E EU TER PÉ

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Editora Abismo Humano abismohumano@gmail.com Título: E Eu Ter Pé Autor José Amaro Prefácio: André Consciência Capa: André Consciência Ilustração: José Amaro © Abismo Humano, Março de 2015 Composição e paginação: José Amaro


Prefácio

José Amaro, nascido em Castelo Branco, estuda psicologia em Lisboa. É, se não um poeta e prosador em ascensão, um artista da palavra que, vivendo numa época de rápidas e numerosas transformações, propõe a transformação enquanto estética poética. Segue claramente uma linha simbolista agraciada pelo rasgo do que de melhor se aproveitou dos autores surrealistas, adoptando a atitude de uma existência humana enquanto ser mítico e mitológico. Esta fase da sua obra apresentará um contacto directo ou indirecto entre os pintores românticos e os dadaístas, ou entre a obra dispar de Isidore Ducasse e Antonin Artaud, seguindo o que denominaria de um existencialismo barbárico e heróico, em que o experimentalismo naif se afunila para desembocar na planície da filosofia representada nas personagens conceituais, seguindo essa mesma raiz de niilismo heróico que Friedrich Nietzsche introduz. José Amaro surge então aos olhos do leitor como um estranho numa terra alienante, mas com os pés sempre assentes na primordialidade a meio de uma poeira de urbanismo, que, estranhamente, nos conduz para a espiritualidade captada no que imaginariamos ser uma Suméria tecnológica. A individualidade primal dos personagens assemelha-se à do homem-buzio, que porta às costas um pedaço da sua casa de origem e, não dependendo se não da sua memória visionária, em tudo o que faz é ambos civilizador e destruidor. É curiosamente aqui menos objectivo o plano urbano e o imaginário actual, pois que é decadente e a decair, e é o presente que é o local alienante, enquanto mais objectivo o plano imemorial em que só sobrevive o que pode ser verdadeiro e eterno, movendo-se assim a obra não de um realismo para um simbolismo, mas de um abstracionismo para estes aspectos simbólicos. A cronologia é mapeada unicamente pela relação metafórica das anotações, dispostas numa espiral criativa que fazem desta obra um documento a não menosprezar. Ao passar a leitura pelas páginas, a acidez sarcástica do autor começa por despertar um ceptisismo saudável que recai sobre o próprio, cepticismo este que só permitirá surpresa na progressão da narrativa poética, caracteristica do escritor que para defender e definir a sua arte, não teme o olho critíco. André Consciência


Eu sou o narrador. Olá. O meu nome é Máscara, o teu nome é Espelho. Se quebrares o teu nome verás que te perdes, se quebrares o meu nome verás que te encontras. O que está escrito é tanto meu como teu, como de ninguém. O que está escrito é o que nos cria e nos permite existir, portanto o que está escrito não existe, é somente uma concha vazia através da qual o Nós emerge. Estas palavras são o limite da concha, as paredes. E tu perguntas: como é que algo que não existe tem limites, paredes? E eu não sei responder.




Isto é ARKH. Tens medo do quê? O que é ARKH? Tens medo do que vais ARKH? Por cima dos telhados vê-se uma Lua de lixo. Eu conheço esta Lua de lixo. Noites e noites, eu, a lua de lixo e o deserto. Abanamo-nos ao sabor da noite. Ui Ui Ui ÁUUUU ÁRrrK, ÁRKH Esta é uma cidadela das vontades perdidas, das vontades em chamas, dos crematórios de pensamentos. Odores nefastos e doces sensuais. Orgias orgânicas. Mentiras de carne. ARKH não é nada. ARKH não é tudo. ARKH é nada e tudo no final do começo de cada um, ou, por outras palavras, SNIVÁDIVEND.

Gnomos amarelos

O poder dos gnomos pela perda da terra Escuros grãos de negra terra Assaz sangue e metal em marte Pela ave que voa e que parte Incertas paragens e fins melódicos Em nuvens alheias ao púrpura dos céus Sabendo águias e pesca, sem fé nem propósitos Terei Cristo crucificado, véus de peluche Saberei ontem hoje E corvo de cristal Diz-me se agi mal


Terei sempre fé nas cartas Enforcado o homem afogado Saberei um dia quando parar Não me ensinaram a respirar

E eu não sei

Pois no final os rinocerontes não salvaram ninguém Pensava em lábios e em curas Nem pensava, sub-pensava as incoerências do costume Não me tenho em grande conta e tudo se reflete na forma de olhar os ténis Não, não em olhar os ténis, no espelho, tudo se reflete no espelho Ou quase tudo Nada como gritar aos inocentes Loucura e fogos meu irmão Loucura e coisas verdes por dentro que ninguém sabe o que são E eu não sei Pergunta à velha obesa Coisas da vida meu irmão E as crianças Não esquecer os inocentes de olhos alados Quanto inocência nesta colmeia, quantas perguntas de escuridão Quantas mortes por metro e quantos sonhos por meia dúzia de coisa nenhuma Não eu não sei Não querendo subtrair-me a mim próprio Às vezes vejo cabelos que sufocam


Às vezes, óh às vezes penso que vou morrer por coisa nenhuma Os ciclopes não serão felizes A noite faz calar as ofensas e ouvimos os grilos Ai…os grilos, a morte está nos grilos Surdo-mudo ao luar Banhado por um fluido medicinal que não existe nem podia existe Mesmo que o quissese mais que a tudo Mais que terra céu e mar Mais céu e estrelas e escuridão E eu não sei meu irmão, nem quero saber Não quero, não sei Tenho coisas em mim Coisas que ninguém acredita mas toda a gente sabe Saber e calar é pecado Mas a verdade no silêncio é o presente dos deuses Loucura e fogo na boca das crianças Estou farto da minha boca

PiRaTAs

Couraças Azuis Por mais silêncio No mar que faças fogo dos oráculos de pedra Tolo! Homem-flor, sem pernas, sem braços Gnomos amarelos no perímetro anestético Da antigonografia


Os clássicos são uma seca. Mijei em cima das estrelas Elas não se apagaram Mas eu também não parei de mijar Migalhas de reis, coisas vermelhas, perdidas

Piratas de veludo com olhos de cristal Este navio é a liberdade. Velas negras ao vento, Cinza das marés do norte, morte. Águas selvagens para as nossas selvagens vontades. Temos rum e um punhal para qualquer Um. Ar mar parceiro Cortar castelos ao meio Ar Mar Par do céu Por cima da veia voraz Dos Corsários Cromáticos

Rumo à tempestade Cruéis Cavaleiros corsários Nos meus olhos Elipses elétricas, vermelhas e sede no ar A Besta ruge ARKH! AAAAAAAARKH O aço orgânico da minha montada estremece


Contorcendo gemidos de besta-máquina mecanicamente horrorizada Rumo à tempestade Chegares antes da séti7ma Lua se por

IViT marcha metálica. Capitão de metal violou bailarinas ciganas. Moedas de ouro e sangue virginal. Pan-queca. Invocaram Pan com uma moeda. Pan-queca. Aqui não entram vegetais. O ferro, entendam. Antepassados são ferrugem. Tenho pena por vós da areia, nobreza vermelha não é carne cortada, suor de medo triturado por bronze, e não te esqueças dos gritos. Que venham as donzelas em roupas de papel. Tenho fósforos, fósforos e vontade de comer. Arder as peles. O cheiro do véu em chama clama cortinas a arder, viadutos de fogo, que belo o ruído, que belo o ruído.

