees que tu hermano se

(ser) unas dos de la madrugada o más. (decir-tú) si te invitasen a un viaje al Caribe? (decir) que sí, inmediatamente. (preocupar) si supiese que estabas

en peligro? – Estoy segura de que

(salir) corriendo y

(venir) a ayudarme. MOMENTO DE LA ESCRITURA

1. Si investigas sobre los rituales y santerías de Cuba, verás que los cubanos se parecen a los brasi-

leños también en cuanto al misticismo y al sincretismo religioso. Aquí, vamos a explorar este lado curioso brasileño hacia las previsiones. Haz de cuenta que eres un(a) poderoso(a) vidente y elabora una lista con previsiones. Puedes elegir entre los siguientes temas, pero recuerda que debes usar verbos en Futuro de Indicativo y también los demostrativos, que son los temas gramaticales del capítulo. Temas: • La vida amorosa de tu compañero(a) de clase u otro personaje cualquiera. • El futuro financiero de la empresa donde trabajas. • La vida financiera y amorosa de una personalidad conocida. • El futuro de tu ciudad. • El futuro del planeta Tierra. 9º ano

145


2. Te vamos a proponer tres situaciones para las cuales deberá crear minidiálogos en los que apa-

rezcan los usos del Condicional Simple. Sigue las indicaciones:

Situación 1 – cortesía: Estás en una tienda de souvenires en La Habana y quieres comprar regalos para tus amigos. Necesitas ayuda y sugerencias. Situación 2 – consejo: Estás en el aeropuerto de La Habana y a tu lado está una señora cuyas maletas desaparecieron. Aconséjala a estar tranquila, pedir información y hablar con la central de equipajes del aeropuerto. Situación 3 – probabilidad: Sigues en el aeropuerto de La Habana y la misma señora te está llenando de preguntas y dudas sobre el horario de los vuelos que van a llegar, dónde estaría su maleta cuando salió de Brasil, y otras preguntas más. Lo que hemos aprendido Vamos a reflexionar sobre el futuro de los conocimientos adquiridos por ti hasta ahora sobre la lengua española. Marca la alternativa que corresponda a lo que piensas que pasará en el futuro.

1. Podré hablar con amigos y conocidos sobre países hispanoamericanos en lo que corresponde a su cultura y costumbres: (

) sí

(

) no

(

) no estoy seguro

(

) sólo un poco

2. Seré capaz de leer textos en español y comprenderlos con más facilidad: (

) sí

(

) no

(

) no estoy seguro

(

) sólo un poco

3. Responderé con tranquilidad a cuestiones sobre los temas gramaticales estudiados: (

) sí

(

) no

(

) no estoy seguro

(

) sólo algumas

4. Sabré pedir comidas, comprar ropas, preguntar precios, entender y hablar por lo menos lo mínimo necesario en variadas situaciones como las de comercio y restaurantes, entre otras: (

) sí

(

) no

(

) no estoy seguro

(

) sólo algumas

PARA AMPLIAR TUS ESTUDIOS Buena vista social club Sitios web

El Buena Vista Social Club es un legendário grupo musical cubano que vale la pena conocer. Visita su página, conoce su historia y escucha sus músicas. Disponible en: <www.buenavistasocialclub.com>. Acceso el: 30 ene. 2013.

Música

Música cubana Disponible en: <www.musicacubana.com.br>. Acceso el: 30 ene. 2013.

Radio cadena habana Disponible en: <www.cadenahabana.cu>. Acceso el: 30 ene. 2013.

Radio cuba Disponible en: <www.digiradio.ch/radiocuba>. Acceso el: 30 ene. 2013.

Tune in

Si lo que quieres es escuchar la música cubana de ayer y de ahora, puedes entrar en esta página. Disponible en: <http://tunein.com/radio/Musica-Cubana-s158964/>. Acceso el: 30 ene. 2013.

146

Língua Espanhola


Capítulo

4

LÍNGUA E S PA N H O L A

¿Dónde estabas cuando te busqué? Eg004713/Dreamstime.com

Ruinas de Machu Picchu, Perú, 2010.

P

ara hablar del pasado en español, hay varias formas. En este capítulo estudiaremos tres de ellas y las usaremos para conocer también un poco sobre otro país cercano a nosotros y que tanta historia tiene: el Perú.

¡A HABLAR!

¿Conoces el Perú? ¿Ya has estado alguna vez allí? ¿Algún conocido tuyo ya ha viajado por este país y te trajo o contó algo interesante? Como en capítulos anteriores, este también va a empezar con un poema. El poema se llama “Masa”, de César Vallejo, poeta peruano, que nació en 1892, en Santiago de Chuco, y se murió en 1938, en París, y cuya historia vamos a conocer a lo largo del capítulo. 9º ano

147


LEER POEMA

Masa Al fin de la batalla, y muerto el combatiente, vino hacia él un hombre y le dijo: “¡No mueras, te amo tanto!” Pero el cadáver ¡ay! siguió muriendo. Se le acercaron dos y repitiéronle: “¡No nos dejes! ¡Valor! ¡Vuelve a la vida!” Pero el cadáver ¡ay! siguió muriendo. Acudieron a él veinte, cien, mil, quinientos mil, clamando “¡Tanto amor y no poder nada contra la muerte!” Pero el cadáver ¡ay! siguió muriendo. Le rodearon millones de individuos, con un ruego común: “¡Quédate hermano!” Pero el cadáver ¡ay! siguió muriendo.

GLOSARIO

Acudieron: recorreram. Echóse a andar: começou a andar. Hacia: em direção a.

Entonces todos los hombres de la tierra le rodearon; les vio el cadáver triste, emocionado; incorporóse lentamente, abrazó al primer hombre; echóse a andar...

Incorporóse: levantou-se; soergueu-se. Quédate: fique; permaneça. Ruego: pedido; súplica.

VALLEJO, César. Disponible en: <www.poemas-del-alma.com/masa.htm>. Acceso el: 25 mar. 2013.

1. ¿Cuándo suceden las acciones mencionadas en el poema? 2. ¿Cómo lo interpretas? ¿Pasó algo? ACTIVIDAD CON AUDIO

1. Escucha el siguiente diálogo en el que Mauro habla con Laís sobre su más reciente viaje y complé-

talo con los verbos que son dichos. – Sí, ¿dígame? – ¿Laís? Soy Mauro, ¿qué tal? ?

– Mauro, ¿cuándo

esta mañana y todavía no

con nadie.

el viaje?

– Chico, cuéntame, ¿cómo

– Ah, no te imaginas. Perú es un país fantástico, por mí me quedaría allí muchos días más. – ¿Qué lugares

a Cuzco, Machu Picchu y la última semana la

– – ¿Y cómo 148

?

Língua Espanhola

el tiempo?

en Lima.


– Casi todos los días

por la tarde y

un calor tre-

mucho y el tiempo

mendo, pero una noche

un poco.

algo típico?

– Y, ¿qué más cuentas? ¿

una botella de pisco sour, la bebida típica

– Sí, muchas exquisiteces y te de aquel país.

– ¿En serio? Entonces, tenemos que encontrarnos para que me cuentes todo y también quiero ver fotos.

muchas, ¿no?

– Sí, un montón, ¡por supuesto! 2. En el diálogo anterior hay tres formas verbales en el pasado. Separa en las listas a continuación los

verbos que, para ti, pertenecen al mismo grupo.

LOS PASADOS EN ESPAÑOL

Ilustración digital: Estúdio Pingado

En el texto inicial y también en el ejercicio de audio aparecieron situaciones pasadas y para contarlas usamos más de una forma verbal. ¿Te has dado cuenta? Lee otra vez el poema de César Vallejo. ¿Consigues identificar en él los verbos que fueron conjugados en el pasado? ¿Crees que el pasado en español es semejante al portugués? ¿Sabes si hay alguna diferencia? Observa los siguientes diálogos: – ¿Sí? – Hola, soy Ana ¿está Beatriz? – No, salió hace unos minutos con su madre. – ¿Sabes adónde fueron? – Sí, salieron a comprar un regalo a su tía. – Es que ella estaba ansiosa por una noticia… La llamo más tarde, entonces.

9º ano

149


Ilustración digital: Estúdio Pingado

– Beatriz, esta tarde ha llamado Ana. – ¿Y qué quería? – No sé, sólo dijo que tú estabas ansiosa por una noticia. – ¿Será que ya han divulgado los resultados de los exámenes? Voy a llamarla ahora mismo.

¿Te has dado cuenta de que en los diálogos hay tres formas verbales destacadas? ¿Que hay dos formas que se parecen al portugués y una que no usamos? Pues, son los tres pretéritos de indicativo: el Perfecto Compuesto, el Indefinido, y el Imperfecto. Vamos a estudiarlos paso a paso.

CONJUGACIÓN DE VERBOS EL PRETÉRITO PERFECTO COMPUESTO Este tiempo verbal no lo tenemos en portugués, pero en español se usa para hablar de algo que sucedió en un pasado reciente, o sea, expresa acciones iniciadas en el pasado, pero que tienen alguna relación con el presente. Lo primero que tienes que saber es que se forma así:

verbo HABER (conjugado en Presente de Indicativo) + PARTICIPIO del verbo principal

150

Língua Espanhola


Pretério Perfecto Compuesto Haber (Presente de Indicativo) + Participio Yo

he

has

Él/ella/usted

ha cantado, comido, vivido, dicho

Nosotros(as)

hemos

Vosotros(as)

habéis

Ellos/ellas/ustedes

han

La traducción del Pretéri to Perfecto Compuesto se hace en portugués con el Pretérito Perfeito Simples. Ejemplo: Esta mañana he encontrado al agente de turismo y me ha dicho que ya ha comprado los pasajes. (Esta manhã eu encontrei o agente de turismo e ele me disse que já comprou as passagens.) Uso del Pretérito Perfecto Compuesto El uso de este pretérito en español se limita por el uso de marcadores temporales. Sólo podemos usarlo si por la marcación temporal se nota que el hablante está dentro de una unidad temporal que indica que la acción iniciada en el pasado tiene relación con el presente. Algu-

nos de los marcadores temporales que permiten el uso del Pretérito Perfecto Compuesto son: • Hoy, últimamente, esta mañana / tarde / semana • Este mes / año • Ya / jamás / nunca / todavía / aún / alguna vez

EL PARTICIPIO Como vimos, para formar este pretérito necesitamos el participio, por tanto, es importante saber cómo se forma. El participio de los verbos regulares se forma como en portugués: • Verbos de 1a conjugación (-ar) tienen el participio -ado: cantar = cantado • Verbos de 2a y de 3a conjugaciones (-er, -ir), tienen el participio -ido: comer = comido / subir = subido Los verbos irregulares pueden tener la forma -cho o -to: hacer = hecho / decir = dicho / escribir = escrito / volver = vuelto Los verbos terminados por -olver tienen su participio formado por -uelto: volver = vuelto / disolver = disuelto / desenvolver = desenvuelto 9º ano

151


APLICAR CONOCIMIENTOS I

1. Escribe en el crucigrama el infinitivo correspondiente a los siguientes participios: a) hecho

e) abierto

i) vuelto

b) dicho

f) descubierto

j) devuelto

c) muerto

g) visto

k) resuelto

d) roto

h) puesto e) c) a) d)

f)

g)

b) h) j)

k)

i)

2. Traduce al portugués las siguientes frases que están en el Pretérito Perfecto Compuesto, con mu-

cha atención al sujeto de la frase, que será indicado por el verbo auxiliar haber. a) Ya te he oído, no grites, el aeropuerto está vacío.

b) ¿Has ido alguna vez a Lima? c) ¿Cuántas veces te han pedido el número del pasaporte?

152

Língua Espanhola


d) Hemos terminado de hacer las maletas y el taxi todavía no ha llegado. e) Nunca he llevado tantas maletas en un viaje.

3. Elige la opción que completa adecuadamente las frases a continuación, teniendo en cuenta el

sujeto de cada una de ellas. a) Ya

(he – han – has) llamado tres veces nuestro vuelo. ¡Vamos!

b) Jamás

(ha – hemos – han) oído hablar de los Incas. ¡Qué absurdo!

¿Cómo puede ser tan desinformado? c) ¿

(he – habéis – has) estado alguna vez en Cuzco? Es que tienes unos

objetos típicos de allí. (han – has – hemos) traído muchos regalos de nuestro viaje a Lima,

d)

pero no

(hemos – han – has) encontrado la artesanía que querías.

CONJUGACIÓN DE VERBOS Cuando vivía en Cuzco, Gabriel solía dedicar los fines de semana a visitar a sus amigos y su familia. En Lima, siquiera tiene tiempo para llamarles por teléfono.

En este pequeño texto se presentan dos situaciones de la vida de Gabriel. Indica: a) Algo que sucedía antes. b) Cómo es ahora.

EL PRETÉRITO IMPERFECTO DE INDICATIVO Cuando queremos contar cosas que sucedían en un tiempo pasado, con cierta frecuencia, usamos el Pretérito Imperfecto, que es muy parecido con el portugués y es el que aparece en el texto cuando se cuenta lo que pasaba antes. Observa cómo se conjugan los verbos regulares. Verbos regulares Cantar

Comer

Subir

Yo

cantaba

comía

subía

cantabas

comías

subías

Él/ella/usted

cantaba

comía

subía

Nosotros(as)

cantábamos

comíamos

subíamos

Vosotros(as)

cantabais

comíais

subíais

Ellos/ellas/ustedes

cantaban

comían

subían

9º ano

153


Y ahora, los irregulares, que son sólo tres, y también bastante parecidos con el portugués. Verbos irregulares Ser

Ir

Ver

Yo

era

iba

veía

eras

ibas

veías

Él/ella/usted

era

iba

veía

Nosotros(as)

éramos

íbamos

veíamos

Vosotros(as)

erais

ibais

veíais

Ellos/ellas/ustedes

eran

iban

veían

Hay aquí algunos marcadores temporales de frecuencia que piden el uso del Pretérito Imperfecto: • Antes, en aquella época, de pequeño(a), de niño(a); • Normalmente, a menudo, a veces, la mayor parte del tiempo, siempre, casi siempre, casi nunca; • Todos los fines de semana, en primavera, en invierno, en Navidad. APLICAR CONOCIMIENTOS II

Para fijar el tema, ayúdanos a contar esta pequeña historia, completándola con el Pretérito Imperfecto de Indicativo de los verbos indicados en los paréntesis: En aquella época,

(salir) juntos todos los domingos por la tarde. Él

(ir) a recogerme a casa de mis padres y juntos

(ir) al

(tomar) un delicioso helado en la plaza mayor del pueblo y

cine, luego

(hablar) de muchas cosas, me

(contar) cómo había

(hacer) planes para el futuro, y todas aquellas cosas que

sido la semana,

(soler) hacer los jóvenes enamorados de aquellos tiempos. (gustar) ir a conciertos de música clásica, pues él

Los fines de semana nos (ser) músico y muchas veces (asistir) y La verdad es que (pensar) que el mundo

(ser) sus conciertos los que yo (disfrutar) con mucha emoción.

(estar) enamorados uno del otro y (ser) sólo nuestro.

Bueno, el tiempo pasó, mucha cosa ha cambiado desde entonces, pero nosotros seguimos juntos y, lo que es mejor, somos hoy tan felices como 154

Língua Espanhola

(ser) en aquella época.


ESTADOS DE ÁNIMO

Ilustraciones digitales: Estúdio Pingado

¿Conoces bien tus emociones? ¿Sabes cómo decirlas en español? Entonces vamos a estudiar los estados de ánimo que nos movieron y siguen moviéndonos en la vida. Observa en el siguiente recuadro cómo nombramos en español algunas emociones bastante comunes y verás que no hay mucha diferencia de cómo se dice en portugués.

alegría

cólera

miedo

tristeza

amor

INVESTIGAR I

1. Existen otros estados de ánimo además de los que aparecieron anteriormente. Con tus compañe-

ros, haz una lista en portugués de otros que el grupo conozca. Luego, con la ayuda de un diccionario bilingüe y de internet, busca la traducción para el español y monta una lista. 2. Después, usa la lista formulada por ti y tus compañeros para completar las siguientes frases con

el estado de ánimo que te parezca más adecuado a cada situación. Puede que en tu lista no haya aparecido algún estado de ánimo necesario para completar las frases, discútelo con tus compañeros para que todos juntos encuentren el adjetivo adecuado: a) Ana está b) Ricardo volvió

con el viaje a Lima que ganó en un sorteo. con los lugares que visitó en Perú.

c) Ese chico es extremadamente

. Dice que no va a visitar Machu Picchu

porque es muy alto y peligroso. ¿Te lo crees? d) Cuando llegó al aeropuerto, vio que había perdido las maletas. Se puso e) Esa chica es una

.

. Con todas aquellas maravillas de la naturaleza que

conocimos en Perú, ella estuvo todo el tiempo con cara de f) Las chicas volvieron súper g) Al final del viaje, todos se mostraron bastante

.

con las amistades que hicieron en Arequipa. con todo.

9º ano

155


CONJUGACIÓN DE VERBOS Lee los diálogos a continuación. Diálogo 1

– Ayer vine aquí, hice todo lo que era necesario para dejar la casa en orden y también traje flores. – ¡Vaya dedicación!

Diálogo 2

– Ayer vino aquí, hizo todo lo que era necesario para dejar la casa en orden y también trajo flores. – ¡Vaya dedicación!

¿Eres capaz de identificar el sujeto que ordenó la casa en cada uno de los diálogos anteriores? ¿Cuál es yo y cuál es él/ella? A continuación verás que por la terminación de cada verbo destacado, en la primera frase el sujeto es yo y en la segunda, él/ella. Ahora vamos a estudiar una tercera forma verbal en el pasado. Se llama Pretérito Indefinido o Pretérito Perfecto Simple y corresponde al pretérito perfeito simples del portugués. Se usa para hablar de una acción que ocurrió en un tiempo pasado y acabado.

EL PRETÉRITO INDEFINIDO – VERBOS REGULARES Cantar

Comer

Subir

Yo

canté

comí

subí

cantaste

comiste

subiste

Él/ella/usted

cantó

comió

subió

Nosotros(as)

cantamos

comimos

subimos

Vosotros(as)

cantasteis

comisteis

subisteis

Ellos/ellas/ustedes

cantaron

comieron

subieron

EL PRETÉRITO INDEFINIDO – VERBOS IRREGULARES Observa la terminación del verbo estar conjugado en el Pretérito Indefinido: Estar

156

Língua Espanhola

Yo

estuve

estuviste

Él/ella/usted

estuvo

Nosotros(as)

estuvimos

Vosotros(as)

estuvisteis

Ellos/ellas/ustedes

estuvieron


• Esta misma terminación se usará con los siguientes verbos irregulares,

cuyas raíces serán las siguientes: tener → tuv andar → anduv saber → sup

caber → cup querer → quis poner → pus

poder → pud venir → vin

Ejemplo: Ayer tuvieron problemas con el coche y no pudieron volver al hotel a tiempo para la cena. • Siguen la misma irregularidad los verbos derivados de los de la lista

anterior: mantener → mantuv detener → detuv

componer → compus reponer → repus

intervenir → intervin

OTRAS IRREGULARIDADES Ser/Ir

Hacer

Decir

Traer

Conducir

Yo

fui

hice

dije

traje

conduje

fuiste

hiciste

dijiste

trajiste

condujiste

Él/ella/usted

fue

hizo

dijo

trajo

condujo

Nosotros(as)

fuimos

hicimos

dijimos

trajimos

condujimos

Vosotros(as)

fuisteis

hicisteis

dijisteis

trajisteis

condujisteis

Ellos/ellas/ustedes

fueron

hicieron

dijeron

trajeron

condujeron

• Los verbos ser e ir tienen la misma forma cuando están conjugados en Pretérito Indefinido. • El verbo hacer en 3a persona de singular sufre un cambio en la raíz: hiz • Verbos como decir, traer, conducir y sus derivados son verbos con Pretérito Indefinido fuerte, o sea, en la raíz aparece la letra j. Debido a eso, en 3a persona de plural la terminación pierde la i: ieron → eron.

E>I

O>U

Y + O/E

Y + O/E

Medir

Dormir

Leer

Construir

Yo

medí

dormí

leí

construí

mediste

dormiste

leíste

construíste

Él / ella / usted

midió

durmió

leyó

construyó

Nosotros(as)

medimos

dormimos

leímos

construímos

Vosotros(as)

medisteis

dormisteis

leísteis

construísteis

Ellos / ellas / ustedes

midieron

durmieron

leyeron

construyeron

9º ano

157


• La letra e se transforma en i y la o se transforma en u en 3a persona de singular y 3a persona de plural de verbos de 3a conjugación (-ir). Como medir se conjugan también los verbos: conseguir, seguir, repetir, derretir, teñir, advertir, reír, sonreír, entre otros. Como dormir se conjuga el verbo morir.

• Antes de e y de o, en la conjugación en pretérito indefinido no se puede usar la i. Entonces en verbos como leer y construir, por ejemplo, se usa la y en 3a persona de singular y en 3a persona de plural. Como leer se conjugan también los verbos: creer y poseer. Como construir se conjugan todos los verbos terminados por -uir: incluir, destruir, concluir etc.

APLICAR CONOCIMIENTOS III

1. Consulta las reglas y completa el cuadro a continuación con el Pretérito Indefinido de los verbos

indicados en 1a (yo) y en 3a (él) persona de singular. Yo andar estar tener poder poner querer saber caber venir hacer decir contraer traducir

¿Has notado alguna semejanza en la conjugación de estos verbos? ¿Cuál?

158

Língua Espanhola

Él


2. Busca en el cuadro la conjugación adecuada de los verbos de las frases a continuación.

¡Ojo! hay varias conjugaciones, tienes que elegir la adecuada de acuerdo con el contexto de cada frase.

anduve anduvimos concluimos concluyeron contrajo condujo conduje contrajimos

contrajeron cupo dijo estuve leyó leyeron pudo pude

a) Cuando

pudieron propuso quise quiso supe supo trajo traje

(estar) en Cuzco yo

trajimos tuvieron tuvimos vino vine vinieron

(andar) por caminos desco-

nocidos pero maravillosos. b) No

(traer) todo lo que compró en Arequipa porque no

(caber) en sus maletas. c) Ellos no

(poder) sacar todas las fotos que querían porque no

(tener) tiempo suficiente. d) No

(poder) ir a Machu Picchu.

(decir) que volverá el pró-

ximo año, con más tiempo. e) A pesar del frío que sentimos en la montaña

(contraer) la gripe que nos

preocupaba. f) Y el guía nos

(proponer) conocer la fauna y la flora de la selva peruana.

g) ¿Sabes quién

(conducir) nuestro coche por los 2 250 kilómetros de la costa

peruana? Juan Pedro. Y no

(querer) que nadie lo sustituyera.

h) Cuando le pregunté al guía dónde encontraríamos comidas típicas peruanas no

(saber) decir. ¿Es posible algo así? i) Cuando los compañeros de viaje

Picchu,

(leer) el itinerario del paseo a Machu

(concluir) que tendrían que caminar mucho.

9º ano

159


LEER RELATO DE VIAJE

A nadie le quedará en el olvido nuestro viaje. Nada dejó de ser observado. Estuvimos en los más fascinantes sitios y tuvimos la oportunidad de conocer muchas leyendas sobre el período incaico y nuestros oídos pudieron disfrutar también de los más bellos sonidos de la selva que jamás habíamos oído. Nos fascinamos delante de muñecas típicas de muchos colores y entre ellos el rojo y, por supuesto, probamos la mazamorra, que se hace con maíz morado.

Ildipapp/Dreamstime.com

Un viaje inolvidable

La mazamorra es um postre común en Perú y en otros países latinoamericanos.

Texto elaborado para fines didácticos.

En el texto que acabas de leer están destacadas algunas palabras. Busca en el cuadro su correspondiente en portugués. Son falsos amigos, entonces hay trampas, ¿vale? (¿Sabes lo que es una trampa? Investígalo antes de hacer el ejercicio, pues es otro falso amigo). cairá lugares legendas

a) nadie b) quedará c) olvido d) nada e) sitios f) leyendas g) oídos h) oído i) muñecas j) rojo k) por supuesto l) morado 160

Língua Espanhola

roxo sitios ouvido

ninguém nada evidentemente

supostamente lendas munhecas

vermelho ouvidos ficará

esquecimento bonecas


LA CULTURA HISPANOAMERICANA

Muchos son los nombres que hicieron y siguen haciendo historia en Perú. Vamos a conocer a algunos que marcaron la literatura con sus ideas y poemas. César Vallejo: al inicio del capítulo leímos el fragmento de un poema suyo. Vallejo nació en 1892, en un pueblo de la Cordillera de los Andes llamado Santiago de Chuco. Escribió sus primeros poemas en 1912, pero sólo en 1919 publicó Los heraldos negros, su primer libro. En 1921 ganó un concurso literario y con el dinero publicó Trilce, un libro de poemas llenos de intervenciones y metáforas perturbadoras. Murió en 1938. Cesar Calvo: nació en Iquitos, en la floresta amazónica. Además de poeta, fue también periodista y antropólogo. Fue un apasionado por el arte popular y el folclor de su país y se hizo conocido en el mundo con su grupo de canto y danza Perú Negro. También fue autor de muchas canciones eternizadas en las voces de Pablo Milanés, Silvio Rodríguez y Mercedes Sosa. Mario Vargas Llosa: es natural de Arequipa, donde nació en 1936. Estudió en España y vivió muchos años en El escritor Mario Vargas Llosa, 2011. Europa, entre España, Francia e Inglaterra. De vuelta a Perú, ejerció varias actividades, entre ellas, condujo el programa televisivo La Torre de Babel, en 1983 presidió una comisión investigativa sobre el asesinato de ocho periodistas y, en 1990, fue candidato a la presidencia de la República. Perdió las elecciones y se fue a Londres donde volvió a sus actividades literarias. En 2010 fue galardonado con el Premio Nobel de Literatura. Escribió novelas, cuentos, ensayos, memorias y teatro. Algunas de sus obras, como Pantaleón y las visitadoras, La fiesta del chivo y La ciudad y los perros fueron adaptadas para el cine. 9º ano

Carlos Alvarez/Getty Images

GRANDES NOMBRES DE LA LITERATURA PERUANA

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INVESTIGAR II

Tras la lectura de estas informaciones sobre los escritores peruanos, te proponemos una investigación para que puedas ampliar tus conocimientos sobre este país. Te daremos algunos caminos para la investigación, pero también puedes buscar más cosas que te interesen. a) “Piedra negra sobre una piedra blanca”, “España, aparta de mí este cáliz” y “Masa” son de autoría de: b) Busca el nombre de dos otros importantes escritores peruanos.

c) ¿A qué deporte se dedica Alberto “Chiquito Rossel” y qué título mundial ganó en 2012? ¿A

quién venció?

d) Uno de los platos típicos más conocidos de Perú es el ceviche. Investiga qué ingredientes lleva

y cómo se prepara.

e) Perú también tiene dos bebidas muy típicas, una que es alcohólica y otra que no. ¿Cuáles

son ellas?

MOMENTO DE LA ESCRITURA

Esta vez te proponemos un desafío. Vas a ponerte en la piel de Antonio, un turista que ya conoce casi el mundo entero. Vas a contar cómo era su infancia cuando soñaba viajar por el mundo, los viajes que todavía no ha realizado y relatar cómo fue su último viaje a Perú, los lugares que conoció, las cosas que compró, lo que comió, bebió, entre otras cosas. Para esta tarea deberás usar los tres pretéritos aprendidos en esta unidad. Vamos a dividir el trabajo en etapas. Sigue las instrucciones: • Haz una lista, con por lo menos cinco ítems, usando el Pretérito Imperfecto de Indicativo (cantaba) para contar cómo era Antonio de niño y qué sueños tenía para su futuro de viajero. • Haz una lista de los lugares que Antonio ya haya o no conocido, usando el Pretérito Perfecto Compuesto (he cantado) y también expresiones de tiempo que permitan su uso: todavía, ya, algunas veces, nunca, jamás, aún... 162

Língua Espanhola


• Ahora, haz una lista de los lugares que visitó y también de las cosas que hizo allí, usando el

Pretérito Indefinido (canté) y marcadores temporales como: el año... / durante el verano / invierno de... / hace... años / un día... / una vez... / aquel otoño etc. • Por último, júntalo todo, sin olvidarte de mencionar las emociones de Antonio durante sus viajes, sobre todo cuando conoció a Laura y continúa su historia. Empieza con la frase a continuación y dale el final que quieras. De niño, me gustaba leer libros de aventuras en los que los personajes viajaban alrededor del mundo. Yo siempre…

9º ano

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Lo que hemos aprendido ¿Vamos a evaluar cuánto aprendiste de español en este curso y cómo te sientes en relación con la lengua? Para cada ítem, marca la alternativa que corresponde a lo que sabes: Comprensión de la lectura: ( ) consigo leer y entender textos en español sólo si tengo un diccionario cerca. ( ) consigo leer y entender textos en español orientándome por el contexto, para después investigar alguna palabra que no haya comprendido. ( ) consigo responder a cuestiones sobre el contenido y el vocabulario de los textos que leo. ( ) no consigo entender bien los textos en español. Comprensión auditiva: ( ) consigo entender grabaciones didácticas, canciones y también fragmentos de conversaciones reales. ( ) consigo entender bien a un hispanohablante. ( ) sólo consigo entender a un hispanohablante si habla muy despacio. ( ) no consigo entender nada de lo que escucho en español. Expresión escrita: ( ) consigo escribir pequeños textos y comunicarme en español en situaciones cotidianas. ( ) consigo escribir textos un poco más elaborados en español, dentro de los límites de los conocimientos hasta ahora adquiridos. ( ) no consigo escribir bien en español, pero me arriesgo. ( ) no consigo escribir en español y no me arriesgo. Expresión oral: ( ) consigo comunicarme, en situaciones simples y cotidianas como en un restaurante, en una tienda o supermercado, en aeropuerto o estación de trenes o autobuses etc. ( ) consigo hablar con amigos y contar cosas sobre mí, sobre mi familia, el lugar donde vivo, lo que hago etc. ( ) no consigo comunicarme en español porque tengo vergüenza de hablar. ( ) no consigo comunicarme en español porque tengo muchas dudas y dificultades. ( ) no me arriesgo a hablar en español porque pienso que sólo podré hacerlo cuando termine un curso avanzado.

PARA AMPLIAR TUS ESTUDIOS

Libros

Conjugação de verbos em espanhol

en un diccionario de verbos encontrarás, además de explicaciones sobre cada modo y tiempo verbal, una lista de verbos y sus conjugaciones completas. Es una herramienta esencial para el estudio de la lengua. ASSALI, Shirley Maia. Conjugação de verbos em espanhol. 2. ed. São Paulo: Ática, 2008.

Síntesis gramatical de la lengua española Se trata de una gramática contrastiva, con los principales temas y su comparación con el portugués. También constituye una herramienta importante para el estudio del español. FREIRE, María Teodora R. Monzú. Síntesis Gramatical de la Lengua Española. São Paulo: Librería española..

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Língua Espanhola


Bibliografia

LÍNGUA ESTRANGEIRA MODERNA BECHARA, Suely Fernandes; MOURE, Walter Gustavo. ¡OJO! com los falsos amigos: dicionário de falsos cognatos em Espanhol e Português. São Paulo: Editora Moderna, 1998. COLLINS English dictionary. Collins Dictionary of the English Language. Londres: Collins/ London & Glasgow, 1982. FLAVIAN, Eugênia; FERNANDEZ, Gretel. Minidicionário Espanhol/Português – Português/ Espanhol. São Paulo, Ática, 2008. KRASHEN, Stephen. Principles and practice in second language acquisition. Oxford: Pergamon, 1982. LIGHTBOWN, Patsy M.; SPADA, Nina. How languages are learned. Hong Kong: Oxford University Press, 1993. ST. LOUIS, Regis. Brazil. Hong Kong: Lonely Planet, 2008. MARTÍ, José. Ismaelillo: versos libres, versos sencillos. Madri: Cátedra. 2001. MELLO, Thiago de. Poetas da América de canto castelhano. São Paulo: Global, 2011. SECO, Manuel. Diccionario de dudas y dificultades de la lengua española. 9. ed. Madri: Espasa Calpe, 1996. ________. Diccionario de la lengua española. 21. ed. Madri: Real Academia Española, 1992.

9º ano

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UNIDADE 4

Hist贸ria



Capítulo HISTÓRIA

1

Conflitos pelo poder: o mundo em disputa

O

MGM/Courtesy Everett Collection/Latinstock

século XX foi marcado por inúmeros conflitos entre as nações, alguns com o uso de armas, outros não. Em sua maior parte, tratava-se de disputas para se obter maior poder perante outros países, fosse esse poder político, econômico ou cultural. Muitas vezes a busca pelo poder levou a grandes guerras, que envolveram todo o planeta. Neste capítulo veremos como a tentativa de se impor perante os demais esteve presente na História após o fim da Segunda Guerra Mundial, fazendo do mundo um palco de batalhas em potencial.

Cena do filme Rocky, o lutador – IV, que estreou em 1985. No filme, o boxeador estadunidense Rocky, interpretado por Sylvester Stallone, enfrenta um poderoso adversário russo. O cinema frequentemente representa conflitos da História, como o caso da Guerra Fria, entre Estados Unidos e União Soviética.

DEBATER

O poder faz parte do nosso cotidiano: nas dinâmicas familiares; no ambiente de trabalho; na nossa comunidade; nos espaços da cidade, do estado e do país. Mas o que é poder? Reúnam-se em grupos e discutam em que situações podemos identificar a presença do poder nas nossas relações do dia a dia. Descrevam acontecimentos frequentes em que ele está presente. Após a discussão, os grupos devem realizar uma síntese das opiniões que apareceram e compartilhar com os demais colegas da classe. 9º ano

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LER IMAGENS I

Andreas Solaro/AFP/GettyImages

Dmitry Astakhov/ITAR-TASS Photo/Corbis/Latinstock

Ainda em grupo, observem as imagens a seguir e debatam as questões propostas.

Papa Bento XVI, em cerimônia realizada no Vaticano em 2012. No início de 2013, ele renunciou ao pontificado.

Ismar Ingber/Pulsar Imagens

Moacyr Lopes Junior/Folhapress

Encontro de chefes de Estado dos membros do Grupo dos 20 (G20), formado pelos 19 países com as maiores economias do mundo e a União Europeia, ocorrido em Cannes (França) em 2011. Na foto, vemos os então representantes das seguintes nações: Brasil (Dilma Rousseff); Rússia (Dmitry Medvedev); Argentina (Cristina Kirchner); França (Nicolas Sarkozy); Alemanha (Angela Merkel); Estados Unidos (Barack Obama), Indonésia (Susilo Bambang Yudhoyono); entre outros.

Conflito entre polícia militar e moradores da comunidade Pinheirinho, em São José dos Campos (SP), em 2012. Na ocasião, a ordem de reintegração de posse foi cumprida com violência, diante da resistência dos moradores em deixar suas casas.

Praia de Copacabana e favela Pavão-Pavãozinho, na zona sul do Rio de Janeiro (RJ), 2010.

1. Em quais imagens o grupo identifica situações de poder? Justifique a resposta para cada uma delas. 2. Façam uma lista das principais palavras que apareceram nas respostas à questão 1, que explica-

vam o porquê de as imagens representarem situações de poder. Para fazerem a lista, reflitam sobre que termos podem ser usados para definir o que é poder. 3. Criem uma definição para explicar aos demais colegas o que é poder. Usem as imagens para dar

exemplos de situações onde ele está presente. 4. Por fim, debatam com a classe a questão: pode-se dizer que todas as imagens mostram uma mes-

ma forma de poder? Justifiquem. 170

História


GUERRA FRIA Guerra Fria é o nome que se dá a um período da História que vai do final da Segunda Guerra Mundial (1945) ao fim da União Soviética (1991). Apesar dos muitos acontecimentos e processos ocorridos nesse longo período, ele tem uma característica comum, já que nessas quase cinco décadas o mundo foi marcado por uma disputa de poder entre duas nações: Estados Unidos e União Soviética. Porém, não ocorreram conflitos diretos entre esses países – por isso, os historiadores costumaram chamar essa disputa de uma “guerra fria”, ou seja, sem batalhas efetivas entre os dois inimigos. Como essas duas nações tinham um grande potencial bélico, isto é, dispunham de armas que poderiam causar uma enorme tragédia no planeta, a simples ameaça de ataque de ambos os lados era suficiente para manter o conflito aceso. Assim, elas frequentemente comprovavam o seu poder interferindo em disputas fora de suas fronteiras nacionais, apoiando sempre lados opostos de guerras e de debates ideológicos em diversos países, principalmente durante a segunda metade do século XX. Cada uma dessas duas potências seguia um regime político diferente e buscava expandi-lo para as áreas onde tinha influência. Os Estados Unidos difundiam o modo de vida capitalista, baseado no consumo e na propriedade privada. Já a União Soviética, socialista, era defensora de um Estado forte que controlava a economia e também o cotidiano de seus cidadãos. Como ambas procuravam expandir seu poderio pelo mundo, pode-se dizer que, além de divididos pelo apoio a uma dessas duas potências, os demais países também se dividiam entre capitalistas e socialistas. O maior exemplo desse mundo bipolar (dividido em dois polos, um controlado pelos Estados Unidos e outro pela União Soviética) foi o continente europeu. Após o fim da Segunda Guerra, seus países estavam abalados e precisavam de ajuda para reerguer sua economia. Diante dessa situação, em 1947, o secretário de Estado estadunidense George Marshall ofereceu recursos econômicos às nações da Europa Ocidental. Essa foi uma dentre várias iniciativas políticas conhecidas como Doutrina Truman, que em troca de empréstimos pediam apoio político e ideológico. Esse apoio se tornou também militar com a criação da Organização do Tratado dos Países do Atlântico Norte (Otan), um pacto em que Reino Unido, Bélgica, Portugal, Itália, entre outros países, comprometiam-se a estar do lado dos estadunidenses em caso de um conflito armado. Por outro lado, a União Soviética também estendeu seu poder na Europa Oriental, conseguindo vários aliados. Em 1955 criou o Pacto de Varsóvia, que também era um acordo militar pelo qual países como Tchecoslováquia, Bulgária, Polônia, Hungria se comprometiam a apoiar os soviéticos em possíveis guerras. Esses países também adotavam o socialismo como regime político e a aliança entre eles ficou conhecida como cortina de ferro, já que formavam uma espécie de divisão no continente entre os aliados da União Soviética e dos Estados Unidos. 9º ano

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Ilustração digital: Sonia Vaz

Divisão da Europa durante a Guerra Fria

N O

L

0

340

780 Km

S

Fonte: <www.monde-diplomatique.fr/cartes/europeguerrefroide>. Acesso em: 20 dez. 2012.

No caso da Alemanha, o país sofreu devido aos acordos estabelecidos logo após o fim da Segunda Guerra, já que a nação foi derrotada. No final da década de 1940, o país foi dividido em duas partes: a República Federal da Alemanha (RFA), capitalista e sob influência dos Estados Unidos; e a República Democrática Alemã (RDA), socialista e sob influência soviética. Os Estados Unidos investiram muitos recursos na parte ocidental, pois pretendiam transformá-la em um modelo dos benefícios do capitalismo para as nações próximas. Para evitar que a população da parte oriental migrasse para o outro lado, a União Soviética construiu um muro separando a capital Berlim em duas, em 1961. O Muro de Berlim se tornou um símbolo do que se passava em outras partes do mundo durante a Guerra Fria. Muitos conflitos ocorridos na Ásia e até na América Latina contaram com a participação dessas duas potências. Estados Unidos e União Soviética se enfrentaram indiretamente na Guerra da Coreia (19501953), dividida em Coreia do Norte (socialista) e Coreia do Sul (capitalista). O mesmo aconteceu na Guerra do Vietnã (1955-1975), país que era capitalista em sua porção sul e socialista em sua porção norte. Esses episódios mostram que, apesar de não ter havido enfrentamentos diretos durante a chamada Guerra Fria, ocorreram batalhas e mortos em decorrência da briga entre os governos estadunidense e soviético pelo poder. 172

História


LER IMAGENS II

Michael Nicholson/Corbis/Latinstock

As duas imagens a seguir são documentos históricos e foram produzidas sob influência da Guerra Fria. Observe-as atentamente e responda às questões.

Propaganda comunista mostra soldado russo reprovando soldado estadunidense que oculta uma bomba com a inscrição: “capitalismo monopolista”.

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RKO Radio Pictures Inc.

Cartaz do filme Eu casei com um comunista, de 1950. Ao alto, à direita, lê-se: “A beleza dela serviu para a máfia do terror cuja missão é destruir”.

1. Descreva detalhadamente cada uma das imagens, dizendo que aspectos chamaram mais a sua atenção. 2. Qual é a visão da União Soviética presente na primeira imagem? Justifique. 3. Qual é a visão do comunismo no cartaz de filme? Justifique. 4. Pode-se dizer que os dois cartazes, defendem o mesmo lado nesse conflito? Justifique com base

nos elementos das imagens.

ÁSIA E ÁFRICA: LUTA PELA LIBERDADE Durante o século XIX, as nações europeias dominaram diversas regiões da África e da Ásia, em uma disputa por poder econômico, político e cultural. Esse processo de dominação foi denominado pelos historiadores de imperialismo e seguia uma lógica colonial de expansão territorial, já que essas regiões passavam a ser exploradas economicamente e ocorria também a tentativa de impor aos seus habitantes um modo de viver e de pensar vindo da Europa. 174

História


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Hulton-Deutsch Collection/Corbis/Latinstock

As duas grandes guerras travadas na primeira metade do século XX, porém, enfraqueceram as nações europeias, facilitando o desenvolvimento de movimentos que buscavam a independência política e a reafirmação da cultura local nessas áreas GLOSSÁRIO Emancipação: dominadas da África e da Ásia. Esses movimentos deram origem ao processo libertação; de descolonização, ou de emancipação de diversos países africanos e asiáticos. independência. Além do enfraquecimento das nações europeias com as duas grandes guerras, muitos outros fatores ajudam a explicar por que as lutas pela emancipação se espalharam por tantos países a partir dos anos 1950. É necessário dizer que nas regiões da África e da Ásia esses processos foram diferentes entre si e inspirados por ideias também distintas. No entanto, há alguns pontos em comum entre eles, como o fato de parte das elites locais e dos estudantes aderir a movimentos internacionais de direitos humanos e pela liberdade civil. Os movimentos nacionalistas, que surgiram em muitos países, também foram responsáveis pelo abalo do poder colonial. Em 1947, o Reino Unido reconheceu a independência da Índia. Porém, esse fato foi apenas o desfecho de uma luta que vinha desde o final do século XIX, quando começaram a ser criados partidos e associações que questionavam a presença britânica no país. O principal movimento ocorrido nesse processo pregava a desobediência civil (um método que descumpre as ordens consideradas injustas do Estado) e foi liderado pelo pacifista Mahatma Gandhi. Tendo estudado em Londres, Gandhi foi um exemplo entre os jovens que voltavam ao seu país de origem com ideias de emancipação. Apesar de seu método recusar o uso da violência, ele foi assassinado em 1948, por um extremista que o responsabilizava pela fraqueza do novo governo. Mahatma Gandhi, líder da campanha de não violência e de desobediência civil durante o processo de independência da Índia. Foto de 1930. Outra região que conseguiu a independência após a Segunda Guerra foi a Indochina, formada pelos atuais Vietnã, Laos e Camboja. Colônia da França, durante esse conflito mundial foi ocupada pelo Japão. Nessa época se espalharam movimentos que lutavam pela emancipação, sendo o principal deles a Liga Revolucionária para a Independência do Vietnã (ou Movimento Vietminh), liderada pelo líder comunista Ho Chi Minh. Com a derrota japonesa na Segunda Guerra, Ho Chi Minh declarou a independência do Vietnã, decisão não apoiada pela França. Isso deu origem a um longo conflito, conhecido como Guerra da Indochina (1946-1954), que terminou com o reconhecimento da emancipação de Laos e Camboja. O Vietnã foi dividido em dois, uma parte socialista ao norte, e outra capitalista ao sul. Inicialmente, o

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Patrick Chauvel/Sygma/Corbis/Latinstock

acordo previa que elas se unificassem em 1956, o que não ocorreu. Essa foi uma das causas da Guerra do Vietnã, um dos principais palcos da Guerra Fria. Na África, havia colônias da França, do Reino Unido, da Espanha, da Bélgica, da Itália e de Portugal. Cada país teve seu próprio processo de independência, porém, algumas ideias circularam e estiveram presentes em todo o continente. A principal delas foi o pan-africanismo, que propunha a união dos diversos povos africanos para lutar pela emancipação. Essa ideologia considerava que as fronteiras africanas haviam sido impostas pelos colonizadores, e que por isso esses povos deveriam se juntar para combatê-los. Essas ideias circularam também em outras partes do mundo, como nos Estados Unidos e na Europa, ganhando força nos anos 1950 e 1960. Na França, por exemplo, um pensador nascido na Martinica (América Central), Frantz Fanon, defendia a afirmação das culturas locais e o uso da violência como forma de libertação. Seus livros foram lidos por jovens de todo o mundo, inclusive da América Latina. Ele acompanhou de perto a luta pela independência da Argélia (1954-1962), onde a Frente de Libertação Nacional recorreu à guerrilha para conquistar a emancipação do Estado francês. No caso das ex-colônias portuguesas, a independência também foi fruto de muitas guerras. Em Angola, três movimentos de emancipação participaram dessas disputas: Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA), a União Nacional para a Independência Total de Angola (Unita) e Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA). As lutas se intensificaram no país a partir de 1961, mas a libertação só foi declarada em 1975. De forma semelhante, Moçambique só obteve a independência frente ao governo português após mais de dez anos de luta. O movimento, liderado pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), conquistou a emancipação do país também em 1975. Na realidade, um episódio ocorrido em Portugal colaborou para que as então colônias portuguesas conquistassem sua autonomia política. A chamada Revolução dos Cravos pôs fim a uma longa ditadura e foi organizada por jovens oficiais do exército (muitos dos quais haviam lutado na África contra os movimentos de independência). Essa mudança de governo na Europa colaborou para o sucesso da emancipação das nações africanas. Porém, os muitos anos de guerra necessários para conquistá-la ainda hoje deixam conflitos e dificuldades para os habitantes Soldados da União Nacional para a Independência Total de Angola (Unita), durante a desses países. Guerra Civil, em 1975, em Huambo, Angola. 176

História


Os zoológicos humanos na Europa A dominação exercida pelos países europeus sobre a África e a Ásia não foi apenas econômica e política. Esses países se julgavam superiores às suas colônias, considerando que tinham como missão “levar a civilização” a partes do mundo e povos que consideravam inferiores. Porém, por trás dessa mentalidade estavam preconceitos e também a incapacidade de aceitar diferentes formas de viver e pensar. Nesse sentido, pode-se dizer que as nações europeias foram intolerantes às diferenças. Em nome dessa “civilização”, foram cometidos atos absurdos, que desrespeitaram direitos que esses próprios países diziam defender, como o direito à liberdade. Um exemplo desse desrespeito foram os zoológicos humanos, montados nas capitais europeias – assim como em várias cidades dos Estados Unidos. Pessoas vindas da África, da Ásia e da América Latina (como indígenas e grupos considerados “exóticos” para essas nações) eram levadas e expostas em feiras e exposições universais em cidades francesas, inglesas, belgas, portuguesas, alemãs, italianas, entre outras. Expostas como “selvagens” – ou seja, como povos sem civilização e cultura –, essas pessoas eram visitadas por europeus em espécies de “zoológicos humanos”. Apesar de essa prática ter diminuído após a Segunda Guerra, muitas exposições e feiras foram realizadas até 1958, quando os movimentos de descolonização já estavam espalhados, impedindo esse tipo de evento preconceituoso e intolerante.

Coleção particular - Michael Graham-Stewart/The Bridgeman Art Library/Keystone

CONHECER MAIS

Ilustração de William Maud, de 1899, mostra europeus observando nativos da África do Sul como se eles fossem animais expostos em um zoológico. GLOSSÁRIO

Exóticos: não originários do país de origem, estrangeiros; esquisitos ou estranhos ao olhar.

LER DOCUMENTO

Leia o documento a seguir e depois responda às questões propostas. Carta à juventude africana (1958) [...] O mundo colonial sucumbe após uma quinzena de anos de assaltos cada vez mais violentos e o edifício rachado está em vias de desabar. [...] Os povos colonizados se reconheceram, de modo geral, em cada um dos movimentos, em cada revolução proposta e conquistada pelos oprimidos. Além da necessária solidariedade com os homens que, em toda a superfície da Terra, lutam pela democracia e pelo respeito aos seus direitos, se impõe, com uma violência incomum, a firme decisão dos povos colonizados em desejar para si e para seus GLOSSÁRIO Sede administrativa: no caso irmãos o reconhecimento da sua existência nacional, da sua existência desse texto, a expressão se refere enquanto membros de um Estado independente, livre e soberano. [...] a uma instituição da metrópole que administra a colônia. Há dez anos que o dever de todo colonizado está definido: sob Soberano: que detém o poder; o sol nacional, minar o edifício do colonialismo e apoiar de maneira que tem autoridade para decidir positiva as lutas dos povos colonizados. [...] sobre suas próprias questões. Todo colonizado que aceita atualmente uma sede administrativa Sucumbe: cai, é vencido, deixa de existir. deve saber que, de maneira evidente, proporcionará, cedo ou tarde,

9º ano

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uma política de repressão, massacres, assassinatos coletivos em uma das regiões do Império francês. [...] Juventude africana! Juventude de Madagascar! Juventude das Antilhas! Nós devemos, todos juntos, cavar o túmulo em que se enterrará definitivamente o colonialismo! FANON, Frantz. Frantz Fanon œuvres. Paris: La Découverte, 2011. p. 799-804. (Traduzido do francês pela autora.)

1. Como Fanon define, nesse texto de 1958, a situação do mundo colonial? Destaque uma frase do

texto que exemplifique sua resposta. 2. Na frase “se impõe, com uma violência incomum, a firme decisão dos povos colonizados em de-

sejar para si e para seus irmãos o reconhecimento da sua existência nacional”, a quem o autor se refere ao usar a palavra “irmãos”? Justifique.

3. Para Fanon, que atitudes das nações colonialistas são indiretamente apoiadas por uma pessoa que não

se junta aos movimentos anticoloniais? Localize um parágrafo do texto que responde a essa pergunta. 4. Você concorda com o autor que nas situações em que não protestamos contra algo que nos desa-

grade estamos sendo coniventes com a situação? Explique seu ponto de vista.

MOBILIZAÇÃO DA JUVENTUDE Os anos 1950 foram marcados por uma recuperação da economia principalmente nos países ocidentais, após a crise da década anterior causada pela Segunda Guerra. Nos Estados Unidos e em alguns países da Europa, a indústria viveu um período de crescimento. Nesse contexto, destacava-se a fabricação de produtos como eletrodomésticos e automóveis. O avanço da tecnologia possibilitava mercadorias cada vez mais modernas, enquanto as propagandas convenciam a população de que as novidades deveriam se tornar sonhos de consumo. Nesse contexto, onde as inovações eram cada vez mais aceleradas, a juventude passou a ser um grupo social privilegiado, especialmente a partir do final dos anos 1950. Os jovens desempenhavam um importante papel como consumidores de novidades, mas também como pessoas que buscavam transformar as formas de viver e de pensar. Em vários países, eles começaram a ouvir músicas que retratavam as preocupações de sua faixa etária; passaram a ser protagonistas de muitos estilos cinematográficos; lançavam moda em vários setores. Além de inovar os hábitos culturais e as relações sociais, muitos deles se organizavam em movimentos políticos e manifestavam ativamente sua opinião, opondo-se às posturas políticas e sociais que consideravam conservadoras. Diversos exemplos dessa mobilização podem ser citados, mas sem dúvida o mais conhecido entre eles foi o Maio de 1968, em Paris. Nesse mês, alunos das universidades francesas iniciaram uma onda de protestos que se espalhou pela Europa e pelas Américas. Em muitos países, a ação dos estudantes foi seguida por outros setores da sociedade, como os operários. Na França, além das ocupações das instituições de ensino, 1968 foi marcado por greves em várias fábricas. 178

História


Wally McNamee/Corbis/Latinstock Jonathan Blair/Corbis/Latinstock

Os protestos estudantis ocorridos em Paris em maio de 1968 espalharam-se pelo mundo.

Nos Estados Unidos, as manifestações dos jovens muitas vezes traziam um pedido de paz, e se opunham ao governo que participava da Guerra do Vietnã. Nessa foto, protesto ocorrido na capital, Washington, em 1969.

No Brasil, que vivia desde 1964 uma ditadura militar, ocorreram passeatas que reivindicavam direitos dos estudantes e a volta da democracia, sendo que a maior delas reuniu 100 mil pessoas no Rio de Janeiro, em 26 de junho de 1968. A cultura brasileira da época, antenada com os movimentos internacionais, fez importantes mudanças na forma de fazer teatro (com as peças dos grupos Oficina e Arena), cinema (com um movimento conhecido como Cinema Novo) e artes plásticas. Todo esse cenário de agitação incentivava o desejo pela liberdade política, que estava restrita desde o golpe militar. Em vários países da América Latina, 1968 também foi um ano marcado por mobilizações estudantis. Isso ocorreu na Argentina, no Uruguai, na Colômbia e na Venezuela, onde estudantes ocuparam os edifícios das universidades, decretaram greves e organizaram grandes manifestações. Muitos desses episódios terminaram em conflito com a polícia e o exército. No Brasil, Edson Luís de Lima Souto, que tinha vindo do Pará estudar no Rio de Janeiro, foi assassinado pela polícia militar durante uma passeata em março de 1968, o que gerou grandes protestos por parte dos colegas. No entanto, a pior tragédia ocorreu no México, onde os confrontos nas universidades resultaram em 38 mortos. Para piorar, como a capital mexicana seria palco dos Jogos Olímpicos, o governo ordenou uma forte repressão policial, que terminou no assassinato de quase 300 pessoas que se manifestavam contra o Estado. 9º ano

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Proceso/AP Photo/Glowimages

Conhecido como Massacre de Tlatelolco, calcula-se que entre 200 a 300 pessoas morreram na Cidade do México em 2 de outubro de 1968. Na foto, estudantes são revistados por soldados dentro de um edifício.

LER TEXTO CIENTÍFICO

Leia o texto abaixo sobre o papel da televisão na cultura brasileira a partir dos anos 1960. Em seguida, responda às questões. A massificação da televisão O ano de 1968 pode ser considerado o momento em que a GLOSSÁRIO Suplantando: superando, televisão, efetivamente, se tornou um veículo de massa, suplantando a ultrapassando. importância do rádio como principal meio de comunicação de massa nas grandes cidades brasileiras. Aquele que marcou a crise definitiva de um dos maiores fenômenos de audiência de todos os tempos: o programa Jovem Guarda, após a saída do seu grande astro, Roberto Carlos, em janeiro de 1968. Na verdade, o fim do programa assinalou a decadência do próprio movimento, que já não repetia o sucesso de 1965 e 1966. A juventude brasileira havia mudado, a ingenuidade e a rebeldia adocicada que se limitavam a acelerar o carango, ter vários brotos e brigar na rua não davam mais pontos no Ibope. Os jovens queriam ir além e discutir comportamento, sexualidade, revolução. Ainda que limitados a uma atitude mais estética do que política, esses temas passaram a ocupar a agenda da cultura jovem em 1968. Além disso, o setor mais politizado da juventude estava em alta, ocupando as páginas da imprensa. Nunca os estudantes estiveram com tanto prestígio, mesmo entre alguns conservadores e, a partir de março de 1968, com a morte do jovem secundarista Edson Luís pela polícia do Rio de Janeiro, os estudantes passaram a ser os novos heróis da sociedade brasileira, em sua luta pela democracia. Os festivais acabaram se tornando palco dos debates estéticos, políticos e culturais. NAPOLITANO, Marcos. Cultura brasileira: utopia e massificação (1950-1980). São Paulo: Contexto, 2001. p. 73-74.

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História


1. De acordo com o autor, qual foi o meio de comunicação que mais ganhou importância no final

dos anos 1960? 2. Que temas a juventude passou a valorizar nos programas de televisão, a partir de 1968?

3. Qual foi o papel dos jovens, segundo o autor, no final dos anos 1960? Explique.

DEMOCRACIA E DITADURA NA AMÉRICA LATINA A segunda década do século XX foi marcada na América Lati- GLOSSÁRIO Revolução Cubana: movimento na por fortes conflitos políticos e ideológicos. Muitos desses conde apoio popular ocorrido em flitos estavam ligados à disputa entre Estados Unidos e União SoCuba que, utilizando a guerrilha, derrubou o governo do ditador viética durante a Guerra Fria, já que esses países apoiavam grupos Fulgêncio Batista, em 1959. Dois locais distintos. Em Cuba, por exemplo, após a Revolução Cubana, anos depois, o novo governo assumiu o caráter socialista os soviéticos apoiaram o governo de Fidel Castro, inclusive invesda Revolução, tornando-a um símbolo vitorioso para as tindo recursos; enquanto os estadunidenses tentaram invadir a ilha esquerdas de todo o mundo. quando os revolucionários se declararam socialistas e lhe impuseram um forte bloqueio econômico. Em toda a América Latina, a Revolução Cubana inspirou grupos de esquerda a pegarem em armas para levarem seus países ao socialismo. Alguns exemplos dos grupos que aderiram a essa tática foram os montoneros, na Argentina; os tupamaros, no Uruguai; o Sendero Luminoso, no Peru; e a Ação Libertadora Nacional (ALN), no Brasil. Durante os anos 1960 e 1970, esses movimentos praticaram a guerrilha, com ações como sequestros, assaltos e atentados. Essas ações também tinham como objetivo combater ditaduras instauradas nesses países. Por outro lado, a direita se organizou em várias nações latino-americanas, promovendo uma onda de golpes militares que depuseram presidentes considerados socialistas ou adeptos de reformas de base. Apoiados por vários setores da elite, que viam seus privilégios em risco, esses golpes levaram a uma crise da democracia na América Latina, já que ditaduras permaneceram durante muitos anos no poder. Essa tendência foi sustentada pelos Estados Unidos, que, temendo perder sua influência sobre a região, colaboraram militarmente com vários golpes de Estado, assim como para a manutenção das forças armadas no poder. A Operação Condor – uma espécie de aliança militar entre Brasil, Argentina, Chile, Bolívia, 9º ano

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Luis Orlando Lagos Vázquez/The Dmitri Baltermants Collection/Corbis/Latinstock

Paraguai e Uruguai – tinha apoio estadunidense e perseguia opositores políticos das ditaduras nacionais em outros países do continente. Além disso, durante esse período, militares latino-americanos eram treinados na Escola das Américas, instituição organizada pelos Estados Unidos no Panamá, para praticarem torturas durante interrogatórios. Na Argentina, o país viveu uma ditadura militar entre 1966 e 1973, quando voltou a ter eleições por um curto período. Em 1976, no entanto, outra ditadura foi instaurada, dessa vez ainda mais repressiva e violenta que a anterior. Até a abertura política, em 1983, os argentinos estiveram submetidos a um dos mais sangrentos governos ditatoriais da América Latina. Calcula-se que cerca de 30 mil civis foram assassinados durante esse período, entre opositores e integrantes de grupos de esquerda. Os militares praticaram ainda sequestros de crianças, que eram detidas durante a prisão de seus pais e doadas a famílias da elite ou dos próprios militares. Hoje em dia, existem muitos movimentos que lutam pelo julgamento desses crimes e pela localização de corpos e dos filhos levados de seus parentes de origem. Outro país que sofreu um golpe de Estado brutal foi o Chile. Em 1970 um candidato socialista foi eleito à presidência da república. Salvador Allende governou durante três anos, período em que fez mudanças significativas na sociedade chilena. Seu governo tornou públicas empresas importantes, que estavam, em sua maioria, nas mãos de corporações estadunidenses. Além disso, começou a fazer reformas que desagradaram à elite nacional, como a reforma agrária, a instalação de projetos habitacionais nas cidades e a desapropriação de empresas para deixá-las sob responsabilidade dos operários. Os Estados Unidos, que viam seus interesses ameaçados no país, apoiaram o exército chileno, que atacou e bombardeou o palácio da presidência em 11 de setembro de 1973. Na ocasião, Allende morreu, não se sabe ao certo se vítima dos golpistas ou se em consequência de um suicídio. O fato é que nesse dia uma ditadura militar foi instaurada no país, iniciando uma série de prisões, desaparecimentos e assassinatos. Sob a liderança do general Augusto Pinochet, os militares permaneceram no poder até 1990.

O presidente chileno Salvador Allende (no centro, de óculos) em 11 de setembro de 1973, dia em que ocorreu o golpe militar, em Santiago, Chile.

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História


CONHECER MAIS

Com o processo de descolonização na África e na Ásia, muitos novos países foram criados, sendo reconhecidos internacionalmente como nações independentes. No entanto, em muitos deles, as populações locais enfrentavam graves problemas econômicos e sociais, vivendo em uma situação de pobreza e de miséria. Durante a Guerra Fria, muitos desses países passaram a ser chamados de “terceiro mundo”, em oposição aos países capitalistas desenvolvidos – que fariam parte do “primeiro mundo” – e aos países socialistas industrializados – que estariam na categoria de “segundo mundo”. Dessa forma, o termo “terceiro mundo” passou a ser usado para definir nações pobres e com graves problemas sociais, não apenas na África e na Ásia, mas também na América Latina. A partir da década de 1970 esse termo passou a ser cada vez mais questionado, principalmente com base na Teoria da dependência, sendo os termos “desenvolvimento” e “subdesenvolvimento” os mais usados. Essa teoria considera que a existência dos países subdesenvolvidos está diretamente ligada a dos países desenvolvidos; ou seja, eles só existem dentro de uma lógica de exploração econômica que faz com que dependam das nações mais ricas. Portanto, apenas com o fim dessa dependência é que essa situação pode mudar. Atualmente, o grau de desenvolvimento social dos países costuma ser medido pelo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Trata-se de um número que considera a expectativa de vida ao nascer, a taxa de alfabetização e o Produto Interno Bruto (PIB) por pessoa.

Pascal Deloche/Godong/Corbis/Latinstock

A ideia de Terceiro Mundo

Crianças estudando em escola no Congo, África, 2011. O Congo apresenta um dos mais baixos Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) entre os países avaliados pela Organização das Nações Unidas (ONU).

FIM DA ORDEM BIPOLAR A década de 1980 representou para a União Soviética um período de grave crise econômica. Diante da dificuldade de concorrer com as indústrias dos países capitalistas desenvolvidos, a economia dessa nação entrou em colapso. O índice de desemprego entre a população era alto e existia grande dificuldade de acesso a produtos básicos, como pão, leite e outros alimentos. Diante desse quadro, o presidente Mikhail Gorbachev implementou grandes mudanças, que levaram ao fim da Guerra Fria. O maior símbolo da disputa entre Estados Unidos e União Soviética, o Muro de Berlim, foi derrubado em novembro de 1989. Sua queda possibilitou a reunificação das duas Alemanhas, em 1990, sendo a parte que estava submetida aos socialistas incorporada pela porção capitalista. No ano seguinte, outra grande transformação anunciava o fim de uma era: a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) deixava de existir, o que deu início a um processo de independência em vários dos países que estavam agrupados sob o poder da Rússia. 9º ano

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Regis Bossu/Sygma/Corbis/Latinstock

Alemães colaboram para derrubar o Muro de Berlim, no final de 1989. A queda dessa construção que dividia a cidade se tornou o maior símbolo do fim da ordem bipolar.

Essas mudanças terminaram com um período histórico bipolar. Com isso, começou uma Nova Ordem Mundial, em que o poder econômico passou a concentrar-se em blocos de países associados. O socialismo perdeu força como regime político, embora ainda tenha adeptos e o governo de muitas nações. O capitalismo seguiu forte, porém foi abalado por crises mundiais, como a que afetou o mercado financeiro em 2008.

GLOSSÁRIO

Mercado financeiro: é o mercado no qual se vende e se compra valores mobiliários (principalmente ações de empresas).

LER CANÇÃO

O grupo de rap Calle 13, de Porto Rico, compôs uma canção denominada “Latinoamérica”, que destaca alguns pontos em comum dos povos da América Latina. Leia alguns trechos dessa canção e responda às questões seguintes. Latinoamérica [América Latina] Sou... Sou o que deixaram Sou toda sobra do que roubaram Um povo escondido lá em cima Minha pele é de couro, por isso aguenta qualquer clima Sou uma fábrica de fumo Mão de obra camponesa para seu consumo [...] Você não pode comprar o vento Você não pode comprar o sol Você não pode comprar a chuva 184

História


Você não pode comprar o calor [...] Trabalho duro, mas com orgulho Aqui se divide, o que é meu é seu Esse povo não se afoga com marola E se desmorona eu reconstruo [...] A Operação Condor invadindo meu ninho Perdoo, mas nunca esqueço Ei! Vamos caminhando Aqui se respira luta Vamos caminhando Eu canto porque se escuta Vamos caminhando Aqui estamos de pé Viva a América! Não pode comprar minha vida... Calle 13. Latinoamérica. Disponível em: <www.lacalle13.com/ entrenlosquequieran/index.php?option=com_content&view=article&id=61&Itemid=69>. Acesso em: 15 ago. 2012. (Tradução da autora.)

1. De que maneira o grupo caracteriza o povo latino-americano? Justifique citando algumas frases

que comprovem sua resposta. 2. A quem você acha que o Calle 13 se refere no refrão ao dizer “Você não pode comprar o vento/

Você não pode comprar o sol/ Você não pode comprar a chuva/ Você não pode comprar o calor”? Justifique sua resposta. 3. Você considera que existe uma identidade comum aos países da América Latina? Justifique sua

opinião. PARA AMPLIAR SEUS ESTUDOS

Livros

A descolonização da Ásia e da África

Aborda os diferentes processos de descolonização na África e na Ásia, analisando suas consequências para o subdesenvolvimento desses países. CANEDO, Letícia Bicalho. A descolonização da Ásia e da África. São Paulo: Atual, 1994.

Da Guerra Fria à Nova Ordem Mundial

O livro procura focar nos efeitos da Guerra Fria na vida cotidiana da população, analisando a propaganda ideológica feita por Estados Unidos e União Soviética no período. FARIA, Ricardo de Moura. Da Guerra Fria à Nova Ordem Mundial. São Paulo: Contexto, 2003.

Filmes

Adeus, Lenin!

Uma alemã que entrou em coma antes de 1989 acorda em meados de 1990. Com medo de que seu estado de saúde piore diante das drásticas mudanças ocorridas no país após a queda do Muro de Berlim, seu filho tenta fingir que a Guerra Fria ainda não acabou. Direção: Wolfgang Becker. Alemanha, 2002. 118 min.

Uma noite em 67

Documentário sobre o final do III Festival da Música Popular Brasileira transmitido pela TV Record, em 1967. O filme mostra um pouco da cultura da juventude brasileira que buscou resistir à repressão do regime militar. Direção: Ricardo Calil, Renato Terra. Brasil, 2010. 93 min.

