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CURUSSÉ

A Cultura de um povo

Porto Esperidião MT - Brasil 2014


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CURUSSÉ A CULTURA DE UM POVO

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CURUSSÉ A CULTURA DE UM POVO Apresentação No período do carnaval ocorre o Curussé, festa tradicional que passa através de gerações, e que é um marco da cultura de Porto Esperidião, sendo uma dança alegre e envolvente e enraizada na cultura das tradições e costumes indígenas e europeus trazidos para nossa região pelos Chiquitanos da Bolívia, e com uma forte influência católica trazida pelos jesuítas. Uma verdadeira miscigenação de cultura que sobreviveu durante este tempo junto à comunidade nativa, mantendo desta forma, a sua identidade preservada. Constitui-se em uma dança tocada com instrumentos indígenas, como a flauta de taboca ou bambu (chamada pelos nativos de “fifano”), a caixa e o bombo, estes confeccionados de madeira e couro e que dão ritmo à dança tipicamente indígena. O Curussé e dançado somente durante o dia e por dois grupos na sede do município que são o Grupo Nativo e o Grupo Asa Branca. neste informativo, retrataremos alguns fatores que envolvem a cultura Curussé, desde sua origem até os tempos atuais.

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Origem

O Curussé foi criado pelos chiquitanos que migraram para o Brasil, e se instalaram nesta faixa de fronteira que pertence aos municípios de Porto Esperidião e de Vila Bela da Santíssima Trindade, entrando nesta região pelos afluentes da margem esquerda do rio Guaporé e depois se espalhando por toda região. Os índios atendidos pelas antigas Missões dentro desse limites eram chamados de chiquitos pelos conquistadores espanhóis, numa alusão à sua altura, sugerida pelo pequeno tamanho das portas de suas casas (Rister 1979 : 122 nota de rodapé). Há pequenos núcleos urbanos atuais que nasceram e ainda trazem os nomes dessas missões, como por exemplo San Inacio em território Boliviano, que faz fronteira nesta região em questão. Denise Maldi (1989) fez um estudo relatando as relações entre Espanhóis e Portugueses na bacia do Guaporé do século XVIII, mostrando como uns e outros envolviam os chiquitanos da região em defesa de seus interesses. Logo após a expulsão dos Jesuítas, em meados do século XVIII, os moradores da região de Santa Cruz de La Sierra tomaram as casas das sedes das missões, expulsando os índios para a periferia e ainda introduzindo a “encomienda” de serviços pessoais, os chiquitos se viram forçados pelos brancos a trabalhar na extração de látex durante o “boom” da borracha. Com a decadência dessa atividade os chiquitos permaneceram nos “gomales”, mas sem mercado para vender seus produtos, o que os levou a abandonar os seringais levando-os assim a seguir para estabelecimentos rurais para trabalhar com a pecuária e com a agricultura, e desta forma, formaram pequenas comunidades como a de Salitre, que hoje é Porto Esperidião. Os então chiquitanos trouxeram diversas riquezas em sua bagagem, como por exemplo o carnavalito, que é uma dança que tem a origem de seu ritmo no século XIII, na civilização Inca, em cerimônias de agradecimento. O carnavalito chegando ao Brasil miscigenou-se a cultura local e deu origem ao Curussé, que é uma dança com ritmos e instrumentos indígenas e com vestuário típico europeu da época do Brasil colônia. Observamos com estes fatos, que os Chiquitanos não trouxeram somente o carnavalito em suas bagagens, mas também a influência que sofreram dos Jesuítas, com costumes Europeus Católicos. 5