Em IViT as paredes são o Ferro gasto de ARKH, mais nada se gira senão o metal escondido, o metal inerte que caiu em desuso e foi restituído pelo metálico comando das bestas de Marte. Senão por sombras zumbem os abismos e dizem Somos um metal Morto

IViT chegou Mal e dor na queda do passado A Besta quadrada cheirou os sovacos do dono E aspirou em grandes convulsões A proximidade da menina de branco


Era a guardiã luminosa do Mal E entregou as chaves ao tio Entregou os vestidos à tia Entregou os anéis ao pai E foi nua Pela praça E cantou à aurora o raiar E esperou

Obelisco da noite eletrizada por vermelhos

Ventriculei, disse carne fresca Fresta, festa, Formigas. INsetos, centopeias nas veias estéreis Prédios queimados, perda de sangue Perdição, sangue, seco, tudo, seco, sexo, seco Devastação, descoloração descaída e veias secas Centopeias secas, teias cheias e A-RAC-NÍDEOS Nídeos ídeos, párias da morte ideal Ideas-carne nas veias da vista. Aranhas prenhas com ideias feias de Moscas Tortas, porcas, tostas, postas na mesa, surpresa Vista mista, prédios escorregas ébrios de tédios sangue Das estranhas aranhas, manhas da mãe Centopeia. Testa. Fogos feias fáceis INS-tru-mentos Repete, INS-tru-mentos, lentos acres ocres fortes


Repete, INS-tru-mentos, engrenagem inseto reto Hábil e móvel imagem pajem real do mundo morte Sangue do rei, IN-seto. Ó-PE-RA-CI-O-NAIS, quais alentos tais no mundo máquina dos pais aranha. Variantes máquinas, práticas, car-NÍVORAS Antes varandas ósseas, pragmáticas, práticas, pórticas Car-NÍVORAS, devorantes antes e depois máquinas Mortas feitas formiga perdida em quânticáquatica Mecânica e prática máquina morta na porta A-RAC-NÍDEA.



O Barão Vermelho disse: EU, nébula de aço. Eu, fogo das entranhas da montanha. Quero virgens a arder de dentro para fora. Tenho sede, que sede me assalta. Quero beber-te os ossos. Tenho fome, que fome me assusta. Quero comer-te os olhos. Tenho uma cruz e uma faca. A minha cruz de metal vermelho. Não preciso de escudo nem de espada. Cruz que mói miolos redime esta pobre alma. Alma pobre de criança órfã. Alguma vez torceste o pescoço a um órfão? Segurando na sua inerte, frágil cabecinha é possível ver a face de Deus.

O verde da morte come-se nas entranhas da grande Besta. Descrevo em seguida a grande Besta de ORDHK. Negros olhos, cornos negros, negra opulenta figura, lenta e moribunda, espumando o verde da morte esperada. Nada nos pântanos nevoeiros da grande cidadela me inspirava tamanha repulsa. Lia nos podres olhos da grande Besta uma inaptidão para a Realeza. A bênção da grande Besta é a consumação da Impotência.

Denúncia real ao povo toupeira

Escombros apodrecidos, metais fumegantes de fungos e podridão, podridão, podridão. ARKH! ARKH no mau cheiro inferior! A cidade da miséria, da pestilência, a grande cidadela esgoto de pântanos nucleares, ARKH! Tenho vómitos de tocar nas minhas recordações dela.


Lá reside o infame povo toupeira. Pobres coitados de vil compleição, besta sem uso. A sua existência dá um propósito a ARKH. Ser o asilo do povo toupeira. Por esse motiva deixamos ARKH persistir.

A guerra dos pardais começou com choros e gritos. Azul feiticeira da nuvem murmurante, morre com a chuva de lanças e raios e tudo o que é vermelho por trás. Ó gritantes pedras pelo ar, as catapultas de línguas de fogo cheiram mal, cheiram mesmo muito mal. É a descida do óleo selvagem e dos ares queimados pelo grito da morte, ARKH como te amo o aroma silvestre a metal apodrecido. A tristeza e a tragédia da rainha não deviam ser inexplicadas à luz petrolífera das esferas azuis. EU avisei sua majestade do perigo de lidar perto dos sapos, coisinhas nojentas e saltitantes, a sua raça é de matriz insuportável, nauseante de pântano preto. Eu sabia que as estrelas não ouvem coaxos, as estrelas ouvem a espada do guerreiro, o grito de pura, fria, fúria real. A guerra dos pardais acabou com choros e gritos. Azul feiticeira de joelhos no topo da torre, pede que a perfure com um olhar calado, ergo a minha espada vermelha, cuja forma é a de um majestoso falo, perfuro o seio direito e sorrio. Ela pergunta: Que te move tamanha horizontalidade? Por ventura não saberás projetar-te noutra direção? Eu respondo com choros e gritos, como me tentam as mulheres de azul. Temo acabar a rir-me perto dos seus dentes e morder-lhe a língua por vontade de agradar. Removi-lhe os dentes um a um mas deste estudo não deduzi nenhuma sólida propriedade da bruxa. Descansei os olhos por 5 horas.





Em MÓk existe uma regra: -| Nada e tudo são transmutáveis. O terceiro que redime os dois é a substância. O ente e as transformações que lhe estão associadas. O objeto de estudo na torre é a manipulação consciente e direcionada das metamorfoses da substância. Não existem limites para o estudo, nenhum formato é ativamente enforçado. O aplicante é encarregado com uma questão, cuja resposta lhe dá ou não entrada na Torre. A partir daí a progressão dá-se na mesma mecânica de pergunta-resposta, sendo as perguntas feitas pelos Mestres. Uma hora ou um século, ou nenhum século, podem fazer de um iniciado um Mestre. A máxima seguida no problema do reconhecimento é: A face de um Mestre denuncia-O.

Por dentro, por fora formam a mesma substância. A escolha de um é a sombra do outro e a escolha é o fim da pureza. Onde acaba o ser? Onde começa o grito que sabe, a voz que clama, o mágico cetro que tudo submete a si.


O teu poder para afetar o mundo é limitado, mas o mundo é ilimitado em tudo. O teu método é também o mundo e também ilimitado em tudo. O terceiro escondido é como fazer o teu eu, ou método, em tudo, ou como não o fazer. A ação e a inação estão ligadas. Através da inação faz-se tudo sempre, só que sem o sabermos. Fazer é roubar ao nada um pedaço e se isto é possível é porque: Ou algo o fez primeiro e criou uma falha no nada Ou fazer e ser é sempre presente com nada Numa estranha bola cinzenta Não tem nome, é o inominável, chamamos-lhe KUM




Nilo dos juncos Águas macias do avô crocodilo O cheiro do solo húmido, fértil, vivo As ancas da princesa A barca dos reis e eunucos que espreitam Os olhos da lua, esmeraldas antigas de Isis Da mãe do Sol sagrado Ó Nefertiti das vestes púrpura, dos cabelos do Abismo, das vozes dos mortos Tu és a flor e o ninho das Víboras

Nos planos dos verdes clamorantes Por si por cima de impávidas cabeças, Numa única gota de azul No mar trovejante dos gritos das focas Permanece são e sábio o Deus do Deleite

Diz: Desleixa-te pertinente passageiro Desleixa o ímpeto, desleixa a marcha Ouve o som do assombro Ouve e haverá silêncio no susto da cor, No custo do toque, no desamor do sabor

Metal, ó metal te digo Não cantes comigo a mecânica Não tentes, não sentes


Não sabes que não há saber

Sereno, o manto límpido do ímpio Nascerá em mim

Nunca o pleno!, nunca, Nunca hoje e ontem, nunca sempre, Sempre nada nunca!

Sempre Tudo Sempre

Conheci uma rapariga feita de espuma. Não tinha dedos, o que conferia propriedades místicas ao brilho do seu olhar. No crepúsculo da minha razão ela cantou-me o seguinte, enquanto os ratos me embalavam em submersão:

Não temas as danças do espetro No aspeto da flor que cresce em vasos de sangue E Leite morno sobre as ancas És tédio e passeio ébrio pelo hálito quente De todas as ruínas das musas esquecidas Repugna-te quanto no fundo do oceano Te deslavarem as mãos incapazes e te sorrirem sem boca Nem dentes de marfim para palitar a inércia

Respondi-lhe com pés, pulsos e língua. O seu corpo coral foi pasmo estático na visão da minha dialética dançante. Mordi-lhe o mamilo esquerdo e sussurrei: Corta-me os olhos Cheira-me e diz-me


Chora um grito de mim mas ri-te Minha irmã, minha amada Tenho a alma quebrada pelo peso do nada

Unhas pelo sangue, Górgonas sem dono no templo sob azul. Vastos vazios olhos como vastos vazios sonhos, Corais de pedra. Safiras lágrimas da cidade submersa Serenas sereias, mortas há séculos Ondinas vagas. Ondas de esquecimento sobre eras de paz oceânica, Ruínas do mar antigo, respirando sal e algas. Atlante castigo à união com o silêncio, que une e dissolve o Passado. Deus Crustáceo sorridente, ajoelhado na coxia.