9º ano

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Capítulo HISTÓRIA

2

Ditadura e democracia no Brasil

D

urante o século XX, a política brasileira alternou períodos de democracia e de ditadura. Até mesmo em muitos momentos tidos como “democráticos”, a ameaça de golpes de Estado que iniciassem novos períodos ditatoriais foi constante. Além disso, a participação do povo no governo, uma das características da democracia, sempre foi restrita e dificultada por ações das elites que dominavam o poder político e econômico. Neste capítulo, veremos como a História do Brasil no século XX intercalou essas duas formas de governo. Mas, afinal, o que diferencia uma da outra?

Fernando Santos / Folha Imagem

Multidão reunida na praça da Sé, na cidade de São Paulo (SP), em 1984, exigindo a volta da democracia ao país.

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História


RODA DE CONVERSA

Reúnam-se em grupos de até cinco pessoas. Depois, sigam o roteiro abaixo para definir os conceitos de democracia e de ditadura. 1. Discuta com o seu grupo o que vocês consideram que seja democracia e ditadura. Para isso, ela-

borem duas listas: na primeira, anotem palavras e frases escolhidas pelo grupo que se relacionem aos governos democráticos; na segunda, registrem as expressões relativas aos governos ditatoriais. 2. Leiam, em grupo, as definições de democracia e ditadura a seguir. Discutam o que vocês enten-

deram sobre cada uma delas. Democracia. Forma de governo na qual o poder supremo

Ditadura. [...] Com a palavra ditadura, tende-se a designar

está nas mãos do povo e é exercido diretamente ou por

toda classe dos regimes não democráticos [...]. São três, a

intermédio de representantes eleitos [...]. Na era moderna,

meu parecer, essas características: a concentração do poder;

o conceito significa, em geral, governo da maioria, direitos

as condições políticas [...] constituídas [...] pelo princípio da

individuais e minoritários, igualdade de oportunidades,

soberania popular; a precariedade das regras de sucessão no

igualdade perante a lei, e direitos e liberdades civis.

poder [...].

ROHMANN, Chris. O livro das ideias. Rio de Janeiro: Campus, 2000. p. 96.

BOBBIO, Norberto (Org.). Dicionário de política. Brasília: UnB, 1986. p. 372-373.

3. As definições lidas usam palavras parecidas com as que o grupo havia listado na questão 1?

Quais são as semelhanças e diferenças entre as palavras escolhidas pelo grupo e o que colocam os dicionários?

DITADURA, DIREITOS POLÍTICOS, CULTURA E IDEIAS No século XX, convencionou-se chamar de ditadura os governos que tinham como marca o autoritarismo. No Brasil, tivemos dois períodos nos quais o poder político foi exercido de forma autoritária – que, por isso, são denominados ditaduras: o Estado Novo (1937-1945) e a Ditadura Militar (1964-1985). Nessas duas épocas, as Constituições em vigor foram desrespeitadas. Alguns grupos e pessoas criaram novas leis e alteraram as que já existiam para justificar a sua permanência no poder ou para chegar a ele. Houve a suspensão dos direitos políticos dos cidadãos, ou seja, a população perdeu algumas conquistas em relação à sua participação nas decisões do país. Entre essas perdas, destaca-se a suspensão do voto direto para a escolha do presidente da República. Nas ditaduras do século XX, inclusive nas que vivemos no Brasil, a propaganda foi um fator importante para sustentar os grupos no poder. Por meio de diferentes estratégias – produções culturais, controle da imprensa e grandes eventos políticos –, esse tipo de governo procurou divulgar para a população que o governante e o grupo que estava ao seu lado traziam benefícios para a nação. Assim, esperava-se conquistar o apoio das massas.

9º ano

187


Por fim, vale destacar outras duas estratégias importantes, utilizadas pelas ditaduras contemporâneas, que também estiveram presentes nos governos ditatoriais brasileiros: a censura e a repressão. Essas duas medidas visavam combater e silenciar aqueles que não concordavam com as ideias do grupo que estava no poder. Como veremos neste capítulo, muitas vezes a tentativa de calar a oposição levou a prisões, torturas e assassinatos.

DEBATER

Reúnam-se em grupos de até cinco pessoas. Cada integrante deve responder oralmente às seguintes questões: 1. Você se lembra de alguma propaganda política das últimas eleições? Qual? a) Por que você acha que essa propaganda ficou em sua memória? b) Você considera que essa propaganda influenciou no resultado da eleição (para a vitória ou a

derrota desse candidato)? Por quê? c) Caso o candidato tenha sido eleito, havia alguma promessa de campanha na propaganda? Ela

foi cumprida? 2. Na sua opinião, qual é a função de uma propaganda política? Que elementos ela deve ter para ser

eficiente? 3. Em grupo, criem uma propaganda política para um candidato a vereador. Considere que esse

candidato tem projetos importantes para o seu município, que ajudam a melhorar a vida da população. Pense a melhor estratégia que ele pode utilizar para divulgar suas ideias aos eleitores. Escrevam um texto coletivo para ser dito durante a propaganda e façam a descrição dos demais elementos (músicas, figurino, cenário etc.) que devem ser utilizados.

A DITADURA DO ESTADO NOVO (1937-1945) O Estado Novo foi um período de ditadura que começou com a GLOSSÁRIO Arbitrária: que não abolição arbitrária da Constituição de 1934 pelo então presidente Gesegue normas ou leis. túlio Vargas. Evitando ser substituído nas eleições, ele elaborou uma esDissolução: extinção de uma entidade; no caso, tratégia para manter-se no cargo e ampliar os seus poderes. Em 10 de do Parlamento. novembro de 1937, tropas da polícia militar fecharam o Congresso, e Getúlio apresentou uma nova Carta constitucional, bastante autoritária. Entre as medidas imediatas da nova Constituição de 1937 estava a dissolução do Parlamento, das Assembleias estaduais e das Câmaras municipais. Ela previa que houvesse um plebiscito, que confirmaria ou não o mandato do presidente, e que, após essa etapa, fossem convocadas novas eleições para o Parlamento. No entanto, esse plebiscito nunca ocorreu, tampouco as eleições para o legislativo, até o fim do Estado Novo. 188

História


CPDOC/Fundação Getulio Vargas

Um dos principais aliados do Estado Novo era o grupo dos indus- GLOSSÁRIO Indústria de base: são triais, que acreditava que a segurança e o crescimento econômico do aquelas que produzem matérias-primas ou país dependiam da intervenção do Estado na economia, principalmenmáquinas para serem te por meio de medidas que incentivassem o desenvolvimento da inusadas em outras indústrias. dústria. O governo de Getúlio, agradando a seus apoiadores, passou Siderúrgica: indústria a substituir as importações por produtos industrializados brasileiros. responsável pela produção de ferro e aço. Investiu, sobretudo, na indústria de base, setor no qual se destacou a construção da primeira siderúrgica da América Latina, em 1941. Apesar de colaborar com o lucro das indústrias, o Estado Novo esforçou-se para transmitir uma imagem de Getúlio Vargas como protetor dos trabalhadores, buscando garantir a sua aceitação pelo povo. Por outro lado, o governo tinha a intenção de manter as reivindicações e as ações dos trabalhadores sob seu controle. Para isso, proibiu as greves a partir de 1937. Em 1940, criou o imposto sindical, uma contribuição obrigatória, equivalente a um dia de trabalho, a ser paga por todo trabalhador ao Estado, que redistribuía o dinheiro aos sindicatos. Com o imposto, os sindicatos passaram a funcionar independentemente da adesão dos trabalhadores, abrindo espaço para líderes que atuavam mais em benefício próprio e do Estado — de quem recebiam a verba — do que daqueles a quem representavam. Uma das principais medidas estatais relacionadas aos trabalhadores foi a criação da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), em 1943. A CLT reuniu as leis trabalhistas que já Primeiro poço de petróleo brasileiro, fruto de iniciativas do governo Getúlio Vargas. existiam e as ampliou, garantindo aos Em Lobato (BA), 1938. trabalhadores benefícios como a jornada máxima de trabalho de 48 horas, o salário mínimo (que já era garantido por lei, mas ainda não estava vigorando), as férias remuneradas, entre outros. Ainda hoje, a CLT e o imposto sindical estão ativos. A CLT é a principal garantia dos trabalhadores. No entanto, o seu texto original passou por inúmeras reformulações.

9º ano

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BELMONTE, 1932-1940. Coleção Particular Fonte: LAGO, Pedro Corrêa do. Caricaturistas brasileiros 1836-1999. Rio de Janeiro: Sextante Artes, 1999. p. 106.

Caricatura de Belmonte, feita na década de 1930. No desenho, Getúlio Vargas aparece como alguém que coloca fogo nos recintos para sair como herói. De maneira semelhante, sua estratégia de governo era a de conceder alguns benefícios aos trabalhadores, mas combatia a autonomia e as reivindicações deles. Assim, apesar de restringir direitos, o Estado tinha o apoio das massas, pois o governante aparecia para a opinião pública como alguém que resolvia os problemas da população.

Outro aspecto que caracterizou o Estado Novo como período de ditadura foi o controle da produção cultural e intelectual do país. Os meios de comunicação estavam a serviço do Estado e colaboravam para transmitir uma imagem positiva do governo. Para isso, havia o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), que tinha duas funções principais: censurar qualquer manifestação que julgasse contrária ao governo (fosse na música, no cinema, na literatura ou na imprensa) e fazer propaganda das iniciativas governamentais. Nessa época, Getúlio utilizava também o espaço da Hora do Brasil (atualmente transmitida com o nome de A voz do Brasil), um programa de veiculação obrigatória no qual a população ouvia os discursos do presidente e de seus ministros, além de músicas de artistas populares. Com isso, ele vinculava a sua imagem a cantores e cantoras de sucesso, queridos do povo, aumentando sua popularidade. Por outro lado, com o DIP, muitos artistas, intelectuais e políticos da oposição foram censurados. Alguns chegaram a ser presos, exilados e até torturados pelo comando do Departamento de Ordem Política e Social (Dops), criado também nessa época. A repressão foi uma marca da ditadura do Estado Novo. O descontentamento com a censura e as ações repressivas fo- GLOSSÁRIO ram alguns dos fatores que colaboraram para o enfraqueciEstado totalitário: tipo de Estado baseado no autoritarismo, que não permite oposição, mento do governo. Mas havia outras contradições que acautilizando para isso o terror policial. Apesar da baram levando ao fim esse governo, como o fato de o Brasil repressão, recebe o apoio das massas, que são normalmente convencidas pela propaganda ter lutado na Segunda Guerra Mundial contra os fascistas e oficial a apoiar o governo. Em geral, o poder é exercido por um único partido, por meio da os nazistas, mas ter características de um Estado totalitário. figura de um governante forte e centralizador. Enfraquecido, Getúlio foi deposto em 1945, pondo fim a um período de ditadura. 190

História


LER IMAGEM

Coleção Plínio Doyle, FCRB

Observe a charge e responda às questões a seguir.

Fonte: Théo. Careta, 4 dez. 1937. GOMES, Ângela de Castro et al. A República no Brasil. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2002. p. 106.

1. Verifique o ano em que a charge foi publicada. Após a leitura do texto didático, identifique: a) Quem era o presidente do Brasil nessa época? b) O Brasil vivia um período de democracia ou de ditadura? 2. Sobre qual assunto os dois homens estão conversando?

3. De acordo com o primeiro homem, quantos eleitores o Brasil tinha na época? 4. Por que você acha que o segundo homem diz que “há muitos zeros no número de eleitores”? Jus-

tifique a sua resposta.

9º ano

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CONHECER MAIS

O caso do samba: da vadiagem à música do trabalhador O samba é uma manifestação democrática do povo que sofreu momentos de repressão e depois foi utilizado por um governo autoritário. Ele surgiu no começo do século XX, nas comunidades dos trabalhadores que migraram ao Sudeste (principalmente vindos da Bahia para trabalhar no Rio de Janeiro). Em seu início, foi reprimido pelas elites e pelas autoridades. Praticado pelas camadas mais pobres, assim como outros ritmos populares, era tido como um meio de “vadiagem” e perseguido pela polícia.

No entanto, o samba popularizou-se muito rapidamente e, a partir dos anos 1930, durante o Estado Novo, passou a ser um instrumento de propaganda das ideias do governo para as massas. Assim como havia feito com os sindicatos, Getúlio Vargas preferiu se associar aos sambistas em vez de combatê-los. Sendo assim, nas décadas de 1930 e 1940, muitos dos compositores que antes exaltavam a vadiagem como modo de vida começaram a falar sobre os benefícios do trabalho em suas letras.

A VOLTA PROVISÓRIA DA DEMOCRACIA Com o fim do Estado Novo, o Brasil voltou a ser uma democracia. No entanto, a participação do povo nas decisões políticas ainda era muito restrita. O governo do presidente eleito que substituiu Getúlio Vargas, Eurico Gaspar Dutra, dirigiu o processo que gerou uma nova Constituição, a de 1946, considerada mais “democrática” do que a anterior, de 1934. Nela, os três poderes — legislativo, executivo e judiciário — adquiriram forças mais equilibradas. Mas ainda havia alguns pontos autoritários nas novas leis. Na Constituição de 1946, alguns direitos sociais passaram a ser previstos na lei. O direito de voto foi ampliado para todas as mulheres, já que na Constituição anterior apenas as mulheres que exerciam funções públicas podiam votar. Mas ainda mantinha a regra de que apenas os alfabetizados podiam participar das eleições, sendo que a população que sabia ler e escrever na época era reduzida. Para os trabalhadores da cidade e do campo, a Constituição de GLOSSÁRIO 1946 teve dois lados, um bom e um ruim. Em relação às greves, ela Reforma agrária: reorganização das propriedades rurais, por meio de lei, as permitia, desde que autorizadas por lei. Por outro lado, algumas visando a maior distribuição de terras. de suas medidas acabaram possibilitando, pelo menos na teoria, Geralmente, ela desapropria as propriedades improdutivas, dando direito aos pequenos mudanças sociais, como a previsão de desapropriações com fim produtores rurais de utilizar essas áreas. social, o que retomou o debate em torno da reforma agrária.

LER TABELA

Analise a tabela a seguir, sobre as eleições brasileiras em 1934 e 1947, e responda às questões. ANO

1934

1947

Número de eleitores

42 659 171

47 710 504

40 741 589

48 000 000

Total da população brasileira

Dados estimados encontrados em: IBGE: Estatísticas do século XX. Disponível em: <www.ibge.gov.br/seculoxx/default.shtm>. Acesso em: 26 set. 2012.

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História


1. O que ocorreu com o número de eleitores entre 1934 e 1947?

2. O que é possível concluir comparando o total de eleitores de 1947 com o total da população bra-

sileira nesse mesmo ano? Justifique a sua resposta.

3. Analisando os dados da tabela, você considera que a participação política da população era ampla

em 1947? Por quê?

O DESENVOLVIMENTISMO DE JUSCELINO KUBITSCHEK (1956-1961) O período da História do Brasil situado entre o Estado Novo e a ditadura militar foi marcado por um grande crescimento da indústria e das cidades. Com isso, as elites ligadas à produção industrial e à construção civil aumentaram o seu poder político, principalmente durante o período do governo de Juscelino Kubitschek — também conhecido como JK. O seu mandato foi marcado por um modelo econômico que ficou conhecido como desenvolvimentismo. Logo que assumiu o cargo, Kubitschek anunciou o Programa de Metas, que reunia objetivos para o desenvolvimento nos setores de energia, transporte, alimentação, indústria de base e educação, além de prever a construção de uma nova capital, Brasília. Seu lema era 50 anos em 5, ou seja, fazer com que os cinco anos de JK na presidência desenvolvessem mais o país que nos últimos cinquenta anos. Com a implementação do Programa de Metas, Kubitschek investiu em ferrovias e portos, na construção de hidrelétricas, na indústria automobilística (o primeiro carro fabricado no Brasil foi o DKW Vemag, em 1958), entre outros setores. O automóvel acabou se transformando em um dos símbolos de seu governo, tornando-se mais presente nas ruas das grandes cidades. Na agricultura, JK investiu na modernização do campo, abrindo espaço para máquinas, que passaram a ocupar o lugar de trabalhadores. Com isso, muitos camponeses perderam a sua função e acabaram migrando para as cidades, para tentar novos trabalhos. 9º ano

193


Acervo UH/Folha Imagem

Outro ícone do mandato de JK foi a construção de Brasília. Procurando descentralizar o poder político e econômico da região Sudeste e ampliar o desenvolvimento do país, Kubitschek solicitou a Oscar Niemeyer e Lúcio Costa um projeto para a nova cidade, que foi construída em um período de cinco anos com a mais moderna arquitetura. Muitos nordestinos, retirantes que migravam devido às secas, e também camponeses, sem trabalho no campo, participaram da sua construção. Esses trabalhadores passaram a ser chamados de “candangos” e foram seus primeiros moradores, já que muitos continuaram na região após a finalização das obras. Em 21 de abril de 1960, Brasília foi inaugurada como a nova capital federal, que deixava de ser o Rio de Janeiro. No entanto, parte desses trabalhadores que ficaram na região após a inauguração da capital enfrentou dificuldades para encontrar empregos regulares e pagar os caros aluguéis cobrados dentro do plano-piloto, que consiste nos limites planejados por Niemeyer e Lúcio Costa. Muitos deles começaram a se instalar nas chamadas “cidades-satélites”, que cresciam a partir de ocupações irregulares. Ceilândia, por exemplo, em 1969, já contava com quase 80 mil pessoas vivendo em favelas. Ainda hoje, grande parte dos trabalhadores de Brasília mora em seus arredores.

O presidente Juscelino Kubitschek chegando a Brasília, em 2 de fevereiro de 1960. O automóvel e a nova capital federal foram dois símbolos muito associados à imagem de JK.

LER TEXTO JORNALÍSTICO

Leia a seguir trechos de uma entrevista com Horácio Augusto Figueira, engenheiro de tráfego, vice-presidente da Associação Brasileira de Pedestres e defensor do uso intensivo de ônibus nas grandes cidades. Após a leitura, responda às questões. 194

História


“O sonho do automóvel acabou” em São Paulo, diz engenheiro Como o senhor avalia o custo/benefício do transporte público em São Paulo? Horácio Augusto Figueira – Em termos de custo/benefício, fora do horário de pico, dá para você usar como serviço comum. Nos horários de pico, por não ter velocidade compatível nos corredores, os ônibus andam em baixa velocidade e lotados. Não é um serviço de boa qualidade. Para reverter essa situação, teria de ser dada prioridade total para os ônibus no sistema viário e, para isso, você tem de incomodar o usuário de carro, não tem outro jeito. Não tem como conciliar privilégios ao transporte coletivo sobre rodas sem tirar uma faixa dos automóveis. [...] Por que isso? Figueira – Pelo congestionamento imposto pelos automóveis. O poder público não tem a coragem de falar que uma faixa de ônibus transporta dez vezes mais pessoas que a mesma faixa, ao lado, de automóveis. [...] Todo mundo quer andar de carro, mas não existe espaço físico que comporte mais na cidade de São Paulo. Não tem mais obra viária que vá resolver a questão da mobilidade por transporte individual. [...] O sonho do automóvel acabou na cidade de São Paulo. Ele foi bom há 40 anos, quando era 1 em mil. [...]

Paulo Fridman/Pulsar Imagens

UOL carros, 15 jun. 2012. Disponível em: <http://carros.uol.com.br/ultnot/2012/06/15/o-sonho-do-automovelacabou-em-sao-paulo-diz-engenheiro.jhtm>. Acesso em: 7 ago. 2012.

Congestionamento de veículos na Avenida 23 de Maio, em São Paulo (SP), 2012.

9º ano

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1. De acordo com o engenheiro Figueira, qual deveria ser a prioridade de investimento do poder

público para melhorar o problema dos congestionamentos nas grandes cidades? Por quê? 2. Por que o engenheiro afirma que “o sonho do automóvel acabou na cidade de São Paulo”? Explique. 3. Você concorda com as opiniões do engenheiro Figueira? Por quê? Na sua opinião, qual seria uma

possível solução para o trânsito em São Paulo? 4. Vimos que uma das áreas que mais receberam investimentos do governo Juscelino Kubitschek nos anos

1960 foi a indústria automobilística, com a finalidade de desenvolver a economia brasileira. Você considera que hoje em dia essa indústria deveria continuar recebendo investimentos? Justifique sua resposta.

A BATALHA PELAS REFORMAS DE BASE

Acervo Iconographia

Principalmente a partir da década de 1950, alguns setores da sociedade passaram a se organizar para pressionar os governos a fazer reformas de base, ou seja, reformas que possibilitassem igualdade social e melhor distribuição de renda. Além da desigualdade entre a minoria rica da população e a grande maioria pobre ou miserável, nessa época a industrialização e o aumento da população nas cidades trouxeram novos problemas. A introdução das máquinas no campo, as secas constantes e a ampliação dos latifúndios foram alguns dos fatores que colaboraram para que trabalhadores rurais migrassem para grandes cidades em busca de novos empregos. Com isso, os centros urbanos cresceram rapidamente e de forma desordenada. Esse processo fez com que, em pouco tempo, muitos estivessem sem emprego ou subempregados, sem recursos para pagar o alto custo de vida, como o aluguel. Essas pessoas passaram então a ocupar áreas menos valorizadas, geralmente de maneira ilegal, em cortiços ou favelas. Dessa forma, cresceu a demanda por uma reforma urbana que redistribuísse as propriedades dentro das cidades. Um dos setores que buscaram se organizar para exigir os seus direitos nessa época foi o dos camponeses. A partir de 1955, formaram-se as Ligas Camponesas, que eram movimentos de trabalhadores rurais que lutavam pela reforma agrária e pelo direito de plantar em sua própria terra. Elas se espalharam pelo Brasil, especialmente pelo Nordeste. Seu líder era um advogado da classe média urbana de Recife, chamado Francisco Julião. Uma das maiores vitórias das Ligas foi a tomada do Engenho Galileia, em Pernambuco, considerado de “fogo morto” (improdutivo), que foi Manifestação de trabalhadores rurais que aderiram às Ligas Camponesas, em setembro de 1960. desapropriado pelo governo federal. 196

História


LER CANÇÃO

Leia a letra de canção a seguir, do compositor maranhense João do Vale, e responda às questões. Sina de caboclo Mas plantar pra dividir Não faço mais isso, não. Eu sou um pobre caboclo, Ganho a vida na enxada. O que eu colho é dividido Com quem não planta nada. Se assim continuar vou deixar o meu sertão, mesmo os olhos cheios d’água e com dor no coração. Vou pró Rio carregar massas prós pedreiros em construção. Deus até está ajudando: está chovendo no sertão! Mas plantar... [...] J. B. de Aquino; João do Vale; Zélia Barbosa. Warner Chappell Edições Musicais Ltda.

1. Quem é a personagem dessa canção? Por quê? 2. Por que ela diz que “O que eu colho é dividido/Com quem não planta nada”? Justifique a sua

resposta. 3. O que a personagem diz que terá de fazer caso a sua situação no campo continue como está?

O GOVERNO JOÃO GOULART E O FIM DO PERÍODO DEMOCRÁTICO (1961-1964) João Goulart — apelidado de Jango — teve um governo marcado pela tentativa de estabelecer as reformas de base. Jango via o Estado como um intermediário entre os trabalhadores urbanos e rurais e a burguesia. Porém, essa postura desagradou aos políticos conservadores, aos setores mais influentes das forças armadas, aos grandes proprietários de terra e a muitos industriais. Esses grupos temiam perder os seus privilégios com as atitudes do presidente. Em 1963, Jango criou o Estatuto do Trabalhador Rural, que dava ao trabalhador do campo os mesmos direitos do da cidade, garantidos na carteira de trabalho e previstos na CLT. O presidente também visava realizar a reforma agrária. As medidas de João Goulart desagradavam a muitas pessoas das classes média e alta diante do temor de perder seus bens com o que consideravam o “avanço do comunismo”. No dia 19 de março de 1964, em São Paulo, ocorreu a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, um evento que reuniu cerca de 300 mil 9º ano

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pessoas que apoiavam a deposição de Jango. As forças armadas constituíam outra significativa oposição. Em 31 de março de 1964, as forças armadas e um grupo de civis conservadores deflagraram o golpe de Estado que depôs João Goulart do cargo e iniciou uma ditadura militar no Brasil. No dia 1o de abril, os militares triunfaram e tomaram o poder, obrigando o presidente a viajar para o Uruguai para receber asilo político.

A DITADURA MILITAR NO BRASIL: VINTE ANOS SEM DEMOCRACIA (1964-1985)

Loredano

Ao tomar o poder, a primeira ação dos militares, assim como ocorreu na ditadura anterior, foi alterar a Constituição com o Ato Institucional no 1 (AI-1), que cassava os direitos políticos de todos aqueles que eram considerados “comunistas” ou “subversivos”. Nesse primeiro momento, o general Humberto de Alencar Castelo Branco, um dos apoiadores do golpe, passou a exercer o poder. Após o AI-1, o governo ditatorial começou a adotar uma série de outras ações, que restringiam ainda mais a participação política e a liberdade de expressão dos cidadãos brasileiros. Iniciou-se, então, um período de perseguições políticas, prisões, torturas e assassinatos. Em outubro de 1965, o governo de Castelo Branco decretou o Ato Institucional no 2 (AI-2), extinguindo os partidos políticos. Em novembro desse ano, foi criado o bipartidarismo, que permitia a existência de apenas dois partidos: a Aliança Renovadora Nacional (Arena), reunindo membros favoráveis ao regime autoritário, e o Movimento Democrático Brasileiro (MDB), agregando a oposição. No ano seguinte, 1966, o governo publicou o AI-3. Ele definia que as eleições para governador, assim como já ocorria com o presidente, fossem realizadas de maneira indireta. Os prefeitos das capitais, por sua vez, passavam a ser escolhidos pelos governadores e deveriam ser aprovados pelas Assembleias Legislativas. Nesse mesmo ano, por meio de votação indireta, foi escolhido o novo presidente da República: o Ministro da Guerra, Loredano, caricatura publicada originalmente no Jornal do Brasil, em 1984. A imagem mostra os cinco presidentes da ditadura militar: general Artur da Costa e Silva. Ele era consiCastelo Branco (sentado na cadeira, à frente), Costa e Silva (embaixo, à derado membro da “linha dura” e iniciou um esquerda), Garrastazu Médici (em cima, à esquerda), Ernesto Geisel (em cima, à direita) e João Figueiredo (embaixo, à direita). período de repressão ainda maior. 198

História


Em 1967, foi criada a Lei de Imprensa, que proibia a publicação de notícias que se opusessem ao presidente, incitassem a guerra ou a subversão da ordem pública. Durante a Ditadura Militar, jornais, revistas, rádios e a televisão foram controlados pelo Estado, sofrendo ação direta da censura. Com essa medida, o governo visava anular a voz da oposição nos meios de comunicação. No entanto, os que não concordavam com a ditadura criavam jornais ou panfletos distribuídos de mão em mão clandestinamente. Esse tipo de material ficou conhecido como “imprensa alternativa”. A mesma coisa ocorria com peças teatrais, filmes, obras de arte ou qualquer manifestação pública de opinião. Apesar da repressão, os movimentos sociais e a oposição continuavam ativos contra o governo militar. Muitas organizações protestavam contra a ditadura, como é o caso da União Nacional dos Estudantes (UNE). Apesar de ter sido posta na ilegalidade em 1964, estudantes organizaram passeatas. A mais importante foi a Passeata dos Cem Mil, em junho de 1968, no Rio de Janeiro, que reuniu estudantes, artistas e lideranças políticas favoráveis à volta da democracia. Os operários também se manifestaram contra as políticas governamentais, organizando duas grandes greves nesse mesmo ano, uma em Contagem (MG) e outra em Osasco (SP). Alguns grupos viam a luta armada como a única alternativa para enfrentar a Ditadura Militar. Eles se inspiravam na Revolução Cubana, considerando que as armas eram um meio possível de estabelecer o socialismo como forma de governo no Brasil. Entre esses grupos, estavam a Aliança Libertadora Nacional (ALN) e o Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8). A ALN era liderada por Carlos Marighella, ex-líder do Partido Comunista Brasileiro que rompeu com o partido, o qual era contrário à guerrilha. Para intensificar a repressão aos seus opositores, o governo militar GLOSSÁRIO Habeas corpus: em latim, essa decretou o AI-5, em 13 de dezembro de 1968. O ato dava plenos podeexpressão significa “que tenhas o corpo”. No mundo jurídico, diz res ao Executivo, permitindo que o presidente suspendesse as garantias respeito ao direito da pessoa de solicitar sua liberdade quando julga constitucionais da população quando julgasse necessário. Ele suspendia que ele está sendo desrespeitado. também o direito ao habeas corpus para os crimes políticos, facilitando Depende, porém, de o juiz aceitar ou não esse pedido. as prisões arbitrárias e dificultando a defesa dos cidadãos. Na prática, o AI-5 intensificou as prisões, as torturas e os assassinatos por parte do governo. Os líderes da luta armada, por exemplo, foram mortos. Mas não foram apenas os guerrilheiros que sofreram com a repressão. Qualquer pessoa que fosse considerada uma ameaça à segurança nacional ou “subversiva” poderia ser presa. Após as prisões, muitos permaneciam dias incomunicáveis, sendo torturados sem direito à defesa. Um dos casos que mais causaram comoção foi o do diretor de jornalismo da TV Cultura, Vladimir Herzog, que, ao comparecer para interrogatório, em 1975, foi morto no DOI-Codi (órgão do governo que cuidava dos casos de ameaça à ordem). A versão oficial do Exército foi a de que Herzog teria se enforcado na prisão, porém ela foi facilmente contestada pela oposição ao regime autoritário e, em 2012, seu atestado de óbito foi modificado com as causas reais de sua morte. Era comum o uso de tortura durante os interrogatórios, o que resultava na morte de muitos presos.

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História

Ziraldo

Em outubro de 1969, o general Emílio Garrastazu Médici assumiu a presidência. Durante a sua gestão, a repressão e a censura estiveram ainda mais fortes do que no governo Costa e Silva. As prisões, a tortura e os assassinatos enfraqueceram os movimentos sociais e a oposição. Médici usou a propaganda como meio de mascarar os excessos da ditadura. Durante a Copa do Mundo de Futebol de 1970, foram criados anúncios como “Pra frente, Brasil” e “Brasil, ame-o ou deixe-o”, buscando explorar o nacionalismo como forma de divulgar a imagem do governo. Em 1974, Médici foi sucedido pelo general Ernesto Geisel, considerado um militar mais “moderado”. No seu mandato, começou a aparecer Fonte: ZIRALDO. A última do brasileiro: quatro anos de história nas páginas do Jornal do Brasil. Rio de Janeiro: Codecri, 1976. a ideia de um retorno à Nessa charge de Ziraldo, o cartunista expressa sua preocupação com o futuro do Brasil após o AI-5. democracia, porém, por meio de um processo de abertura “lento, gradual e seguro”. Entre os fatores que explicam essa abertura política, estava a pressão social pelo fim do regime ditatorial. A partir de 1974, o governo acumulou derrotas nas eleições para senador e deputado, nas quais o MDB começou a superar os candidatos governistas, que eram da Arena. Aos poucos, a oposição se organizou em torno do MDB, da UNE, do movimento operário, de um setor da Igreja católica, entre outros grupos. O resultado dessas pressões foi o fim do AI-5, em 1978. Com isso, o Estado não poderia mais prender pessoas e cassar mandatos sem motivo. A pena de morte e a prisão perpétua também foram abolidas nesse período.


Reinaldo Martins/ Estadão Conteúdo

Começou a ser cada vez mais frequente a mobilização da população nas ruas, especialmente durante o governo do general João Oliveira Batista Figueiredo. Em 1978, começaram a surgir grandes greves na região do ABC paulista (na Grande São Paulo), das quais Luiz Inácio Lula da Silva era um dos líderes. Também em 1978, cresceram os comícios a favor da anistia para os presos políticos e das pessoas que foram obrigadas a ficar fora do país. A Lei de Anistia foi aprovada em agosto de 1979: os presos políticos foram libertados e os exilados puderam voltar ao país, embora alguns permanecessem sem direitos políticos. Ainda no final de 1979, visando enfraquecer o MDB, o governo acabou com o bipartidarismo e vários partidos políticos puderam ser criados. Nessa época, surgiu o Partido Democrático Social (PDS), constituído pela antiga Arena. O MDB transformou-se no Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB). Surgiram ainda no cenário político o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), o Partido Popular (PP), o Partido dos Trabalhadores (PT) e o Partido Democrático Trabalhista (PDT). No ano de 1982, os brasileiros puderam eleger os governadores de forma direta. As eleições para presidente, marcadas para 1985, seriam ainda indiretas. Os grupos que queriam a volta das eleições diretas também para presidente começaram a se organizar em um movimento que ficou conhecido como Diretas já!. Seus líderes organizaram grandes comícios pelo Brasil, exigindo o direito de votar para a presidência. O maior deles ocorreu no vale do Anhangabaú, em São Paulo, em abril de 1984, com a presença de mais de 1 milhão de pessoas. Vários artistas, políticos e personalidades aderiram à campanha das Diretas já!. No entanto, essa campanha conseguiu apenas que as eleições diretas fossem marcadas para 1989. As eleições de 1985 ainda ocorreram de maneira indireta. Mas o candidato vencedor foi Tancredo Neves, que era da oposição ao governo militar. Sua vitória foi tida como uma maneira de restabelecer a democracia no Brasil. Porém, devido a um problema de saúde, Tancredo morreu antes de sua posse, assumindo em seu lugar o vice-presidente eleito, José Sarney. Mesmo sem a conquista das Diretas já!, o novo presidente Lula discursa para metalúrgicos em greve, em São Bernardo do Campo (SP), 1985. No final dos anos 1970 e punha fim a mais de vininício dos anos 1980, grandes greves foram organizadas na região do ABC paulista. Esse movimento operário te anos de Ditadura Milifoi responsável por grandes mobilizações públicas ocorridas no período da ditadura militar. Com isso, colaboraram para a volta da democracia no país. tar no país.

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LER TEXTO ACADÊMICO

Leia o texto a seguir, da historiadora Angela de Castro Gomes, e responda às questões. Primeiro de Maio O dia 1o de maio foi escolhido como Dia do Trabalho como forma de assinalar e de lembrar as muitas e difíceis lutas que marcaram a história do movimento dos trabalhadores no mundo. A data é uma homenagem aos trabalhadores da cidade de Chicago que, nesse dia, em 1886, enfrentaram forte repressão policial por reivindicarem melhores condições de trabalho e, especialmente, uma jornada de oito horas. [...] É possível observar que, já no início do século XX, os trabalhadores brasileiros passaram a assinalar o Primeiro de Maio com manifestações que ganhavam as ruas e faziam demandas. [...] De forma inteiramente diversa, outro período marcou a história do Primeiro de Maio no Brasil. Foi o do Estado Novo, mais especificamente a partir do ano de 1939, quando o Dia do Trabalho passou a ser comemorado no estádio de futebol do Vasco da Gama, em São Januário, com a presença de autoridades governamentais, com destaque para o presidente Getúlio Vargas. Nesse momento, o presidente fazia um discurso e sempre anunciava uma nova medida de seu governo que visava beneficiá-los. O salário mínimo, a Justiça do Trabalho e a Consolidação das Leis do Trabalho (a CLT) são três bons exemplos do porte das iniciativas que então eram ritualmente comunicadas ao público [...]. Dando um salto muito grande, outro período em que o Primeiro de Maio ganhou relevo para a história do movimento sindical e para o país foi o dos últimos anos da década de 1970. O Brasil vivia, mais uma vez, sob um regime autoritário, mas o movimento sindical começava a recuperar sua capacidade de ação e de reivindicação. Grandes comícios então se realizaram, sobretudo em São Paulo, onde se protestava contra o “arrocho salarial” imposto aos trabalhadores, e se denunciava o regime militar. Essa era grande bandeira e projeto do movimento sindical: combater a ditadura militar e lutar por melhores salários e liberdade de negociação. E o Primeiro de Maio hoje? Certamente, ao longo de mais de cem anos, é bom reconhecer que tantas lutas não foram em vão. Os trabalhadores de todo o mundo conquistaram uma série de direitos e, em alguns países, tais direitos ganharam códigos de trabalho e também estão sancionados por constituições. Mas os direitos do trabalho, como quaisquer outros direitos, podem avançar ou recuar com o passar do tempo e com as pressões de grupos sociais organizados. Assim, nas décadas de 1980 e 1990, os trabalhadores brasileiros viveram um período em que se discutiu a “flexibilização” desses direitos. [...] O Primeiro de Maio [...] é uma boa oportunidade para reflexões sobre o rumo que se deseja dar aos direitos do trabalho, direitos esses que fazem parte de um pacto social e cuja defesa esteve sempre nas mãos de organizações de trabalhadores. [...] GOMES, Angela de Castro. Disponível em: <http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/FatosImagens/PrimeiroMaio>. Acesso em: 7 ago. 2012.

1. De que forma a autora descreve o Primeiro de Maio durante o governo de Getúlio Vargas? 2. E em relação aos anos 1970, por que ela afirma que se trata de um período em que o Primeiro de

Maio ganhou destaque para o movimento sindical? 3. Para a autora, qual seria a utilidade dessa data? Explique. 4. Qual é sua opinião sobre o Primeiro de Maio? Você acredita que essa data deve ser festejada ou

servir para manifestações? Justifique. 202

História


PRINCIPAIS CONQUISTAS DO MOVIMENTO NEGRO Marcelo Justo/Folha Imagem

No contexto de abertura política que pedia a volta da democracia no Brasil, no final dos anos 1970, o movimento negro foi um dos grupos que se manifestaram publicamente a favor de seus direitos. Em 1978 foi realizado um ato contra o racismo em frente ao Teatro Municipal de São Paulo. Entre as razões do protesto, estava a morte de Robson Silveira da Luz, fruto de torturas sofridas por policiais em uma delegacia da cidade. Desse ato surgiu o Movimento Negro Unificado Contra a Discriminação Racial (MNUCDR), que posteriormente passou a ser chamado de Movimento Show do rapper MV Bill em evento para comemorar o Dia Nacional da Negro Unificado (MNU), hoje responsável por Consciência Negra, realizado em 2007 na Praça da Sé, em São Paulo (SP). denúncias de discriminação racial e social. A luta e a resistência dos negros — organizados em movimentos sociais, organizações não governamentais (ONGs), entidades etc. — já obtiveram muitas conquistas importantes no combate ao preconceito e na luta pela igualdade de oportunidades. No Brasil, desde 1989, existe a Lei Federal no 7 716, que define como crime qualquer forma de preconceito de raça ou de cor. Atualizada em 1997, essa lei determina que: “Serão punidos, na forma desta lei, os crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional”. Impedir o acesso de alguém a algum lugar ou negar emprego por conta de uma dessas características pode render ao infrator de três a cinco anos de reclusão. Além de transformar o racismo em crime, o movimento negro conseguiu estabelecer uma data histórica a ser comemorada e relembrada por toda a sociedade brasileira: o Dia Nacional da Consciência Negra, em 20 de novembro. Esse movimento sugeriu outra data comemorativa no lugar do 13 de maio (dia em que foi decretada a abolição) que fosse mais significativa da resistência negra durante o regime escravista. O argumento para isso é o de que a Lei Áurea (de 1888), que acabou com a escravidão pelo menos no papel, foi assinada por uma princesa branca e, portanto, exaltaria a passividade do negro, em vez de relembrar as suas batalhas. Dessa forma, atualmente, 13 de maio é rememorado como o Dia Nacional da Luta contra o Racismo. E por que a escolha do 20 de novembro? Foi nessa data, em 1695, que morreu uma grande referência para o movimento negro: Zumbi dos Palmares. De acordo com Kabenguele Munanga: Hoje, Zumbi é considerado um dos principais símbolos da luta contra todas as formas de opressão e exclusão que continuam a castigar os descendentes de africanos no Brasil. MUNANGA, Kabenguele; GOMES, Nilma Lino. Para entender o negro no Brasil de hoje: história, realidades, problemas e caminhos. São Paulo: Global, 2006. p. 99.

9º ano

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Essa data já é feriado em pelo menos 225 municípios brasileiros, entre os quais São Paulo, Campinas, Ribeirão Preto, União dos Palmares (em Alagoas), Cuiabá, Pelotas, Porto Alegre e Macapá. Outra importante conquista, fruto da luta dos descendentes de africanos no Brasil, é a Lei Federal no 10 639, de 2003, que torna obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira no ensino fundamental e médio. A ideia da lei é resgatar “[...] a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à História do Brasil”. Com essa conquista, o movimento pretende que os negros sejam mais valorizados por toda a sociedade, mas que também os próprios afrodescendentes se reconheçam representados na história brasileira e elevem sua autoestima, percebendo a importância da luta de seus ancestrais para as conquistas da atual democracia.

APLICAR CONHECIMENTOS

1. Por que o movimento negro optou pela data de 20 de novembro para comemorar o Dia Nacional

da Consciência Negra? 2. Por que o dia 13 de maio é lembrado como o Dia Nacional da Luta contra o Racismo? Explique. 3. De que maneira você acha que estudar as contribuições dos negros na História do Brasil pode

colaborar para diminuir o preconceito? Justifique a sua resposta. PARA AMPLIAR SEUS ESTUDOS

Livros

Cultura e sociedade no Brasil: 1940-1968

Analisa a produção musical, teatral e cinematográfica brasileira entre os anos 1940 e 1960, usando essas produções culturais como fonte para o ensino e a aprendizagem da História. ALMEIDA, Claudio Aguiar. Cultura e sociedade no Brasil: 1940-1968. São Paulo: Atual, 1999.

Cultura Brasileira: Utopia e massificação (1950-1980)

Analisa diversas formas de produção cultural que apareceram no país entre as décadas de 1950 e 1980. Destaque para o período da ditadura militar, quando a cultura foi usada para contestar o governo. NAPOLITANO, Marcos. Cultura brasileira: utopia e massificação (1950-1980). São Paulo: Contexto, 2001.

Site

CPDOC-FGV

No item “Navegando na História”, há textos didáticos sobre diversos períodos da história republicana brasileira. Disponível em: <http://cpdoc.fgv.br/>. Acesso em: 7 ago. 2012.

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História


Capítulo HISTÓRIA

3

Visões do Brasil contemporâneo: um olhar sobre a periferia

Q

uando nos referimos a uma região usando o termo “periferia”, não estamos falando apenas do local em que ela se localiza na cidade. A periferia pode estar nas divisas dos municípios ou no centro. Ela pode abrigar barracos e cortiços, ou casas em bairros com pouca estrutura. Isso ocorre porque, além do território, outros fatores importantes ajudam a definir o que é periferia: as redes de convívio entre as pessoas, as práticas culturais, a maneira como atuam as políticas públicas etc. As periferias do Brasil – e do mundo – são bastante diferentes entre si. Em cada comunidade, as pessoas têm necessidades, gostos e hábitos distintos. Cada vez mais, porém, alguns grupos e cidadãos nascidos nesses espaços começam a perceber que, apesar das diferenças, todas as periferias se formaram dentro do mesmo processo histórico de exclusão e expansão da pobreza e miséria. Assim, podemos dizer que há o reconhecimento de uma identidade periférica.

Gerson Gerloff/Pulsar Imagens

Criança anda de bicicleta em rua na periferia de Corumbá (MS), 2012.

9º ano

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RODA DE CONVERSA

Reúna-se em um grupo de cerca de seis pessoas. Cada uma delas deverá escrever uma lista de cinco palavras que melhor definem o conceito de periferia. Discutam com os colegas as palavras que apareceram, elaborando uma nova lista com as cinco palavras consideradas pelo grupo as mais significativas. Utilizem-nas para escrever um pequeno texto coletivo sobre o que é periferia na opinião de vocês. Em seguida, os grupos devem ler as definições para a classe e escutar as dos demais alunos.

O SÉCULO XXI E A URBANIZAÇÃO DO PLANETA Nessas primeiras décadas do século XXI, a urbanização do planeta está cada vez mais acelerada. O número de megacidades, ou seja, cidades com mais de 8 milhões de habitantes, vem aumentando bastante. Muitos centros urbanos, por sua vez, se tornaram hipercidades com mais de 20 milhões de habitantes, como é o caso de Tóquio (Japão), da Cidade do México (México), Seul (Coreia do Sul), Nova York (Estados Unidos), Mumbai (Índia) e São Paulo. Enquanto no século XX o crescimento das cidades ocorreu principalmente por causa da migração dos moradores vindos do campo, no século XXI os centros urbanos estão crescendo tanto e de forma tão acelerada que passaram a “engolir” as áreas rurais. Dessa forma, a diferença entre o que é urbano e o que é rural começa a se tornar menos evidente. No Brasil, podemos citar como exemplo dessa intensa urbanização a Região Metropolitana Ampliada Rio-São Paulo, que engloba uma área de cerca de 500 quilômetros entre as cidades de São Paulo e Rio de Janeiro, além da região de Campinas. Se contarmos a população que vive nessa faixa, teremos mais de 37 milhões de pessoas. Observe no gráfico a seguir como a urbanização cresceu no país nos últimos anos e de que maneira os especialistas estimam que essa tendência vai continuar. Brasil: proporção entre população urbana e rural 100 90 80 70 60

Urbana

50

Rural

40 30 20 10 0 1950 1960

1980

2000

2020

2040

2050

Fonte: United Nations, Department of Economic and Social Affairs. Disponível em: <http://esa.un.org/unpd/wup/Country-Profiles/country-profiles_1.htm>. Acesso em: 8 ago. 2012.

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História


LER MAPAS

Observe atentamente os mapas a seguir e responda às questões. Crescimento da população urbana no mundo – 1950-2010

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4 180 km

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Fonte dos mapas: Questions internationales, n. 52. La Documentation française, Paris, nov./dez. 2011.

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1. Comparando os mapas de 1950 e de 2010, o que é possível afirmar sobre o crescimento da popu-

lação urbana no mundo?

2. No mapa de 2010, quais são os continentes ou regiões cuja concentração de população residente

em áreas urbanas mais cresceu?

3. Em que continente é possível encontrar mais países cuja população permaneceu predominante-

mente no campo, com base no mapa de 2010?

URBANIZAÇÃO OU “FAVELIZAÇÃO”? Nas quatro últimas décadas do século XX, o processo de urbanização nos países que apresentam um alto índice de pobreza e miséria foi ainda maior do que nas outras nações. No entanto, ao contrário do que ocorria até os anos 1960, quando a população do campo migrava para as cidades para trabalhar nas fábricas ou na construção civil, a partir dos anos 1970 a oferta de empregos nos centros urbanos começou a diminuir consideravelmente. Assim, muitos desses novos habitantes não encontraram oportunidades de trabalho, sendo obrigados a ganhar a vida no mercado informal. A maior parte dos governos dos países 208

História

Gautam Singh /AP Photo/ Omegaplus

4. Comparando os dois mapas, o que é possível afirmar sobre a urbanização no Brasil?

Menino anda de bicicleta na periferia de Délhi, Índia, 2009. As favelas multiplicam-se por todo o mundo, especialmente nos países subdesenvolvidos. Délhi, por exemplo, recebe cerca de 500 mil migrantes todos os anos. Deles, 400 mil vão morar em favelas ou na periferia.


subdesenvolvidos, por sua vez, não realizou todos os investimentos necessários em infraestrutura e serviços voltados para o bem-estar da população, como habitação, saúde, educação, transporte coletivo etc. A sua prioridade foi abrir oportunidades para as grandes empresas e os bancos multinacionais, seguindo a lógica do neoliberalismo. Como resultado, a urbanização dos últimos anos trouxe com ela o aumento da pobreza urbana. Assim, além da urbanização, muitos dos países subdesenvolvidos passam por um processo de “favelização”. Mesmo nos países mais ricos, a pobreza nas grandes cidades cresce a cada dia. Segundo o historiador estadunidense Mike Davis, se a sociedade continuar nesse caminho, logo viveremos em um “planeta favela”, ou seja, o número de habitantes da periferia será maior que o de outros espaços. Como exemplo, ele cita o que ocorre hoje na região amazônica: Na Amazônia, uma das fronteiras urbanas que crescem com mais velocidade em todo o mundo, 80% do crescimento das cidades tem-se dado nas favelas, privadas, em sua maior parte, de serviços públicos e transporte municipal, tornando-se assim sinônimos de “urbanização” e “favelização”. DAVIS, Mike. Planeta favela. São Paulo: Boitempo, 2006. p. 26.

Delfim Martins / Pulsar Imagens

Como as cidades não oferecem infraestrutura nem condições de moradia adequadas para tanta gente, a população tem de encontrar maneiras de viver ocupando lugares pouco valorizados pelo mercado de imóveis. Muitas vezes, a alternativa é ocupar terrenos em encostas, áreas que alagam facilmente, regiões muito distantes do centro, prédios com estruturas danificadas, entre outras situações de risco. Quanto mais desvalorizado financeiramente é o terreno, menor é a chance de seus habitantes sofrerem despejo. No entanto, o risco de serem expulsos e obrigados a se mudar está sempre presente. Nesse sentido, a periferia é um conceito que não é restrito a determinados espaços, pois ela está sempre se mudando e se ampliando dentro das cidades. Uma área desabitada atualmente (como um morro, uma floresta ou um campo) pode se tornar um bairro periférico amanhã. Uma região mais central que, por algum motivo, perdeu valor no mercado de imóveis pode vir também a ser periferia. O fato é que a periferia sempre será caracterizada como local de habitações pobres e geralmente informais (das quais os moradores não têm a posse formal), superpovoado Vista da periferia de Bento Gonçalves (RS), 2008, onde as casas foram e, o mais grave, com pouca atenção e construídas na encosta do morro, correndo o risco de desabamento. recursos do poder público. 9º ano

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BRASIL: DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO × “FAVELIZAÇÃO” Diante desse cenário, o Brasil vive atualmente uma situação particular. Sua economia cresceu muito mais do que a dos países desenvolvidos na última década, estando entre as maiores do mundo. Pesquisas da Fundação Getúlio Vargas (FGV) indicam que mais de 18 milhões de brasileiros saíram da condição de miséria extrema nos últimos dez anos. Porém, em 2010 cerca de 16,2 milhões ainda estavam nessa situação, mostrando que a pobreza continua sendo um problema grave. Dessa forma, pode-se dizer que, apesar do crescimento econômico impressionante, o Brasil ainda é um dos países com maior desigualdade de renda do mundo. Se esse crescimento econômico possibilitou que muitos brasileiros saíssem da condição de miséria extrema, entre os ricos também houve uma ampliação do poder aquisitivo, que é comprovada pelo aumento do mercado de produtos de luxo nas grandes metrópoles. Nesse ambiente, enquanto alguns bairros ganham edifícios de alto padrão, a periferia segue avançando, principalmente nas áreas mais distantes do centro. Em 1991, por exemplo, 3,1% da população brasileira vivia em favelas ou ocupações irregulares. Em 2010, esse número já estava em 6%, comprovando que a urbanização no Brasil foi acompanhada por um processo de favelização das cidades, apesar do grande desenvolvimento econômico do país.

LER TEXTO JORNALÍSTICO

Leia a reportagem a seguir e responda às questões. Cortiços: o mercado habitacional de exploração da pobreza A habitação constitui um dos mais graves problemas sociais da cidade de São Paulo. [...] Parece inacreditável a constatação de que os problemas que existiam nos cortiços no início do século 20, conforme estudos e jornais da época, sejam os mesmos dos dias de hoje. Dentre eles, destacam-se a grande concentração de pessoas em pequenos espaços; um único cômodo como moradia; ambientes com falta de ventilação e iluminação; uso de banheiros coletivos; instalações de esgotos danificados; falta de privacidade; e o fato de comporem um mercado de locação habitacional de alta lucratividade. Além desses aspectos, os cortiços mantêm as características de estarem, predominantemente, localizados nos bairros centrais da cidade, apresentarem diversas situações de ilegalidades e os seus moradores terem salários insuficientes para acessarem moradias adequadas. Os cortiços, diferentemente das favelas e de outras moradias precárias, quase não são visíveis na paisagem urbana, porque, em geral, são edificações que foram utilizadas como moradias unifamiliares, mas que atualmente abrigam dezenas de famílias. Logicamente, tornam-se visíveis sempre quando há interesse do capital imobiliário na região onde os cortiços estão instalados, porque seus moradores são os primeiros a serem expulsos. [...]

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História


[...] os resultados escolares apontaram que as crianças moradoras em cortiços possuíam quatro vezes mais chances de serem reprovadas quando comparadas com outros alunos da mesma série. A falta de espaço para dormir adequadamente, a insalubridade das moradias sem janelas, a rotatividade habitacional e a porta de entrada sempre aberta atingem diretamente o desempenho escolar das crianças. Ficou evidente que as condições precárias da moradia eram fatores de limitação para os estudos e geradoras de discriminação e segregação social e, consequentemente, de evasão escolar. [...] Por outro lado, os moradores de cortiços tornaramse importantes atores sociais quando formaram movimentos para reivindicar o direito à moradia digna no centro da cidade e, principalmente, quando utilizaram a estratégia de ocupar edifícios vazios. Isso porque denunciam a falta de política de habitação de interesse social para as áreas centrais da cidade e expõem as contradições do setor imobiliário, que deixa os imóveis abandonados sem função social aguardando valorização. Apesar da luta e mobilização empreendidas nos últimos 20 anos, pode-se afirmar que as inúmeras expressões da precariedade das moradias, o comprometimento de grande parcela da renda e a segregação social que sofrem seus moradores são fatores que fazem com que os cortiços sejam um fator para reprodução da pobreza e ampliação da desigualdade social. KOHARA, Luiz. Carta maior, 5 set. 2012. Disponível em: <www.cartamaior.com.br/templates/ materiaMostrar.cfm?materia_id=20832>. Acesso em: 18 out. 2012.

1. Identifique no texto quais são os problemas existentes nos corti-

ços desde o início do século XX até os dias de hoje. 2. Por que o autor afirma que, ao contrário das favelas, os cortiços

estão invisíveis na paisagem urbana? Explique. 3. De que maneira os moradores dos cortiços se tornam impor-

tantes atores sociais? De que forma eles atuam para reivindicar o direito à moradia? 4. Pesquise em meios de comunicação – jornais, revistas e na inter-

net – alguns movimentos sociais que reivindicam melhores condições de moradia nas cidades. Anote em seu caderno: a) o nome desses movimentos; b) o que eles reivindicam; c) que estratégias utilizam.

Por fim, debata com seus colegas de que forma esses movimentos podem ou não colaborar para melhorar as condições habitacionais nos grandes centros urbanos.

CONHECER MAIS

O neoliberalismo e a intensificação da desigualdade social Até os anos 1970, havia uma tendência por parte de vários Estados de controlar a economia e as grandes empresas, repassando parte do dinheiro arrecadado com elas para a população mais pobre. Esse repasse ocorria por meio dos altos investimentos em serviços públicos, como habitação, saúde, educação, seguro social, entre outros. Após esse período, intensificouse o processo de globalização, no qual as multinacionais começaram a ter facilidade de instalar suas sedes nos países que cobrassem os menores impostos e onde os trabalhadores recebessem salários mais baixos. Assim, os Estados tornaram-se reféns das grandes corporações, optando por reduzir os benefícios da população para garantir investimentos na economia de seu país. Esse modelo econômico, conhecido como neoliberalismo, colaborou para que a renda se concentrasse ainda mais nas mãos de alguns grupos, aumentando a desigualdade social. Na América Latina, favoreceu o enriquecimento de alguns setores e o empobrecimento de muitos cidadãos. Na história brasileira, o modelo neoliberal intensificou-se durante o mandato de Fernando Collor de Mello (1990-1992), quando a economia se abriu para a entrada de investimentos estrangeiros. Durante o governo de Fernando Henrique Cardoso (1994-2002), foram realizadas privatizações, ou seja, vendas de empresas públicas para grupos privados (a maior parte, multinacionais). No governo de Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010), a política econômica manteve traços neoliberais dos períodos anteriores. Porém, houve a tentativa de realizar investimentos em programas de distribuição de renda, como o Bolsa Família e o Prouni. A maior parte dessas políticas seguiram ativas após Dilma Rousseff assumir a presidência, em 2011.

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LER CANÇÃO

Caminhada 2 Quando minha família veio pra cá, eu tinha 13 anos, isso foi em 1989... Nessas comunidades que tem aqui, Parque Esperança, Criança Esperança, Parque Tiradentes... Paulinho foi o cara que encabeçou tudo, foi o cara que foi o grande líder pra todo mundo tá seguindo ele pra... pras invasões. E... aceitamos a ideia, acreditamos na ideia que a gente ia conseguir fazer a invasão, ia dar tudo certo, que o terreno ia ser nosso, que a gente precisava. Adotamos a ideia, acreditamos e entramos com tudo, mente, bolso, pés, mãos pra poder dar... fazendo parte do movimento dos sem-terra e sem-teto. Todo sábado e domingo a gente se reunia às 8 da manhã pra poder ficar capinando, porque era imenso o terreno e ninguém ia capinar pra gente, a gente que tinha que botar a mão e capinar.

Nega Gizza Giselle Gomes Souza, ou Nega Gizza, nasceu em Brás de Pina, subúrbio do Rio. Com o discurso afiado e a voz firme, Gizza teve (e tem) talento e rimas de sobra para se firmar num meio em que, até então, destacavam-se apenas vozes masculinas. Filha de empregada doméstica, aos sete anos vendia refrigerante e cerveja com seus irmãos no centro do Rio. [...] Após ter perdido seu irmão, Márcio, morto pela polícia aos 27 anos, Nega Gizza foi “adotada” como irmã por MV Bill, que a convidou para participar de sua banda como backing vocal. [...] Em 2001, Gizza venceu o Hutúz – o mais importante prêmio de rap da América Latina – na categoria Melhor Demo Feminino [...].

Ana Carolina Ferreira Brasil/Folha Imagem

Leia a seguir a letra do rap “Caminhada 2”, de Nega Gizza, e responda às questões.

Disponível em: <www.negagizza.com.br>. Acesso em: 8 ago. 2012.

A rapper Nega Gizza.

Nega Gizza. CD: Na humildade. Dum Dum Records, 2002.

1. De acordo com a letra da canção, o que a família da autora fez ao chegar nas comunidades citadas? 2. Qual foi o papel de Paulinho, segundo a canção, nesse processo? 3. Por que a letra diz que “acreditamos e entramos com tudo, mente, bolso, pés e mãos”? Explique. 4. O que você acha da atitude da família da compositora, levando em consideração o contexto em

que eles se encontravam? Justifique a sua resposta.

QUEM ATUA NA PERIFERIA? Como vimos ao longo do capítulo, o crescimento das periferias nas grandes cidades do Brasil se deu, de modo geral, sem os necessários investimentos do Estado em infraestrutura e serviços públicos de qualidade, como habitação, transporte, saúde e educação. Alguns programas governamentais mais recentes procuraram compensar essa ausência, como é o caso do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), lançado pelo governo Lula em 2007, que dobrou os recursos destinados à infraestrutura urbana até 2010. Seu objetivo era investir nas áreas de moradia e saneamento básico e, com a posse de Dilma em 2011, entrou numa segunda fase. 212

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Rafael Andrade/Folhapress

Essa ausência do poder público nas periferias favoreceu o surgimento de organizações não governamentais (ONGs), que hoje em dia atuam em comunidades de todo o Brasil. As ONGs podem se valer de recursos públicos, de instituições internacionais ou privadas para realizar seus projetos. No entanto, uma das críticas que se faz ao seu modo de funcionamento, quando utilizam recursos de origem governamental, é que esse dinheiro poderia servir para criar políticas públicas de grande alcance, já que geralmente essas associações fazem projetos em locais determinados. Por outro lado, algumas delas conseguiram trazer grandes benefícios a essas populações. A ausência do Estado nas periferias contribuiu também para o crescimento do crime organizado, principalmente o tráfico de drogas. Desde os anos 1990, a criminalidade e a violência atingiram números alarmantes. O comércio ilegal de drogas e armas gerou polos de riqueza dentro das periferias, atraindo especialmente jovens que veem no crime uma oportunidade para mudar a sua situação social. Hoje em dia, organizações surgidas dentro das cadeias, como o Comando Vermelho (CV), no Rio de Janeiro, e o Primeiro Comando da Capital (PCC), em São Paulo, constituem “poderes paralelos” em muitas favelas do Brasil. Os jovens da periferia que se envolvem com o crime organizado costumam ter vida curta. São assassinados pelos próprios traficantes ou em ações da polícia. A força policial, em muitas ocasiões, age movida pela ideia de que os jovens da periferia são, em sua maioria, criminosos em potencial, cometendo abusos e até assassinatos injustificados. Movidos pelo preconceito e pela certeza da impunidade, alguns policiais cometem crimes alegando o possível envolvimento das vítimas em ações criminosas. A vinda de grandes eventos internacionais para o Brasil (consequência do crescimento econômico do país nos últimos anos), como a Copa do Mundo de Futebol de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016, incentivaram ações para mudar a paisagem da periferia. No Rio de Janeiro, sede desses eventos, começaram a ser implementadas, a partir de 2008, Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), com o objetivo de combater as organizações criminosas que atuavam nas Policiais durante cerco à favela da Rocinha, no Rio de Janeiro (RJ), em 2011. Apesar de diminuir comunidades e instalar uma a violência após sua instalação, o processo de ocupação para implantar as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) costuma ser violento. polícia comunitária.

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Apesar de diminuir o crime em algumas regiões, esse projeto sofreu críticas. A principal delas foi o fato de grande parte das comunidades “pacificadas” se localizarem na zona sul carioca ou próximas de bairros de classe alta. Nesse sentido, seus críticos denunciam que as UPPs teriam como objetivo diminuir a criminalidade próxima a essa classe social, e não beneficiar os habitantes das periferias.

LER TEXTOS JORNALÍSTICOS

Leia os dois textos a seguir e responda às questões. Avanço da classe C “aquece” a economia, dizem analistas O Brasil foi um dos últimos países a entrar na crise econômica mundial e o primeiro a sair. O motivo do “sucesso”, segundo especialistas, está na nova classe C do país, cuja renda fica entre R$ 1 000 e R$ 4 500, e já soma mais de 50% da população. Nos últimos seis anos, de acordo com o economista Alex Mendes, professor de economia da Faculdade da Academia Brasileira de Educação e Cultura (Fabec), 20 milhões de brasileiros ascenderam para esta classe social. “A demanda, reprimida por anos de baixos salários, agora explode numa onda de consumo que ao que tudo indica veio para ficar. Somada aos trabalhadores que ganham um salário mínimo [...] a classe C vem buscando conforto e qualidade de vida, o que representa não só a aquisição de eletroeletrônicos, mas também o almejado sonho da casa própria, facilitado nos últimos anos pela estabilização econômica e novas linhas de financiamento”, analisa. [...] Jornal do Brasil, 26 jan. 2012. Disponível em: <www.jb.com.br/economia/noticias/2012/01/26/ avanco-da-classe-c-aquece-a-economia-dizem-analistas/>. Acesso em: 9 ago. 2012.

“Quem estiver esperando que a classe C apenas consuma vai tomar um susto. Eles estão querendo estudar” Sérgio Vaz é poeta e ativista, diretor da Cooperativa Cultural da Periferia (Cooperifa). No bairro de Piraporinha, zona sul da capital paulista, ele coordena um núcleo cultural que leva arte para as populações carentes da região. [...] “Os jovens da periferia não estão mais se inspirando só nos artistas – estão se inspirando nas universidades. Tem muito jovem se inspirando em advogado, devido às faculdades terem chegado mais perto... a molecada está se inspirando em ser médico, veterinário. A arte não é uma coisa que salva ninguém. A gente sempre diz que a Cooperifa não te prepara pra ser escritor, te prepara para ir pra universidade. O grande barato é que você pode ser médico E poeta. A gente sempre trabalha no sentido de fazer os jovens voltarem a estudar”. “Essa nova classe C que eles chamam, é C de correria. Essas pessoas foram atrás da televisão, atrás da geladeira... agora elas já estão atrás do curso de inglês, de formação. Quem estiver esperando essa classe C consumir, só, no shopping, vai tomar um susto. A rapaziada está se preparando pra ler também, pra fazer cursos.” VAZ, Sérgio. Revista Trip, 13 out. 2011. Disponível em: <http://revistatrip.uol.com.br/ tv-trip/sergio-vaz.html>. Acesso em: 9 ago. 2012.

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1. De acordo com o primeiro texto, qual foi o principal fator para que o Brasil fosse o país menos

prejudicado pela crise econômica mundial? 2. O que Sérvio Vaz quer dizer, no segundo texto, com a frase “Os jovens da periferia não estão mais

se inspirando só nos artistas – estão se inspirando nas universidades”? 3. Você reconhece, no seu cotidiano, um maior poder de consumo na chamada classe C? Justifique. 4. Você considera que a chamada classe C tem mais acesso à educação do que alguns anos atrás?

Justifique sua opinião.

MOVIMENTOS CULTURAIS: A PERIFERIA SE AFIRMA Nas últimas décadas, diversos movimentos culturais surgiram nas periferias do Brasil, refletindo sobre o dia a dia dessas comunidades. Artistas, escritores e pensadores nascidos em regiões periféricas procuram utilizar o seu talento para pensar os temas e as questões de quem vive nas áreas mais pobres dos centros urbanos. Muitas vezes, esses movimentos culturais não são conhecidos pela grande imprensa, mas circulam em circuitos paralelos. Os artistas divulgam seu trabalho com ajuda da propaganda boca a boca, do mercado de CDs piratas (por meio dos camelôs) e da internet. Muitas vezes desconhecida pelas elites, a cultura da periferia ganha força debatendo os assuntos dessas regiões e falando a linguagem das ruas. Um dos movimentos culturais que discutem a periferia de forma mais politizada é o hip-hop. Inicialmente praticado nos Estados Unidos, ele é seguido no Brasil sobretudo por jovens negros, nascidos nos bairros pobres das grandes cidades. Na música, o hip-hop caracteriza-se por letras questionadoras; nas artes visuais, destaca-se por meio do grafite; na dança, ocupa os espaços urbanos com o breakdance. Esse movimento vem ganhando força na mídia. Um exemplo disso é o programa Manos e minas, que a TV Cultura passou a exibir em 2008, voltado para o público jovem. Ligado à cultura hip-hop, outro movimento que se destaca é o rap, estilo musical que traz letras contundentes, com rimas. Nas periferias do Brasil, há muitos grupos que compõem letras questionando a exclusão social e a condição dos jovens em um mundo de possibilidades restritas. O principal grupo de rap brasileiro é o Racionais MC’s, liderado por Mano Brown, atuante na periferia de São Paulo desde os anos 1990. GLOSSÁRIO Sarau: reunião onde ocorrem Para o escritor Sérgio Vaz, organizador de um sarau poético semaapresentações culturais de nal no bairro da Piraporinha, periferia de São Paulo, os artistas desses literatura, poesia, música, teatro, dança, entre outras. movimentos colaboram para fortalecer a cidadania na periferia. [...] Falávamos sobre a cidadania e problemas próprios da juventude e do país. As conversas eram diretas e sem frescuras. [...] Daí fui percebendo a força dos artistas da comunidade no fortalecimento da cidadania da periferia, e que a gente precisava mudar a, e não mudar da periferia. VAZ, Sérgio. Cooperifa: antologia periférica. Rio de Janeiro: Aeroplano, 2008. p. 62. (Tramas urbanas.)