BREVE HISTÓRIA DE PORTO ESPERIDIÃO A Influência do Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon, na formação da cidade de Porto Esperidião. Ao assumir a Presidência da República em 1906, o então Presidente Afonso Pena, chamou Rondon e expôs seu propósito de construir uma linha telegráfica que atingisse a Amazônia, região insólita e totalmente desconhecida, projeto este que viria consolidar sua incorporação ao restante do país. Após a constatação da viabilidade do projeto, Rondon lançou-se à grande tarefa, talvez a mais árdua e audaciosa a ele confiada até então. Em março do mesmo ano foi criado a Comissão Construtora de Linhas Telegráficas, de Mato Grosso ao Amazonas, com objetivo, além da construção de linhas telegráficas, os trabalhos de reconhecimento e determinações geográficas, estudo das riquezas minerais, da constituição do solo, do clima, da vegetação, dos rios, implantação dos primeiros núcleos de povoação, lavouras e pecuária. A linha de Cáceres a Mato Grosso, hoje Vila Bela da Santíssima Trindade, inaugurada em 21 de fevereiro de 1908, possuía em seu percurso as estações de Porto Salitre, hoje Porto Esperidião, e Pontes e Lacerda, além das duas primeiras citadas. Porto Salitre recebeu o nome de Porto Esperidião em 1906, quando o Marechal Rondon homenageou, por serviços prestados a essa região, o Engenheiro Esperidião da Costa Marques, falecido em 1906 em pleno exercício de sua profissão. O Dr. Esperidião Marques, contraiu malária, uma moléstia ainda comum em regiões que estão sendo desbravadas. Em 18 de abril de 1906, o Dr. Esperidião Marques veio a falecer nesta região. Há relatos de alguns moradores mais antigos, que afirmam que seu corpo se encontra sepultado no Cemitério Municipal, localizado na zona urbana do Município. Porém somente em 1920, foi oficializado o nome de Porto Esperidião. Esperidião da Costa Marques, era Poconeano, filho do respeitado militar tenente-coronel Salvador da Costa Marques e de Dona Augusta Nunes Rondon Marques. Aos 23 anos formouse em Engenheiro de Minas, em 1882, pela Escola de Ouro Preto, em Minas Gerais. Voltando a Mato Grosso participou da fundação de um Externato em Cuiabá, e em seguida foi morar em São Luiz de Cáceres, onde se casou. Em Mato Grosso, Esperidião Marques entra para política sendo eleito Deputado Geral, e aos 29 anos de idade participa da redação de um dos mais importantes documentos da História brasileira, a Lei Áurea, em 13 de maio de 1888. Dez anos mais tarde, 1898, se dedicou ao estudo da navegabilidade do rio Jauru, desde a barra no Paraguai até o Porto do Registro. Foi nesta época que seu amigo Balbino Maciel, solicitou-lhe um estudo de viabilidade de construção de uma estrada de ferro ligando Porto Salitre à Ponte Velha no rio Guaporé, pois o mesmo tencionava unir estes dois pontos por meio de uma linha ferroviária. O Posto Telegráfico de Porto Esperidião, imóvel de significativo valor histórico e arquitetônico, marco referencial da ocupação da Amazônia, implantado pela Comissão Construtora de Linhas Telegráficas de Mato Grosso ao Amazonas comandado pelo Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon, foi tombado pela Fundação Cultural de Mato Grosso, passando a fazer parte do Patrimônio Histórico do Estado, através das Portarias n° 64 e 65/1983, publicado em Diário Oficial de 09/01/1984. Em 1987, a Fundação Cultural viabilizou junto ao Ministério da Cultura, recursos para execução de obras de restauração do Prédio do Posto Telegráfico de Porto Esperidião, no valor de Cz$ 416.170,00 (quatrocentos e dezesseis mil e cento e setenta cruzados), sendo que para a primeira etapa a Fundação Cultural assinou convênio com a Secretaria Geral do Ministério da Cultura, no valor de CZ$ 211.170,00 (duzentos e onze mil e cento e setenta cruzados), e a Prefeitura Municipal entrou com a contrapartida no valor de CZ$ 205.000,00 (duzentos e cinco mil cruzados). 6


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A Secretaria Municipal de Educação e Cultura de Porto Esperidião a partir do ano de 2002 busca, por meio de projetos, recursos para a restauração do prédio do telégrafo, mas somente em 2007 é concretizada a parceria entre a Prefeitura Municipal com o Governo do Estado através da Secretaria de Estado de Cultura, e realiza-se a execução de obras de restauração do Prédio do Posto Telegráfico de Porto Esperidião. 8