Sobre a Anca da feiticeira Azul-Verde Cadelos de Algas O esperma dourado Do Homem-Peixe


Sei ser silvos mudos portadores da verdade. Virão falos voando, nenúfares de piedade, ímpias águias solares nos mares de TUDO, por aquela negra joia no fundo do mar, o pendente dos ASSASSINOS. Crustáceos Aztecas cheiram o Clitóris-pérola, macia, ébria torrente de corais vibrando as cores da melodia virgem dos planos abissais. Curtimos, cortante, o som Sem pernáces loucos e preocupações com coisas. A enfim temporada dos braços cor da foice, do tempo das eiras, trigo tri-colhido para os Deuses. A mim veio a música como um louco masturbatório da temporada dos pardais sem olhos nas entranhas, pendurados nos capilares das mulheres, a mim cheira-me a coisas. Temo teimar a vida em mútuas inexplicações, esta frita, morta batata é um dom de Bkatar, que me deu os olhos da Serpente. Não como querelas indiferentes à inocência dos Deuses. Tremo temidas águias com lábios de saliente, inexperiente, amorfidade, beleza. As coisas caíram no mar das tuas tetas. Estranhas tretas descaídas, por fim no fundo do mar, aquele estúpido estará a supor que coisas são monstros, coisas são a fruta do fundo do mar, perfumes dançantes na mão das estrelas.

Destruí a forma Repeti a oração Crucifiquei as minhas duas filhas Queimei os cabelos e sorri Corri Pelos mares da lua Lembrei a minha irmã Nua A defecar maldades na praia Á… o ar à beira-mar Pelos mares da lua Comi carne crua


E bochechas Feitas em Júpiter Reinei em Júpiter sobre a vida perdida Chorei e comi a queda da minha espada Mas rejubilai irmãos, pois perdi dentes E lábios quando engoli o Sol

Conheço estas terras. Tiro delas pouco proveito. Como e farto-me de alimento que não nutre o meu fantasma. Orei pelas irmãs do mar e as algas responderam-me com coroas e corais e multicores mentiras sobre um dilúvio de sal e espuma. Saberei que as faces de pedra gasta serão a pérola que desponta do oceano de sangue quando os crustáceos libertarem a minha alma das correntes dos meus ossos.

Destruí a forma Repeti a oração Destruí a forma Repeti a oração

Ai como quero não fazer nada. Ser uma dimensão nula do que chamam viver. Em desgrenhado desemprego pela baixa, saboreando néctares de anjos negros, meigos e assustadores. A dadaística busca pela felicidade, êxtases sufocados pela maquinaria capital. A vida em fumos espirais até à cidade dos Deuses, onde todos os objetos são gritos divinos, todos profetas enlouquecidos pelo cheiro da beleza. Se não cortar as unhas durante catorze dias descubro o amor. O turbilhão de uma sala velha e húmida, de onde se veem as estrelas, que, como um manto, me trespassam.


“O sangue negro brotou e a vida abandonou os ossos” Homero, A Odisseia

O sonho negro brotou e a vida abandonou o método

Tarefas, enche o tempo, o teu tempo é um enchido e só terás de empenhar-te em mantê-lo.

Inc Im Car In Carne crepita Invasão insuspeita, inominável intruso Crepitante corpo crepuscular Instância inconsciente Indizível inimigo Impeli o cárcere imposto, ingrato Incarnando indesejados cortes Corpo é calvário Meu inominável inimigo… Come crepúsculo Comi os cornos do crepúsculo Criei a crepitante inconsistência Inexperiente…imbecil…


Criei incandescente carnes coradas E o espaço chegou Insípidas investidas revestidas de mim, parte de mim Tolo todo vermelho e largo e bufante nas estrelas Sim, por cima de mim Inmc In Car Nar Tu Eu Ar Assim páro Amaro

Escorpiões cadavéricos lembravam corridas até às nuvens Dançando vidas perdidas Na indiferença de se viver Tu dizes nem por ouro serei tua Prata vendo-me na Lua E por ti em cima dança nua Em conjunto que me faças Presente de não me esquecer Para um dia que nasça Nova vontade de união Nova verdade do coração


Prata e ouro de novo esquecidos Por ti e por mim nunca pedidos Abraço no dia, escura dança noturna Um braço em torno Uma perna que liga Um toque que fica Uma vida que ensina Uma única, uma última, profunda Amiga

Temes a perda sem a perda sem grandes razões minha gota de azul. A ferocidade das índoles necrófitas cresce na proporção dos céus ao aproximar-se de ti. Todo o homem cuja visão te apreenda crescerá em tamanho e bestialidade. Todo o homem que te nutra em pensamento verá todo o seu alento aprisionado por ti. A dez palmos de ti todos se terão transformado em bestas inocentes, não conseguindo mais aguentar o poder da tua proximidade, nem conseguindo afastar-se uma grande distância, pela já insuportável noção de não te sentir.


As narinas revelaram uma descabida falta de senso. Sabia-te os cabelos e as ondulaçþes do olhar mas ignorava tudo o resto, ignorava tanto que era demais suportar os fogos escondidos na voz. Uma sopa seria bom, talvez algo oriental, minimalista.


Cheirei o perfume da fogueira e fui possuído pela omnipresença do fumo. Sentei-me em inquieta sobriedade esperando calar estes ébrios desejos que vivem em mim. Arrancar traqueias à dentada, seria bom. Uma tenaz nas narinas, uma lenta e rasgante sinfonia no abrir dos meus braços e grito até vir a mim, estar preparado para o mundo e para o prazer. Suspiro um céu estrelado mas a delícia e o deleite está em mastigar os olhos verdes das crianças, que ninguém morra sem o sabor de um olho enrolado numa pétala de rosa. Pois todos os homens são mentiras. Como se divertem a cantar a sua mentira e cantam, às vezes, a mentira em grupo, cantam-na nos cafés, nas tarde de Verão e cantam sozinhos também, quando se masturbam às escondidas. Não acreditam em ninguém pois são todos prisioneiros de si próprios e das suas melodias desconexas, que fedem e sabem a feio. Só uma mulher te podia dizer, com um brilho. Talvez uma velha mulher te pudesse convencer que as fêmeas têm almas, que tu tens alma dentro, mas esventraste-a antes que o fizesse, com a mesma faca que descascou as maçãs. Espanta-me nesta noite quente, não a grande Lua amarelada, nem os sons da multidão, espanta-me nesta noite quente o silêncio. Inquebrável. Vazio. Sinto o abismo em mim. Sente o abismo e serás tudo o que o nada promete. E muito mais. Até às estrelas.

Canções do Fogo

Castelos nas nuvens do deserto Desafio-te a ser um rio de prata Mas és tigre e presa de Rintrah

Sou chama e raiva nas veias Devasto céus e terra, terra e céus Tudo será um na fúria do meu abraço


Sou explosão devoradora de horizontes Queimo os ferros dos teus grilhões Queimo as asas da tua liberdade

Sou a vingança das estrelas! Sou o Fogo Sou a natureza dos Anjos

Nem caos nem ordem submeterão o meu fogo

Quero tecer mentiras opacas Mas Ouve-me, leitor, pois tenho algo preso no meu canto Não por vontade, não por desejo Mas asseguro-te que há algo nas minhas palavras Como um surdo e mudo parasita Fonte de pestilência e odores necrófagos

Não tenho nada a dizer, nem tempo para o planear Mas há que planear, que criar estratégia Considerar na calma ponderação da sensatez Beber da imperturbável sabedoria aquática Do profundo e inabalável silêncio


O Esqueleto do cosmos na palma da minha mão Eu o decifrador, eu o pó divino Os ossos das estrelas, triturados, gelatina sem sabor Menos luz mamã, quero dormir

O cair da chuva fechou-me os olhos Este, não eu, este fantasma de mim Tem rosto e roupas e mente Sorri, às vezes

O fogo queimou duas carnes Êxtase de mim para fora de mim Não-eu sustendo prazer e sede e dança No vazio de mais um fim

O que será das duas pedras Do garrafão de plástico O que será das janelas que introduzem sombrias moradas De fumadores crepusculares E desta luz amarela Que perturba a hora azul Prelúdio paciente da escuridão noturna

Uma picada no braço, pelos arrepiados, transpiração quente A noite seca


Seca, árida, duas pedras E o garrafão vazio Picada no braço A paciente hora azul

O que será do mundo Será o mundo a inércia benevolente que acaricia a noite A lânguida aliança que é o perfume dos corpos Fragmentos Imagens quebradas Vazias

Ao Diabo

Vamos pelo barulho no escuro Ouvir do povo a canção Devorar almas verdes e desejos Pelo fumo iremos noite dentro

Vou eu! Vens tu irmão meu Valsa do salão 1,2,3 A bela e o monstro E a luz a gás nos candelabros!