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Wado Lao

Outro fenômeno cultural que nasceu na periferia foi o funk carioca, um gênero de música eletrônica geralmente comandado por um DJ. Assim como o rap, esse estilo foi influenciado pela cultura estadunidense, mas incorporou elementos nacionais. Ao contrário de outros movimentos nascidos nas periferias, o funk carioca ganhou a grande mídia e passou a ser escutado também pelos jovens de elite. Vale destacar um movimento cultural que hoje é reconhecido como nacional, mas que também nasceu nas periferias urbanas: o samba. Dentro desse ritmo, existem diversos grupos e gêneros (como o pagode, o partido alto, entre muitos outros). As escolas de samba também costumam ser locais de encontro e de atuação política em várias comunidades periféricas, principalmente nos morros do Rio de Janeiro, onde elas têm muita tradição. O samba está presente em todas as periferias do país. Há muitos outros movimentos culturais que ganham espaço nas periferias brasileiras, como o tecnobrega, predominante em Belém; o forró, dominante no Norte, Nordeste e nas comunidades de migrantes dessas regiões pelo Brasil; o lambadão, que cresce no Mato Grosso; entre outros. Com a expansão de igrejas evangélicas nas comunidades, o gospel, que traz letras religiosas, também passou a fazer sucesso entre os fiéis. O mesmo aconteceu com algumas vertentes católicas, conhecidas como “carismáticas”, que compõem canções para animar as missas e, dessa forma, atrair mais seguidores. Geralmente, todos esses estilos se difundem por meio de CDs de produção caseira, vendidos por ambulantes nas ruas das cidades. Dessa maneira, as bandas independem das rádios e das gravadoras para conquistar um público amplo.

Samba da Vela, com participação especial de Osvaldinho da Cuíca, São Paulo (SP), 2009.

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LER IMAGENS

Coleção Sérgio Fadel, Rio de Janeiro

Reúnam-se em grupos de cerca de cinco pessoas. Observem atentamente as imagens e sigam o roteiro de trabalho.

Frederic Soltan/Corbis/Latinstock

Tarsila do Amaral. Morro da favela, 1924. Óleo sobre tela, 64 × 76 cm.

Trabalho dos grafiteiros Osgemeos, feito em Lisboa, Portugal. Foto de 2011.

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1. Qual dessas duas imagens melhor representa a periferia? Por quê? Discutam em grupo essa questão. 2. Elaborem uma tabela com duas colunas. Em uma delas, escrevam os argumentos usados pelos

membros do grupo para defenderem a imagem de Tarsila do Amaral. Na outra, façam uma lista com os argumentos que apareceram durante a discussão para defender a imagem de Osgemeos como a mais representativa.

3. Com base na tabela, escrevam um pequeno texto coletivo dizendo que características um traba-

lho artístico deveria ter, na opinião do grupo, para representar a periferia.

4. Cada grupo deve ler seu texto para a classe. Debatam com os demais colegas as diferentes opi-

niões que aparecerem. LER DOCUMENTO

Em 2007, São Paulo foi palco da Semana de Arte Moderna da Periferia, evento que reuniu apresentações de artes plásticas, dança, literatura, cinema, teatro e música. Esse momento foi importante para os artistas da periferia, pois representou a força que eles começaram a ter após o surgimento de inúmeras iniciativas espalhadas pela cidade. Leia o documento a seguir, de autoria de Sérgio Vaz, organizador do evento, e responda às questões seguintes. Manifesto da antropofagia periférica A Periferia nos une pelo amor, pela dor e pela cor. Dos becos e vielas há de vir a voz que grita contra o silêncio que nos pune, eis que surge das ladeiras um povo lindo e inteligente, galopando contra o passado. A favor de um futuro limpo, para todos os brasileiros. A favor de um subúrbio que clama por arte e cultura, e universidade para a diversidade [...]. A arte que liberta não pode vir da mão que escraviza. A favor do batuque da cozinha que nasce na cozinha e sinhá não quer [...]. É preciso surgir na arte um novo tipo de artista: o artista-cidadão. Aquele que na sua arte não revoluciona o mundo, mas também não compactua com a mediocridade que imbeciliza um povo desprovido de oportunidades. Um artista a serviço da comunidade, do país. [...] Contra o capital que ignora o interior a favor do exterior. Miami pra eles? “Me ame!” pra nós. [...] Contra o artista serviçal escravo da vaidade. Contra os vampiros das verbas públicas e arte privada. A Arte que liberta não pode vir da mão que escraviza. Por uma periferia que nos une pelo amor, pela dor e pela cor. É tudo nosso! VAZ, Sérgio. Cooperifa: antologia periférica. Rio de Janeiro: Aeroplano, 2008. p. 246-250. (Tramas urbanas.)

1. Por que o autor diz que “a Periferia nos une pelo amor, pela dor e pela cor”? Explique.

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2. O que o autor defende com a frase “a arte que liberta não pode vir da mão que escraviza”? Justifique.

3. Como será o novo tipo de artista que precisa surgir, de acordo com o autor?

DA CAPOEIRA AO HIP-HOP No sistema escravista, os africanos trazidos para o Brasil perdiam o domínio sobre o próprio corpo, visto pelos senhores como instrumento de trabalho. Além disso, nas sociedades africanas, o corpo era um forte símbolo de identidade do povo ao qual o indivíduo pertencia, sendo caracterizado por penteados, marcas na pele, perfurações, entre outros elementos. Ao serem transformados em escravos, esses homens e mulheres tinham suas diferenciações retiradas, junto a sua cultura, seu passado e seus laços comunitários. Nesse sentido, na luta contra a escravidão e a exploração, os africanos e seus descendentes desenvolveram novas linguagens corporais que resgatassem as suas raízes, além de criarem formas de resistência física contra o opressor. De acordo com Kabenguele Munanga e Nilma Lino Gomes: De uma ponta a outra do continente americano e do Brasil a população negra utilizou o corpo como instrumento de resistência sociocultural e como agente emancipador da escravidão. Seja pela religiosidade, pela dança, pela luta, pela expressão, a via corporal foi o percurso adotado para combate, resistência e construção da identidade. MUNANGA, Kabenguele; GOMES, Nilma Lino. Para entender o negro no Brasil de hoje: história, realidades, problemas e caminhos. São Paulo: Global, 2006. p. 116.

A capoeira, espécie de luta coreográfica, foi uma das manifestações culturais que mais desempenharam o papel de construção de identidade e de resistência negra no Brasil. No sistema escravista, ela colaborou nas fugas e também foi arma 9º ano

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Rogério Reis/Pulsar

importante nos quilombos. Com o passar do tempo, transformou-se em característica comum nas comunidades afro-brasileiras, sendo praticada escondida do governo até 1932, quando sua prática foi finalmente legalizada. Além da capoeira, cada vez mais presente em toda a sociedade brasileira como prática esportiva e recreativa, outras práticas corporais surgiram recentemente entre os jovens negros e pobres brasileiros. Desde a década de 1970, quando os bailes de black music estadunidenses passaram a estar presentes nas periferias das cidades brasileiras, estilos musicais como o funk e o hip-hop ganham adeptos por todo o país. Como vimos ao longo deste capítulo, esses estilos musicais criaram uma cultura periférica, já que são produzidos e consumidos por pessoas que habitam esses locais dos centros urbanos. Apesar de não serem admirados apenas por afrodescendentes, mas por jovens de todas as origens, pode-se dizer que o funk e o hip-hop expressam a presença da juventude negra em sua criação. Podemos identificar essa característica principalmente nas letras politizadas do rap (que integra a cultura hip-hop), que abordam as dificuldades e a luta dos negros que vivem nas periferias urbanas.

Grupo de dança de rua Byboys, em apresentação de hip-hop em Cidelândia (MA), 2008.

DEBATER

Converse com seus colegas sobre os itens a seguir. 1. Considerando que uma das estratégias de repressão no sistema escravista era retirar traços de

identidade do corpo dos africanos, qual era a importância de manifestações culturais como a capoeira? Explique. 220

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2. Faça uma pesquisa na internet ou em CDs musicais que você conheça de grupos de funk e de hip-

-hop. Encontre uma letra de música que trate da questão do negro na sociedade. Apresente a letra para a classe chamando atenção para as seguintes questões: a) Como o negro é retratado na letra?

b) A letra faz referência ao passado de escravidão? De que maneira? c) Quais são as dificuldades enfrentadas pelo negro na sociedade de hoje que o grupo ou o can-

tor quis ressaltar? PARA AMPLIAR SEUS ESTUDOS

Livro

Literatura, pão e poesia

Traz textos produzidos por Sérgio Vaz, que se tornou uma referência para a chamada “cultura periférica” após organizar o Sarau da Coperifa. VAZ, Sérgio. Literatura, pão e poesia. São Paulo: Global, 2011.

Sites

Colecionador de pedras VAZ, Sérgio. Colecionador de pedras. Disponível em: <www.colecionadordepedras1.blogspot.com>. Acesso em: 26 set. 2012.

Suburbano convicto BUZO, Alessandro. Suburbano convicto. Disponível em: <www.buzo10.blogspot.com.br>. Acesso em: 26 set. 2012.

Filme

5x favela: agora por nós mesmos

Inspirado em um filme de 1962, que mostrava cinco episódios de ficção ocorridos em favelas, o filme foi realizado por diretores vindos das periferias brasileiras. Traz cinco histórias diferentes que mostram problemas enfrentados nas comunidades do Brasil. Direção: Wagner Novais, Manaira Carneiro e Rodrigo Felha. Brasil, 2009. 103 min.

9º ano

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Bibliografia

HISTÓRIA AGGIO, Alberto. Democracia e socialismo. São Paulo: Annablume, 2002. BETHELL, Leslie (Org.). História da América Latina: a América Latina após 1930. São Paulo: Edusp, 2012. v. 8. BOAHEN, Albert Adu (Ed.). História geral da África: África sob dominação colonial, 1880-1935. Brasília: Unesco, 2010. v. 7. CAPELATO, Maria Helena Rolim. Multidões em cena. São Paulo: Unesp, 2009. HOBSBAWM, Eric J. A era dos extremos: o breve século XX. São Paulo: Companhia das Letras, 2008. ______. Globalização, democracia e terrorismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. FARIA, Ricardo de Moura. Da Guerra Fria à Nova Ordem Mundial. São Paulo: Contexto, 2003. GOMES, Angela de Castro et alli. A República no Brasil. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2002. MAZRUI, Ali A.; WONDJI, Christophe. História geral da África: África desde 1935. v. 8. Brasília: Unesco, 2010. MATOS, Olgária. Paris 1968: as barricadas do desejo. São Pulo: Brasiliense, 1989. NAPOLITANO, Marcos. Cultura brasileira: utopia e massificação (1950-1980). São Paulo: Contexto, 2001. PIMENTA, Heyk; COHN, Sérgio. Maio de 68. São Paulo: Azougue, 2008. SADER, Emir. Transição no Brasil: da ditadura à democracia? São Paulo: Atual, 1990.

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História


UNIDADE 5

Geografia



Capítulo

1

GEOGRAFIA

Globalização, territórios e redes geográficas

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R. Black

A

té o final do primeiro semestre de 2008, tudo parecia ir bem na GLOSSÁRIO economia mundial: os bancos mostravam estabilidade, havia créHipotecas: documenditos disponíveis no mercado financeiro, a China mantinha elevado tos ou contratos que estabelecem garantia crescimento econômico – na casa dos 10% ao ano –, e o Brasil aprede pagamento de dívida referente a bens imóveis. sentava bons resultados no mercado de exportação de commodities. Os debates internacionais giravam em torno da aparente contradição entre a produção de etanol e a de alimentos. Entretanto, o que ocorreu nos anos seguintes foi uma turbulência financeira sem precedentes nas últimas décadas, um verdadeiro “terremoto”. Ela se originou no mercado de crédito imobiliário dos Estados Unidos (bancos, seguradoras, empresas de hipotecas etc.). Depois, tanto nos Estados Unidos como em outros países, como alguns da Europa, bancos faliram, empresas fecharam as portas e começaram a faltar créditos para indivíduos, indústrias e outros setores. Pequenos investidores perderam dinheiro em bolsas de valores. Empresas com imagem de solidez, como as montadoras de automóveis, tiveram de pedir ajuda econômica ao governo norteamericano e notícias de desemprego passaram a tomar conta dos jornais. No caso de empresas norte-americanas e japonesas, Cartaz do movimento Occupy Wall Street, criado nos Estados Unidos, convocando para marchas, manifestações de protesto e ocupação de praças e outros espaços em novembro de 2011. O uma constante: demissões em movimento se posiciona contra as políticas econômicas e as instituições financeiras, que para os seus ativistas seriam os grandes responsáveis pela crise financeira global e naquele país. suas unidades no mundo todo.

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Nos anos de 2011 e 2012, alguns países que integram a União Europeia começaram a despertar dúvidas no mercado internacional quanto à possibilidade de saldar ou refinanciar suas dívidas, o que gerou novas instabilidades no cenário econômico mundial. Entre eles, estava principalmente a Grécia, mas também Itália, Espanha, Irlanda e Portugal. No caso dos gregos, foi necessário aprovar um “pacote” de ajuda, com recursos e empréstimos de um fundo europeu e também do Fundo Monetário Internacional (FMI). Os cortes de gastos públicos e os aumentos de impostos, entre outras medidas, provocaram fortes protestos de cidadãos gregos. Para muitos estudiosos, essa foi uma crise sistêmica, que atingiu setores de atividade econômica como um todo. Muitas análises do problema foram feitas e medidas para resolvê-lo foram tomadas desde então. Algumas análises apontavam para uma crise da globalização ou atribuíam a responsabilidade pela crise à globalização capitalista – em especial do mercado financeiro, que atua no planeta inteiro em tempo integral e desconhece fronteiras. Mas, afinal, o que é globalização? Como se configura essa nova fase do capitalismo? Em que medida ela se associa à crise que se iniciou em 2008? É o que veremos a seguir, sem a pretensão de apresentar respostas definitivas a essas perguntas.

O ADVENTO DA GLOBALIZAÇÃO GLOSSÁRIO

O período ou fase do capitalismo mundial conhecido Economia centralmente planificada: como globalização surgiu, segundo vários pesquisadores, a o termo refere-se às economias dos países do chamado socialismo real. Distingue-se partir da década de 1980, numa convergência de fatores de das economias capitalistas de mercado diferentes ordens. Entre eles, estão: pelo planejamento centralizado e pela propriedade estatal dos meios de produção: • Desmoronamento dos regimes de economia ceninstrumentos de trabalho como máquinas, ferramentas, instalações, insumos agrícolas tralmente planificada: isso ocorreu na União Soviéetc., e objetos de trabalho, elementos sobre tica e nos países que giravam em sua órbita, no final os quais ocorre o trabalho humano, como terra, matérias-primas e recursos naturais), da década de 1980 e início da década seguinte. Tal pertencem ao Estado. fato permitiu a ampliação dos mercados e das emMuro de Berlim: no final da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), Berlim, capital presas, já que esses países eram uma barreira aos da Alemanha, foi dividida em quatro áreas, que passaram a ser administradas pelos interesses capitalistas. A queda do Muro de Berlim, vencedores do conflito (União Soviética, em 1989, que dividia a cidade alemã em duas parEstados Unidos, França e Inglaterra). Em 1961, com o acirramento das disputas entre tes, foi um símbolo desse processo. soviéticos e norte-americanos, a Alemanha • Desenvolvimento dos meios de transporte, coOriental, sob influência soviética, construiu um muro dividindo Berlim. Assim, impediumunicações e informações: permitiu transpor -se o trânsito de pessoas entre os lados capitalista e socialista. Em 1989, com a mais rapidamente distâncias (pelo menos as que crise do socialismo na região, o muro foi são medidas em quilômetros), superar isolamenderrubado. Foi um ato simbólico para o fim do regime socialista no lado oriental e um tos geográficos e estabelecer possibilidades de passo para a reunificação alemã. novas interações sociais. Com isso, foi possível intensificar a produção e a circulação de bens, pessoas e informações nas últimas décadas. Começa a se erguer uma nova escala geográfica de relações humanas, a escala global. 226

Geografia


• Criação e expansão da rede mundial de computadores: com os

avanços recentes da informática e da microeletrônica, surgiu a rede mundial de computadores, que tornou possível a comunicação simultânea e instantânea, em tempo real, entre diferentes grupos, indivíduos e lugares de diversas partes do mundo (embora ainda tenha distribuição e acesso bastante desiguais). Isso favoreceu a agilização das operações financeiras e as trocas de informações e ordens entre unidades de empresas do setor produtivo. Surgem grandes empresas do ramo das tecnologias de informática, especializadas em produzir novos aparelhos e programas. • Reestruturação do sistema produtivo e da produção de bens: os sistemas produtivos passaram a ser mais descentralizados, flexíveis e adaptáveis. Cada vez mais, as grandes empresas – em especial as chamadas transnacionais – procuram criar fábricas menores, mais enxutas e movidas à base de uso intensivo de tecnologias. Ficou mais fácil para as empresas industriais fecharem unidades e transferi-las de um país a outro, de acordo com seus interesses. No caso do sistema financeiro, temos o “dinheiro que nunca dorme”: as aplicações financeiras são feitas em bolsas de valores e outras instituições mundiais 24 horas por dia. Caro/Alamy/Otherimages

Manifestação no Muro de Berlim (Alemanha) em 1989, no momento de sua derrubada.

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LER MAPA

Ilustração digital: Sonia Vaz

Observe o mapa e responda às perguntas a seguir: Toyota Locais de produção e mercados – 2009

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2 700

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Fonte: Atelier de Cartographie Sciences Po. Disponível em: <http://cartographie.sciences-po.fr/fr/cartotheque>. Acesso em: 23 ago. 2012.

1. Qual é o tema retratado no mapa? Quais recursos da cartografia foram utilizados em sua elaboração? 2. Qual é o país de origem da empresa retratada? Qual é o principal produto feito por ela? 3. Em quais países e continentes ela possui unidades produtivas e/ou de pesquisa? 4. Responda também: qual região do planeta produz grande parte das peças que compõem seus

produtos? Em que regiões do planeta situam-se seus centros de pesquisa? 5. Cite os nomes das duas regiões que constituem os maiores mercados consumidores dos produtos

da empresa (segundo as vendas). Descubra também o nome da região que recebe o maior volume de veículos exportados pelo país de origem da empresa retratada.

AS EMPRESAS TRANSNACIONAIS O que o mapa revela? Ele mostra que as grandes empresas transnacionais possuem uma estratégia espacial que envolve o planeta inteiro. No exemplo, uma empresa atua segundo uma divisão do trabalho em escala planetária na produção e no fluxo das peças para a montagem dos produtos. Por que essas empresas são chamadas de transnacionais? Aí está uma pista para compreender a globalização. Antes, as empresas multinacionais, originárias 228

Geografia


de determinados países – Japão, Estados CONHECER MAIS Unidos, Alemanha etc. –, instalavam suas Empresas chinesas são as que têm maior filiais em outros pontos do planeta. Os luinteresse no país cros obtidos pelas unidades eram remetiPrevisão de alta demanda do mercado brasileiro, filiais dos, em parte, para a matriz situada no país locais lucrativas e generosos subsídios oferecidos por munide origem da empresa. Daí o prefixo multi, cípios e estados atraem as montadoras que quer dizer “muitos”, no caso de “muitas Maior mercado para a Fiat, segundo maior para a nações”. Volkswagen e terceiro para a General Motors, o Brasil No caso das transnacionais, o prefixo vem batendo recordes de vendas e este ano deve atingir 3,7 milhões de veículos. O Produto Interno Bruto (PIB), trans vem de “transcender, superar, ultraque cresceu 7,5% em 2010 e deve desacelerar para cerca passar”. Assim, são grandes conglomerade 4%, ainda assim é atrativo para empresas de mercados econômicos cuja ação ultrapassa as dos estagnados como Europa, Japão e Estados Unidos. Além de modelos compactos mais baratos, o país fronteiras nacionais. Aproveitando as atuais atrai fabricantes de carros de luxo, como a alemã BMW, possibilidades técnicas de transportes, coque deve anunciar uma fábrica nos próximos meses. A municações e informações, sua base de japonesa Suzuki já escolheu Goiás para produzir o jeep Jimny, importado hoje por R$ 55 mil. A previsão é que o operações passa a ser o planeta como um mercado brasileiro consuma 6 milhões de veículos até todo. Sendo assim, muitas vezes as peças e 2020. os componentes de um produto são feitos Outro atrativo para as montadoras é que as subsidiárias locais costumam ser lucrativas, às vezes mais do em dois países diferentes e o produto final que as próprias matrizes. Também há generosa oferta de é montado num terceiro país – que, por sua subsídios dos municípios e estados para receber as fávez, exporta os bens produzidos para outros bricas, que, na visão dos governantes, geram empregos e desenvolvimento tecnológico. mercados nacionais. As empresas chinesas são as mais interessadas em Há, assim, um nítido enfraquecimento fincar raízes no país. Além das que já anunciaram invesdas fronteiras e uma redução do grau de timentos, estão na lista de interessadas Geely, BYD, Sinotruk, Foton, Great Wall e Haima/Changan. Para alguns comprometimento da empresa com as reaanalistas, o interesse tem a ver com a semelhança dos lidades nacionais. A empresa retratada no mercados, com ênfase em carros mais baratos e legislamapa, assim como muitas outras, possui ção menos rígida em questão de segurança. bases estratégicas no país de origem. Mas Fonte: SILVA, Cleide. O Estado de S. Paulo, 28 set. 2011. Disponível em: <www.estadao.com. br/noticias/impresso,empresas-chinesas-sao-as-que-tem-maior-interesse-no-pais,765100,0. também possui unidades importantes em htm>. Acesso em: 24 ago. 2012. outros países e continentes, como as fábricas, as sedes dedicadas à pesquisa e uma extensa rede de unidades produtivas e de comercialização dos bens. Assim, cria um circuito próprio, que já não é mais nacional. É o que acontece com os automóveis, mas também com televisores, computadores, motocicletas e outros bens. As fábricas que montam os automóveis hoje são menores que as do passado: enquanto na década de 1970 algumas montadoras chegavam a empregar mais de 10 mil operários, atualmente as unidades funcionam com cerca de mil a 2 mil funcionários – incluindo os do setor administrativo. Sendo assim, estas unidades podem ser fechadas e transferidas rapidamente, desvinculando-se do país que as sedia. É preciso dizer também que muitas empresas, como a que foi apresentada, contam com o apoio de Estados nacionais para funcionar dessa maneira. Um

9º ano

229


modo de fazer isso é obtendo benefícios fiscais, seja no plano federal, estadual ou municipal. No Brasil, por exemplo, é muito comum empresas receberem terrenos e isenções de impostos, como o IPTU e as taxas de importação. Isso provoca uma verdadeira “guerra entre lugares” (no caso do Brasil, entre municípios e, até mesmo, entre estados da federação) para sediar novas empresas, sempre com a promessa de que a iniciativa poderá gerar muitos empregos. Na verdade, como vimos, muitas vezes não passam de algumas centenas de novos postos de trabalho. Além disso, os recursos públicos gastos na instalação dessas empresas poderiam ser destinados a áreas sociais como habitação, saúde ou educação.

PESQUISAR

Reúna-se com um grupo de colegas e realize a seguinte pesquisa: há situações de instalação de novas empresas como as citadas em seu município ou região? Se sim, entre elas estão empresas transnacionais? O governo auxiliou empresas com recursos públicos? Quais? Tente descobrir também quantos empregos diretos pelo menos uma dessas empresas gerou. Verifique também se alguma empresa antes instalada em seu município se mudou para outro. Procure saber as razões que a levaram a decidir pela mudança. Por fim, anote também as opiniões do grupo sobre o tema da pesquisa, considerando impactos trazidos pela instalação de novas empresas. LER MAPA E TEXTO

Principais praças financeiras do mundo – 2009

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Fonte: Atelier de Cartographie Sciences Po. Disponível em: <http://cartographie.sciences-po.fr/fr/cartotheque>. Acesso em: 23 ago. 2012.

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Ilustração digital: Sonia Vaz

O mapa e o texto a seguir trazem informações sobre o sistema financeiro internacional. Observe-os e responda às perguntas a seguir:


Planeta finança Consequência das políticas de liberalização dos anos 1980 e também dos progressos tecnológicos na informática e nas telecomunicações, a finança é um dos campos mais integrados no tempo (funciona 24 horas por dia e em tempo real sob a forma de redes do mercado financeiro) e no espaço (presença permanente de capitais). A desregulamentação financeira favoreceu particularmente os intercâmbios de valores financeiros entre os países ricos, que emitem e recebem a maioria dos fluxos de capitais. Permitiu também a redução dos custos de financiamento dos países emergentes, os quais, a exemplo da China, souberam beneficiar-se da situação para atrair investimentos estrangeiros e desenvolver sua economia.

GLOSSÁRIO

Liberalização: conjunto de ideias baseadas na economia de mercado e da livre empresa. Os que defendem essa perspectiva são contrários à participação do Estado nas relações econômicas e pregam a redução ou eliminação de regras que possam frear os empreendimentos econômicos. Países emergentes: refere-se a países em desenvolvimento que vêm alcançando nos últimos anos expressivos índices de crescimento econômico. Querem ter mais voz e participação nas decisões econômicas e políticas em escala mundial. Entre eles, estão Brasil, China, Índia, Rússia e África do Sul. Recessão: situação de declínio da atividade econômica marcada pela combinação entre queda da produção, aumento do desemprego, redução de lucros, crescimento no número de empresas que vão à falência, por exemplo.

Crash das bolsas em 2008 Depois de cinco anos de altas ininterruptas, os merFontes: DURAND, Marie-Françoise e outros. Atlas da mundialização: compreender o espaço mundial cados financeiros registraram em 2008 quedas espetaculares, contemporâneo. São Paulo: Saraiva, 2009; SANDRONI, de −42% em Paris até −67% para o índice de Moscou. Reflexo Paulo. Dicionário de economia do século XXI. Rio de Janeiro: Record, 2005. do valor econômico das empresas (ou seja, a soma atualizada de benefícios futuros previstos), a cotação das ações diminuiu drasticamente diante do medo de uma recessão mundial em 2009, relacionada à disseminação dos créditos de risco em todo o planeta. O perfil similar das curvas de evolução das bolsas de valores reflete a interdependência entre os diferentes mercados financeiros mundiais. Fonte: DURAND, Marie-Françoise e outros. Atlas da mundialização: compreender o espaço mundial contemporâneo. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 64-65. (Texto adaptado.)

1. Qual é o tema retratado no mapa? Quais recursos da cartografia foram utilizados em sua elaboração? 2. Das instituições financeiras apresentadas no mapa, cite três que operam com grande volume de

capitais. 3. Das praças ou instituições financeiras apresentadas, cite três localizadas em países em desenvol-

vimento. Compare o volume de capitais dessas praças com o de outras situadas em países ricos. 4. De acordo com o texto, o que ocorreu após 2008 nos mercados financeiros de todo o mundo? 5. Examinando o mapa e o texto, responda: como as aplicações financeiras podem ser realizadas

24 horas por dia, todos os dias? Quais são os recursos tecnológicos que permitem às bolsas de valores operarem o tempo todo? Explique e dê exemplos.

O SISTEMA FINANCEIRO GLOBAL O termo sistema financeiro se refere a um setor da economia que envolve atividades e processos relacionados a créditos, operações de valorização de capitais, ações de empresas e movimentos com títulos e obrigações emitidos pelos Estados. O setor é composto por bancos privados e estatais, bancos comerciais e de desenvolvimento, casas de câmbio, bolsas de valores, corretoras de seguros e 9º ano

231


outras. Os Estados também contam com agências que operam no setor e regulam a atividade financeira em cada território nacional, como bancos centrais e conselhos monetários nacionais. Existem instituições e praças financeiras de diferentes portes e volumes de investimento. Entre as maiores estão as bolsas de valores de Nova York (incluindo a Nasdaq, que possui ações de empresas de alta tecnologia, as chamadas “ponto-com”), Tóquio e Londres. Como mostram o mapa e o texto, a turbulência financeira ocorrida a partir de 2008 provocou sucessivas perdas nessas instituições e também no valor das ações de diversas empresas. Investidores perderam dinheiro e várias empresas deixaram de ter acesso a créditos, o que interferiu diretamente nas atividades produtivas e nas taxas de emprego. Por outro lado, os negócios ligados ao setor financeiro vêm se consolidando também em países emergentes, como Brasil, China, Rússia, Índia e África do Sul, embora eles tenham sido um pouco afetados pela crise citada. Vale lembrar que o sistema financeiro é altamente especulativo. Assim, de acordo com seus interesses, os investidores vendem ações e outros papéis em uma bolsa e quase que instantaneamente podem transferir recursos e realizar operações financeiras em outras partes do mundo. Como já vimos, trata-se de um “dinheiro que nunca dorme”. É um sistema muito integrado: ao raiar de um novo dia no Oriente, investidores que operam na Europa, nos Estados Unidos ou no Brasil, por exemplo, já podem realizar operações nas bolsas de Tóquio ou de Hong Kong, no leste asiático. Assim, forma-se uma rede mundial em que os recursos financeiros nunca se territorializam – ou seja, não são aplicados em atividades produtivas permanentes, que exigem recursos disponíveis no território, como água, matérias-primas e estradas. Tais recursos circulam num espaço eletrônico, com algumas bases terrestres CONHECER MAIS de apoio, e têm como suportes os satélites, caO tempo real e as operações financeiras bos de fibra ótica e computadores, por exemplo. No mundo atual, a noção de tempo real É assim que um abalo num dado mercado ganha realidade, trazendo à vida social e poé capaz de afetar o sistema econômico como lítica, sobretudo aos negócios, novos pontos de apoio. O uso adequado e preciso do temum todo. Como se sabe, diante de turbulênpo e do espaço multiplica a eficácia e o poder cias, os investidores buscam imediatamente das empresas capazes de utilizar essas novas retirar seus capitais investidos em uma deterpossibilidades. Mas são as atividades financeiras que minada instituição e em certos tipos de aplicamelhor se beneficiam desse enquadramento ção e transferi-los para outras operações mais rigoroso do tempo. O dinheiro, em suas múlseguras, gerando uma espécie de “efeito domitiplas formas, pode agora fluir globalmente, 24 horas sobre 24 horas, ligado por uma vasta nó” em que diversos operadores e investidores rede interativa de comunicações funcionando passam a fazer a mesma coisa. E isso passa a sem descanso. Pontos estrategicamente disocorrer num setor que é uma força considepostos na superfície da Terra são interligados mediante computadores, televisões, satélites, rável nos destinos da economia global. Todo cabos submarinos, fibras óticas […]. dia são movimentados trilhões de dólares em SANTOS, Milton. A natureza do espaço. Técnica e tempo. Razão e emoção. operações financeiras. São Paulo: Edusp, 1997. p. 160. 232

Geografia


Embora os efeitos de crises e fugas de capitais sejam nefastos para as economias e as sociedades, nem todos os problemas decorrem da atuação dos agentes financeiros globais. Por exemplo: as taxas de desemprego também podem aumentar em função de políticas econômicas nacionais equivocadas ou por decisões de setores econômicos ou empresas do setor produtivo. Como vimos, não é raro uma empresa transnacional ou uma empresa nacional fechar uma fábrica num lugar para em seguida reabri-la em outro – criando instabilidades para a localidade que antes a sediava.

Spencer Platt/Getty Images

Operadores da bolsa Nasdaq, em Nova York (EUA), 2012. A instituição realiza operações financeiras relacionadas a empresas e setores de alta tecnologia.

UMA GEOGRAFIA DAS REDES Vimos que, para que algumas atividades ocorram em escala global, é preciso existir equipamentos e infraestruturas de transportes, comunicações e informações. Assim, para que as empresas e o setor financeiro prossigam em sua busca voraz por lucros de forma competitiva, é preciso que haja fluidez do espaço. O que significa isso? Significa que os bens, as pessoas, as mercadorias, as informações, o dinheiro, as ideias e as ordens devem fluir – ou seja, circular, transitar – o mais livremente possível. Por exemplo, trens quebrados ou atrasados, assim como panes em linhas de transmissão de energia elétrica, rompem essa fluidez. O que dá maior fluidez ao espaço no mundo atual? Ela resulta da construção de redes técnicas, baseadas na procura incessante de novas tecnologias, cada vez mais eficazes. Como destaca o geógrafo Milton Santos, as sociedades criam obje9º ano

233


tos e lugares destinados a favorecer uma fluidez do espaço cada vez maior: oleodutos, gasodutos, ferrovias, rodovias, portos, aeroportos, sistemas de transmissão via satélite e muitos outros. Não estamos falando das redes sociais que se organizam em sites de relacionamentos na internet, mas de redes geográficas. E o que são elas? Numa primeira definição, as redes seriam toda a infraestrutura que permite o transporte de matéria, energia ou informações. Tal como uma rede de pescador, elas se caracterizam por pontos, linhas e nós. Embora sejam implantadas nos territórios, a ideia não é que ocupem uma grande área, mas que ativem seus pontos e linhas – muitas delas atravessam territórios mas não possuem maiores conexões com seu entorno. No mundo atual, as redes técnicas podem ser materiais, como uma linha de metrô, uma rede de transmissão de energia elétrica ou uma ferrovia. Mas elas também podem ser imateriais, ou seja, que não se materializam concretamente na paisagem, como as redes de transmissão de dados a distância, via satélite ou via telefonia celular. Nesse caso, como vimos antes, o que há de base concreta material são apenas os nós ou as junções que asseguram a interconexão da rede. Essas inovações e o modo como os espaços vêm sendo organizados pelas redes trazem grandes repercussões para a vida social, como veremos a seguir.

LER MAPAS E GRÁFICO

Planeta Terra Disign

Examine o mapa e o gráfico a seguir. Depois, responda às perguntas: Brasil: matriz de transportes

Dutoviário e aéreo Aquaviário

13 %

Ferroviário Rodoviário

25 %

58 %

4%

Fonte: Ministério dos Transportes. Universidade Federal de Santa Maria (RS). Políticas de transportes no Brasil: antecedentes, realidades e perspectivas. Ministério dos Transportes, abr. 2012.

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Ilustrações digitais: Sonia Vaz

Brasil: redes de transporte

Brasil: ferrovias

Fonte: IBGE. Atlas geográfico escolar. Rio de Janeiro: IBGE, 2009, p. 143.

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Fonte: Ministério dos Transportes, 2009.

1. Como está organizada a matriz de transportes no Brasil, de acordo com os dados? O que isso

representa para a fluidez do espaço e para a vida social e econômica do país? 2. Como é a distribuição das redes de transportes no território nacional? 3. Compare os mapas e indique diferenças na distribuição das redes rodoviária e ferroviária no país. 4. Converse com um colega e responda: em sua opinião, o que pode ser feito para melhorar a distri-

buição e as condições das redes de transporte no Brasil? 9º ano

235


REDES DE TRANSPORTES NO BRASIL: UMA RADIOGRAFIA O gráfico e os mapas destacam as redes e a matriz de transporte no Brasil, incluindo tanto o transporte de passageiros como o de cargas. Os dados mostram uma evidente predominância da rede rodoviária. A partir da década de 1950, houve uma clara opção no país por esse modelo. Reforçou o papel das rodovias o fato de muitas montadoras de automóveis terem se instalado no Brasil a partir das décadas de 1950 e 1960. De forma geral, as rodovias participaram do projeto de integração e articulação do território nacional. O transporte rodoviário (incluindo o uso do automóvel) tem a vantagem de permitir maior flexibilidade nos deslocamentos, levando mercadorias de ponto a ponto. É adequado para deslocamentos a distâncias mais curtas. Esse quadro geral evidentemente contribuiu para aumentar as conexões entre localidades e regiões e dar maior fluidez ao espaço geográfico. Por outro lado, o sistema traz várias desvantagens e elevados custos sociais e ambientais. As rodovias têm custo mais baixo no momento de sua instalação, mas solicitam manutenção constante ao longo do tempo. Más condições de vias reduzem a velocidade média e comprometem a eficiência do sistema. A expansão do modelo rodoviário levou também ao aumento do uso do automóvel nas cidades, que acabam sofrendo verdadeiras “cirurgias” para dar passagem aos carros, como a construção de pistas expressas e avenidas. Em pouco tempo, as novas vias já estarão tomadas por carros. Assim, congestionamentos, acidentes frequentes e poluição atmosférica são problemas urbanos a serem resolvidos. Em outros países, como os da Europa Ocidental, há maior combinação e integração entre as diferentes modalidades de transporte, o que inclui trens, metrô, ônibus e ciclovias. As ferrovias, por sua vez, apresentam custo de instalação mais elevado e custo mais baixo de manutenção ao longo do tempo. Embora tenham menor flexibilidade que o transporte rodoviário, uma de suas grandes vantagens é a maior capacidade de transporte de carga, em especial de produtos a granel (grãos, minérios etc.). As primeiras linhas de trem foram implantadas em nosso país ainda no século XIX. Enquanto nos países desenvolvidos a ferrovia acompanhou o processo de industrialização, no Brasil ela esteve a serviço da exportação de bens agrícolas, notadamente o café. É por essa razão que as ferrovias têm uma orientação litoralinterior: eram destinadas a ligar as áreas produtoras de bens primários aos portos exportadores. Há muitas ferrovias ainda em operação no estado de São Paulo, que foi o principal núcleo da produção cafeeira no século XIX e início do século XX. Isso mostra também as diferentes “idades” das redes e os períodos em que elas foram sendo construídas. Com a consolidação do processo de industrialização brasileira, o sistema ferroviário como um todo foi mantido de forma precária, com sucessivas desativações de linhas, em especial após a década de 1960. Novos investimentos no setor só ocorreram a partir dos anos 1980, com a construção de linhas como a da Estrada de Ferro 236

Geografia


Carajás, ligando as jazidas de ferro do sudeste do Pará ao porto de Ponta da Madeira, no Maranhão. Os novos investimentos também foram voltados à exportação, assim como os projetos atuais para o Norte e o Centro-Oeste, cujo objetivo principal é facilitar a exportação da produção agrícola dessas regiões. Trata-se, portanto, de atender a empreendimentos econômicos e setores específicos. O mapa mostra também o transporte de passageiros, e merece destaque a expansão do sistema de trens metropolitanos (metrô e trens urbanos), que hoje atende grandes cidades, como São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre, além de capitais de estados nordestinos. Há uma distribuição desigual da rede ferroviária no território nacional. Existe uma concentração das linhas e estações no Centro-Sul e parte do Nordeste do Brasil. Com exceção do metrô e do sistema de trens urbanos, as ferrovias atendem preferencialmente o transporte de cargas. Assim, faltam opções de ferrovias para o transporte de passageiros, em especial para viagens de longas distâncias e em ligações inter-regionais. Essa situação vai na contramão do que acontece em outros países de grande extensão territorial, como Rússia e China, que têm grande malha ferroviária, ou em nossos vizinhos, como Argentina e Peru, que também se valem desse meio de transporte. Na Rússia, por exemplo, as ferrovias respondem por 81% da matriz de transporte. Novas medidas estão sendo adotadas no Brasil com base no Plano Nacional de Logística de Transporte, lançado em 2006. A ideia central é aumentar a participação das ferrovias e das hidrovias na matriz nacional de transporte. O programa prevê também maior participação do sistema dutoviário (que pode transportar combustíveis a longas distâncias, como é o caso do já existente gasoduto Brasil-Bolívia) e a ampliação da infraestrutura portuária e aeroportuária.

AS REDES E A ESCALA PLANETÁRIA Vimos até aqui que gradativamente foram implantadas redes de transportes no Brasil, contribuindo para ampliar a fluidez do espaço em algumas regiões. Isso ocorreu com os sistemas de telecomunicações, permitindo a quase totalidade de cobertura do território do país pelas transmissões de rádio e TV e um crescimento significativo das redes de telefonia fixa e móvel (celular) e do acesso à internet. Apesar dos avanços, ainda há desigualdades no acesso às novas redes, tanto no mundo como no Brasil. Assim, em escala planetária, quem melhor se serve dessas novas possibilidades tecnológicas são as grandes empresas transnacionais e o sistema financeiro. Isso também vale para as redes técnicas convencionais. Algumas indústrias de extração mineral consomem grande quantidade de energia elétrica (é o caso das que lidam com a bauxita, a partir da qual é produzido o alumínio). Do mesmo modo, é comum que apenas certas pessoas ou empresas possam se aproveitar da circulação de carros ou aviões. Vamos ver a seguir o funcionamento de algumas redes planetárias e analisar suas repercussões.

9º ano

237


LER GRÁFICOS

América do Norte

78,6%

Oceania/ Austrália

61,3%

Europa América Latina/ Caribe

39,5%

Oriente Médio

35,6% 32,7%

Mundo (média)

País desenvolvidos Mundo Países em desenvolvimento Por 100 habitantes

67,5%

Usuários de internet por grupo de 100 habitantes – 2001-2011

Ilustração digital: Planeta Terra Design

Taxa de expansão da internet no mundo segundo as regiões, em % da população – 2011

Ilustração digital: Planeta Terra Design

Examine os gráficos, com dados sobre a internet no mundo, e responda às questões a seguir:

26,2%

Ásia 13,5%

África 0%

10%

20%

30%

40% 50% 60% 70% Taxa de penetração

80% 90%

Fonte: Internet World Stats. Disponível em: <www.internetworldstats.com/stats.htm>. Acesso em: 24 ago. 2012.

Fonte: International Telecommunication Union. Disponível em: <www.itu.int/ITU-D/ict/statistics>. Acesso em: 24 ago. 2012.

1. De modo geral, o que se pode concluir sobre a expansão da internet no mundo? 2. Localize as duas regiões do planeta que têm maior proporção de internautas em relação à sua

população total. Localize também uma região em que apenas uma pequena parte da população tem acesso à internet. 3. Em relação à evolução do número de internautas nos últimos anos, compare a situação dos países

desenvolvidos e em desenvolvimento. 4. Em sua opinião, qual é a situação atual do Brasil em relação ao uso da internet e à presença dessa

rede no território nacional?

A INTERNET Os dados apresentados mostram que houve uma extraordinária expansão do número de usuários de internet no mundo. Em 15 anos, o número de internautas saltou de apenas 4,4 milhões, em 1991, para quase 1 bilhão de pessoas, em 2005. Segundo dados coletados pela Internet World Stats, que faz pesquisas sobre o tema no mundo, em 2011 esse número ultrapassava 2 bilhões de pessoas, ou cerca de 32% da população mundial, que era de 7 bilhões. A internet resulta da combinação das inovações nos campos da informática e da telefonia, constituindo a rede mundial de computadores. Sua principal característica é permitir o contato e a comunicação a distância entre usuários das diferentes regiões do planeta. Trata-se de uma tecnologia de comunicação e informação que veio para ficar. 238

Geografia


Edson Sato/Pulsar Imagens

Apesar da sucessiva expansão do acesso à internet em todo o mundo, os países desenvolvidos são os que possuem maior proporção de usuários em sua população. Portanto, como já destacamos, o quadro ainda é de desigualdade, assim como ocorre em outras redes. Chamam a atenção os casos de países como Noruega, Austrália, Islândia ou Suécia, em que praticamente todas as pessoas têm esse recurso à disposição. O Brasil segue a corrente, embora ainda esteja distante dessa marca. Em 1996, apenas 36 mil pessoas acessavam a rede no país; em 2002, já eram 14 milhões, saltando para 41,5 milhões de brasileiros em 2008. Segundo a pesquisa Ibope NetRatings, registrou-se a marca de 79,9 milhões de internautas no país em 2011. Com isso, o Brasil atingiu a posição de quinto maior país do mundo em número de pessoas conectadas à rede. É preciso considerar que, desse total, há variações quanto à regularidade do acesso à rede: alguns acessam diariamente, enquanto outros grupos apresentam frequência menor. Os dados variam também quando consideramos as diferentes faixas de renda. Dados de pesquisa realizada pelo Centro de Estudos em Tecnologias da Informação e da Comunicação (Cetic) revelam também que 38% dos domicílios brasileiros dispunham de acesso à internet em 2011. No Sudeste, no mesmo ano, esse número chegava a 49% nas áreas urbanas, atingindo a marca de 76% entre aqueles com renda acima de cinco salários mínimos. Novamente aparecem aqui as desigualdades de acesso a recursos tecnológicos como resultantes das desigualdades sociais. O mesmo fato ocorre em vastas regiões da África, da Ásia e em parte da América Latina, embora esteja havendo crescimento em todas essas regiões. Vale lembrar, tomando o caso brasileiro como referência, que vem aumentando o uso doméstico do computador, mas são bastante expressivos os usos por empresas e no setor público. A internet está mudando a face do mundo, dada a possibilidade de acesso a um gigantesco banco de informações e do envio e recebimento de imagens e textos variados. Ela tem permitido também maior organização social em torno de temas relevantes para as populações e maior fiscalização da ação de governantes e Na assembleia de todas as etnias Yanomami, realizada em Barcelos (AM) em 2010, o uso de computadores e da internet já era uma realidade. agentes econômicos.

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Tais sistemas estão também cada vez mais integrados com os de telefonia móvel. Mas não são poucos os estudos que mostram riscos de uma redução das interações sociais realizadas em contato pessoal, especialmente entre grupos de jovens.

A EXPANSÃO DA TV NO MUNDO MODERNO Outras redes merecem destaque em sua relação com a escala planetária. Um sistema de comunicações e informações fortemente difundido é o de televisão. As primeiras transmissões de TV ocorreram em 1936, na Inglaterra. No Brasil, a inauguração das transmissões foi em 1950. De lá para cá, muitas inovações tecnológicas ocorreram, oferecendo diferentes modalidades e sistemas de transmissão, como as TVs a cabo, via satélite e outras, o que revela uma forte segmentação nesse sistema. No Brasil, levantamentos indicam que a quase totalidade da população tem acesso a esse recurso, o que permite a sintonia com fatos e acontecimentos de forma quase simultânea, como ocorre com as transmissões via satélite. Há também forte integração da TV com outros meios, como a internet e os sistemas de telefonia. Localidades mais remotas e aldeias de povos indígenas na Amazônia já conseguem receber imagens de TV e estabelecer conexão sem fio à internet. De um lado, isso permitiu que os aparelhos passassem a desempenhar múltiplas funções (como um telefone celular que faz ligações, toca músicas e conta com acesso rápido à internet). Por outro lado, as pessoas que quiserem ter acesso a essas inovações são obrigadas a se desfazer de seus aparelhos antigos, que se tornam obsoletos, e precisam pagar pelos novos serviços oferecidos.

O TRANSPORTE AEROVIÁRIO E A ESCALA PLANETÁRIA Outro destaque, quando pensamos as conexões em escala planetária, deve ser dado ao sistema de transporte aeroviário. com o progressivo desenvolvimento tecnológico de aeronaves, da comunicação e das infraestruturas terrestres ligadas ao sistema, praticamente não existem mais regiões isoladas no planeta, sem contato com as demais. Como ressalta o historiador Eric Hobsbawm, o uso dos aviões permitiu, por exemplo, superar o problema de realizar o transporte de bens perecíveis a longas distâncias. E possibilitou também a expansão de atividades como o turismo, tanto o internacional como o doméstico, e também as viagens de negócios. Esse sistema viabiliza que os indivíduos se desloquem com mais facilidade e rapidez, permanecendo por um determinado período fora de sua cidade, estado ou país, com a finalidade de visitar e conhecer outros lugares ou realizar negócios. Segundo a Organização Mundial do Turismo, após queda entre os anos de 2008 e 2009, em 2010 houve novamente crescimento do setor no mundo. Registrou-se o total de 980 milhões de chegadas internacionais em 240

Geografia


2011, contra 935 milhões em 2010 e 877 milhões em 2009. Houve também crescimento das receitas da visitação internacional ao Brasil de 2009 para 2010. O aumento foi de expressivos 37%. Foram quase 8 milhões de desembarques internacionais no país, também no ano de 2010. Alguns destinos mais procurados pelos turistas internacionais são França, Espanha, Estados Unidos, Itália e China. Mas seja qual for a motivação para o uso dos transportes aeroviários – transporte de carga, turismo, negócios etc. –, novamente entra em cena a questão do acesso ao sistema, restrito a quem dispõe dos meios e recursos para utilizá-lo.

AS CIDADES E A ESCALA PLANETÁRIA Vale a pena destacar também o papel das cidades no debate sobre as relações entre as redes e a escala planetária. Em primeiro lugar, é importante dizer que a informação hoje é um dado primordial para a produção econômica. Não seria possível as empresas globais tomarem decisões sem o acesso a informações. Isso também vale para os governos e as entidades da sociedade civil.

Carol Guedes/Folhapress

Avenida Luís Carlos Berrini, São Paulo (SP), 2008. Nessa região, há grande quantidade de edifícios de escritórios. Uma das principais características das cidades globais é a concentração de empresas, tecnologias e informações.

9º ano

241


Sabe-se que hoje as unidades industriais deslocam-se do núcleo denso das grandes cidades para outras cidades menores – o que não significa decadência econômica dos grandes centros urbanos. Ao contrário, muitos desses núcleos passam a sediar setores administrativos de grandes empresas e bancos, centros de pesquisa científica e tecnológica, financeiras, bolsas de valores, grupos de comunicação (rádio, TV, jornais etc.), órgãos públicos, escritórios de publicidade e muitos outros. São serviços especializados que demandam forte qualificação de mão de obra e disponibilidade de recursos econômicos, tecnológicos e financeiros. Assim, cidades como Tóquio, São Paulo, Nova York, Londres, Paris e outras de menor porte, como Frankfurt e Genebra, convertem-se em cidades globais. Elas passam a centralizar o comando das decisões econômicas que atingem a produção, a circulação e o consumo de bens e pessoas, além de operações financeiras, que vão repercutir nas mais diferentes regiões do planeta. Trata-se, portanto, de um comando a distância, com base nas redes e nas novas tecnologias. Mesmo com esse novo papel, as grandes metrópoles não deixam de polarizar o espaço onde se situam. Isso quer dizer que outras regiões e cidades seguem dependendo delas para muitas atividades. Como vimos, as redes técnicas são distribuídas desigualmente no mundo e também no Brasil. Para o geógrafo francês Roger Brunet, isso se deve aos diferentes níveis de desenvolvimento econômico, aos modos de vida e à forma como os espaços foram e são organizados. Desse modo, as metrópoles também são um retrato das desigualdades sociais no mundo e em nosso país. No entanto, as novas redes e tecnologias que as cidades concentram podem representar um salto de qualidade na defesa ou na conquista de direitos, na denúncia de injustiças sociais e em novas formas de se fazer política. MOMENTO DA ESCRITA

Leia o texto a seguir. Depois, escreva com suas palavras um comentário sobre as posições do autor a respeito das relações entre o papel das novas tecnologias, a política e as perspectivas de futuro para a humanidade. Um novo mundo é possível Nesse emaranhado de técnicas dentro do qual estamos vivendo, o homem pouco a pouco descobre suas novas forças. Ampliam-se e diversificam-se as escolhas, desde que se possa combinar técnica e política. [...] Graças aos progressos fulminantes da informação, o mundo fica mais perto de cada um, não importa onde esteja. O outro, isto é, o resto da humanidade, parece estar próximo. Criam-se para todos a certeza e, logo depois, a consciência de ser mundo e de estar no mundo, mesmo se ainda não o alcançamos em sua plenitude. O próprio mundo se instala nos lugares, sobretudo as grandes cidades, pela presença maciça de uma humanidade misturada. [...] Assim, o cotidiano de cada um se enriquece, pela experiência própria e pela do vizinho, tanto pelas realizações atuais como pelas perspectivas de futuro. SANTOS, Milton. Por uma outra globalização. Do pensamento único à consciência universal. Rio de Janeiro: Record, 2000. p. 171-173.

242

Geografia


APLICAR CONHECIMENTOS

1. Com suas palavras, escreva definições para os seguintes termos: a) globalização b) rede técnica material e imaterial c) território d) rede mundial de computadores e) fluidez do espaço f) empresa transnacional g) sistema financeiro global h) escala planetária ou global 2. Com base no que você estudou no capítulo, analise a reportagem a seguir:

Governo divulga a lista de 18 montadoras que foram protegidas com IPI mais baixo Brasília – O governo federal divulgou a lista definitiva das 18 montadoras de automóveis instaladas no Brasil que serão beneficiadas com o desconto de 30 pontos percentuais no Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) que incide sobre a produção de veículos. O benefício vale até dezembro de 2012. A relação anterior era provisória. As montadoras livres do pagamento da alíquota mais alta são Agrale, Caoa (Hyundai), Fiat, Ford, GM, Honda, Iveco, MAN, Mercedes-Benz, MMC, Nissan, Peugeot, Renault, Scania, Toyota, Volkswagen, Volvo e International. Todas essas montadoras cumprem as regras de conteúdo nacional e de investimento em inovação. Entre as exigências está a utilização de, no mínimo, 65% de componentes nacionais, a realização no Brasil de ao menos seis de 11 etapas da fabricação e investimento de 0,5% do faturamento líquido em pesquisa e desenvolvimento aqui no país. A relação das empresas habilitadas foi publicada no Diário Oficial da União. O texto diz que o benefício “está sujeito à verificação do cumprimento dos requisitos exigidos, bem como ao cancelamento da habilitação definitiva”. A redução no pagamento do IPI é válida para os modelos fabricados no Brasil, no México, Uruguai e parceiros do Mercosul. Para essas empresas, o tributo fica entre 7% e 25%. [...] Fonte: CRUZ, Luciene. Agência Brasil, 31 jan. 2012. Disponível em:<http://agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2012-01-31/governo-divulga-listade-18-montadoras-que-foram-protegidas-com-ipi-mais-baixo>. Acesso em: 23 ago. 2012.

3. Explique o que significa a afirmação de Marie-Françoise Durand: “Consequência dos [...] pro-

gressos tecnológicos na informática e nas telecomunicações, a finança é um dos campos mais integrados no tempo”.

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4. Desafio National Geographic Brasil (2011)

70

Ilustração digital: Planeta Terra Design

Usuários de internet por grupo de 100 habitantes e por regiões – 2010* 65,0

60

55,0

50

46,0

40 30,0

30

24,9

21,9

20 9,6

10 0 Europa

Estados Americanos

Comunidade dos Estados Independentes

Mundo

Estados árabes

Ásia e Pacífico

África

(*) Estimativas.

Fonte: International Telecommunication Union/ICT Indicators Database, 2010. Disponível em: <www.viagemdoconhecimento.com.br/canal-do-professor/provas-anteriores.php>. Acesso em: 27 ago. 2012.

Com base nos dados do gráfico, é correto afirmar que: a) Apesar de desenvolvidos, a Europa e os Estados Unidos deixaram de incorporar plenamente o recurso tecnológico em questão. b) Os maiores índices de difusão e uso da internet estão nos países emergentes, diante do seu notável crescimento econômico. c) Há uma desigual difusão das inovações nos meios de comunicação no mundo, afetando em especial os países menos desenvolvidos. d) Há uma difusão e distribuição equilibrada de recursos como a internet, garantindo a agilidade das comunicações no mundo atual. 5. Analise os dados da tabela a seguir e escreva um texto com suas principais conclusões: Brasil: Proporção de domicílios com acesso à internet (1) Percentual sobre o total de domicílios (2) Total Brasil Área

Região

38% Urbana

43%

Rural

10%

Sudeste

49%

Sul

45%

Centro-Oeste

39%

Norte

22%

Nordeste Até 1 SM

Renda familiar

1

21% (*)

6%

Mais de 1 SM até 2 SM

21%

Mais de 2 SM até 3 SM

38%

Mais de 3 SM até 5 SM

58%

Mais de 5 SM até 10 SM

76%

Acima de 10 SM

91%

Excluindo-se o acesso via telefone celular no domicílio. 2 Base: 25 000 domicílios. (*) Salário mínimo.

Fonte: Pesquisa Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) Domicílios e Usuários 2011. Cetic, 2011. Disponível em:<http://cetic.br/usuarios/tic/2011-total-brasil/rel-geral-04.htm>.Acesso em: 24 ago. 2012.

244

Geografia


6. Desafio National Geographic Brasil (2011)

Ilustração digital: Planeta Terra Design

Chegadas internacionais de turistas segundo as grandes regiões – 2010

Fonte: Organização Mundial do Turismo, 2010. Disponível em: <http://www.viagemdoconhecimento.com.br/canal-do-professor/provas-anteriores.php>. Acesso em: 25 ago. 2012.

De acordo com os dados expostos no gráfico, é correto afirmar que: a) Devido à sua estabilidade econômica, a Ásia conta com os espaços turísticos mais procurados em todo o mundo. b) O destino mais procurado pelos turistas internacionais são os ambientes tropicais, favoráveis ao turismo de sol e praia. c) O patrimônio histórico e cultural europeu contribui para que o continente receba grande contingente de visitantes. d) Os conflitos e guerras civis causaram a suspensão da visitação turística ao Oriente Médio e ao norte da África.

PARA AMPLIAR SEUS ESTUDOS

Atlas Geográficos

Atlas da mundialização

Atlas com cartografia inovadora com temas relevantes do Brasil e do mundo. Consultar capítulos sobre firmas e atores globais. DURAND, Marie-Françoise e outros. Atlas da mundialização: compreender o espaço mundial contemporâneo. São Paulo: Saraiva, 2009.

Atlas do mundo global

Com cartografia criativa e inovadora, trata de temas de interesse da geopolítica do mundo atual. Apresenta visões de mundo na ótica de diferentes países. BONIFACE, Pascal; VÉDRINE, Hubert. Atlas do mundo global. São Paulo: Estação Liberdade, 2009.

Atlas geográfico escolar

Traz mapas do Brasil e do mundo sobre diversos temas. IBGE. Atlas geográfico escolar. 5. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2009.

9º ano

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Sites

Agência nacional de telecomunicações

Dispõe de notícias, dados e programas relativos ao desenvolvimento do sistema nacional de telecomunicações. Agência Nacional de Telecomunicações (anatel). Disponível em: <www.anatel.gov.br/>. Acesso em: 2 out. 2012.

Agência nacional dos transportes terrestres

Dispõe de notícias, dados e mapas sobre os sistemas de transportes terrestres (rodovias e ferrovias), tanto para passageiros como para transporte de cargas. Agência Nacional dos Transportes Terrestres (ANTT-Brasil). Disponível em: <www.antt.gov.br>. Acesso em: 2 out. 2012.

Atelier de cartographie sciences po

Apresenta mapas em francês e português (no caso de mapas já publicados no Brasil). Atelier de Cartographie Sciences Po. Disponível em: <http://cartographie.sciences-po.Fr/fr/cartotheque>. Acesso em: 2 out. 2012.

Comitê gestor da internet no brasil

Traz notícias e resultados de pesquisas anuais sobre a difusão das tecnologias de comunicação e informação no Brasil. Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI). Disponível em: <www.cgi.br>. Acesso em: 2 out. 2012.

Dados e fatos

Traz resultados de pesquisas periódicas sobre fluxos turísticos no brasil, incluindo a chegada de turistas internacionais e a participação das chamadas atividades características do turismo (hospedagem, locação de veículos, agências de viagens etc.). Ministério do Turismo. Dados e fatos: turismo no Brasil e no mundo. Disponível em: <www.dadosefatos.turismo.gov.br/dadosefatos/home.html>. Acesso em: 2 out. 2012.

Le monde diplomatique

Artigos e reportagens sobre temas de interesse da economia e política mundiais. Jornal Le Monde Diplomatique. Disponível em: <http://diplo.org.br>. Acesso em: 2 out. 2012.

Filmes

Encontro com milton santos: o mundo global visto do lado de cá

Documentário apresentando ideias do consagrado geógrafo brasileiro. Com depoimentos e imagens, destaca as desigualdades entre países e regiões, conflitos sociais e a constituição da globalização no mundo atual. Direção: Silvio Tendler. Brasil, 2007. 89 min.

A rede social

Narra a história da criação do site de relacionamentos sociais Facebook. Direção: David Fincher. Estados Unidos, 2010. 190 min.

Trabalho interno

Premiado documentário sobre os bastidores da crise financeira de 2008 nos Estados Unidos. Expõe a participação e as responsabilidades de representantes da política, da justiça, das universidades e de empresas do setor financeiro. Direção: Charles Ferguson. Estados Unidos, 2010. 120 min.

246

Geografia


Capítulo

2

GEOGRAFIA

Conflitos e tensões no mundo atual: uma geografia

E

Sia Kambou/AFP/Getty Images

m diversas oportunidades, os capítulos de Geografia e História desta coleção destacaram a ocorrência de guerras, revoltas sociais e conflitos em diferentes períodos da história da humanidade. O século XX foi particularmente dramático quanto a isso, pois nele ocorreram duas guerras mundiais devastadoras. A Primeira Guerra Mundial (1914-1918) deixou aproximadamente 13 milhões de vítimas fatais. A Segunda Guerra Mundial (1939-1945), por sua vez, ceifou a vida de cerca de 60 milhões de pessoas. No período pós-Segunda Guerra, o mundo assistiu também à eclosão de dezenas de conflitos regionais, muitos deles motivados por lutas anticoloniais que procuravam libertar povos e países da dominação imposta por europeus, em especial na África e na Ásia. Outros foram provocados pelo embate entre o mundo capitalista e o socialista, tendo respectivamente Estados Unidos e União Soviética à frente de cada um dos blocos. Vale notar que, além da perda de vidas humanas, as guerras deixam também um rastro de destruição de cidades, edificações, estradas, atividades econômicas e recursos naturais disponíveis nos territórios. Em função dos conflitos, milhões de pessoas passam a viver como refugiadas. De outro lado, nos países que superaram conflitos armados, os desafios são os de construir o Estado democrático de direito e combater a pobreza e as desigualdades.

Militares das forças de paz da ONU patrulham as ruas de Abidjã, na Costa do Marfim, em meio a confronto entre forças políticas no país africano em 2011.

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Decorridos pouco mais de dez anos do século XXI, por que continuam a ocorrer conflitos sociais e confrontos armados em diferentes partes do mundo? Quais são a natureza e a abrangência espacial deles? Quais são os atores envolvidos? Quais são as principais dificuldades para se promover a paz e a cooperação entre os povos? Como avaliar, nesse quadro, a ação dos grupos e organizações ligados ao terror? Esses são alguns dos temas que serão examinados neste capítulo. Para começar, realize a atividade a seguir.

LER MAPA

Conflitos armados ao longo do ano de 2009

N O

L

0

1 900

Ilustração digital: Sonia Vaz

Observe o mapa e responda às questões propostas:

3 800 Km

S

Fonte: Atelier de Cartographie Sciences Po. Disponível em: <http://cartographie.sciences-po.fr/fr/conflits-arm-s-2009>. Acesso em: 31 ago. 2012.

1. Qual é o tema retratado no mapa? Quais recursos cartográficos foram utilizados na elaboração

desse tipo de representação?

248

Geografia


em: 31 ago. 2012.

2. Com base no mapa, prepare uma lista com os principais tipos de conflito existentes no mundo

atual.

3. Quais são as áreas mais afetadas por conflitos no mundo contemporâneo?

A NATUREZA DOS CONFLITOS E TENSÕES NO MUNDO ATUAL O que podemos concluir a partir das informações retratadas no mapa? Em primeiro lugar, é importante destacar que, apesar da existência de inúmeros conflitos que envolvem ações armadas e violentas, estamos em um quadro de maior estabilidade política. No continente americano e na Europa, por exemplo, guerras e confrontos pela via das armas hoje são mais raros ou inexistentes. Levantamentos feitos pelo pesquisador Dan Smith e publicados em 2007 em seu Atlas dos conflitos mundiais mostram que houve uma redução no número de conflitos armados no mundo após a Guerra Fria e a queda do Muro de Berlim (a partir de 1989 e início da década seguinte). De outro lado, temos uma série de conflitos em áreas bem delimitadas do mapa-múndi, cujo pano de fundo são os embates entre governos centrais e grupos armados de contestação ao poder. Isso se dá em zonas da África subsaariana, Oriente Médio e países da Ásia central (como Azerbaijão e Afeganistão, entre outros). Outra reflexão refere-se à natureza dos conflitos no mundo atual. A maior parte deles se dá internamente a cada território nacional, mas em regra acabam tendo ramificações regionais ou internacionais, ampliando-se sua escala geográfica. Assim, eles tomam a forma de guerras civis (em geral, internas a um Estado nacional, com forte convulsão social e confronto armado entre os grupos beligerantes). Também estão presentes movimentos de caráter nacionalista, separatista ou autonomista, quando grupos minoritários dominados aspiram a uma maior autonomia e ao poder político ou, ainda, a criar seu próprio Estado nacional (casos históricos da Palestina ou do povo curdo). Há também disputas políticas ou movidas por diferenças de fundo étnico ou religioso, como ocorre, com as devidas particularidades, no Iraque, na Somália, no Sudão e no Afeganistão.

9º ano

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Nesse contexto geral, os confrontos entre Estados nacionais soberanos representam apenas uma pequena parte dos conflitos no mundo atual. Alguns ainda persistem e são motivo de grande preocupação, como as tensões entre Índia e Paquistão (disputam a região da Caxemira, província situada no norte da Índia, mas de maioria muçulmana – e por isso mesmo reivindicada pelo Paquistão), e entre Coreia do Norte e Coreia do Sul (que entraram em guerra no início da década de 1950). O Tibete, país independente até a década de 1950, foi invadido pela China e incorporado ao já extenso território do “Império do Meio”. A China mantém ainda disputa com Taiwan, considerada uma província “rebelde”.

Sajjad Hussain/AFP/Getty Images

Protesto de tibetanos contra a ocupação chinesa de seu país durante um rali em Nova Délhi, Índia, em 2012.

GUERRA E PAZ Os dados mostram que há no mundo atual maior diversidade de conflitos, o que impõe a necessidade de rever os conceitos tradicionais de guerra e paz. Há uma extensa produção de conhecimentos a respeito do que é a guerra. Tradicionalmente, a guerra foi considerada como a rivalidade entre pelo menos dois Estados nacionais, implicando o uso da força armada. Ocorre que, como vimos, houve mudanças na natureza dos conflitos armados, passando a envolver agora uma gama muito ampla e variada de grupos e organizações não estatais que utilizam as armas e as ações violentas para atingir seus objetivos. Eles proliferam sobretudo em Estados onde as instituições políticas estão destruídas ou são muito frágeis e incapazes de resolver os conflitos internos. Ao longo do capítulo, vamos nos referir em especial a esse segundo tipo de conflito. 250

Geografia


Vale notar que a paz não é simplesmente a ausência de guerra (confrontos armados entre Estados, guerras civis ou lutas anticoloniais). Segundo o cientista político italiano Norberto Bobbio, a paz deve permitir que um conflito seja concluído de forma definitiva. Para que a paz seja alcançada, é preciso desenvolver ações de curto prazo (manter o cessar-fogo e o desarmamento, garantir a oferta de alimentos e a proteção social, reconstruir estruturas físicas essenciais, como escolas e hospitais, criar processos eleitorais etc.) e outras de prazo mais longo, como promover a reconciliação entre os diferentes grupos. Portanto, assegurar a paz implica a busca pela justiça social e o pleno exercício de direitos humanos (de ir e vir, de expressar livremente posições políticas, de votar etc.). Trata-se de um sentido positivo para a paz. Desse modo, algumas tensões e conflitos potenciais no mundo atual estão associados também à ausência de democracia e dos mecanismos essenciais do Estado de direito. A aparente calma em um país como o Zimbábue vincula-se não a um quadro de paz e estabilidade, mas à ação opressiva do regime comandado pelo ditador Robert Mugabe, que está no poder desde 1986.

