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Sessenta Anos de História – 1960-2020 (a História da Medicina de Brasília Contada pela Academia – Depoimentos
from ANAIS 2020-2021
by AMeB

SESSENTA ANOS DE HISTÓRIA 1960-2020
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A HISTÓRIA DA MEDICINA DE BRASÍLIA CONTADA PELA ACADEMIA
DEPOIMENTOS

ACAD. TITULAR ANTÔNIO MÁRCIO JUNQUEIRA LISBOA Cadeira 1
Em fins de 1956 chegava a Brasília o primeiro pediatra – Edson de Araújo Porto, convidado para assessorar a construção de um hospital de campanha projetado pelo Instituto de Aposentadoria e Assistência aos Industriais (IAPI), que se responsabilizou também pela prestação dos serviços de assistência à saúde da população. No dia 6 de janeiro de 1957, Edson passou a atender, indiscriminadamente, adultos e crianças, em um barraco anexo à construção do restaurante do Serviço de Alimentação e Previdência Social (SAPS).
Dadas às péssimas condições sanitárias, não demorou muito a aparecer um surto de diarreia epidêmica. Com isso, o estoque de medicamentos de Brasília se esgotou. Edson deslocou-se para Goiânia para tentar adquiri-los, o que não conseguiu, pois lá também estavam em falta. Soube que boa parte deles havia sido adquirida pelo Sr. Victor, empresário do serviço de cozinha do SAPS, que estava por conta própria mandando que fossem colocados no feijão servido à comunidade. Com essa medida insólita, o surto diarreico foi debelado.
Em junho de 1957 foi inaugurado o Hospital Juscelino Kubistschek de Oliveira, o primeiro de Brasília, com a atribuição de prestar assistência médica, cirúrgica e odontológica à população. O Hospital JK possuía um berçário com dez leitos, uma enfermeira de Pediatria com outros vinte e um posto permanente de imunizações onde foram realizadas as primeiras vacinações da população. Edson Porto foi o primeiro diretor de um serviço de Pediatria de Brasília
Em 1960 foi criado o Centro de Estudos Médicos do Hospital JK, onde eram discutidos casos clínicos, inclusive os pediátricos. A Unidade
de Pediatria do Hospital JK contava com os seguintes pediatras: Edson Porto, José Richelieu de Andrade Filho, Luiz Ricarte Serra, Jehovah de Souza e José Scarpelli. Ainda em 1960 foi inaugurado o maior hospital de Brasília – o 1° Hospital Distrital de Brasília (1° HDB). A Unidade de Pediatria entrou em atividade no dia 20 de abril, contando com o concurso de três pediatras: José Flores Alves, Sávio Pereira Lima e Rodolpho de Almeida Prado Costallat. Mais tarde, no mesmo ano, passaram a integrar o corpo clínico da Unidade de Pediatria Roberto Barros de Castro Carvalho, Oscar Mendes Moren e José Ricardo Lemos de Oliveira.
Em 1962 foi criada a residência médica em Pediatria no 1° HDB, sob a coordenação de Oscar Mendes Moren, chefe da Unidade de Pediatria. Os primeiros médicos aceitos para cursá-la foram Geraldo Magela Salvado, Ísis Rocha Corrêa, Maria Ester Faria, Antonieta Maria Torres Bandeira e Marcelo Eduardo Arias (Córdoba, Argentina). Desde então o 1° HDB vem, ininterruptamente, formando pediatras. Moren, falecido em 2018, chefiou a Unidade de Pediatria e coordenou sua residência durante 28 anos, até sua aposentadoria. Muito devem a Moren os pediatras e as crianças de Brasília. O primeiro cirurgião pediátrico de Brasília foi Enneman Pimentel, que organizou o primeiro serviço de Cirurgia Pediátrica do 1° Hospital Distrital de Brasília, hoje Hospital de Base. Em 1964 Enneman também criou a primeira residência em Cirurgia Pediátrica de Brasília.
Minha vinda para Brasília
A partir de 1965, passei a sonhar em ser professor universitário. Amigos e colegas me estimulavam a fazer docência, mas a estrutura rígida, o funcionamento e o ensino nas escolas médicas do Rio daquela época, me certificavam que seria impossível qualquer realização ou mesmo mudança. No dia 6 de janeiro de 1966, dia de meu aniversário, voltava de um congresso em São Lourenço, Minas, com o Cláudio Souza Leite, cirurgião pediátrico. Paramos no restaurante Centenário,
na estrada Rio - São Paulo. Falei-lhe sobre minhas angústias e brinquei, dizendo-lhe que eu iria acabar muito rico e frustrado, por não ter conseguido realizar um dos meus sonhos: ser professor universitário e concretizar minhas concepções de como deveria ser o ensino médico, principalmente o de pediatria. Fiz-lhe ver que no Rio, mesmo que eu lecionasse em qualquer universidade, isso seria impossível.
O convite
Era um sábado do mês de dezembro de 1966. Havia acabado de me mudar para um consultório amplo e luxuoso na Clínica Sorocaba, que congregava um grupo de médicos altamente qualificados, cuja construção havia durado cinco anos e consumido todas as minhas economias. Eu estava em meu consultório quando o Fernando Santos, hematologista, chegou com seu filho para uma consulta. Fernando trabalhava em três hospitais para sobreviver. Disse-me que havia sido convidado para ser professor na Faculdade de Ciências Médicas da Universidade de Brasília, e perguntou a minha opinião. Respondi-lhe que deveria aceitá-lo, imediatamente. O Fernando saiu, voltou daí a uma hora, e perguntou-me: “E você, aceitaria o convite?”.
Disse-lhe que a minha situação não tinha nada a ver com a dele. Naquele momento, eu tinha a segunda clínica pediátrica privada do Rio de Janeiro, em quantidade e qualidade e trabalhava muito; atendia, por dia, de 20 a 25 crianças no consultório, fora visitas domiciliares, atendimentos em salas de partos e em hospitais; e ainda chefiava o Berçário do Hospital dos Servidores do Estado (HSE), àquela época considerado o melhor do Brasil, e que havia sido um dos meus sonhos de recém-formado. Assim, minha situação não podia ser comparada à dele. Mesmo assim, perguntou-me se eu aceitaria um convite. Respondi-lhe que sim, para pensar.
Estava nesse estado de espírito quando, em 11 de janeiro de 1967, fui convidado pelo Professor Agnelo Collet, em nome do Prof. Luiz Carlos Lobo, para organizar as atividades de assistência, ensino e
pesquisa em Pediatria, na recém-criada Faculdade de Ciência Médicas da Universidade de Brasília. Era o meu sonho, e o convite pegou-me em uma fase extremamente vulnerável.
A primeira visita
Preciso confessar que eu detestava Brasília, sem conhecê-la. Acreditava que sua construção havia sido a causa principal do processo inflacionário que assolava o país. Já havia recebido inúmeros convites para visitá-la, todos gentilmente recusados. Eu não gostava de Brasília.
Cheguei aqui no dia 28 de janeiro aqui cheguei para encontrar-me com os Professores José Roberto Ferreira, vice-reitor da Universidade, e Luis Carlos Lobo, diretor da Faculdade. Trouxe comigo minha esposa Therezinha e meu filho mais velho, Antonio Márcio Júnior, para compartilharem da decisão de uma eventual mudança, que, sem dúvida, seria muito traumática. Eu e Therezinha éramos filhos únicos, de pais idosos. Meus pais haviam acabado de comprar um apartamento ao lado do meu, para ficarem próximos a nós e aos netos. Minha clínica, só menor do que a do meu saudoso amigo Rinaldo Delamare, era formada por um grande número de amigos e de mais de duzentos filhos de colegas. Eu ganhava em torno de 10.000 cruzeiros mensais e iriam pagar-me 1.250, em dedicação exclusiva.
Em 1967, o campus estava em construção. A Faculdade estava localizada no Instituto Central de Ciências – o Minhocão. Como o nome indica, era uma construção linear, de quase um quilômetro, inacabada, construída com cimento cru. Aí estavam localizadas a direção e os laboratórios da Faculdade. O “hospital universitário” – o Hospital Rural de Sobradinho – era um barracão de madeira, localizado em Sobradinho, cidade satélite com 30.000 habitantes, a trinta quilômetros de Brasília.
A Faculdade de Ciências Médicas seria estruturada com proposições revolucionárias como “formar um profissional indiferenciado, capaz de atender às necessidades básicas de saúde da população –
promoção, prevenção, recuperação e reabilitação – em diferentes níveis de atenção – primária (domiciliar, postos e centros de saúde), secundária (hospitais comunitários), e terciária (hospitais especializados e maternidades)”. Para que esse objetivo fosse atingido, impunha-se a implantação de um currículo e de metodologias educacionais diferentes dos existentes em outras escolas. Uma das principais inovações era a de acabar com a fragmentação do ensino provocada pela existência de inúmeras disciplinas autossuficientes, que impediam uma visão holística do ser humano.
Era tudo que eu queria: implantar minhas ideias partindo do zero. Além disso, as promessas que me fizeram para que eu viesse trabalhar em Brasília foram tão boas, que meu filho dizia que o Lobo tinha muita força, porque tudo o que eu pedia, eles concordavam em dar-me. Graças a Therezinha, minha esposa, e ao incentivo de meu querido mestre Luiz Torres Barbosa pude concretizar mais este sonho – tornar-me professor universitário. Em 1º de fevereiro, já estava com meus filhos matriculados no colégio Dom Bosco. Voltei para Rio e trabalhei até o dia 1º de março, para pagar minhas dívidas. Havia optado por sair do Hospital dos Servidores do Estado, uma das glórias da medicina brasileira, para trabalhar no velho e decadente Hospital Rural de Sobradinho.
Chegando aqui, fui morar em um apartamento na SQS 313. Fiquei cerca de um ano almoçando e jantando em mesas improvisadas com tábuas e caixotes, com meus livros espalhados pela sala. Os móveis prometidos só chegaram um ano após.
O Ensino na Faculdade de Ciências Médicas
No dia 8 de agosto de 1966 iniciaram-se as aulas na Faculdade de Ciências Médicas da Universidade de Brasília. Comecei minhas atividades dia 15 de março de 1967. Existia um compromisso da escola com a assistência à saúde da população de Sobradinho. Embora os docentes ensinassem e pesquisassem, o bem-estar da comunidade
estava acima de qualquer outro compromisso. Os legítimos interesses do ser humano prevaleciam sobre os dos docentes (pesquisa e ensino), dos discentes, e até mesmo, dos funcionários.