Pés de paralelo pela cidade


E um, e dois, e três Upa! Carne fresca! Que bela máquina de ossos é aquela

Seremos um, seremos dois, não! Ou somos três? Satanás em pelo e o Capricórnio As paredes arderam e a brisa…

Abre-te portão infernal, somos nós! Três amigos! Não seriam mesmo o cornudo? Somos peças de pouco futuro

O mundo é um ser eternamente desinteressado em questões da existência. A consciência de tal inquietante constatação e o aborrecimento geral dos estados de coisas levaram o mundo a criar-me. Pois aqui estou. Muito agradecido. Surgiram, além de mim, dois indigentes personagens. Um veste de preto e chapéu de coco, com o peculiar e sempre presente charuto da inexorável indiferença. O outro preza o seu manto colorido com passadas plenas de sinceridade. Em nada se assemelham, mas ambos me fazem lembrar de certas expressões faciais que por infeliz acaso tendo a repetir.

Sol safira de sangue Ruínas do eu no deserto Eu deserto em ruínas


Lanças de luz loira por cabelos Sol Lua Esmeralda de tu-olhos Olhos teus no eu-deserto de ninguém

A Elegia de AKHUM

De dedos esticados cumpro a senda da minha mão Cego gritante na dor do ruído vermelho Turbilhante coreografia das forças da terra

Firme translúcido espetro de devassas visões Canta-me, em tremores, o gotejar da fonte Só, a demolição de uma gota de cristal, mimetizando o rito milenário

Caminhei sobre areia e ares de fogo Caminhas muitas Luas na trama do tempo Pois o tempo não flui como um rio, da nascente à foz O tempo é um oceano de terror As suas vagas e tempestades são temidas pelos Deuses Caminhei sobre areia e ares de fogo Dancei, com sede e deserto de mãos dadas Dancei a fria noite e o tórrido dia Para te ver! AKHUM!

Nefasto desolador, semeador de Desertos Ri-se em jogos de fumo vermelho


AKHUM corre-te pelas veias com um olhar Concede-lhe o toque e serás para sempre ébrio Concede ceder aos fios dourados do prazer, correndo-te pelo corpo despido Concede a vontade à beleza, à escarlate deusa do deleite AKHUM é o êxtase do desespero, com cabelos da cor das flores selvagens Mostra-te ídolo da morte Mata a incredulidade da razão Vinga o bater do coração Mostra-me os dentes

Caminhei sobre areia e ares de fogo Até ao altar de ninfas mortas Lindas crianças caídas, exuberantes estruturas ósseas Joias aladas, pérolas de eras submersas Caminhei sobre areia e ares de fogo Até ao templo do deserto Para te ver! AKHUM!

Danças no verde, escuro O feto nasceu! O deus-feto nasceu! Das palpitações genitais da mãe túmulo Dos fluídos das proles sacrificadas Do fundo do escuro, verde final AKHUM o êxtase do desespero Terás as pálpebras das crianças antes do sol nascer


Nas nuvens, máquina de ossos, és um espaço entre nadas etéreos, para além da mãe cornuda, bigorna espelho da sede real. EU SOU O MEDO DE TI. AKHUM. Bronze borboleta Esmeralda, em danças, céus manchados, sémen-celeste na azul nuvem cristal. EU SOU O SENHOR DOS METAIS. Prata púrpura uma flor. Ouro juba do macaco penhasco. Mercúrio. EU SOU AKHUM. Ouve espelho doce langor, prateado o prado e a brisa. Ouve, move a nudez do sabor. Ouve o fogo dourado das crisálidas, ardentes caudas do amor. EU SOU AKHUM. Mercúrio.

Quando a música começou A minha alma ficou toda espalhada pela floresta Espreitou um lagarto do abominável Sobre a minha condenável aterragem EU DISSE: Olha para mim, lagarto bAKHUM, adverte o réptil éptil, éptil ato ímpio trato do horror queria dizer: AKHUM! Pois eu conheço o senhor da melodia


Os seus sons são a nave-mãe, a Deusa, o exército dos anjos que cantam e marcham Estandartes ao alto, crianças de AKHUM As crianças com armas vão dominar o futuro As crianças com armas Crianças de AKHUM Estandartes ao alto!

Branco dourado Eu vi uma libelinha A vida Vive-se toda aqui, agora É a AKHUM que falo Dourado profeta vermelho, de cabelos da cor das flores selvagens Diz-me AKHUM Veludo queimado sobre as éclogas e os salgueiros sagazes de prata comeram as larvas ouro do ovo-rei. AKHUM As mesas de mármore, Vive com medo felpudo e dourado companheiro, conhece o teu medo criança, conhece e saboreia o que é TU-NÃO. Canta e Dança sobre TUDO. Ouve o não costume a não clareza, A prata que corre nas veias e lambe as sábias serpentes Adamante, Os segredos dos sapos são vastos, os segredos dos homens vermelhos são fundos, mas Deus tem só um segredo, terás de perguntá-lo às flores.


Do outro lado do deserto as abelhas negras comeram o metal Escaldante, meses ao sol vermelho da impaciência de AKHUM. Os corsários do norte moviam-se alados, pelas nuvens murmurantes, com o auxílio das feiticeiras de azul. A máquina transtornava com engrenagens de extremas mecanicidade, os motores logarítmicos de ARKH não se davam a contemplar os cabelos de AKHUM, cabelos da cor das flores selvagens. AKHUM contornou a esfera negra e olhou de novo. Os homens vermelhos e as crianças. A torre rugiu e trovejou sobre o céu. Ó Senhores de LÓD Vim a Mim, AKHUM! Que a minha melodia seja harpa, arma nas mãos, nos olhos, dos meninos, das meninas, dos filhos do grito, do fogo roubado. A Vós chamo, A Voz convoco. Caminhemos sobre as chamas da escada espiral, que a cinza dos nossos pés evoque o horror, a beleza, a carne queimada que ama, só ama, ama sem amar porque é o amor. As flores sabem-no. Perguntem-lhes.



“Depois de ter implorado por votos e preces aquelas tribos de mortos, agarrei nos animais e cortei-lhes a garganta por cima do fosso, e o sangue negro escorria lĂĄ para dentro.â€? Homero, Odisseia


Ó senhores da noite Comei e bebei sobre os corpos caídos

O meu canto quebrado lembra-vos uma noite passada ou a imaculada aurora estival, em que o caracol reina nos jardins da rainha. A rainha das minhas luzes douradas, dos verdes impunes sobre as ondas, do uivo das bestas selvagens pela planície vermelha, em que a lua corre e a noite grita. A Senhora da Luz ergue torres, altas torres, cujo topo sobe além das copas da grande floresta. Torres secretas, murmúrios e caudas de anjos, guardadas, escondidas, entre tapeçarias astrais, bárbaras pinturas de caça, de presas vencidas, ventos em frascos e marés em esferas de negro cristal.

Ó senhores da noite Comei e bebei sobre os corpos caídos

A rosa cinzenta come flores estivais, nos carnavais de óleo e mamas aladas. Pelos prados, à margem de tudo, a fruta caiu-se. Testa fraca, a fera ardeu o motivo bestial das anárquicas complacências. Esquilos, ó mestres da noz, digam-me que crânios quebrar senão o meu. Entenda-me a torre quebradiça, o estandarte queimado, a voz rouca e cortada pelos tempos de chuvas. Ó castelo caídos, ó demónios escarlate nas ruas escuras! Olhos

Ó senhores da noite Comei e bebei sobre os corpos caídos

Na estepe esquecida o rinoceronte branco caminha sobre as ossadas de tudo. A melodia da estepe são os ossos esmagados por acidente, por descuido, por saudade, por vergonha, por medo, por medo da morte, por amor a ser o último exílio da vida, da morte, do pó sublime e da fértil cinza.