REDES GEOGRÁFICAS, TERRITÓRIOS E CONFLITOS Situações de instabilidade política também são um campo aberto para a ação de grupos e redes ligados ao terror. Embora tenha origem nas práticas violentas de quem ocupava o poder do Estado na Revolução Francesa, no final do século XVIII, o termo terror é hoje associado a grupos e organizações que se valem das mesmas práticas para minar ou derrubar um determinado regime. No quadro atual, são organizações transnacionais que utilizam frações de territórios para suas bases de operações e desenvolvem ações como atentados violentos em locais públicos. Aproveitando as inovações tecnológicas disponíveis, muitas delas operam em redes de alcance planetário. Um exemplo bastante conhecido é o da Al Qaeda, responsável pelos ataques que destruíram dois prédios do World Trade Center, as torres gêmeas de Nova York, e parte do Pentágono, em Washington, em 2001. A ação motivou a chamada “guerra ao terror”: em busca dos líderes da organização, os Estados Unidos realizaram ataques em países como o Afeganistão e intensificaram a vigilância de suas fronteiras. Mas nem sempre alguns líderes mundiais compreendem que tal “guerra” já não envolve mais o embate convencional entre exércitos regulares, pertencentes a Estados soberanos. Trata-se agora de neutralizar organizações que atuam em rede, de forma dispersa – mas com um comando central. Há também situações de instabilidade, extrema violência e perda de vidas humanas associadas a outros tipos de rede, como as dos circuitos e atividades ilegais – em especial o tráfico de drogas. Para operar, essas redes criminosas organizam áreas produtoras e receptoras de drogas ilegais (cocaína, heroína, drogas sintéticas e outras), assim como os fluxos e conexões que garantem o alcance dos

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principais mercados consumidores, localizados sobretudo nos países ricos. Para garantir a continuidade dos negócios ilícitos, tais organizações se valem de ações violentas e da desagregação social, recrutando para seus quadros muitos jovens de baixa renda ou que se encontram sem perspectivas.

O COMÉRCIO MUNDIAL DE ARMAS Muitos dos conflitos contemporâneos são alimentados por um movimentado comércio mundial de armas, envolvendo tanto as trocas regulares, entre países, de veículos militares, aviões e outros materiais bélicos, como as trocas de armas de diferentes portes realizadas entre as redes de tráfico (comércio ilegal). Boa parte desse comércio é alimentada pelas indústrias bélicas de países ricos e também de arsenais de ex-repúblicas soviéticas e abastece os inúmeros conflitos em marcha no mundo atual. Diversos países vêm aumentando exponencialmente seus gastos militares (veja o gráfico “Evolução das despesas militares 1988-2009”). Além disso, um levantamento do Instituto de Pesquisas para a Paz de Estocolmo (Suécia) publicado em 2012 indicou o aumento de 24% no comércio de armas entre 2007 e 2011. Segundo o estudo, os Estados Unidos permanecem como o maior exportador mundial de armas, seguido de Rússia, Alemanha, França e Grã-Bretanha. A Índia destacou-se como o maior importador no período, sucedida por Coreia do Sul, Paquistão, China e Cingapura. Observa-se, portanto, que alguns importantes compradores de armas estão envolvidos diretamente em tensões e conflitos de natureza interestatal, ou seja, com outro país ou países.

O PAPEL DAS POTÊNCIAS A participação ou interferência de nações estrangeiras em conflitos está associada, entre outros, a interesses geopolíticos e econômicos. Dessa forma, a existência ou permanência de conflitos acaba sendo uma projeção do poder das principais potências. Após o final da Segunda Guerra Mundial, Estados Unidos e União Soviética, as duas superpotências de então, lideravam blocos de países (capitalistas e socialistas, respectivamente). Ao longo do período da Guerra Fria, ambos apoiaram lados opostos em diferentes conflitos no mundo e neles interferiram. Com o fim da Guerra Fria e o desmoronamento do socialismo real, os Estados Unidos passaram à posição hegemônica de superpotência única, atuando em diversos países, regiões e conflitos como se fosse uma espécie de “polícia do mundo”. Desse modo, em 252

Geografia

CONHECER MAIS

Geopolítica Refere-se à dimensão espacial da relação entre Estados, cujos esforços estão vinculados à apropriação e ao controle do território (na escala nacional e na escala internacional) e em que o modo de ação fundamental é o uso, direto ou indireto, da violência organizada. Envolve também discursos que combinam o conhecimento geopolítico propriamente dito, o modo de ação entre Estados e as ideologias nacionalistas e imperialistas. Ela será o coração de toda decisão sobre os interesses de uma sociedade política dotada de um Estado, quando colocada diante de outras sociedades políticas. AGNEW, John. Geopolítica. In: LÉVY, Jacques; LUSSAULT, Michel (org.). Dictionnaire de la Géographie et de l’espace des sociétés. Paris: Belin, 2003, p. 409 (tradução de Jaime T. Oliva).


Ilustração digital: Caco Bressane

pouco mais de vinte anos, os Estados UniEVOLUÇÃO DAS DESPESAS MILITARES dos se envolveram diretamente na Guerra ENTRE OS ANOS DE 1988 E 2009. Em milhões de dolares. do Golfo (invadindo o Iraque em 1991 e em 2003) e nos ataques ao Afeganistão (após 663,3 ESTADOS UNIDOS 533,6 2001) na esteira da chamada guerra ao terror, e influenciou, direta ou indiretamen98,8 CHINA te, conflitos no norte da África ao final da 339,1 primeira década do século XXI. Em 2011, 71,0 uma ação militar estadunidense executou 67,3 FRANÇA 16,3 Osama Bin Laden, líder da Al Qaeda, em 61,0 RÚSSIA 69,4 localidade próxima a Islamabad – fazendo, 48,0 ALEMANHA portanto, uma incursão pelo território de 46,9 JAPÃO 40,3 um país soberano, o Paquistão, e nele exe39,3 ARÁBIA SAUDITA cutando ação armada. 36,6 ÍNDIA 17,8 A presença dos Estados Unidos no 27,1 BRASIL 14,1 Oriente Médio, seja apoiando Israel – seu 17,9 14,3 ISRAEL aliado incondicional – ou pressionando o 12,3 9,1 IRÃ governo do Irã, suspeito de desenvolver se4,8 PAQUISTÃO cretamente armas nucleares, não se desvin3,4 cula dos seus fortes interesses econômicos 1,5 na região. Em especial, relacionados ao pe1988 2009 tróleo, já que ali estão as mais ricas reservas Fonte: Atelier de Cartographie Sciences Po. Disponível em: desse recurso do planeta. <http://cartographie.sciences-po.fr/fr/d-penses-militaires-1988-2009>. Acesso em: 1 set. 2012. Vale notar que o poder de potência pode ser exercido tanto no sentido mais convencional (chamado de hard power: controlar territórios, exercer o poder econômico, explorar riquezas naturais em outros países etc.) como por formas mais sutis de dominação (chamado de soft power, como a dominação pela via cultural ou ideológica: expansão de uma língua, difusão de filmes de cinema, programas de TV ou propagandas de empresas etc.). Nos últimos anos, surgiram alguns contrapontos à hegemonia norte-americana, como o próprio Irã e a China, que possui hoje uma força militar considerável e pretensões territoriais em suas fronteiras a oeste e no mar da China. Além disso, cada vez mais os países emergentes (Brasil, China, Índia, Rússia, África do Sul e outros), devido a seu vigoroso crescimento econômico nos últimos anos, reivindicam participação nos principais fóruns políticos e econômicos mundiais, contribuindo para gerar um cenário de multipolaridades. o

CONFLITOS E TENSÕES REGIONAIS: ESTUDOS DE CASO Vamos fazer a seguir um mapeamento dos principais conflitos, revoltas sociais e guerras civis em marcha no mundo contemporâneo, sem a pretensão de esgotar o tema ou a complexidade das causas e das motivações dos atores envolvidos.

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A PRIMAVERA ÁRABE O cenário internacional sofreu profundas transformações políticas e sociais com as revoltas ocorridas e outras ainda em curso em países do norte da África e do Oriente Médio. Elas afetaram, entre outros, Tunísia, Líbia, Egito e países da chamada região do Golfo Pérsico (países da península Arábica – Arábia Saudita, Iêmen, Emirados Árabes Unidos e outros – mais o Iraque e o Irã). Esses episódios ficaram conhecidos como a Primavera Árabe. Como lembra o historiador Osvaldo Coggiola, as lutas dos povos árabes e em grande parte também dos muçulmanos contra regimes autoritários ou a dominação estrangeira não começaram nos dias de hoje. Muitos deles lutaram contra o domínio do Império Otomano já desde o século XVI e, no início do século XX, dos colonizadores europeus. As revoltas recentes tiveram início em dezembro de 2010 na Tunísia, quando Mohamed Bouazizi, um jovem que vivia do comércio ambulante, teve suas mercadorias apreendidas pela polícia. Como protesto, ateou fogo ao próprio corpo. Daí em diante houve uma sucessão de revoltas no país, denominadas “Revolução de Jasmin”, o que levou à deposição do ditador Zine Al-Abidine Ben Ali, no poder havia pouco mais de duas décadas. Episódios dessa natureza adquiriram proporções regionais, atingindo em primeiro lugar o Egito e depois a Líbia e o Iêmen. Todos eram governados por figuras que se encastelaram no poder por longos anos. Alguns, como o ex-líder líbio Muammar Kadafi, eram considerados “heróis da pátria”. No Egito, fortes protestos realizados na praça Tahrir, no Cairo, capital do país, já em janeiro de 2011, provocaram a renúncia de Hosni Mubarak no mês seguinte. Sob intensa repressão, com muitos mortos e feridos, a população egípcia protestou contra o desemprego crescente, a pobreza, a corrupção e a falta de perspectivas, sobretudo para os mais jovens. Ainda há uma forte presença dos militares em diversos setores, inclusive no comando de empresas. Em novembro daquele ano, realizaram-se eleições livres, iniciando a transição política no país. O ano de 2011 viu também o desenrolar de uma guerra civil aberta na Líbia para depor Muammar Kadafi, tendo a cidade de Benghazi, no leste, como principal foco da revolta. Kadafi assumiu o poder em 1969. Então coronel do exército, liderou um golpe de Estado que derrubou a monarquia, governando depois o país com mão de ferro por quatro décadas. O governo se manteve à base das riquezas obtidas com o petróleo e de pactos para conter divergências entre os grupos tribais do país. Para vencer o conflito, os revoltosos líbios contaram com auxílio de tropas e aviões de combate da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Assim como no caso egípcio, o apoio dos Estados Unidos foi bastante discreto. Para analistas internacionais, esses últimos receavam que o desfecho das revoltas levasse ao poder nos dois países forças políticas antiocidentais ou marcadamente islâmicas. Da mesma forma, temiam que tais processos viessem a atingir tradicionais aliados estadunidenses na região, como a Arábia Saudita. 254

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Pedro Ugarte/AFP/Getty Images

Milhares de pessoas se reuniram na praça Tahrir, no Caito (Egito), para celebrar a queda de Hosni Mubarak, em fevereiro de 2011.

As revoltas se espraiaram para países como Iêmen, Bahrein e Síria. Em comum, todos esses países tinham e ainda têm um grande déficit democrático, com ausência de eleições livres e diretas (na Líbia, inexistiam partidos políticos), e precárias condições sociais. Vale notar também que os processos de mudanças não foram conduzidos ou não tiveram entre suas principais lideranças grupos islâmicos organizados, mas estudantes, trabalhadores e organizações laicas. Ganhou destaque nas rebeliões do Egito o uso de novas tecnologias, como as de redes de relacionamento social, para organizar marchas e protestos. Apesar desse contexto, em 2012 foi eleito como novo presidente Mohamed Morsi, ligado ao grupo Irmandade Muçulmana. Ao longo de 2011 e primeiro semestre de 2012, ainda como efeito da Primavera Árabe, ganhou destaque no cenário internacional o caso da Síria. O governo de Bashar Assad passou a reprimir fortemente as ondas de protestos nas cidades de Homs e Aleppo. Em 2012, o quadro internou agravou-se, configurando uma guerra civil, opondo forças militares do governo e grupos rebeldes. A Síria é um Estado militarizado e um antigo aliado sovié- GLOSSÁRIO tico (e depois da Rússia). Conta com um dos maiores e mais Laicas: que não pertencem a clero ou ordem religiosa ou recusam influências bem equipados exércitos da região. Há quatro décadas é chefiadessas instituições. Um Estado laico (ou leigo) é o contrário de Estado confessional do pela família Assad (o pai, Hafez, e depois seu filho, Bashar), (o que assume como sua uma determinapertencente à minoria alauíta, uma ala da corrente islâmica xiita da religião). Sunita, xiita: correntes do islâmismo – enquanto 75% da população é partidária da corrente sunita. que surgiram de cisões relativas a heranApesar dessas diferenças, trata-se de um Estado laico. Um efeito ças e descendência de Maomé, fundador da religião no século VII. Os sunitas dos conflitos foi a geração de centenas de milhares de refugiados, representam algo em torno de 85% dos abrigados em especial nos vizinhos Líbano e Turquia. A populaadeptos em todo o mundo; os xiitas são majoritários em países como Irã e Iraque. ção síria ainda aguarda uma solução definitiva para o impasse. 9º ano

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LER TEXTO E GRÁFICO

Observe o texto e o gráfico a seguir e responda às perguntas: Chamas da mudança Do norte da África ao Oriente Médio, uma nova geração – armada com celulares, redes sociais e muita determinação – luta pela posse do seu futuro. [...] Em dezembro de 2010, na Tunísia, um vendedor de frutas de 26 anos, humilhado pelos achaques de policiais e por um Estado corrupto e conivente, ateou fogo em si mesmo. Um vídeo feito com celular mostrando os protestos com ambulantes foi postado no Facebook. A rede Al Jazeera, do Catar, transmitiu o vídeo. Os protestos na Tunísia recrudesceram. Em janeiro de 2011, o presidente da Tunísia, no poder havia 23 anos, fugiu. Em um mês, o presidente do Egito desde 1981 também caiu – o estopim para outras revoltas [como a que derrubou Kadafi, na Líbia]. Ilustração digital: Caco Bressane

Elaborado pelo autor

Fontes: Divisão de População da ONU; Organização Internacional do Trabalho; Censo EUA e outras. In: National Geographic Brasil, ano 12, n. 136, jul. 2011, p. 100-102.

1. O que se pode afirmar sobre a distribuição da população segundo as faixas etárias e sua ocupação

profissional nos países citados?

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Geografia


2. O que os dados do gráfico indicam a respeito das condições políticas, econômicas e sociais nos

países em questão?

3. Com base no que foi visto no capítulo, responda: em sua opinião, há relação direta entre os dados

apresentados e os episódios da chamada Primavera Árabe? Explique sua resposta.

O CONFLITO ENTRE PALESTINOS E ISRAELENSES Palco do domínio e da intervenção estrangeira por séculos, o Oriente Médio é hoje área de interesse de potências ocidentais – em especial, os Estados Unidos, que mantêm bases militares e rede de aliados na região, como sauditas e israelenses. A área é a mais rica do planeta em petróleo, mas é a mais afetada por confrontos armados, atentados terroristas, disputas políticas e perseguição a opositores dos regimes. Um dos mais antigos conflitos é o que opõe israelenses e palestinos desde 1948, quando o Estado de Israel foi fundado ainda sob os efeitos devastadores da Segunda Guerra Mundial. Nela, como se sabe, havia o firme propósito do regime nazista de Adolf Hitler, na Alemanha, de exterminar o povo judeu e também outros grupos. A morte de cerca de 6 milhões de judeus no conflito, além dos refugiados em outros países, gerou as condições políticas para se criar o novo Estado. A proposta original previa a partilha da região então conhecida como Palestina. Mas não foi isso que ocorreu. A partir daí, sucedeu-se uma longa série de conflitos e disputas territoriais entre os dois lados – quase sempre opondo os israelenses, apoiados pelos estadunidenses, e os palestinos, apoiados por governos ou grupos armados dos vizinhos árabes-muçulmanos. Entre eles, a Guerra dos Seis Dias, em 1967, e a Guerra do Yom Kippur, em 1973. Alguns acordos de paz foram tentados, mas sem a eficácia necessária (veja o quadro a seguir). Em 2011, o líder palestino Mahmoud Abbas apresentou na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) a criação e o reconhecimento interna-

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cional do Estado palestino, com fronteiras anteriores às da Guerra dos Seis Dias. O discurso, rechaçado por Israel, marcou a intenção de instalar novo quadro de negociações, agora entre dois Estados soberanos. Vale notar que parte da população israelense reivindica o fim dos confrontos e a busca de soluções negociadas. Ainda sem desfecho definitivo, a região continua à procura de paz. CONHECER MAIS

Conflito árabe-israelense: uma cronologia 1948-1949 – Criado o Estado de Israel. Início de guerra com Líbano, Síria, Jordânia e Egito. Vitória de Israel. 1956 – Guerra de Suez: Israel, apoiado por França e Reino Unido, declara guerra ao Egito. Ocupa Gaza.

1994 – Arafat retorna aos territórios ocupados. Israel e Jordânia assinam acordo de paz. O Prêmio Nobel da Paz é dado a Arafat e a Ytzhak Rabin e Shimon Peres. 1995 – Rabin é assassinado por extremista israelense. 1998 – Acordo leva à retirada de Israel da Cisjordânia.

1964 – É formada a Organização para Libertação da Palestina (OLP). Em 1969, Yasser Arafat torna-se líder da OLP. Em 1974, a organização é reconhecida pela ONU como representante do povo palestino.

2000 – Tropas de Israel retiram-se do sul do Líbano. Em julho, Israel e OLP falham ao iniciar novo acordo de paz. Em setembro, dá-se a segunda intifada.

1967 – Guerra dos Seis Dias: após meses de tensão, Israel investe em ataque surpresa. Ocupa a Cisjordânia, Gaza, as colinas de Golã e o Sinai. [...]

2001 – Ariel Sharon é eleito primeiro-ministro de Israel. Este ocupa a Cisjordânia. George W. Bush, Sharon e M. Abbas comprometem-se a novo acordo de paz.

1973 – Guerra do Yom Kippur: Egito e Síria atacam sem sucesso o Sinai e as colinas de Golã. [...]

2002 – Israel inicia a construção de um muro separando cidades palestinas (Kalkilya, Tulkarm etc.) de assentamentos de colonos judeus na Cisjordânia.

1978 – O presidente egípcio Anuar Sadat e o primeiro-ministro israelense Menachem Begin assinam acordos de paz em Camp David (EUA). O Sinai é devolvido ao Egito. Ambos ganham o Prêmio Nobel da Paz. Israel ocupa o sul do Líbano com 30 mil soldados. 1981-1982 – Anuar Sadat é assassinado. Israel anexa as colinas de Golã ao seu território e invade o Líbano. A OLP retira-se para Túnis, na Tunísia. 1987 – Intifada: estoura a revolta palestina contra a ocupação israelense. 1988 – OLP reconhece soberania de Israel sobre 78% do território histórico da Palestina e proclama o estabelecimento de um Estado palestino independente. 1993 – Acordos de Oslo: negociações conduzem OLP e Israel à assinatura da Declaração dos Princípios pela Paz. Os acordos preveem a criação da Autoridade Nacional Palestina.

2004 – Sharon inicia retirada de colônias judaicas em Gaza. Arafat morre num hospital de Paris. 2006 – O Hamas, um grupo islâmico fundamentalista que faz uso das armas para atingir seus objetivos, conquista o poder em Gaza. No ano seguinte, ocorrem conflitos com Israel. 2008-2010 – Fracassam tentativas de reconciliar o Hamas e o Fatah, ou Al-Fatah, fundado em 1964 por Arafat e seguidores e que se tornou o maior grupo político dentro da OLP. Há uma cisão, em clima de guerra civil. 2011 – Mahmoud Abbas discursa na ONU, reivindicando o ingresso da Palestina como membro pleno na organização. 2012 – A Palestina é reconhecida como Estado observador na ONU.

Fontes: SMITH, Dan. Atlas dos conflitos mundiais. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2007, p. 64-65; jornal O Estado de S. Paulo, 17 set. 2011. (Texto adaptado.)

IRAQUE E IRÃ Outras fontes de conflitos situam-se no Iraque e no Irã. O primeiro foi sacudido por duas guerras em pouco mais de dez anos (em 1991 e 2003). Um dos principais berços da civilização humana, o Iraque já foi parte do Império Otomano e área tutelada pelos britânicos após a Primeira Guerra Mundial. Antes desses episódios e da ocupação dos Estados Unidos no início do século XXI, o Iraque se envolveu em longa guerra com o Irã, de 1980 a 1988. 258

Geografia


Carlos Cazalis/Corbis/Latinstock

Em 1991, o país foi atacado pelos Estados Unidos e aliados em represália à invasão iraquiana do Kuwait, um importante fornecedor de petróleo. A invasão foi ordenada pelo então líder iraquiano, Saddam Hussein. Ele veio a ser deposto com a nova Guerra do Golfo, em 2003-2004. A alegação na época é que o ditador abrigava em seu território armas de destruição em massa, o que não se confirmou. As tropas estadunidenses retiraram-se do país definitivamente no final de 2011. Mas prosseguem os atentados e embates entre facções sunitas e xiitas. Bagdá, um tesouro do patrimônio cultural da humanidade, é hoje uma cidade dividida por muros, com bairros ocupados por sunitas e outros por xiitas – que não se misturam. O poder político é dividido entre as correntes islâmicas e os curdos, mas há conflitos entre eles. A população iraquiana ainda luta para retomar a normalidade. Com território correspondente ao da antiga Pérsia, o Irã é hoje uma república islâmica e sobre a qual pairam suspeitas de desenvolvimento de projeto de fabricação de armas nucleares. No século XX, o país foi governado por um monarca – o xá Reza Pahlevi – por quase 40 anos, de 1941 a 1979. Apesar de ser um tirano, sob sua gestão o país passou por um processo de modernização econômica e social e aproximação com o Ocidente. Foram estruturados a produção e o processamento do petróleo, sua maior riqueza. O país foi totalmente transformado a partir do final da década de 1970, com a revolução social comandada pelos aiatolás (chefes religiosos xiitas, maioria no país). Foi instituído um Estado teocrático – ou seja, baseado no poder e na influência da religião. Portanto, a vida social e política passou a ser ditada pela visão de mundo e preceitos dos aiatolás. Nesse quadro, por exemplo, a vida das mulheres sofreu inúmeras restrições. Em 2005, assumiu o poder o ultraconservador Mahmoud Ahmadinejad, que veio a se reeleger cinco anos depois sob suspeitas de fraude eleitoral. Seu governo tem se caracterizado por uma postura hostil ao Ocidente e a Israel, além de reprimir e prender opositores do regime. Em função da suposta continuidade do projeto nuclear, que inclui criar dificuldades para a entrada de inspetores da ONU, o país vem sofrendo Jovens iranianos protestam nas ruas de Teerã (Irã) contra o resultado das eleições presidenciais de 2009. sanções econômicas.

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CONHECER MAIS

Afeganistão: a luta das mulheres Há 25 anos, uma garota afegã de olhos verdes causou espanto na capa da revista National Geographic. Uma jovem refugiada tentando escapar da guerra entre os comunistas, apoiados pela hoje extinta União Soviética, e os mujahedins, guerrilheiros islâmicos sustentados pelos Estados Unidos, ela tornou-se a imagem do desespero em seu país. O atual ícone do Afeganistão é de novo uma jovem, Bibi Aisha, que foi ferida com cortes pelo marido como castigo por ter fugido dele e de sua família. Bibi fizera isso para escapar dos espancamentos e dos abusos a que era submetida. [...] Na área chamada “crescente pashtun” a vida era, e em muito sentidos ainda é, organizada em torno do código [...] “à maneira dos pashtuns”. Seu fundamento é a honra masculina, avaliada segundo três tipos de posse: zar (ouro), zamin (terra) e zan (mulheres). [...] O Parlamento afegão propôs [...] um projeto de lei visando eliminar a violência contra as mulheres. Elas, por sua vez, começam a rejeitar as velhas práticas. Visitei em Cabul o lar de Sahera Sharif, pashtun e a primeira parlamentar feminina da província de Khost. “Ninguém sabia que uma mulher podia afixar pôsteres de campanha política nos muros” [...], diz ela.

Em criança, Sahera enfrentou o pai, um mulá conservador, trancando-se em um armário até ele permitir que ela fosse à escola. Sahera atravessou a guerra civil em meio a grupos rivais de mujahedins que arrasaram Cabul antes da vitória do Talibã, em 1996. [...] Depois da queda do Talibã, em dezembro de 2001, Sahera Sharif abriu uma estação de rádio para educar as mulheres sobre higiene e noções de saúde. Em atitude ainda mais radical, ela apresentou-se como voluntária para dar aulas na universidade em Khost, tornando-se a primeira mulher a fazer isso. Sahera aposentou a burca – outro pioneirismo – e postou-se diante de alunos homens para lhes ensinar psicologia. Eles ficaram corados. E assim ela começou a educá-los. GLOSSÁRIO

Burca: traje tradicional feminino que cobre todo o corpo, utilizado por mulheres em países como Afeganistão e Paquistão. No caso das afegãs, o uso da burca foi imposto pelo grupo Talibã, que governou o país na virada do milênio. Mulá: significa o líder religioso das mesquitas frequentadas pelos islâmicos.

RUBIN, Elisabeth. Rebelião velada. National Geographic Brasil, ano 11, n. 129, dez. 2010, p. 136-137. (texto adaptado.)

PESQUISAR

Com um grupo de colegas, elabore um painel com mapas, fotografias e textos sobre os conflitos no norte da África, Oriente Médio e sul da Ásia. O grupo deverá preparar uma base cartográfica com os países em questão, seus nomes e cidades mais importantes e os principais focos de conflitos. Deverá também criar símbolos para representar e localizar áreas de extração de petróleo e bases militares estrangeiras. Com os colegas, selecione e organize os dados coletados. Se precisar, consulte as indicações ao final deste capítulo. Os textos explicativos devem destacar as revoltas e seu desfecho, analisando seu significado político e socioeconômico para as populações e as relações em escala regional e mundial. Apresente os resultados e discuta-os com a turma.

A EUROPA ATUAL Vimos que a Europa foi o palco principal dos dois maiores flagelos da humanidade, a Primeira e a Segunda Guerra Mundial. Um novo quadro começou a se erguer no continente no final do segundo conflito: os europeus precisavam criar mecanismos de cooperação regional que pudessem evitar novos e sangrentos conflitos. Nas primeiras décadas do pós-Segunda Guerra, o continente atravessou o período de reconstrução, baseado no Plano Marshall, projeto de financiamentos patrocinado pelos Estados Unidos, e na criação da Otan, organização militar e estratégica de defe260

Geografia


sa do mundo ocidental (leia-se, países capitalistas da Europa, mais Estados Unidos e, recentemente, ex-repúblicas soviéticas e da Cortina de Ferro). Além disso, conviveu com a Guerra Fria, que, embora caracterizada pela ausência de confrontos armados, foi marcada pela crescente militarização e pelo aumento das tensões Leste-Oeste. Mesmo afetadas pela guerra, muitas nações europeias (em especial, Reino Unido, França e Portugal) viram-se envolvidas nas décadas pós-Segunda Guerra em sangrentos embates para preservar suas colônias na África ocidental francesa e África central, Indochina, Angola e Moçambique, Argélia e outros. Com a derrocada do socialismo real no final da década de 1980 e nos anos seguintes, diversos países do leste europeu iniciaram sua transição ao capitalismo. Tais processos se deram com turbulências e violência localizada, como é o caso da Romênia, mas não chegaram a se espalhar pelo continente. Entretanto, episódios de violência extrema ressurgiram na região dos Bálcãs, com a implosão da antiga Iugoslávia. O país, uma federação de Estados socialistas não alinhada com a União Soviética, manteve-se unificado até a morte de seu líder supremo, Josip Broz Tito, em 1980. Daí em diante, o que se viu foi uma sucessão de conflitos entre as repúblicas, caracterizados sobretudo pela atitude beligerante da Sérvia. Os episódios incluíram a prática do genocídio, destruição em massa de um grupo étnico e tentativa de eliminação dos seus traços culturais – num espaço que já vivenciou tal prática na Segunda Guerra Mundial. O final do conflito deu origem a novas repúblicas independentes: Bósnia-Herzegovina, Croácia, Eslovênia, Macedônia, Montenegro e Sérvia (veja os mapas a seguir). A pendência restante refere-se ao Kosovo, que declarou unilateralmente sua independência em 2008, reconhecida em seguida pelos Estados Unidos e membros da União Europeia. A Sérvia, entretanto, ainda não reconheceu a soberania de sua ex-província.

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Impérios e estados dos bálcãs – 1914-2008

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Fonte: Atelier de Cartographie Sciences Po. Disponível em: <http://cartographie.sciencespo.fr/fr/balc-s-1878-2008>. Acesso em: 3 set. 2012.

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2008

Outros conflitos importantes, mas de âmbito nacional, foram os embates entre católicos e protestantes na Irlanda do Norte (solucionados na virada do milênio) e a luta nacionalista-separatista do País Basco, região do norte da Espanha e sudoeste da França (na Espanha, firmou-se compromisso com o governo central de buscar soluções no campo do Estado de direito). Ainda permanecem disputas no Cáucaso, região com grande diversidade étnica e cultural que, embora não integrasse a União Soviética, viveu décadas sob Além disso sua influência (e, hoje, sofre interferências da Rússia). Além disso, o espaço europeu não está isento de ataques de organizações do terror, como aconteceu no metrô de Madri (Espanha) em 2004.

500 km

Ilustrações digitais: Sonia Vaz

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CONHECER MAIS

O Cáucaso É uma região com 51 línguas, em que os Estados fronteiriços e as nações não se harmonizam. No final dos anos 1980, os esforços dos georgianos e armênios pela independência contribuíram para a crise que provocou a dissolução da URSS em 1991. [...] Regimes sólidos na Geórgia e no Azerbaijão integrados por políticos soviéticos veteranos, a presença militar russa e o olhar atento dos observadores internacionais extinguiram a maioria dos conflitos, mas não os solucionaram. [...] O interesse externo na região não é devido apenas à guerra [...] O petróleo da região do mar Cáspio deverá corresponder a 5% da produção mundial em 2020 – importante o suficiente para conflitar os interesses de norte-americanos, russos e iranianos sobre a melhor rota para um novo oleoduto. SMITH, Dan. Atlas dos conflitos mundiais. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1997, p. 58.

RACISMO, XENOFOBIA E SEGREGAÇÃO NA EUROPA O fim das guerras e dos confrontos armados na Europa não significa o fim de conflitos e violações de direitos humanos. No contexto atual, muitos deles estão associados ao racismo, à xenofobia, à discriminação e à segregação social e espacial. O racismo e outras formas de discriminação em função da cor da pele e de diferenças étnico-culturais (como as religiosas) não são prerrogativa dos países europeus. Eles ocorreram e ainda ocorrem em países que receberam muitos imigrantes, como os Estados Unidos e o Brasil. 262

Geografia

GLOSSÁRIO

Discriminação: expressão concreta de preconceitos que conduzem à ação daqueles que discriminam, que buscam cercear direitos ou gerar tratamento desigual a outros indivíduos ou grupos. Racismo: conjunto de ideias ou doutrinas que estabelece e justifica a dominação de um grupo racial (ou segundo a cor) sobre outro. Tais desigualdades se expressam, por exemplo, por meio do preconceito, modo de pensar que leva a uma qualificação em geral negativa de um indivíduo em função de suas origens ou condição. Segregação: ato ou efeito de separar, com a finalidade de isolar, evitar contato ou interação de qualquer tipo. Xenofobia: do grego xénos, que significa “estranho”, “estrangeiro”. A xenofobia refere-se à aversão a pessoas e coisas estrangeiras, que vêm de fora, podendo combinar-se também com a discriminação de fundo étnico-racial.


Tampouco é possível afirmar que tais práticas e sentimentos são compartilhados por todos os membros das sociedades europeias. Entretanto, no caso da Europa, onde proliferaram e ainda se disseminam ideias racistas e nazistas, são muito frequentes episódios de intolerância, inclusive ceifando vidas ou criando obstáculos aos que são estrangeiros ou tidos como “diferentes”. Isso inclui também outros grupos tradicionais que circulam no espaço europeu, como os ciganos. Tais acontecimentos se dão em esferas como a do trabalho e nos espaços da vida cotidiana. Em diversos países do continente, os imigrantes ocupam tarefas penosas, precárias, com baixa remuneração e que não exigem maior qualificação profissional. Muitas dessas tarefas são rejeitadas pelas populações nativas. Mesmo assim, em momentos de crise econômica, como a que países da União Europeia vivem desde 2008, amplia-se a rejeição aos imigrantes e ganha força o discurso de que eles subtraem postos de trabalho dos nacionais. Em regra, há dificuldades para os estrangeiros acessarem benefícios e serviços sociais. Vale notar que há ali grandes contingentes de estrangeiros egressos de ex-colônias europeias ou de territórios coloniais remanescentes (como os pertencentes à França: Guadalupe e Martinica, na América Central, e a Guiana Francesa, na América do Sul). No Reino Unido, existem imigrantes e descendentes originários do subcontinente indiano (Índia, Paquistão, Bangladesh, Sri Lanka). Na Espanha e em Portugal, por sua vez, há presença de muitas pessoas vindas de países latino-americanos. Outros países contam com imigrantes de outras partes da Europa (na Alemanha, turcos, gregos e oriundos do leste europeu). Vale notar que são recorrentes as denúncias de tráfico humano, também de pessoas oriundas do Leste Europeu. Tal prática vitima em especial as mulheres. Mas, de forma geral, quem se subordina aos agenciadores está sujeito a todo tipo de exploração. Os abusos desse tráfico hediondo são variados e frequentes: promessas de empregos transformam-se rapidamente em exploração sexual ou em trabalho em condições análogas à escravidão. A segregação se expressa, portanto, no aviltamento das condições sociais. Isso é reforçado por situações de segregação espacial. É frequente que imigrantes e seus descendentes, muitos deles nascidos no país, vivam em conjuntos habitacionais precários e distantes do núcleo mais denso das cidades, onde estão os empregos e os serviços. Como muitos jovens que vivem nesses bolsões não dispõem de empregos e outras oportunidades, configuram-se áreas de fortes tensões e conflitos, como os que sacudiram Paris em 2005 e 2009. Episódios similares ocorreram em Londres e outras cidades do Reino Unido em 2011. Esse quadro é reforçado por hostilidades frequentes em espaços públicos e locais de entretenimento que reúnem grande número de pessoas, como os estádios esportivos. Da milenar cidade de Marselha, no sul da França, vêm exemplos contrários e bastante positivos. Porto mediterrâneo, ela é caracterizada pela diversidade cultural, pela convivência e por interações sociais de grupos e indivíduos das mais diferentes origens.

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Algumas medidas foram tomadas para conter as práticas antissociais descritas, por exemplo, a assinatura de convenções internacionais e regionais contra o racismo, a discriminação e a intolerância. Entre os organismos da União Europeia já existe uma agência central para tratar da questão de como integrar a diversidade nos países-membros.

OUTROS CONFLITOS NO CONTINENTE AFRICANO Vimos que os movimentos ocorridos em países do norte da África trouxeram um sopro de democracia e a rejeição a ditaduras opressoras. Vamos examinar aqui alguns acontecimentos em países situados no Sael (extensa faixa lesteoeste ao sul do Saara) e na África subsaariana, nas partes central e meridional do continente. Alguns capítulos de História e de Geografia já examinaram diversos aspectos de flagelos humanitários na África, como o tráfico de escravos no mercantilismo e a intensa exploração ocorrida na fase do imperialismo e do neocolonialismo, no final do século XIX e ao longo da primeira metade do século XX, respectivamente. Uma vez ultrapassada a fase de lutas anticoloniais e alguns conflitos fronteiriços entre nações africanas independentes, nos últimos trinta anos do século XX, os países africanos hoje se defrontam com novos desafios: enfrentar pobreza, fome e epidemias, garantir a segurança alimentar das populações de forma permanente, converter suas imensas riquezas em benefícios sociais, erguer estruturas econômicas e instituições do Estado. Entre as mudanças políticas desejadas estão as mesmas da Primavera Árabe: superar o déficit democrático e construir o Estado democrático de direito, além de abandonar as violentas disputas pelo poder entre grupos, líderes ou partidos rivais. Sobre os atuais desafios, vamos examinar alguns casos que são fonte de preocupação da comunidade de países e da opinião pública mundial.

REPÚBLICA DEMOCRÁTICA DO CONGO (RDC) E VIZINHOS A situação do país é uma das mais dramáticas do continente africano. A RDC é muito rica em minérios (como a columbita-tantalita, ou coltan, usada em componentes dos telefones celulares), mas ao mesmo tempo está envolvida em intermináveis conflitos e apresenta baixíssimo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). As zonas mais conflituosas estão no leste do país, nas fronteiras com Ruanda e Burundi e onde estão grandes reservas minerais. No final dos anos 1990, o país também foi afetado pelos massacres ocorridos em Ruanda, decorrentes da sangrenta disputa entre as etnias hutu e tutsi. Milhares de ruandeses migraram para a RDC, então chamada de Zaire. 264

Geografia


MOMENTO DA ESCRITA I

Com um colega, examine o texto, a fotografia e o mapa a seguir. Destaque as informações principais e escreva em dupla uma redação que descreva e analise a situação política, econômica e social da RDC. No texto, indique quem está realizando fortes investimentos no país, com vistas a explorar suas riquezas minerais. RDC: Uma década após a Grande Guerra

Lucas Oleniuk/ ZUMA Press/Latinstock

A Segunda Guerra do Congo, também conhecida como a Grande Guerra da África, iniciou-se em 1998 na República Democrática do Congo (RDC). Estima-se que nela morreram 3,8 milhões de pessoas – a maior parte de inanição e doenças – além de milhões de refugiados. A maior guerra na história moderna africana envolveu diretamente oito países africanos, bem como 25 grupos armados. A Primeira Guerra do Congo (novembro/1996 a maio/1997) terminou quando as forças rebeldes apoiadas pela Uganda e Ruanda depuseram o presidente Mobutu Sese Seko em maio de 1997, no país que ele chamava de Zaire. O líder dos insurgentes, Laurent Kabila, tomou posse como presidente. Esta guerra estabeleceu a fundação para a Segunda Guerra do Congo, que começou em agosto de 1998. Kabila tinha divergências com os seus antigos aliados, que o acusaram de não honrar o seu acordo para garantir a paz e segurança nas suas fronteiras. Um grupo rebelde apoiado pela Ruanda e Uganda emergiu e rapidamente dominou as províncias orientais ricas em recursos. Em menos de duas semanas, os rebeldes tinham se movimentado pelo país e tomado a estação hidroelétrica de Inga, que fornece energia à Kinshasa, bem como o porto de Matadi, através do qual muitos alimentos de Kinshasa passam. O centro de diamantes de Kisangani caiu nas mãos de rebeldes em agosto e forças avançando do leste começaram a ameaçar Kinshasa no final do mesmo mês. Um Kabila sitiado procurou ajuda nos Estados vizinhos. A ofensiva rebelde foi abruptamente repelida visto os esforços diplomáticos de Kabila terem dado frutos. Os primeiros países africanos a responder à solicitação de Kabila de ajuda foram membros da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC). Os governos de Angola, Namíbia e Zimbábue enviaram tropas para apoiarem o governo de Kabila. Esta intervenção salvou o governo e empurrou as frentes rebeldes da capital. Várias outras nações se juntaram ao conflito em apoio a Kabila, notavelmente o Chade, Líbia e Sudão. Até setembro de 1999, os rebeldes tinham aceitado um acordo de cessar-fogo e em fevereiro de 2000 o Conselho de Segurança da ONU autorizou uma força de 5 500 membros para monitorar o cessar-fogo, mas as escaramuças persistiram. O fim do conflito em julho de 2003 não impediu a morte de cerca de mil pessoas por dia no ano seguinte, em função de doenças e subnutrição. Há também relatos de muitos casos Em Bisie, na República Democrática do Congo, soldado patrulha atividades de de exploração extrema de mulheres no conflito e de continuiextração da cassiterita. Na mina, crianças, dade da ação violenta de milícias armadas. jovens e adultos trabalham sob a mira de Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC), agosto de 2008. Disponível em: <www.sardc.net/Editorial/sadctoday/portview.asp?vol=690&>. Acesso em: 6 set. 2012. (Texto adaptado.)

homens armados. Foto de 2011.

9º ano

265


Ilustração digital: Mario Yoshida

“Corredor Chinês” na República Democrática do Congo

N O

L

0

410

820 km

S

Fonte: Le Monde Diplomatique, 2010. Disponível em: <http://mondediplo.com/maps/drcchina>. Acesso em: 6 set. 2012.

SOMÁLIA A Somália é hoje um país dividido, devastado e sem um governo central que possa fazer frente à ação de milícias islâmicas que controlam parte do sul do país. Dados da ONU de 2009 indicam que cerca de 1/4 da população somali é composta por aqueles que emigraram ou vivem em campos de refugiados. Ao norte, está a Somalilândia, província livre de conflitos que declarou sua independência em 1991, reforçada por um plebiscito em 2001, mas que ainda não obteve o reconhecimento internacional. A ausência de um comando político no país permitiu a proliferação de piratas, que saqueiam embarcações no golfo de Aden e no oceano Índico, na costa da Somália. Em 2010, foram mais de 50 ataques a embarcações e mais de mil passageiros e tripulantes feitos reféns. O golfo de Aden, que dá acesso ao canal de Suez, ao norte, é uma das principais rotas mercantes do mundo. A ONU já instituiu sistemas de segurança e vigilância nessas águas oceânicas. Sobre a complexa situação deste país, que se localiza em uma região conhecida como Chifre da África, realize a atividade a seguir: 266

Geografia


MOMENTO DA ESCRITA II

Examine o mapa a seguir. Depois, escreva um texto que descreva e analise a situação da Somália no contexto atual. Indique os aspectos que configuram uma crise humanitária no país. Converse com colegas e indique o que pode ser feito pela comunidade internacional e dos países da região para solucionar os graves conflitos e suas repercussões no território somali. Se necessário, pesquise novos dados com a ajuda do professor.

Ilustração digital: Sonia Vaz

Somália: crise humanitária no Chifre da África País em desespero. Enquanto a paz reina em parte da região separatista da Somalilândia, ao norte, as milícias islâmicas lutam para assumir o controle do sul do país, e os piratas prosperam na costa da semiautônoma região de Punt. O conflito e a seca geraram uma catástrofe humanitária – mais de 1 milhão de pessoas deixaram suas casas; 3,5 milhões dependem da distribuição de alimentos. Mas a falta de segurança torna cada vez mais difícil levar ajuda à população.

N O

L

0

165

330 km

S

Fonte: DRAPPER, Robert. Somália devastada. National Geographic Brasil, ano 10, n. 114, set. 2009, p. 127.

SUDÃO E SUDÃO DO SUL Em 2011, um acontecimento promoveu a mudança do mapa de divisão política da África e do mundo: surgiu um novo país, o Sudão do Sul. Cerca de 99% da população do sul decidiu pela criação do novo Estado em um referendo. O novo país é bastante pobre – quase 1/3 da população ainda depende de ajuda humanitária para sobreviver. De outro lado, conta com as mais ricas reservas de petróleo do território do antigo Sudão. 9º ano

267


Vale notar que a divisão ocorreu em meio aos conflitos na região de Darfur, no oeste do Sudão. Ali, o exército sudanês, apoiado por milícias, travou longa batalha com grupos rebeldes. Acordos firmados também em 2011 decidiram pela reorganização política de Darfur, criando dois novos Estados e firmando tréguas entre o governo central e as várias milícias existentes. Ainda ocorrem situações localizadas de violência e crise humanitária, com centenas de milhares de pessoas vivendo em campos de refugiados. Assim como na RDC, também há presença de capitais, investimentos e técnicos chineses operando no país – com objetivos semelhantes, como obter recursos preciosos como o petróleo.

MOMENTO DA ESCRITA III

Com base no gráfico e no texto a seguir, escreva um texto que exponha e discuta a situação atual do Sudão e do Sudão do Sul. Indique quais são os interesses em jogo, considerando a disponibilidade de riquezas naturais nos dois países. Ilustração digital: Sonia Vaz

Sudão e Sudão do Sul – Divisão política e exploração do petróleo O petróleo fornece 98% da receita interna do Sudão do Sul, percentual maior que em qualquer outro país do mundo. (*) Consórcios exploram os blocos de produção do petróleo. Discrepâncias nos números geram a desconfiança sulista de que o governo central não distribui as receitas como determina o tratado de paz. Fonte: Global Witness; IHS Energia; Wildlife Conservation Society; Atlas de comércio global; Administração de Informação sobre Energia Americana. National Geographic Brasil, ano 11, n. 132, mar. 2011, p. 107.

N O

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0

280

560 km

S

Sudão do Sul: sonho de paz A causa das tensões no Sudão é de natureza tão geográfica que poderia ser notada até mesmo por um observador na Lua. A ampla faixa cor de marfim do Saara no norte da África contrapõe-se à savana e à selva verdejante no centro do continente. As populações em geral se distribuem de um lado e de outro desse divisor vegetal. [...] No Sudão, o contato entre árabes e negros sempre foi problemático. Já no século VII, os conquistadores muçulmanos descobriram que muitos moradores da terra então conhecida como Núbia eram cristãos. O confronto entre ambos consolidou-se em um impasse que durou mais de um milênio. [...]

268

Geografia


[Já no século XX], com a eclosão da segunda guerra civil no país, em 1983, surgiu um grupo rebelde, intitulado Exército de Libertação do Povo do Sudão, que em um dos seus primeiros atos espetaculares lançou um ataque contra a sede da construtora de um canal [que desviaria águas da região úmida do Sudd para o norte, até o árido Egito]. Anos de carnificina se seguiram e somente seriam encerrados em 2005, quando esforços diplomáticos nos bastidores levaram à assinatura do Acordo de Paz Global. Esse pacto assegurou ao Sudão do Sul uma autonomia relativa, com Constituição, Exército e moeda próprios. Em janeiro de 2011, a história sudanesa deu um passo determinante: a população sulista aprovou em referendo a decisão de separar-se do norte e formar uma nação livre, por ora chamada de Sudão do Sul. As lideranças políticas de ambos os lados emitem sinais de que pretendem respeitar o resultado, temerosas de uma intervenção internacional. Ao mesmo tempo, continuam o antagonismo e a troca de acusações. [...] A questão é: por que o norte não aceita a separação do sul? De novo, o motivo é geográfico: petróleo. A maior parte das reservas fica no Sudão do Sul, mas o governo central controla as refinarias, assim como a distribuição das receitas. TEAGUE, Matthew. Sudão do Sul: sonho de paz. National Geographic Brasil, ano 11, n. 132, mar. 2011. p. 106, 108.

UMA NOVA ÁFRICA? Ao longo do tempo, a história e a cultura da África e afro-brasileira figuraram nos livros escolares apenas em tópicos do sistema escravista colonial. Deixaram de ser discutidos de forma mais extensiva aspectos como a grande riqueza e diversidade dos reinos e grupos culturais da África pré-colonial, as resistências à exploração e à dominação estrangeiras e, mais contemporaneamente, os avanços nos campos político e econômico. Do mesmo modo, o continente africano quase sempre foi retratado como espaço de pobreza, confrontos armados, desigualdades profundas e disseminação de doenças como a aids e o vírus ebola. Essa visão corresponde a uma abordagem comum no cenário internacional: muitos conflitos e questões importantes relativos à África não têm o mesmo peso nos meios de comunicação globais e nos discursos de líderes mundiais que, por exemplo, os conflitos entre árabes e israelenses. Entretanto, novos acontecimentos no continente mostram possibilidades de superação dos dramas sociais. Ainda há muito por fazer: conflitos diversos ou ditaduras permanecem em países como Mali, Mauritânia, Costa do Marfim, Zimbábue, Guiné-Bissau e na multiétnica Nigéria (que é também grande produtora de petróleo). Mas em países onde governos autoritários foram derrubados há indícios claros de melhorias sociais e prosperidade econômica. Uma nova África parece surgir de escombros dos conflitos e das heranças coloniais. Além das significativas revoltas no norte nos últimos anos, o continente tem a oferecer ao mundo um exemplo notável: o da África do Sul, que superou o regime do apartheid. Instituído em 1948, ele se baseava no governo de minoria

9º ano

269


branca (formado por descendentes de colonizadores britânicos e holandeses) e na separação oficial entre negros e brancos, com forte exploração e opressão dos primeiros. Aos negros era vedado compartilhar com os brancos até coisas mínimas, como assentos em ônibus e banheiros públicos. Muitos grupos e etnias foram confinados em territórios (os bantustões) ou bairros precários de grandes cidades, como Joanesburgo. Sob a liderança de Nelson Mandela, acompanhado de milhares de ativistas, os sul-africanos encerraram o regime oficial de segregação em 1993-1994, com a assinatura de acordo entre Mandela e o presidente branco da época, Frederick de Klerk. Em 1994, Mandela foi eleito presidente, passando a coordenar a transição política no país. Embora ainda existam muitas desigualdades entre brancos e negros, a nação ingressou num ciclo de prosperidade econômica, hoje integrando grupo dos países chamados emergentes. Após anos de convulsões internas, que incluíram o uso de meninos-soldados, países como Serra Leoa e Libéria abandonaram a resolução dos seus conflitos por meio da ação armada. Retrata esse novo quadro o fato de que, em 2011, a presidente eleita da Libéria, Ellen Johnson Sirleaf, a ativista Leymah Gbowee, também liberiana, e a jornalista e militante antigoverno Tawakul Karman, do Iêmen, foram agraciadas com o Prêmio Nobel da Paz. Os países africanos de língua portuguesa vêm estreitando laços econômicos e culturais entre si e também com o Brasil. Os brasileiros estão presentes em diversas obras públicas e cooperam com Angola e Moçambique em diversos campos (entre eles, o da saúde). Angola tem tido forte ritmo de crescimento econômico, com base na exploração do petróleo e dos diamantes sob o controle do Estado. Resta ainda que essa riqueza alcance o conjunto da população; da mesma forma, muitos esperam alternância no poder político, já que o país é governado há mais de 30 anos por José Eduardo dos Santos, um líder da luta anticolonial. APLICAR CONHECIMENTOS

1. Escreva com suas palavras o significado dos termos a seguir, essenciais para a compreensão dos

processos discutidos no capítulo: a) guerra

j) redes e circuitos ilegais

b) paz

k) racismo

c) guerra civil

l) xenofobia

d) luta anticolonial

m) discriminação

e) geopolítica

n) segregação social e espacial

f) poder

o) crise humanitária

g) potência

p) direitos humanos

h) multipolaridade

q) Estado democrático de direito

i) rede geográfica 270

Geografia


2. Observe a charge a seguir e responda: a quais povos e países ela está se referindo? O que ela

Tiago Recchia

representa no quadro das relações políticas para a comunidade internacional e para cada país envolvido?

Fonte: Recchia, Tiago. Jornal Gazeta do Povo (PR), 24 mar. 2011

3. Desafio National Geographic (2011) Quando os britânicos se retiraram em meados da década de 1950, não admira que a região fosse engolfada por uma guerra civil. Os rebeldes combateram as tropas do governo federal durante os anos 1960, e 500 mil pessoas perderam a vida antes que os dois lados interrompessem as hostilidades em 1972. [...] Com a eclosão da segunda guerra civil, em 1983, surgiu um novo grupo rebelde. Anos de carnificina se seguiram e foram encerrados em 2005, com a assinatura do Acordo de Paz Global. [...] Nas regiões em que árabes e negros haviam, ao longo da história, disputado terras de pastagem, agora eles lutavam pelo petróleo – reservas de até 3 bilhões de barris em uma zona fronteiriça [...] há tempos uma área de confronto entre tribos e clãs. National Geographic Brasil, n. 132, mar. 2011, p. 106 e 115. Disponível em: <www.viagemdoconhecimento.com.br/canal-do-professor/provas-anteriores.php>. Acesso em: 3 set. 2012.

Os episódios descritos estão diretamente relacionados a: a) Guerra civil opondo tropas do governo da Líbia e os grupos revoltosos que derrubaram

Muammar Kadafi, havia 40 anos no poder. b) Lutas entre milícias na Somália, tendo como desfecho a criação da Somalilândia, província

separatista no norte do país. c) Combates entre as tropas do governo comunista de Angola e a guerrilha pró-ocidental, com a

vitória final das primeiras. d) Conflitos históricos entre grupos do norte e do sul do Sudão, onde um referendo aprovou a

criação do Sudão do Sul em 2011. 9º ano

271


4. Analise o trecho de entrevista com Wangari Maathai, ativista em defesa do ambiente nascida no

Quênia. Em seguida, escreva um texto comentando suas posições. As revoluções no norte da África estão causando um terremoto no mundo árabe. Elas terão o mesmo impacto ao sul do Saara? Wangari Maathai: Certamente. Quem não quiser enfrentar tribunais, terá de fazer reformas. E essas reformas estão ocorrendo? Wangari Maathai: Esse é o problema. [...] Quando o povo se queixa, esses líderes apenas dão respostas que ofendem a população. Que comam bolos se não têm pão. Os ditadores africanos estão fazendo o mesmo hoje. Os líderes estão surdos e não escutam a população. Por isso, as revoltas estão ocorrendo. Essa surdez pode acabar causando novos conflitos? Wangari Maathai: Não há a necessidade de mais vítimas. Podemos ter as reformas sem novos banhos de sangue. Mas, para isso, as monarquias que ainda existem na África precisam acabar. A menos que um rei seja muito bom para seu povo, ele tende a transformar o Estado em sua propriedade privada. E é isso o que ocorre. Por isso, as revoltas têm sido tão violentas. São décadas não apenas de ditaduras, mas de pessoas que tomaram conta do Estado e transformaram a polícia em sua proteção pessoal contra o povo. O que a população pede exatamente? Wangari Maathai: Governos responsáveis, impostos que não sejam desviados e a criação de serviços, como educação e saúde. Precisamos de novos líderes. A posição do Ocidente em relação à África é criticada pelo cinismo, já que vários ditadores foram mantidos por muito tempo com recursos americanos e europeus, principalmente durante a Guerra Fria. Como a sra. avalia isso? Wangari Maathai: De fato, vimos uma abertura dos regimes na África depois que o Muro de Berlim caiu. O Ocidente não precisava mais de aliados para frear o comunismo e, portanto, passou a permitir uma maior abertura. Houve maior liberdade. O número de rádios e TVs explodiu. Antes, só o governo tinha esse controle sobre a informação. O espaço político foi ampliado e as Constituições mudaram. Mas o problema é que essa democratização está ocorrendo muito devagar e o povo não aguenta mais. Há muita crítica no continente em relação ao Ocidente, mas um dos maiores parceiros da África hoje é a China. Entidades alertam que Pequim inaugurou uma nova fase da conquista da África. O continente voltou a ser explorado como ocorreu com o imperialismo ocidental? Wangari Maathai: A China está na África porque foi convidada. Nos explora porque nossos líderes permitem isto. O certo é que a China veio fazer negócios. Alguns acham que estão nos roubando. Mas nossos líderes permitem isso. O Estado de S. Paulo, 17 abr. 2011. Disponível em: <www.estadao.com.br/noticias/impresso, ha-muitas-marias-antonietas-na-africa,707327,0.htm>. Acesso em: 2 set. 2012

272

Geografia


PARA AMPLIAR SEUS ESTUDOS África e brasil africano Livros

O volume traz textos e figuras que discutem a diversidade social, cultural e política da África pré-colonial, destacando também os efeitos do sistema escravista e do neocolonialismo no continente africano. SOUZA, Marina de Mello e. África e Brasil africano. São Paulo: Ática, 2007.

A longa caminhada árabe

Artigo do consagrado historiador sobre o significado das revoltas no norte da África e no Oriente Médio que ficaram conhecidas como Primavera Árabe. COGGIOLA, Osvaldo. A longa caminhada árabe. História Viva, ano viii, n. 91, p. 46-49.

Atlas

Atlas da mundialização

Atlas com cartografia inovadora com temas relevantes do Brasil e do mundo. Consultar capítulos sobre firmas e atores globais. DURAND, Marie-Françoise e outros. Atlas da mundialização: compreender o espaço mundial contemporâneo. São Paulo: Saraiva, 2009.

Atlas do mundo global

Com cartografia criativa e inovadora, trata de temas de interesse da geopolítica do mundo atual. Apresenta visões de mundo na ótica de diferentes países. BONIFACE, Pascal; VÉDRINE, Hubert. Atlas do mundo global. São Paulo: Estação Liberdade, 2009.

Atlas dos conflitos mundiais

Traz textos, mapas e gráficos sobre conflitos no mundo e a situação política e econômica dos países, entre outros. Consultar capítulos sobre conflitos regionais e unidades finais sobre tratados e operações de paz. SMITH, Dan. Atlas dos conflitos mundiais. São Paulo: Nacional, 2007.

Sites

Mapa interativo dos conflitos do mundo

Mapa interativo que permite localização e obtenção de informações sobre conflitos regionais no mundo contemporâneo. Mapa interativo dos conflitos no mundo (em inglês). Disponível em: <www.conflicthistory.com/#/period/2005-2011>. Acesso em: 3 out. 2012.

Organização das nações unidas

O portal da ONU traz textos, documentos e notícias sobre os países do mundo. Apresenta links de acesso a documentos e relatórios de encontros, convenções e fóruns mundiais diversos. Organização das Nações Unidas/Brasil. Disponível em: <www.onu.org.br>. Acesso em: 3 out. 2012.

Pelo menos 12 nações árabes viveram 2011 sob tensão e violência

A matéria destaca episódios e contextos políticos, econômicos e sociais de países árabes influenciados pelas revoltas no mundo árabe-muçulmano. Pelo menos 12 nações árabes viveram 2011 sob tensão e violência. National Geographic Brasil. 28 dez. 2011. Disponível em: <http://viajeaqui.abril.com.br/materias/ pelo-menos-12-nacoes-arabes-viveram-2011-sob-tensao-e-violencia>. Acesso em: 3 out. 2012.

Tecnologia, consumo e dor

Artigo que expõe a situação devastadora da exploração de crianças, jovens e adultos nas ricas minas da RDC, muitas delas com minérios utilizados na fabricação de telefones celulares. Tecnologia, consumo e dor (rep. Democrática do congo). O Estado de S. Paulo. Disponível em: <http://blogs.estadao.com.br/link/tecnologia-consumo-e-dor/>. Acesso em: 3 out. 2012.

Filmes

O casamento de rana

A jovem palestina Rana percorre as ruas de Jerusalém, em meio à violência e à permanente reconstrução da cidade, em busca de Khalil, seu verdadeiro amor. Direção: Hany Abu-Assad. Holanda, Emirados Árabes Unidos, Palestina, 2002. 90 min.

Entre os muros da escola

Embates entre o professor de francês e os alunos de uma escola da periferia de Paris, em que grande parte dos estudantes são descendentes de imigrantes. Direção: Laurent Cantet. França, 2008. 128 min.

O último voo do flamingo

Baseado na obra homônima do escritor moçambicano Mia Couto, narra enigmática investigação sobre explosões que tiraram a vida de soldados da missão de paz da ONU na pequena vila de Tizangara, em Moçambique. Direção: João Ribeiro. Moçambique, 2010. 90 min.

Um grito de liberdade

Obra clássica sobre a luta de ativistas como Stephen Biko contra o apartheid na África do Sul. Direção: Richard Attenborough. Reino Unido, 1987. 157 min.

9º ano

273


Capítulo

3

GEOGRAFIA

Paz e cooperação entre povos e países: uma governança global?

V

Marlene Bergamo/Folhapress

imos anteriormente algumas das principais causas e repercussões de guerras entre Estados nacionais e de conflitos envolvendo grupos e atores não estatais. Examinamos também ocorrências, ao longo dos primeiros anos do século XXI, de ações de grupos em disputa pelo poder político internamente a cada país, e ações de organizações ligadas ao terror e às redes e circuitos ilegais. Neste capítulo, vamos estudar ações, medidas e propostas para superar guerras e confrontos armados, criando novos quadros de construção da paz, além de iniciativas de busca de justiça social, atendimento aos direitos humanos GLOSSÁRIO Organizações multilaterais: e preservação de recursos essenciais para a vida na Terra. Como vereentidades que congregam grupos de países em torno mos, tais contextos envolvem uma ampla rede de atores, desde governos de objetivos comuns, como é o caso da Organização e organizações multilaterais até indivíduos e entidades da sociedade civil, das Nações Unidas (ONU). cujo raio de atuação hoje abrange diferentes escalas geográficas. Avançam também as solidariedades em rede, com a participação de grupos e indivíduos que se valem de novas tecnologias e maior acesso a informações para disseminar lutas por conquista e expansão de direitos e liberdades fundamentais. Cada vez mais ganha força no mundo atual a ideia de governança. O termo, que não deve ser confundido com “governo” tal como o conhecemos, refere-se a novas formas de regulação coletiva de diversas demandas sociais, políticas e econômicas pelos diferentes atores sociais, sejam eles públicos ou privados. O que isso significa? Trata-se da participação de atores não estatais – indivíduos, grupos organizados, comunidades e entidades sociais – nos destinos dos países e da humanidade como um todo.

Marcha dos Povos, passeata que reuniu ativistas que participaram da Cúpula dos Povos, em junho de 2012, no Rio de Janeiro (RJ). A Cúpula dos Povos fez parte da conferência Rio+20 e contou com representantes de movimentos de diversos países. A declaração final da Cúpula posicionou-se contra a militarização dos Estados e contra o poder das grandes corporações, além de reafirmar a luta pelo fim da violência, da opressão e da pobreza.

274

Geografia


FAZER A PAZ Como já vimos, a paz não é simplesmente a ausência de guerras. Para assegurá-la, é preciso percorrer etapas que garantam que os acordos firmados ao final de cada conflito sejam cumpridos. Manter a paz e garantir a segurança internacional são dois objetivos mencionados no primeiro artigo da Carta da ONU, aprovada na criação da entidade, em 1945, logo após o final da Segunda Guerra Mundial. Entretanto, apenas em 1992 foi lançado um documento de referência sobre a paz no âmbito da ONU, funcionando a partir de então como diretriz para as ações da entidade e como recomendação para a comunidade de países. Neste documento, sob a direção do secretário-geral à época, o egípcio Boutros-Ghali, estabeleceram-se os diferentes tipos de operação de paz. Para um primeiro exame do tema, realize a atividade a seguir. LER MAPA E TEXTO

Ilustração digital: Sonia Vaz

Observe os mapas e o texto a seguir e responda às questões propostas: Operações multilaterais de paz – 1948-2010

Operações concluídas por outras organizações

N O

L

0

3 150

6 300 km

S

Fonte: Atelier de Cartographie Sciences Po. Disponível em: <http://cartographie.sciences-po.fr/fr/op-rations-de-paix-multilat-rales-1948-2010>. Acesso em: 21 ago. 2012.

9º ano

275


Missões de paz da ONU A manutenção da paz é uma ação militar sob mandato da ONU e com o consentimento das partes para um cessar-fogo e fazer com que ele seja respeitado. O restabelecimento da paz inclui negociação e mediação para reaproximar as partes. Pode-se decidir por um uso preventivo de forças militares, a fim de levar os beligerantes à paz. A imposição da paz é uma ação desenvolvida por forças militares contra um agressor identificado em casos de ameaça contra a paz, ruptura da paz ou ato de agressão. A consolidação da paz prevê o desenvolvimento de infraestruturas políticas, econômicas e de segurança para resolver de forma durável um conflito. Ela se aproxima, às vezes, de uma verdadeira reconstrução dos Estados e do estabelecimento de protetorados pela comunidade internacional. São países que se tornam áreas sob proteção de outros países por estarem muito fragilizados, sem conseguir cumprir suas funções. DURAND, Marie-Françoise e outros. Atlas da mundialização. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 94. (Texto adaptado.)

1. Qual é o tema representado nos mapas? Quais recursos cartográficos foram utilizados em sua

elaboração? 2. De forma geral, quais são as regiões do planeta que receberam operações de paz? Em sua opinião,

o que explica essa distribuição? 3. Quem são os responsáveis pelas diferentes operações de paz no mundo? 4. Para você, é correto afirmar que uma operação de paz é exclusivamente uma ação militar,

desenvolvida para evitar novas guerras e atos violentos em países que já passaram por isso? Explique sua resposta. 5. Converse com os colegas e responda: o Brasil esteve envolvido em alguma operação de paz nos

últimos anos? Qual ou quais e com que objetivos?