Os alunos participavam não apenas em atividades do hospital universitário como também em unidades qualificadas do sistema de saúde – hospitais comunitários, serviços de urgência, centros e postos de saúde, programas de atendimento domiciliar. Era enfatizada a importância da promoção e proteção da saúde, e da prevenção das doenças. A medicina deixava de ser essencialmente curativa, para ser preventiva. As atividades de ensino eram regionalizadas e hierarquizadas, tal como ocorre com a assistência. No topo da pirâmide, se encontrava o hospital universitário e, daí até a base, unidades de saúde de complexidade decrescente, até chegar aos domicílios.
A integração docente-assistencial permitiu a utilização para o ensino da rede de serviços de saúde. Trabalhar com a comunidade para melhorar suas condições de saúde, e mesmo de desenvolvimento, é uma atividade recomendada. Nos programas de integração docente-assistencial, as atribuições didáticas são conferidas, por delegação ou convênio, às diferentes unidades de saúde, cabendo, à escola médica, a definição dos objetivos educacionais, a supervisão e a avaliação dos alunos. Neste modelo, a escola médica assume um compromisso com a saúde da população, participando das atividades de assistência e formando médicos socialmente necessários e aceitáveis, que respondam às exigências de uma determinada comunidade. O progresso científico tem mostrado que a saúde tem dimensões além da biológica, como a ecológica e a social.
A integração docente-assistencial é fundamental para a formação do médico denominado geral, ou generalista, ou simplesmente médico. Neste modelo, valoriza-se o professor competente, inteiramente dedicado à saúde das pessoas, aos alunos, às atividades de extensão e de pesquisa, que desempenham um papel de liderança na comunidade e participam ativamente de decisões que envolvam o bem-estar coletivo, sejam elas de natureza médica ou não. Os docentes deverão
ser avaliados pelo seu desempenho como cidadãos, como médicos, como professores e como pesquisadores.
A Faculdade de Ciências Médicas da Universidade de Brasília adotou o paradigma holístico e a integração docente-assistencial.
A Unidade Integrada de Saúde de Sobradinho
Em maio do mesmo ano, mudávamos para a Unidade Integrada de Saúde de Sobradinho (UISS), a cem metros do primeiro hospital, que iria sediar a maior experiência pedagógica relacionada com o ensino médico no país. O desafio era formar médicos em um hospital comunitário responsável pela saúde dos habitantes de uma pequena cidade, contando com um corpo docente constituído, em sua maioria, por professores sem titulação universitária, trabalhando em tempo integral e dedicação exclusiva. A mudança para a UISS, que durou cerca de dois meses, foi feita pelos professores e funcionários. Nesse período, para atender os pacientes, tínhamos que correr de um hospital para outro, chafurdando na lama.
Profissionais competentes e com alto grau de comprometimento social foram ali formados e hoje, ocupam posições de destaque no meio médico. Essa experiência pedagógica, vivida intensamente, permitiu-me concluir que para serem formados bons médicos generalistas, capazes de promover, proteger e recuperar a saúde de 80% da população necessita-se, sobretudo, de um corpo docente motivado, dedicado e competente, que goste de ensinar e esteja profundamente comprometido com as necessidades sociais e de saúde da população. • Estágio Rural – Com a finalidade de promover a integração de programas de promoção da saúde e prevenção de doenças com os de recuperação (hospitalares), pela primeira vez no Brasil alunos de uma escola médica foram enviados para estagiar em áreas rurais, urbanas, em centros de saúde. Pioneiro em nosso país, o programa de integração docente-assistencial iniciado em
1968 por nós e pelo grande sanitarista Dr. Átila de Carvalho, na Unidade Sanitária de Planaltina, foi um sucesso. • Objetivos Educacionais – Em 1969, também pela primeira vez no Brasil, foram definidos os objetivos educacionais e as competências a serem alcançadas em cada local de estágio pelos alunos, internos e residentes, registrados em várias publicações, que foram largamente utilizadas como modelo no país e no exterior.
• A Residência – A Comissão de Promoção de Programas de Residência em Pediatria na América Latina, da Academia Americana de Pediatria, indicou como modelo o Programa de Residência da Faculdade de Ciências da Saúde. A Residência de Pediatria na UISS foi considerada a mais completa do Brasil pelo Professor Eduardo Marcondes, presidente do Comitê de Residência em Pediatria da Sociedade Brasileira de Pediatria. A excelência do ensino da Pediatria na Universidade de Brasília pôde ser atestada pelas inúmeras visitas de especialistas nacionais e internacionais.
• Disciplina de Neonatologia – Conseguimos implantar ou modificar algumas atividades assistenciais, assimiladas por um grande número de serviços de pediatria. Em 1967, criamos, pela primeira vez no país, as disciplinas de Neonatologia e Crescimento e Desenvolvimento, hoje existentes em quase todas as escolas médicas.
• Programa Mãe-Acompanhante – Entre outros programas dedicados à humanização da assistência, destacou-se o da mãe acompanhante. Uma das práticas hospitalares era a de permitir a visita dos pais em certos dias da semana ou, na melhor das hipóteses, algumas horas por dia. Esse tipo de prática era capaz de originar problemas emocionais nas crianças, de gravidade variável, conhecidos como hospitalismo psicossocial. Em 1969, resolvemos promover a permanência das mães nas enferma-
rias, para acompanhar seus filhos. Esse programa, chamado de “mãe acompanhante”, “mãe participante”, “internação conjunta mãe-filho”, após uma fase de dificuldades de aceitação, principalmente pelo corpo de enfermagem e pela direção do hospital, foi tão bem sucedido que foi implantado em todos os hospitais de Brasília, passou a ser um programa prioritário da Sociedade Brasileira de Pediatria e foi incluído no Estatuto da Criança e do Adolescente, tornando-se obrigatório. O programa “mãe acompanhante” foi objeto de inúmeras palestras e conferências no Brasil e no exterior.
O Governo Militar
Em Brasília consegui realizar tudo aquilo que eu desejava como professor e médico, ao custo de alguns sofrimentos e decepções.
Em 1975, fui perseguido tenazmente pelo vice-reitor José Carlos de Almeida Azevedo, oficial da Marinha, ligado aos órgãos de repressão, cuja real motivação desconheço até hoje. Pressionou-me e sem meu consentimento, mudou o meu regime de trabalho de dedicação exclusiva para 12 horas, o que significava perder a Chefia do Departamento e da Pediatria, e ter o salário reduzido à quarta parte. Embora avisado por amigos, temerosos de que medidas repressivas mais violentas fossem tomadas, entrei com uma ação trabalhista contra a Universidade de Brasília. Fui convocado para uma sessão na Justiça do Trabalho. Na véspera, à tarde, meu filho, que estudava na Universidade, foi sequestrado. Um claro recado. Poucos dias após, foi-me feita uma proposta: soltar meu filho contra a retirada do processo. Não aceitei. Resolvi sair da Universidade, até que o vice-reitor, depois premiado pelos militares com a reitoria, fosse afastado, o que ocorreu em 1985. Meu filho, denunciado por alguém da Universidade como elemento importante de uma célula comunista, foi preso, torturado e libertado cinquenta dias após, com um pedido formal de desculpas da Policia Federal a ele, a mim e à minha esposa. Na Policia Federal soube do
nome de quem havia solicitado sua prisão – a pessoa de quem eu já suspeitava. Afastei-me na Universidade por nove anos, até a saída do comandante, que havia assumido a Reitoria. Voltei em 1985, por insistência do Reitor Cristovam Buarque. Therezinha foi minha grande companheira, em todo esse sofrimento.
Tendo sido obrigado a me afastar da Universidade de Brasília em função da perseguição que vinha sofrendo, que culminou com a prisão de meu único filho que ali estudava, fui convidado para trabalhar no Ministério da Saúde, onde fiquei cerca de seis meses. Deixei o Ministério por ter aceitado um convite do Secretário de Saúde para ser diretor da Divisão de Seleção e Controle da Fundação Hospitalar, atividade ligada ao ensino, principalmente ao Internato e Residência. Tivemos a oportunidade de produzir vários manuais e ministrar cursos ligados às áreas da saúde.
Esqueci-me de contar-lhes que nessa época, 1977, foi aberto concurso para contratação de médicos. Quiseram convencer-me de que eu poderia ser efetivado em função dos meus títulos. Recusei. Como o concurso seria realizado pela minha Divisão, pedi licença do cargo, inscrevi-me, e fiz o concurso, juntamente com meus ex-alunos, que não deixaram de fazer gozação. Fui aprovado em primeiro lugar, em função dos títulos, e fui efetivado. Em Taguatinga, fui designado para chefiar o berçário. Voltei às mesmas atividades que tinha no Hospital dos Servidores. O Chefe do Serviço de Pediatria era o Luiz Osório Serafim, que havia sido meu residente no Hospital dos Servidores e meu Chefe de Clínica na Universidade de Brasília. Serafim, foi um excelente colega e pediatra. Houve um desentendimento entre ele e o Secretário de Saúde e ele pediu demissão. Foi nomeado outro chefe da Pediatria. Algum tempo após, pediram-me para assumir a chefia.
Em Taguatinga, criamos um programa chamado Internato Rotativo Integrado, que foi elogiado pelo Ministério da Educação. Continuando o trabalho do Serafim, trabalhamos no sentido de melhorar o Banco
de Leite e mostrar sua importância nos cuidados aos recém-nascidos. Em 2014, o Banco de Leite do Hospital de Taguatinga era considerado o mais importante do país.
Ainda na Fundação Hospitalar, fui nomeado Diretor do Centro de Desenvolvimento de Recursos Humanos para a Saúde e, ao final da minha gestão, a pedido do Governador José Aparecido de Oliveira, assumi a direção da Coordenaria de Planejamento da Fundação do Serviço Social (FSS), onde apresentamos um projeto para criação dos Centros Integrados de Desenvolvimento Infantil – CIDI.