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O Início do Desenvolvimento. Durante a década de 1940, Porto Esperidião, passa por processo de desenvolvimento: em 1942, instalou-se em Porto Esperidião a II Companhia Militar do Exército, sob o comando do Tenente Monte Negro, e iniciou-se a construção da rodovia que ligaria Cáceres a Vila Bela da Santíssima Trindade. Em 1944, Porto Esperidião passa à condição de Distrito, tornando-se um referencial na região do Vale do Jauru. Em 1947, foi construída a primeira ponte de madeira sobre o rio Jauru, facilitando o acesso a Porto Esperidião, impulsionando o desenvolvimento na região. Em meados de 1950, o Posto telegráfico é desativado e passa a funcionar o sistema de telefonia. De 1954 a 1958 funcionou em Porto Esperidião a Companhia do DNER, responsável pela continuidade da construção da estrada que ligaria Cáceres a Vila Bela, que foi iniciada pela companhia do Exército. Durante este período Porto Esperidião foi servido de energia elétrica, em algumas ruas, pelos motores do DNER. Esta Companhia trouxe outros benefícios, como a construção da primeira Igreja, que foi construída em parceria com a comunidade, onde o DNER entrou com a mão-de-obra e a comunidade com o material que foi adquirido por meios de festas como a tradicional festa 13 de maio. Em 1956, o DNER construiu a segunda e última ponte de madeira sobre o rio Jauru. A construção foi comandada pelo Sr. José Azevedo. Em 1958, o DNER, conclui os serviços em Porto Esperidião e retira a estrutura da companhia instalada no Distrito, e com isso é retirada da rua a iluminação que tinha sido colocada pela empresa. Em 1974, é criada a Associação de Amigos de Porto Esperidião que consegue, junto à Prefeitura de Cáceres, um motor estacionário que é mantido por esta associação funcionando três horas por noite.

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Em maio de 1982 é aberta ao tráfego a ponte de concreto, e no mesmo ano inaugura-se a estação de fornecimento e tratamento de águas públicas do Distrito de Porto Esperidião. O Governador Frederico Carlos Soares Campos, em 1982, lança o projeto de expansão de redes de energia elétrica de Cuiabá até a Comunidade de Tabuleta (atual município de Glória D’Oeste), restando ainda mais 13 quilômetros de rede para atingir Porto Esperidião. Cientes do projeto, moradores de Porto Esperidião formaram uma comissão, que procurou o Governador e o candidato ao Governo – pois se encontrava em período de campanha eleitoral – Júlio José de Campos onde este fez o compromisso de que, sendo eleito, ampliaria a rede de energia elétrica até o Distrito de Porto Esperidião. Em 1984, a Prefeita Nana de Cáceres doou um motor gerador, não controlado mais pela Associação Amigos de Porto Esperidião, e sim pelo Vereador eleito pelo Distrito de Porto Esperidião Márcio Rodrigues e sendo assim a Prefeitura arcava com todas as despesas. Em 13 de maio de 1985, foi instalada definitivamente a rede de energia elétrica em Porto Esperidião com a ampliação da rede de Tabuleta ao Distrito. No Governo do Presidente José Sarney, o Plano Cruzado levou vários produtores do País a uma situação de quase falência, e Porto Esperidião vivia basicamente da sua produção agrícola, tendo inclusive produtores agrícolas sendo premiados por sua produtividade. Porto Esperidião passa a viver uma situação nova, onde para vários produtores, em situação financeira crítica, a agricultura não compensava mais e se tornava muito arriscada. Mediante a esta nova realidade do País é que na região, a agricultura, antes considerada como a maior fonte de renda, foi sendo substituída pela pecuária bovina.

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Emancipação Política de Porto Esperidião A primeiro processo de emancipação política de Porto Esperidião ocorreu em 1964, porém não foi à frente devido a situação que o país se encontrava, diante da implantação da ditadura militar. O Congresso Nacional havia sido fechado, e em conseqüência disto todo o trabalho nas Assembléias Legislativas dos Estados encontravam-se paralisados. Nesta época Porto Esperidião era referência na região do Vale do Jauru, pois era o único Distrito da região que possuía um cartório em pleno funcionamento, onde toda região o utilizava para registros de casamento, nascimento, etc. Em 1986, retorna o desejo da população de Porto Esperidião de emancipar-se politicamente de Cáceres. Desta forma, forma-se uma comissão de moradores, tendo à frente o Sr. Januário Santana do Carmo. Após a formação da comissão, esta procurou o apoio do Prefeito Antônio Fontes de Cáceres, e Vereadores do Município, porém o que encontraram foi a rejeição dos