OPERAÇÃO DE PAZ Os dados apresentados mostram que existem diversos tipos de operação de paz, desde as que implicam o uso efetivo de forças militares até os trabalhos de reconstrução do país ou países devastados por guerras. Isso já aconteceu em inúmeros deles, como Timor Leste, Angola e Iraque. Seguindo determinação firmada pela ONU nos anos 1990, esses complexos processos envolvem quatro campos principais, como assinalou o pesquisador Dan Smith no Atlas dos conflitos mundiais, publicado em 2007: • Estrutura política: organizar e acompanhar eleições; criar ou recriar instituições políticas (assembleias de parlamentares, estruturas de governo); lançar ou aperfeiçoar leis; buscar constituir um governo dito satisfatório (transparente, que preste contas e realize o combate à corrupção), e outras ações. É preciso também garantir direitos humanos e elaborar relatos de abusos cometidos durante ou após os conflitos. 276

Geografia


• Segurança: assegurar a paz, controlando o cessar-fogo e evitando no-

vos atos de agressão; promover o desarmamento e a desmobilização de tropas; dedicar atenção aos casos de crianças-soldados; controlar o comércio e circulação de armas; criar ou reconstruir órgãos de segurança no país, por exemplo. • Aspectos socioeconômicos: reconstruir infraestruturas (estradas, portos, redes de água e energia etc.), escolas, hospitais, órgãos públicos; realizar investimentos na atividade econômica e em empresas de serviços públicos; organizar retorno dos refugiados que foram vítimas dos conflitos e reacomodar os ex-combatentes. • Reconciliação: promover o diálogo entre líderes políticos, ativistas e entidades; instituir práticas que possibilitem o reconhecimento mútuo das partes envolvidas nos conflitos, em especial por meio da educação; impedir manifestações hostis e garantir às mídias o acesso à informação; criar Comissões de Verdade e Reconciliação, que consistem em assembleias regulares com as populações e as partes envolvidas no conflito. Nelas, as pessoas relatam ou denunciam fatos e refletem sobre eles, promovendo a reaproximação entre os ex-beligerantes. As missões de paz são fundamentalmente um mandato da ONU, com apoio dos países e de organizações regionais (União Africana, União Europeia, Organização do Atlântico Norte – Otan e muitas outras). As agências especiais da ONU também participam dos processos de paz, como a que trata da questão dos refugiados. Além delas, outras organizações sociais não governamentais também se envolvem, como a Anistia Internacional, Médicos Sem Fronteiras e outras. É importante lembrar que as forças de paz da ONU (que contam com soldados de diversos países) atuam também em situações em que não há confrontos armados, mas existe potencial para que eles venham a ocorrer. Um exemplo diretamente relacionado ao Brasil é o Haiti. Devastado por um forte terremoto em janeiro de 2010, que destruiu cerca de 70% das instalações de sua capital, Porto Príncipe, o país recebeu logo em seguida novas forças da Missão de Estabilização das Nações Unidas no Haiti (Minustah, na sigla em inglês). A missão tem na chefia militar o Brasil e foi criada já em 2004 para garantir a segurança interna do país. Os soldados vigiam as ruas, buscam impedir atos violentos e participam de atividades como a distribuição de alimentos. Os brasileiros também estiveram presentes no Timor Leste, situado na parte oriental da ilha de Timor, no sudeste da Ásia. Ex-colônia portuguesa que ficou sob domínio da Indonésia entre 1975 e 1999, o país passou vários anos sob efeito dos combates entre a guerrilha de libertação nacional e as forças do invasor estrangeiro. Encerrado o conflito, era necessário realizar eleições e reconstruir o país, tarefas que contaram com ajuda de diplomatas e técnicos brasileiros. Apesar da relevância do trabalho realizado pelas forças de paz, nem todos os países colaboram efetivamente para esse fim. Alguns, como os Estados Unidos e o

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Reino Unido, até oferecem recursos financeiros, mas têm reduzida presença nos efetivos das forças de paz da ONU, cujos membros são conhecidos como “capacetes azuis”. É importante salientar também que apenas após o final da Guerra Fria a ONU pôde realizar de forma mais efetiva e mais livre o trabalho com as missões de paz. Nos anos anteriores, tais iniciativas sofriam restrições dos países-líderes e seus aliados, tanto do bloco capitalista como do socialista. Nesse quadro, as principais potências usavam seu poder de veto no Conselho de Segurança da ONU para impedir ações que poderiam contrariar seus interesses estratégicos. O conselho tem cinco membros permanentes ‒ Estados Unidos, Rússia, China, Reino Unido e França ‒, que já exerceram diversas vezes o poder de veto, em especial os estadunidenses e os russos (herdeiros da representação soviética). Vale notar também que organizações multilaterais como a ONU, a Organização dos Estados Americanos (OEA) e outras só passaram a ter efetividade após a Segunda Guerra Mundial. Antes disso, qualquer tentativa de ingerência nos assuntos internos de um país era, em regra, interpretada como interferência na soberania nacional.

Thony Belizaire/AFP/Getty Images

“Capacetes azuis” organizam distribuição de alimentos para vítimas do terremoto no Haiti, na cidade de Pétion-Ville, em 2010.

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Geografia


Como veremos a seguir, as organizações multilaterais (que congregam grupos de países em torno de objetivos comuns), os governos e as demais entidades sociais nacionais e mundiais devem acompanhar e atuar em outras questões que são fontes potenciais de conflitos. Entre elas estão situações de: • racismo, preconceito, discriminação, xenofobia e intolerância religiosa; • secas extremas ou inundações, que podem provocar a eventual escassez de alimentos, reforçando a pobreza e a desigualdade social; • disputas por recursos naturais como água ou metais preciosos e conflitos pela posse de terras; • degradação ambiental, como as geradas por desmatamento, contaminação de rios, tráfico ou matança de animais e outras.

CONHECER MAIS

A construção da cultura de paz A cultura de paz está intrinsecamente relacionada à prevenção e à resolução não violenta dos conflitos. É uma cultura baseada em tolerância e solidariedade, uma cultura que respeita todos os direitos individuais, que assegura e sustenta a liberdade de opinião e que se empenha em prevenir conflitos, resolvendo-os em suas fontes, que englobam novas ameaças não militares para a paz e para a segurança, como a exclusão, a pobreza extrema e a degradação ambiental. A cultura de paz procura resolver os problemas por meio do diálogo, da negociação e da mediação, de forma a tornar a guerra e a violência inviáveis. Na atualidade, continuamos com inúmeros conflitos armados e lutas civis, que sacrificam vidas humanas em mais de quarenta países. Outras fontes de tensão têm sua origem na deterioração do meio ambiente [...], na competição por recursos de água doce, cada vez mais escassos, na desnutrição e na flagrante desigualdade econômica e social não só entre os países, como também internamente a estes, devido a modelos de desenvolvimento concentradores de renda e excludentes. NOLETO, Marlova Jovchelovitch. Cultura de paz: da reflexão à ação; balanço da Década Internacional da Promoção da Cultura de Paz e Não Violência em Benefício das Crianças do Mundo. Brasília: Unesco; São Paulo: Associação Palas Athena, 2010. p. 10-11.

TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL O encerramento de um conflito envolve a assinatura de pactos ou tratados nos quais são estabelecidas as bases para a paz. Os conflitos também podem terminar com a vitória de um dos lados (e com assinatura de algum acordo) ou pela exaustão de uma ou de ambas as partes em litígio. Assim, existem inúmeros pactos, acordos ou tratados já assinados, correspondentes aos conflitos que já se desenrolaram ao longo do tempo e que foram encerrados. Nesse quadro, desenvolveram-se os princípios que regem o direito internacional. Ele se refere a um extenso conjunto de normas e regras que busca estabelecer critérios e solucionar pendências, por exemplo, disputas entre dois países por linhas de fronteira, direitos sobre águas territoriais, direitos comerciais (hoje a cargo da Organização Mundial do Comércio – OMC), proteção de cidadãos vítimas dos conflitos armados. Da mesma forma, surgiram regulamentos para punir crimes internacionais, como crimes de guerra, escravidão e o tráfico de mulheres e crianças. A resolução 1 325 da ONU, aprovada no ano 2000, impõe a presença de mulheres na condução dos processos de paz. Aos poucos, desenvolveram-se também noções suficientes para identificar e punir crimes hediondos como o de genocídio e garantir o atendimento dos direitos humanos. 9º ano

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Algumas instituições foram criadas para julgar responsáveis por episódios de guerra: tribunais militares para julgar os derrotados na Segunda Guerra Mundial (Alemanha nazista e Japão) e os crimes cometidos na guerra na antiga Iugoslávia (em 1993) e em Ruanda (1994), entre outros. Conforme Marie-Françoise Durand e colaboradores, o fim da Guerra Fria e a crescente participação dos meios de comunicação na divulgação de abusos cometidos contra as populações criaram as condições políticas para instituir o Tribunal Penal Internacional (TPI), com a finalidade de julgar chefes de guerra. Em 1998, cerca de 60 países assinaram o estatuto que rege o tribunal. Já em 2002, foram abertos processos contra os responsáveis por abusos em conflitos na África (República Democrática do Congo, Uganda, Sudão e outros) e na Europa, com o julgamento de Slobodan Milosevic, ex-presidente da Sérvia, que foi interrompido com a morte do acusado em 2006. Outras participações do TPI e outros órgãos, como a Corte Internacional de Justiça e tribunais ou juízes nacionais, deram-se no julgamento de crimes de guerra em países como Serra Leoa, Libéria e Camboja. Vale notar que, em função de interesses geopolíticos, nem todos os países ratificaram o estatuto de criação do TPI. Entre eles, estão China, Estados Unidos, Índia, Israel e Rússia. Muitos deles ainda adotam, por exemplo, a pena de morte, que cada vez mais passa a ser compreendida como uma questão da esfera internacional e não meramente como assunto interno de cada país. Há fortes pressões diplomáticas e de entidades de direitos humanos para que os países abandonem definitivamente essa prática. O Tribunal Penal Internacional (TPI) Desde o final da Segunda Guerra Mundial, as Nações Unidas cogitaram várias vezes a ideia de estabelecer um tribunal penal internacional permanente. Em 1993 e 1994 instituíram dois tribunais especiais para punir as graves violações do direito internacional humanitário ocorriDan Emmert/AFP/Getty Images das na ex-Iugoslávia e em Ruanda, respectivamente. Em 1994, iniciou uma série de negociações para estabelecer um tribunal penal internacional permanente que tivesse competência sobre os crimes mais graves para a comunidade internacional, independente do lugar em que foram cometidos. Essas negociações culminaram com a aprovação, em julho de 1998, em Roma, do Estatuto do TPI, o que demonstra a decisão da comunidade internacional de cuidar para que os autores desses graves Corte penal internacional discute na ONU, em Nova York (EUA), o julgamento de crimes de guerra em crimes não fiquem sem castigo. Ruanda. Foto de 2008.

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Entre os crimes de competência do TPI estão os de guerra (uso de crianças, qualquer forma de violência sexual etc.), genocídio (atos praticados com a intenção de destruir, no todo ou em parte, um grupo nacional, étnico, racial ou religioso, enquanto tais), contra a humanidade (extensa lista que fala em homicídio, extermínio, escravidão, deportação forçada, tortura, agressão sexual, perseguição de grupos específicos, apartheid e outros.) Comitê Internacional da Cruz Vermelha. Disponível em: <www.icrc.org/por/ resources/documents/misc/5yblr2.htm>. Acesso em: 10 set. 2012.

PROLIFERAÇÃO DE ARMAS E DESARMAMENTO: ARSENAIS CONVENCIONAIS E NUCLEARES Já estudamos aspectos do comércio mundial de armas, que abastece os conflitos pelo mundo com armamentos de diferentes tipos e portes. Vimos que alguns países participam ativamente desse mercado, entre eles, por mais contraditório que seja, os que têm assento permanente no Conselho de Segurança da ONU. Eles figuram também no grupo dos países mais ricos do mundo, o G8 (no caso do comércio de armas, a exceção é o Japão). Nesse campo, também entram em cena tratados e acordos internacionais, muito importantes, mas nem sempre suficientes para conter a compra e venda de armas. Entre eles estão as convenções sobre proibição de armas químicas e biológicas, que se enquadram na categoria das armas de destruição em massa. Há fortes preocupações da comunidade internacional quanto a esse tipo de armamento, assim como em relação às armas nucleares. Mas não se deve desconsiderar o grande efeito destrutivo das armas ditas convencionais (tanques, mísseis, aviões de combate, minas, metralhadoras, lança-granadas e outras). Entre as dificuldades para conter o comércio desses armamentos estão as de rastrear equipamentos provenientes do tráfico (portanto, do comércio ilegal) e superar os obstáculos postos por governos que dele se beneficiam. Em abril 2013, a Assembleia Geral da ONU aprovou um tratado sobre o comércio de armas, para tentar controlar os efeitos nefastos dessa atividade. Entre outras medidas, o tratado indica que os países não devem vender armamentos para o crime organizado, organizações do terror ou grupos que violam os direitos humanos. O final da Guerra Fria e da bipolaridade que regia as relações internacionais criou um novo contexto para a questão das armas nucleares. Estados Unidos e Rússia assinaram sucessivos acordos para redução dos respectivos arsenais. Desde 1957, a Agência Internacional de Energia Atômica, órgão autônomo criado no âmbito da ONU, tem a tarefa de estabelecer e acompanhar normas de segurança nuclear e de incentivar o uso pacífico dessa fonte de energia. Apesar da adoção de medidas importantes, como a proibição de testes nucleares que não sejam subterrâneos, criação de zonas livres de armas nucleares, limitação de arsenais ou assinatura de tratados de não proliferação, diversos países dificultam a inspeção de instalações nucleares suspeitas de produzir armas dessa natureza – caso notório do Irã. Sobre esse tema, realize a atividade a seguir:

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LER MAPA

Proliferação e desarmamento nuclear – 2009

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Fonte: DURAND, Marie-Françoise e outros. Atlas da mundialização. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 92.

Adotado em 1968, o Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP) visa reduzir o risco de proliferação de armas nucleares, que têm alto poder destrutivo. O tratado concedeu aos países dotados de armas nucleares antes de 1967 (EUA, Rússia, França, China e Reino Unido)o direito de manter seus arsenais. Mas exigiu deles o compromisso de não auxiliar outros países a adquirir ou desenvolver tais armamentos – tarefa nem sempre cumprida. As ogivas são cápsulas de formato curvo e pontiagudo que carregam o armamento nuclear.

Ilustração digital: Sona Vaz

Examine o mapa e, em seguida, responda às questões propostas:

1. Quais países se destacam quanto à posse de arsenais e ogivas nucleares? Em sua opinião, o que

isso representa para as relações de poder no mundo atual?

2. Quais são os países que não assinaram o Tratado de Não Proliferação Nuclear? O que contribui

para explicar a posição adotada por eles?

3. De acordo com o mapa, qual é a posição do Brasil com relação à produção de armas nucleares?

4. Pesquise e discuta a atual posição do Irã no campo da produção de armas nucleares. 282

Geografia


A QUESTÃO DOS REFUGIADOS E DESLOCADOS INTERNOS Outro quesito importante relativo aos contextos de guerras e conflitos é a questão dos refugiados e deslocados internamente em cada país. Para não sofrer os efeitos destrutivos da guerra, parte significativa das populações busca refúgio em outros países (notadamente, os vizinhos) e em outras regiões do próprio país. Um exemplo recente é o da Síria, em 2012. Diante do embate entre governo e grupos armados de contestação ao poder, centenas de milhares de cidadãos buscaram abrigo na Turquia, no Líbano e na Jordânia. Ao longo do século XX houve uma tomada de consciência, pela comunidade internacional, da questão dos refugiados, já que a Revolução Russa e as duas grandes guerras mundiais, entre outros conflitos, geraram a fuga ou o deslocamento de dezenas de milhões de pessoas. Já nas primeiras décadas do século, a antiga Liga das Nações, depois substituída pela ONU, criou um escritório para cuidar do tema. Em 1947, a ONU cria nova organização, o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur). A ele cabe oferecer apoio e proteção aos refugiados incluindo alimentos e assistência médica, e intermediar negociações com países para encontrar novos locais de reassentamento das vítimas dos conflitos. A agência identifica e apoia também os grupos e indivíduos apátridas. São pessoas que, por variadas razões, perderam sua nacionalidade. A nacionalidade é o elo legal entre um indivíduo e um Estado. Por que isso ocorre? Muitas vezes, algumas pessoas têm sua nacionalidade negada porque as leis do país não as reconhecem como cidadãos por motivos religiosos, étnicos ou mesmo por suas opiniões e ações políticas. Um caso conhecido é o dos membros da etnia Tâmil, não reconhecidos pelo Estado em Sri Lanka. Em outros casos, não há consenso sobre qual Estado deve conceder nacionalidade a essas pessoas. Desse modo, o apátrida não pode tirar documentos, votar ou mesmo matricular filhos na escola. Outro trabalho relevante do Acnur é produzir regularmente relatórios e documentos sobre a situação dos refugiados, deslocados e apátridas. Isso viabiliza ações mais concretas em relação a esses grupos. O relatório Tendências Globais 2010 revela que, ao final desse ano, havia 43,7 milhões de pessoas forçadas a se deslocar em todo o mundo, o maior contingente dos últimos 15 anos. Desse total, 15,4 milhões eram refugiadas, sendo 10,5 milhões sob cuidados do Acnur, e outros 4,8 milhões a cargo da agência para refugiados palestinos. O quadro inclui também 837 mil solicitantes de refúgio, 27,5 milhões de pessoas deslocadas internamente e 12 milhões de apátridas. Há pelo menos 7 milhões de pessoas em situação prolongada de refúgio (cinco anos ou mais). O estudo contabiliza também pelo menos 2 milhões de pessoas deslocadas em função de catástrofes naturais. Entre os refugiados e deslocados, há elevados contingentes de mulheres e crianças desacompanhadas. Quase a metade dos refugiados sob responsabilidade do Acnur no mundo vem do Afeganistão e do Iraque. Há, por exemplo, afegãos espalhados por 75 diferentes países. Os iraquianos estão situados em especial nos países vizinhos ao seu. 9º ano

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François Lo Presti/AFP/Getty Images

Entre os receptores, destacam-se o Paquistão (com 1,9 milhão de refugiados, muitos deles afegãos), seguido do Irã. A Síria também já abrigou muitos iraquianos, mas hoje são cidadãos sírios que buscam abrigo nos vizinhos, como vimos antes. Países da África central e oriental como Chade, Quênia, Tanzânia e Zâmbia também recebem levas de refugiados vindos de vizinhos como Sudão, República Democrática do Congo (RDC), República Centro-Africana e outros. Portanto, crises humanitárias e ambientais e disputas políticas expulsaram milhões de homens, mulheres e crianças de seus lares e terras. Da mesma forma, impediram o retorno a seus países dos que foram obrigados a se deslocar antes. Os esforços das agências têm sido o de promover a repatriação (desde que haja condições para isso) ou o reassentamento das pessoas em outros países. Isso exige das sociedades receptoras o desafio de exercer a tolerância, a aceitação de diferenças e Membros de associação humanitária distribuem alimentos para refugiados afegãos promover a integração social assentados em campo de Teteghem, no norte da França, 2010. dos recém-chegados.

COMBATE À FOME, À POBREZA E À INSEGURANÇA ALIMENTAR Vimos que os quadros extremos de pobreza e desigualdade social são considerados fontes potenciais de conflitos. Existem vários indicadores para mostrar graus de pobreza no mundo e em cada país. Um deles, calculado pelo Banco Mundial, baseia-se no número de pessoas vivendo com menos de US$ 1,25 por dia. Dados levantados pela instituição e publicados em 2012 revelam que houve redução da pobreza em todas as regiões do mundo até o ano de 2008. Isso se deve, entre outras razões, ao desempenho da China, que retirou cerca de 600 milhões de pessoas da pobreza desde a década de 1980. O mesmo ocorreu em relação à África, que também registrou quedas no período considerado. Mesmo assim, os números ainda são bastante elevados na África subsaariana (cerca de 400 milhões de pessoas) e sul da Ásia (em torno de 600 milhões de pessoas, em países como Índia, Indonésia e Bangladesh). Situações de fome e insegurança alimentar (pela escassez e irregularidade na oferta de alimentos) também são frequentes no mundo atual. O sistema mundial de produção de alimentos apresenta algumas disparidades flagrantes: a produção mundial de bens alimentícios, superior às 2 500 quilocalorias diárias necessárias 284

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Farjana K. Godhuly/AFP/Getty Images

para cada ser humano, é suficiente para garantir o sustento de toda a população do planeta. Entretanto, estimativas do Fundo das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO-ONU) indicavam que o problema ainda afetava 925 milhões de pessoas no planeta em 2011, apesar da redução no número de indivíduos nessa condição em relação aos resultados de anos anteriores. Outros dados da entidade indicavam também que 98% das pessoas nessa condição viviam em países em desenvolvimento. Deste percentual, dois terços estavam em apenas sete países: Bangladesh, China, RDC, Etiópia, Índia, Indonésia e Paquistão. Quanto às regiões, os dados coincidem com os indicadores de pobreza, afetando em especial Ásia e Pacífico e África subsaariana. Os números também preocupam em outras regiões, como a América Latina e Caribe, onde se estima haver 53 milhões de subnutridos. São muitas as razões para que esse quadro geral se configure. Entre elas estão os eventos naturais extremos, como secas e inundações, mas a escassez de alimentos decorre também dos conflitos políticos. Além disso, embora a produção seja elevada, a falta de alimentos deriva de um movimento perverso do mercado agrícola global: em regra, o objetivo é mais vender do que alimentar, como assinalam MarieFrançoise Durand e colaboradores. A crise econômica após 2008 agravou a situação, pois provocou oscilações nos preços. Muitos países deixaram de importar bens agrícolas em virtude de alta nos preços. Outros, por sua vez, preferiram atender seu mercado interno, em detrimento das exportações. Algumas iniciativas de organizações multilaterais, governos e entidades sociais buscam reverter esse quadro. Há países que criaram programas de complementação de renda, permitindo aos mais pobres o acesso a alimentos e outros bens. Esse é o caso do Brasil. O país, que é um grande celeiro agrícola, também possui programas de doação de alimentos, em especial para países africanos e da América Latina (como Haiti e Guatemala). Do mesmo modo, mantém projetos de cooperação humanitária para ajuda a populações vulneráveis, também africanas. Envolvem, entre outros, recuperação de solos, reconstrução de escolas e hospitais e melhorias no uso da água para irrigação agrícola. Programas apoiados pela FAO não se limitam a distribuir alimentos em situações de emergência. O órgão já apoiou iniciativas como a recuperação de pastagens no Irã, criação de cabras leiteiras na Etiópia e programas de regularização das terras agrícolas em Ruanda, com a decisiva participação de mulheres. Uma iniciativa consagrada em todo o mundo é sistema de microcrédito, criado em Bangladesh a partir da fundação do Grameen Bank pelo economista Muhammad Yunus. Esse banco oferece crédiHomem oferece serviços telefônicos em Bangladesh, na Índia, apoiado pelo sistema de microcrédito, 2004. tos a pessoas de baixa renda para que possam desen-

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volver pequenos empreendimentos (comércio, serviços, pequena produção agrícola), o que já ajudou milhares a sair da condição de pobreza. Tais projetos vêm sendo postos em prática em outros países, inclusive no Brasil, com bancos comunitários implementados pelas comunidades com apoio de organizações não governamentais. CONHECER MAIS

Combate ao racismo, ao preconceito, à xenofobia e à intolerância: integrar a diversidade Existe uma vasta legislação que compõe os estatutos do direito internacional ligados às questões do racismo, discriminação, xenofobia e intolerâncias diversas. Os princípios e as recomendações emanam de um importante documento, resultante da Conferência Mundial contra Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância Conexa, realizada na cidade de Durban, África do Sul, em 2001. O documento traz dezenas de artigos solicitando aos Estados e às sociedades que combatam o racismo, a discriminação e a intolerância em suas variadas formas, por meio de ações no campo jurídico/penal (envolvendo criminalização e reparações), de inclusão social e ações educacionais e outras. Recomenda também levantar dados, identificar problemas e buscar soluções, atendendo aos direitos humanos, e mobilizar setores como empresas, poder público, jovens e organizações não governamentais. Nele, está explicitada a necessidade de manter focos de atenção na situação de afrodescendentes, povos indígenas e migrantes. Os países da Europa, onde a questão é bastante grave, participaram e são signatários da Conferência, criando mecanismos, leis e instituições próprios para o setor. Contam hoje com o Escritório da Comissão Europeia contra o Racismo e a Intolerância e inúmeros documentos, relatórios e levantamentos sobre o tema. Veja os excertos a seguir: Declaração Política adotada pelos Ministros dos Estados-Membros do Conselho da Europa, na sessão de encerramento da Conferência Europeia contra o Racismo.

Nós, os Governos dos Estados-Membros do Conselho da Europa, por ocasião da Conferência Europeia Todos Diferentes, Todos Iguais: dos Princípios à Prática, contribuição europeia para a Conferência Mundial contra o Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância Conexa, Estrasburgo, 11 a 13 de Outubro de 2000 Reafirmamos que: A Europa é uma comunidade de valores partilhados, multicultural no seu passado, presente e futuro; a tolerância garante a manutenção da Europa enquanto sociedade pluralista e aberta, no seio da qual é promovida a diversidade cultural; Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos e com capacidade para participar de forma construtiva no desenvolvimento e bem-estar das nossas sociedades [...]. A aprovação de leis e princípios representa um grande avanço para os países e sociedades. Mas, por si só, não são capazes de resolver os problemas citados. Os mesmos avanços ainda precisam ocorrer no campo das políticas migratórias e em setores correlatos, como o de controle e policiamento de fronteiras, muitas vezes mais rígidos em função de um eventual aumento da imigração dita ilegal. Assim como nos demais países e regiões do planeta, trata-se de compreender que a diversidade é uma das bases da riqueza da humanidade.

ONU. Conferência Mundial contra o Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância Conexa. Conferência Europeia contra o Racismo. Disponível em: <www.gddc.pt/direitos-humanos/ Racismo.pdf>. Acesso em: 5 out. 2012; apud GIANSANTI, Roberto et al. Geografia: um olhar sobre o espaço mundial. São Paulo: AJS, 2012.

QUESTÕES AMBIENTAIS GLOBAIS Diante da escala de degradação ambiental no planeta, afetando quase sempre os mais pobres e os países em desenvolvimento, desde 1972 a comunidade internacional realiza eventos internacionais sobre o tema ambiental. São as conferências para o meio ambiente e desenvolvimento, sob coordenação do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma). Um marco histórico dessas conferências, que sempre contaram com reuniões governamentais e fóruns paralelos da sociedade civil, foi a conferência realizada no Rio de Janeiro em 1992, a Rio-92. Ali se delineou melhor o conceito de desenvolvimento sustentável que, apesar 286

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das diferentes visões, prevê conciliar desenvolvimento econômico e preservação dos recursos naturais, procurando mantê-los para as gerações futuras. Da mesma forma, indicou-se que os países teriam “responsabilidades comuns, mas diferenciadas”, cabendo sobretudo aos países mais ricos financiar a proteção ambiental. O evento definiu também os termos da Agenda 21, conjunto de metas para os países envolvendo desde a proteção de áreas naturais (florestas, mangues, savanas, mares e oceanos etc.) até práticas sustentáveis no âmbito econômico, redução e revisão dos padrões de consumo, luta contra a pobreza, valorização da participação feminina e das populações tradicionais (como os povos indígenas). Os debates lançaram as bases para o combate e monitoramento do chamado aquecimento global e geraram convenções (documentos-base para os países) sobre a diversidade biológica, indicando a necessidade de conservação da variedade de ambientes e das espécies de plantas e animais. Em relação ao aquecimento global, o acompanhamento se deu em torno da agência Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), a partir de 1988. Nos anos seguintes, o órgão buscou reunir dados sobre os prováveis efeitos das crescentes emissões de dióxido de carbono (CO2) e outros gases de efeito estufa, que contribuiriam para elevar as temperaturas médias na atmosfera terrestre. Em 1997, a maioria dos países assinou o Protocolo de Quioto. Em seus diversos anexos e documentos, o protocolo indicava que caberia aos países ricos reduzir suas emissões em 5,2% em relação ao total expelido na atmosfera no ano de 1990. Trata-se de um debate – que ainda prossegue – repleto de divergências e resistências, em especial dos Estados Unidos, grande emissor de CO2, e dos países produtores de petróleo. Outros fóruns temáticos (sobre clima e aquecimento global e florestas, em especial) ocorreram nos anos seguintes. A mais recente conferência mundial foi realizada novamente no Rio de Janeiro, em 2012 – a Rio+20. Um balanço dos resultados globais constatou a insuficiência das ações governamentais em diversos subsetores, em especial no que se refere ao item aquecimento global/mudanças climáticas e na contenção dos índices de devastação dos ambientes naturais. Os documentos da ONU lançaram a ideia de “economia verde” (basicamente, economias de baixo carbono), mas a definição do conceito e sua tradução em ações práticas foram adiadas para novos encontros. Entrou na pauta também a proposta de criar uma agência mundial para regular as ações referentes ao ambiente, a exemplo do que já é feito no plano das trocas comerciais pela Organização Mundial do Comércio. Esse seria um passo importante para criar um novo mecanismo de governança global. Mas a proposta não teve a adesão de muitos países, incluindo o Brasil, o país-sede. Tudo precisa ser aprovado por consenso nas conferências. De forma geral, as organizações ambientalistas e outras que participaram dos eventos paralelos (chamados de Cúpula dos Povos) entenderam que os resultados foram tímidos demais diante da escala das questões ambientais a serem enfrentadas. Por exemplo: faltou, entre outros pontos, aprofundar e aprovar medidas de

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proteção de mares e oceanos, hoje grandes receptáculos de resíduos humanos e palcos de exploração intensa. Por outro lado, o evento renovou o vigor e a decisiva participação das entidades sociais de diferentes países. Um dado importante foi a introdução do combate à pobreza como uma das metas centrais nos próximos anos. Ganharam destaque também algumas iniciativas para a busca de alternativas energéticas limpas e renováveis, como as desenvolvidas na China com energia eólica, solar e hidrelétrica. Reconheceram-se também esforços de países como o Brasil no combate ao desmatamento, embora o problema ainda seja muito grave em nosso país, que está entre os de maior biodiversidade em todo o planeta.

LER MAPAS E TEXTOS

Sobre o papel das organizações não governamentais nas principais questões sociais e ambientais no mundo atual, examine o texto e os mapas a seguir e responda às questões. ONGS plurais Entre público e privado, local e global O fim da Guerra Fria, o desinteresse de certos governos do Sul pelo GLOSSÁRIO desenvolvimento social, a multiplicação de Estados falidos e a renovação Estado falido: Estado em colapso, em dos conflitos contribuíram para o desenvolvimento de organizações não situação de não governo; incapaz de prover a segurança de sua população. governamentais (ONGs). O censo das ONGs existentes é uma tarefa Lobby (singular), lobbies (plural): grupo complicada, tendo em vista seu aumento, sua quantidade e diversidade. de pressão criado que tem como objetivo As mais antigas atuam frequentemente na escala mundial e em setores influenciar as autoridades políticas a tomar decisões que lhe interessam. O reconhevariados: desenvolvimento, ação humanitária, defesa dos direitos humanos, cimento e a aceitação da atuação desses proteção do ambiente, desarmamento etc. Múltiplas organizações nacionais grupos variam de Estado para Estado. são igualmente ativas no tecido social dos Estados. Organizações não governamentais A definição clássica de ONG – “toda organização social não (ONGs): associações criadas por particulares para realizar objetivos que estatal e sem fins lucrativos” – é ao mesmo tempo insuficiente e errônea. não visam lucros. Em tese, defendem Algumas assemelham-se a agências governamentais, outras mais parecem ideias e valores, e não interesses. Se associações similares já existem há lobbies profissionais ou grupos religiosos. [...] muito tempo (como as antiescravistas no Uma progressiva profissionalização substituiu o voluntariado, século XVIII), considera-se que uma das o engajamento individual e a militância dos primórdios. Especialistas primeiras ONGs contemporâneas é a Cruz Vermelha, fundada em 1863. em captação dos recursos, juristas, economistas e outros seguiram os passos antes trilhados por profissionais como médicos, enfermeiras e agrônomos que foram atuar em ONGs. Essa competência crescente fez dessas organizações atores significativos na produção do direito internacional, acabando por constituir um setor de emprego disputado, cujo pessoal assalariado, internacional e muito qualificado, circula entre diferentes ONGs, organizações internacionais ou mesmo administrações públicas. [...] De modo geral, as ONGs exercem funções de denúncia, alerta e mobilização. Assim, sua ação dificulta cada vez mais os segredos de Estado, as formas de repressão e a violação dos direitos humanos ou a ineficácia das instituições financeiras internacionais. [...] Fazendo amplo uso da internet, essas organizações, frequentemente agrupadas em redes, dispõem de repertórios de ações variadas, para sensibilizar e fazer pressão: campanhas de informação, fóruns, manifestações etc. DURAND, Marie-Françoise e outros. Atlas da mundialização. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 68-69. (Texto adaptado.)

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O que é o Fórum Social Mundial? O FSM é um espaço de debate democrático de ideias, aprofundamento da reflexão, formulação de propostas, troca de experiências e articulação de movimentos sociais, redes, ONGs e outras organizações da sociedade civil que se opõem ao neoliberalismo e ao domínio do mundo pelo capital e por qualquer forma de imperialismo. Após o primeiro encontro mundial, realizado em 2001, se configurou como um processo mundial permanente de busca e construção de alternativas às políticas neoliberais. O FSM se caracteriza também pela pluralidade e pela GLOSSÁRIO diversidade, tendo um caráter não confessional, não governamental Neoliberalismo: conjunto de ideias que busca e não partidário. Ele se propõe a facilitar a articulação, de forma adaptar ao capitalismo moderno os princípios do liberalismo econômico dos séculos XVIII descentralizada e em rede, de entidades e movimentos engajados em e XIX. Este se assentava na livre-iniciativa, na ações concretas, do nível local ao internacional, pela construção de força do mercado e da concorrência e no direito um outro mundo, mas não pretende ser uma instância representativa à propriedade. Segundo seus defensores, haveria pouco espaço para a ação econômica da sociedade civil mundial. do Estado. Os neoliberais também consideram O fórum é organizado no mundo por um grande conjunto que a vida econômica e social deve ser regida de organizações não governamentais, sindicatos e movimentos pelos mecanismos de preços e pela economia de mercado, embora achem importante que populares das mais diferentes partes do mundo. Fórum Social Mundial. Disponível em: <www.forumsocialmundial.org.br/ main.php?id_menu=19&cd_language=1>. Acesso em: 17 set. 2012.

essa última seja mais disciplinada, de modo a combater excessos da livre-concorrência.

Ilustração digital: Sonia Vaz

Redes mundiais de escritórios de algumas ONGs – 2008 Oxfam

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Oxfam: Fundada em 1995. Coordena ONGs nacionais em 13 países, com rede de cerca de 3 mil parceiros locais. Atua no combate à pobreza e na defesa dos direitos humanos.

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Greenpeace

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Greenpeace (em português, Paz Verde): conhecida entidade internacional de defesa do ambiente, foi criada em 1971 com os objetivos de combater os testes nucleares realizados pelas grandes potências e defender espécies ameaçadas de extinção. Tem como marca ações arrojadas, como bloquear barcos pesqueiros ou navios de transporte de substâncias tóxicas.

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Ilustração digital: Sonia Vaz

WWF

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WWF (World Wildflife Found, ou, em português, Fundo Mundial para a Natureza): criado em 1961 para a defesa da natureza e dos ambientes, em especial a preservação da biodiversidade e a utilização duradoura dos recursos naturais.

S

Anistia Internacional Anistia Internacional: criada em 1961, defende a liberdade de expressão, estendendo suas atividades para a defesa das vítimas de tortura e de desaparecimento, de condenados à pena de morte e outros direitos. Ganhou o Prêmio Nobel da Paz em 1977. Conta com mais de 2,2 milhões de membros e simpatizantes ativos em cerca de 150 países. N O

L

0

3150

6300 km

S

Fontes: Atelier de Cartographie Sciences Po. Disponível em: <http://cartographie.sciences-po.fr/sites/default/files/BR_C05c_Bureaux_Oxfam_WWF_Greenpeace_Amnesty_2008.jpg>. Acesso em: 17 set. 2012; DURAND, Marie-Françoise e outros. Atlas da mundialização:compreender o espaço mundial contemporâneo. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 69.

1. Quais são as organizações descritas nos mapas e nos textos? Em quais áreas elas atuam?

2. De acordo com os dados, como é a organização espacial das entidades apresentadas?

3. Retome a ideia de governança global apresentada no início do capítulo. Em sua opinião, a atuação

das entidades descritas contribui para desenvolver a governança global? Explique sua resposta.

290

Geografia


UM MUNDO MAIS JUSTO E SOLIDÁRIO Vimos ao longo do capítulo que as relações internacionais evoluíram de um sistema de coexistência internacional (ou seja, um mosaico de soberanias nacionais) para outro caracterizado pela cooperação multilateral, em especial após a Segunda Guerra Mundial. Esta cooperação envolve tanto as organizações regionais e multilaterais como os governos e uma constelação de organizações sociais. Tendo em vista a busca de justiça social, desenvolvimento econômico e preservação ambiental e atendimento dos direitos humanos, a agenda política e social do mundo contemporâneo implica ainda uma série de desafios. Um deles é promover reformas em entidades como a ONU, em especial no seu Conselho de Segurança, para que ela ganhe mais poder e legitimidade diante da complexidade dos conflitos e dramas sociais. É preciso também favorecer contextos que reforcem a multiplicidade e pluralidade de atores estatais e não estatais, públicos e privados, no cenário internacional. A expectativa é de que isso ofereça contrapontos ao poder e aos interesses das nações hegemônicas e das grandes corporações econômicas transnacionais. O rumo dos acontecimentos indica também a necessidade de incorporar as variáveis ambiental e social (em especial, o combate à pobreza) nos projetos de desenvolvimento. Não é por outra razão que os chamados Objetivos de Desenvolvimento do Milênio deverão conter, tendo o ano de 2015 como referência, objetivos também de desenvolvimento sustentável. Para inúmeros especialistas, o caminho para alcançar objetivos de paz, desenvolvimento pleno e efetiva cooperação internacional só poderá ser pavimentado com a efetiva participação social.

MOMENTO DA ESCRITA

Com base nas iniciativas discutidas neste capítulo, examine os textos a seguir. A partir disso, escreva um texto que apresente e discuta as perspectivas para a paz, justiça social e cooperação internacional. Inclua em sua análise o potencial para superação de guerras e conflitos no mundo contemporâneo. Apresente os resultados e discuta-os com sua turma. Declaração Universal dos Direitos Humanos A Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas proclama: A presente Declaração Universal dos Diretos Humanos como o ideal comum a ser atingido por todos os povos e todas as nações, com o objetivo de que cada indivíduo e cada órgão da sociedade, tendo sempre em mente esta Declaração, se esforce, através do ensino e da educação, por promover o respeito a esses direitos e liberdades, e, pela adoção de medidas progressivas de caráter nacional e internacional, por assegurar o seu reconhecimento e a sua observância universais e efetivos, tanto entre os povos dos próprios Estados-Membros, quanto entre os povos dos territórios sob sua jurisdição. Artigo I – Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotadas de razão e consciência e devem agir em relação umas às outras com espírito de fraternidade.

9º ano

291


Artigo II – Toda pessoa tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição. Artigo III – Toda pessoa tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal. Artigo IV – Ninguém será mantido em escravidão ou servidão, a escravidão e o tráfico de escravos serão proibidos em todas as suas formas. ONU, 1948. Disponível em: <http://portal.mj.gov.br/sedh/ct/legis_intern/ddh_bib_inter_universal.htm>. Acesso em: 15 set. 2012.

Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) Durante a reunião da Cúpula do Milênio, realizada em Nova York, em 2000, líderes de 191 nações oficializaram um pacto para tornar o mundo mais solidário e mais justo, até 2015. O sucesso desse grande projeto humanitário só será possível por meio de oito iniciativas que ficaram conhecidas como Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM). [Entre elas estão]: erradicar a extrema pobreza e a fome, educação básica de qualidade para todos; promover a igualdade entre os sexos e a autonomia das mulheres [e] reduzir a mortalidade infantil. ODM Brasil. Disponível em: <www.odmbrasil.org.br>. Acesso em: 17 set. 2012.

APLICAR CONHECIMENTOS

1. A partir do que você estudou no capítulo, escreva com suas palavras o significado das seguintes

palavras ou expressões: a) paz b) guerra c) missões de paz d) governança global e) direito internacional f) Tribunal Penal Internacional g) refugiado h) deslocado i) apátrida j) repatriação k) cooperação humanitária l) organização não governamental m) ator não estatal n) desenvolvimento sustentável 2. Escreva um texto que explique o que significa a seguinte afirmação: “Cada vez mais ganha força

no mundo atual a ideia de governança. O termo, que não deve ser confundido com ‘governo’ tal como o conhecemos, refere-se a novas formas de regulação coletiva de diversas demandas sociais, políticas e econômicas”. 292

Geografia


3. Desafio National Geographic Brasil (2011) Médicos Sem Fronteiras (MSF) é uma organização médico-humanitária internacional, independente e comprometida em levar ajuda às pessoas. São cerca de 22 mil profissionais (médicos, enfermeiras, psicólogos etc.), espalhados por 65 países e atuando em situações de desastres naturais, fome, conflitos, epidemias e combate a doenças negligenciadas. Há mais de 100 brasileiros atuando na MSF. Fontes: National Geographic Brasil, ed. 138, set. 2011, p. 21; Médicos Sem Fronteiras: <www.msf.org.br>.

Ilustração digital: Sonia Vaz

Atuação da MSF no mundo

N O

0

L

2380

9760 km

S

Atuação de brasileiros da MSF

N O

L

0

2310

4620 km

S

Fonte: <www.msf.org.br/brasileiros-no-mundo>, <www.msf.org.br/msf-no-mundo>. Acesso em: 20 dez. 2012.

9º ano

293


Sobre a MSF, considere as afirmações a seguir: I – A MSF conta com a participação de profissionais de diferentes países. Entre eles estão os brasileiros, com atuação em vários países africanos. II – O trabalho de assistência social e ajuda humanitária no mundo está a cargo da ONU, ficando vedada a participação de organizações da sociedade civil nesses setores. III – A MSF atua em dezenas de países, como os da Ásia e da África, dedicando especial atenção às populações mais necessitadas ou afetadas por conflitos, fome, doenças e catástrofes naturais. Está correto o que foi afirmado em: a) I, II e III.

b) III, apenas.

c) I e III.

d) I, apenas.

4. Desafio National Geographic Brasil (2011) Os mares do mundo foram invadidos por uma praga quase invisível, o lixo plástico, em boa parte arrastado das cidades pelo curso dos rios. Os resíduos não chegam a formar ilhas flutuantes, mas uma fina camada de fragmentos está presente em todo o percurso da expedição – 3,5 mil quilômetros entre o Rio de Janeiro e a ilha de Ascensão. [...] Enquanto viaja, o plástico entra em contato com os poluentes orgânicos persistentes (POPs), uma categoria de contaminantes de longa duração no ambiente. [...] “Um fragmento de plástico circulando há alguns anos no mar chega a ter uma concentração de POPs 1 milhão de vezes maior que a água a seu redor”, diz o cientista americano Marcus Eriksen. Isso acontece porque esse lixo e os poluentes têm a mesma origem – o petróleo – e possuem afinidade química. Assim, os organoclorados dispersos na água aderem ao plástico “viajante”. Pobre do animal que engolir a mistura indigesta: não conseguirá metabolizar o plástico e sofrerá os efeitos da contaminação. [...] “A grande maioria dos resíduos sai de cidades e lixões em terra. São despejados diretamente nos rios ou carregados pelas enxurradas até terminar no mar”, conta Eriksen. National Geographic Brasil, ed. 133, abr. 2011, p. 19.

Sobre a grande presença de lixo plástico no mar, é correto afirmar que: a) Os resíduos do lixo urbano provocam desequilíbrios nos ecossistemas marinhos. b) A presença dos POPs reduz efeitos danosos dos plásticos nas águas oceânicas. c) Os oceanos empurram o lixo para os rios, onde se concentram em maior quantidade. d) A contaminação dos oceanos será eliminada com o fim dos lixões urbanos. 5. Comente o texto a seguir, considerando a importância das iniciativas de erradicação da pobreza

e da exclusão social: Não é preciso muito dinheiro para transformar a vida de uma pessoa ou comunidade. Essa é a ideia do microcrédito, termo criado nos anos 1970 por Muhammad Yunus, fundador do Grameen Bank, de Bangladesh. Ele designa o crédito concedido a pessoas de baixa renda sem acesso a formas tradicionais de financiamento. A ideia em si é antiga. Mas com Yunus ela ganhou corpo e passou a mudar a realidade de milhões de pessoas. Em 1976, ele começou a fazer pequenos empréstimos para produtores 294

Geografia


rurais, no início, tirando o dinheiro do próprio bolso. Assim, surgiu o Grameen Bank. Nele, a taxa de pagamento dos empréstimos beira os 99%. O Brasil também participa desse jogo, com instituições governamentais e privadas. “O microcrédito é diferente do microempréstimo. O dinheiro não vai para o consumo, mas para investimentos em negócios, no sonho das pessoas”, diz Jerônimo Ramos, do setor de microcrédito de um banco privado. Um estudo feito com 175 empreendedores de Heliópolis (favela em São Paulo) mostrou que as vendas de quem recebeu o microcrédito cresceram em até 60%. CALLEGARI, Jeanne. O poder do microcrédito. Vida Simples, mar. 2011. Disponível em:<http://planetasustentavel.abril.com.br/noticia/desenvolvimento/ microcredito-banco-comunitario-financiamento-baixa-renda-vidasimples-623607.shtml>. Acesso em: 4 out. 2012. (Texto adaptado.)

6. Com base nos estudos feitos neste capítulo, analise o texto a seguir, que examina perspectivas

futuras para a humanidade. Por uma outra globalização Agora que estamos descobrindo o sentido de nossa presença no planeta, pode-se dizer que uma história verdadeiramente humana está, finalmente, começando. A mesma materialidade, atualmente utilizada para construir um mundo confuso e perverso, pode vir a ser uma condição da construção de um mundo mais humano. Basta que se completem as duas grandes mutações ora em gestação: a mutação tecnológica e a mutação filosófica da espécie humana. A grande mutação tecnológica é dada com a emergência das técnicas da informação, as quais – ao contrário das técnicas das máquinas – são constitucionalmente divisíveis, flexíveis e dóceis, adaptáveis a todos os meios e culturas, ainda que seu uso perverso atual seja subordinado aos interesses dos grandes capitais. Mas, quando sua utilização for democratizada, essas técnicas estarão ao serviço do homem. Muito falamos hoje nos progressos e nas promessas da engenharia genética, que conduziriam a uma mutação do homem biológico. [...] Pouco, no entanto, se fala das condições, também hoje presentes, que podem assegurar uma mutação filosófica do homem, capaz de atribuir um novo sentido à existência de cada pessoa e, também, do planeta. SANTOS, Milton. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. Rio de Janeiro: Record, 2001. p. 174.

9º ano

295


PARA AMPLIAR SEUS ESTUDOS Atlas da mundialização Atlas

Atlas com cartografia inovadora com temas relevantes do Brasil e do mundo. Consultar capítulos sobre firmas e atores globais. DURAND, Marie-Françoise e outros. Atlas da mundialização: compreender o espaço mundial contemporâneo. São Paulo: Saraiva, 2009.

Atlas dos conflitos mundiais

Traz textos, mapas e gráficos sobre conflitos no mundo e a situação política e econômica dos países, entre outros. Consultar capítulos sobre conflitos regionais e unidades finais sobre tratados e operações de paz. SMITH, Dan. Atlas dos conflitos mundiais. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2007.

Atlas do mundo global

Com cartografia criativa e inovadora, trata de temas de interesse da geopolítica do mundo atual. Apresenta visões de mundo na ótica de diferentes países. BONIFACE, Pascal; VÉDRINE, Hubert. Atlas do mundo global. São Paulo: Estação Liberdade, 2009.

Atlas geográfico escolar

Traz mapas do Brasil e do mundo sobre diversos temas. IBGE. Atlas geográfico escolar. 5. ed. Rio de janeiro: IBGE, 2009.

Geoatlas

Atlas com mapas, gráficos e figuras sobre temas de interesse para a geografia no Brasil e no mundo. SIMIELLI, Maria E. Geoatlas. São Paulo: Ática, 2010.

Sites

Documentos preparatórios para a rio+20

Apresenta textos de referência e balanços para a realização da Conferência Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável, realizada em junho de 2012 no Rio de Janeiro. ONU. Documentos preparatórios para a rio+20. Disponível em: <www.onu.org.br/rio20/documentos>. Acesso em: 5 out. 2012.

Fórum social mundial

Portal da congregação de entidades que desenvolve lutas sociais e promove encontros anuais sobre questões como combate à pobreza, democracia, direitos sociais e muitos outros. Fórum Social Mundial. Disponível em: <www.forumsocialmundial.org.br>. Acesso em: 5 out. 2012.

Fundo das nações unidas para a agricultura e a alimentação

O portal da agência da ONU traz notícias, relatórios, programas e publicações sobre garantia da segurança alimentar no mundo. Fundo das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO-ONU). Disponível em: <www.onu.org.br/onu-no-brasil/fao>. Acesso em: 5 out. 2012.

Objetivos de desenvolvimento do milênio

Apresenta em detalhes os oito principais objetivos do milênio, com a finalidade de oferecer critérios e ferramentas para a melhoria das condições sociais no mundo. Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. Disponível em: <www.odmbrasil.org.br>. Acesso em: 5 out. 2012.

Filme

Quem se importa

Documentário da cineasta brasileira sobre empreendedores sociais de diferentes partes do mundo. Depoimentos e imagens mostram a importância das iniciativas sociais de organizações, indivíduos e comunidades para a melhoria das condições de vida no mundo e no Brasil. Direção: Mara Mourão. Brasil, 2010. 91 min.

296

Geografia


Bibliografia

GEOGRAFIA AGNEW, John. Geopolítica. In: LÉVY, Jacques; LUSSAULT, Michel (Org.). Dictionnaire de La Géographie et de l’Espace des Sociétés Tradução Jaime T. Oliva. Paris: Belin, 2003. p. 409. BONIFACE, Pascal; VÉDRINE, Hubert. Atlas do mundo global. São Paulo: Estação Liberdade, 2009. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Proposta curricular para a educação de jovens e adultos: segundo segmento do ensino fundamental: 5a a 8a séries. Brasília: MEC/SEF, 2002. BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais. Geografia. Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998. CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. 8ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005. (A era da informação: economia, sociedade e cultura). COGGIOLA, Osvaldo. A longa caminhada árabe. História Viva. ano VIII, n. 91, pp. 46-49. DIAS, Leila C. Redes: emergência e organização. In: CORRÊA, Roberto Lobato et al (Org.). Geografia: conceitos e temas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1995. p. 141-162. DURAND, Marie-Françoise; COPINSCHI, Philippe; MARTIN, Benoit; PLACIDI, Delphine. Atlas da mundialização: compreender o espaço mundial contemporâneo. São Paulo: Saraiva, 2009. HAESBAERT, Rogério. Territórios alternativos. Niterói/São Paulo: EDUFF/Contexto, 2002. HOBSBAWN, Eric. O novo século: entrevista a Antonio Polito. São Paulo: Companhia das Letras, 2000. MARTIN, André Roberto. Fronteiras e nações. 2. ed. São Paulo: Contexto, 1994. MATIAS, Eduardo P. A humanidade e suas fronteiras: do Estado soberano à sociedade global. São Paulo: Paz e Terra, 2005.

9º ano

297


ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU). Conferência Mundial contra o Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância Conexa. Disponível em: <www.gddc.pt/direitos-humanos/Racismo.pdf>. Acesso em: 1o mar. 2013. SANTOS, Milton. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. Rio de Janeiro: Record, 2000. _______; SILVEIRA, Maria Laura. Brasil: território e sociedade no início do século XXI. Rio de Janeiro: Record, 2001. _______. A natureza do espaço. Técnica e Tempo. Razão e Emoção. 2. ed. São Paulo: Hucitec, 1997. SMITH, Dan. Atlas da situação mundial. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2007. _______. Atlas dos conflitos mundiais. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2007. SOUZA, Marina de Mello E. África e Brasil africano. São Paulo: Ática, 2007. UNESCO. Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura. História geral da África. Brasília, DF: UNESCO, 2010 (8 vols.). UNITED NATIONS OFFICE ON DRUGS AND CRIME (UNODC).The Globalization of Crime: A Transnational Organized Crime Threat Assessment.UNODC, 2010. YUNUS, Muhamad. Um mundo sem pobreza: a empresa social e o futuro do capitalismo. São Paulo: Ática, 2008.

298

Geografia


UNIDADE 6

Ciências



Capítulo CIÊNCIAS

1

Os materiais e a Química

RODA DE CONVERSA

A diversidade de materiais é uma característica forte da atualidade. Há milhares de materiais em uso e novos materiais não param de ser pesquisados e desenvolvidos. Para iniciar seus estudos, converse com seus colegas sobre as questões a seguir, levantando hipóteses de resposta. 1. Você sabe de que materiais são feitos os objetos que usa em seu cotidiano? Quais as principais

matérias-primas em uso? 2. Como os materiais se transformam? Você tem ideia de como o conhecimento químico auxilia

nesse processo? 3. Você já ouviu falar dos alquimistas, que estudavam materiais e substâncias nos tempos antigos,

antes do surgimento da Química moderna? Victoria Albert Museum, Londres.

4. Quais características da Química moderna a tornam diferente da alquimia? Quais as assemelham?

William Fettes Douglas. O Alquimista, 1853. Óleo sobre tela. Victoria Albert Museum, Londres. O quadro mostra dois alquimistas em um laboratório. A palavra laboratório vem do latim – laboratorium – e significa “lugar de trabalho”.

9º ano

301


MATERIAIS BRUTOS OU TRANSFORMADOS

Rubens Chaves/Folhapress

Gerson Gerloff/Pulsar Imagens

João Prudente/Pulsar Imagens

Rochas e minerais, madeira, lã, couro e algodão são exemplos de materiais usados durante séculos pela humanidade. São retirados do ambiente e tratados de diferentes modos para se tornarem úteis na fabricação de objetos. Muito antes do surgimento da ciência química, foram criados os procedimentos para tratar matérias-primas importantes até hoje. A argila, por exemplo, é um material importante para moldar tijolos, potes e panelas. O processo básico da preparação desses objetos começa com a coleta da argila em barrancos ou proximidades de rio, onde se acumula, já que resulta da fragmentação de certas rochas. Há milhões de anos descobriu-se como produzir potes de barro cozido (cerâmica), um material de grande utilidade, pois é impermeável e bom condutor de calor.

A argila úmida é usada para modelar os tijolos em fôrmas.

Os tijolos vão ao sol para secar.

Finalmente, os tijolos são cozidos no forno.

Observando as construções das casas no passado e na atualidade, encontramos diversos materiais em uso. Muitas rochas são utilizadas nas diversas etapas da construção, desde a fundação até o acabamento. Em alguns casos, as rochas são retiradas de pedreiras, cortadas em pedriscos ou mesmo grandes blocos, sendo apenas o tamanho alterado. Nesse caso, dizemos que pedras e areia são usados em estado bruto. Os metais também são velhos conhecidos da humanidade e passam por um longo percurso desde a mineração até a moldagem de objetos metálicos. Por suas 302

Ciências


Britador a

Jazid

de Silos a c ra ru mistu

e sito d Depó de argila io r e á calc sito d o Depóer e gess u clínq

Ilustração digital: Luiz Moura

propriedades de maleabilidade (facilidade para modelagem e capacidade de formar lâminas), tenacidade (resistência à quebra por impacto) e ductilidade (facilidade para formar fios), servem para produzir incontáveis objetos. Nas construções modernas, o cobre é usado em fios condutores elétricos e em tubulações para gás e água quente; o ferro é empregado em vigas que sustentam as construções, em grades e portões; o alumínio é empregado em portas, janelas, portões. No passado recente (até a década de 1960 do século passado) praticamente todos os encanamentos de água fria e quente eram feitos de ferro e os de esgoto eram de chumbo (metal tóxico para os seres vivos) ligados a manilhas de cerâmica que desembocavam em fossas ou em redes coletoras. Atualmente, com exceção dos encanamentos de cobre para água quente e gás, praticamente todos os demais foram substituídos por plástico (PVC). O cimento é outro material extremamente importante nas construções, pois realiza a fixação de pedras e tijolos. Quando se mistura o cimento com água, ocorre geração de calor. O aquecimento mostra que houve uma reação química com liberação de energia. A mistura, adicionada à areia lavada, forma o agregado usado nas construções. Depois de seca, a mistura se torna dura, com boa tenacidade e impermeável (não permite que a água a atravesse).

nho Moi tivo ta o ro Forn

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Silos

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Para fabricar cimento é necessário levar a fornos especiais certas argilas (ricas no elemento químico silício) e o calcário (composto pelos elementos químicos cálcio, carbono e oxigênio). O produto do cozimento é chamado clínquer. Na etapa seguinte, o clínquer moído é misturado ao gesso (composto por enxofre, oxigênio e cálcio). O resultado é o pó de cimento, um material que contém silício, oxigênio, cálcio e enxofre. Elaborado pelas autoras, 2012. (Esquema sem escala, cores-fantasia.)

Por fim, o vidro é outro tipo de material necessário nas construções, por suas propriedades de transparência e impermeabilidade. Ele é produzido pelo aquecimento de areia (constituída principalmente por sílica, que é composta dos elementos químicos silício e oxigênio) misturada com carbonato de sódio (composto dos elementos sódio, carbono e oxigênio), também conhecido como barrilha. Outros componentes também são adicionados à mistura, com a finalidade de obter os diferentes tipos de vidros que conhecemos. 9º ano

303


Diz a lenda que, há 4 mil anos, mercadores fenícios colocaram pedaços de natrão para ajeitar uma fogueira feita na areia. O natrão, também chamado trona ou natro, composto por carbonato de sódio natural, era usado para tingir tecidos e estava sendo transportado pela caravana. A fogueira durou toda a noite e, de manhã, para surpresa de todos, apareceram pedaços de vidro transparente. O vidro passou a ser empregado, inicialmente, para fazer enfeites e depois para produzir utensílios.

APLICAR CONHECIMENTOS I

1. Dê exemplos de materiais que continuam sendo usados desde muito tempo até hoje. 2. Usamos panelas feitas de metais (ferro, alumínio, aço) e de argila. Quais são as propriedades co-

muns e quais as diferentes entre esses materiais? 3. Cite exemplos de materiais usados em estado bruto, descrevendo para que eles servem. 4. Sobre o cimento, explique: a) Quais as matérias-primas utilizadas na primeira etapa de sua produção? E na segunda? b) Como é o procedimento da primeira etapa? E o da segunda? 5. Complete o quadro com os materiais citados no texto.

Propriedade

Materiais

Tenacidade Ductilidade Maleabilidade Impermeabilidade Transparência Condução de calor

6. Veja os símbolos dos elementos químicos citados no texto. Silício: Si Oxigênio: O Cálcio: Ca Sódio: Na Enxofre: S

Em quais dos materiais citados no texto eles estão presentes? Complete o quadro utilizando os símbolos. 304

Ciências


Nome do material Vidro

Elementos químicos presentes Si, O, Ca

7. Observe o esquema simplificado da transformação que origina o cimento:

argila + calcário

calor

clínquer + gesso

pó de cimento

Agora, esquematize a transformação que origina o vidro. 8. Identifique fenômenos físicos ou fenômenos químicos, As transformações dos materiais podem respectivamente, com as letras F e Q. Para responder à ser classificadas em dois grandes grupos: questão, consulte o quadro ao lado. • Fenômenos físicos: os materiais mudam ( ( ( ( ( ( (

) Produção do cimento: etapa de produção do clínquer. ) Produção do cimento: etapa da mistura de clínquer com gesso. ) Explosão de pedreira para obtenção de pedriscos. ) Coleta de barro de barrancos para obtenção de argila. ) Separação do barro de impurezas para obtenção de argila. ) Queima de tijolos ou potes de cerâmica. ) Modelagem de fios de cobre.

a forma ou o estado físico, mas não mudam sua identidade química. O gelo, por exemplo, é água congelada e, apesar de ter outra forma e outro estado físico, continua tendo a identidade química da água. • Fenômenos químicos: os materiais que participam da transformação assumem outra identidade química. Isso significa que o fenômeno inclui reações químicas. O leite natural, por exemplo, tem sabor adocicado, mas o iogurte, sabor azedo. Isso indica que novas substâncias se formaram na transformação do leite em iogurte.

PESQUISAR FÁBRICAS E OFICINAS NA COMUNIDADE

Em grupo, localize em sua cidade uma olaria, uma oficina de cerâmica, de cestaria, de produção de artefatos de couro ou de outro tipo de artesanato. Investigue os conhecimentos tradicionais para a produção artesanal. Entreviste os artesãos e descubra: • quais são os materiais com que trabalham, como eles são obtidos e transformados; • quais são os objetos produzidos e a sua utilidade; • quais são os procedimentos e as técnicas do trabalho; • quais são as máquinas utilizadas; • quais são os fenômenos físicos e as transformações químicas envolvidos na preparação do produto. Antes de fazer as entrevistas, registre as perguntas elaboradas por seu grupo. Anote ou grave suas descobertas. Complete o registro com fotos. 9º ano

305


DEBATER MISTURAS E SEPARAÇÕES DE MISTURAS

1. Apesar de não parecerem, o ar e a água do mar são misturas. Você sabe explicar o porquê desse

fato? Converse com seus colegas e levante hipóteses. 2. Complete a segunda coluna da tabela a seguir com as expressões do quadro. Em seguida, preen-

cha a terceira coluna, com base em seus conhecimentos. • mistura de sólidos; • mistura de líquidos; • mistura de líquidos e sólidos; • mistura de líquido e gás. Materiais

Tipo de mistura

Materiais presentes

Refeição de arroz e feijão Areia da praia Refrigerante Café coado Café com leite Água do mar

Philippe Saharoff/Opção Brasil Imagens

3. Observe a foto de uma salina, local de produção de sal de cozinha.

Pessoa trabalhando em salina, 2008.

306

Ciências


Em uma salina, a água do mar é represada em tanques rasos, onde facilmente evapora. O sal depositado no fundo é coletado e passa por processos para que sejam retiradas impurezas. Após a purificação, é adicionado o iodato de potássio, que contém o elemento químico iodo. Por isso, há nos pacotes de sal a inscrição “sal iodado”. Essa adição é obrigatória por lei para prevenir doenças da glândula tireoidea causadas por carência crônica de iodo. a) Qual fonte de energia é necessária para a separação entre sal marinho e água líquida? b) Qual o formato do tanque de água salgada? Esse formato é importante no processo e em seu

resultado? c) Crie um experimento para simular a obtenção do sal a partir da água salgada. Liste os mate-

riais necessários e anote os passos a serem realizados.

EXPERIMENTAR TRANSFORMAÇÕES OU REAÇÕES QUÍMICAS EXPERIMENTO 1

Materiais • uma colher de sopa de vinagre • um copo limpo e seco • uma colher de chá de bicarbonato de sódio Procedimento Coloque o vinagre em um copo limpo e seco. Em seguida, acrescente o bicarbonato de sódio.

1. Agora, responda: a) O que aconteceu?

b) Leia e explique a seguinte sentença, distinguindo os reagentes dos produtos:

bicarbonato de sódio + ácido acético (vinagre) → acetato de sódio (um sal) + água + gás carbônico

9º ano

307


EXPERIMENTO 2

Materiais • 1 colher de sopa de cal virgem (usado em pintura de parede) • 2 litros de água em uma garrafa pet • uma jarra • um canudo para cada aluno • um copo para cada aluno Procedimento Prepare a água de cal misturando a cal virgem com a água. Deixe a mistura descansar por um dia dentro de um armário ou outro lugar escuro. Colete na jarra o líquido transparente que se separou do resíduo branco no fundo. Esse líquido transparente é a água de cal. Encha meio copo com a água de cal. Com ajuda do canudo, sopre no líquido durante um minuto, devagar para que ele não espirre para fora do copo. Proteja os olhos com óculos de segurança. 2. Agora, responda: a) O que acontece após soprar?

b) Por que podemos dizer que houve uma transformação química?

MISTURAS, SUBSTÂNCIAS E ÁTOMOS A palavra átomo se tornou popular nos dias de hoje. É difundida a ideia de que a matéria é feita de átomos. Mas a história do conhecimento do átomo é bem longa. Foi custoso descobrir como são essas pequeníssimas partes invisíveis da matéria, ainda hoje objeto de investigação. Por outro lado, as substâncias e as misturas podem ser conhecidas a olho nu e por experiência direta. A maioria dos materiais presentes nos ambientes são misturas: os solos, o ar atmosférico, a água do rio e do mar, as rochas etc. Por exemplo, a água do mar reúne água, areia e vários sais, principalmente o cloreto de sódio – mais conheci308

Ciências


Ilustração digital: Luiz Moura

do como sal de cozinha. A água é a substância mais comum da superfície da Terra e compõe o corpo dos seres vivos; ela tem fórmula química e propriedades definidas. Sua fórmula é H2O, isso quer dizer que cada molécula de água é formada por dois átomos de hidrogênio e um átomo de oxigênio. O cloreto de sódio tem a fórmula NaCl, sendo Na o símbolo químico do elemento sódio, pois seu nome latino é natrium. Ou seja, para formar o cloreto de sódio basta um átomo de sódio e um de cloro, conforme mostra a sua fórmula. Para representá-la, como o sal forma cristais, são utilizados vários átomos de cloro e de sódio. Molécula de água

Molécula de cloreto de sódio

Cl

Na Elaborado pelas autoras. (Esquema sem escala, cores-fantasia.)

Por sua vez, o ar atmosférico também é uma mistura de gases. A maior porção corresponde ao gás nitrogênio, substância cujas moléculas possuem dois átomos do elemento nitrogênio, com fórmula N2. Confira a composição do ar atmosférico na tabela a seguir. Essa composição não considera a água que existe no ar, em quantidades variadas, conforme o dia e o lugar no planeta. Composição do ar atmosférico seco Fórmula química

Nome do componente

% em volume

N2

Nitrogênio

78,1000

O2

Oxigênio

20,9000

Ar

Argônio

0,9340

CO2

Dióxido de carbono

0,0314

Ne

Neônio

He

Hélio

Kr

Criptônio

H2

Hidrogênio

Xe

Xenônio

0,0346

Fonte: Interações e transformações III – Química – Ensino Médio. São Paulo: Edusp, 1998.

9º ano

309


Os diferentes materias vem sendo investigados há muitos séculos. As substâncias que os compõem eram conhecidas de forma prática, mesmo que se ignorassem as suas fórmulas. Os antigos alquimistas acumularam saberes sobre substâncias pesquisando medicamentos, elixires curativos e todo tipo de transformação útil para a indústria de metais, couro e tantas outras. Para que se chegasse à Química moderna, foi muito importante a contribuição do cientista francês Antoine Lavoisier (1745-1794). Suas descobertas vieram encerrar as disputas entre cientistas europeus que tentavam explicar como ocorria a queima dos materiais. Lavoisier demonstrou que essa queima depende da união entre o material queimado e o oxigênio, presente no ar atmosférico. Descobriu também que a água não é um elemento único, mas uma mistura de oxigênio e hidrogênio. E foi ele quem determinou uma lei fundamental da química, a Lei da Conservação de Massas, que pode ser descrita assim: a soma das massas dos reagentes é igual à soma das massas dos produtos. Veja um exemplo de aplicação dessa lei, considerando a reação química em que hidrogênio e oxigênio se combinam para formar água. Observe que a soma das massas dos reagentes é idêntica à massa do produto da reação. 90 g de água

10 g de hidrogênio + 80 g de oxigênio

Coleção particular

Bibliothèque des Arts Decoratifs, Paris

As maiores aliadas de Lavoisier foram as balanças de alta precisão, novidade tecnológica de sua época. Outro químico francês, Joseph Louis Proust (1784-1823), avançou ainda mais no estudo das reações químicas e demonstrou a lei ponderal das reações químicas. Após muitos experimentos com medidas precisas, ele concluiu que a combinação entre os reagentes da transformação química obedece a uma proporção fixa. No exemplo anterior, temos a proporção de uma parte de hidrogênio para oito de oxigênio.

E. Mennechet. Antoine Laurent de Lavoisier, 1835. Ilustração. Bibliothéque des Arts Decoratifs, Paris.

310

Ciências

Ambroise Tardieu. Joseph Lois Proust, 1795. Ilustração. Coleção particular.


SUBSTÂNCIAS SIMPLES E SUBSTÂNCIAS COMPOSTAS Há substâncias formadas por um só tipo de elemento químico, por exemplo: gás oxigênio (O2), gás nitrogênio (N2), gás cloro (Cl2); o diamante (carbono organizado em cristal). Nesses casos, temos substâncias simples, constituídas por um único elemento químico. Mas, em outras substâncias, os elementos aparecem combinados, por exemplo: cloreto de sódio (NaCl); água (H2O); dióxido de carbono (CO2); monóxido de carbono (CO); hidróxido de sódio (NaOH − soda cáustica); ácido acético (C2H4O2 − vinagre); etanol (C2H6O – álcool etílico).