O rinoceronte branco sufoca a espiral e uma nova estrela nasce no mar, na terra, no céu. Ouvem-se gritos de anjos em queda, o rinoceronte branco sufoca a espiral e a mulher de luz nasce no mar, na terra, no céu.

És lindo, genial, de ouro e prata, um Deus, cabelos da cor das flores selvagens

És fraco, virgem, frágil, doente, um cadáver andante, tens sono mas não dormes

O ovo do Anjo Tem fome de Asas

Coerência por favor, Não existe tal coisa meu senhor, Tenha dó e piedade da pobre imagem da Verdade

Retirei às bruscas as cuecas das princesas e escondi-me com os anões nas gavetas de UR


O livro de DRUM Original Liber Drum

1–Ú 2 – UR comigo presente no charco 3 – HÓ comigo à beira do céu 4 – AR comigo na fossa de fogo 5 – Fiz quatro do nada do topo de Drum 6 – Recolhi do vácuo um cheiro perdido, Drum 7 – Drum Drum Drum Drum 8 – Ú topo era falso, ardeu e caiu. 9 – A torre negra de metal vivo encerra carnes putrefactas, peles putrefactas, lábios, línguas, traqueias apodrecidas. 10 – Não existi sem mim no final, comecei e parei, continuei pelo trilho dos pântanos sem fim, na face esquerda de Drum os sapos ensinaram-me a coaxar. 11- Dos fumos, dos fogos, ergui a vida de sabor metálico, refinada com o enxofre e os céus em chamas. 12- As aranhas púrpura construíram palácios na minha boca. Palácios de seda e cetim, rubis e pérolas pendentes no escarlate desmaio das princesas rupestres. 13 – UR a maçã falou com olhos de réptil. 14 – A boca morde a cauda, o círculo é perfeito. Antes, agora, depois, são os três primeiros engenhos a cair do topo da torre. 15 – UR na cidadela amarela, duas almas gritantes e o abrir do Ventre. 16 – Plásticos os cacos das estrelas entreteram os elfos, o Vinho correu e a taça quebrou. 17 – Rasguei grilhões gritando palavras e o ouro vermelho correu além do silêncio. 18 – HÓ a criatura verde do antigo andar, na floresta triangular os salgueiros cantaram. 19 – O corvo lembrou-se da donzela de azul e cortei-lhe a cabeça. 20 – Nas nuvens todo o mundo é um pranto de delícias, um desfile branco de sopros que cingem os Deuses do céu, palácio e tempestade.


21 – O mármore mente cifras dos Anjos, a esfinge com dentes só pode mentir, montanhas de pedra!, do pó da distância a verdade. 22 – O topo da montanha era uma dança de dinamites e de espelhos, corei na presença da menina de branco e precipitei-me da falésia. 23 – AR rasgante a queda nos espinhos da morte, línguas de agonia queimada sobre o metal aquecido. 24 – AR as asas abertas batem um coração de fogo. 25 - Bestas sem uso correm, uivam, gritam, urram, pela mata, pela noite, pela Lua, pela face queimada, pelo deserto de ventos vermelhos e bebem das areias o tempo, o espaço, o céu, a terra, as almas de tudo. 26 – O metal guinchou de dor e o som dissolveu tímpanos a gosmas vermelhas, não ouvi nada mas sorri. 27 – O sangue correu por baixo, pelos túneis dos reis anões, nas tumbas dos deuses submersos, há fogo no fundo de tudo e a pedra e o sangue têm fome de olhos, olhos de fogo. 28 – Bruxa robot tem manhas de aço, suplica em beeps a senha do destino. É sucata na visão de uma chama que arde púrpura do coração. Os castelo de UR fumegam Urze e as nuvens de HÓ bebem leite e mel, Drum. 29 – Ú silêncio sagrado das vestes de prata, AR suplício da feiticeira azul sob a espada vermelha. Nada retive do que roubei ao abismo, pelos desertos das ruínas cromáticas dou-me ao Sol, à Lua, aos céus profundos, Drum. 30 – Drum Drum Drum Drum

A Lenda de Cáva

Cáva na negra morada, a torre treme sob o céu tempestade. Cáva olha as negras nuvens e sorri, agora prepara-se para montar. As luvas, as botas, o manto negro chegará, e sim, a espada. AR HÓ HÓ. A besta e a sua montada rasgam o vento e devoram a distância. Soai as trompas do Inferno, que os hinos se ouçam nas fossas fundas, nas terras ermas e selvagens de Drum. Mas não te deixes enganar ingénuo leitor. Pois Cáva é um homem como eu, como tu, nas suas veias corre o mesmo sangue dos teus avós, e se a terra treme à sua passagem é por razões plenamente naturais, plenamente dentro da ordem das coisas. Cáva parou à beira de um tasco de fumos. A grande, gorda, oleosa mulher serviu-lhe um bagaço.


ÀHH e disse: E atão? Arranja-me 10 paus daquela ervuncha boa. Só desgraças a tua vida rapaz, para onde te leva este tempo de chuvas? Vou matar e morder e depois vou dançar com os da raça suína, a elegância dos porcos respira no fundo do meu Ser. És um Javardo! Amo-te mamã, até logo. Cáva montou a negro e só parou nos portões do palácio das papoilas, onde sentados nas flores, os sultões quadrados fumavam. Cáva falou: Onde está a virgem de hoje? Do arco mostrou-se uma nova, nervosa menina e os olhos eram verdes, como os sapos, e os cabelos caracóis dourados. Muito apropriado. Cáva começou e cortou-lhe os cabelos, para que visse melhor, cortou-lhe as orelhas, para que ouvisse melhor, e coseu-lhe as orelhas ao ventre, ao que deu o nome da estética da estepe. Esta chorou muito e no fim gritou: Nada te perdoará, Nada te perdoará, Nada te perdoará. Nada perdoou-me há muito. Agora és sem atavios e nada te guia, porque choras?, és linda. Sem língua serás bela. Os cães da Fome correram pelo jardim onde as meninas brincavam. Que flor é esta? Uma rosa de sangue. À mulher com orelhas no ventre chamaram Vênus e ela vive no terraço do lodo, cozinha com fogos de todas as cores e cuida dos ovos da grande Serpente. Cáva recolheu os pedaços das crianças do jardim e obrigou os cães a comerem tudo até ao fim. Cáva cansado regressou à torre quebrada e desceu às catacumbas para contemplar. Leitor peço-te que vejas essas mulheres que o desejo sonhou, as faces de todas as que amas sem pudor, sem medo da mão que esmaga, as faces que vês e as que se escondem em sombras. A todas encontras nas jaulas de Cáva, por baixo da torre. A todas ele administrou o veneno do sexo e cuspiu-lhes na boca e elas cuspiram também. Tem tino no teu horror leitor. Verás coisas aqui que foram marcadas com selos de fogo, antes das vozes do bosque se erguerem, antes do reino de Deus, antes de Cristo se despir e te ensinar a amar. Cáva fumou um charuto e foi dormir, embalado pelos trovões. AR HÓ Ú.