As Academias
Academia de Medicina de Brasília
Resolvi fundar a Academia de Medicina de Brasília, com o objetivo de congregar profissionais altamente conceituados em nossa cidade. Com essa finalidade, em outubro de 1989, convidei João da Cruz Carvalho, Elias Tavares Araújo, Laércio Moreira Valença e alguns outros colegas para participar da fundação da Academia – Francisco Pinheiro Rocha, Wilson Sesana, Tito Andrade Figuerôa, Hélcio Luiz Miziara, Manoel Ximenes Neto, Pedro Luiz Tauil, Sérgio da Cunha Camões, Rosely Cerqueira de Oliveira. No dia oito de novembro do mesmo ano foi eleita por aclamação a primeira diretoria – Presidente: Antonio Márcio Junqueira Lisboa; Vice: Francisco Pinheiro Rocha; Secretário: Laércio Valença; 1º Secretário: Manoel Ximenes Neto; 2º Secretário: Rosely Cerqueira Oliveira; Tesoureiro: Elias Tavares de Araújo; Bibliotecário: Pedro Luiz Tauil. Com o passar dos anos, foram aceitos na Academia vários colegas de reconhecida competência profissional. Ocupo a Cadeira número 1 e escolhi para patrono o meu inesquecível mestre Luiz Torres Barbosa.
Academia Nacional de Medicina
Um de meus sonhos era pertencer à Academia Nacional de Medicina, no Rio de Janeiro. Em 1991, recebi a visita dos professores Jorge de Marsillac e Geraldo Halfeld, respectivamente Presidente e Secretário
da Academia Nacional de Medicina respectivamente, que informaram que me fora outorgado o título de Membro Honorário da Academia Nacional de Medicina. Fui o primeiro médico de Brasília a ingressar na Academia Nacional de Medicina, o que muito me envaideceu.
Academia Brasileira de Pediatria
Em 1997 foram escolhidos os membros do Conselho Acadêmico da Sociedade Brasileira de Pediatria, hoje Academia Brasileira de Pediatria, em eleição nacional. Consegui que o Dr. Luiz Torres Barbosa, meu mestre e amigo, fosse o patrono da Cadeira 17, ocupada por mim.
Academia Leopoldinense de Letras e Artes
Eleito, escolhi como patrono o pintor leopoldinense e grande amigo de meu pai, Funchal Garcia. Tomei posse na casa da presidente, Deia Junqueira, minha prima.
Para terminar
Estou com 94 anos, 70 deles praticando a Medicina das Crianças. Tive a felicidade de ter os pais que todas as crianças desejariam ter. Consegui fazer do nosso lar um porto seguro, onde impera o amor, carinho e segurança. Fui casado com duas mulheres maravilhosas. Tivemos cinco filhos, 8 netos e 5 bisnetos, que só nos proporcionaram alegrias. Foram milhares de amigos inesquecíveis. Fui professor durante 30 anos e tive a felicidade de ver meus alunos praticando a medicina, com amor e competência. Escrevi 20 livros; plantei mais de 50 árvores. Só me resta agradecer a Deus pela vida que ele me proporcionou.
ACAD. TITULAR LUIZ AUGUSTO CASULARI ROXO DA MOTA Cadeira 8
Nascido na cidade de São Geraldo, MG, em 29 de abril de 1948, Luiz Augusto graduou-se pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Juiz de Fora, MG, em 1974. Autor e colaborador de diversos livros e artigos, foi, da mesma forma, editor geral da revista Brasília Médica, órgão de divulgação científica da Associação Médica de Brasília (2004-2014). O Dr. Casulari traz ao conhecimento da nossa Academia um documento histórico, a Ordem de Serviço que criou a primeira Comissão de Controle de Infecção Hospitalar no Hospital de Base, abaixo reproduzida:
GDF – Secretaria de Saúde Fundação Hospitalar do Distrito Federal Hospital de Base do Distrito Federal
Ordem de Serviço Nº 48/79 – GD
O Diretor do Hospital de Base do Distrito Federal, no uso das atribuições que lhe são conferidas pelo artigo 36, item XIII, do Regimento Interno em vigor;
Resolve:
Criar Comissão de Controle de Infecção Hospitalar, constituída por: Dr. Mário Cecílio Salomão, matrícula nº 10987310, Chefe da Seção de Segurança, Higiene
e Medicina do Trabalho; Dr. Célio Rodrigues Pereira, matrícula nº 10435208, Chefe da Unidade de Cirurgia Pediátrica; Dr. Eurico Aguiar, matrícula nº 11119910, Chefe do Laboratório de Patologia Clínica; Dr. Luiz Augusto Casulari Roxo da Mota, matrícula nº 111254-06, médico e Tereza Cristina C. Vasconcelos, matrícula nº 107010-10, enfermeira, que será presidida pelo primeiro.
Brasília, 26 de abril de 1979.
Dr. Eugênio M. Sarmento Diretor
O Dr. Casulari acredita ter sido convidado para fazer parte daquela Comissão por ter apresentado, na Jornada de Médicos Residentes do Hospital de Base em 1976, na companhia dos Drs. Marcos Holanda Albuquerque (precocemente falecido) e Alice Machado (sua colega de especialidade), uma pesquisa a propósito de infecção hospitalar que apesar de sua importância, havia tido pouca repercussão.
Acrescenta que outro membro daquela comissão pioneira, o Dr. Célio Rodrigues Pereira, faz, como ele, parte da AMeB e assinala que seu signatário, o ortopedista Eugênio Sarmento, ainda é bastante lembrado por seus colegas do HBDF.
ACAD. EMÉRITO HÉLCIO LUIZ MIZIARA Cadeira 9
A especialidade de Anatomia Patológica começou em Brasília a partir do momento em que assinei contrato com a Fundação Hospitalar do Distrito Federal (FHDF), em 26 de janeiro de 1961, após ser aprovado pela Comissão de Credenciais do 1º Hospital Distrital.
Juntamente com o arquiteto Milton Ramos, fiz a planta no local onde seria a Unidade (designação antiga) para que pudéssemos não só instalar os laboratórios, como também parte do necrotério. Em janeiro de 1962 a unidade já estava pronta: criamos, além do laboratório de Histopatologia, a Citologia, o setor de fotografia, arquivos, secretaria, sala de necropsia com geladeiras para cadáveres e salas para os médicos. Mais tarde conseguimos espaço extra para uma sala de reuniões. A aparelhagem já existia pois fora comprada na organização do hospital.
O pessoal técnico foi gradualmente sendo preparado e durante dois anos trabalhei sozinho: posteriormente, com participação de Maurício Dusi e Paulo de Castro, estava formada a equipe de Citologia. Em 1964, com o início da Residência Médica, chegou a primeira residente, Waldete Cabral Moraes e nos anos subsequentes, Hans Japp e Maria Ophélia Galvão. Era essa a nossa equipe na primeira década de funcionamento do hospital.
Nos anos seguintes foram sendo admitindo novos residentes, e além do programa de Residência já estabelecido, passamos a participar mais intensamente dos congressos regionais e nacionais da especialidade. Aos poucos esses novos profissionais foram agregados 97
à Unidade, que passou a atuar com pelo menos um especialista em cada sistema orgânico.
Nosso intuito desde o começo, além de cumprir nossa função no hospital, foi formar também técnicos e auxiliares que pudessem suprir o mercado de Brasília. A documentação fotográfica foi intensificada e quando me aposentei tínhamos um arquivo fotográfico com aproximadamente 26.000 slides, entre biópsias e necropsias.
O próximo passo foi procurar aproximar a Unidade da vida acadêmica, de tal forma que passamos, inicialmente, a receber alunos da Universidade de Brasília e mais tarde, da Universidade Católica. Fazia parte da nossa rotina participar de reuniões semanais com as diversas especialidades e apresentar o resultado das necropsias realizadas nas sessões anatomoclínicas.
Nesses 60 anos de atividades, muitos foram os patologistas de renome que vieram a Brasília e foram recebidos em suas instalações.
ACAD. EMÉRITO MANOEL XIMENES NETTO Cadeira 10
A história da Cirurgia Torácica do Hospital Distrital de Brasília (atual Hospital de Base) iniciou-se em 12 de setembro de 1960, dia em que suas portas foram abertas pelo Presidente da República, o médico Juscelino Kubitschek de Oliveira.
O primeiro cirurgião a atuar na especialidade foi o Dr. Hildebrando De Biase, a quem tive a honra de conhecer numa primeira visita a Brasília em agosto de 1965. Quem teve o privilégio de conviver com o Dr. De Biase jamais esquecerá o perfil daquele médico franzino, falador e de extrema competência no exercício de sua especialidade cirúrgica. Naquela visita ao HDB pude constatar o calor humano que transmitia aos seus pacientes e a determinação de ajudar ao próximo. Não raramente o Dr. De Biase acolhia pacientes tuberculosos com hemoptise em seu próprio apartamento, enquanto aguardavam internação.
As cirurgias realizadas naquela ocasião resumiam-se ao tratamento de casos de tuberculose, triados pela equipe do Dr. Carlos Alberto Florentino, responsável pelo Departamento Nacional de Tuberculose em Brasília; da acalasia chagásica e de empiemas, além de algumas doenças inflamatórias pulmonares, tais como a bronquiectasia. O câncer de pulmão era extremamente raro e quando surgia um caso, já era inoperável devido ao estágio avançado da doença. Após a saída do Dr. De Biase, outros médicos treinados por ele assumiram a chefia da Unidade, incluindo-se aqui os Drs. Aluísio T. França e Ortiz Marra, entre outros poucos. Naquela curta convivência
com o 1º HDB, e na presença do mestre De Biase, pude constatar a sua destreza e capacidade de raciocínio rápido nas decisões que beneficiavam seus pacientes. A técnica cirúrgica utilizada por ele nos procedimentos era descrita à mão e enriquecida por desenhos extremamente ilustrativos.
Recém egresso de um programa de pós graduação em Cirurgia em Cleveland, Ohio, constatei o avançado grau do aparelhamento técnico disponível no Hospital, que em nada ficava a dever a qualquer outra instituição do primeiro mundo. A contratação de médicos era feita por indicação e exame de currículo, sem necessidade de exame escrito, método que consideramos o mais adequado na formação de equipes médicas.
O grande salto que a Cirurgia Torácica do Hospital de Base se deu na década de 70, com o reconhecimento da especialidade pela Comissão Nacional de Residência Médica (CNRM). Com o início do programa de pós graduação houve um grande impulso da especialidade, uma vez que até aquela data, todos os procedimentos eram realizados por um cirurgião auxiliado por médicos residentes de cirurgia geral. Naquela época havia uma certa resistência por parte de outras especialidades, que não vislumbravam o potencial da cirurgia torácica.