EVOLUÇÃO DA TEORIA ATÔMICA

Chemical Heritage Foundation/Science Photo Library/Latinstock

A ideia de que os materiais são feitos de partes bem pequenas e invisíveis é muito antiga. Há 2 mil anos certos sábios gregos pensaram que a divisão contínua da matéria, cada vez em partes menores, e menores ainda, daria lugar a uma partícula indivisível: o átomo. Essa é uma palavra grega criada para expressar esse conceito pois “a” quer dizer “sem” e “tomo” significa “divisão”. Para esses sábios, o universo seria constituído de átomos e do vazio, onde as partículas podiam circular e colidir. A ideia do átomo indivisível foi retomada no século XIX e ajudou a compreender melhor as transformações dos materiais e os elementos químicos. Depois de Lavoisier e Proust descobrirem as leis fundamentais das transformações de substâncias, o inglês John Dalton (1766-1844) sugeriu que os diferentes elementos possuiriam átomos com suas próprias características. Assim, o ouro seria feito por átomos de ouro, o ferro, por átomos de ferro e assim por diante. Dalton explicou que novos compostos se formam na reação química pela reunião dos átomos dos elementos reagentes. Por exemplo, um fio de cobre se escurece quando aquecido a altas temperaturas e em presença de ar. Isso acontece porque o elemento cobre se combina com os átomos de oxigênio do ar. Essa explicação é válida até hoje. O Cu

O O

Cu Átomos de cobre

Ilustração digital: Luis Moura

Cu

William Henry Worthington. John Dalton, 1823. Ilustração. Chemical Heritage Foundation.

O

Cu

Cu

Cu

O

O

Cu

Átomos de oxigênio

O

Cu

O

Moléculas de óxido de cobre O esquema mostra a combinação do elemento cobre (Cu) com o oxigênio (O) presente no ar, dando origem ao óxido de cobre(CuO). Elaborado pelas autoras. (Esquema sem escala, cores-fantasia.)

9º ano

311


Ilustração digital: Luis Moura

São conhecidos atualmente 112 elementos químicos, cada um deles com qualidades comuns a todos e características próprias. Em comum: os átomos dos elementos são constituídos por partículas ainda menores. As partículas que formam o átomo foram descobertas há mais de cem anos e continuam sendo pesquisadas. Na atualidade, sabe-se que os átomos são formados por dezenas de partículas diferentes, sendo as três fundamentais: os elétrons, localizados na eletrosfera, os prótons e os nêutrons, que constituem o núcleo atômico. Os elétrons são partículas minúsculas com carga elétrica negativa, que se mantêm em movimento ao redor do núcleo atômico, com carga positiva. Os prótons possuem carga elétrica positiva, e os nêutrons não têm carga elétrica. Quando a carga positiva do átomo é igual à carga negativa, ou seja, quando o número de prótons é igual ao número de elétrons, o átomo está eletricamente neutro. O átomo mais simples é também o mais antigo e mais abundante do Universo: o hidrogênio. Seu número atômico é 1, o que significa que ele possui um próton no seu átomo. No estado neutro, ele possui um elétron na eletrosfera. Aqui na Terra, ele é encontrado na atmosfera na forma de gás hidrogênio com fórmula H2 (dois átomos reunidos). Já o gás hélio tem sua fórmula idêntica ao nome do elemento: He. Isso porque ele é constituído por um único átomo. Observe a representação do átomo de hélio, que possui dois prótons e dois nêutrons no núcleo atômico, bem como dois elétrons girando na eletrosfera. Ao contrário do hidrogênio, o hélio é um elemento estável que dificilmente se combina com outros. O mesmo acontece com os demais gases atmosféricos chamados nobres, que se encontram na mesma coluna da Tabela Periódica.

Próton Neutron Elétron

Elaborado pelas autoras. (Esquema sem escala, cores-fantasia.)

312

Ciências


A Tabela Periódica representa uma síntese do que se conhece dos elementos químicos. Os elementos encontram-se organizados conforme seu número atômico, que é o número de prótons de cada elemento e que o distingue dos demais.

Ilustração digital: Luis Moura Fonte: Elaborada com base na IUPAC.

APLICAR CONHECIMENTOS II

1. As substâncias químicas têm fórmulas definidas. Dê exemplos. 2. Por que as misturas não têm fórmulas? 3. Dê exemplos de uma substância simples e de outra substância composta. 4. Qual tecnologia foi essencial ao trabalho de Lavoisier? Justifique. 5. As reações químicas são comparáveis a receitas de bolo, especialmente se pensarmos na Lei de

Proust. Por quê? 6. Siga o exemplo do esquema da formação do óxido de cobre e monte outros para mostrar a for-

mação de compostos citados no texto “Evolução da teoria atômica”. Por exemplo: água, glicose, metano (gás comum produzido na digestão dos ruminantes, na decomposição de esgoto ou lodo e erupção de vulcões – CH4). 7. Consulte na Tabela Periódica os números atômicos do lítio e do berílio e monte desenhos esque-

máticos desses dois átomos. 8. Observe a Tabela Periódica. Como estão organizados os elementos nela?

9º ano

313


PESQUISAR II

Fernando Favoretto/Criar Imagem

Examine rótulos de materiais diversos, como os de limpeza e de construção. Identifique os nomes de elementos químicos presentes.

Rótulo de água mineral.

DEBATER II

Fernando Favoretto/Criar Imagem

Fernando Favoretto/Criar Imagem

Boarding1now/Dreamstime.com

Ciete Silvério/Folhapress

Observe as fotos das embalagens e dos objetos.

Antes do advento do plástico, o vidro e o metal eram mais utilizados na produção de embalagens e outros objetos do nosso cotidiano.

314

Ciências


1. Procure em seu cotidiano outros exemplos de objetos que podem ser feitos de diversos materiais,

mas hoje são principalmente feitos de plástico. 2. Por que os plásticos são tão importantes hoje em dia? Quais são suas propriedades? O que os

torna úteis e quais suas desvantagens em relação aos materiais tradicionais? Converse com seus colegas sobre essas questões.

PETRÓLEO ONTEM E HOJE

Ismar Ingber/Pulsar Imagens

Paul Rapson/Science Photo Library/Latinstock

Conforme a teoria mais aceita, a formação do petróleo depende de condições especiais existentes em alguns lugares da Terra, como fundos de cavernas, mares e rios. Nesses lugares há pouco ou nenhum oxigênio, dificultando a decomposição dos organismos que morreram no local ou que foram para lá transportados. Acredita-se que o petróleo formou-se a partir do lodo do fundo dos oceanos do passado, contendo restos de seres vivos. Esse lodo foi sendo filtrado pelas rochas porosas do fundo dos mares até se transformar no líquido escuro, grosso e viscoso que conhecemos. Por sua vez, o carvão mineral é um material sólido fóssil, formado pelo soterramento de vegetais terrestres há milhares de anos. Assim, carvão mineral e petróleo são chamados combustíveis fósseis e, portanto, recursos naturais não renováveis, pois sua formação demora na ordem de milhares ou milhões de anos. O petróleo foi bem conhecido no mundo antigo, quando as fontes brotavam do chão. No Egito antigo, ele servia para iluminação noturna, para construção das pirâmides, para impermeabilizar esgotos e cisternas de água e estava entre os elementos usados na mumificação. A palavra múmia contém “mum”, que na língua egípcia quer dizer betume, um material da mesma família do petróleo.

Vista aérea de plataforma de petróleo na Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro (RJ), em 2012.

Amostra de petróleo bruto extraído das plataformas.

9º ano

315


C1 a C4

Ilustração digital: Luis Moura

Muitas das antigas fontes de petróleo já se encontram esgotadas. Hoje em dia, o petróleo é retirado por meio de poços profundos, pois encontrá-lo se tornou muito mais difícil do que antigamente. O Brasil, por exemplo, desenvolve tecnologias para retirar o petróleo milhares de metros abaixo do piso do oceano, em uma região chamada de pré-sal. Para chegar até as reservas, é preciso ultrapassar uma camada grossa de sal. Depois de extraído, o petróleo segue para refinarias, onde passa por um processo de destilação fracionada. Por meio do aquecimento, seguido de resfriamento, as diversas substâncias presentes no petróleo são separadas. Isso é possível porque algumas substâncias do petróleo mudam de estado físico apenas em determinadas temperaturas, podendo ser coletadas separadamente.

Gás liquefeito de petróleo

20 °C C5 a C9 Densidade e ponto de ebulição diminuindo

70 °C C5 a C10

Produtos químicos Gasolina para veículo

120 °C C10 a C16 170 °C C14 a C20

Combustível para jato, parafina para iluminação e aquecimento Diesel

270 °C C20 a C60

Petróleo cru

C20 a C70 Densidade e ponto de ebulição aumentando

Óleos lubrificantes, ceras, graxas Combustíveis para navios, fábricas e aquecimento central

600 °C > C70 Betume para estradas e telhas

O esquema mostra a destilação fracionada do petróleo, com a qual se retiram seus subprodutos. O propano é a substância de fórmula C3H8, o butano, C4H10, a gasolina é uma mistura de substâncias que contém, igualmente, apenas hidrogênio e carbono, com fórmulas de cinco a oito carbonos, como C5H12 ou C8H18. Elaborado pelas autoras. (Esquema sem escala, cores-fantasia.)

316

Ciências


Com substâncias seperadas do petróleo são fabricados diversos produtos, destacando-se: plásticos, tintas, cosméticos, fertilizantes, detergentes, isopor, fibras para tecidos (náilon, poliéster) e acrílicos. Esses produtos modernos são obtidos com a ajuda de conhecimentos científicos desenvolvidos há pouco mais de 100 anos. Assim, a geração de novos subprodutos do petróleo apoia-se no desenvolvimento cada vez mais acelerado da ciência e da tecnologia.

APLICAR CONHECIMENTOS III

1. No campo da transformação da energia e dos materiais, quais usos os egípcios faziam do petróleo? 2. Na atualidade, para encontrar petróleo, é preciso cavar poços profundos. O que aconteceu com

as fontes superficiais? 3. Do ponto de vista químico, o petróleo é uma mistura de hidrocarbonetos (substâncias formadas

apenas por carbono e hidrogênio). a) Exemplifique as frações que podem ser obtidas a partir do petróleo. b) Como essa mistura é separada em suas partes constituintes? c) Esse processo é uma transformação química ou física? Justifique. 4. Na atualidade, o petróleo fornece matéria-prima para plásticos, fertilizantes e muitos outros pro-

dutos. Por que isso se tornou possível apenas há pouco mais de 100 anos? 5. O petróleo é classificado, junto com o carvão mineral, como combustível fóssil. Por quê?

QUEIMA DE COMBUSTÍVEIS FÓSSEIS: QUAIS AS CONSEQUÊNCIAS? O uso intensivo dos combustíveis fósseis diminui suas reservas mundiais, o que constitui uma preocupação com o esgotamento e gera a necessidade de fontes de energia alternativas. Contudo, petróleo e carvão são as principais fontes energéticas em muitos países, como os Estados Unidos e a China, onde a queima dos combustíveis fósseis move os meios de transporte e gera energia elétrica. Já no Brasil, o etanol da cana é um substituto importante para a gasolina, enquanto a eletricidade normalmente é gerada em usinas hidrelétricas, pela força da queda-d’água, embora os derivados de petróleo sejam também amplamente utilizados. O esgotamento dos recursos naturais não renováveis não é o único problema relacionado ao uso de combustíveis fósseis. Sua queima lança na atmosfera fuligem, monóxido de carbono (CO) e dióxido de carbono (CO2). Há algumas décadas cientistas começaram a relacionar o aumento da temperatura do planeta ao aumento de CO2 na atmosfera terrestre. Diariamente, a água, o solo e os demais materiais que cobrem a superfície terrestre recebem energia solar e se aquecem durante o dia, perdendo calor para o espaço durante a noite. A atmosfera terrestre gera um efeito estufa que é benéfico, pois ameniza as mudanças de temperatura

9º ano

317


naturais e mantém médias adequadas para a vida. Esse efeito é gerado pelo vapor de água e pelos gases de modo geral, pois suas moléculas funcionam como pequeníssimos espelhos, que refletem o calor de volta para a superfície terrestre. Desse modo, a atmosfera devolve para a superfície o calor que dela se dissipara, funcionando como uma estufa. Entre os gases atmosféricos, o dióxido de carbono tem grande influência no efeito estufa. Maior influência tem o gás metano, o CH4, que retém ainda mais calor na Terra. Além da queima de combustíveis fósseis, há outras fontes de emissão de CO2, como as queimadas. No Brasil, elas são usadas tradicionalmente para a produção de pastos em áreas desflorestadas, ou depois da coleta de safra. Em nosso país, o desflorestamento contribui para o aumento do CO2 na atmosfera e, por isso, deve haver constante vigilância nesse aspecto. O metano, por sua vez, pode ser gerado naturalmente em vulcões, na decomposição de lixo ou madeira em área alagada, bem como pelo gado bovino durante a digestão do alimento.

Ilustração digital: Luciano Tasso

LER IMAGEM

Calor que escapa para o espaço

Sol

Atmosfera

Calor refletido para a Terra Radiação solar recebida Atmosfera

Radiação solar emitida sob forma de calor

Elaborado pelas autoras. (Esquema sem escala, cores-fantasia.)

1. Identifique na imagem o efeito estufa que ocorre na atmosfera. Sem esse efeito, benéfico para o

planeta, a Terra seria parecida com a Lua, que tem noites muito frias e dias quentíssimos. 2. Como a intensificação do efeito estufa, provocada pelo acúmulo do CO2 na atmosfera terrestre,

poderia ser sinalizada no esquema?

318

Ciências


CONHECER MAIS

Aquecimento global e mudança climática Em escala local, é mais fácil reconhecer as mudanças causadas pelas atividades humanas no ambiente. Já as mudanças climáticas em escala global não são nada simples de serem compreendidas. Depois de quase duas décadas de estudos, relatórios e conferências, ainda há discussão sobre as causas e consequências das mudanças climáticas que ocorrem na atualidade. Essas mudanças são mais perceptíveis nas regiões geladas, nos polos e no alto das montanhas de clima frio, onde o degelo de blocos imensos de água congelada e de neve no pico de montanhas não representa apenas uma mudança nas paisagens. Simultaneamente, a água proveniente desse degelo já está causando a elevação do nível do mar nas costas continentais, ameaçando algumas ilhas de sumir do mapa. A Indonésia, país na região do oceano Pacífi-

co, pode perder mais de 2 mil das suas 17 mil ilhas nos próximos 20 anos. No Brasil, a ilha do Marajó, no estado do Pará, é identificada como um lugar que facilmente perderá território com a subida do nível do mar. As consequências são dramáticas para toda a vida no planeta. Observam-se, em diferentes regiões, alterações expressivas no regime de chuvas e na localização das secas. Mundialmente, estuda-se e debate-se como podemos, em sociedade, diminuir as emissões de carbono, por um lado, e aumentar o seu “sequestro”, por outro. Isto é, retirá-lo da atmosfera e armazená-lo na biosfera ou na hidrosfera. O carbono segue para a biosfera na etapa de crescimento das plantas; assim, manter as florestas em pé e plantar árvores é um remédio importante contra as mudanças climáticas.

APLICAR CONHECIMENTOS IV

1. Nos materiais da lista a seguir, escreva B se um material bruto está sendo empregado ou Q se o

material foi transformado quimicamente para ser usado. ( ( ( ( (

) Petróleo usado pelos egípcios para impermeabilizar cisternas. ) O caldo de cana é ambiente rico para o crescimento de população de fungos que fazem sua fermentação. Como resultado, há a produção de álcool etílico, ou etanol. ) Pó vulcânico misturado com água servia como cimento para romanos na Antiguidade. ) Pedaços de rocha polida ornamentam o piso de casas. ) Cerâmicas e azulejos servem de cobertura de pisos e paredes.

2. É fácil confundir ouro com pirita, um mineral também dourado, mas com comportamento dife-

rente do ouro quando amassado entre duas superfícies metálicas ou sob uma martelada. Apenas o ouro é amassado, enquanto a pirita se quebra. Isso porque apenas o ouro é um metal com a propriedade: a) maleabilidade. b) brilho. c) tenacidade. d) condutividade térmica. 3. A destilação em alambiques ou destilarias permite separar o etanol do caldo de cana fermentado. a) Por que a destilação do álcool é mais fácil de fazer que a destilação do petróleo? b) A destilação é um fenômeno físico ou químico? Explique. 4. Examine a transformação química que ocorre na fotossíntese, processo que permite às plantas

9º ano

319


produzir seu próprio alimento, a glicose (cuja fórmula química é C6H12O6): gás carbônico + água

luz, clorofila

glicose + oxigênio + água

a) Explique de onde vem e para onde vai o carbono, considerando a atmosfera e a biosfera. b) Por que essa transformação é importante para diminuir a intensificação do efeito estufa? 5. Escreva a fórmula química do gás metano e as semelhanças e diferenças entre esse gás e o dióxido

de carbono. 6. O degelo atinge os polos e as zonas próximas, especialmente o bioma chamado tundra (a terra das

Plunne/Dreamstime

renas), com vastas áreas cobertas por liquens que habitam o solo gelado. Já se sabe que o degelo da tundra causa forte emissão de gás metano. O que isso significa para o planeta?

Vegetação de tundra em Esvalbarda (território noruegues no Ártico), 2012.

7. Quais os maiores e os menores átomos que se conhece?

PARA AMPLIAR SEUS ESTUDOS

Livro

Química no dia a dia Ciência Hoje na Escola. v. 12. Química no dia a dia. São Paulo: Global, 2003.

320

Ciências


Capítulo CIÊNCIAS

2

A energia em transformação

A

energia é uma das bases da existência do Universo e da Terra. Em nosso cotidiano, gastamos dinheiro para utilizá-la nos vários aparelhos e máquinas que fazem sua transformação e nos prestam serviços. É mais fácil percebê-la do que defini-la. Podemos estudá-la em processos que ocorrem em objetos e corpos muito grandes, até nos infinitamente pequenos, que formam os átomos. Quando um processo tecnológico ou fenômeno da natureza acontece, transformações da energia estão ocorrendo.

RODA DE CONVERSA

Com seus colegas, observem as fotos de diferentes meios de transporte e respondam às questões a seguir, com base no que já sabem ou criando hipóteses. Depois, confiram as legendas e busquem mais conhecimentos sobre os conceitos de ciência e tecnologia. 1. Vocês reconhecem as máquinas de todas as fotos a seguir? 2. De onde vem a energia que move cada máquina? Procure responder antes de ler as legendas. 3. Quais são as tecnologias mais avançadas retratadas pelas fotos? Por quê?

Brett Critchley/Dreamstime.com

Delfim Martins/Pulsar Imagens

Edson Grandisoli/Pulsar Imagens

4. Para você, o que é tecnologia?

Neste caso, vemos um carro puxado por bois. A energia que move esse veículo vem dos bois, que, por sua vez, a obtiveram por meio da sua alimentação.

O trem conhecido pelo nome maria-fumaça é movido pelo vapor de água sob pressão. O vapor é produzido em caldeiras, aquecidas com uso de lenha ou carvão.

O metrô é um meio de transporte de massa, utilizado em grandes cidades. A eletricidade é sua fonte de energia.

9º ano

321


RECURSOS NATURAIS E TECNOLOGIA

Ilustração digital: Luis Moura

Muitas pessoas acreditam que a tecnologia seja algo relacionado apenas à informática e que surgiu a partir da criação dos computadores, da internet, dos jogos eletrônicos, dos celulares etc. Entretanto, a tecnologia é tão antiga quanto a humanidade, sendo o domínio do fogo considerado o marco inicial dessa longa história. Por meio dos aparelhos e dispositivos tecnológicos desenvolvidos em cada época, a humanidade tem sido capaz de transformar os ambientes, obter materiais das mais diversas origens e utilizar os tipos de energia de modo apropriado em cada situação. Não se sabe ao certo quando ocorreu o domínio do fogo, mas tal fato contribuiu para a ocupação do continente europeu, há cerca de 300 mil anos, pelo Homo sapiens. Esses humanos primitivos provavelmente usavam o fogo para se aquecer e afugentar os animais que rondavam seus acampamentos durante a noite. Além disso, o fogo permitiu cozinhar os alimentos, ampliando as opções de preparação e consumo, tornando-os mais macios e mais fáceis de serem comidos. Assim, a tecnologia teve papel fundamental na melhoria da qualidade de vida das populações desde o início da história da humanidade.

O domínio do fogo modificou os hábitos do homem primitivo, permitindo que ele se aquecesse, cozinhasse os alimentos e afugentasse os outros animais.

Com o passar do tempo, o ser humano inventou muitos meios para obter luz e calor, duas formas de energia. A lenha, as gorduras de animais e o esterco seco foram e ainda são fontes de fácil acesso e muito usadas para essas finalidades. É certo que a humanidade dependeu, durante a maior parte de sua existência, de materiais e energia obtidos a partir de animais, vegetais, minerais, água, vento, fogo ou diretamente do sol. Mas tudo mudou com as primeiras máquinas movidas a vapor, no início do século XVII, criadas na Inglaterra para elevar e retirar a 322

Ciências


GL Archive/Alamy/Other Images

água acumulada nas regiões mais profundas das minas de carvão. Pouco tempo depois a máquina a vapor passou a ser usada para puxar o minério em carrinhos sobre trilhos, dando início ao que foi chamado de Primeira Revolução Industrial. Durante o século XVIII, a máquina a vapor foi a principal impulsionadora de um rápido crescimento tecnológico e econômico na Inglaterra. A Primeira Revolução Industrial foi palco da substituição da ferramenta manual e das máquinas movidas a energia obtida diretamente da natureza pelas máquinas a vapor.

O navio Titanic, movido a vapor, representa o apogeu da Primeira Revolução Industrial.

Enquanto a energia térmica do vapor dominava a indústria, diversos cientistas acumulavam conhecimentos que permitiram, depois de muita pesquisa e invenção, utilizar a energia elétrica. Foi somente na virada do século XIX para o XX que começou a substituição das máquinas térmicas por suas similares elétricas. Inicialmente, a energia elétrica foi utilizada nas fábricas de tecidos, depois para mover os bondes, e só posteriormente para a iluminação pública. Dentro de casa, a luz e o calor provenientes do uso do carvão vegetal ou mineral começaram a ser substituídos pela eletricidade. Ao longo do século XX, a energia elétrica passou a ser produzida em todo o mundo, consolidando a Segunda Revolução Industrial. Foi nesse período que o petróleo começou a ser utilizado em grande escala, como nunca antes havia sido. Assim, ao longo da história, diferentes fontes de energia foram usadas para mover máquinas e transformar energia. Na maioria dos casos, a energia mecânica empregada em ferramentas ou máquinas vem dos animais ou do nosso próprio corpo; por exemplo, ao usar um abridor de latas, um macaco hidráulico ou uma 9º ano

323


chave de fenda. Também usamos frequentemente as formas de energia diretamente disponíveis na natureza, como a energia dos ventos e do movimento das águas e o calor do sol. Contudo, com o emprego da energia térmica do vapor, a humanidade teve máquinas que proporcionaram certa autonomia em relação ao trabalho humano e dos animais e mais liberdade quanto à presença de sol e vento. Toda a energia de que precisamos para viver e construir nossa sociedade provém da natureza. Entretanto, quando aprendemos a usar a energia térmica em máquinas para realizar tarefas que antes eram realizadas pelo esforço físico humano ou animal, conseguimos acelerar o desenvolvimento de nossas sociedades. Com o domínio da energia elétrica, que atualmente está quase sempre disponível nas tomadas ou por meio de pilhas e baterias, o desenvolvimento industrial se acentuou ainda mais. Com a eletricidade foi possível produzir a infinidade de aparelhos de que dispomos hoje em dia, como geladeira, televisão, computador e telefone celular. Mas a que custo a energia está sempre a nosso dispor? Essa é uma discussão muito importante na área ambiental. Vejamos alguns fatos. Nas construções de hidrelétricas, por exemplo, as barragens inundam grandes áreas, provocam perdas de seres vivos e modificam a dinâmica dos ecossistemas. O uso em larga escala do petróleo tem diversas consequências: o lixo plástico persistente é uma delas e o aumento de poluentes atmosféricos é outra. De fato, a queima do petróleo permite a liberação da energia química nele armazenada e produz gases como o dióxido de carbono, considerado o grande vilão da intensificação do efeito estufa. Refletindo sobre a História, percebemos o quanto a tecnologia é importante para aumentar o conforto das pessoas, melhorando a qualidade de vida. Ao mesmo tempo, entretanto, esse mesmo desenvolvimento tecnológico deu origem a transformações imprevistas no ambiente, além de aprofundar o risco de esgotamento de recursos naturais, como a água potável. Portanto, são fundamentais os debates e as pesquisas desenvolvidas para o uso sustentável de recursos naturais, afinal, seus estoques são limitados. A meta da sustentabilidade é o desenvolvimento humano de tal forma que o planeta e seus recursos sejam preservados para as próximas gerações.

APLICAR CONHECIMENTOS I

1. Dizemos que os materiais e as fontes de energia formam dois grandes conjuntos de recursos que

usamos da natureza. Quais fontes de materiais e energia são utilizadas pelas populações humanas, desde os mais remotos tempos? 2. Por que dizemos que a tecnologia modifica o planeta? Justifique sua resposta com exemplos atuais

e históricos. 3. Para você, o que é tecnologia? Escreva uma explicação usando a palavra transformação. 324

Ciências


4. O texto descreve diferentes situações em que se usa a energia. Complete o quadro com base no

que foi lido e em seus conhecimentos.

Fonte

Aplicação

Energia eólica

Energia mecânica

Energia térmica

Energia química

Energia luminosa

5. Complete as frases: a) Há milhares de anos, o ser humano começou a manejar fontes de energia quando dominou o

, que fornece a o

ou energia

ou

e .

b) Na Primeira Revolução Industrial, com ajuda do vapor, pela primeira vez podia-se aproveitar

a c) O Titanic foi um navio movido a

dos combustíveis para mover máquinas. .

d) Locomotivas e enormes teares do século XVIII eram movidos pela transformação da energia

térmica em

. Essa forma de energia está em

qualquer movimento. 6. Por que o domínio do fogo representou uma grande vantagem dos seres humanos sobre os outros

animais? 7. O que caracteriza a Primeira Revolução Industrial? E a Segunda?

9º ano

325


8. (Encceja) Em uma casa, utilizamos vários equipamentos para promover transformações de ener-

Ilustração digital: Estúdio Pingado

gia, com diferentes finalidades.

Duas situações de transformação de energia estão enumeradas na figura. A opção que descreve as transformações 1 e 2 é: a) 1 – elétrica em luminosa; 2 – química em térmica b) 1 – luminosa em química; 2 – térmica em elétrica c) 1 – química em térmica; 2 – elétrica em luminosa d) 1 – térmica em elétrica; 2 – luminosa em química 9. Observe o quadro. Todos os aparelhos citados recebem um suprimento de eletricidade para realizar sua função, transformando a eletricidade em outras formas de energia. Quais são as formas de energia obtidas? Aparelho

Função

Energia

Ventilador Ferro de passar roupa Chuveiro elétrico Lâmpada Liquidificador

PESQUISAR I

Procure na internet o significado da expressão Terceira Revolução Industrial ou Revolução Tecnocientífica. Debata o assunto com os colegas e com o professor, tentando definir suas principais características.

326

Ciências


EXPERIMENTAR ELETRICIDADE E MAGNETISMO

Com alguns materiais fáceis de encontrar, é possível observar fenômenos elétricos ou magnéticos ou os dois ao mesmo tempo, pois estão estreitamente relacionados. Eletricidade e magnetismo trabalham em conjunto nas usinas elétricas.

Eletrização com materiais simples

• • • • •

Materiais Pedaços pequenos de papel Pente de plástico ou de osso Blusa de lã Balão Pedaços de ímã Como fazer

1. Esfregue vigorosamente o pente na blusa de lã, ou passe-o várias vezes no cabe-

Ilustração digital: Estúdio Pingado

lo seco. Aproxime o pente dos papéis. O que acontece?

Elaborado pelas autoras. (Esquema sem escala, cores-fantasia.)

2. Esfregue na lã ou nos cabelos o balão cheio de ar. Depois, coloque-o em contato

Ilustração digital: Estúdio Pingado

com uma parede. O que vemos? Registre suas observações.

Elaborado pelas autoras. (Esquema sem escala, cores-fantasia.)

9º ano

327


Exploração de ímãs

Materiais • Pedaços de ímãs

Como fazer Aproxime pedaços de ímã. Veja como os pedaços se atraem ou se repelem. Quais materiais eles podem atrair, dentre vários metais? Se atraem

Se repelem

N

S

N

S

N

S

S

N

S

N

S

N

S

N

N

S

Obtemos ímãs em sucatas de alto-falantes e discos rígidos de computadores. Os primeiros têm formato cilíndrico, os segundos são planos, com forma de “V”.

3. Com base nessas observações, explique por que afirmamos que o magnetismo

tem ação à distância.

O EFEITO ELETROMAGNÉTICO

O experimento a seguir permite observar um fenômeno descoberto no começo do século XIX e fundamental na geração de eletricidade nas usinas ou sua transformação nos motores e outros aparelhos elétricos.

Ilustração digital: Luis Moura

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Materiais ímã agulha fina uma rolha ou um plástico duro copo água uma ou duas pilhas um pedaço de fio encapado fino fita adesiva

Elaborado pelas autoras. (Esquema sem escala, cores-fantasia.)

328

Ciências


Como fazer Com uma agulha fina e um ímã, construa uma bússola. Para isso, imante a agulha, passando o ímã várias vezes nela, sempre no mesmo sentido (da ponta para o furo ou ao contrário, do furo para a ponta, nunca nos dois sentidos). Com a rolha ou o plástico duro faça uma cama para a agulha imantada flutuar livremente na água do copo, que deve estar com água até ¾ de sua capacidade. Você pode utilizar, em vez de sua “bússola caseira”, uma bússola pequena. Nesse caso, coloque-a dentro do copo seco e dispense a água. Como qualquer bússola, a agulha imantada move-se para o sentido norte-sul, alinhando-se com o eixo magnético da Terra. Observe essa posição antes de prosseguir a experiência. Separadamente, reúna os materiais para montar um circuito simples: pilhas, pedaço de fio e fita adesiva. Monte-o de acordo com a figura, deixando-o próximo da base do copo. Feche o circuito e observe sua bússola. 4. O que aconteceu ao fechar o circuito? Registre sua hipótese explicativa.

CONHECER MAIS

Gilbert e as pesquisas pioneiras sobre magnetismo e eletricidade

Na época em que Gilbert começou a trabalhar, acreditava-se que apenas objetos feitos de âmbar ou de azeviche (uma espécie de carvão) fossem capazes de ser eletrizados por fricção e, assim, atrair pequenos corpos. Mas acontece que, quando friccionados, os objetos esquentavam, e aí vinha a dúvida: será que era o calor que gerava a força de atração? Usando seu eletroscópio, ele conseguiu mostrar que não era o calor o responsável pelo aparecimento da força. Para isso, ele primeiro atritou um pedaço de âmbar e viu que ele ficava quente e era capaz de atrair a ponta do versorium. Em seguida, ele aqueceu outro pedaço de âmbar numa chama, mas sem friccioná-lo. Quando aproximou do versorium, não notou alteração nenhuma.

Ilustração digital: Estúdio Pingado

Encontra-se na natureza o mineral magnetita, usado para a construção de bússolas, desde cerca de mil anos atrás. Mas não havia nenhuma explicação para o fato de esses minerais apontarem o sentido norte-sul de nosso planeta, possibilitando orientação espacial mesmo quando não era possível olhar para o sol ou as estrelas. Diz a lenda que foi com o uso da bússola de magnetita que um general chinês ganhou uma batalha em meio a neblina. Na Antiguidade também se conhecia a eletrização dos materiais por fricção, quando atraíam ou repelir objetos pequenos. Contudo, havia confusão entre os fenômenos elétricos e magnéticos – afinal, nos dois casos há atração à distância entre corpos. As investigações de Willian Gilbert (1544-1603), iniciadas ainda durante o século XVI, vieram trazer os primeiros esclarecimentos. Conheça alguns dos experimentos e conclusões de Gilbert.

O versorium de Gilbert é um eletroscópio pioneiro. Os eletroscópios servem para saber se um corpo está eletrizado. Um corpo eletrizado induz movimento no eletroscópio. Podemos fabricá-lo com materiais simples como canudinhos de plástico, fio de náilon, rolha, tachinha ou uma esfera leve (serve uma bolinha de isopor ou de cortiça). Elaborado pelas autoras. (Esquema sem escala, cores-fantasia.)

9º ano

329


Ilustração digital: Luis Moura

Usando seu versorium, aparelho recém-inventado, Gilbert mostrou que muitas outras substâncias – como laca, berílio, opala, safira etc. – podiam ser carregadas eletricamente. Ele ainda mostrou que, quando aproximava objetos eletrizados do ponteiro do versorium, ele girava, ao passo que a magnetita (um ímã) era capaz apenas de atrair alguns tipos de materiais. Gilbert achava que uma explicação para o comportamento da agulha de magnetita era que o planeta Terra devia ser um grande ímã. Para tentar comprovar sua teoria, construiu uma esfera usando magnetita. Ele a chamou de terrela, isso é, pequena Terra. Com sua terrela pôde verificar que, quando colocava uma pequena bússola sobre ela, a bússola se orientava numa certa direção, aproximadamente como o fazem as bússolas colocadas em qualquer lugar da terra: mostram a direção norte-sul. Esse procedimento de mapear a terrela com auxílio de uma bússola, para saber qual direção estava apontando a força magnética, foi bastante importante para a construção do conceito de campo magnético.

A terrela de Gilbert

Trecho de: FERREIRA, Norberto Cardoso. Magnetismo e eletricidade. Em: Eletricidade. 3. ed. p. 14 -17. Ciência Hoje na Escola. Vol. 12. Texto adaptado.

A ELETRICIDADE PERTENCE À NATUREZA E À SOCIEDADE

Ilustração digital: Estúdio Pingado

O Brasil encontra-se no topo da lista de países onde mais ocorrem relâmpagos, fenômeno assustador e que merece muito cuidado, pois a eletricidade pode causar prejuízos ou mesmo matar. Mas, afinal, o que são cargas elétricas? Podemos observar o efeito do acúmulo de cargas elétricas quando esfregamos um pano ou o cabelo em certos materiais, como no experimento proposto, ou quando, em dias secos, tiramos uma blusa de lã ou de tecido sintético e os nossos cabelos se arrepiam. Em nossos experimentos, antes de atritamos o pente nos cabelos, os papéis não eram atraídos pelo pente. Isso significa que, nessa situação, não existe acúmulo de cargas nem nos cabelos, nem no pente, ou seja, ambos estão com carga elétrica nula (a quantidade de cargas positivas – prótons − é igual à quantidade de negativas − elétrons). Ao passar o pente nos cabelos, uma parte dos elétrons dos átomos que compõe os fios de cabelo migrou para o pente. Isso deixou o pente com excesso de cargas negativas, ao mesmo tempo em que os cabelos ficaram com falta de elétrons em relação aos seus prótons, ou seja, carregados positivamente.

Elaborado pelas autoras. (Esquema sem escala, cores-fantasia.)

330

Ciências


Ilustração digital: Luis Moura

Como cargas elétricas de sinais opostos se atraem, podemos concluir que o pente induziu um acúmulo de carga de sinal oposto nos papéis picados, fazendo com que os elétrons dos papéis fossem repelidos pelos elétrons do pente. Como o papel não conduz bem a eletricidade, esses elétrons foram apenas deslocados para mais longe de onde se aproximava o pente, permanecendo ainda no papel. Isso é suficiente para produzir esse efeito eletrostático. O mesmo fenômeno ocorre nas demais experiências de eletricidade realizadas, assim como quando passamos próximo de uma televisão antiga de tubo e sua tela carregada de elétrons atrai os pelos de nosso braço. Os raios são um tipo de descarga elétrica que circula entre a terra e as nuvens, enquanto os relâmpagos, entre duas nuvens carregadas eletricamente. Com a formação de chuvas fortes, as cargas se acumulam no interior de nuvens muito altas, com cerca de 10 km de altu- 15 km ra. Esse fenômeno é muito mais complexo que nosso experimento com pente e papel. Entre os fatores que favorecem a acumulação de cargas, encontra-se a 10 km circulação de ar, água e gelo no interior das nuvens, provocando atrito entre as partículas e seus átomos. Quando cargas diferentes se acumulam em duas ou três regiões das nuvens, está cria- 5 km da a condição para a formação dos raios. O trânsito das cargas ocorre em uma região bem definida, formada por sequências de linhas retas que caracterizam os relâmpagos ou raios vistos du- Altitude rante as tempestades.

Formação de cargas elétricas nas nuvens, com indicação da altura das nuvens (valores médios). Elaborado pelas autoras. (Esquema sem escala, cores-fantasia.)

A PESQUISA DA ELETRICIDADE: PRIMEIROS SUCESSOS Quem inventou o para-raios foi o estadunidense Benjamim Franklin, em 1752, a partir da noção de que o raio sempre atinge a ponta mais alta do terreno onde cai, por exemplo, a torre da igreja na cidade ou uma árvore em campo aberto. Além disso, ele reproduziu e criou diversos experimentos, observando fenômenos elétricos de atração e repulsão em laboratório. Franklin foi o primeiro a propor a conservação da carga elétrica, ou seja, as cargas elétricas não podem ser criadas nem destruídas, apenas transportadas de lugar, como nos experimentos de eletrostática descritos anteriormente.

9º ano

331


Kent Wood/Latinstock

Foto flagra momento em que raio atinge um para-raios. Tucson, Estados Unidos.

Oxford Science Archive/HIP/TopFoto/Keystone

À mesma época, já se pesquisavam também as pilhas e baterias feitas com substâncias ácidas e duplas de metais diferentes, como zinco e cobre. A reunião dessas substâncias resulta em transformação química, com a formação de átomos com cargas positivas (excesso no número de prótons em relação aos elétrons) e negativas (excesso de elétrons em relação aos prótons), chamados íons. Essa é uma das condições para a circulação de cargas em uma bateria ou pilha e desta para um fio condutor. É necessário também que o circuito esteja fechado, ou seja, que os polos da pilha ou da bateria sejam conectados por meio de um fio para que a reação química libere os elétrons pelo polo negativo (excesso de elétrons), seguindo até o polo positivo (falta de elétrons) e estabelecendo O italiano Alessandro Volta montou o equipamento que se vê na figura. Empilhou discos assim uma corrente elétrica, de cobre e zinco intercalados com feltro molhado com líquido ácido, onde também estavam os fios do circuito; para fechá-lo, bastava reunir as duas pontas. O investigador que faz o aparelho elétrico colocava as pontas unidas na língua e sentia um pequeno choque; assim, a pilha de Volta e seu circuito serviam para experimentar a eletricidade. funcionar, como uma lâmpada, por exemplo. Se o circuito 332

Ciências


for aberto (desligar o interruptor), a reação química da pilha ou bateria para de ocorrer, interrompendo a corrente e desligando o aparelho. Em um circuito conectado a uma pilha, a dinâmica das cargas é a mesma que nos fenômenos eletrostáticos: os elétrons removidos de um lugar foram acumulados em outro, deixando-os com cargas de sinais opostos, provocando a atração. Assim, nos dois casos, cargas de mesmo sinal se repelem e de sinais opostos se atraem.

O ELETROMAGNETISMO Nada mais se acrescentou ao conhecimento sobre o magnetismo, além do que Gilbert já tinha registrado em sua obra de 1600, chamada De magneto, até que a eletricidade e o magnetismo fossem investigados conjuntamente, a partir de uma descoberta que se deu praticamente por acaso. Foi em 1820, quando o dinamarquês Hans Christian Øersted verificou que uma agulha imantada movia-se sob efeito da corrente elétrica que passava por um fio situado a certa distância. Conta-se que um ajudante teria esquecido uma bússola perto de um circuito elétrico, o que tornou possível a observação. Desde então, estudos sobre o eletromagnetismo ganharam enorme importância e foram muitas as descobertas feitas com ajuda de equipamentos e de cálculos matemáticos. Entre os esclarecimentos obtidos, verificou-se que o magnetismo dos ímãs também decorre de correntes elétricas microscópicas. Um grande número de equipamentos usados no cotidiano tem base no eletromagnetismo, como o telefone e os equipamentos eletrônicos, cada vez mais sofisticados. APLICAR CONHECIMENTOS II

1. Dê exemplos de formação de cargas elétricas na natureza. Qual delas você já viu pessoalmente? 2. O texto explica a eletrização do pente e de pedaços pequenos de papel. A eletrização da bexiga de

borracha, esfregada em cabelos, é semelhante. Faça um desenho mostrando as cargas do cabelo e do balão de borracha após ser esfregado. 3. Sobre as realizações de Benjamin Franklin citadas no texto, identifique: a) a tecnologia por ele criada; b) a lei científica por ele descoberta. 4. Sobre a pilha de Volta: a) como está indicada a presença de cargas opostas? b) a eletricidade gerada tem pequena ou grande intensidade? Por quê? 5. Examine a figura do experimento de Øersted e identifique o circuito elétrico. Quais são seus

componentes? 6. Compare o experimento proposto no capítulo para a verificação da indução eletromagnética com

o equipamento que proporcionou a descoberta do fenômeno por Øersted. 9º ano

333


DÍNAMOS E USINAS ELÉTRICAS

Imã entrando: a corrente flui

Elaborados pelas autoras. (Esquemas sem escala, cores-fantasia.)

Assim, Faraday criou o gerador de eletricidade a partir da indução eletromagnética. Uma curiosidade: consta que Gladstone, primeiro ministro inglês, teria perguntado ao cientista: “Senhor Faraday, tudo isso é muito interessante, mas qual a sua utilidade?” A resposta: “Talvez essa descoberta dê lugar a uma grande indústria, da qual o senhor possa arrecadar impostos.” Faraday talvez suspeitasse que seus experimentos fossem a base para transformar completamente nossa sociedade.

OS GERADORES ELÉTRICOS As pilhas são geradores químicos, um equipamento que coloca certa carga elétrica à disposição de um circuito. As pilhas comuns possuem uma tensão pequena que varia de 1,5 V até 9 V e fornecem a energia elétrica necessária para colocar os aparelhos eletrônicos construídos para funcionarem com esses tipos de fontes de energia. Aparelhos que são ligados na tomada, em geral, trabalham com tensões mais elevadas, necessitando de outros tipos de geradores. Nos geradores por indução eletromagnética, alguma fonte de energia faz com que ímãs se movam no interior de um solenoide (bobina de fio). Esse é o princípio da geração de eletricidade usado nas grandes usinas elétricas, ou num pequeno dínamo de bicicleta. 334

Ciências

Ilustrações digitais: Luis Moura

A descoberta de Øersted foi amplamente divulgada e os cientistas passaram a se perguntar se seria possível fazer o contrário: usar magnetismo para obter a eletricidade. O inglês Michael Faraday (1791-1897) fez muitos testes até conseguir o que queria. A peça-chave da descoberta de Faraday é o solenoide: uma bobina de fio metálico, que dá muitas voltas formando um cilindro. No experimento do inglês, as pontas do fio são ligadas a um galvanômetro, instrumento que indica a passagem de corrente elétrica em um circuito. O ponteiro do galvanômetro se mexe quando um ímã entra e sai do solenoide, repetidas vezes.


No caso das hidrelétricas, o que move a turbina é um fluxo contínuo de água que desce por uma canaleta e, no caso de uma termelétrica, é a queima de algum combustível que superaquece o vapor de água que move um gerador. Ao girar o gerador, seus ímãs se movem nas imediações dos solenoides, induzindo neles o surgimento de uma corrente elétrica.

APLICAR CONHECIMENTOS III

1. Retome os experimentos de Faraday e Øersted citados nos textos anteriores. Identifique qual

cientista mostrou que a eletricidade gera magnetismo e qual mostrou o contrário, que magnetismo gera eletricidade. 2. O que é preciso para haver geração elétrica por meio da indução eletromagnética? 3. De acordo com o texto, qual foi a grande invenção de Michael Faraday? 4. Compare a pilha de Volta e a pilha comum, destacando em que são parecidas e em que diferem.

LER IMAGENS

Ilustração digital: Luis Moura

Fernando Favoretto/Criar Imagem

Examinando as figuras a seguir, vamos observar as etapas mais importantes das transformações da energia. Talvez você já tenha observado o dínamo acoplado em bicicletas, como mostrado a seguir:

Polia ligada à roda

Bobina

Ímã permanente cilíndrico

Elaborado pelas autoras. (Esquema sem escala, cores-fantasia.)

1. Examine a figura e explique como ocorre a geração de eletricidade na bicicleta, que é utilizada

para acender um farol do veículo. Lembre-se de indicar: a fonte de energia que move a bobina, as partes do equipamento que promovem a indução eletromagnética e como a eletricidade é conduzida até o seu uso final.

9º ano

335


2. E a usina hidrelétrica, como ela funciona? Observe o esquema a seguir para auxiliá-lo em

sua resposta. Reservatório

Ilustração digital: Luis Moura

Transformador

Linha de transmissão Gerador

Água sob pressão Elaborado pelas autoras. (Esquema sem escala, cores-fantasia.)

Turbina

3. Um gerador eólico também tem uma turbina e um gerador. Observe a figura e mostre onde se

Ilustração digital: Luis Moura

situa cada um deles.

Elaborado pelas autoras. (Esquema sem escala, cores-fantasia.)

4. Escreva a sequência de eventos que proporcionam a geração de eletricidade no gerador eólico.

PESQUISAR II

Faça uma pesquisa sobre as usinas de eletricidade. Tente responder às seguintes questões: 1. Identifique na internet e em livros figuras que mostram usinas movidas por diferentes fontes de

energia: hidrelétrica, termelétrica movida a petróleo, usina solar ou fotovoltaica, nuclear, eólica e termelétrica movida a biomassa. 2. Quais os custos e benefícios das diferentes fontes de energia? Elas

são renováveis ou não renováveis? Quais tipos de energia contribuiem para a sustentabilidade ambiental? 336

Ciências

GLOSSÁRIO

Sustentabilidade ambiental: sustentabilidade significa a preservação dos ambientes e dos recursos naturais por meio de atitudes coletivas, escolhas sociais e políticas que permitem o desenvolvimento humano, garantindo-se o direito das gerações futuras ao usufruto desses recursos.


Na sua pesquisa, identifique quais são as consequências ou os impactos sobre a saúde e o meio ambiente. 3. Informe-se também sobre os custos financeiros de cada opção. Antes de iniciar a pesquisa, selecione palavras-chave que orientarão a sua busca. Procure também imagens e estatísticas que ajudem a entender como são usadas as fontes de energia no Brasil e no mundo.

APLICAR CONHECIMENTOS IV

Faça um resumo de suas pesquisas no quadro a seguir. Usina

Fonte

Vantagens

Desvantagens

Hidrelétrica Termelétrica a petróleo Solar fotovoltaica Nuclear Eólica Termelétrica a biomassa ou biodiesel

PARA AMPLIAR SEUS ESTUDOS

Sites

Energias renováveis Disponível em: <www.mma.gov.br/clima/energia/energias-renovaveis>. Acesso em: 19 dez. 2012.

Ambiente brasil

Revista eletrônica sobre ambiente. Disponível em: <http://ambientes.ambientebrasil.com.br/energia.html>. Acesso em: 22 jan. 2013.

Eletrização

Página mostra fotos e vários experimentos de eletrização. Disponível em: <www.rc.unesp.br/showdefisica/99_Explor_Eletrizacao/Pagina%20inicial.htm>. Acesso em: 22 jan. 2013.

9º ano

337


Capítulo CIÊNCIAS

3

Saúde e qualidade de vida

O

s seres humanos podem compreender a saúde e as doenças de formas muito variadas. Escritos e desenhos antigos, produzidos por diferentes povos, revelam o que cada um deles considerava saudável e como tratavam os problemas de saúde.

RODA DE CONVERSA

O que é saúde? Pense em uma definição para a palavra, registre-a e troque ideias com seus colegas de turma. O conceito de saúde é o mesmo para todos? Procurem criar uma definição comum, que englobe as ideias de toda a turma. Anotem suas conclusões.

PARA REFLETIR I

Viktor Drachev/AFP/Getty Images

Lisa F. Young/Dreamstime.com

Mika/Corbis/Latinstock

Observe as situações representadas nas fotos e converse sobre elas com seus colegas. A partir de sua definição de saúde, podemos dizer que as pessoas representadas são saudáveis? E a partir da definição elaborada pela turma?

338

Ciências


SAÚDE E DOENÇA SÃO TEMAS MUITO ANTIGOS

Yuri_arcurs/Dreamstime.com

Os chineses antigos viam a saúde e a doença como manifestações do equilíbrio ou do desequilíbrio da circulação de energia pelo corpo humano. De acordo com essa visão, a energia é considerada a essência da vida e as energias positivas e negativas estão sempre em movimento por caminhos que atravessam todo o corpo. Esses caminhos são chamados meridianos e têm alguns pontos especiais, que podem ser estimulados para ajudar a equilibrar a circulação da energia e melhorar a saúde. Desse conhecimento surgiu a acupuntura, uma técnica usada para estimular esses pontos com agulhas finas ou sementes, que serve para aliviar dores, prevenir e curar problemas de saúde. Atualmente, a acupuntura é usada não apenas na China como em muitos lugares do mundo, inclusive no Brasil.

A acupuntura é uma técnica chinesa milenar. Pode ser feita com sementes ou agulhas, aplicadas em pontos que correspondem aos órgãos a serem tratados.

CONHECER MAIS

Remédios Em 1536, o médico Paracelso (1493-1541), nascido na Suíça, publicou a obra O grande livro da cirurgia. Ele afirmava que as doenças aconteciam devido à falta de alguma substância química no organismo e que, por isso, cada doença poderia ser curada se o doente tomasse a substância que estava faltando em seu corpo. No caso de feridas na pele, as substâncias deveriam ser aplicadas sobre elas. Essa ideia marca a origem da produção dos remédios que nós utilizamos até hoje. Dos tempos de Paracelso até os nossos dias, a medicina ocidental se desenvolveu junto com a produção de novas tecnologias e a evolução dos conhecimentos da Biologia e da Química.

OS AVANÇOS DA CIÊNCIA E DA TECNOLOGIA No modelo ocidental de atenção à saúde, as ciências biológicas e a tecnologia ocupam um lugar central. Esse modelo é frequentemente avaliado como “biologicista”, pois não valoriza as pessoas de modo integral, com suas peculiaridades e seus aspectos psicológicos e sociais. [...] O corpo humano é considerado uma máquina que pode ser analisada em termos de suas peças; a doença é vista como um mau funcionamento dos mecanismos biológicos... O papel dos médicos é intervir, física ou quimicamente, para consertar o defeito no funcionamento de um específico mecanismo enguiçado. Fonte: Fritjof Capra. O ponto de mutação. São Paulo: Círculo do Livro, [s.d.]. p. 116-117.

9º ano

339


Alamy/Glowimages

Sem dúvida, os avanços da ciência e da tecnologia trouxeram muitos benefícios à saúde. Podemos hoje contar com exames que permitem identificar determinadas doenças antes mesmo de as pessoas perceberem qualquer alteração no funcionamento do organismo. É o caso dos exames preventivos de câncer de mama, de colo do útero ou de próstata, que hoje podem e devem ser feitos rotineiramente. Esses exames ajudam a detectar uma neoplasia que está GLOSSÁRIO tumor gerado pelo crescimento começando a se formar. Mesmo que o tumor seja maligno (caso Neoplasia: desordenado de células. Pode ser benigno em que é chamado de câncer), existe uma grande chance de cura ou maligno e seu nome depende do tipo de célula ou órgão afetado. quando o diagnóstico é precoce.

O exame e o autoexame regulares permitem identificar caroços, saída de secreção pelos mamilos ou outras alterações na mama. Caso seja encontrada qualquer alteração, é importante fazer uma consulta médica e verificar o mais rápido possível se é um sinal de câncer de mama. Caso a doença seja diagnosticada e tratada logo no início, há uma grande chance de cura.

A evolução das técnicas e dos equipamentos utilizados nas cirurgias também contribui para que as pessoas superem vários problemas de saúde que antes levavam à morte. Os transplantes de órgãos e cirurgias no coração são bons exemplos. Além disso, as vacinas e alguns medicamentos, como os antibióticos, trouxeram grandes benefícios para a prevenção e o tratamento de doenças infecciosas, causadas por organismos vivos, que já foram as principais causas de morte em todo o mundo.

PARA REFLETIR II

1. Quais aspectos da vida são desconsiderados quando o corpo humano é tratado como uma

máquina? 2. Apresente três exemplos de doenças que hoje podem ser prevenidas ou controladas graças ao

desenvolvimento da ciência e da tecnologia. 340

Ciências


A MEDICALIZAÇÃO DA VIDA A evolução dos conhecimentos e práticas de saúde também teve seu lado negativo. Durante o século XX, tanto o poder da ciência como o da tecnologia não pararam de crescer. Essa nova cultura levou muitas pessoas a acreditarem que a saúde é o resultado de tratamentos, do uso de remédios e da obediência a um conjunto de regras de comportamento definidas pelos médicos. A crença de que o organismo humano pode funcionar perfeitamente (como uma máquina), se cada aspecto da vida for regulado pelo saber médico, levou à chamada “medicalização” da vida. Como tantas outras coisas, a saúde e as doenças tornaram-se um bom negócio e ganharam muito espaço no mundo das mercadorias. O valor das pessoas e a sua qualidade de vida passaram a ser medidos também pela quantidade de consultas, exames, checkups, tratamentos e medicamentos que conseguem comprar. Exames e tratamentos caros e agressivos vêm sendo usados com uma frequência cada vez maior, mesmo quando não trazem benefícios. As cesarianas, por exemplo, passaram a ser feitas quando não há necessidade, gerando riscos desnecessários à saúde da mãe e da criança. As intervenções excessivas e o abuso de medicamentos causam novos problemas de saúde. O uso excessivo de antibióticos está fazendo com que alguns micro-organismos causadores de doenças fiquem resistentes, de modo que os antibióticos já não atuam de forma satisfatória quando são necessários.

PARA REFLETIR III

Você já observou que os cuidados e conhecimentos sobre saúde passaram a ser encarados como propriedade dos especialistas? O texto a seguir questiona a desvalorização do conhecimento popular em saúde. É como se a saúde e a maneira saudável de viver só pudessem ser decididas por técnicos da saúde, e as pessoas não tivessem nenhuma capacidade de fazer escolhas. Você acha que essa tendência afeta a vida das pessoas com quem você convive? O cientista virou um mito. E todo mito é perigoso, porque ele induz o comportamento e inibe o pensamento. Este é um dos resultados engraçados (e trágicos) da ciência. Se existe uma classe especializada em pensar de maneira correta (os cientistas), os outros indivíduos são liberados da obrigação de pensar e podem simplesmente fazer o que os cientistas mandam. Quando o médico lhe dá uma receita você faz perguntas? Sabe como os medicamentos funcionam? Será que você se pergunta se o médico sabe como os medicamentos funcionam? Ele manda, a gente compra e toma. Não pensamos. Obedecemos. Não precisamos pensar, porque acreditamos que há indivíduos especializados e competentes em pensar [...]. Afinal de contas, para que serve nossa cabeça? Ainda podemos pensar? Adianta pensar? ALVES, Rubem. Filosofia da ciência. São Paulo: Ars Poética, 1996. p. 8-9.

9º ano

341


MOMENTO DA ESCRITA

Escreva em seu caderno um parágrafo definindo, com suas palavras, a expressão “medicalização da vida”. Em seguida, explique por que essa forma de encarar a saúde pode ser prejudicial para a qualidade de vida das pessoas e da sociedade.

DEBATER

As doenças podem ser agrupadas em diversas categorias: doenças de homens e de mulheres; doenças da infância, da idade adulta, da velhice etc. Imagine outras formas de agrupar as doenças conhecidas e converse com seus colegas sobre elas. Somente depois leia o texto a seguir, verificando se ele traz informações sobre esse assunto que são novas para você.

OS DIFERENTES TIPOS DE DOENÇAS CONHECER MAIS

Há diferentes modos de classificar as doenças. Usando como critério o seu tempo médio de dura- Como sabemos que estamos doentes? ção, as doenças podem ser classificadas em agudas Dor de cabeça, mal-estar ou colesterol (de evolução rápida, seja para a cura ou para a morte) elevado não são doenças; são sinais e sinou crônicas (que persistem por muitos anos ou mes- tomas que mostram que algo diferente está mo por toda a vida e não têm cura, mas podem ser acontecendo no organismo. Os sinais são os modos como a doença se expressa no corpo. controladas). As doenças também podem ser classi- Eles podem ser visíveis (como inchaço), ou ficadas conforme os órgãos afetados, formando con- demonstrados por meio de exames (como elevação da taxa de glicose no sangue). Os juntos como: doenças sexualmente transmissíveis sintomas, como o nome indica, incluem as (DST), que afetam os órgãos sexuais; doenças do apa- alterações que a pessoa sente, como tonturelho respiratório, como bronquites e asma; doenças ra, cansaço ou dor. Muitos sinais e sintomas são comuns psiquiátricas, relacionadas ao funcionamento do cé- a várias doenças. Contudo, é bom ter em rebro e ao comportamento; doenças da pele; doen- mente que diversas doenças evoluem sem ças que afetam o sistema de sustentação do corpo (o sintomas ou sinais aparentes, sendo chamadas de doenças silenciosas. É o caso do sistema musculoesquelético), como certos reumatis- diabetes, da hipertensão arterial e de vários mos, artrites e artroses; e assim por diante. tipos de câncer, que só podem ser descoConsiderando as causas e as consequências das bertos em suas fases iniciais por meio do acompanhamento de saúde e da realizadoenças, elas podem ser divididas em três grandes ção de exames de rotina, que possibilitam o grupos: as infectocontagiosas, originadas pelo conta- diagnóstico precoce e o tratamento para to com seres vivos patogênicos para o ser humano (como o controle ou a cura da doença. gripe, dengue, mal de Chagas, malária, entre outras); as doenças por causas externas, que incluem os acidentes e violências; e as crônico-degenerativas, que têm causas diversas, nem sempre bem conhecidas. Incluem alergias, hipertensão, diabetes, doenças cardíacas, reumatismo e mal de Alzheimer. Como diz o nome, as doenças degenerativas e crônicas afetam as pessoas por tempo prolongado, levam tecidos e órgãos à perda de vitalidade e a um funcionamento deficiente.

342

Ciências


APLICAR CONHECIMENTOS I

Adotando algumas medidas de prevenção, podemos evitar ou retardar o aparecimento de boa parte dos problemas de saúde. Vamos conferir? Complete a primeira coluna do quadro a seguir escolhendo problemas de saúde que você conhece e encaixando-os nas seguintes categorias: • doenças infecciosas e parasitárias; • doenças crônicas e degenerativas; • problemas de saúde originados por causas externas (acidentes e violências). Complete a segunda coluna com no mínimo duas ações que ajudem a prevenir cada uma das doenças indicadas.

Ações de prevenção dos problemas de saúde

Doenças infecciosas e parasitárias

Ações de prevenção das doenças ou de suas complicações

Usar camisinha Aids Fazer o teste do HIV

9º ano

343


Doenças crônicas e degenerativas

Ações de prevenção das doenças ou de suas complicações Evitar o fumo

Câncer de colo de útero Fazer o preventivo regularmente

Doenças geradas por causas externas

Ações de prevenção das doenças ou de suas complicações Não dirigir depois de beber

Acidente de trânsito Usar cinto de segurança

Compartilhe os resultados com seus colegas, elaborando um grande quadro com as doenças e recursos de prevenção indicados por todos. 344

Ciências


PESQUISAR

Leve as questões a seguir aos agentes de saúde que visitam sua comunidade ou procure respostas para elas na Unidade Básica de Saúde do seu bairro. 1. Quais são as doenças mais frequentes na população que procura a Unidade Básica de Saúde? 2. Quais medidas preventivas podem ser tomadas para evitar ou controlar essas doenças? 3. Converse com os colegas sobre os resultados e preparem um cartaz para divulgação dos resulta-

dos na escola. LER GRÁFICO

O gráfico a seguir mostra a evolução das causas de morte no Brasil, no período de 1930 a 2002. As faixas coloridas permitem ver as mudanças na proporção de cada uma das principais causas de morte: causas externas, neoplasias, doenças digestórias, respiratórias, cardiovasculares e infectoparasitárias. As causas que ocorrem em menor proporção foram todas somadas na categoria “outras causas”, e o total sempre corresponde a 100% dos óbitos ocorridos durante um ano. Observe as curvas e as legendas para responder às questões. Evolução da mortalidade proporcional por grupos de causas. Brasil 1930-2002 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 2002

2000

1990

1980

1970

1960

1950

1940

1930

Outras causas Causas externas Cardiovasculares Respiratórias Digestórias Neoplasias Infectoparasitárias

Fonte: Departamento de Informática do SUS.

1. Quais causas de morte tornaram-se mais frequentes ao longo do tempo? 2. Qual causa de morte teve a maior diminuição proporcional? 3. Considerando que a soma sempre corresponde a 100% dos óbitos ocorridos em cada ano, como

você explicaria a mudança na proporção das diversas causas?

A PERSISTÊNCIA DAS DOENÇAS INFECCIOSAS E PARASITÁRIAS Como você pode observar, as doenças infecciosas e parasitárias vêm perdendo importância no Brasil, mas ainda persistem especialmente nos ambientes com saneamento básico precário. A dengue, um problema muito sério nas últimas décadas, é causada por um vírus que vive tanto no ser humano como no mosquito chamado Aedes aegypti, que é o vetor de transmissão da doença. Em ambientes 9º ano

345


Fábio Colombini

Vladvitek/Dreamstime.com

de clima quente, além da dengue, há diversas doenças trans- GLOSSÁRIO células do sangue também mitidas por vetor animal. Podemos citar como exemplos o mal Hemácias: chamadas de glóbulos vermelhos, que de Chagas e a esquistossomose, que são transmitidos aos seres dão ao sangue a sua cor típica. A hemoglobina é o principal componente das hehumanos por intermédio de um mosquito e um caramujo, res- mácias. Ela é responsável pelo transporte pectivamente. A malária é outra doença transmissível presente do oxigênio, do pulmão para as células, e do dióxido de carbono, das células para no Brasil. Ela é causada por um parasita chamado plasmódio, os pulmões, de onde é eliminado junto sendo transmitida de uma pessoa a outra por meio da picada com o ar expirado. de um mosquito infectado. Os plasmódios parasitam as hemácias, onde se reproduzem em grande quantidade, levando à sua destruição, o que causa febre e calafrios intensos no doente.

Caramujo biomphalaria, transmissor da esquistossomose.

Mosquito anófeles, transmissor da malária.

346

Ciências

Carolina Biological/Visuals Unlimited/Corbis/Latinstock

Colônia de bactérias causadoras da pneumonia. As bactérias são organismo simples, que podem ter vida livre ou serem parasitas. São importantes na natureza para a decomposição da matérias orgânica.

Hank Morgan/ Platinum/Latinstock

Há também diversos parasitas como as amebas e giárdias, que afetam o aparelho digestório. Alguns organismos multicelulares como a lombriga e a tênia se instalam no intestino, mas podem ocupar outras regiões do corpo humano, trazendo problemas variados. Vermes parasitas atrapalham tanto a digestão dos alimentos como a absorção dos nutrientes, levando à subnutrição. Hábitos de higiene no preparo de alimentos e cuidados com a lavagem das mãos são essenciais na prevenção dessas e muitas outras doenças.

Foto de uma ameba. As amebas são seres unicelulares maiores e mais complexos que as bactérias. Também podem ter vida livre ou serem parasitas.


Science Source / Photo Researchers, Inc./Latinstock

Vermes são organismos multicelulares. Na foto vê-se uma tênia, parasita do ser humano e de outros mamíferos.

Alguns fungos unicelulares também causam doenças, principalmente na pele. Eles são responsáveis pelas incômodas micoses, como o pé de atleta. Outras doenças infecciosas estão mais associadas às aglomerações humanas e podem afetar um grande número de pessoas ao mesmo tempo, como nos casos da dengue e da gripe A. Esses casos caracterizam epidemias ou pandemias. A gripe, por exemplo, é uma doença infecciosa porque é causada pelo vírus da influenza. É transmitida de uma pessoa para outra por meio de gotas de saliva expelidas ao falar, espirrar ou tossir. Também pode ser transmitida por meio de talheres, copos ou mãos contaminadas. LER PANFLETOS EDUCATIVOS GLOSSÁRIO Pandemias: epidemias que afetam vários países ou continentes ao mesmo tempo. É por exemplo o caso da aids.

Ministério da Saúde

Leia os panfletos e reflita sobre as regras de combate à dengue e à influenza H1N1. Essas doenças e suas formas de prevenção foram levantadas por você na atividade Aplicar conhecimentos I?

OUTROS CUIDADOS QUE VOCÊ DEVE TOMAR PARA A DENGUE NÃO TE PEGAR: 1. Não acumule materiais descartáveis desnecessários e sem uso. Se forem destinados à reciclagem, guarde-os sempre em local coberto e abrigados da chuva. 2. Trate adequadamente a piscina com cloro. Se ela não estiver em uso, esvazie-a completamente, não deixando poças d’água. Se tiver lagos, cascatas ou espelhos d’água, mantenha-os limpos ou crie peixes que se alimentem de larvas. 3. Entregue pneus velhos ao serviço de limpeza urbana. Caso precise deles, guarde-os, sem água, em locais cobertos. 4. Verifique se todos os ralos da casa não estão entupidos. Limpe-os pelo menos uma vez por semana e, se não os estiver usando, deixe-os fechados. 5. Guarde as garrafas, baldes ou latas vazias de cabeça para baixo. 6. Lave com escova e sabão as vasilhas de água e de comida de seus animais pelo menos uma vez por semana. 7. Retire a água da bandeja externa da geladeira pelo menos uma vez por semana. Lave a bandeja com sabão. 8. Não deixe acumular água na parte debaixo das torneiras de bebedouros e filtros de água.

www.saude.gov.br DISQUE SAÚDE 0800 61 1997

Folder.indd 1

Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde

Procure logo um serviço de saúde em caso dos seguintes sintomas: febre com dor de cabeça e dor no corpo.

Cartaz educativo para a prevenção de dengue. 11.10.07 22:59:18

9º ano

347


Ministério da Saúde

Cartaz educativo para a prevenção de influenza H1N1.