mesmos pela questão. A Comissão pela emancipação encontra apoio no Deputado Samuel Greve, que leva a frente o projeto de emancipação, sendo contrários os Deputados Ernano Martins e Walter Fernandes Fidelis, que não concordavam com a emancipação política de Porto Esperidião. O Deputado Ernano Martins, mediante o avançar do Projeto sugeriu que a Comissão de Emancipação mudasse os limites territoriais do projeto de emancipação do Distrito, alegando não aceitaria que Cáceres ficasse sem toda aquela região, sugerindo que fossem retiradas do projeto as regiões de Limão, de Roça Velha e de Baía Bela, tendo como limite a região da Baía Grande. O Presidente da Assembleia, para resolver o problema, sugere à comissão que aceite a Baía Grande como limite para o novo Município, e que no futuro lutassem pela parte que estaria sendo excluída, tendo sido aceita pela comissão. A Lei Estadual n° 5.012, de 13 de maio de 1986, criou o município de Porto Esperidião, cuja instalação deu-se em 01 de janeiro de 1987, com a posse do Prefeito Januário Santana do Carmo, Vice Prefeito e vereadores. 14


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FESTEJOS DO CURUSSÉ Sábado de Carnaval, o início do Curussé No sábado de Carnaval, a festa tem seu início na casa do festeiro, onde este recebe os seus convidados e principalmente os músicos do grupo, que irão se preparar para os três dias de festa que terão pela frente, e é como se fosse um ensaio ou uma concentração do grupo. Os convidados vêm de diversas partes do município e até alguns que não residem mais em Porto Esperidião, vindos de outros municípios do estado para se reunir aos componentes do grupo que pertencem em uma verdadeira fidelidade à bandeira do grupo. É no sábado que ocorrem os últimos ajustes: no enfeite do barracão que é coberto de palha e bem rústico, porém é enfeitado com bandeirolas coloridas, as utilizadas em festas juninas, deixando-se o ambiente alegre; no vestuário principalmente da Rainha e da Princesa que são confeccionados com tecidos cintilantes e com anáguas por baixo das saias deixando o vestido armado. Também é utilizado no vestuário um tipo de luva que se prende a um dos dedos e cobre o antebraço e na culinária típica da festa principalmente nas bebidas. A reza O Curussé ocorre somente durante o dia, e é durante os três dias pela manhã que acontece a reza para que possa assim iniciar a festa com proteção. Na reza deverão participar todos os membros do grupo principalmente o Festeiro, e os músicos juntamente com o Rei, Rainha, Príncipe e Princesa. A cerimônia é tipicamente católica onde é dirigida pelo festeiro, que pede proteção para todos de forma que o Curussé ocorra em paz e com harmonia. É comum que os mais idosos rezem em Espanhol ou em “dialeto”, assim denominado pelos nativos. A reza ocorre no barracão da festa, onde se coloca uma mesa com a imagem do santo ou santa protetora do festeiro, e é o momento que o festeiro aproveita para explicar o grupo à importância do Curussé, e pedir para todos se divertirem em paz. Domingo, em visita pela cidade Os grupos, após a reza de domingo, saem em visita pela cidade apresentando as suas bandeiras e sua animação, podendo visitar as casas que forem convidados para se apresentarem, e durante esta saída a população vai se incorporando aos grupos, fazendo com que cada vez mais fique animado e aumentando o número de componentes. A bandeira do grupo juntamente com a Rainha, o Rei, a Princesa e o Príncipe vão à frente do grupo puxando assim os demais componentes que vem logo atrás de mãos dadas formando uma grande corrente, aonde vão dançando com passos para frente e para trás. Após visita a cidade retornam ao barracão do grupo onde vão dançar o resto do dia sempre em forma de roda e acompanhados de muita bebida que pode ser a chicha (bebida alcoólica, feita de milho) e o aluá (também de milho, mas sem teor alcoólico). O Curussé é dançado por todos: crianças, jovens, adultos, idosos, nativos, migrantes e visitantes que não resistem ao convite do som produzido pelos instrumentos artesanais e pela energia contagiante que a dança proporciona. No passado eram produzidas tintas pelos componentes do grupo para nestes dias de festas pudessem pintar um ao outro, estas tintas eram feitas à base de urucum e batata de açafrão e ramo arnica.