O primeiro residente da Unidade foi o Dr. Reinaldo Oliveira Silva, que após a conclusão da residência em 1978, foi convidado e aceitou continuar como staff, o que vem fazendo até hoje com muito esmero, dedicação e vontade de ajudar o próximo. Os demais estão hoje espalhados por vários estados da federação e na Capital Federal, e com raras exceções, exercem suas atividades nas comunidades onde se inseriram. Dois faleceram.
De 1976 a 2009, os seguintes médicos concluíram a residência em Cirurgia Torácica no Hospital de Base: 1. Reinaldo Oliveira da Silva, 1976-77 2. Ricardo Queiroz Cavalcante, 1976-77 3. Luiz Fernando Vieira, 1978-79
4. Ilion Fleury Jr, 1979-1980 5. Wanderley Macedo Almeida, 1980-1981 6. Maria Lourdes Carvalho Canindé, 1982-1983 7. Kleber Nogueira de Campos, 1983-1984 8. Agnelo Santos Queiroz Filho, 1985-1986 9. Marcos Amorim Piauilino, 1086-1988 10. Henrique José da Mota, 1987-1988 11. Gutemberg de Freitas Rego, 1989-1990 12. Adriana Gregorcic, 1991-1993 13. André Aquino Carvalho, 1993-1994 14. Romildo D’Angelis, 1994-1995 15. Francisco Plácido Souza, 1994-1996 16. José Renalvo Alves Barbosa, 1995-1997 17. Jorge Fernando Mamede Moreira, 1997-1999 18. Jeancarlo Fernandes Cavalcante, 1998-2000 19. Ulisses Eduardo Ramiro, 1999-2001 20. Humberto Alves de Oliveira, 2000-2002 21. Alfredo Sávio Monteiro Nogueira, 2001-2003 22. Rafael Marques Ribeiro Pessoa, 2004-2006 23. Rivaldo Fernandes Filho, 2004-2006 24. Flávio Brito Filho, 2005-2007 25. Antonio Bonaparte Ferreira Jr, 2007-2009
Pioneirismo
A Unidade de Cirurgia Torácica tem sido pioneira, nos últimos 30 anos, numa série de procedimentos que relacionamos abaixo: 1. Primeira cardioplastia tipo Thal, 30.04.1974 2. Primeira cardiomiotomia tipo Heller com fundoplicatura (Dor), 28.03.1974
3. Primeira pneumonectomia com toracoplastia, 11.03.1974 4. Primeira operação para tumor de Pancoast, 20.01.1975 5. Primeira operação para divertículo de Zenker sob anestesia local em regime ambulatorial, 20.01.1975 6. Primeira operação para divertículo epifrênico, 20.01.1975 7. Primeira operação para rotura de esôfago, 17.01.1975 8. Primeiro desvio retroesternal (bypass) do esôfago para câncer inoperável usando o estômago, 07.04.1975 9. Primeira timectomia para miastenia gravis, 23.04.1975 10. Primeira timectomia para timoma, 19.10.1975 11. Primeira operação para cisto do pericárdio, 10.11.1975 12. Primeiro flap tipo Eloesser para empiema pleural crônico, 28.02.1976 13. Primeira ligadura de varizes e reconstrução pela técnica de
Thal, 14.09.1976 14. Primeira ressecção para tumor de mediastino, 09.0.1976 15. Primeira esternoplastia para pectus escavatum, 27.02.1978 16. Primeira operação para tratamento primário de rotura traumática de esôfago, 03.05. 1978 17. Primeira reconstrução do esôfago pelo tubo gástrico invertido (G1), 16.02.1978 18. Primeira pleurodese com talco iodizado, 06.97.1978 19. Primeira pneumonectomia com ressecção carinal à direita, 06.09.1978 20. Primeira retirada de corpo estranho do pericárdio (bala), 18.08.1978 21. Primeira herniorrafia hiatal pela técnica de R. Belsey, 30.11.1978 22. Primeira reconstrução do esôfago pelo tubo gástrico (G2), 16.11.1978
23. Primeira operação para correção de pectus carinatum, 30.5.1979 24. Primeira correção de hérnia traumática diafragmática, 10.07.1979 25. Primeira traqueoplastia para estenose traqueal, 05.07.1979 26. Primeira reconstrução do esôfago pelo colon esquerdo, 17.10.1979 27. Primeira reconstrução do esôfago pelo colon direito, 14.11.1979 28. Primeira reconstrução do esôfago pelo tubo gástrico invertido (G3), 6.11.1979 30. Primeira operação para substituição do faringe, esôfago e estômago pelo ileoceco- colon, 27.12.1979 31. Primeira esofagogastrectomia, pancreatectomia, esplenectomia e reconstrução com alça jejunal para câncer de junção esofagogástrica, 18.03.1980 32. Primeira esternectomia total com reconstrução com o músculo grande peitoral, 10. 06.1980 33. Primeira tireoidectomia para bócio mergulhante, 06.07.1980 34. Primeira mediastinoscopia cervical, 29.12.1980 35. Primeira colectomia por via transesternal e reconstrução pelo tubo gástrico inverti- do, 25.01.81 36. Primeira reconstrução do esôfago para fístula traqueoesofágica benigna pelo tubo gástrico invertido (G1), 31.08.1981 37. Primeira traqueoplastia via torácica para estenose benigna, 21.09.1981 38. Primeira ressecção de higroma cístico, 13.08.1983 39. Primeira esofagectomia transhiatal, 25.10.1984 40. Primeira correção de hérnia de Morgagni, 14.02.1984 41. Primeira ressecção de tumor do mediastino para doença de
Castleman, 23.04.1984
42. Primeira broncomioplastia para fístula brônquica, 26.01.1984 43. Primeira esofagocoloplastia direita / tubo de pele para reconstrução do faringe-esôfago, 17.07.84 44. Primeira carenoplastia para tumor benigno, 22.06.1984 45. Primeira lobectomia para cisto hidático, 13.07.1984 46. Primeira pleurectomia bilateral para pneumotórax espontâneo bilateral, 15.09.1984 47. Primeira pleuro-pneumonectomia radical para mesotelioma, 14.10.1984 48. Primeira timectomia para miastenia gravis pós plasmaferese, 31.10.1984 49. Primeira ressecção de parede costal e reconstrução com retalho miocutâneo (grande dorsal), 16.08.1985 50. Primeira reconstrução do esôfago para estenose com tubo gástrico invertido (G4), 05.01.1986 51. Primeira pneumonectomia com ligadura intrapericárdica, 29.06.1987 52. Primeira lobectomia superior em manga (broncoplastia) para câncer de pulmão tipo carcinoide, 29.09.87 53. Primeira omentoplastia para fístula brônquica pós pneumonectomia direita, 13.02. 1987 54. Primeira pneumonectomia com carenectomia para câncer, 15.12.1988 55. Primeira cardiorrafia para trauma, 26.02.1989 56. Primeira ressecção de sigmoide e cirurgia de Thal para doença de Chagas, 10.01. 1989 57. Primeira lobectomia por via transesternal, 18.04.1989 58. Primeira cirurgia para leiomioma do esôfago via torácica, 26.07.1989 59. Primeira cirurgia para tratamento de quilotórax traumático, 12.23.1989
60. Primeira ressecção de tumor de traqueia torácica, 17.06.1989 61. Primeira cirurgia para sequestro pulmonar e correção de hérnia de Bochdalek, 15. 01.1990 62. Primeira correção de fístula traqueoesofágica benigna, 20.04.1990 63. Primeira correção de estenose de esôfago cervical com transplante de jejuno, 23. 10.1990 64. Primeira lobectomia com broncoplastia esquerda (LIE) para tumor mucoepider-moide, 05.11.1991 65. Primeira traqueoplastia subglótica (Pearson), 07.01.1992 66. Primeira lobectomia superior esquerda com broncoplastia, 04.01.1993 67. Primeira reconstrução do esôfago pelo tubo gástrico invertido (G1) sem esplenectomia, 30.08.1993 68. Primeira cirurgia para correção de refluxo pela técnica Belsey
Marca IV, 17.10. 1993 69. Primeira lobectomia inferior esquerda para câncer associada a esofagocardio-miotomia mais fundopexia, 17.11.1993 70. Primeira colocação de prótese (tubo em T de Montgomery), 23.09.1993 71. Primeira colocação de tubo de Filomeno para drenagem de empiema pleural crô- nico, 27.07.1996 72. Primeira simpatectomia videotoracoscópica para hiperidrose, 2.12.1997 73. Primeira videopleuroscopia para derrame pleural maligno, 22.11.1997 74. Primeira metastasectomia pela incisão clamshell, 12.02.1998 75. Primeiro transplante pulmonar à direita com circulação extracorpórea, 23.05.2000
Publicações
A Unidade de Cirurgia Torácica publicou nos últimos 35 anos, 112 artigos em revistas especializadas, tanto no Brasil como no exterior, abordando praticamente todos os assuntos relacionados à Cirurgia Torácica Geral. Destaque especial merece a abordagem do esôfago, área onde a Unidade é considerada referência em técnicas de reconstrução, com 48 artigos relacionados. Praticamente todos os livros de cirurgia torácica publicados no exterior contam com essa colaboração.
Há vários membros do staff com doutorado, tanto em universidades brasileiras quanto no exterior e entre os seus egressos, cinco são também são doutores.
Congressos
Através dos anos os membros da Unidade compareceram a inúmeros congressos da especialidade tanto no Brasil como no exterior. Nesse sentido, foram feitas mais de 1.200 apresentações individuais, em conferências, ou em forma de painéis.
Visitas
Como centro formador de especialistas, a Unidade periodicamente recebeu visitas de figuras importantes da Cirurgia Torácica mundial, incluindo os Drs. F. G. Pearson da Universidade de Toronto, Clement A. Hibert da Harvard Medical School e Maine Medical Center, F. Henry Ellis, também da Harvard Medical School, além de médicos de diversas áreas do Brasil que aqui compareceram ou ainda comparecem para observar, aprender e difundir técnicas cirúrgicas úteis no manuseio dos complexos problemas da caixa torácica.