DOENÇAS DA MODERNIDADE Ao mesmo tempo que ocorre o aumento progressivo no tempo de vida, uma transformação radical no estilo de vida da maioria das pessoas está se processando em quase todos os cantos da Terra. Mudaram as formas de organização da sociedade, os meios de trabalho, os costumes, os hábitos alimentares. O aumento no tempo de vida, somado a essas transformações no estilo de vida, resultou em grandes mudanças nos padrões de saúde e doença. O ritmo de vida nas cidades, o estresse no trabalho, o isolamento social e a competição, bem como a falta de atividade física e a obesidade, fazem com que o organismo das pessoas seja um terreno fértil para o desenvolvimento de doenças crônicas (hipertensão, diabetes) e degenerativas (como os vários tipos de câncer e doenças cardíacas). Surgiram novos tipos de câncer, que decorrem da exposição a agentes que podem estar no ar, nos alimentos ou nas substâncias presentes no ambiente de trabalho. Um exemplo é o câncer de pulmão, que aumentou muito mais do que os outros tipos em razão do uso do cigarro. Aumentou muito, também, o número de pessoas que morrem em consequência de problemas da circulação e do coração. 348

Ciências

CONHECER MAIS

Infarto: mais uma epidemia? Um sério problema de saúde associado à vida moderna e à hipertensão arterial é o infarto do miocárdio, uma das principais causas de morte na maioria dos países do mundo. O infarto é uma doença provocada pela interrupção da circulação do sangue nas artérias que irrigam o coração. Uma obstrução completa dessas artérias (as coronárias), ou de um de seus ramos, faz com que uma parte do músculo cardíaco deixe de receber oxigênio, provocando a destruição dessa aérea. Esse processo é chamado infarto agudo do miocárdio. Quando a obstrução da passagem do sangue não é completada, a área que recebe sangue desse vaso fica com o funcionamento prejudicado, porém não há destruição de células. Esse processo é chamado angina. A pessoa que tem angina ou infarto sente dores muito fortes na região do coração, que podem irradiar-se pelos ombros, costas, braços – geralmente o esquerdo – e mandíbula.


Ilustração digital: Luciano Tasso

O SISTEMA CARDIOVASCULAR

Esquema do sistema cardiovascular. Todo o transporte do sangue pelo corpo se dá por meio desse sistema fechado, por onde a corrente sanguínea se movimenta sem parar. Elaborado pelas autoras. (Esquema sem escala, cores-fantasia.)

Os vasos sanguíneos constituem uma grande rede de tubos de paredes elásticas que conduzem o sangue para todas as partes do corpo. Eles formam o sistema cardiovascular, por meio do qual o sangue transporta os nutrientes obtidos na digestão, o oxigênio absorvido do ambiente com a respiração, o gás carbônico produzido pela respiração celular e, também, resíduos e hormônios. Existem três tipos de vasos sanguíneos: as artérias, as veias e os capilares. No esquema, as artérias estão representadas em vermelho. Elas são vasos grossos, que precisam suportar a pressão do sangue bombeado do coração. São bastante elásticas, de forma que suas paredes se contraem e relaxam a cada batimento cardíaco. As artérias se ramificam pelo corpo e vão se tornando cada vez mais finas, constituindo as arteríolas e, finalmente, os capilares, vasos finíssimos com a espessura de um fio de cabelo. Na imagem, o caminho de volta para o coração está representado em azul. Os vasos capilares vão se reunindo e formam ramos mais grossos (vênulas), os quais se reúnem nas veias, que terminam o transporte do sangue de volta para o coração. As veias têm diâmetro menor que o das artérias (são mais finas). Independentemente de seu diâmetro, pela constituição celular de suas paredes, as veias são bem menos resistentes que as artérias mais grossas ou que as mais finas (as arteríolas).

CIRCULAÇÃO O coração é um órgão muscular muito forte, que funciona como uma bomba dupla. O lado esquerdo bombeia sangue arterial para diversas partes do corpo 9º ano

349


Pulmão

O2

CO2

CO2

Ilustração digital: Luis Moura

Pulmão

Ilustração digital: Luis Moura

enquanto o lado direito bombeia sangue venoso para os pulmões. O coração de uma pessoa adulta, em repouso, bate cerca de 70 vezes por minuto. Em um circuito completo, o sangue passa duas vezes pelo coração. Esses trajetos são denominados pequena circulação e grande circulação. No primeiro trajeto, o sangue venoso que sai pelo lado direito do coração, vai para os pulmões e volta para o lado esquerdo do coração. Esse circuito é denominado “pequena circulação”. Dali, o sangue parte para todo o corpo, no circuito da grande circulação. Localize no esquema ao lado a representação da pequena circulação e a da grande circulação.

O2

Aorta

Ventrículo direito Veia cava inferior

Ventrículo esquerdo

Tecidos Representação esquemática da circulação. Elaborado pelas autoras. (Esquema sem escala, cores-fantasia.)

APLICAR CONHECIMENTOS II

1. Consulte o texto e o esquema que representa a circulação do sangue no corpo humano para com-

pletar o parágrafo a seguir. Todos os tecidos do corpo humano recebem o sangue, de onde retiram o O sangue, agora pobre em trando no o

.

, volta pelas veias, chega ao lado direito do coração, en-

direito. Passa então para o ventrículo direito, de onde é bombeado para . No pulmão, o sangue volta a ficar rico em oxigênio. Esse sangue reoxigenado

vai para o lado esquerdo do

passando primeiro no átrio e depois no ventrículo

esquerdo, de onde será bombeado de volta para o

, reiniciando-se o ciclo. Portanto,

o lado direito do coração é responsável pelo retorno do sangue para os

, e o lado

esquerdo, pelo bombeamento de sangue para os tecidos. 2. Um jovem começou a sentir uma coceira terrível no pé e seu médico explicou que ele tinha uma

micose, causada por um fungo que estava crescendo na sua pele. Como ele pode ter pegado a doença? 3. Explique a frase a seguir: “Hábitos de higiene e hábitos de alimentação são relevantes para preve-

nir doenças infecciosas e doenças crônicas”. 4. A silicose é uma doença que afeta mineiros, trabalhadores em pedreiras ou pessoas que traba-

lham em empresas de pedras ornamentais. A sílica (areia em pó) se acumula nos pulmões e isso causa graves lesões. Como essa doença pode ser classificada? 350

Ciências


5. A tosse e o espirro são doenças? Explique. 6. Qualquer doença dá sinais visíveis? Dê exemplos. 7. A recomendação de lavar muito bem as mãos ao chegar em casa é muito reforçada em tempos de

gripe. Que tipo de contágio é prevenido com essa ação?

POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA E SAÚDE

ECSantos

Certos fatores ambientais favorecem o desenvolvimento de doenças crônicas como a bronquite e outras alergias, que podem ser desencadeadas pela presença de poeira no ambiente ou pelo consumo de alguns alimentos. O câncer, um mal com muitas formas de manifestação e níveis de gravidade, também pode ser provocado pela exposição a condições e substâncias que favorecem a multiplicação anormal das células, como exposição excessiva ao sol, a substâncias do tabaco ou a poluentes do ar e da água, além de substâncias químicas adicionadas aos alimentos. A queima de combustíveis fósseis, como madeira e carvão, ou a “limpeza” de campos desflorestados por meio de queimadas também são fontes de poluentes atmosféricos. Além do dióxido de carbono, esses processos geram monóxido de carbono, fuligem e outros gases. Nossa saúde é sensível ao aumento desses gases no ar. O monóxido de carbono é um gás incolor e sem cheiro, mas muito perigoso. Ele é eliminado pela descarga dos escapamentos de automóveis e na fumaça de cigarros, cachimbos e charutos.

O monóxido de carbono existente na fumaça dos cigarros, cachimbos e charutos é a mesma substância que sai dos escapamentos de automóveis. Ele se fixa nos glóbulos vermelhos do sangue, prejudicando a atividade dessas células, que é transportar o oxigênio para todas as partes do corpo.

O TABACO E AS MULTINACIONAIS DA SAÚDE E DA DOENÇA Durante séculos, o tabaco foi utilizado de forma ocasional ou ritualística e já foi classificado como erva medicinal. Na primeira metade do século XX, aconteceu uma explosão do seu consumo e a consolidação do poder econômico das 9º ano

351


indústrias de cigarros. Eles passaram a ser produzidos em escala industrial e foi feito um investimento maciço em propaganda para associar o fumo à beleza, ao sucesso e à liberdade. O uso do tabaco tornou-se um problema de saúde pública, pois causa quase metade de todas as mortes por câncer e a maioria das mortes por câncer de pulmão. O consumo de derivados do tabaco (cigarros, charutos, cachimbos) provoca quase 50 doenças diferentes, principalmente as doenças cardiovasculares, como o infarto, muitos tipos de câncer e doenças respiratórias, como o enfisema pulmonar. Em muitos países, a propaganda desses produtos na TV e no rádio está sendo severamente restringida ou proibida. Essas medidas são parte do combate internacional à epidemia do uso do tabaco, que causa cerca de 5 milhões de mortes por ano. A nicotina é a substância do fumo que gera a dependência física (responsável pelos sintomas da chamada síndrome de abstinência, quando se deixa de fumar), dependência psicológica (responsável pela sensação de ter no cigarro um apoio ou um mecanismo de adaptação para lidar com sentimentos de solidão, frustração, pressões sociais etc.) e condicionamento (representado por associações habituais com o ato de fumar, como tomar café, consumir bebidas alcoólicas, fumar após as refeições). Por isso é tão difícil parar de fumar. É preciso enfrentar esses três componentes da dependência. Quanto maior o tempo de consumo do cigarro, maior a dependência. Por isso, para a indústria do fumo, quanto mais jovem a pessoa começar a fumar, melhor. Para quem não quer ficar dependente do cigarro, a única alternativa totalmente confiável é não começar a fumar. As drogas tornaram-se mercadorias muito rentáveis No mundo globalizado, não foi apenas o consumo do tabaco que se tornou um problema de saúde pública. Muitas outras drogas, legais ou ilegais, passaram a ser comercializadas em larga escala. Uma característica comum a todas elas é que atuam no cérebro, modificando a maneira de sentir e agir. Os registros históricos mostram que, desde que o mundo é mundo, as pessoas procuram e utilizam substâncias que modifiquem seu humor, suas sensações, seu grau de consciência e seu estado emocional. Em todas as culturas conhecidas, as drogas

psicotrópicas tinham o seu lugar bem definido em festas ou rituais, cujo uso era controlado e protegido pela sociedade. Além do uso como fonte de prazer, sempre existiu o uso sagrado, mágico ou medicinal dessas substâncias. A religião e a medicina foram duas fontes básicas de conhecimento das drogas psicotrópicas. Mais recentemente, entretanto, essas drogas passaram para um domínio bem diferente: tornaram-se mercadorias muito lucrativas em razão do comércio em larga escala e do incentivo ao consumo cotidiano.

APLICAR CONHECIMENTOS III

1. Dê exemplos de fontes de poluição atmosférica. 2. Por que os poluentes são causadores de doenças crônicas e degenerativas? Cite exemplos. 3. O texto indica três fatores que compõem um tabagista. Identifique sinais de cada um deles na

história a seguir: 352

Ciências


Maria está tentando abandonar o cigarro. No primeiro dia a dificuldade foi muito grande. A todo momento tinha vontade de fumar, principalmente quando falava ao telefone. Ela considerava o cigarro seu companheiro, uma espécie de amigo que a acompanhava nos momentos de solidão. Mas seu grupo de apoio antitabagismo já tinha discutido o problema e Maria estava firme na decisão.

LER TABELA I

O 6o Levantamento Nacional sobre o Consumo de Drogas Psicotrópicas entre Estudantes do Ensino Fundamental e Médio foi realizado no ano 2010, cobrindo as 26 capitais brasileiras e o Distrito Federal. A seguir estão indicadas as drogas mais utilizadas pelas pessoas que participaram desse levantamento e a porcentagem dos participantes que usou cada uma delas alguma vez na vida e nos 30 dias anteriores à pesquisa.

Uso de drogas psicotrópicas entre estudantes do Ensino Fundamental e Médio, Brasil, 2010 DROGAS PSICOTRÓPICAS

USO ALGUMA VEZ NA VIDA (%)

USO NO ÚLTIMO MÊS (%)

álcool

60,5

21,1

tabaco

16,9

05,5

energético com álcool

15,4

*

solventes / inalantes

8,7

02,2

maconha

5,7

02,0

* não informado na pesquisa

Fonte: VI Levantamento Nacional Sobre o Consumo de Drogas Psicotrópicas entre Estudantes do Ensino Fundamental e Médio da rede pública e privada de ensino nas 26 capitais brasileiras e distrito federal, 2010. Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas.

1. O que é possível concluir com base nos dados apresentados na tabela? 2. Você acredita que os resultados correspondem ao que poderia ser verificado em uma pesquisa

realizada na sua cidade ou na sua comunidade escolar?

USO A ABUSO O abuso de drogas lícitas atualmente não está relacionado apenas às substâncias como o álcool e o tabaco, mas também a medicamentos, utilizados muitas vezes de forma desnecessária ou inadequada, com ou sem prescrição médica. Em alguns casos, os medicamentos são comercializados sem que tenham sido feitos os testes necessários para comprovar sua eficácia e para conhecer melhor os possíveis efeitos indesejados. 9º ano

353


Andy Ryan

Figura de homem com a face composta de cápsulas de medicamento faz uma crítica ao uso indiscriminado de remédios.

O SISTEMA NERVOSO O sistema nervoso é formado por um conjunto de órgãos que tem capacidade de captar mensagens e estímulos do ambiente ou do próprio corpo, interpretá-las e armazená-las, produzindo respostas que podem ser dadas na forma de movimentos ou sensações. Junto com o sistema endócrino, o sistema nervoso coordena as diversas funções do organismo. A cada estímulo externo (como o uso de substâncias psicotrópicas, o cheiro de um alimento ou o som de uma música) ou interno (como a dor ou a sensação de fome), o organismo reage instantaneamente. Isso ocorre porque o sistema nervoso central permite a troca de informações e a geração de respostas, conforme os estímulos recebidos. 354

Ciências

O que são drogas Uma droga é qualquer substância capaz de modificar a função dos organismos vivos, promovendo mudanças fisiológicas ou de comportamento. Por exemplo: uma substância que, ao ser ingerida, contrai os vasos sanguíneos, levando ao aumento da pressão arterial (mudança fisiológica), ou que torna as células do nosso corpo mais ativas, deixando a pessoa sem sono (mudança de comportamento). Drogas psicotrópicas são aquelas que atuam no nosso cérebro, estimulando ou deprimindo o funcionamento do sistema nervoso central.


OS COMPONENTES DO SISTEMA NERVOSO

Direcionamento da atenção

Ilustração digital: Luciano Tasso

Os órgãos que compõem o sistema nervoso podem ser estudados, esquematicamente, em duas partes: sistema nervoso central e sistema nervoso periférico. Os principais componentes do sistema nervoso central são o encéfalo, que está localizado no crânio, e a medula espinhal, que está protegida pela coluna vertebral.

Controle motor

Planejamento motor

Tato e sensibilidade

Cérebro Inteligência espacial Movimento visual Memória funcional espacial

Visão

Controle da escrita Controle motor fino

Compreensão de palavras

Reconhecimento de objetos Sentido da audição Bulbo

Cerebelo Ciclo de somo e vigília/controle geral da excitação

O encéfalo é constituído principalmente por cérebro, cerebelo e bulbo. Uma teoria afirma que as funções do cérebro são comandadas por neurônios localizados em zonas específicas, como mostra a figura. Elaborado pelas autoras. (Esquema sem escala, cores-fantasia.)

O sistema nervoso periférico comporta os nervos que se encontram em todas as partes do corpo. Algumas divisões da parte periférica podem ser controladas de acordo com nossa vontade. A musculatura esquelética de todo o corpo é regulada dessa forma. Já os movimentos dos músculos, como os do coração e do sistema respiratório, respondem ao sistema nervoso autônomo, que realiza os movimentos involuntários. 9º ano

355


Tronco cerebral Nervos cranianos Nervos cervicais

Medula espinhal

Nervos torácicos

Nervo radial Nervo mediano

Nervos lombares

Nervos sacros Nervo cubital

Nervo femoral Nervo ciático

Nervo tibial posterior

Nervo tibial Nervo plantar externo

Nervo plantar médio

Representação esquemática do sistema nervoso. Elaborado pelas autoras. (Esquema sem escala, cores-fantasia.)

As células nervosas constituem a unidade básica de todo o sistema nervoso. Elas são denominadas neurônios, sendo capazes de perceber todas as formas de estímulo e reagindo com uma alteração elétrica que percorre sua membrana. Essa alteração elétrica é o impulso nervoso. Essas células têm forma alongada e ramificada. 356

Ciências

Ilustração digital: Luciano Tasso

Cérebro


Um neurônio típico apresenta três partes distintas: corpo celular, dendritos e axônio. No corpo celular, a parte mais volumosa da célula nervosa, localizam-se o núcleo e a maioria das estruturas citoplasmáticas. O corpo celular se expande nos dendritos, chamados assim porque são prolongamentos finos e ramificados, com a função de transportar estímulos até ao corpo celular. Os estímulos chegam do ambiente ou, mais frequentemente, de um outro neurônio. Outra parte do neurônio é o axônio, que é um prolongamento fino mais longo que os dendritos. Ele transmite para outras células impulsos nervosos vindos do corpo celular. Assim, os estímulos são disseminados em uma rede de neurônios.

Nódulo de Ranvier Terminal do axônio (terminal de transmissão)

Bainha de Mielina

Sentido de propagação Axônio

Corpo

Dentritos (terminal de recepção)

Representação esquemática de um neurônio.

Elaborado pelas autoras. (Esquema sem escala, cores-fantasia.)

Dendritos e axônio passam a ser conhecidas como fibras nervosas, presentes em todo o corpo e responsáveis por ligar os corpos celulares dos neurônios entre si e com células musculares e glandulares. A transmissão das mensagens, uma reação em cadeia, ocorre de duas maneiras. No interior dos neurônios, ela ocorre por meio de um impulso elétrico. Entre dois neurônios, a mensagem é transmitida também por impulso elétrico ou por substâncias químicas chamadas neurotransmissores. Já são conhecidos mais de 50 neurotransmissores. 9º ano

357


APLICAR CONHECIMENTOS IV

1. Quais são as duas principais regiões do sistema nervoso central? Onde se localizam? 2. Nosso sistema nervoso possui trilhões de neurônios. Como as mensagens são transmitidas

entre elas?

OS EFEITOS DAS DROGAS PSICOTRÓPICAS NO SISTEMA NERVOSO A essa altura, você já sabe que as substâncias que geralmente chamamos de “drogas” são, na realidade, as drogas psicotrópicas ilegais. Entretanto, é importante saber que a legalidade ou a ilegalidade das drogas está mais relacionada a costumes e questões políticas e econômicas que aos seus efeitos sobre a saúde. Existem diversos tipos de drogas psicotrópicas. Todas elas causam mudanças na forma de sentir e compreender a realidade, mas essas mudanças variam de acordo com diferentes fatores: o tipo de droga, a quantidade consumida, as características de quem a usa, as expectativas que a pessoa tem sobre seus efeitos e a situação em que a droga é consumida, o estado emocional da pessoa naquele momento e o valor (positivo ou negativo) que a droga tem para cada grupo social. Assim, cada tipo de droga, com suas características químicas, tende a produzir um tipo de efeito no organismo. Mas cada pessoa, em cada situação, e de acordo com suas características individuais, pode ter reações específicas. Diversas drogas psicotrópicas (lícitas ou ilícitas) atuam nas sinapses nervosas. Por exemplo, a nicotina atua nos mesmos circuitos de neurônios responsáveis pelo movimento voluntário. Na ausência do cigarro, o fumante se torna irritado e se lembra do vício constantemente. A cocaína provoca inundação de um neurotransmissor que atua nas áreas de percepção e prazer do cérebro. Com o uso continuado, o organismo entende que há sobra dessa substância e, consequentemente, diminui os mecanismos de sua recepção. Como resultado, a pessoa fica pouco a pouco mais insensível aos prazeres cotidianos, precisando aumentar a dose da droga para obter os mesmos efeitos. Os estudos sobre a ação do álcool, por sua vez, sugerem que ele atue modificando a transmissão elétrica no neurônio e, desse modo, deprimindo o sistema nervoso central, o que é percebido como relaxamento pelo usuário. Muitas vezes, os usuários de uma droga são discriminados porque, em nossa sociedade, isso é interpretado como fraqueza de caráter. O alcoolismo, por exemplo, está relacionado à necessidade incontrolável de ingerir álcool, uma necessidade que se mostra tão forte quanto a sede ou a fome. Isso ajuda a entender por que a maioria dos dependentes de álcool não consegue se valer só de “força de vontade” para parar de beber. Hoje sabemos que o alcoolismo pode ser controlado, mas não “curado”. Mesmo os indivíduos decididos a parar de beber podem ter uma recaída. Isso não significa que a pessoa fracassou ou não possa recuperar-se 358

Ciências


do alcoolismo no futuro. Todas as formas de apoio da família, dos amigos e de outros grupos são muito importantes para que a pessoa consiga enfrentar as dificuldades da abstinência com recursos positivos.

DROGAS E VIOLÊNCIAS Já sabemos que o uso de drogas psicotrópicas que hoje são livremente comercializadas — como o álcool, o tabaco e certos medicamentos — causa muito mais danos à saúde dos brasileiros. O abuso do álcool, em especial, está diretamente associado aos aciTolerância e dependência dentes e às violências. Tolerância é a necessidade de aumentar O comércio de drogas ilegais, por sua vez, progressivamente a dose da droga para conseguir o mesmo efeito. Isso acontece com as causa um número cada vez maior de vítimas. As anfetaminas, a cocaína, o álcool e os xaropes violências associadas ao tráfico implicam, hoje, que contêm codeína. insegurança, perda da qualidade de vida e muitas Já a dependência é o impulso que leva a pessoa a usar uma droga de forma contínua ou mortes prematuras. Isso faz com que essas violênperiódica. O dependente é a pessoa que não cias sejam comparadas a uma verdadeira guerra.

AS CONDIÇÕES DE VIDA E A PRODUÇÃO DA SAÚDE E DAS DOENÇAS Hoje sabemos que usar os recursos públicos para melhorar as condições de vida da população é o caminho mais eficiente, humanitário e democrático para garantir a saúde. Afinal, é possível manter a saúde quando falta trabalho, respira-se ar poluído, mora-se em uma casa onde nunca bate sol ou ingere-se água e alimentos contaminados por pesticidas e esgotos? Numa sociedade em que os jovens são as principais vítimas de mortes violentas, é necessário enfrentar os problemas sociais que geram essas violências, e não apenas preparar os serviços de saúde com pessoal e equipamentos especializados para o atendimento das vítimas. Outro ponto importante é o trânsito. Os acidentes de trânsito são uma importante causa de morte em nosso país. Combinando leis de trânsito adequadas com sinalização, transporte coletivo, educação para o trânsito e qualidade das vias públicas, é possível diminuir o número de acidentes, diminuindo também a necessidade de prontos-socorros

consegue controlar o consumo, agindo de forma impulsiva e repetitiva. As duas formas principais em que ela se apresenta são a dependência química e a dependência psicológica. Quando há dependência física e o usuário para de tomar a droga ou diminui bruscamente seu uso, geralmente acontece uma crise de abstinência. A pessoa pode sentir mal-estar, ficar irritável, ter insônia, ter sensação de vazio e falta de concentração, sentir dores no corpo, entre outros efeitos físicos e psicológicos pelo efeito da droga. A dependência física não acontece com todas as drogas psicotrópicas, nem mesmo com a maioria delas. Além disso, para ajudar a superar a dependência, existem atualmente diversas formas de tratamento (com outras drogas que precisam ser utilizadas de forma muito cautelosa), que contribuem para diminuir as crises de abstinência. O uso ocasional e moderado do álcool, para fins de recreação, faz parte do lazer da maioria das sociedades. Entretanto, existe hoje em quase todos os países do mundo um grande incentivo ao consumo regular de bebidas alcoólicas, e em altas doses. Vale dizer que a maior parte das pessoas que consome bebida alcoólica não se torna alcoolista (dependente do álcool). Isso também é válido para as outras drogas: somente algumas pessoas se tornam dependentes. Na maioria dos casos, o que faz as pessoas voltarem a usar uma droga é a dependência psicológica e a intensa vontade de sentir novamente seu efeito. Geralmente, a dependência psicológica é muito mais prolongada e mais difícil de ser superada.

9º ano

359


e hospitais para tratar as vítimas. É possível, ainda, prevenir pequenos acidentes que acontecem com os idosos, que frequentemente precisam passar meses se recuperando de fraturas decorrentes de quedas que poderiam ser evitadas. Dessa forma, promover a saúde também é cuidar da cidade, melhorar as vias públicas, os caminhos e as calçadas para os pedestres.

Ciclovia na orla da Praia de Camburi, em Vitória (ES), 2011.

Sem dúvida, é necessário criar e manter serviços de saúde, garantindo a todos os cidadãos os benefícios do conhecimento e das tecnologias para melhorar e recuperar a saúde. Mas é igualmente necessário criar e manter espaços de convivência e lazer, oferecer meios de transporte, garantir postos de trabalho e prevenir a violência, pois é nas atividades cotidianas, e no ambiente onde elas acontecem, que se constrói a história da saúde e da doença de pessoas e povos.

O SISTEMA PÚBLICO DE SAÚDE NO BRASIL A Constituição Federal de 1988, pela primeira vez, declarou a saúde como direito de todos os brasileiros. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doenças e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação. (artigo 196)

Até então as coisas eram diferentes. Quem tinha carteira de trabalho assinada e pagava a Previdência Social tinha direito ao atendimento nos serviços públicos. Quem não podia pagar e não “tinha INPS” era considerado indigente ou carente. Como resultado de muitas lutas, foi criado o Sistema Único de Saúde (SUS). O nosso sistema público de saúde atende 75% da população brasileira. Somente 25% dos brasileiros usam convênios ou serviços privados. Embora seja um sistema ainda jovem e esteja apenas começando a ser implantado em boa parte dos municípios brasileiros, o volume de atendimentos é um dos maiores do mundo. 360

Ciências


CONHECER MAIS

O que é o Sistema Único de Saúde (SUS)?

Alguns números relativos ao SUS

É o conjunto de ações e serviços de saúde do país. Esse sistema é responsável pela elaboração e divulgação das informações de saúde da população e pela aplicação das políticas de saúde em todo o país, desenvolvendo para isso uma grande variedade de ações que afetam a nossa vida de todo dia. Alguns exemplos são: • as ações de vigilância sanitária de locais como portos, aeroportos, mercados, bares, padarias, farmácias, hospitais e escolas; • a proposição e a fiscalização do cumprimento de leis que garantam a qualidade de todos os produtos que interferem na saúde como alimentos, medicamentos, vacinas, órgãos para transplante, sangue para transfusões, substâncias usadas nos locais de trabalho; • ações de prevenção e tratamento dos problemas de saúde do conjunto da população. A realização desses serviços e de todas as demais ações do SUS é paga pelos cidadãos, por meio da arrecadação de impostos.

No mês de novembro de 2012, foram realizados no SUS: – 822 414 procedimentos hospitalares; – 312 060 desses procedimentos hospitalares foram cirurgias; – 5 062 transplantes de órgãos, tecidos e células; – 4 540 944 tratamentos odontológicos; – 11 734 práticas corporais em medicina tradicional chinesa. Fonte: Departamento de Informática do SUS. Disponível em: <www.datasus.gov.br>. Acesso em: 25 jan. 2013.

Nos bancos de dados do SUS você pode escolher o período, o estado e o município para saber quantos reais foram transferidos para o Fundo de Saúde, bem como quantas consultas, atividades educativas e internações foram realizadas ou quantos profissionais de saúde estão contratados. Acompanhar e controlar essas informações também é direito — e dever — de todos.

Campanha de vacinação contra influenza H1N1 em Unidade Básica de Saúde em São Paulo (SP), 2010.

LUTA POR DIREITOS Não podemos menosprezar nossas conquistas, que já foram muitas, nem permitir que elas sejam perdidas depois de tantas lutas em prol de um sistema público de saúde. O SUS serve de exemplo para outros países do mundo por causa de programas como Saúde da Família, DST/aids, de vacinação e transplantes. O grande desafio ainda é garantir que todas as políticas e ações de saúde definidas no SUS

9º ano

361


sejam colocadas em prática em todos os cantos do país. Como está caminhando a implantação do SUS em seu município? Você pode participar do Conselho e das Conferências de Saúde e da defesa de nossos direitos garantidos na Constituição.

INDICADORES DE SAÚDE Para avaliar a qualidade de vida e a situação de saúde da população, são coletadas informações que são utilizadas como indicadores de saúde. A esperança de vida ao nascer ou expectativa de vida é um dos indicadores de saúde mais importantes. Ela é calculada pela soma da idade de todas as pessoas que morrem durante um ano, em determinada região (cidade, estado, país etc.), dividida pelo número total de mortes, no mesmo período e na mesma região. O resultado é o número médio de anos de vida esperados, naquele momento, para uma pessoa que nasce naquela região.

LER TABELA II

O quadro a seguir mostra a esperança de vida ao nascer em sete países, no ano de 2009. Esperança de vida ao nascer, 2009 Anos País Homens

Mulheres

Angola

51

43

Índia

63

66

Brasil

70

77

Cuba

76

80

Estados Unidos

76

81

França

78

85

Japão

80

86 Fonte: Organização Mundial de Saúde, 2013.

362

Ciências


1. Cite os dois países onde a esperança de vida ao

nascer é a mais elevada. 2. Indique o país onde a esperança de vida ao nascer

é menor. 3. Considerando os fatores que influenciam a quali-

dade de vida e a saúde, como você explicaria essas diferenças?

A tendência atual, na maior parte dos países do mundo, é ter menos filhos e uma vida mais longa. Com isso, está acontecendo um envelhecimento da população. Estima-se que, até 2050, o número de idosos no mundo excederá o de jovens. No Brasil, se for mantida a tendência atual, a população vai começar a diminuir já neste século.

APLICAR CONHECIMENTOS V

Retome a lista dos problemas de saúde que você elaborou no começo do capítulo. Pense agora nas medidas que podem ser tomadas pelo conjunto da sociedade ou pelo poder público para promover a saúde e prevenir os problemas de saúde que mais afetam a sociedade. Observe que, para cada problema, podem ser indicadas diversas medidas complementares de prevenção. Ações de prevenção dos problemas de saúde Doenças infecciosas e parasitárias Aids

Ações da sociedade e do poder público na prevenção das doenças ou de suas complicações Oferecer o teste do HIV nos serviços públicos de saúde.

9º ano

363


Doenças crônicas e degenerativas Câncer de colo do útero

Adoecimento por causas externas Acidente de trânsito

364

Ciências

Ações da sociedade e do poder público na prevenção das doenças ou de suas complicações Proibir o fumo em locais fechados para prevenir o fumo passivo.

Ações da sociedade e do poder público na prevenção das doenças ou de suas complicações Apoiar pessoas que estão deixando de beber ou de usar outras drogas. Sinalizar corretamente as ruas.


PARA AMPLIAR SEUS ESTUDOS

Sites

Centro brasileiro de informações sobre drogas psicotrópicas (cebrid)

Na página do Cebrid na internet você pode obter muitas informações e dicas em uma abordagem positiva. Clique em Folhetos ou em Perguntas mais frequentes e encontre informações seguras sobre as drogas psicotrópicas, inclusive álcool e tabaco. Disponível em: <www.cebrid.epm.br>. Acesso em: 14 fev. 2012.

Política nacional sobre drogas

O site contém cartilhas voltadas para jovens, educadores, pais de crianças, pais de adolescentes etc. Os textos trazem conhecimentos científicos atualizados, apresentando questões relacionadas ao uso de drogas de forma leve, informal e interativa. Para acessar as cartilhas é preciso entrar na página dedicada a Políticas sobre Drogas e clicar em Publicações. Disponível em: <http://portal.mj.gov.br/data/Pages/MJD0D73EAFPTBRNN.htm>. Acesso em: 14 fev. 2012.

Portal da saúde

No site, você pode encontrar informações sobre o SUS, sobre a promoção da qualidade de vida e da saúde, assim como informações específicas sobre as doenças. Disponível em: <http://portalsaude.saude.gov.br/portalsaude/area/2/cidadao.html>. Acesso em: 14 fev. 2012.

9º ano

365


Bibliografia

CIÊNCIAS ALVES, Rubem. Filosofia da ciência. São Paulo: Ars Poética, 1996. CASH, T.; TAYLOR, B. Eletricidade e ímãs. São Paulo: Melhoramentos, 1991. (Ciência Divertida). CHASSOT, A. A ciência através dos tempos. São Paulo: Moderna, 1994. CARLINI-COTRIM, Beatriz. Drogas: mitos e verdades. São Paulo: Ática, 1997. (De Olho na Ciência). CEBRID (Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas). Diponível em: <www.cebrid.epm.br/index.php>. Acesso em: 21 fev. 2013. CAPRA, Fritjof. O ponto de mutação. São Paulo: Editora Cultrix, 2006. GREF (Grupo de Reelaboração do Ensino de Física). Física 2. São Paulo: Edusp, 1993. _______. Interações e transformações I: química para o Ensino Médio. São Paulo: Edusp, 1998. v. 1. KUHN, T. A estrutura das revoluções científicas. São Paulo: Perspectiva, 1992. LENT, Roberto. Cem bilhões de neurônios: conceitos fundamentais de neurociência. São Paulo: Atheneu; Rio de Janeiro: Faperj, 2002. MARGOTA, Roberto. História ilustrada da medicina. São Paulo: Manole, 1998. MARTHO, G. Pequenos seres vivos: o mundo dos microrganismos. São Paulo: Ática, 2005. (De olho na Ciência). MENEZES, L. C. A matéria: uma aventura do espírito: fundamentos e fronteiras do conhecimento físico. São Paulo: Livraria da Física, 2005. NEIVA, J. Conheça o petróleo. 5. ed. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1986. PARKER, S. Franklin e a eletricidade. São Paulo: Editora Scipione, 1999. (Caminhos da Ciência). RAW, I.; SANT’ANNA, O. A. Aventuras da microbiologia. São Paulo: Haecker Editores, Narrativa Um, 2002. THE OPEN UNIVERSITY. Recursos, economia e geologia: uma introdução. Campinas: Editora da Unicamp, 1994. (Os Recursos Físicos da Terra, Bloco I). 366

Ciências


_______. Materiais de construção e outras matérias brutas. Campinas: Editora da Unicamp, 1995. (Os Recursos Físicos da Terra, Bloco II). TRIGUEIRO, André. Mundo sustentável. São Paulo: Globo, 2005. VAITSMAN, E. P.; VAITSMAN, D. S. Química e meio ambiente: ensino contextualizado. Rio de Janeiro: Editora Interciência, 2006. (Coleção Interdisciplinar). VALADARES, Eduardo de Campos. Física mais que divertida: inventos eletrizantes baseados em materiais reciclados e de baixo custo. 2. ed. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2002. VALADÃO, M. M. Saúde e qualidade de vida. São Paulo: Global/Ação Educativa, 2003.

9º ano

367



UNIDADE 7

Matemรกtica



Capítulo

1

M AT E M ÁT I C A

Desde tempos remotos

E

m tempos remotos, as pessoas não sabiam plantar. Elas se alimentavam de frutos que colhiam nas matas, da caça e da pesca. As práticas dessas atividades levou-as a observar transformações nas árvores, nas folhas, nos frutos, nas flores, nas sementes, no nascimento e no desenvolvimento de animais, nos movimentos do Sol, da Lua, das estrelas, na passagem do tempo, nas estações do ano e em outras ocorrências na natureza. Essas observações fizeram com que algumas pessoas aprendessem a plantar, a dividir terras férteis às margens de rios, a construir casas, a prever os movimentos dos astros. Essas e muitas outras práticas humanas dependiam do que hoje chamamos de conhecimentos matemáticos.

Ricardo Azoury/Pulsar imagens

Plantação de alface e chicória em Teresópolis (RJ), em 2012.

RODA DE CONVERSA

Você sabe quais conhecimentos matemáticos estão por trás das atividad es de plantio, de caça e de pesca? E no seu dia a dia, você usa a Matemática para perceber as regularidades na natureza? Converse com os colegas a respeito da presença desses conceitos no cotidiano. 9o ano

371


UMA RELAÇÃO IMPORTANTE: O TEOREMA DE PITÁGORAS

Ilustração digital: Estúdio Pingado

Você já observou o início da construção de uma casa? Uma das primeiras etapas consiste em marcar no terreno a localização da casa, usando linhas e estacas para indicar no solo a posição e as medidas de cada cômodo. Em seguida, constrói-se o alicerce, parte da alvenaria que fica enterrada no solo e vai sustentar as paredes que, por sua vez, sustentarão o telhado. Em geral, as paredes formam ângulos retos, ou “ficam no esquadro”, como se costuma dizer. No Antigo Egito já se usavam ângulos retos para medir, entre outras coisas, mudanças de direção. Os ângulos retos eram construídos com pedaços de corda que continham 13 nós, dispostos em intervalos iguais.

A corda era bem esticada e fixada no chão por três estacas: a primeira prendia tanto o primeiro nó como o décimo terceiro, a segunda estaca prendia o quinto nó, e a terceira estaca prendia o oitavo nó. Assim eram traçados triângulos retângulos cujos lados mediam 3, 4 e 5 unidades de comprimento. Para nos aprofundarmos nessa questão, vamos imaginar que Pedro e Geraldo, dois pedreiros, precisam construir uma casa cujo alicerce tem forma retangular. Para que as paredes da casa fiquem no esquadro, eles precisam aplicar um procedimento comum entre pedreiros que se baseia no Teorema de Pitágoras. Por volta do século VI antes de Cristo, o filósofo e matemático grego Pitágoras e seus discípulos descobriram que, em qualquer triângulo que tem um canto reto, a soma dos quadrados das medidas dos lados que formam esse canto reto é igual ao quadrado da medida do terceiro lado desse triângulo. Ou seja, sempre que um triângulo tem um ângulo reto, o quadrado da medida 372

Matemática


do lado maior é igual à soma dos quadrados das medidas dos outros dois lados. Um triângulo que possui um ângulo reto é denominado triângulo retângulo. Nesse tipo de triângulo o lado maior é denominado hipotenusa e os outros dois lados, catetos. Essa importante propriedade do triângulo retângulo pode ser formulada da seguinte maneira:

A

hipotenusa

C

cateto

cateto

B

O ângulo ABC é reto, e o indicamos pelo símbolo . O triângulo ABC é um triângulo retângulo.

Num triângulo retângulo, o quadrado da medida da hipotenusa é igual à soma dos quadrados das medidas dos catetos. (hipotenusa)2 = (cateto)2 + (cateto)2 Esse é o famoso Teorema de Pitágoras. Esse teorema vale para todos os triângulos retângulos. Acompanhe, agora, os procedimentos utilizados pelos dois pedreiros do nosso exemplo para aplicar esse teorema, deixando as paredes “no esquadro”. Pedro finca uma estaca de madeira na posição que chamaremos de canto 1. Geraldo amarra nela uma linha. A partir do canto 1, eles esticam a linha e medem nela, com uma trena, a distância de 10 metros, marcando um ponto. Nesse ponto eles colocam uma segunda estaca, identificada por canto 2, na qual amarraram a linha. Pedro estica a linha numa direção aproximadamente perpendicular ao segmento de reta nomeado por “canto 1; canto 2” e marca um ponto a 6 metros do canto 2. Nesse ponto, ele finca uma terceira estaca, que 10 m canto 1 canto 2 é identificada provisoriamente como canto 3. canto 3

6m

10 m canto 2

canto 1

A posição da terceira estaca é provisória porque os pedreiros precisam verificar se o canto 2 ficou reto ou no esquadro. Como se pode observar na figura acima, ele não ficou.

9o ano

373


canto 3 Acompanhe os procedimentos que Geraldo usa para deixar o canto B 2 no esquadro: 1. A partir do canto 2, ele mede 80 cm sobre o fio que liga o can60 cm to 2 ao canto 1 e marca um ponto que será nomeado por A. canto 2 A 2. A partir do canto 2, ele mede 60 cm 80 cm sobre o fio que liga o canto 2 ao canto 3 canto 3, marcando o ponto B. 3. Em seguida, ele pega um pedaço B de madeira “retilíneo” com 1 metro de comprimento, coloca uma das suas extremidades no ponto A 1m 60 cm e desloca o fio esticado que liga o canto 2 ao canto 3, tentando fazer canto 2 A coincidir a outra extremidade do 80 cm pedaço de madeira com o ponto B. 4. No momento em que a distância de A a B for igual a 1 metro, então Geo ent canto 3 vim raldo afirma que o canto 2 está no mo esquadro. B Em seguida, ele marca a posição definitiva do canto 3, que fica a 6 metros do canto 2. 1m 60 cm Deslocando o fio que forma o canto 3, Geraldo consegue fazer com que a A distância de A a B seja igual a 1 metro. canto 2 80 cm Nesse momento, ele tem certeza que o canto 2 está no esquadro. O que o Geraldo quer dizer quando ele afirma que o canto 2 está no esquadro? B Observe que as medidas dos lados do triângulo destacado na figura anterior são 80 cm, 60 cm e 1 metro, ou 1m 100 cm. 60 cm Esses lados são os catetos e a hipotenusa do triângulo, respectivamente. Por isso, pode ser aplicada a relação entre eles: canto 2 80 m

802 + 602 = 1002, ou 6 400 + 3 600 = 10 000

Veja outros exemplos. Os triângulos a seguir são retângulos. Para eles, vale o Teorema de Pitágoras. 374

Matemática

canto 1

canto 1

canto 1

A


13

1

2,6 5

12

2,4

132 = 52 + 122 169 = 25 + 144

2,62 = 12 + 2,42 6,76 = 1 + 5,76

A nova tarefa de Pedro e Geraldo é localizar o canto 4 que vai formar a base retangular na qual a casa vai ser construída. Para colocar o canto 4 no esquadro, Pedro amarra uma linha no canto 3, com 10 metros de comprimento, e a estica até onde vai ser o canto 4 em uma direção aproximadamente perpendicular ao segmento de reta nomeado por “canto 2; canto 3”. Geraldo amarra outra linha, com 6 metros de comprimento, no canto 1, e a estica até onde vai ser canto 3 o canto 4 em uma direção aproximadamente perpendicular ao segmento de reta nomeado por “can6m to 1; canto 2”. O ponto onde essas duas linhas se encontrarem determinará o canto 4. canto 2 Dessa forma, os dois pedreiros marcam a base para 10 m construir o alicerce da casa com suas medidas reais.

canto 4

canto 1

APLICAR CONHECIMENTOS I

• No triângulo retângulo ao lado, os catetos medem 3 unida-

des e 4 unidades. Junto de cada cateto, foi desenhado um quadrado, cujos lados têm a mesma medida do cateto. Observe a figura e complete as frases. a) A área do quadrado pintado de amarelo é .

unidade

3 4

b) A área do quadrado pintado de verde é

. c) A área do quadrado construído “junto” da hipotenusa é

.

d) Relacione a área do quadrado maior com a soma das áreas dos quadrados menores. e) Você acabou de fazer uma verificação particular do Teorema de Pitágoras.

Agora complete a frase a seguir: “Num triângulo retângulo, o quadrado da medida da das medidas dos .“

é igual à soma dos

9o ano

375


TEOREMA DE PITÁGORAS: APLICAÇÕES RAIZ QUADRADA Conhecendo-se as medidas de dois lados de um triângulo retângulo e usando o Teorema de Pitágoras, é possível determinar a medida do terceiro lado. Por exemplo, conhecendo as medidas dos catetos, podemos calcular a medida da hipotenusa. O triângulo PQR a seguir é retângulo. Q Se o cateto PQ mede 12 cm e o cateto QR mede 9 cm, então a medida da hipotenusa pode ser obtida assim: 9

(hipotenusa)2 = 92 + 122 (hipotenusa)2 = 81 + 144 (hipotenusa)2 = 225

12

R P

Portanto, para se obter a medida da hipotenusa, é preciso encontrar um número que elevado ao quadrado seja igual a 225. Um desses números é 15, pois 152 = 15 × 15 = 225. Dizemos que 15 é uma raiz quadrada de 225 e representamos este fato assim: 225 = 15

Por causa do frequente uso do conceito de raiz quadrada de um número, o símbolo 2 costuma ser substituído pelo símbolo . Se os catetos de um triângulo retângulo medem 9 cm e 12 cm, então a sua hipotenusa medirá: 225 cm =

52 cm =

(

)

2

15 cm = 15 cm

Como vimos, a raiz quadrada de um número envolve uma potência com expoente 2. Por exemplo, como 132 é igual a 169, então, 13 é a raiz quadrada de 169, ou seja: 2

169 =

169 = 132=

(

)

2

13 = 13

Dando nomes aos seus componentes: 2

376

Matemática

169 ou 2 169 chama-se radical. 169 chama-se radicando. 2 é o índice do radical. 13 é a raiz quadrada.


Para calcular a raiz quadrada de um número em uma calculadora simples, basta digitar . o número e em seguida pressionar a tecla Por exemplo, para calcular 169 digitamos: 1 6

9

e no visor aparecerá o número 13. O número inteiro 169 é um número quadrado perfeito, pois é o quadrado do número inteiro 13. Dizemos que 13 é a raiz quadrada exata de 169. Um número racional, inteiro ou não inteiro, é quadrado perfeito se existir número racional que, elevado ao quadrado, é igual àquele número. Os números quadrados perfeitos têm raízes quadradas exatas. Todo número racional quadrado perfeito tem raiz quadrada exata. Todo número racional positivo possui uma única raiz quadrada. A raiz quadrada de um número racional positivo é o número positivo que, elevado ao quadrado, resulta nele. Em particular: 0 = 0, pois 02 = 0. Por exemplo, na igualdade c2 = 81, a letra c representa um número inteiro que elevado ao quadrado é igual a 81. Há dois números que elevados ao quadrado são iguais a 81. Um deles é 9, pois 2 9 = 81. O outro é –9, pois (–9)2 também é 81. Mas, de acordo com o que foi mencionado, só 9 é a raiz quadrada de 81, pois trata-se de um número racional positivo. Logo: 81 = 9

APLICAR CONHECIMENTOS II

1. Desenhe o triângulo retângulo MNP ao lado em uma fo-

M

lha de papel sulfite.

O lado MN mede 6 cm e o lado NP, 8 cm. a) Qual é a medida do lado MP? b) Qual é o quadrado da medida de MP? N

P

c) Calcule 62 + 82 e compare esse resultado com o que você obteve no item anterior. 2. Complete as sentenças seguintes com números que as tornem verdadeiras: a)

100 = 8 porque

3. Na igualdade

2

= 16, o

2

= 64.

b)

100 =

.

”esconde” pelo menos um número inteiro. Qual é esse número?

9o ano

377


OUTROS EXEMPLOS 1o exemplo: Ilustração digital: Luciano Tasso

Uma escada com 5 metros de comprimento está apoiada em uma parede. Sua base superior está a 4 metros do chão. Qual é a distância da sua base inferior até a parede? É possível considerar como catetos o “segmento” que vai da sua base superior perpendicularmente à base inferior da parede e o “segmento” que vai da base inferior da escada perpendicularmente à base inferior da parede. Um dos catetos mede 4 metros e a hipotenusa mede 5 metros. Aplicando o Teorema de Pitágoras, temos: (distância)2 + 42 = 52 (distância)2 + 16 = 25 (distância)2 = 9

Logo: (distância)2 = 9, ou seja, distância =

9 =

32 = 3 metros

Logo, a distância da base inferior da escada à base inferior da parede é igual a 3 metros. 2o exemplo:

C 11

Fixando uma estaca no ponto A e marcando os 10 pontos B e C de modo que o ângulo C seja reto, Antônio verificou que a medida de B a C é igual a 10 metros e de A a C é igual a 11 metros. B Qual é a distância de A a B? O triângulo ABC é retângulo. Se o cateto BC mede 10 cm e o cateto CA mede 11 cm, então a medida da hipotenusa pode ser assim obtida: (hipotenusa)2 = 102 + 112 (hipotenusa)2 = 100 + 121 (hipotenusa)2 = 221 hipotenusa = 221

378

Matemática

A


Para obter um valor aproximado de 221 em uma calculadora, podemos digitar as teclas: 2 2

1

e no visor deverá aparecer um valor próximo de 14,86606875 (como é um valor aproximado, ele pode variar, dependendo da precisão da calculadora). Fazendo uma aproximação com duas casas decimais temos: 14,87. Portanto, a distância de A a B é de, aproximadamente, 14,87 cm. APLICAR CONHECIMENTOS III

1. Em um pedaço de cartolina, Angélica desenhou o tabuleiro retangular representado ao lado. a) Quantos quadradinhos com 1 cm2 compõem esse tabuleiro? b) Qual é a área desse tabuleiro, na unidade cm2? c) Qual é a medida de cada lado desse tabuleiro na unidade cm? 1 cm

d) Lembrando que: Área de um quadrado = lado × lado = lado2

escreva uma relação numérica entre a medida de cada lado desse quadrado e sua área usando símbolo de raiz quadrada. e) Representando a medida de cada lado de um quadrado pela letra L e a sua área pela letra A,

escreva uma relação algébrica entre e a medida de cada lado desse quadrado e sua área usando símbolo de raiz quadrada. 2. No retângulo ABCD, seus lados distintos medem 12 cm e 20 cm.

Calcule a medida aproximada da diagonal AC com duas casas decimais após a vírgula. A

D

B

C

9o ano

379


3. Na figura a seguir, os pontos A, B e C representam as casas de Alice (em A), Berenice (em B) e

Carolina (em C).

B

A

C

A distância AB é igual a 32 km e a distância AC é igual a 40 km. Calcule a distância da casa de Berenice, em linha reta (medida do segmento AC), à casa de Carolina com duas casas decimais após a vírgula.

Reinhard Dirscher/Imageplus

Mayskyphoto/Shutterstock

NÚMEROS IRRACIONAIS 1

1 1 1

5

2

6

1

7

1

1 8

1

3 1

Exemplos de espirais: náutilus (acima, à esquerda), chifre de carneiro e triângulos retângulos em espiral.

Linhas parecidas com as linhas espirais que aparecem nos náutilus ou nos chifres de um carneiro montanhes podem ser observadas numa sequência de triângulos retângulos, cujas hipotenusas medem 2 , 3 , 4 , 5 , 6 , ..., e que “giram” ao redor de um ponto. Desses números, sabemos que 4 é o número inteiro 2, porque 22 = 4. Porém, as representações decimais dos números 2 , 3 , 5 , 6 não são decimais exatos e nem são dízimas periódicas. Esses números não são números inteiros, nem números racionais. 380

Matemática

1

3

2

10


Supõe-se que Pitágoras e seus discípulos tenham sido as primeiras pessoas a descobrirem a existência de um outro tipo de número, além dos racionais. O famoso Teorema de Pitágoras foi a primeira constatação da existência desse 1 tipo de número, que foi denominado número irracional. Acompanhe uma justificativa da representação geométrica do número 2 que corresponde à hipotenusa do triângulo re1 tângulo ao lado, que é primeiro triângulo retângulo da figura do espiral. Lembrando do Teorema de Pitágoras, temos:

2

(hipotenusa)2 = 12 + 12 = 1 + 1 = 2 hipotenusa = 2

EC Santos

Pode-se utilizar uma calculadora simples para determinar um valor aproximado da raiz quadrada de 2, pressionando as teclas 2 e , nessa ordem. Se uma calculadora utilizada exibe, no máximo, 8 dígitos, então, um valor aproximado de 2 mostrado por essa calculadora é 1,4142136 ou 1,4142135. Em uma máquina cujo visor exibe mais dígitos, podemos observar que 2 possui mais que sete casas decimais após a vírgula. Na tabela a seguir, pode-se ver valores aproximados para 2 com 7, 8, 9, 10 e 31 casas decimais: Número de casas decimais após a vírgula

Valor aproximado para

2

7

1,4142136

8

1,41421356

9

1,414213562

10

1,4142135624

31

1,4142135623730950488016887242097

Por que os valores obtidos para 2 são aproximados? Pode-se tentar responder à última questão usando uma calculadora. Pressionando as teclas 2 e , calcularemos um valor aproximado da raiz quadrada de 2. Com o valor obtido (1,4142136 ou 1,4142135) no visor da calculadora (imaginando que ela mostre 8 dígitos), se pressionarmos as teclas × e = , estaremos calculando 1,41421362 (ou 1,41421352). No visor da calculadora, pode aparecer o valor 2,0000001 ou 1,9999998.

9o ano

381


Usando uma calculadora que exibe 12 dígitos, então 2 Ê aproximadamente igual a 1,41421356237, que pode ser representado por 2 1,41421356237. Nesse caso, pode-se encontrar: 1,414213562372 1,99999999999. A difícil conclusão a que muitos bons matemåticos chegaram ao longo da história (hå mais de 2 000 anos) Ê que, por melhor que seja a aproximação de 2 , nunca iremos obter: (aproximação de

2 )2 = 2

Se, ao calcular (aproximação de 2 )2, o resultado obtido for 2, isso significa que o processador numĂŠrico da mĂĄquina fez um arredondamento. Da mesma forma, pode-se verificar que valores obtidos para 3 , 5 e 6 tambĂŠm sĂŁo aproximados. Eles tambĂŠm sĂŁo nĂşmeros irracionais. Outros exemplos de nĂşmeros irracionais sĂŁo: • Ď€ 3,1415926535897932384626433832795...; • 0,123456789101112131415161718192021... (os dois algarismos se-

guintes sĂŁo os algarismos do nĂşmero 22, os dois seguintes sĂŁo os algarismos do nĂşmero 23, e assim sucessivamente); 2 zeros

4 zeros

6 zeros

• 1,1010010001000010000010000001 , e assim por diante. 1 zero

3 zeros

5 zeros

Mas nem todo nĂşmero escrito na forma de radical ĂŠ um nĂşmero irracional. Por exemplo, 9 , 25 e 1, 44 nĂŁo sĂŁo nĂşmeros irracionais, porque 9 = 3, 25 = 5 e 1, 44 = 1,2.

APLICAR CONHECIMENTOS IV

1. Qual Ê a medida da hipotenusa de um triângulo retângulo cujos catetos medem 5 cm e 3 cm? Esse

nĂşmero ĂŠ irracional?

2. A medida de cada lado de um quadrado ĂŠ igual a 10 cm. a) Qual ĂŠ a ĂĄrea desse quadrado? b) Essa ĂĄrea representa um nĂşmero racional ou irracional? Justifique.

10 cm

382

MatemĂĄtica


15 cm

3. Qual é a medida da diagonal do quadrado ao lado?

Escreva na forma decimal, um valor aproximado para essa medida com 3 casas decimais após a vírgula decimal.

15 cm

EXERCITANDO MAIS

1. Calcule a medida do cateto do triângulo retângulo abaixo. P

N 20 cm 16 cm

M

2. Observe os triângulos retângulos ao lado.

Use uma calculadora para determinar a medida aproximada de cada hipotenusa, com duas casas decimais.

1

?

1

1

?

2

unidade

3. Em um triângulo retângulo, a hipotenusa mede 13 cm e um dos catetos mede 5 cm.

O perímetro desse triângulo retângulo é

.

4. Observe os números a seguir: 136

576

5 184

6 144

Quais deles são números quadrados perfeitos? 5. O tampo de uma mesa é quadrado e tem área de 6,25 m2. Quanto mede cada lado dessa mesa? 6. Desenhe em seu caderno um triângulo retângulo cujos catetos medem 2 cm e 1 cm. a) Qual é o número irracional expresso na forma de radical que é representado pela hipotenusa

desse triângulo retângulo? b) Obtenha um valor aproximado desse número irracional. Utilize uma calculadora para obter

um valor aproximado com 8 casas decimais após a vírgula.

9o ano

383


Capítulo

2

M AT E M ÁT I C A

Conexões matemáticas

A

Ilustração digital: Luciano Tasso

s origens dos conhecimentos matemáticos remontam a tempos pré-históricos e derivam de ideias centradas nos conceitos de número, grandeza e forma. Alguns textos sobre a história das ciências afirmam que noções de Aritmética, parte da Matemática que estuda os números e as operações, antecedem a escrita. Registros de povos antigos mostram desenhos com formas geométricas, o que faz supor que a Geometria é um dos campos mais antigos da Matemática. Para essas civilizações, o conhecimento geométrico tinha um caráter essencialmente prático: sua importância estava diretamente relacionada à sua utilidade para resolver problemas da vida cotidiana.

Fonte: BOYER, Carl B. História da matemática. São Paulo: Blucher, Edusp, 1974.

Foram os gregos que, a partir do século VI antes de Cristo, passaram a apresentar a Geometria como conhecimento formalizado, o que contribuiu para o progresso das ciências. As medidas também estavam presentes nas civilizações antigas, como as dos egípcios, babilônios e chineses. Os avanços nesse campo ocorreram principalmente por causa da necessidade de resolver problemas relacionados à demarcação e distribuição de terras e à cobrança de impostos de quem as cultivava. Essas civilizações desenvolveram fórmulas, exatas ou aproximadas, para calcular a área de quadrados, retângulos e, talvez, triângulos. A Álgebra, que hoje conhecemos como uma linguagem simbólica, usada para representar fatos e relações gerais por meio de expressões, também teve suas origens no mundo antigo. Consta que tanto os gregos como os babilônios já conheciam métodos algébricos para resolver equações. Entretanto, o grande avanço ocorrido na Álgebra se deve aos estudos produzidos pela civilização árabe. 384

Matemática


A própria palavra álgebra deriva de Al-jabr we mukabala (o equilíbrio), que é o título de um tratado sobre equações, escrito pelo matemático árabe Al-Khowarizmi. Esses conhecimentos são uma valiosa herança cultural deixada por nossos antepassados para o desenvolvimento das ciências e das tecnologias. Grupos como os indígenas brasileiros e povos nativos da América, África e Ásia ainda hoje utilizam distintos modos de se orientar no tempo e no espaço, de contar, de calcular, de reconhecer e medir as formas do universo. Você sabe algo sobre esse assunto?

RODA DE CONVERSA

Você conhece algum fato relacionado à história do conhecimento matemático? Em sua opinião, hoje em dia, os conhecimentos da Aritmética, da Geometria, da Álgebra e das medidas aprendidos na escola também são úteis para resolver problemas da vida prática? Dê exemplos e discuta com seus colegas.

GEOMETRIA E PROPORCIONALIDADE Um profissional que desenha plantas de casas, edifícios e outras construções muitas vezes precisa recorrer a conhecimentos matemáticos para resolver problemas que surgem no decorrer de seu trabalho, como dividir um segmento de reta com 8 cm em três partes iguais. O quociente da divisão de 8 por 3 é um número racional com infinitas casas decimais (uma dízima periódica): 8 ÷ 3 = 2,66666...

Para resolver esse problema sem usar o cálculo 8 ÷ 3 ou uma régua, pode-se aplicar um conhecimento matemático desenvolvido por Tales de Mileto, comerciante, filósofo e estudioso de Geometria que viveu na Grécia antiga, por volta do ano 600 a.C. Essa importante descoberta ficou conhecida como Teorema de Tales. Veja o que diz o Teorema de Tales. Quando três ou mais retas paralelas são cortadas por duas retas transversais, as medidas dos segmentos determinados sobre uma das transversais são respectivamente proporcionais às medidas dos segmentos determinados sobre a outra transversal.

GLOSSÁRIO

Transversal: que passa de través; que segue direção transversa ou oblíqua; não reto; colateral.

9o ano

385


Veja uma figura ilustrativa para o Teorema de Tales. r

t

segmentos determinados pelas transversais segmentos determinados pelas transversais

feixe de retas paralelas

segmentos determinados pelas transversais

reta transversal

reta transversal

Acompanhe a explicação sobre o Teorema de Tales. Na figura a seguir, aparecem três retas paralelas cortadas por duas retas transversais, r e t. Os segmentos de reta AB e BC, determinados sobre a transversal r, medem respectivamente 2 cm e 3 cm e os segmentos de reta DE e EF, determinados sobre a transversal t, medem respectivamente 3 cm e 4,5 cm. r A B

C

t

r D

A 2 cm B

E

F

3

t D 3 cm E

3 cm

4,5 cm

C

F

Considere as razões 2 e obtidas por meio das medidas dos segmentos de 4, 5 3 reta determinados sobre as duas transversais r e t. Use uma calculadora para obter os quocientes da divisão de 2 por 3 e de 3 por 4,5, ou multiplique 2 por 4,5 e 3 por 3. 2 Com base nos resultados obtidos, é possível concluir que as razões 2 e 4 ,5 3 são iguais. Como as razões são iguais, ou seja, como as medidas dos segmentos de reta AB e BC, determinados sobre a transversal r, formam uma proporção com as medidas dos segmentos de reta DE e EF, determinados sobre a transversal t, então diz-se que os segmentos AB e BC são proporcionais aos segmentos DE e EF. 386

Matemática


Essa relação de proporcionalidade pode ser observada em outros exemplos, nos quais retas paralelas são cortadas por retas transversais. F Q

N 1,5 cm

2,5 cm y

P

M

3 cm

t

x 4 cm

5 cm H

E

5 cm 2 cm L

O

a

b

2,5 cm G

D

z

x

1,5 2,5 = 3 5

s

r

y

4 5 = 2 2,5

O próximo exemplo é um caso particular do Teorema de Tales. L

K

2,5 cm

I

J

p

2,5 cm

H

2,0 cm n

2,0 cm

m

G

l o

Se três ou mais retas paralelas cortadas por duas transversais determinarem sobre uma das transversais segmentos de reta com medidas iguais, então elas determinam também, sobre a outra transversal, segmentos de reta com medidas iguais. Aplicando esses conhecimentos, podemos dividir um segmento de reta com 8 cm em três segmentos com medidas iguais, realizando os seguintes procedimentos: • trace um segmento de reta AB, com 8 cm; • partindo da extremidade A, desenhe um segmento de reta auxiliar AC, cuja medida seja um número divisível por 3, por exemplo, 9 cm; • divida o segmento AC em três partes iguais; • nomeie os pontos obtidos em AC por M e N, como se pode ver na figura abaixo; A

B

M

N

C

9o ano

387


• trace o segmento de reta BC e, em

P

A

Q

B

seguida, trace as retas paralelas ao segmento de reta BC que passam M pelos pontos M e N e que cortam o segmento de reta AB nos pontos que serão nomeados por P e Q; N • as medidas dos segmentos de reta AP e PQ são 1 da medida do segC mento AB. 3 Como vimos, aplicando o Teorema de Tales, é possível determinar os pontos que dividem um segmento de reta com 8 cm em três partes iguais, sem trabalhar com a medida 2,666... cm, resultado da divisão de 8 cm por 3. Veja no próximo exemplo como dividir um segmento de reta AB em três partes não iguais, mas diretamente proporcionais a 2, 3, 5, aplicando o Teorema de Tales: • trace um segmento de reta com 5 cm; A

B

• trace uma semirreta com origem no ponto A e que não passe pelo ponto B; A

B

• escolha uma unidade de medida qualquer (1 u) e, com uma régua ou compasso, marque

sobre a semirreta os dez segmentos de reta AM, MN, NO, OP, PQ, QR, RS, ST, TU e UV, todos com medidas iguais a 1 u, pois 2 + 3 + 5 = 10. Esses segmentos são consecutivos. B

A M N O P Q R S T

1u U V C

Dois segmentos de reta são consecutivos quando têm uma extremidade em comum. Os segmentos de reta AB e BC são consecutivos. Os segmentos de reta MN e NP são consecutivos.

A

M

388

Matemática

B

N

P


• trace o segmento de reta BV;

B

A M N O P Q R S T

1u U V

• finalmente, a partir do ponto A, sobre a semirreta, conte dois pontos

até N e trace a reta paralela ao segmento BV, passando pelo ponto N.

A partir do ponto N, sobre a semirreta, conte três pontos até Q e trace a reta paralela ao segmento BV, passando A K L pelo ponto Q. Com isso, ficam determinados no M N segmento AB os pontos K e L, respecO tivamente. P Q Como as medidas dos segmentos R NA, NQ, QV, são 2 u, 3 u e 5 u, respectiS vamente, então as medidas dos segmenT tos AK, KL e LB, são respectivamente proporcionais a 2, 3 e 5. Logo, os segmentos de reta AN e AK, NQ e KL, e QV e LB são proporcionais. O Teorema de Tales pode ser utilizado em situações em que é necessário dividir um segmento de reta em partes proporcionais. Situações como essas são vivenciadas por pedreiros, engenheiros, desenhistas. Para esses profissionais, é inegável a utilidade da descoberta feita por Tales, no século VI antes de Cristo.

B

1u U V

CONHECER MAIS

A pirâmide de Quéops e o Teorema de Tales V

A grandiosidade da pirâmide de Quéops, construção que data de 2600 a.C., inspirou Tales a construir um procedimento preciso para determinar sua altura. Acompanhe o pensamento de Tales: em um dia de sol, após fincar verticalmente no chão um bastão de madeira de comprimento conhecido e medir sua sombra, ele concluiu que a altura do bastão e a sombra projetada eram proporcionais à altura da pirâmide e sua sombra, naquele mesmo instante. Dessa forma, no momento em que a sombra do bastão fosse igual a sua altura, a sombra da pirâmide seria igual à altura da pirâmide.

U

C

B

9o ano

F

389


APLICAR CONHECIMENTOS I

1. Aos domingos, Antônio gostava de ler jornal no jardim de sua casa e admirar o belo pinheiro que

ficava ao lado do portão. O hábito de observar a árvore levou-o a reparar em sua sombra, que, bem cedo, era sempre muito comprida e ia diminuindo à medida que as horas se aproximavam do meio-dia. Intrigado, ele pensou que haveria um momento em que o comprimento da sombra seria exatamente o mesmo do pinheiro. Você acha que é possível comprovar a hipótese de Antônio? Como? Discuta com um colega. 2. Tente resolver as seguintes situações aplicando as relações do Teorema de Tales. Se for convenien-

te, use régua e esquadro. a) Trace um segmento com 18 cm e divida-o em três partes iguais. Utilizando esse resultado,

divida um segmento com 20 cm em três partes iguais. b) Divida um segmento com 9 cm em duas partes proporcionais a 3 e 5. c) Divida um segmento de reta com 20 cm em três partes, cujas medidas serão chamadas a, b e

c, de tal modo que b seja o dobro de a e c seja o triplo de a.

ARITMÉTICA E ÁLGEBRA Aritmética e Álgebra são campos da Matemática que nos ajudam a compreender relações quantitativas. Os procedimentos aritméticos permitem atribuir significados aos números e às operações na resolução de um problema. Os procedimentos algébricos permitem representar situações-problema (por meio de expressões), envolvendo variáveis ou incógnitas, números e operações aritméticas. Acompanhe a seguir a aplicação de um procedimento algébrico. Para indicar o perímetro da figura abaixo, pode-se recorrer às seguintes formas escritas. a

a representa a medida de cada lado da estrela, numa mesma unidade. a+a+a+a+a+a+a+a+a+a+ + a + a + a + a + a + a = 16 × a

O perímetro da estrela pode ser representado pela expressão algébrica 16 × a, ou 16 · a. Expressões algébricas desse tipo são chamadas monômios. 390

Matemática


Veja outros exemplos de monômios: 2·a·b

–5 · x2

3 ·m·n 7

0,73 · p · q2 · r3 · s4

Tomando como base os exemplos dados, podemos caracterizar monômio, simplificadamente, da seguinte forma: • O seu fator numérico é chamado coeficiente. • O produto das variáveis na forma de potências com expoentes inteiros e positivos é chamado parte literal. Por exemplo: No monômio 2 · a · b, 2 é o coeficiente e a · b é a parte literal. No monômio –5 · x2, –5 é o coeficiente e x2 é a parte literal. No monômio 3 · m · n, 3 é o coeficiente e m · n é a parte literal. 7 7 No monômio 0,73 · p · q2 · r3 · s 4, 0,73 é o coeficiente e p · q2 · r 3 · s 4 é a parte literal. • Todo monômio com o coeficiente igual a zero é o monômio nulo. Por exemplo: 0 · x2 = 0. • Quando o coeficiente de um monômio é 1, então esse coeficiente não precisa ser escrito. Por exemplo: 1 · x = x. • Monômios com as mesmas partes literais são chamados monômios semelhantes. Por exemplo: 3 · x2 e 5 · x2 são monômios semelhantes; 5 · x e 3 · x2 não são monômios semelhantes. Podemos operar com monômios utilizando as propriedades já estudadas para os números.