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Os instrumentos musicais utilizados no Curussé Tendo em vista que o Curussé não é cantado, os músicos passam a ter uma grande importância, pois são eles que determinam o ritmo da dança. Os instrumentos são produzidos pelos próprios músicos, e são utilizados três instrumentos básicos que são: o “fifanu” (flauta feita de taboca), caixa e o bombo feito de madeira de tamburi e couro, sendo hoje de carneiro, porém alguns anos atrás eram utilizados couro de veado campeiro que segundo os músicos produzia um som de melhor qualidade. O tocador de “fifanu” é responsável pelo tipo de ritmo a ser empregado, tendo em vista que são utilizados basicamente três ritmos e sempre começa com o toque do “fifanu”, e é bom esclarecer que cada ritmo tem o seu propósito e seu momento para ser tocado.

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Segunda-feira, a visita entre os grupos.

Após a reza os grupos saem novamente em visita pela cidade, só que desta vez, sendo combinado entre os festeiros, há visita de grupos ao barracão do outro grupo, onde se proporciona um clima de confraternização entre os grupos, formando um único grupo. Os músicos dos grupos se alternam durante o encontro, fazendo com que os foliões fiquem dançando e brincando o tempo todo, mas o que é mais impressionante, nestas visitas, é o encontro das Rainhas onde é lançado uma espécie de “desafio” entre rainhas, onde desenvolvem uma dança, girando o corpo onde as saias de seus vestidos longos, se tocam. Chicha e Aluá, bebidas típicas do Curussé.

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A chicha é uma bebida típica muito utilizada nos festejos e a sua origem é boliviana, sendo muito utilizada na sua região de fronteira. Ela deve ser preparada da seguinte forma: coloca-se o milho em grão para cozinhar e depois se leva para o pilão o milho cozido, ainda quente, onde deve ser triturado com açúcar, depois de triturado espera esfriar para ser coado e colocado no pote, de preferência de barro, para ser servido. A bebida fresca, recém feita, não tem teor alcoólico, porém após algumas horas ela passa ser alcoólica devido o processo de fermentação que sofre, é dito pelos mais idosos que na Bolívia, para facilitar a fermentação é mascado o milho, por crianças e/ou senhoras idosas, e colocado junto ao milho que está sendo triturado no pilão. A chicha também pode ser feita de mandioca, porém não é muito utilizada nos tempos atuais. No início da formação do município, quando estava formando as fazendas era utilizada a chicha, tanto a de milho como a de mandioca, para os trabalhadores braçais entre intervalos de refeições para sustentar os trabalhadores do esforço físico empreendido. O aluá tem a mesma origem, porém é refrescante e não alcoólico. Ela é preparada da seguinte forma: torra-se fubá em um tacho, depois dissolve-se o fubá torrado em água fria que é colocado em uma panela com água fervendo, que imediatamente deve ser retirado do fogo, e espera-se esfriar com a panela destampada, para em seguida ser colocado na geladeira e só será adoçado no momento que for servido.

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A juventude O Curussé é uma festa para todas as idades, porém houve época que não foi valorizada pelos mais jovens, devido ao processo de migração, onde pessoas desconheciam a cultura e por este motivo a desprezava, levando assim a um processo de preconceito, tendo os jovens um maior impacto nesta situação, pois freqüentavam o mesmo ambientes dos migrantes, principalmente a escola que era única na sede do município, sofrendo assim um preconceito quanto a sua origem. Hoje com o Curussé cada vez mais reconhecido e valorizado, vai se perdendo o preconceito existente, pois a partir do momento que se tem o conhecimento da cultura passa ter o respeito, e é este o maior objetivo deste trabalho.