Canção de Culpa

Nenhum poder humano pode impedir que o vento do céu seja executado. Prepara-te leitor para ver o que Cáva fez pelo mundo dos homens, pelo mundo das bestas, os fantasmas temiam a sua sombra e os ciclopes cegavam-se com enormes estacas de metal. Pois as ninfitas de Saturno foram mortas pela espada de bronze, as suas cabeças rolaram do monte verde, os seus corpos foram comidos por javalis, porcos do mato. Pois o Deus da guerra, Ares, foi violado por um porco e Cáva ria, mostrando os dentes. Atena caída no campo de batalha e Cáva masturba-se para cima do seu corpo atormentado. Pois Helena chorou mais o estupro que a morte dos seus filhos. Mas nada o servia tanto como os gritos das jovens, na flor da idade, que sabiam o que as esperava nas jaulas, sob a torre. Pois muitas ele raptou e lá guardou para pouco de lá sair, e aos bocados. Aqui se conta uma delas, não do seu mal mas da sua captura, de juramentos traídos e de uma forma pura que não conhecia ainda o sexo mas o soube violentamente e sem aviso. Assim ela se ria e o seu riso era a nascente límpida, o primeiro chilrear da madrugada e a voz que o seguia valia a pureza da montanha na manhã, do rouxinol no crepúsculo, da silva que cede à mão amoras sem que o descuido a faça colher gota de sangue. Chamavam-lhe Antiéol de cabelos ninho de doçura, lábios portões de húmida ternura, viva nos dentes brancos do meio dia. E ela sabia da canção e dos raios de luz, conhecia os animais e sabia os seus cantos, chamavaos e eles vinham. A isto Cáva assistiu, negro e montado e o seu coração, por centímetros esquecidos bateu de novo uma batida impossível, que ele só podia seguir no sonho de não ser quem era, e ele odiou-a por isso e ainda a odeia, quase tanto quanto a podia amar, pois há também quem diga que o seu mal é senão bem impossível que não podendo correr dá lugar à sua mão veloz, à sua fúria pronta, à ponta da sua espada cravada no chão, às mãos que abrem silvas e procuram entre elas, olhares escondidos. E assim começou a caçada, ela veloz mas insensata fugiu como uma brincadeira, pois Cáva escondia o olhar num elmo negro, mas cavalgava como que impelido por algo não deste mundo. Ela para no alto de um penhasco e fala: Senhor que me queres? Quero-te.


Promete que não me farás mal, nem ao que é vivo, em nós e fora. Eu juro ouvir-te e ser conhecida por ti, então poderá o meu coração dizer sim ou de triste mas terna medida dizer não. Prometo. Desce e remove-me o elmo, vê o que guardam os meus olhos. Assim feito ela vira e procura o penhasco, o beijo rude das pedras do fundo, mas não, o braço de Cáva não o permite, nem o braço nem as cordas de amarrar, nem a dura montada até ao fundo, da torre, nas jaulas onde o seu coração se perdeu e não se voltou a encontrar.

Canção da Inocência

Cáva queimou corações de anjo, na descida das nuvens o fogo do céu ardeu-lhe nos olhos e AR como cometa caiu sobre o mar frio, a norte da boca da rocha. Cáva empurrado pelas correntes obscuras aterra no fundo do mar, onde num círculo de pedras, as ondinas dançavam. A sua dança era bela, Cáva sentou-se no centro do círculo e mandou uma bongada subaquática. Tudo era harmonia no fundo do mar, os perfumes dos jardins corais, a distante canção das orcas, o mudo murmúrio das pérolas escondidas, o convulsivo vómito dos vulcões submersos, onde os Deuses que criam a terra se oferecem ao seu ofício de trevas. Mas eis que se ergue BKATAR de uma fossa escura, o grande Crustáceo dos fundos, a sua voz de horror ecoa pelas planícies abissais: Cáva, aqui não pertences! Polvo, rei da mentira e do disfarce, mau e podre, carne branca da terra firme. O Polvo não só muda de cor como também imita o comportamento de outros animais, como tu, finges ser bom quando a tua natureza é de uma brutalidade tremenda, és sujo, indolente e cruel, cruel com debandadas de risos, carnes cortadas, sangue de virgens. Cáva dentes de punhal atirou-se ao monstro marinho, o Crustáceo tentava cortá-lo ao meio com a sua grande Pinça. Pelo fundo, escuro lutaram e os seus ruídos eram rudes e profundos, graves de descascar pele ou descascar escama. Cáva investe contra o monstro mas o punho embate em nada. Eis que o monstro se tinha sumido e Cáva estava só, numa fossa funda, escura do mar. Do circulo de pedras, das ondinas dançantes, da cantiga do fundo, Nada. O Frio Escuro Fundo do Mar, Só e BKATAR sabia. Então Cáva regressou à superfície e deitou-se de costas na praia. Olhou o céu e procurou um sinal.



Será o Sol ou a Lua o fim da nossa Existência? De cara queimada no deserto e que horas são? Já desceram os panos de cinza sobre as convulsões da nossa morte? Mortos há séculos Nos pântanos industriais o sapo radioativo ri e bate com os pés nos carros incinerados Amanhã vamos comer beterrabas O sumo do cajueiro nunca soube tão bem

Já muito se disse sobre a embriaguez dos pardais

MAL DOR OR

As abelhas negras olham com negros olhos a escuridão do templo. Os seus pelos vibrando enquanto ziguezagueiam pelas colunas de pedra nua. O nilo, lá fora, é o assento de um Deus húmido, fecundo, negro como o primeiro palpitar de vida no meio da lama, celestial. No templo, nu, arfa sob a cúpula um verme, arfa sob esmeraldas luminosas, anjos que mentem com línguas de incenso. O grande Dragão veste um robe negro, comido por chamas eternas, através do fumo da sua presença vêem-se, como clarões, os olhos e a Fome. As abelhas negras olham com negros olhos a escuridão do Templo. As suas asas de bronze produzem a mais cruel das melodias, como sereias a chorar a ebulição do oceano. Cabeças de ternas, tenras ninfas empaladas no altar. A dança de sultões embriagados na taça azul, para onde os magos despejaram o deserto. Arfa verme, arfa até que respires fogo do coração do teu Mestre, morto como um cão, caído de cara na pedra nua, onde o sangue negro brota e a vida abandona os ossos. Pequenos olhos de verme erguem-se da dolorosa latência azeda de uma mutilação. Esmeraldas cortadas, cortantes fragmentos divinos, e talvez numa das suas fragmentadas faces o reflexo de um sorriso dentado de fogos. Por fim se ergue o verme e ao erguer-se reconhece-se, vestido de negro, comido por chamas eternas, e através do fumo da sua presença, vêem-se, como clarões, os olhos e a Fome.


Eu sou um mundo rei na morte de tudo o que não se sabe dizer. Eu tenho vinte mil servos, a lua e uma estrela que pereceu na noite antiga. Eu sou o vinho derramado sobre os lábios gretados da indigestão. Eu sou a ébria vontade do sacerdote, violador-mor das crianças fantasma. Eu toquei piano no início, e dei um Sol sem clave ao mundo dos anões. Eu o astro negro, Eu o nada, Eu o abismo do abismo, do não afirmado. Eu quero lá saber quantas mulheres caíram aos pés de ídolos ocos. Eu quero lá saber quantos homens traíram o credo da vida aos bocados. Eu sou o cetro e o anel, toda a magia humana é demasiado vulgar para me permear a pele. Rasguei as ubíquas condescendências dos meus pares e eles sumiram-se como se somem as sombras no escuro. Impar e só caí sobre a terra, deixando fogo e fuligem na minha passagem. Nada tendes a temer, dobrai-vos e esperai a minha dilacerante mão, pois ela é de uma justiça que só a morte vos daria a conhecer. Nada tendes a temer, dobrai-vos e esperai as correntes da minha voz, seja ela doce ou amarga será livre como só o sonho pode ser. Nada tendes, nada tendes a temer, agora, só a verdade nos separa. Nada tendes, nada temas, agora, só uma só noite para sempre. Nada temas agora, uma só noite, para sempre. A sós com a noite para sempre, a vigília eterna nas asas de um suspiro cadavérico, perfumado com a lassidão de um pensamento envenenado. Serena, a superfície das águas reflete o murmúrio dos troncos nus. A dama prateada banha-se no lago entreabrindo a porta azul. A Lua sabe um segredo e ri-se dos vossos corpos. - Mâldor IV, alto sacerdote das terras, dos mares, dos céus, rei dos terrenos extra-planares

Sangue novo, a bela sonolência do punhal Sangue com canela, almiscarado elixir Taças de ouro e o altar


Nada do que é dito podia não ser dito. Nada pode ser impedido, nenhum risco, nenhuma mínima vibração. Não são as estrelas nem a carne que talham o nosso caminho. Nem no destino tem mão o acaso.

Trezentos infiéis, queimados a lume branco sobre placas de ferro Circunferências de flores, todas as cores Gritos de alegria, carícias pelas ruas Danças e fogos

Gargalhadas de Cristal Colunas em ruínas nos palácios da floresta Mulheres sem testa Gárgulas vermelhas, gordas, a beber vinho com os Anjos.