ADIÇÃO DE MONÔMIOS As medidas dos lados do triân2·a 4·a gulo representado estão indicadas em centímetros. Calcule seu perímetro. 5·a Para obter o perímetro desse triângulo, calculamos a soma das medidas de seus lados, representadas pelos monômios semelhantes 2 · a, 4 · a e 5 · a. Perímetro = 2 · a + 4 · a + 5 · a = (a + a) + (a + a + a + a) + (a + a + a + a + a) = 11 · a Esse perímetro pode ser calculado colocando o fator comum a em evidência: Perímetro = 2 · a + 4 · a + 5 · a = (2 + 4 + 5) · a = 11 · a fator comum

fator comum em evidência

Perímetro = 2 · a + 4 · a + 5 · a = (2 + 4 + 5) · a = 11 · a Veja outros exemplos nos quais calculamos a soma de monômios semelhantes. • 3 · x2 + 2 · x2 = (3 + 2) · x2 = 5 · x2 • 8 · m2 + m2 = (8 + 1) · m2 = 9 · m2 Observe que, em cada caso, adicionamos os coeficientes dos monômios e conservamos suas partes literais. 9o ano

391


Na adição de monômios, quando estes não são semelhantes o resultado (a soma) é uma expressão algébrica que denominamos polinômio. Exemplos: a2 – b e x2 – 62 · a · x + 10 + 3 · b3 são polinômios. Uma expressão algébrica que é soma de dois monômios não semelhantes é chamado binômio. Por exemplo: Os monômios 2 · b e b2 são os termos do binômio 2 · b + b2. Uma expressão algébrica que é soma de três monômios, dois a dois não semelhantes, é chamado trinômio. Por exemplo: Os monômios 2 · x, – 0,62 · a · x e y3 são os termos do trinômio: 2 · x – 0,62 · a · x + y3

SUBTRAÇÃO DE MONÔMIOS A área do retângulo menor da figura ao lado é 6 · b e a área do retângulo maior é 10 · b. Vamos determinar a área da região pintada de azul. Uma forma para determinar essa área con6 siste em calcular a diferença entre as áreas dos retângulos, que são dadas pelos monômios seb melhantes 10 · b e 6 · b. Logo, a área da região pintada de azul é igual a 10 · b – 6 · b. Para calcular a diferença 10 · b – 6 · b, podemos colocar em evidência o fator comum b: 10 · b – 6 · b = (10 – 6) · b = 4 · b

Observe que subtraímos os coeficientes dos monômios e conservamos suas partes literais. Veja outros exemplos, nos quais calculamos a diferença entre monômios semelhantes: • 3 · a2 – 2 · a2 = (3 – 2) · a2 = 1 · a2 = a2 1 • 3 · y − (− · y) 2 1 A diferença entre 3 · y e − 2 · y pode ser expressa como a soma de 3 · y com o 1 oposto de − 2 · y : 1 1 1 7  6 + 1 3 · y – (– · y) = 3 · y + · y = (3 + ) · y =  ·y= ·y   2  2 2 2 2

A soma ou a diferença entre dois monômios semelhantes é o monômio com: • coeficiente igual à soma ou à diferença entre os seus coeficientes; • a mesma parte literal desses monômios.

392

Matemática

10


MULTIPLICAÇÃO DE MONÔMIOS No retângulo representado ao lado, a largura é a metade do comprimento. Qual é a área desse retângulo? Se x é seu comprimento, então sua largura é x . 2 Portanto, a área desse retângulo é o produto do seu comprimento pela sua largura, representados pelos monômios semelhantes x e x .

x

1 ·x 2

2

área do retângulo = x ·

x 2

Aplicando algumas vezes as propriedades associativa e comutativa da multiplicação, tem-se: x·

x 1 1 1 1 =1·x· · x =  1 ⋅ 1  · x · x = · x1 · x1 = · x1+1 = · x2   2 2 2 2 2 2 Produto de potências de bases iguais: mantém-se a base e adicionam-se os expoentes.

1

Observe que foram multiplicados os coeficientes 1 e 2 desses monômios e foram multiplicadas as partes literais x e x. Veja outros exemplos, nos quais calculamos os produtos de monômios. • 3 · t2 · 5 · t2 = (3 · 5) · t2 · t2 = 15 · t2+2 = 15 · t4 Produto de potências de bases iguais: mantém-se base e adicionam-se os expoentes

• 4 · r 2 · 2 · r 2 · 3 · r 3 = (4 · 2 · 3) · r 2 · r 2 · r 3 = 24 · r 2+2+3 = 24 · r 7

O produto de dois ou mais monômios é o monômio com: • coeficiente igual ao produto dos coeficientes desses monômios; • parte literal igual ao produto das partes literais desses monômios.

DIVISÃO DE MONÔMIOS O depósito de uma empresa é utilizado para estocar caixas cúbicas de embalagem de um produto para informática, formando pilhas de caixas. As caixas são colocadas em camadas. Cada camada tem o mesmo número de caixas na largura e no comprimento. Se você denominar o número de caixas da largura e do comprimento por n, então cada camada de caixas terá n · n = n2 caixas por camada. 9o ano

393


Em determinado dia, o número de caixas estocadas no depósito era de 5 · n3 caixas. Qual era a altura da pilha nesse dia? Podemos identificar a quantidade de caixas na pilha como o volume da pilha, considerando cada caixa como unidade de volume. Logo:

altura da pilha de caixas

n de caixas de largura n de caixas de comprimento

volume da pilha = número de caixas na pilha = 5 · n3

Mas o volume dessa pilha pode ser calculado pela fórmula: volume da pilha = comprimento · largura · altura = n · n · altura = n2 · altura = 5 · n3

Portanto: 5 ⋅ n3 5 ⋅ n ⋅ n ⋅ n = 5 ⋅ n caixas = altura = n2 n⋅n

O valor da altura da pilha foi obtido pela divisão entre dois monômios 5 · n3 e n2. O coeficiente do monômio 5 · n, obtido como resultado da divisão dos dois monômios, é o quociente da divisão dos coeficientes daqueles monômios, e sua parte literal é o quociente da divisão das partes literais daqueles monômios. Mas nem sempre a divisão entre dois monômios dá um monômio. Acompanhe o seguinte exemplo. A densidade de um líquido pode ser obtida por meio da seguinte fórmula: densidade de um líquido =

massa do liquido quilogramas por litro (kg/L). volume ocupado pelo liquido

Um líquido está acondicionado em uma caixa em forma de bloco retangular cujas dimensões são: comprimento = largura = a decímetros altura = 2 · largura

394

Matemática


Logo: volume da caixa = a · a · 2 · a = 2 · a3 decímetros cúbicos = 2 · a3 litros.

Considerando que a massa desse líquido seja de a quilogramas, vamos determinar a sua densidade. Introduzindo as informações dadas na fórmula da densidade de um líquido, obtemos: densidade do líquido =

a a 1 1 1 1 = = = ⋅ 2 = 0,5 ⋅ 2 kg/L 3 2 2 2⋅a 2⋅a⋅a 2⋅a 2 a a

1

Como: 2 = a–2, então é possível concluir que a–2 não é um monômio, pois o a expoente da variável a é negativo. O cociente entre dois monômios, com divisor diferente de zero, tem: • coeficiente igual ao cociente entre os coeficientes desses monômios; • parte literal igual ao cociente entre as partes literais desses monômios. Nos cálculos que acabamos de realizar, observamos que as operações aritméticas e suas propriedades podem ser estendidas para efetuar operações com expressões algébricas. Constatamos, também, que expressões algébricas permitem expressar generalizações sobre algumas propriedades das operações aritméticas. APLICAR CONHECIMENTOS II

1. Escreva frases ou textos para explicar o significado de cada um dos termos a seguir. Procure dar

exemplos nas suas explicações. a) variável b) monômio c) coeficiente de um monômio

d) parte literal de um monômio e) monômios semelhantes f) polinômio

Apresente suas explicações para um colega e peça a ele que faça a mesma coisa. Analise as explicações dele e identifique os pontos comuns e divergentes. 2. O que é monômio nulo? 3. Identifique os termos dos seguintes polinômios: a) –n2 – 5 · m

y2

b) x · 2

2

m2

c) 5 – 4 · n2 · m + 2

4. Assinale as expressões algébricas que são binômios e trinômios:

a) 3 · a · x2

b) 2 · b · y – 3 · x2

c) 4 · x + 2 · a · y – 2 · a · x2 d) n3 + 2 · m · n2 + m2 · n + m3

5. No exercício anterior há uma expressão algébrica que não é monômio, binômio ou trinômio.

Identifique essa expressão e pesquise o nome que se dá a ela.

9o ano

395


CÁLCULOS ARITMÉTICOS E EXPRESSÕES ALGÉBRICAS Observe, nas situações a seguir, a utilização de cálculos aritméticos e de expressões algébricas para determinar perímetros, áreas e volumes. 2

2

2

a

4 perímetro = (2 + 4) · 2 = 2 · 2 + 4 · 2

b perímetro = 2 · (a + b) = 2 · a + 2 · b

3

n

m área = m · n

6 área = 6 · 3

3·a

5

5

3·a

5 volume = 5 · 5 · 5 = 53

3·a volume = (3 · a) · (3 · a) · (3 · a) = (3 · 3 · 3) · (a · a · a) = 27 · a3

Analisando as situações estudadas neste capítulo, pode-se notar que as expressões algébricas não têm o objetivo de encontrar apenas uma resposta numérica para os problemas. Elas expressam o que é genérico, ou seja, aquilo que vale para diferentes valores numéricos, independentemente de quais sejam esses valores, e de acordo com as restrições de cada caso. APLICAR CONHECIMENTOS III

1. Utilize uma expressão algébrica para representar a área da figura abaixo.

7

x

x

x

2

2. Desenhe uma figura: a) cujo perímetro seja representado pela expressão: 2 · a + 5 · b + 7 · c; b) cuja área seja representada pela expressão: (x + 3) · (x + 3); c) cujo volume seja representado pela expressão: 2 · a · 3 · a · 5 · a. 3.Uma praça de forma retangular terá seu comprimento ampliado em 5 m. Indique por meio de ex-

pressões algébricas qual será o perímetro e a área da praça após a ampliação.

396

Matemática


EXERCITANDO MAIS

1. Nesta figura há um feixe de retas paralelas cortadas por duas transversais. Calcule o valor de x. r s a x

6

b 12

9

c

2. Observe, na figura, um feixe de retas paralelas cortadas por duas transversais. Calcule o valor de y.

6 2 8 12

3

y

3. Observe a figura e descreva uma relação de proporcionalidade entre os segmentos determinados

sobre as retas paralelas. r

A B C

s

D m

E n

F o

4. Traduza para uma linguagem algébrica as expressões a seguir. a) O dobro da soma de a e b: b) O quadrado da soma de a e b: c) A soma de a com o quadrado de b: d) O quadrado de a adicionado ao dobro de b: 5. Escreva, para cada caso, um exemplo de monômio que tenha: a) parte literal igual a a2: b) coeficiente igual a 2,5:

9o ano

397


6. Usando monômios, represente o que é pedido para cada figura. As letras representam a metade

das medidas de cada lado nas figuras. Figura 1: determine o perímetro do triângulo equilátero. a

b

Figura 2: determine a área do hexágono.

c b

Figura 1

Figura 2

Figura 3

Figura 3: determine a medida do lado do quadrado. 7. Calcule o perímetro das figuras, sabendo

que AB = BC = CD = DE = EF = FG =

x 2

A

.

B C

D E

3·x

F

5·x

2·x H

G

8. Se A = 2 · x , B = x , C = 3 · x e D = 6 · x , então determine: a) A + B e) (A + B) – C 2

2

2

2

b) A – B

f) D – (A – B) + C

c) (A – B) + (C – B)

g) C – B

d) A + C

h) D – (C + B)

9. Escreva as expressões algébricas que traduzem a área de cada figura a seguir. 3

a)

x x

3∙x

b)

x2

3 x

c)

x

6 x

5

398

Matemática

6·x


10. Considere uma caixa em forma de bloco retangular com as medidas indicadas abaixo e escreva a

expressão algébrica que traduz o volume desta caixa:

2·x

x 3·x

11. Complete as igualdades a seguir, atribuindo ao símbolo

um monômio, de modo que as

sentenças sejam verdadeiras: a)

· 3 · x2 = 9 · x4

b)

÷ 2 · x = x2

c)

1 2

·x·

d) 36 · x2 ÷

= 4 · x2 =6·x

9o ano

399


Capítulo

3

Matemática nas finanças Richard Drew/Associated Press/AE

M AT E M ÁT I C A

Operadores trabalham no pregão da Bolsa de Valores de Nova York, nos Estados Unidos, 2011.

Trabalhamos com matemática financeira quando aplicamos alguns conceitos matemáticos para resolver problemas relacionados com empréstimos, aplicações em cadernetas de poupança, financiamentos de automóveis, casas, apartamentos, pagamentos de dívidas, taxa de juros, regimes de capitalização, entre outros. Com as noções abordadas neste capítulo não se pretende que você seja um especialista em finanças, mas espera-se que você possa analisar e comparar algumas situações envolvendo aplicações financeiras e entender o funcionamento simplificado de uma caderneta de poupança.

NOÇÕES DE MATEMÁTICA FINANCEIRA No dia 1o de julho de 2013, em um momento de dificuldade, Carlos pediu um empréstimo no valor de R$ 1 000,00 a seu amigo José. Ele combinou que pagaria essa dívida no dia 1o de agosto do mesmo ano, da seguinte forma: • os R$ 1 000,00 do empréstimo; • mais R$ 15,00, para compensar o dinheiro que José poderia conseguir se tivesse aplicado essa quantia no mercado financeiro. 400

Matemática


Essa situação contém algumas noções de matemática financeira importantes. Veja: • o valor R$ 1 000,00 pode ser denominado capital; • o total a ser pago no dia 1o de agosto, R$ 1 015,00 pode ser denominado montante; • o tempo decorrido desde o empréstimo até o pagamento (um mês, neste caso) pode ser denominado tempo de aplicação; • o valor R$ 15,00 é o juro pago pelo empréstimo (uma espécie de prêmio, preço pelo custo do dinheiro no mercado financeiro). De uma forma simplificada, capital pode ser entendido como uma determinada quantidade de unidades monetárias (dinheiro) ou de algo que pode ser convertido em dinheiro. Os juros do capital podem ser entendidos como a quantidade de unidades monetárias que deve ser paga pelo seu uso temporário. Os juros são um prêmio em dinheiro que o emprestador recebe, além da parte integral do capital cedido. O montante do capital é a quantidade de unidades monetárias obtidas pela adição do capital aos juros, num certo intervalo de tempo, que é o tempo de aplicação. Se calcularmos a razão (cociente) entre o juro pago e o capital emprestado, teremos a taxa de juros referente ao período de tempo desse empréstimo. No caso citado: taxa de juros do empréstimo =

15 = 0,015 = 1,5% ao mês 1000

O esquema a seguir ilustra o negócio financeiro realizado entre Carlos e José. tempo de aplicação 1 /7/2013

1o/8/2013

1 000 capital

1 015 montante

o

tempo (mês)

Ilustração digital: Estúdio Pingado

Veja outro exemplo. Em 23 de dezembro uma família aproveitou a promoção a seguir, oferecida por uma loja de departamentos, e realizou uma compra no valor de R$ 400,00. A dívida da família foi paga dois meses depois no valor de R$ 428,00. Qual foi a taxa de juro que a loja praticou nesse período? Para uma resolução do problema proposto, podemos calcular quantas vezes R$ 428,00 cabe em R$ 400,00: 9o ano

401


razão entre o valor pago e a dívida =

R$ 428, 00 = 1,07 R$ 400, 00

ou seja, o valor pago no final de 2 meses é 1,07 – 1,00 = 0,07 = 7% maior que a dívida da compra feita. Portanto, a taxa de juro do financiamento da família foi de 7% por dois meses.

APLICAR CONHECIMENTOS I

1. Pedi a uma instituição financeira um empréstimo no valor de R$ 5 000,00 no dia 1o de agosto de

2013. Combinei pagar essa dívida no dia 1o de setembro do mesmo ano, da seguinte forma: • os R$ 5 000,00; • mais R$ 750,00 como pagamento pelo empréstimo temporário do dinheiro.

Identifique os valores relacionados nesse empréstimo aos seguintes termos financeiros: a) capital: c) montante b) juro do capital:

d) tempo de aplicação:

Calcule a taxa de juros praticada no período de um mês para esse empréstimo: 2. Um tratamento dentário custou R$ 1 200,00. O dentista que realizou esse tratamento concordou em receber seus honorários um mês após o seu término no valor de R$ 1 300,00. a) Qual foi o valor dos juros desse financiamento? b) Calcule a taxa de juros desse período de tempo.

3. Roberto comprou uma calça que custou R$ 120,00 para ser paga em 2 meses. O juro cobrado pela

loja nesse período de 2 meses foi de R$ 60,00. Calcule a taxa de juros que foi praticada pela loja nesse período de tempo.

JUROS SIMPLES José recorre a Carlos quando tem dúvidas sobre como aplicar o seu dinheiro. Em uma conversa sobre esse tema, Carlos pediu que José imaginasse que ele queria fazer uma aplicação financeira colocando R$ 100 000,00 em uma conta bancária que rende 0,5% de juro ao mês. 402

Matemática


Imagine que esse rendimento obedeça às regras a seguir: • Um mês depois que José fizer o depósito inicial de R$ 100 000,00, o banco irá depositar na conta dele 0,5% de R$ 100 000,00. • Com esse depósito, o saldo de José passará a ser: fator comum

fator comum em evidência

saldo (após 1 mês) = 100 000 + 0,5% × 100 000 = 100 000 × (1 + 0,5%) = = 100 000 × (1 + 0,005) = 100 000 × 1,005 = 100 500 reais • Passado o segundo mês do depósito inicial do José, o banco deposita-

rá na conta dele, novamente, 0,5% de R$ 100 000,00. Com esse novo depósito, o saldo do José passará a ser:

saldo (após 2 meses) = saldo (após 1 mês) + 0,5% × 100 000 = fator comum

= 100 000 × (1 + 0,5%) + 0,5% × 100 000 = fator comum em evidência

= 100 000 × (1 + 0,5% + 0,5%) = 100 000 × (1 + 2 × 0,5%) = = 100 000 × (1 + 2 × 0,005) = 100 000 × (1 + 0,010) = = 100 000 × 1,010 = 101 000 reais • Passado o terceiro mês do depósito inicial do José, o banco depositará na conta dele, novamente, 0,5% de R$ 100 000,00. Com esse novo depósito, o saldo do José passará a ser: Saldo (após 3 meses) = saldo (após 2 meses) + 0,5% × 100 000 = = 100 000 × (1 + 2 × 0,5%) + 0,5% × 100 000 = = 100 000 × (1 + 2 × 0,5% + 0,5%) = 100 000 × (1 + 3 × 0,5%) = = 100 000 × (1 + 3 × 0,005) = 100 000 × (1 + 0,015) = = 100 000 × 1,015 = 101 500 reais e assim por diante. Depois de explicar esses cálculos, Carlos pergunta a José: — Como você faria para calcular o seu saldo um ano após o depósito inicial de R$ 100 000,00? — Se eu continuar a calcular os saldos da minha conta mês a mês, então, depois de uma boa dose de trabalho, eu chegarei ao valor pedido. É, são mais nove cálculos parecidos com os três primeiros! Veja como é possível chegar a um resultado, economizando tempo, cálculos e energia. Com base nos três cálculos anteriores, é possível concluir que: • no final do primeiro mês, o banco depositará na conta de José R$ 500,00, que representam 0,5% de R$ 100 000,00; • no final do segundo mês, o banco depositará mais R$ 500,00, ou seja, após dois meses o banco terá depositado 2 × 500 reais na conta dele; • no final do terceiro mês, o banco depositará mais R$ 500,00, ou seja, após três meses o banco terá depositado 3 × 500 reais na conta dele, e assim por diante. 9o ano

403


Isso quer dizer que, no final de um ano (12 meses), o banco irá depositar na conta dele 12 × 500 reais, ou seja 12 × 0,5% × 100 000. Logo: saldo (após 1 ano) = saldo (após 12 meses) = 100 000 + 12 × 0,5% × 100 000 = = 100 000 × (1 + 12 × 0,5%) = 100 000 × (1 + 12 × 0,005) = 100 000 × (1 + 0,06) = = 100 000 × 1,06 = 106 000 reais Como é possível perceber, essa forma de pensar resolve o desafio de maneira eficiente. Como calcular, então, o saldo de José dois anos após o depósito inicial de R$100 000,00? saldo (após 2 anos) = saldo (após 24 meses) = 100 000 + 24 × 0,5% × 100 000 = = 100 000 × (1 + 24 × 0,5%) = 100 000 × (1 + 0,12) = 112 000 reais As regras que acabaram de ser usadas têm o nome regime de capitalização sob juros simples, ou simplesmente juros simples. APLICAR CONHECIMENTOS II

1. Uma instituição financeira paga as aplicações de seus investidores a uma taxa de juros simples de

0,6% ao mês. Qual será o valor final de uma aplicação de R$ 20 000,00 por um semestre? 2. Antônio comprou um fogão que custou R$ 530,00 e que foi financiado em 2 meses. O valor

do juro cobrado pela financeira nesses 2 meses foi de R$ 106,00. Supondo que o financiamento foi feito sob o regime de juros simples, calcule a taxa mensal de juro que foi aplicada pela financeira. 3. Ricardo resolveu fazer uma aplicação financeira colocando R$ 150 000,00 em uma conta bancária

que rende 0,5% de juros simples ao mês, a partir do dia 2 de janeiro de 2013. Ele pretende deixar esse dinheiro rendendo durante dois anos até o dia 2 de janeiro de 2015, quando pretende sacar seu investimento para comprar, com pagamento à vista, um apartamento que custa R$ 170 000,00. Imaginando que o preço desse apartamento permaneça o mesmo durante o tempo de aplicação, essa aplicação permitirá que Roberto compre aquele apartamento sem ter que investir nenhuma quantia a mais?

UMA GENERALIZAÇÃO DO REGIME DE CAPITALIZAÇÃO SOB JUROS SIMPLES Com base no que foi observado nos exemplos anteriores, pode-se construir uma generalização do regime de capitalização sob juros simples e aplicá-la em outras situações que envolverem o cálculo de juros simples, considerando as informações específicas de cada situação. Primeira generalização: cálculo do montante alguns meses após o dia 2/1/2013. Se representarmos por uma variável (uma letra) o número de meses de aplicação e repetirmos os procedimentos vistos, então estaremos fazendo uma primeira generalização deste tipo de aplicação. 404

Matemática


Por exemplo, vamos representar o número de meses de aplicação pela letra n. Assim: saldo (após n meses) = 100 000 × (1 + n × 0,5%) = 100 000 × (1 + n × 0,005)

Após a primeira generalização, José quis saber o que aconteceria se o valor da aplicação mudasse. Segunda generalização: cálculo do montante a partir de uma outra aplicação, após o dia 2/1/2013. Carlos explicou: — Nesse caso, basta utilizar outra variável para representar qualquer valor inicial de aplicação. Por exemplo, vamos representar a aplicação inicial pela letra C. Assim: saldo (após n meses) = C × (1 + n × 0,5%) = C × (1 + n × 0,005)

Terceira generalização: cálculo do montante com outra taxa de juro, após o dia 2/1/2013. Carlos explicou a José que também é possível generalizar a representação da taxa de juros. Se representarmos a taxa de juros pela letra i na sua forma decimal (unitária), iremos obter a generalização final. saldo (após n meses) = C × [1 + n × (i × 100)%] = C × (1 + n × i)

Porém, Carlos explicou para José que essa regra não é comumente usada por instituições bancárias ou financeiras. Em geral, se você pedir um empréstimo, ou fizer uma aplicação no sistema financeiro brasileiro, o regime utilizado não é o de juros simples. Para empréstimos ou aplicações de dinheiro em cadernetas de poupança, o regime de capitalização costuma ser o regime de juros compostos, como veremos adiante. Vejamos antes outro exemplo de aplicação do regime de juros simples. Janete pediu um empréstimo de R$ 26 000,00 em uma instituição financeira para comprar um carro. Esse empréstimo será pago no final de 10 meses em uma única parcela, a uma taxa de juro simples de 1,5% ao mês. Vamos calcular o valor final do carro de Janete usando a última generalização feita: • o valor do capital C a ser financiado é de R$ 26 000,00; • o período de tempo n do financiamento é de 10 meses; • a taxa de juro simples i é de 1,5% ao mês. Logo, utilizando a fórmula obtida na terceira generalização, temos:

9o ano

405


preço final (após 10 meses) = 26 000 × [1 + 10 × 1,5%] = 26 000 × 1,15 = 29 900 reais

O preço final do carro de Janete será R$ 29 900,00. APLICAR CONHECIMENTOS III

• Pedro emprestou a uma pessoa R$ 3 000,00 para serem pagos no final de 9 meses a uma taxa

de juro simples de 1% ao mês. Quanto Pedro recebeu de juro simples no final desse período?

UMA POUPANÇA SOB JUROS SIMPLES João resolveu fazer uma aplicação financeira, sob a forma de poupança, numa instituição que paga a sua aplicação a uma taxa de juros simples de 0,5% ao mês. A aplicação inicial foi de R$ 200,00 em 1o de junho. Acompanhe o que ocorreu. Data

Tempo (em meses)

0,5% sobre 200,00

Saldo anterior + juros

Depósito mensal

(Saldo anterior + juros) + depósito

Saldo da aplicação

1o/6

0

200

200

200

No dia 1o de julho, João depositou mais R$ 200,00. Veja como ficaram essas novas informações na tabela seguinte. Data

Tempo (em meses)

0,5% sobre 200,00

Saldo anterior + juros

Depósito mensal

1o/6

0

200

200

200

1 /7

1

1,00

200 + 1

200

(200 + 1) + 200

401

(Saldo anterior + juros) + depósito

Saldo da aplicação

o

(Saldo anterior + juros) + depósito

Saldo da aplicação

No dia 1o de agosto, João depositou mais R$ 200,00. Data

Tempo (em meses)

0,5% sobre 200,00

Saldo anterior + juros

Depósito mensal

1o/6

0

200

1 /7

1

1,00

200 + 1

200

(200 + 1) + 200

401

1o/8

2

1,00

401 + 1 + 1

200

(401 + 1 + 1) + 200

603

o

200

200

No dia 1o de setembro, João depositou mais R$ 200,00. Data

Tempo (em meses)

0,5% sobre 200,00

Saldo anterior + juros

Depósito mensal

1o/6

0

200

200

200

1 /7

1

1,00

200 + 1

200

(200 + 1) + 200

401

1 /8

2

1,00

401 + 1 + 1

200

(401 + 1 + 1) + 200

603

1 /9

3

1,00

603 + 1 + 1 + 1

200

(603 + 1 + 1 + 1) + 200

806

o

o o

(Saldo anterior + juros) + depósito

Saldo da aplicação

Nos três meses subsequentes, João continuou depositando mais R$ 200,00 a cada mês, naquela mesma poupança.

406

Matemática


APLICAR CONHECIMENTOS IV

1. Complete a tabela a seguinte com os valores dos diversos saldos mensais da aplicação do João nos

meses que se seguiram (sugere-se usar uma calculadora): Data

Tempo (em meses)

0,5% sobre 200,00

Saldo anterior + juros

Depósito mensal

(Saldo anterior + juros) + depósito

Saldo da aplicação

1o/6

0

200

200

200

1o/7

1

1,00

200 + 1

200

(200 + 1) + 200

401

1o/8

2

1,00

401 + 1 + 1

200

(401 + 1 + 1) + 200

603

1o/9

3

1,00

603 + 1 + 1 + 1

200

(603 + 1 + 1 + 1) + 200

806

1o/10

4

1o/11

5

1o/12

6

2. Veja a seguir outra formatação de poupança, em que o valor depositado mensalmente é de R$ 250,00,

a taxa mensal de juro simples é de 0,6% e o tempo de formação da poupança é de 8 meses. Complete essa tabela com os valores referentes aos meses de junho a setembro (sugere-se usar uma calculadora). Data

Tempo (em meses)

0,6% sobre 250,00

Saldo anterior + juros

Depósito mensal

(Saldo anterior + juros) + depósito

Saldo da aplicação

1o/2

0

250

250

250

1o/3

1

1,50

250 + 1,50

250

(250 + 1,50) + 250

501,50

1o/4

2

1,50

501,50 + 1,50 + 1,50

250

(501,50 + 1,50 + 1,50) + 250

754,50

1o/5

3

1,50

754,50 + 1,50 + 1,50 + 1,50

250

(754,50 + 1,50 + 1,50 + 1,50) + 250

1 009,00

1o/6

4

1o/7

5

1o/8

6

1o/9

7

9o ano

407


JUROS COMPOSTOS Se você já conhece o funcionamento das cadernetas de poupança, então faça uma avaliação de seus conhecimentos, acompanhando as propostas seguintes. Se não conhece, então tente acompanhá-las. Em primeiro lugar, veja os valores das taxas porcentuais diárias nos dez primeiros dias de rendimento das cadernetas de poupança referentes ao ano de 2011, de julho a dezembro. Rendimento de caderneta de poupança (em %) Dia

Julho

Agosto

Setembro

Outubro

Novembro

Dezembro

1

0,612

0,6235

0,7086

0,6008

0,5623

0,5648

2

0,6229

0,6373

0,6862

0,5931

0,5941

0,5629

3

0,6027

0,672

0,7132

0,5663

0,5959

0,6032

4

0,5739

0,7128

0,634

0,6004

0,614

0,5532

5

0,6084

0,6715

0,6504

0,6323

0,5919

0,5315

6

0,639

0,6881

0,6505

0,6258

0,5849

0,5626

7

0,6208

0,6716

0,676

0,609

0,5421

0,5938

8

0,5966

0,6301

0,6762

0,6244

0,537

0,5924

9

0,6084

0,6388

0,6664

0,6155

0,569

0,595

10

0,6074

0,6736

0,6768

0,587

0,6065

0,588

Fonte: Banco Central do Brasil. Disponível em: <www.bcb.gov.br>. Acesso em 15 out. 2012.

Imagine que uma pessoa tenha aberto uma caderneta de poupança no dia 2 de julho de 2011 com um depósito de R$ 2 500,00. No dia 2 de agosto de 2011, a taxa de rendimento das cadernetas de poupança foi de 0,6373%. (Veja esse índice na coluna “agosto” e linha “2”.) O saldo dessa pessoa, naquele dia, seria: saldo (em 2/8/2011) = saldo (em 2/7/2011) + 0,6373% do saldo (em 2/7/2011) = = 2 500 + 0,6373% de 2 500 = 2 500 + 0,6373% × 2 500 = = 2 500 × (1 + 0,6373%) = 2 500 × (1 + 0,006373) = = 2 500 × 1,006373 = 2 515,933 reais. No dia 2 de setembro de 2011, a taxa de rendimento das cadernetas de poupança foi de 0,6862%. (Veja esse índice na coluna “setembro” e linha “2”.) 408

Matemática


O saldo, naquele dia, seria: saldo (em 2/9/2011) = saldo (em 2/8/2011) + 0,6862% do saldo (em 2/8/2011) = = 2 515,933 + 0,6862% de 2 515,933 = 2 515,933 + 0,6862% × 2 515,933 = = 2 515,933 × (1 + 0,6862%) = 2 515,933 × (1 + 0,006862) = = 2 515,933 × 1,006862 2 533,197 reais. Como você pode perceber, o regime de capitalização utilizado nas cadernetas de poupança não é o regime de capitalização simples. A diferença entre o regime de capitalização simples e o regime de capitalização utilizado nas cadernetas de poupança é que o rendimento da aplicação nas cadernetas de poupança é calculado sobre o saldo do dia e não sobre o capital inicial (exceto no final do primeiro mês, quando os dois regimes coincidem). Esse regime é chamado regime de capitalização composta, ou simplesmente juros compostos.

APLICAR CONHECIMENTOS V

1. Complete a tabela seguinte utilizando o regime de capitalização composta (use uma calculadora

e faça um arredondamento com duas casas decimais): Dia

Saldo do mês anterior

Rendimento (%) do dia sobre o saldo do dia

Saldo (montante)

2/7/2011

0

0,6229

2 500,00

2/8/2011

2 500,00

0,6373

2 515,93

2/9/2011

2 515,93

0,6862

2 533,19

2/10/2011

2 533,19

0,5931

2/11/2011

0,5941

2/12/2011

0,5629

2/1/2012

0,5604

9o ano

409


2. Complete a tabela seguinte utilizando o regime de capitalização simples (use uma calculadora e

faça um arredondamento com duas casas decimais):

Dia

Saldo do mês anterior

Rendimento (%) do dia sobre o capital inicial

Saldo (montante)

2/7/2011

0

0,6229

2 500,00

2/8/2011

2 500,00

0,6373

2 515,93

2/9/2011

2 515,93

0,6862

2 533,09

2/10/2011

2 533,09

0,5931

2/11/2011

0,5941

2/12/2011

0,5629

2/1/2012

0,5604

3. Compare os valores dos saldos de cada dia sob os dois regimes de capitalização dos exercícios

anteriores. Se você quiser fazer uma aplicação em caderneta de poupança, então qual regime de capitalização escolheria? Justifique sua resposta.

EXERCITANDO MAIS

1. Rosa tem uma dívida de R$ 1 000,00 que deve ser paga em 3 meses, com taxa de juro de 8% ao

mês, em regime de juros simples. Quanto ela pagará de juros? 2. Pedro aplicou um capital de R$ 5 000,00 à taxa de juro simples de 20% ao ano durante 4 anos. Que

quantia de juro simples ele recebeu referente a esse período? 3. As demissões de trabalhadores podem ser feitas por justa causa (quando o empregado desrespei-

ta alguma lei trabalhista), e sem justa causa (quando ele não desrespeita essas leis). No caso de demissão sem justa causa, o empregador costuma fazer um tipo de acordo, pagando ao empregado certa quantia como compensação pela demissão. Imagine que uma trabalhadora tenha sido demitida de uma empresa sem justa causa e, por isso, tenha recebido a quantia de R$ 2 500,00, firmada no acordo de sua demissão. Para que o seu dinheiro não perdesse o valor muito rapidamente, ela resolveu aplicá-lo em uma instituição 410

Matemática


financeira que paga a aplicação feita pela trabalhadora a uma taxa de juro de 0,5% ao mês, usando o regime de capitalização simples (juros simples). Complete a tabela a seguir com os valores do saldo dessa trabalhadora (sugere-se usar uma calculadora). Tempo

0,5% sobre 2 500 Saldo (montante)

2 500,00

1 mês

12,50

2 512,50

2 meses

12,50

3 meses

12,50

6 meses

12,50

9 meses

12,50

1 ano

12,50

1,5 ano

12,50

1,75 ano

12,50

1,9 ano

12,50

0

9o ano

411


Capítulo

4

Uma leitura do mundo por meio de tabelas e gráficos Smilla/Dreamstime.com

M AT E M ÁT I C A

Podemos nos deparar com gráficos e tabelas em diversas situações do nosso cotidiano, como em uma reunião de trabalho.

Ler e interpretar informações apresentadas em gráficos e tabelas são habilidades importantes, que possibilitam às pessoas analisar temas e problemas que afetam a vida de todos. Por isso, a leitura e a interpretação de números, organizados em gráficos e tabelas, bem como a construção desses recursos, usados na estatística, serão abordados neste capítulo. Nos meios de comunicação e, em especial, nos jornais e revistas impressos e telejornais, uma variedade de informações numéricas é expressa por meio de tabelas, gráficos e porcentagens. É comum utilizar gráficos ou tabelas para expressar resultados de pesquisas que envolvem a totalidade ou parte da população de um país ou de um determinado grupo social. 412

Matemática


Para ler e interpretar essas informações, é preciso saber como elas são organizadas e apresentadas, o que significam e a que se relacionam. É importante, por exemplo, identificar o tema ou assunto a que essas informações se referem e saber como podem ser dispostas num gráfico ou numa tabela. RODA DE CONVERSA

Ilustração digital: Planeta Terra Design

Qual é o tema ou assunto a que se referem os dois gráficos a seguir? Você saberia dizer de que tipo são esses gráficos? Reúna-se com seus colegas e contem uns aos outros sobre suas experiências com gráficos e tabelas: se já precisaram criar um gráfico ou pesquisar informações em um.

80 353 724

Região Norte

População em 2000

Região Nordeste

Região Sudeste

14 050 340

11 636 728

27 384 815

População em 2010

25 107 616

72 412 411

53 078 137

15 865 678

12 900 704

47 741 711

População brasileira por região

Região Sul

Região Centro-Oeste

Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2010.

Brasil: esperança de vida ao nascer – ambos os sexos – 1980/2009 Anos de referência

Esperança de vida ao nascer – ambos os sexos

Anos

Meses

Dias

1980

62,57

62

6

25

1991

66,93

66

11

5

2000

70,46

70

5

16

2001

70,75

70

9

-

2002

71,04

71

-

14

2003

71,35

71

4

6

2004

71,66

71

7

28

2005

71,95

71

11

12

2006

72,28

72

3

11

2007

72,57

72

6

25

2008

72,86

72

10

10

2009

73,17

73

2

1

Disponível em: <www.ibge.gov.br>. Acesso em: 16 out. 2012.

9o ano

413


LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE INFORMAÇÕES ESTATÍSTICAS

Alexandre Tokitaka/Pulsar Imagens

Como já foi mencionado, gráficos ou tabelas são geralmente usados para expressar resultados de pesquisas que envolvem a população de um país, de um determinado grupo social ou, ainda, de partes dessa população ou desse grupo. Pode-se afirmar que a coleta de dados e a criação de gráficos e tabelas são atividades que fazem parte de um campo de estudo científico chamado estatística. Um exemplo é um censo demográfico, utilizado para traçar um perfil de grupos ou populações, ou para mostrar indicadores como as taxas de mortalidade infantil e de desemprego da população economicamente ativa, entre outros.

Travessia de pedestres na Avenida Paulista, em São Paulo (SP), 2010. A diversidade da população brasileira pode ser percebida facilmente em diversas cenas cotidianas. O censo demográfico, porém, nos traz dados mais precisos que nos permitem pensar sobre as características dessa população.

Observe a tabela a seguir para analisar como foi o aumento da população brasileira nas décadas de 1980, 1990, 2000 e 2010. População total do Brasil: 1980/2010 (número de habitantes) Ano

1980

1991

1996

2000

2010

População total

119 002 706

146 825 475

157 070 163

169 799 170

190 732 694

Fonte: IBGE, Censo Demográfico 1980, 1991, 2000 e 2010 e Contagem da População 1996.

De 1980 a 2010, a população total brasileira cresceu sempre no mesmo ritmo? Para responder a essa pergunta, pode ser conveniente visualizar melhor esse crescimento por meio de um gráfico. Podemos construir um gráfico de barras ou de colunas utilizando os dados da tabela. Esse tipo de gráfico permite realizar uma comparação entre os dados fornecidos. 414

Matemática


Ilustração digital: Planeta Terra Design

População total do Brasil: 1980/2010 População (milhão de habitantes)

200,00 180,00 160,00 140,00 120,00 100,00 80,00 60,00 40,00 20,00 0,00

1980

1991

1996

2000

2010

Fonte: IBGE, Censo Demográfico 1980, 1991 e 2000 e Contagem da População 1996.

Observe que os anos em que foram feitos os censos e a contagem da população aparecem em um dos eixos. No outro eixo estão representados os números de habitantes obtidos em cada censo. A altura de cada coluna indica o tamanho da população apurada em cada década. Repare no título do gráfico. Trata-se de uma informação importante que resume seu conteúdo: “População total do Brasil: 1980/2010”. Além disso, é importante saber, também, qual é a origem dos dados do gráfico, ou seja, a fonte das informações. Em geral, ela aparece na parte inferior do gráfico. Os dados de uma tabela também podem ser representados por outros tipos de gráfico. A figura a seguir é um gráfico de setores que apresenta as porcentagens correspondentes à área de cada região do território brasileiro. Porcentagem de território por região

Ilustração digital: Planeta Terra Design

6,77% 10,85% 45,25%

18,86% 18,27%

Sul Sudeste Norte Nordeste Centro-Oeste

Fonte: IBGE. Censos Demográficos

Fonte: IBGE: Censo Demográficos, 2012.

9o ano

415


Ilustração digital: Planeta Terra Design

Esse tipo de gráfico possibilita visualizar partes de um todo sob a forma de porcentagem, informando a participação de cada uma delas no total. O círculo inteiro representa a porcentagem total da área do território brasileiro. As diversas regiões em que o círculo foi dividido representam as porcentagens das áreas das cinco regiões desse território. A legenda indica a correspondência entre cada setor do gráfico e cada região do Brasil. Com base no último gráfico de setores, qual região brasileira possui a maior área de seu território? E qual possui a menor área? A figura ao lado é um gráfico Crescimento populacional (1872 a 2010) (milhão de habitantes) de linha que informa como foi o 200,00 aumento da população brasileira 180,00 entre o Censo de 1872 e o de 2010. 160,00 140,00 Utilizamos esse tipo de grá120,00 fico para analisar as variações de 100,00 uma situação ou fenômeno du80,00 rante um período de tempo. 60,00 40,00 Que informações você pode 20,00 obter nesse gráfico de linha?

0,00 1872 1890 1900 1920 1940 1950 1960 1970 1980 1991 2001 2010 Fonte: IBGE, Censos Demográficos, de 1872 a 2010.

APLICAR CONHECIMENTOS I

1. A tabela a seguir apresenta alguns indicadores demográficos brasileiros de 1950 a 2010. Indicadores demográficos Ano

Esperança de vida ao nascer (anos)

Taxa de natalidade (por mil hab.)

Taxa de mortalidade (por mil hab.)

1950

51

44

15,4

1960

55,9

42,1

12,5

1970

59,8

33,7

9,9

1980

63,6

30,8

8,3

1990

67,5

22,6

6,8

2000

71,0

20,7

6,4

2010

73,5

17,5

6,5

Fonte: Anuario estadístico de América Latina y el Caribe – 2010. Disponível em: <http://websie.eclac.cl/anuario_estadistico/anuario_2010/docs/Anuario%20Estadistico_2010.pdf>. Acesso em: 17 set. 2012.

Observações: Esperança de vida ao nascer ou expectativa de vida: duração provável da vida de uma pessoa tomando-se por base os índices de mortalidade da época de seu nascimento. Taxa de natalidade: número de nascimentos em um ano para cada 1 000 habitantes de um lugar. Taxa de mortalidade: número de mortes em um ano para cada 1 000 habitantes de um lugar. 416

Matemática


a) Qual é a fonte desses dados? b) Ao observar os valores indicados na coluna “Esperança de vida ao nascer”, qual é a sua con-

clusão em relação à variação desses valores de 1950 a 2010? c) Analise os dados das outras colunas e escreva o que se pode concluir a respeito das taxas de na-

talidade e de mortalidade no período indicado.

sileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a expectativa de vida das pessoas no Brasil aumentou de 62,8 anos para 73,5 anos, de 1980 a 2010. Analise o gráfico de linhas ao lado e responda às perguntas: a) Quais eram as expectativas de vida dos brasileiros em 1980, em 1990, em 2000 e em 2010?

Expectativa de vida no Brasil – 1980 a 2010 anos de vida

80 77,3 74,3 70,4

70,5

66,0

66,6

66,7

62,8

62,8

70

60

73,7

Ilustração digital: Planeta Terra Design

2. Segundo dados do Instituto Bra-

69,7

59,6

Mulher Homem Ambos os sexos

1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

50 Fonte: IBGE

b) Quais foram as mudanças nas expectativas de vida das mulheres e dos homens no período

que vai de 1980 a 2010?

c) Por que a curva da expectativa de vida de ambos os sexos está entre as curvas da expectativa

de vida das mulhares e dos homens?

d) No período de 1980 a 2010, qual variação de expectativa de vida foi maior: a das mulheres ou

a dos homens? De quanto? Quanto por cento?

9o ano

417


ORGANIZAÇÃO DE DADOS AMOSTRAGEM, COLETA DE DADOS E DISTRIBUIÇÃO DE FREQUÊNCIAS Ao coletar dados sobre as características de pessoas ou de objetos, muitas vezes pode ser difícil e caro observar todo o conjunto, especialmente se o grupo for muito grande. Nesses casos, em vez de examinar todo o grupo, chamado de população ou universo, examina-se uma pequena parte dele, chamada de amostra. Por exemplo, para planejar a produção de vestuário para jovens, os diretores de uma confecção se basearam em uma amostra com 2 000 entrevistas representativa de jovens entre 15 e 24 anos. Essa amostra foi definida por especialistas da fábrica com base num amplo conjunto de informações sobre a população-alvo, alcançando todas as regiões do país. Ela cobre diferentes realidades em termos de localização geográfica, urbanização, níveis socioculturais, econômicos, de escolaridade e do perfil de distribuição étnica e de gênero da população brasileira. No exemplo, a população é o conjunto de jovens com idades entre 15 e 24 anos e a amostra corresponde ao grupo de 2 000 pessoas entrevistadas. Resumindo: para fazer uma pesquisa sobre um determinado tema, define-se qual é a população considerando certas características que se quer pesquisar e, desse conjunto, escolhe-se um conjunto menor (a amostra) com as mesmas características da população para ser investigado. As conclusões e os resultados que forem obtidos na pesquisa dependem significativamente da escolha da amostra. Existem técnicas especiais para selecionar amostras adequadas e que estejam de acordo com os objetivos de uma pesquisa. Elas são denominadas técnicas de amostragem. Em estatística costuma-se organizar os dados agrupando-os em classes ou intervalos e construir tabelas com base neles. Os dados são organizados, em geral, em alguma ordem (crescente ou decrescente) e procede-se à contagem dos entrevistados. Esse procedimento é chamado de tabulação. Essa forma de organizar os dados chama-se distribuição de frequências. Acompanhe a situação seguinte: Numa pesquisa feita por estudantes do Segundo Segmento da Educação de Jovens e Adultos (EJA), foram tabulados os dados sobre as idades dos entrevistados. Observe como esses dados foram registrados: Idade

418

Matemática

No de entrevistados

Idade

No de entrevistados

19

||||| ||

25

||||| ||||| ||||| ||

21

||||

26

||||| |||||

22

||||

27

||||| ||||| ||

23

||||| |

28

||

24

||||| ||||| ||

29

||||| |||


Idade

No de entrevistados

Idade

No de entrevistados

30

||||| |

40

|

32

|||||

42

|

33

|||

45

||

34

||

49

|

37

||

55

||

39

|||

58

|

AlĂŠm da forma apresentada pelos estudantes na tabela, existem outras maneiras de tabular os dados, por exemplo, como a que segue: Idade

No de entrevistados

FrequĂŞncia

Idade

No de entrevistados

FrequĂŞncia

19

7

32

5

21

4

33

3

22

4

34

2

23

6

37

2

24

12

39

3

25

17

40

1

26

10

42

1

27

12

45

2

28

2

49

1

29

8

55

2

30

6

58

1

9o ano

419


18

Ilustração digital: Planeta Terra Design

Uma vez coletados os dados, eles podem ser organizados numa tabela, num gráfico, ou em ambos. Veja a seguir duas distribuições de frequências com base na tabulação feita pelos estudantes, ambas elaboradas em uma planilha eletrônica: 1. Distribuição por idade dos estudantes 17

Número de estudantes

16 14 10

10 8

8

7

5

4 4

4

0

6

6

6

2

12

12

12

3

2 0

2

3

2

0

0

0

1 0 1 0 0

0

2

0 0 0 1

2 0 0 0

0 0

0 0 1

19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 50 51 52 53 54 55 56 57 58 Idade

Fonte: Elaborado pelos autores. Dados fictícios, 2011.

2. Distribuição por classes (faixas) de idade dos estudantes Veja os dados agrupados organizados numa tabela, segundo um critério definido. Faixa ou classe de idade

No de entrevistados por classe

Com idade até 20 anos (idade ≤ 20 anos)

7

Com mais de 20 até 30 anos (20 anos < idade ≤ 30 anos)

81

Com mais de 30 até 40 anos (30 anos < idade ≤ 40 anos)

16

Com mais de 40 anos (idade > 40 anos)

7

Agora, veja o gráfico correspondente de distribuição de frequências por classe (faixa) de idade.

81

80 Número de estudantes

Ilustração digital: Planeta Terra Design

Distribuição absoluta de idades de estudantes por faixa de idade 90 70 60 50 40 30 20 10

16 7

7

0 idade ≤ 20 anos

20 < idade ≤ 30 anos

30 < idade ≤ 40 anos

Faixa de idade

420

Matemática

idade > 40 anos

Fonte: Elaborado pelos autores. Dados fictícios, 2011.


Os resultados por classes foram apresentados por meio de suas frequências absolutas. A frequência absoluta de uma classe de idade consiste no número de entrevistados que têm idades “dentro” daquela faixa. É possível, também, representar as informações daquela tabela sob a forma porcentual, ou sob a forma de frequência relativa. Acompanhe: Faixa ou classe de idade

Frequência absoluta

Frequência relativa

7

7 111

= 6,306306306...%

Com mais de 20 até 30 anos

81

81 111

= 72,972972972...%

Com mais de 30 até 40 anos

16

16 111

= 14,414414414...%

7

7 111

= 6,306306306...%

111

111 111

= 1 = 100%

Com idade até 20 anos

Com mais de 40 anos

Total Fonte: Elaborado pelos autores. Dados fictícios, 2011.

Nesse caso, um gráfico da distribuição de frequências pode ser: Distribuição porcentual de idades de estudantes por faixa de idade

Número de estudantes

80

Ilustração digital: Planeta Terra Design

90 72,97

70 60 50 40 30 20 10

14,41 6,31

6,31

0 idade ≤ 20 anos

20 < idade ≤ 30 anos

30 < idade ≤ 40 anos

Faixa de idade

idade > 40 anos

Fonte: Elaborado pelos autores. Dados fictícios, 2011.

ARREDONDAMENTO Ao trabalhar com frequências, muitas vezes é conveniente trabalhar com dados aproximados obtidos por arredondamento. Acompanhe uma regra para arredondamento para duas casas decimais após a vírgula. Essa regra será usada para a organização das frequências relativas da tabela anterior. 9o ano

421


Para um valor ser arredondado (por exemplo, 6,306306306...%), observe a terceira casa decimal após a vírgula. • Se essa casa é ocupada por um algarismo menor que 5, então se mantêm exatamente as duas primeiras casas decimais. • Se a terceira casa decimal é ocupada pelo algarismo 5 ou por um algarismo maior que 5, então somamos uma unidade ao algarismo da segunda casa decimal (casa dos centésimos). Faixa ou classe de idade Com idade até 20 anos

Frequência absoluta

Frequência relativa

7

6,31%

Com mais de 20 até 30 anos

81

72,97%

Com mais de 30 até 40 anos

16

14,41%

7

6,31%

Com mais de 40 anos Total

111

100%

PARA REFLETIR

Como você faria o arredondamento se a segunda casa decimal após a vírgula fosse ocupada pelo algarismo 9 e a terceira casa fosse ocupada por um algarismo maior que ou igual a 5?

APLICAR CONHECIMENTOS II

1. Em um exame biométrico realizado por um professor de educação física foram anotadas as altu-

Ilustraçã

o digital:

ng Estúdio Pi

ado

ras dos estudantes de uma turma. Essas alturas, em metro, constam da seguinte listagem:

a) Organize esses dados em uma tabela de distribuição de frequências. 422

Matemática


b) Quais medidas de alturas apareceram o maior número de vezes? c) Qual é a frequência absoluta das medidas das alturas que você identificou no item b? d) Qual é a frequência relativa da altura 1,69? 2. Faça uma pesquisa das alturas dos colegas de sua classe. a) Qual é a menor altura? b) Quantos estudantes têm a menor altura? c) Qual é a maior altura? d) Construa uma tabela de distribuição de frequências dessas alturas.

ELABORAÇÃO DE GRÁFICOS GRÁFICO DE BARRAS Vejamos a elaboração de uma representação gráfica de barras tomando como base a pesquisa sobre a idade dos entrevistados feita por estudantes do Segundo Segmento de Educação de Jovens e Adultos, exibida anteriormente. Para isso, vamos utilizar um plano formado por dois eixos perpendiculares. No eixo vertical são dispostas as diversas classes (ou faixas) de idades: • a primeira classe corresponde ao intervalo: idade ≤ 20 anos; • a segunda classe corresponde ao intervalo: 20 anos < idade ≤ 30 anos; • a terceira classe corresponde ao intervalo: 30 anos <idade ≤ 40 anos; • a quarta classe corresponde ao intervalo: idade > 40 anos. No eixo horizontal são representados os números de entrevistados por classe de idade. As barras que dão nome à representação gráfica são representadas por retângulos cujas bases estão “apoiadas” no eixo das classes e cujas alturas representam os números de entrevistados por classe. É necessário que as alturas dos retângulos sejam proporcionais aos correspondentes valores das classes. É importante, também, colocar um título que explique o assunto do gráfico, nomear os eixos e indicar a fonte na qual se basearam as informações. Veja a seguir a representação gráfica de barras das frequências relativas (elaboradas em uma planilha eletrônica):

9o ano

423


Faixa de idade

idade > 40 anos

Ilustração digital: Planeta Terra Design

Distribuição por faixa de idade de turma de EJA 7%

30 anos < idade ≤ 40 anos

16%

20 anos < idade ≤ 30 anos

81%

idade ≤ 20 anos

7% 10%

0

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

Porcentagem do número de estudantes Fonte: Elaborado pelos autores. Dados fictícios, 2012.

GRÁFICO DE SETORES Para construir um gráfico de setores com informações na forma de valores absolutos, ou de porcentagens, usamos um círculo que representa a totalidade do grupo pesquisado, ou seja, 100%. Dividimos 360º, que correspondem ao círculo, proporcionalmente aos valores dados em porcentagem, obtendo as correspondentes medidas dos ângulos centrais. Ângulo central Ângulo central é um ângulo com vértice no centro do círculo e cujos lados passam por dois pontos da sua circunferência.

Veja alguns exemplos:

1 2

100%

1 3

× 100% = 50%

Ângulo central: 180º

60o

1 6

120o

180o

360o

× 100% = 16,66...% Ângulo central: 60º

90o

× 100% = 33,33%

Ângulo central: 120º

45o

1 8

× 100% = 12,5%

Ângulo central: 45º

1 4

72o

1 5

× 100% = 25%

Ângulo central: 90º

Ângulo central: 72º

36o

1 10

× 100% = 10%

Ângulo central: 36º

× 100% = 20%

22,5o

1 16

× 100% = 6,25%

Ângulo central: 22,5º

Acompanhe os cálculos que podem ser feitos para representar os dados da tabela seguinte em um gráfico de setores. 424

Matemática


População total e proporção da população por grandes grupos de idade em 2010

População total

190 732 694

Por grandes grupos de idade

(%)

Valores arredondados (%)

0 a 14 anos

24,20

24

15 a 29 anos

26,02

26

30 a 64 anos

41,91

42

65 anos ou mais

7,87

8

Fonte: IBGE, Censos Demográficos, 2012.

Para representar a porcentagem do grupo cujas idades estão entre 0 e 14 anos, por exemplo, desenhamos um ângulo central cujo setor circular corresponde a 24% do círculo: 24% de 360º = 0,24 × 360º = 86,4°

86°

Esse resultado pode ser obtido em uma calculadora digitando, por exemplo, as seguintes sequências de teclas:

.

2 4 × 3 6 0 =

ou

2 4 × 3 6 0 %

Calculamos as medidas dos ângulos centrais correspondentes às porcentagens relativas aos outros grupos de idade para completar o círculo. Grupo de 15 a 29 anos: 26% de 360º = 0,26 × 360º = 93,6°

94º

Grupo de 30 a 64 anos: 42% de 360º = 0,42 × 360º = 151,2°

151º

9o ano

425


Grupo de 65 anos ou mais:

Proporções da população brasileira por grandes grupos de idade em 2009 8,00 % Ilustração digital: Planeta Terra design

Finalmente, utilizando um transferidor e uma régua, traçamos ângulos centrais marcando aproximadamente os graus desejados. Construímos o gráfico de setores, colocamos um título que explique do que se trata o gráfico, escrevemos uma legenda e indicamos a fonte na qual se basearam as informações.

29º

0 a 14 anos 24,00 %

15 a 29 anos 30 a 64 anos 65 anos ou mais

42,00 % 26,00 %

Fonte: Elaborado pelos autores. Dados fictícios, 2012.

GRÁFICO DE LINHA Acompanhe a seguir a construção de um gráfico de linha. Na tabela seguinte, pode-se observar como tem sido o crescimento da população brasileira desde o Censo de 1970 até o Censo de 2010. População do Brasil: 1970 a 2010 (em milhões de habitantes) Indicador

Unidade

1970

1980

1991

2000

2010

População urbana

habitante

52

80

111

138

191

Fonte: IBGE, Censos Demográficos, 2012.

Para apresentar esses dados em um gráfico de linha, utilizamos um plano (cartesiano) de coordenadas no qual representamos: • em um dos eixos, os anos em que foram realizados os censos; no exemplo, escolhemos a escala 2 cm para cada 10 anos; • no outro eixo, os correspondentes números de habitantes para cada censo. Para estabelecermos uma escala proporcional às informações sobre as populações no eixo correspondente, podemos proceder de duas formas: Primeira forma: • Marcamos nesse eixo o valor máximo da população, 191 milhões de habitantes (correspondente ao Censo de 2010), que irá representar o seu ponto máximo. • O segmento de reta com extremidades na origem do sistema (ponto comum aos dois eixos coordenados) e no seu ponto máximo é dividido proporcionalmente aos demais valores.

426

Matemática

Ilustração digital: Planeta Terra Design

8% de 360º = 0,08 × 360º = 28,8°


População urbana do Brasil: 1970 a 2010 (em milhões de habitantes) População urbana

Ilustração digital: Planeta Terra Design

Segunda forma: • Escolhemos uma escala conveniente que permita, a partir da origem e sobre esse eixo, determinar pontos sucessivos que servirão de base para os demais valores. Em nosso caso, 1 cm representa 10 milhões e 10 cm representam 100 milhões. Assim: • a população 52 milhões foi marcada a 5,2 cm da origem desse eixo; • a população 80 milhões foi marcada a 8,0 cm da origem desse eixo; • a população 111 milhões foi marcada a 11,1 cm da origem desse eixo; • a população 138 milhões foi marcada a 13,8 cm da origem desse eixo; • e a população 191 milhões foi marcada a 19,1 cm da origem desse eixo. Em seguida, marcamos os pontos no plano de coordenadas. Esses pontos são determinados por pares ordenados de valores da seguinte forma: • a partir de um valor de um ano em que foi realizado um censo no eixo correspondente, traçamos uma reta paralela ao outro eixo; • a partir do correspondente número de habitantes daquele ano, traçamos uma reta paralela ao eixo correspondente aos anos dos censos; • o ponto comum dessas duas retas perpendiculares é o ponto do plano que corresponde ao par de informações com o qual se está trabalhando; • procedemos da mesma forma para os demais valores da tabela. Uma vez determinados todos os pontos, basta ligá-los, ordenadamente, com segmentos de reta e teremos um gráfico de linha que representa, aproximadamente, os dados da tabela. Também é conveniente colocar um título que explique do que se trata o gráfico, nomear os eixos e indicar a fonte na qual se basearam as informações.

200 191

150 138

111

100

80

52 50

0

1970

1980

1990 Censo

2000

2010

Fonte: IBGE. Censos demográficos, 2012.

9o ano

427


APLICAR CONHECIMENTOS III

1. a) Faça uma pesquisa sobre o mês

Aniversários

de aniversário dos colegas de sua classe e registre em uma tabela como a apresentado ao lado:

Mês

Frequência absoluta

Frequência relativa

Janeiro

Fevereiro ...

...

b) Faça outra tabela colocando so-

mente os meses em que há aniversariantes, o número de estudantes correspondente a cada mês, a porcentagem de estudantes que aniversariam em cada mês e a medida aproximada do ângulo de cada setor correspondente a cada mês.

...

Aniversários

Mês

No de alunos

Porcentagem (%)

Medida dos ângulos (graus)

c) Construa um gráfico de setores coloridos, consultando as informações da tabela para mostrar

essa distribuição de frequências. Se você usar uma cor para cada setor, então não há necessidade de colocar números no gráfico, basta fazer uma legenda. • Qual é o mês em que ocorrem aniversários com maior frequência? • Qual é a taxa porcentual de aniversários desse mês?

428

Matemática


2. A família Silva, no período de

Consumo de água de março/2012 a fevereiro/2013

março de 2012 a fevereiro de 2013, teve o seguinte consumo de água, em m3.

Faça um gráfico de linha que represente esses dados. O que você pode concluir em relação ao consumo de água da família Silva nesse período?

Mês/ano

m3

Mês/ano

m3

março/2012

10

setembro/2012

6

abril/2012

16

outubro/2012

9

maio/2012

8

novembro/2012

12

junho/2012

9

dezembro/2012

22

julho/2012

9

janeiro/2013

9

agosto/2012

7

fevereiro/2013

17

EXERCITANDO MAIS

1. Elabore um texto sobre seu entendimento a respeito de população e amostra. Depois, comente

por que, em algumas pesquisas, uma amostra é utilizada para representar uma população. 2. O gráfico seguinte mostra o número de matrículas da EJA no Ensino Fundamental no período de

Ilustração digital: Planeta Terra Design

1999 a 2010. Matrículas da EJA no Ensino Fundamental 3 516 225

3 315 887

2 846 104 2 112 214

1999

2003

2006

2010

Fonte: Edudata e Censo Escolar 2010.

a) Faça uma análise do número de matrículas no Ensino Fundamental de estudantes do sistema

EJA no período de 1999 a 2010.

b) De acordo com o gráfico, em qual período de tempo houve o maior crescimento do número

de matrículas no Ensino Fundamental do sistema EJA? Quais foram as variações absoluta e relativa (porcentual) nesse período?

c) De acordo com o gráfico, houve algum período de tempo no qual o número de matrículas no

Ensino Fundamental do sistema EJA diminuiu? Se houve, destaque-o e calcule as variações absoluta e relativa (porcentual) nesse período. 9o ano

429


no gráfico (1999 a 2010) houve crescimento ou redução no número de matrículas no Ensino Fundamental do sistema EJA? Calcule as variações absoluta e relativa (porcentual) nesse período.

e) Compare as variações absoluta

Taxa de analfabetismo das pessoas com 10 anos ou mais, em % 2000

24,6 17,6

15,6

12,8 9

Brasil

2000

10,6

Norte

7,5

Nordeste

Ilustração digital: Planeta Terra Design

d) No período total representado

9,7 5,1

Sudeste

7

6,6

4,7 Sul

Cento-Oeste

e relativa (porcentual) obtidas no item b) com as variações absoluta e relativa obtidas no item d). Quais são suas conclusões sobre esses resultados? Fonte: Censo Escolar 2010.

3. O analfabetismo é, ainda, um dos grandes problemas brasileiros no âmbito da Educação.

O gráfico a seguir destaca os índices de analfabetismo das cinco grandes regiões em que o Brasil foi dividido, nos anos 2000 e 2010. a) Realize uma análise dos índices observados no gráfico. b) Em quais regiões houve maior e menor redução dos índices de analfabetismo? Calcule essas

reduções. c) Houve, em alguma das regiões, um aumento do analfabetismo entre 2000 e 2010? Em caso

afirmativo, qual foi ela, ou quais foram elas?

PARA AMPLIAR SEUS ESTUDOS

Livro

Estatística IMENES, L. M.; JAKUBO, J.; LELLIS, M. Estatística. São Paulo: Atual, 2001. (Coleção Pra que serve matemática?)

430

Matemática


Bibliografia

MATEMÁTICA BRASIL. Ministério da Educação. INEP. Matemática e suas tecnologias: livro do estudante – ensino fundamental. Brasília: MEC/INEP, 2002. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria do Ensino Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: Matemática – 3o e 4o ciclos. Brasília: MEC/SEF, 1998. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria do Ensino Fundamental. Proposta Curricular para a Educação de Jovens e Adultos. 2o Segmento do Ensino Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 2002, v. 3. BRASIL. Ministério da Educação. Instituto de Matemática e Estatística e Ciências da Computação – Unicamp. Geometria experimental. São Paulo: MEC/IMECC/ PREMEN/SE/CENP, 1980. BRASIL. Ministério da Educação. Universidade Federal do Ceará. Centro de Ciências. Departamento de Estatística e Matemática Aplicada. Noções de estatística no ensino de matemática do 1o grau. Rio de Janeiro: MEC/SEPS/PREMEN/ FENAME, 1981. COXFORD, Arthur F.; SHULTE, Albert P. (Orgs.). As ideias da álgebra. São Paulo: Atual, 1995. FUNDAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO. Diário de classe – 5: Matemática. São Paulo: FDE, 1994. IMENES, Luiz Marcio; JAKUBOVIC, José; LELLIS, Marcelo. Álgebra. São Paulo: Atual, 1992. (Coleção Para que serve a Matemática). LINS, Rômulo Campos; GIMENEZ, Joaquim. Perspectivas em aritmética e álgebra para o século XXI. Campinas: Papirus, 1997. MONTENEGRO, Fábio; RIBEIRO, Vera Masagão. Nossa escola pesquisa sua opinião. 2. ed. São Paulo: Global, 2002. MORI, I.; ONAGA, D. S. Matemática: ideias e desafios. São Paulo: Editora Saraiva, 2006. v. 5, 6. SANTOS, Vânia Maria Pereira dos (Org.). Avaliação de aprendizagem e raciocínio em Matemática. Rio de Janeiro: UFRJ – Instituto de Matemática, 1997. SÃO PAULO (Estado). Secretaria da Educação. Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas – CENP. Experiências matemáticas. São Paulo: SE/CENP, 1984.

7º Ano

431


SÃO PAULO (Estado). Secretaria da Educação. Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógica – CENP. Prática pedagógica: Matemática 1o grau. São Paulo: SE/ CENP, 1993. v. 1-4. STRUIK, D. J. História concisa das Matemáticas. Trad. João Cosme Santos Guerreiro. Lisboa: Gradiva, 1992. TINOCO, L. A. A. (Coord.). Razões e proporções. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 1996. UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ. Centro de Ciências. Departamento de Estatísticas e Matemática Aplicada. Noções de estatística no ensino de matemática do 1o grau. Rio de Janeiro: MEC/SEPS/PREMEN/FENAME, 1981.

432

Matemática


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