ACAD. TITULAR EDNO MAGALHÃES Cadeira 10
No segundo semestre de 1969 eu já fazia parte do quadro da Unidade de Anestesiologia e Gasoterapia (UAG) do Primeiro Hospital Distrital de Brasília (1º HDB), atualmente Hospital de Base do Distrito Federal. Logo depois surgiu a ideia de se criar uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) para o 1º HDB de Brasília que funcionaria sob a coordenação do Dr. Miguel Marcondes Armando, natural do Mato Grosso.
Miguel procurava voluntários para fazer parte da nova unidade, mas enfrentava dificuldades para encontrá-los. Como eu já havia tido alguma experiência nessa área durante meu 2º ano de residência com o professor Zairo Vieira no Hospital da UnB em Sobradinho (onde cuidávamos de um setor que mesmo sem aquele nome já tratava somente os doentes mais graves), me apresentei espontaneamente. Três outros colegas recém saídos da residência médica no próprio 1º HDB também se apresentaram.
Assim, o corpo clínico da nova unidade teve como seus primeiros médicos o Dr. Miguel Marcondes Armando, como Coordenador e os Drs. Edno Magalhaes, Cyro Luiz da Silva, Itacir Arlindo Franceschini e Aloísio Toscano Franca, como plantonistas. Além desses profissionais, havia quatro enfermeiras que receberam treinamento dos próprios médicos. Foram elas as Sras. Adir Costa (Coordenadora do grupo), Isa, Olímpia e Hildete.
O Dr. Miguel procurou contato com algumas unidades de terapia intensiva no Rio de Janeiro e em Belo Horizonte, que foram visitadas por nós, os quatro futuros plantonistas. Foi uma viagem altamente
lucrativa porque tomamos conhecimento das novidades e do progresso tecnológico no acompanhamento de pacientes em UTI. Por outro lado, nos deu a oportunidade de estreitar nossos laços de amizade, o que muito ajudou nos primeiros tempos de atividade da nossa UTI.
A inauguração da UTI do 1º HDB foi marcada, em princípio, para o início do ano de 1970. No início do mês de setembro ocorreu um grave acidente no plano piloto de Brasília, envolvendo a secretária particular do governador em exercício. A paciente chegou à emergência do hospital com um quadro grave de poli traumatismo, envolvendo múltiplos órgãos, o que deu um grande trabalho para a equipe de cirurgia do hospital. Muito pressionado, o diretor geral do hospital nos solicitou a antecipação da abertura e o início dos trabalhos da futura UTI, de modo a poder atendê-la no pós operatório imediato. O quadro era gravíssimo e infelizmente não foi possível evitar o óbito. Também não foi possível aguardar mais pela programada inauguração.
Estava aberta a nova UTI do 1º HDB localizada na extremidade direita do 2º andar do prédio principal do hospital. Tínhamos 4 leitos em uma área maior a direita de quem entrava na unidade e 2 leitos em outra área menor a esquerda, que funcionava como uma espécie de isolamento para pacientes graves e contaminados. O entusiasmo dos plantonistas capitaneados pelo Dr. Miguel Marcondes era excelente. Éramos todos jovens e a impressão que se tinha era que não havia carga horária que nos atacasse. Trabalhávamos muito e atendíamos a contento todos os casos graves que nos eram encaminhados. Tratava-se de uma novidade no atendimento do maior hospital existente no Centro Oeste do Brasil e para ele passaram a ser drenados todos os casos graves que ocorriam no Distrito Federal e seu entorno.
Muito importante foi o fato que descobrimos com o passar o tempo: a nossa UTI fora a primeira a iniciar seu atendimento na região Centro Oeste do Brasil. A nossa carga de trabalho era muito grande o aprendizado era ótimo e todos se esforçavam para transmitir aos outros alguma coisa que sabia a mais. A nossa atividade não se resumia apenas ao atendimento. Discutíamos todos os casos que eram atendidos,
participávamos das reuniões clinicas do hospital e nos dedicávamos a ministrar ensinamentos ao corpo de enfermagem que se transformou num quadro de excelência dentro do hospital.
Aos poucos fomos recebendo outros colegas, que depois de treinados por nós, eram incorporados ao quadro, redistribuindo a carga horária dos plantonistas e facilitando a montagem da escala da unidade. Passados 12 a 18 meses aproximadamente, a saudade bateu e resolvi voltar para as salas de cirurgias no próprio 1º HDB.
Eram 15:00 horas do dia 14 de março de 1985. Estava em casa juntando documentos para a declaração de imposto de renda, quando recebi um telefonema do diretor do nosso hospital que agora já se chamava Hospital de Base do Distrito Federal (HBDF). O diretor me pedia que mantivesse o telefone ligado pois ocorreria um atendimento no hospital no qual ele precisaria da minha participação como profissional. Disse-me ainda que por telefone não poderia falar sobre o paciente. No restante da tarde e início da noite continuei a receber muitos avisos da parte do diretor, sem que me fosse dito exatamente do que se tratava.
Às 21:00 horas, fui convocado ao hospital: deixei claro que participaria do atendimento desde que me dissessem qual era o caso, quem era o paciente e quem seria o cirurgião. Não foi surpresa para mim saber que o cirurgião era o Dr. Francisco Pinheiro Rocha. Estávamos acostumados a atender juntos políticos influentes e membros do corpo diplomático de Brasília. Entretanto foi uma grande surpresa saber que o paciente era o futuro quase presidente da república. A agitação em Brasília nesta altura era grande, envolvendo autoridades e políticos que se encontravam na cidade.
Este atendimento e os desdobramentos seguintes foram aumentados no decorrer do tempo com informações falsas, invencionices e todo tipo de maldade que poderia ocorrer em função da importância política que envolvia aquele paciente. Somente consegui ficar a sós com o paciente e sua esposa, que o acompanhava, durante 35 minutos
antes da decisão de se iniciar a cirurgia. O paciente negava qualquer informação a respeito de doenças ou uso de medicamentos, dizia que usava apenas vitamina E. O que eu tinha como informação até então era um hemograma indicativo de infecção, boatos de um mal estar cardíaco em uma viagem ao exterior (o que era negado pelo paciente). Havia também o resultado de uma cineangiocoronariografia realizada em 1977 onde se lia: Área de ventrículo esquerdo com hipocontratilidade pronunciada e uma obstrução na descendente anterior. Notava-se ainda que o paciente apresentava uma respiração tipicamente abdominal própria do idoso sedentário.
O ato anestésico iniciou-se com o auxílio de mais três colegas anestesiologistas à 01:00 hora do dia 15 de março 1985, no centro cirúrgico central do 1º HDB e o ato cirúrgico, à 01:10. Às 03:30 com o paciente respirando espontaneamente e com reflexo de vias aéreas presentes foi realizada a extubação traqueal. Foi necessário utilizar furosemida (2 ampolas) e aguardar o aumento da diurese e diminuição dos estertores de base que reduziram-se bastante com o aumento da diurese. A pressão arterial e a frequência cardíaca eram totalmente normais às 05:00, quando acompanhamos o paciente na maca até à UTI.
Respirava espontaneamente, estava consciente e hemodinamicamente estável. Estas eram as condições de admissão na UTI, verificadas pelo plantonista que recebeu o paciente, conforme consta no seu prontuário. Nenhum Raio-X de tórax realizado durante a internação do paciente mostrou sinais de aspiração de conteúdo gástrico ou pneumonia. Infelizmente, no pós operatório desse paciente ocorreram muitas interferências que na realidade, foram as responsáveis pelo trágico desfecho desse caso.
Resolveu-se reunir uma equipe de “notáveis” composta por cinco ou seis professores de fora de Brasília, entre eles um “professor de São Paulo”, que veio acompanhado de dois assistentes. Das reuniões de notáveis resultou uma segunda intervenção no dia 20 de março por insistência do referido professor que realizou a cirurgia com o auxílio do
Dr. Francisco Pinheiro Rocha, que elegantemente lhe passou a posição de cirurgião. Resultado: laparotomia branca, como falamos nos meios cirúrgicos para cirurgias nas quais nada se encontra.
No pós operatório dessa segunda cirurgia o professor e seus assistentes insistiram em passar uma sonda via esôfago até o duodeno, apesar de termos avisado que era praticamente impossível passar uma sonda gástrica ou qualquer outra em virtude de uma grande hérnia diafragmática do paciente. Essas manobras resultaram em sangramento e na transferência do paciente para o Hospital do Coração em São Paulo, sob a responsabilidade do referido professor e seus assistentes.
Lá foi submetido a mais dois atos cirúrgicos (em 26 de março e em 12 de abril), além de outros procedimentos intermediários para tratamento de hérnia estrangulada, drenagem de abscesso intra-abdominal e traqueostomia. No dia 21 de abril de 1985 foi declarado o óbito desse paciente.
Participar desse caso, foi a atuação que mais me incomodou em toda a minha vida profissional, já agora com mais de 50 anos, principalmente pelo comportamento inadequado e antiético daquele “professor de São Paulo”. Procurei omitir todo e qualquer nome de participantes do grupo, citando tão somente o do Dr. Francisco Pinheiro Rocha como uma homenagem pela sua atuação respeitável, ética e de excelente postura profissional e o grande injustiçado deste caso.
Além dessas atuações, duas outras muito me honraram, pela participação na história da medicina de Brasília. Por duas vezes fui convocado, uma das vezes pelo então Secretário de Saúde e outra pelo próprio Governador do Distrito Federal, para assumir a direção geral do Hospital de Base do Distrito Federal.
Na primeira vez deram-me como tarefas principais, instalar e pôr em funcionamento aparelhos adquiridos e encaixotados há 4 anos. Entre eles, um tomógrafo computadorizado (que foi o primeiro da Secretaria de Saúde do Distrito Federal), e componentes digitais para funcionamento da hemodinâmica e dos exames de mamografia. 111
Passei muitas horas respirando poeira dentro de obra, mas coloquei em funcionamento esses equipamentos, que tanto atormentavam a cúpula da Secretaria de Saúde. Ocorrendo mudança de governo no Distrito Federal e na Secretaria de Saúde, pus o cargo à disposição e voltei para as salas de cirurgia.
A segunda foi quando tínhamos no Hospital de Base, como anexo, uma grande construção que se destinava a instalação de um novo Pronto Socorro, pois o antigo estava em situação tão precária que era carinhosamente apelidado pelos plantonistas de “chiqueirão”. Ali seriam instalados um novo centro cirúrgico, com 11 salas de cirurgias e espaço para amplas salas de recuperação, área para internação de pacientes de transplantes, área também para internação de pacientes da neurocirurgia e novas e amplas áreas para a UTI e uma unidade coronariana.