Alarguemos as nossas perceções meus irmãos. Sejamos doces caminhantes no rio do sangue dos pais, do sangue de toda a família, menos nós irmãos meus, e a melodia dos passos a Violência. Pura, plena, nascida nos céus profundos das danças, ó das danças meus irmãos, que os cometas destruidores, que os astros negros, que o próprio Vácuo vociferou flamejante, a Violência. A Violência das nossas mãos sobre tudo, e a melodia irmãos meus, que nos prende à liberdade por coisas que escapam às palavras. Alarguemos as nossas perceções meus irmãos. Sejamos anjos divinos de branco, de botas vermelhas, do sangue, do fogo, os punhais que cantam e lambem os corpos. Do ninho das águias vemos tudo, tudo é presa e voamos sem medo do solo mortal. Saltai das janelas irmãos meus, saltai dos prédios altos da cidade, saltai e aprendei a voar meus irmãos. Nunca a queda foi tão doce como aqui e agora e nenhum inferno é tão cruel e real como a vida das presas, presas da morte, presas à vida, de parasitas. Punhais ao alto, que clamem às deusas da morte a dança, sobre a cabeça destes parasitas.


O nosso céu é aqui e agora irmãos meus. Pois as flores ensinam-nos os caminhos escondidos. Ao Éden celeste voltamos no fim do dia, quando o Sol se põe, na hora do crepúsculo.


Eu tenho a alma de um pedinte embriagado. Num frasco.

Sem fim o púrpura dos nossos sonhos é menos eficaz que os líquidos do costume, temos talvez carcomidas vitórias para lembrar à lareira, mas tudo se dilui nos cheiros dos teus poros astrais. O teu cabelo estrangula-me calma e melancolicamente, como um braço de aranha agonizando o silêncio. Tremo estática a visão. Tremo estática a visão dos teus olhos. Terrorofília, flamejantes lanças dos inquisidores celestes, toda a planície e toda a largura do céu, tudo isto nos teus olhos. Queimar a diferença entre nós é encontrar a vida na lama, à beira do lago, e sabê-la triunfo sobre todo o cortejo de travestis dançantes, loucos mascarados de escarlate e penas de pavão, bobos reais da corte invisível, que não se vê porque não existe. Tive medo de encontrar as fadas verdes no limiar do luar, tive arrepios que precipitaram tremendas vertigens azuis. Ó meu saudoso crepúsculo estival, diz-me quem são estas caras de alabastro.

No mar de todos os azuis cintilantes Onde o coração conhecia surpresa e desejo Eu e o mundo, apaixonados pela primeira vez Colmatando com riso as loucuras da maturidade

O elfo ri-se da queda do sentido. Prossegue, de forma cuidada e meticulosa, a quebrar todo o salão em danças. Na negra paróquia da confusão pouco se sabe sobre sapos. Coaxando desvarios infundados mata-se a sede dos pintainhos. Nada mais se passou além-mar e o grande Califa mandou os corvos arrancarem os olhos mutilados das dançarinas budistas. Nada na meditação transexual trás mais ou menos alegria à corte. A corte rege os cordéis fantasma das marionetes de carne, pensando por momentos estar em controlo sobre a turba turbulência de um pó que nunca se chegou a levantar. À janela indagam-se duas princesas. Perguntam-se perguntas menstruantes do tempo das pedras e das escritas antigas. Foram ensinadas pelo elfo a tecer constipações e perfumes de angústia. A inocência da classe regente só é equiparável à sua inaptidão para os ritos do bem.


Casualmente se encenam as cerimónias de procrastinação do festim e toda a divisão se melancoliza, calma e pacientemente.

Crepúsculos cor-de-rosa no prelúdio do piano tocado ao Luar

A rapariga de lábios azuis não toca assim tão bem. Desconexas melodias tropeçam pelo salão e o elfo abana as orelhas imperiosamente, em claro desagrado. As suas 23 pupilas anteriores foram aniquiladas pela perfeição. Mas a desajeitada rapariga de lábios azuis…cuja alma não dançava ao som da lira…cujos braços não se sensibilizavam com as elegias élficas, abanando de forma imprópria, cujos braços eram apanhados a caçar moscas no jardim…a rapariga de lábios azuis que tinha crescido com os sapos.

Coroas cozidas comidas por esquilos Castanhos castelos armados a meia volta Daqui Para ali

Para connosco celebrares o rito do crepúsculo azul Dança irmão, com flores selvagens da cor de momentos no Verão Come da selvagem seiva que nos corre castores na cortada corrente do rio Ou serás tu cascavel, a apanhar sol no alcatrão Não queimámos os catos porque não há catos na floresta, esta, feita imperatriz vermelha do tempo, calou-se numa queda de orvalho Lunar. Mestre esquilo perdoa-me o desmembramento da princesa. Temo testar fronteiras incertas, à beira do abismo encontro divisões com triângulos e quadrados etéreos, monstros divinos do tempo da areia, correndo num único fio, em direção ao umbigo de uma das bailarinas budistas. Que o rosa deformado desta penitência atómica se reduza! Que o rosa deformado desta penitência atómica se reduza!


Sapo das montanhas

Lírios, lábios, musas do silêncio O sangue do Sol, o sangue do solo Os juncos reais, as águas da Lua O nome da onda é ruína O nome da vaga é UR-ina real da corça selvagem O mar é plano como o pelo do castor, castrado guardião das filhas do rio Protino feio cheirou as donzelas verdes, folhas e Outonos caindo no solo, A lama teceu a teia da manha viscosa porque os sapos têm de se rir.

Na terra vermelha, onde tocam os pés Verde ondulante quando corremos brisa na pastagem Os sons da Lua, a coruja branca Lembras-te do toque da chuva nos ombros? De cabelos molhados na colina O trovão, o relâmpago, tu tinhas medo Lembras-te do caminho para o lago? A antiga cantiga do avô sapo Brincarmos com os deuses dos juncos

Quando o pai –sol era engolido pela mãe-terra Sentávamo-nos na pedra de pensar Ouvíamos as histórias do crepúsculo Eu era feliz, sorria, tinha dentes fortes


O céu era azul Quando a minha tia caiu da cadeira Tu rias-te imenso Quando o céu era azul

À beira do lago com estrelas nos olhos Vamos até à Lua!, dizias, Vamos até à Lua! Mas eu só conheço um reflexo prateado E o coaxar dos sapos

Escreveste-me um poema Cheio de palavras compridas Não tem nada a ver com a brisa Nem com a areia entre os dedos dos pés

Na noite passada vi um anel Tu sujaste um joelho e choraste

O Livro da Serpente Liber Shhhh

I

Na noite azul pelas ruas as pedras cantaram sem medo e o grande horizonte gritou as estrelas em lanças de fogo, fomos queimados pela lua que uivava e mordia, Ó noites de YOUNG,


Mais escuras que as fossas quadradas do fim do mundo, Andemos pelos mares de Noé e o sonho dos corvos terá uma pomba de esperança. Ó a trovoada é a água dos céus. Ó o relâmpago do Senhor teu pai. Águia, fera dos topos, voa sem medo, reina sobre as cabeças dobradas, Mas ó é a víbora que canto, A taça de sangue, as vestes de prata no silêncio.

II

A tua mão esquerda esqueceu as ofensas e dobrou a cabeça à Senhora do olhar réptil, do súbito esquecimento e do feitiço prisão na jaula lunar. Como a águia solar caída se abate sobre a presa, o veneno do Sol escondido, revelados por mãos devotas, que saboreiam a luz com uma paixão calada, com um leve e enterrado murmúrio de prazer. O abrir do céu em cúpulas de luz chamou à vida as flores, entre elas a mãe serpente em espiral ignorando já a diferença entre o alto e o baixo, dançou pelos mundos e forjou uma ponte eterna, nada e tudo, de novo, para sempre.

III

Fugaz mas adamante a andante senhora desceu dos céus em dourados para beijar as flores uma última vez. Murcharam os deuses, calou-se a magia e da negra ciência se fecharam os olhos dos mestres, se queimaram os livros, os livros, os copos, calaram-se vozes. Mas livre e viva ela guardou os segredos nos olhos e aqueles que a procuraram olhar de novo ergueram a cabeça e sentiram em si algo pensado perdido, mas vivo e latente, aterrorizador. Em medo se olharam, em medo de noite pensaram ser vistos, mas nada denunciava o seu ser renascido e aprenderam de novo a andar, a falar, a vestir roupas e de novo voltaram ao estudo e à Via.


