Anais do IV Congresso Brasileiro e I Encontro Internacional de Terapia Comunitária

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Iniciaram-se ali os sintomas de mania de limpeza, pois segundo ela, “foi como se o cheiro de coisa podre” (sic) permanecesse em suas narinas. No último mês, tais sintomas agravaram-se ao perceber que estava ficando velha e não teria filhos. Passou a ter medo da dependência e da solidão. Seu marido, depois de anos afastado do mercado de trabalho, voltou a trabalhar e lhe pediu que diminuísse suas atividades como faxineira diarista, o que a fez sentir-se ainda mais solitária, levando-a ao colapso de limpar o próprio barraco de 3x4 metros durante dias e noites sem parar. A TC lhe possibilitou relembrar e re-significar seus pensamentos, reestruturando-os para novos projetos, como o de viajar ao nordeste, rever a família e se divertir depois que uma usuária do grupo destacou que com o nome de flor, ela levava perfume onde quer que fosse. Dona Alzira (nome fictício), uma senhora de oitenta e nove anos, revelou sorrindo que recentemente deixou uma panela de sopa no fogo e foi “descansar os olhos e acabou adormecendo” (sic). O grupo a escolheu como protagonista e algumas pessoas verbalizaram o incômodo que sentiram em ouvir sua fala divertida, como se contasse uma piada, sem se dar conta do risco de morte que sofrera. O desenvolvimento do encontro a faz perceber que não desejava completar noventa anos. Estava com medo de se tornar dependente, que a família não a deixasse continuar morando sozinha, embora estivesse com boa saúde e autonomia. Percebeu que estava “em busca da morte” (sic) e refletiu que “não adiantaria esta peripécia” (sic). Perdoando-se por realizar tal manobra, retomou sua alegria genuína, deixando, pelo menos tão intensamente, de pré-ocupar-se com o avançar da idade. Rubens (nome fictício), um senhor de cinqüenta anos, com tremores e muito nervoso veio pedir renovação da receita de benzodiazepínico em uso por quinze anos iniciados após episódio de depressão em situação de desemprego. Discussões na equipe de matriciamento resultaram na indicação de TC, grupo de caminhada e esquema de redução programada da medicação. Este projeto terapêutico o deixou com ansiedade diante da idéia de ficar sem o medicamento, achando que não iria conseguir. Não aderiu ao grupo de caminhada, embora tivesse tempo livre para fazê-lo, mas tornou-se participante assíduo da TC e após seis meses, comemorou no grupo o fim do esquema de redução da medicação dizendo senti-se confiante que dali em diante conseguiria viver livre do remédio. Um último exemplo, Adriana, para quem após o acolhimento, foi indicado TC e meditação, afirmou que não poderia faltar ao trabalho e optou em participar somente da meditação. Apresentou mal estar no trabalho (tremedeira, desmaio, falta de ar e angústia). Veio à unidade para se consultar com o clínico que a inseriu no matriciamento. A psiquiatra lhe prescreveu fluoxetina e o clínico, integrado no projeto terapêutico da paciente, deu continuidade às prescrições. Na ocasião, paciente solicitou afastamento do trabalho dizendo não conseguir desempenhar mais suas funções, evidenciando possíveis sinais de grave depressão. Diante de tal pedido, o médico sugeriu, segundo a paciente, que ela esperasse que o remédio começasse a fazer efeito e iniciasse TC, o que ela ainda se mostrava relutante, porém passou a fazê-lo com a piora das crises.

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