Por questões políticas, apesar de praticamente pronta a obra física, a área não era concluída e posta em funcionamento. Por incrível que pareça, havia sabotagem de todos os tipos possíveis e imagináveis. Essa situação incomodava bastante o Governador em exercício do Distrito Federal. Como tínhamos amigos em comum, ele sabia que eu estava querendo ir para São Paulo concluir o meu Doutorado. Convocou-me um dia ao seu gabinete e me fez uma desafio: “Você assume o Hospital de Base, termina aquela obra e a coloca em funcionamento, inclusive com instalação de um novo tomógrafo no Pronto Socorro. Feito isso, eu lhe concedo a licença para ir a São Paulo terminar o seu Doutorado”. Topei a proposta, concluí as obras e inaugurei o prédio com a presença do Governador e do Ministro da Saúde dentro do prazo que me concederam e fui concluir o meu Doutorado em São Paulo, na UNIFESP.
ACAD. EMÉRITO JOSÉ LEITE SARAIVA Cadeira 39
Professor aposentado da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) José Leite Saraiva graduou-se em medicina pela Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública (EBMSP) em 1957.
Foi Secretário Geral Adjunto do Ministério da Saúde, membro do Conselho Nacional de Saúde, da Comissão Nacional de Residência Médica do Ministério de Educação e Cultura (MEC) e Consultor da Unesco.
Como responsável pela implantação (e seu primeiro Secretário) da Secretaria Regional de Medicina Social do antigo Instituto Nacional de Assistência Médica e Previdência Social (INAMPS/MPAS-DF), participou ativamente das gestões que permitiram a transformação do antigo Hospital Presidente Médici (HSU) num hospital universitário (HUB) vinculado à Universidade de Brasília.
O HUB passou a funcionar como hospital-escola da Faculdade de Medicina da UnB a partir de 1979, em substituição à Unidade Integrada de Saúde de Sobradinho (UISS), que cumpria esse papel desde 1967.
ACAD. RONALDO MENDES DE OLIVEIRA CASTRO Cadeira 40
Nasci no Rio de Janeiro, em 14 de setembro de 1932, filho de Jorge Mendes de Oliveira Castro e de Cecília Fernandes Figueira de Oliveira Castro. Desde a infância, sendo o primeiro filho homem, mais velho de sete irmãos, fui constantemente solicitado por meu pai, engenheiro do Serviço de Engenharia do Banco do Brasil e Prof. de Engenharia da PUC–RJ, a acompanhá-lo a diversas obras de construção. Hoje penso com um pouco mais de clareza, o quanto nós filhos somos conscientes ou inconscientemente, influenciados pelos desejos de nossos pais, e também por vezes, por pessoas do nosso convívio e admiração. Deste modo, acredito que o meu interesse pela engenharia decorreu da influência de meu pai. Cheguei mesmo, a realizar vestibular para Engenharia, na PUC-RJ. Os tempos nos mudam e as influências também. Suspeito que passei a ser influenciado por minha mãe, que com frequência referia-se a seu pai, com muito carinho e respeito. Ele foi um dos iniciadores da Pediatria no Brasil, Dr. Antônio Fernandes Figueira, e chegou a ter seu livro Éléments de Sémiologie Infantile (1903), adotado pela Faculdade de Medicina de Paris. Foi também poeta e colega de Colônia de Estudantes dos grandes poetas brasileiros, Olavo dos Guimarães Bilac e Alberto de Oliveira. Durante o período em que servi o CPOR, nos anos 1951, convivi com colegas que estudavam Medicina, um deles meu primo irmão Gustavo. Lá conheci e tornei-me amigo do nosso saudoso Tito Figueroa.
Vários colegas me convidaram para fazer a prova de vestibular na Faculdade de Ciências Médicas, que era em São Cristóvão, pertinho do quartel. Foi então que entrei para a Faculdade de Medicina, onde
fui colega do também saudoso Aloysio Campos da Paz, com quem frequentemente estudava e a quem, anos depois, ajudei a vir trabalhar em Brasília. A nossa turma de Medicina por sugestão minha, que era da Comissão de Formatura, escolheu o então Presidente da República Dr. Juscelino Kubitschek de Oliveira, médico, como paraninfo. O Presidente nos recebeu em fevereiro de 1960 no Palácio do Catete e nos presenteou com um convite para conhecer Brasília.
Ainda estudante no 4º ano de Medicina, em 1957, casei-me com Maria Helena D’Arriaga Lima, filha do Dr. Bayard Lucas de Lima. Para tanto, trabalhei como técnico de laboratório do HSE (IPASE), para onde fui nomeado pelo Presidente Juscelino, através de seu colega e médico pessoal, Dr. Aloysio Salles da Fonseca. Com a renuncia do então Presidente Jânio Quadros, fui demitido do HSE, devido a um decreto seu no qual uma percentagem pequena de pessoas nomeadas pelo Presidente Juscelino teria que retornar às funções anteriores ou mesmo serem demitidas. Naquela ocasião já trabalhava na Unidade de Medicina Interna, serviço do Dr. Theobaldo Vianna, onde me especializei em Pneumologia com o Prof. Paulo Dias da Costa e posteriormente, com o Prof. Jayme Landman, em Nefrologia, que estava iniciando a técnica da diálise peritoneal. Nesse período conheci e trabalhei também com o Dr. Renault Ribeiro.
No 2º semestre do ano de 1961 fui pressionado a trabalhar em Brasília, no 1º Hospital Distrital. hoje Hospital de Base. Esclarecendo, minha esposa e eu havíamos vindo visitar seu pai, o Dr. Bayard, quando surgiram o advogado da Fundação Hospitalar, Dr. Paulo César Carvalho de Mendonça e o Dr. Rizzi (Prefeito Interino), aparentemente para almoçar. Qual não foi meu espanto, quando o Dr. Paulo César me entregou um contrato para assinar e assim ingressar no 1ºHDB. Surpreso, disse-lhe que não estava preparado, não tinha roupa para trabalhar no Hospital e que ainda, trabalhava no SAMDU no Rio. Resumindo, disseram que eles conseguiriam a roupa e que além do mais, eu estaria de plantão no PS, onde o clínico era o chefe do plantão. O inesperado e a juventude (falta de experiência) causaram-me um enorme impacto e uma assustadora responsabilidade.
Naquela ocasião, não existiam ainda as unidades de especialidades, e tínhamos que atender toda e qualquer patologia. Aos poucos, fomos organizando e estruturando as diversas unidades de Medicina Interna. Renault e eu organizamos a Unidade de Nefrologia. Tive o privilégio de realizar a 1ª diálise peritoneal em um caso de uma paciente em coma hepático. Segundo constava na época, não havia ainda descrição e publicação de caso semelhante. A colocação do trocar no peritônio foi realizada pelo Dr. Francisco Pinheiro Rocha. Após cerca de 10 dias em coma hepático, com todos os exames sanguíneos alterados, a paciente saiu do coma e até hoje goza de saúde. Não posso deixar de registrar o pioneirismo da época e os improvisos, pois até a solução de diálise peritoneal era encomendada por mim ao Prof. Landman e vinha do Rio para Brasília em avião da antiga VASP. Posteriormente, com a chegada do Dr. Melânio Barbosa, que também havia trabalhado com o Prof. Dias da Costa em pneumologia, resolvemos organizar junto com o Dr. Abib Ani Cury, a Unidade de Pneumologia.
Deparei-me aqui com o início do excelente Plano de Médico-Hospitalar, estabelecido por Henrique Bandeira de Mello, baseado na ideia da criação de uma rede médico-hospitalar diversificada e descentralizada. Consistia em um modelo regionalizado de unidades satélites (Centros de Saúde), unidades hospitalares (Hospitais Distritais) para o atendimento preferencial de pacientes agudos e finalmente o Hospital de Base, cuja finalidade precípua era o atendimento de pacientes com enfermidades crônicas.
Foi o Dr. Bayard Lucas de Lima, primeiro Secretário de Saúde do DF que inaugurou o 1º Distrital de Brasília, em 18 de maio de 1960, na presença do Presidente da República, Dr. Juscelino Kubitschek de Oliveira e do Dr. Israel Pinheiro, Prefeito do Distrito Federal. Foi também o seu primeiro Diretor e o principal responsável por iniciara a implantação do Plano Médico-Hospitalar de Brasília. Para um médico, recém-formado e cheio de ideais, esta era a oportunidade de realizar-me. No 1º HDB tive a satisfação em ocupar algumas funções de chefia, tais como a chefia da Unidade de Clínica Médica, a Vice Diretoria (interina) 116
e alguns anos depois, a chefia da Unidade de Psiquiatria. Publiquei muitos trabalhos profissionais entre 1976 e 2016 e em 2014, “Acordes do Coração” (Super Nova Gráfica, Brasília), um livro de poesias.
Não posso deixar de relatar circunstâncias médico-éticas que muito me afetaram. A primeira passou-se durante o Regime Militar, em 1966, ocasião em que recebi um telefonema aflito de uma senhora, esposa de um cliente meu do Banco do Brasil, suplicando-me que fosse ao Batalhão da Guarda Presidencial (BGP), examinar seu marido que lá se encontrava preso há dois meses e enfermo. Fomos o enfermeiro Santiago e eu, na ambulância do Banco do Brasil, tentar ter acesso ao paciente, para examiná-lo. Com muita dificuldade, conseguimos entrar no quartel. No entanto, recebemos através do tenente a informação de que não seria permitido atendê-lo, devido à alta periculosidade do mesmo. Consegui que imprimissem no meu receituário minha suposição diagnóstica e o fato de que embora estivéssemos ali, havíamos sido impedidos de examiná-lo, não podendo, portanto, assumir nenhuma responsabilidade pelo que viesse a acontecer.
Imediatamente, o Coronel deixou que o examinasse, e novamente nos deparamos com um fato pungente. Enquanto, o sargento e cabos que nos conduziam, chamavam pelo meu cliente, vários detentos, num pavilhão com cerca de trinta colchões no chão, pediam-me que anotasse nome e telefone deles, para informar às esposas e famílias, de que ainda estavam vivos. Fui impedido de fazê-lo e ameaçado de prisão se não cumprisse suas ordens. Dois dias depois três militares (“catarinas”, como eram chamados) bateram na porta do meu consultório no ambulatório do 1ºHDB, acompanhando o preso que eu havia visto no quartel e pedido exames. Enquanto fui com o meu cliente tirar umas radiografias dos pulmões, fiquei ciente do grau de tortura que sofrera. Creio que era considerado de alta periculosidade, devido a ter sido auxiliar de informações do 1º Ministro no período Parlamentarista.