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Terça-feira, o último dia do Curussé. O último dia de carnaval é o dia mais significativo para o Curussé. Pela manhã é feita a reza onde tem a maior participação da comunidade, nestas cerimônias ocorrem agradecimentos ao Santo Carnaval, que nas pesquisas feitas para a produção deste material não foi encontrado nenhuma referência, o que foi encontrado foi a respeito a Deus Carnaval, se referindo a um deus pagão. E logo após a reza é que ocorre um dos momentos mais sublimes que é o toque da bandeira, onde o “flauteiro” determina um ritmo diferente e é acompanhado pelos tocadores de bombo e caixa para a saída, pela última vez no carnaval, da bandeira que é acompanhada pelos foliões pela cidade. Na terça feira é que ocorre o encontro dos três grupos, formando um belo espetáculo de folia e confraternização dos grupos, é escolhido pelos festeiros um local público de preferência uma praça onde a população fica à espera do encontro. A passagem das bandeiras para o festeiro do ano seguinte. Na terça feira, no período da tarde após o encontro dos grupos, os festeiros recolhem os seus componentes para o barracão do grupo onde ocorre a última reza e o festeiro faz um sermão agradecendo pelo Curussé ter ocorrido em paz e harmonia e pede a todos que tenham responsabilidades em suas obrigações. E é durante esta cerimônia que é escolhido pelo grupo o novo Rei e Rainha para o carnaval do ano seguinte. Durante esta cerimônia pode ocorre a passagem das bandeiras para um novo festeiro, passando assim a responsabilidade do grupo para outro componente, seguindo um ritual na passagem das bandeiras, que é explicado pelo festeiro a toda a comunidade e principalmente ao futuro festeiro. Primeiro é passado à bandeira vermelha, que representa a luta, a guerra e o sangue pela sobrevivência, depois a bandeira branca que representa a paz e harmonia que devemos buscar, por último a bandeira verde representando a esperança que todos devem ter. Após a entrega das bandeiras é encerrado o Curussé pelo festeiro desejando a todos a um bom retorno a suas casas.

Aymará: A origem perdida

Durante as entrevistas, para realização deste projeto, surgiu um fato interessante que com certeza merece um estudo mais aprofundado, estaremos relatando neste tópico, esta descoberta da origem do povo nativo de Porto Esperidião. Foi descoberta uma terceira língua de uso do povo nativo, denominada de “dialeto”, usado ainda pelos mais idosos e pelos nativos que se encontram nas comunidades de fronteira do município e dos moradores de San Inácio, na Bolívia. Buscamos por meio de estudo bibliográfico, entrevistas e internet a resposta para o que significava este “dialeto”, e o que nos leva acreditar que a língua em questão é aymará, língua falada por uma grande população que vive nas imediações do lago Titicaca, Bolivianos e Peruanos que vivem nesta região.

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Projeto Cuité Curussé. A Secretaria Municipal de Educação e Cultura, em 2001, consciente da importância da cultura na identidade de um povo e preocupado com as perdas das tradições, elaborou um projeto para resgatar os valores culturais e reafirmar as tradições existentes como é o caso do Curussé, que apesar da sua forte influência na sociedade corria o risco de se perder ao longo do tempo ou se tornar simplesmente uma dança com história e origem desconhecida pela sua sociedade e ou até sofrer influência de outras sociedades e se descaracterizar. O projeto Cuité foi elaborado na Secretaria Municipal de Educação e Cultura juntamente com o Departamento de Esporte, Turismo e Lazer. Objetivamos com este projeto resgatar a auto-estima de um povo e levar conhecimento de toda a sociedade a riqueza de uma cultura com influências indígenas e européias, uma legítima cultura matogrossense, onde a sociedade (nativos e migrantes) possa conhecer e desfrutar desta cultura com respeito e admiração O projeto teve como princípio a criação de um grupo de apresentações da dança do Curussé. Durante os anos 2001 à 2004 foram realizadas algumas apresentações em festivais de cultura como por exemplo, Festa Internacional do Pantanal, Festival de Inverno em Chapada dos Guimarães e o Festival de Cultura de Campo Novo dos Parecis; além destes, o Curussé foi divulgado pela imprensa por meio de jornais em nível de estado (A Gazeta) e jornais da Região da Grande Cáceres, além de ser matéria da Revista da Manhã na Rede Gazeta de Televisão. Hoje, 2014, buscamos o reconhecimento através do registro desta cultura como Patrimônio Histórico de Mato Grosso. Curussé é a cultura de um povo da região de fronteira de Mato Grosso com a República Federativa da Bolívia. Cultura regada de tradições e características próprias de uma riqueza única com forte miscigenação de cultura indígena, européia e com influência das Missões dos Jesuítas que no passado se instalaram nesta região.

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