Dias depois recebo um telefonema à noite onde, sussurrando, a pessoa me pedia que fosse ao seu apartamento, pois como estava com uma pneumonia bilateral, fora solto para que não viesse a falecer
no quartel. Ao visitá-lo, defrontei-me com uma cena profundamente chocante e triste. Havia telefonado para o seu advogado, o grande jurista Dr. Sobral Pinto, que lhe dissera para que fugisse do Brasil, pois tornaria a ser preso quando melhorasse. Nunca mais o vi, porém fiquei sabendo que morrera uns três anos após, na fronteira com o Uruguai.
Em 1969, mudei mais uma vez o rumo da medicina que praticava e resolvi conhecer uma faceta do ser humano que me era desconhecida, mas que frequentemente surgia no meu consultório – os distúrbios psíquicos-emocionais. Já com quatro filhos pequenos, consegui bolsa de estudos para especialização em Psiquiatria na Europa, por dois anos. O nosso quinto filho, gerado em Genebra, veio a nascer em Brasília, enquanto ainda lá me encontrava.
Estudei Psiquiatria como especialização, na Universidade de Madrid (Espanha), no serviço do Prof. Juan José López Ibor (1967-1968) e, em continuação, na Universidade de Genebra (Suíça), na Clinique Bel Air, com o Prof. Julian de Ajuriaguerra. A Psiquiatria na Universidade de Madri seguia a metodologia Fenomenológica e a de Genebra, uma orientação mais psicodinâmica. Foi certamente o contato com a Psiquiatria Psicodinâmica, cuja a abordagem era mais ancorada na Psicanálise e com atividades com grandes psicanalistas da época, tais como Dr. René Diatkine e o Dr. S. Lebovici, que aumentou o meu interesse pela Psicanálise. Foi na Clinique Bel Air que escrevi o trabalho Les bouffés délirants aigües. No final do ano de 1969, retornei à Brasília, assumindo em seguida a chefia da Unidade de Psiquiatria do 1º HDB. Procurei implantar algumas das atividades que havia aprendido na Europa, principalmente em Bel Air, como por exemplo, as reuniões matinais com toda a equipe da Unidade. Chamadas de rapports (relatórios), éramos informados, por meio dos colegas e da enfermagem, o que havia se passado com os pacientes na Unidade, principalmente à noite.
Em julho de 1970, tivemos como era habitual, uma reunião dos Chefes de Unidades do HDB, para discutirmos as necessidades de cada
uma delas. Nesta, porém, estava presente o irmão do Governador Prates da Silveira, o Dr. Caio Prates da Silveira. Nosso propósito era conseguirmos mais prontamente os materiais de cada Unidade que estavam em falta. Qual foi nossa surpresa, em outubro do mesmo ano, quando quatro de nós fomos chamados a comparecer ao gabinete do Diretor do Hospital. Lá chegando, recebemos das mãos dele o que se chamava de “bilhete azul”, ou seja, um documento assinado pelo então Secretário de Saúde, o Dr. Simões, nos demitindo sumariamente, sem que nos explicassem os motivos. Os quatro demitidos foram os Drs. André Esteves Lima, João da Cruz, Ubiratan O. Peres e eu. O único boato que ouvi foi o de que teríamos criticado o Dr. Simões (Secretário da Saúde) e o Governador Prates da Silveira. Passaram-se quinze anos para que tomasse conhecimento do real motivo da minha demissão.
O livro “Brasil Nunca Mais” havia sido publicado pelo Arcebispado de São Paulo, o qual tinha tido acesso a alguns processos da Justiça Militar do tempo da Ditadura Militar de 1964. Lá constava uma parte do laudo que eu havia fornecido em carácter confidencial ao então Diretor do 1º HDB. O laudo se referia ao segundo caso de tortura que eu acompanhara no HDB, enquanto chefe da Psiquiatria. Tratava-se de uma estudante da UnB, com cerca de 20 anos, que fora internada no hospital, vinda do Batalhão da Guarda Presidencial. Encontrava-se em estado de pânico, seu olhar era de medo, de sofrimento. Não revelava nenhum movimento corporal e não pronunciava qualquer palavra. Por prudência, solicitara ao neurologista João da Cruz um exame neurológico, que nada revelou. Sua confiança em mim foi aumentando na medida em que foi conseguindo me reconhecer. Disse-me que eu a havia examinado para admissão como funcionária do Banco do Brasil, há alguns anos. Também a reconheci, pois coincidentemente, era irmã da secretária do Diretor do Hospital e também irmã da secretária do Arcebispo de Brasília Dom José Newton, meu cliente há vários anos. Após uma semana começou a falar o que havia ocorrido. Tinha sido brutalmente torturada. Levara inúmeros choques elétricos por todo o corpo, banhos de chuveiro
gelado de madrugada, espancamento de maneira a não deixar marcas, etc., pois havia um médico que orientava as torturas. Sua confiança em mim foi aumentando na medida em que foi conseguindo me reconhecer. Disse-me que eu a havia examinado para admissão como funcionária do Banco do Brasil, há alguns anos. Também a reconheci, pois coincidentemente, era irmã da secretária do Diretor do Hospital e também irmã da secretária do Arcebispo de Brasília Dom José Newton, meu cliente há vários anos.
Foi justamente no ano de 1970 que iniciei a minha Formação em Psicanálise, com a Diretora do Instituto de Psicanálise da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, a psicanalista Prof.ª Virgínia Leone Bicudo. Creio que estando em tratamento psicanalítico, tolerei melhor a minha frustração de médico e de injustiça ética. Inclusive o ideal do jovem médico que experimentara em Brasília uma medicina mais integrada, valorizada pelo trabalho em tempo integral, conforme previsto inicialmente. Tínhamos um bip, que nos localizava a qualquer momento quando fora do hospital e nos informava sobre nossos pacientes internados. Por pouco, não me decepcionei totalmente com o exercício da Medicina.
Ao ingressar na Academia de Medicina de Brasília, novas esperanças surgiram, no sentido de batalharmos junto às entidades médicas e poderes públicos, por uma Medicina mais ética, mais aprimorada, mais humana e digna.
Atualmente, sinto-me bastante compreendido e reconfortado, com o convívio com meus atuais Confrades.
ATA DA ASSEMBLEIA GERAL ORDINÁRIA DA ACADEMIA DE MEDICINA DE BRASÍLIA – 19 DE OUTUBRO DE 2021
Às 19 horas, do dia 19 de outubro de 2021, no Auditório Tito Figuerôa, na sede do Sindicato dos Médicos do Distrito Federal, situado no SGAS 607, Edifício Metrópolis, Cobertura 1, Brasília – DF, foi realizada a Assembleia Geral Extraordinária da Academia de Medicina de Brasília, em segunda convocação. A Assembleia foi convocada no dia 06 de outubro de 2021 pelo seu Presidente, Acadêmico Marcus Vinicius Ramos, no uso das atribuições que lhe confere o item IV do artigo 8º do Estatuto Social da AMeB, observados os termos do inciso I do artigo 29 do Regimento Interno, com a seguinte pauta: Eleição da Diretoria e do Conselho Fiscal da AMeB para o biênio 2022-2023. De acordo com a Resolução 001/2021 da Academia de Medicina de Brasília, de 30 de setembro de 2021, coube à Comissão Eleitoral, composta pelos Acadêmicos Laércio Moreira Valença, Francileide Paes da Silva e Alba Mirindiba Bomfim Palmeira, sob a presidência do primeiro, conduzir a referida Assembleia Geral Extraordinária. O presidente da AMeB abriu a sessão convocando os membros da Comissão Eleitoral para comporem a mesa. Em seguida, passou a palavra ao Presidente da Comissão Eleitoral que informou ao plenário que havia quinze membros titulares da Academia de Medicina de Brasília que assinaram a lista de presença, que se encontra arquivada na secretaria da AMeB; que todos se encontravam adimplentes e vinte dois justificaram sua impossibilidade de comparecer, ficando o colégio eleitoral composto de quinze acadêmicos votantes. O Acadêmico Laércio Moreira Valença informou à Assembleia que havia somente uma chapa inscrita e registrada e que havia sido cumprido os preceitos normativos do Estatuto Social e Regimento Interno da Academia com a aquiescência escrita
e assinada pelos componentes da chapa e inscrição em tempo hábil, e passou a ler o nome dos componentes da chapa com os respectivos cargos: Presidente: Acad. Etelvino de Souza Trindade; Vice-Presidente: Acad. Nasser Simão Sarkis; 1ª Vice- Presidente: Acad. Eduardo Freire Vasconcelos; Secretário Geral: Acad. Alba Mirindiba Bomfim Palmeira; 1º Secretário: Acad. Janice Magalhães Lamas; 2º Secretário: Acad. Elisa de Carvalho; Diretor Financeiro: Acad. Carlos Alberto de Assis Viegas; Diretor Científico: Acad. Sérgio Lincoln Arruda; Conselho Fiscal: Acad. Augusto Cesar de Farias Costa, Acad. José Ulisses Manzzini Calegaro, Acad. Marcus Vinicius Ramos; Conselho Fiscal Suplente: Acad. Edno Magalhães, Acad. Mouranilda Tavares Schleicher. O Presidente da Comissão Eleitoral informou à Assembleia Geral que, atendendo às normas contidas no Regimento Interno, no Artigo 29, os acadêmicos presentes se manifestariam, naquele momento, para a eleição dos componentes da chapa “UNIÃO e INOVAÇÃO”, para dirigir a Academia durante o biênio 2022 a 2023, e, atendendo à possibilidade prevista no inciso VI do Artigo 29 do Regimento Interno, ele, como Presidente da Comissão Eleitoral, recomendou ao plenário, em virtude de haver chapa única inscrita, que a eleição fosse realizada por aclamação. Os acadêmicos presentes concordaram e os acadêmicos membros da chapa foram aclamados eleitos por unanimidade. O Presidente da Comissão Eleitoral declarou eleitos os membros da chapa única e encerrou o processo eleitoral. O Presidente da Academia de Medicina, Acadêmico Marcus Vinicius Ramos, deu a palavra ao Acadêmico Etelvino de Souza Trindade, recém-eleito futuro Presidente da Academia, que agradeceu a confiança de todos em tê-lo elegido e fez comentários sobre a importância da Academia, trazer mais acadêmicos às reuniões, envolver os acadêmicos em atividades internas, buscar uma sede própria para divulgar mais a vida dos médicos que fizeram a saúde do DF melhor e mudar os patronos das cadeiras da AMeB para os médicos que contribuíram para isso. O Presidente da Academia de Medicina de Brasília informou que a posse da nova Diretoria eleita será realizada em março de 2022, em local a ser informado. Nada mais havendo a ser discutido, foi encerrada a Assembleia e, eu, Acadêmico Laércio Moreira Valença,
Presidente da Comissão Eleitoral, elaborei esta ata que assino com seus demais membros da Comissão Eleitoral, Acadêmicas Francileide Paes da Silva e Alba Mirindiba Bomfim Palmeira
Laércio Moreira Valença Comissão Eleitoral Presidente
Francileide Paes da Silva Comissão Eleitoral Membro Alba Mirindiba Bomfim Palmeira Comissão Eleitoral Membro
ENCERRAMENTO DO ANO ACADÊMICO BIÊNIO 2020 – 2021
Acad. Marcus Vinicius Ramos
Boa noite a todos!
Agradeço a presença entre nós dos Drs. Ognev Cosac, presidente da AMBr e do Dr. Carlos Fernando da Silva, secretário geral da FENAM e vice-presidente do Sindicato dos Médicos do DF.
Queridas confreiras e caros confrades da Academia de Medicina de Brasília: a Diretoria que está encerrando o mandato que lhe foi conferido há quase quatro anos, agradece por celebrarmos juntos esta noite tão especial. Sejam todos muito bem vindos.
Ao assumirmos a responsabilidade de guiar os destinos da nossa instituição no já distante ano de 2018, tínhamos como principal objetivo transformar expectativas em realidades. Para tanto, precisamos deixar o confinamento das nossas salas e reforçar, com o apoio das demais entidades médicas, nossa presença em muitos outros fóruns.
Com a Associação Médica de Brasília (AMBr), mantivemos uma profícua parceria, participando pontualmente do seu programa de educação continuada e fazendo parte efetiva do corpo editorial da revista Médico em Dia, na qual a AMeB tem uma página aberta a todos os seus membros. Estamos também colaborando para o ressurgimento da Brasília Médica, o principal veículo que os médicos desta cidade dispõem para divulgar suas pesquisas.
Fomos apoiados pela Organização Pan Americana de Saúde (OPAS) na promoção de uma grande retrospectiva sobre a atuação do SUS no Distrito Federal ao longo de seus 30 anos de existência, na qual
um painel de especialistas, das mais variadas áreas ligadas à saúde, avaliou as ações passadas, as condições presentes e as perspectivas daquele Serviço para o futuro.
Com as demais entidades médicas procuramos e fomos recebidos pelos poderes Executivo e Legislativo, oferecendo sugestões e solicitando explicações por tomadas de decisões que ao nosso ver penalizavam o bem estar da população ao mesmo tempo em que prejudicavam o exercício da nossa atividade profissional. Participamos, da mesma forma, da formação de futuros colegas, divulgando o papel e importância da Academia junto a estudantes das diversas escolas de medicina da nossa cidade. No plano nacional, voltamos a participar da Federação Brasileira das Academias de Medicina (FBAM), onde ocupamos atualmente a vice-presidência da regional centro-oeste dessa instituição.
Aumentamos o número de nossas cadeiras – temos conosco mais cinco acadêmicos titulares que escolheram como patronos colegas que honraram e dignificaram a medicina de Brasília no passado e com quem tivemos o prazer de conviver e aprender. Foram eles os Drs. Edson Porto, pediatra, ex-diretor do HRAS e primeiro médico a se instalar em Brasília; Isaac Barreto Ribeiro, cirurgião e primeiro presidente da Associação Médica de Brasília; Miguel Paes de Carvalho, urologista e como o Dr. Isaac, ex-presidente da AMBr; Ady Prates Flores, chefe da unidade de cardiologia e diretor do 1º Hospital Distrital de Brasília de 1967 a 1970 e Milton Rabello Filho, chefe da unidade de cirurgia do mesmo hospital e seu diretor entre 1975 e 1977. Ao Dr. Milton Rabello o Acad. Emérito Dr. Hélcio Miziara dedicou o livro que escreveu sobre o nosso antigo Hospital Distrital de Brasília, o qual já foi distribuído entre nós. Passamos também a ter honra de contar em nossos quadros com um membro honorário, o Dr. Eudes Fernandes de Andrade, referência em urologia na nossa cidade e que ainda hoje será formalmente empossado.
Com o apoio institucional da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Claudio Santoro, comandada pelo maestro Cláudio Cohen, celebramos o trigésimo aniversário de fundação da Academia. Além daquele
inesquecível concerto, a data foi comemorada com a publicação de um livro – acompanhado por uma estatueta representando Asclépio, o deus da medicina na mitologia grega – contendo os perfis de seus membros titulares e eméritos. Essa estatueta passou a representar desde então o símbolo do nosso prêmio científico anual, o qual foi recentemente outorgado aos professores e pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília, os Drs. Riccardo Pratesi e Lenora Gandolfi. Um segundo livro, referente ao cinquentenário de graduação da Primeira Turma de Médicos formada pela Universidade de Brasília (UnB), foi editado e publicado ao final do ano passado. Os dois volumes foram também distribuídos às academias e faculdades de medicina de todo o Brasil.
Infelizmente, tivemos também nosso quinhão de insucessos. Em consequência das medidas sanitárias adotadas a partir de março de 2020, suspendemos todas as atividades presenciais programadas pela AMeB, as quais apenas hoje estão sendo retomadas. Quase dois anos se passaram sem que a Diretoria, que se reuniu religiosamente de modo virtual semana sim, semana não ao longo desse período, pudesse voltar a desfrutar da companhia dos demais confrades e confreiras.
Entre esses insucessos, tivemos que cancelar o curso sobre a História da Medicina, o qual já havia sido credenciado pela Associação Médica Brasileira. Esperamos que a próxima Diretoria, que toma posse em março do próximo ano, consiga colocá-lo em prática, intercalando seus módulos às nossas sessões plenárias. Nossos esforços junto ao GDF para a doação de um imóvel pleiteado ainda na administração anterior, não foram levados em consideração, assim como também algumas das nossas sugestões para amenizar a sempre precária situação dos serviços de saúde oferecidos à população de Brasília.
Adversidade muito maior porém, foi a perda de amigos fraternos, verdadeiros pilares da nossa instituição. Renato Maia, Odílio Silva e Jofran Frejat, no ano passado e Jair Evangelista da Rocha, José Carlos Quinaglia e Silva, Antônio Márcio Junqueira Lisboa (nosso fundador), Geraldo Damião Secunho e Mário Pedro dos Santos, neste ano, se foram. Junto às suas famílias e amigos ainda estamos chorando por
eles, mas por conta da sólida formação médica, do prazer em ensinar, da retidão do caráter, da gentileza no trato, na grandeza do coração e no carinho para com o próximo deles, nos serve de consolo saber que não se foram completamente. São imortais de direito e de fato e permanecerão para sempre em nossos pensamentos: suas cadeiras serão ocupadas por colegas que possuirão o mesmo tipo de DNA e obedecerão aos mesmos paradigmas estabelecidos por eles.
Nesses duros tempos vivemos à sombra da pandemia provocada pelo novo coronavírus. Vários dos nossos membros expressaram opiniões sobre e sugeriram caminhos para o enfrentamento da Covid 19. Termos como “aglomerações, azitromicina, cloroquina, cepas, curvas de achatamento, distanciamento social, lockdown, máscaras, testes, tratamento precoce e vacinas”, entre outros, tornaram-se corriqueiros entre aqueles que defendiam o apoio a essa ou àquela conduta.
Não podia ser de outra maneira, pois a Academia, embora guiada pelo duplo paradigma da ciência e da ética, é uma instituição plural e abriga em seu seio uma grande diversidade de opiniões: nossas experiências são distintas, múltiplas são as nossas especializações, e estávamos diante do óbvio fato dessa virose ser uma infecção até então desconhecida, longe, portanto, de poder ser completamente decifrada em tão exíguo espaço de tempo.
Como dizia William Osler, considerado por muitos como o pai da medicina moderna e um dos cofundadores do Johns Hopkins Hospital, uma das instituições de referência na luta contra essa virose,
“Nenhum ser humano é concebido para conhecer a verdade, toda a verdade e nada mais que a verdade; mesmo o melhor dos homens deve se contentar com fragmentos, com vislumbres parciais, nunca com seu conhecimento completo.”
Mas também sabemos “que momentos marcados por preocupações quanto ao colapso do sistema de saúde e a um aumento alar-
mante do número de contaminação e mortes, exigem não apenas mudanças no comportamento social, mas também na construção de reflexões. Afinal de contas, a eclosão de uma pandemia nas proporções da atual não representa apenas um fenômeno biológico – tem implicações na nossa cultura, na economia, nas relações internacionais e em mecanismos ideológicos. E entendemos também que a saída, além de precisar passar obrigatoriamente pela ação do Estado, deve ser necessariamente coletiva”.
Nesse sentido, vimos com satisfação que o conhecimento acumulado nos dois últimos anos gerou protocolos de cuidados e tratamentos que aumentaram a confiança nas recomendações que visavam, essencialmente, à diminuição da circulação do vírus. Os resultados dessas condutas, especialmente a vacinação em massa da nossa população, são agora evidentes: queda no número de contaminações, internações e mortes. E a bem vinda possiblidade de finalmente podermos nos reunir em segurança. Por fim, e antes de diplomar o Dr. Eudes, quero agradecer a todos os demais membros da nossa Diretoria. Nesses últimos quatro anos trabalhamos num sistema colegiado e em absoluta harmonia, o que só foi possível graças à generosidade, confiança e apoio incondicional dos confrades e confreiras à nossa administração. Ao deixarmos o posto que tanto nos honrou, reiteramos a força dos laços que nos unem. Essa união é, e continuará sempre sendo, o coração e a alma da Academia de Medicina de Brasília.
A todos o nosso mais sincero muito obrigado!
Brasília, DF, 27 de novembro de 2021