IV Mas que sei eu de tudo isto, de onde me seduzem estas ideias pagãs? Será erro esquecer Deus e erguer as casas antigas onde moravam as formas divinas de todos os formatos, de todos os feitios? Guardo em mim, ou de mim correm, desejos de viver, desejos de Lembrar.

O Livro de YÁMA

1 – O UR tecido caiu, curtiu, canou-se mas encheu-se de Fé. 2 – A vida vista por todos os lados é sempre quadrada e tricolor, a hóstia regada com gasolina benta, benevolentes Deuses do Céu UR inai sobre todo o lamaçal e deitai estrelas para cada poça, cada pútrido pedaço de pântano 3 – Em segredo no fundo do poço, só saberá quem lá estiver 4 – Na Primavera as crisálidas estalaram, dos estalidos se viram oceanos no espaço, fizeram-se torres sobre as árvores atentas e o bosque encontrou uma clareira no crepúsculo onde os sapos meditavam 5 – YÁMA 6 – O deslize encontrou a terra na queda das destruidoras estrelas e o abrir da nuvem foi esquecimento do pranto dos pardais 7 – Nada se disse 8 – O silêncio abrupto cuidou das feridas 9 – Gangrenas saradas abriram na terra buracos, de novo os gurus viram a luz e por momentos esquecêramos pactos das trevas 10 – Sempre atenta a escuridão cresceu, no fundo das covas 11 – A terra sentiu a falta do ar, bafos enterrados por baixo cuidam de a alisar, de defender em salões obscuros, em painéis de arte dracónica e esquecida 12 – Cuidei das flores e por baixo senti os anões a laborar no fim da minha vida 13 – Na Primavera os pardais dançaram de novo, a vida, o amor e a morte 14 – No súbito cair dos céus de novo se ergueram as estrelas, amantes esquecidos reconheceram os diamantes nos seus sangues e uniram boca com boca, entrelaçaram os braços e respiraram profundamente, uns nos outros


15 – A terra manteve o pacto e laborando no escuro os pequenos mestre de YAMA souberam o céu, o mar e todos os segredos da não-luz, do não-estar sobre porém sob, sub, inimigos colheram e longas lâminas forjaram, o medo é o amigo que no fundo de tudo encontraram 16 – Vendendo rubis eu soube o perigo de amar o mercado 17 – A bruxa azul sabia-o já mas não ouvi o seu conselho 18 – O meu trabalho esteva completo e no final fui o mesmo que voltou do deserto 19 – Andarilho em sarilhos curados pelos velhos senhores da Jaula, da prisão escuridão 20 – YAMA me ensinaram em élfico, calados o poder quieto dos mestres anões, dos anos no escuro

Fumámos as tuas ganzas, as minhas fumaram-se sozinhas. Andei séculos pelo deserto, a viver de charutos e areia. Contei cada grão, cada tempo, cada Sol e cada Lua, vento e Deuses mais antigos que o horizonte. Tenho canhões lindos, que descem do céu para me mostrar imagens de outros mundos.

Flor dança lilases Ea Brisa Urra espuma de Luz

Comi moedas e desuso Quando voava no oceano Doces tempestades de que abuso O macaco do mar ensinou-me mergulho No fundo vi as pérolas do cinema experimental


Não quero ilusões nem tenho sereias Pronto pranto abusivo

Recordei o sabor a corais Seco o ar, seca a terra Céu de fogo, olhos em chamas

Plano de criação - OM INÉTIEP OKÓMIKOT INIÉSTRER ATAKITAL Quatro ordens inferiores servem OM. OM é pedra geradora de onde brota fogo e água (HÓ) ÓKOMIKOT é fogo INIÉSTRER é AR INÉTIEP é fogo e água silente ATAKITAL é lama, água e AR a arder sobre a madeira maciça das árvores-mundo mortas

As árvores-mundo são os fantasmas dos mundos mortos que petrificaram em troncos, em ramos, em lenhos secos pela vontade verde de OM. O primeiro de ATAKITAL é um leão alado com cabeça de sapo e pernas de escaravelho. Trouxe até aos homens uma adivinha com dentes: Qual é a medida de luz ou escuridão dos povos sem olhos? E então os homens colocaram dedos nos lábios e, olhando o céu profundo de KUT, indagaram as nuvens.


Um entre os homens falou para consigo: Hum…Qual a medida de luz ou escuridão dos povos sem olhos… Humm…e as nuvens tornaram mais grave a sua voz Hum… HUmm… UMM… OM, falou OM é a medida, falou em entre os homens de KUT, e então o primeiro entre os ATAKITAL grunhiu e rugiu aos ouvidos do homem, e eis que os seus olhos arderam e ainda ardem, para sempre as chamas dos ATAKITAL lhe lambem os olhos e o nome deste homem é KIT KUT. KIT KUT de olhos em chamas partiu para o deserto, onde os sóis vermelhos, as luas azuis, as areias negras moldaram o seu corpo, bafejaram a sua alma e forjaram um espírito novo como a aurora, velho como as raízes do grande carvalho, ingénuo como a esperança, sábio como o avô-sapo cantando no crepúsculo. KIT KUT deixou o deserto e encontrou nas estepes magos das eras passadas, em torno de uma fogueira. A Vontade de Deus alimenta o fogo, mas quem é este de olhos em chamas? EU sou o do martelo que esmaga o crânio das bestas selvagens, velho, mas não me fales de Deus ainda, pois não fumei nenhum charro hoje. Então KIT KUT sentou-se com os magos e começou a enrolar o seu charro. Mostra-me o teu martelo meu jovem, bate tão bem como dizes? O martelo deixei-o no deserto, já não tenho uso para ele, descobri que as bestas não me querem mal mas somente o meu amor. Essa é uma mentira descarada a não ser que fales das mulheres. As mulheres? e KIT KUT de olhos em chamas riu-se ruidosamente, mostrando os dentes, e o seu riso percorreu a fogueira, os cabelos dos velhos, a estepe, e no castelo de UR a menina de lábios azuis deixou cair a taça de vinho. As mulheres não as conheço ainda, para mim ou são bruxas ou princesas. Às bruxas desejo matá-las, quanto ao que desejo das princesas não o direi aqui pois temo fazer-vos corar. De novo se riu KIT KUT, o charro começava a bater. Um murmúrio mudo aos seus ouvidos correu pelos velhos e o velho de barba mais longa falou:


Insolente criança, não sabes nada sobre os padrões deste mundo. Tudo está sujeito à nossa vontade porque compreendemos os sistemas de símbolos que traduzem as várias naturezas e frequências dos padrões de Deus. Pois resigna-te, baixa a cabeça, que corram negras lágrimas e apaguem os fogos dos teus olhos, só assim te poderemos aceitar como discípulo e só assim terás sabedoria e poder nestas terras de morte. Mas KIT KUT já não estava lá. Seguiu contra a brisa que carregava um cheiro a comida. Talvez Deus perdoe, mas os Munchies não.


Para a mais bela:


A morte da linguagem

Fogo e ar, Deslizando sobre os céus de destroços fumegantes Alimento-te da terra húmida, ainda quente na Memória da vida que o passado gerou

Mundo e morte, Pela colina enegrecida das nossas vidas, Quantas lanças quebradas, quantas distorções no teu canto desconexo, Esse teu canto desconexo que mata os pássaros azuis, que mata Os pássaros e os corações dos homens tímidos.

Se em tempo de canto emudeceste ilustres sábios e Não os acusaste de ignorarem a natureza melódica das coisas, Se em tempo de lírica dedilhaste sentimentos profundos e Não os procuraste nas faces das crianças, Se em tempo de flores caíste em agonia e te perdeste em choro, Diz-me,

Palavra e Som! E eu saberei que por fim o sonho te nega sono ou Companhias menores, por fim o fogo aéreo te explode Nos renovados céus da nossa nova babilônia, por fim, Sim!, por fim a morte esquece o mundo que te viu crescer Fazendo brotar lírios de silêncio nessa boca perfeita.


A morte da Rainha

Um corpo caiu no lago Veludo dos céus púrpura, perfume de cetim húmido, o solo Sob a árvore guardiã do Sol, os nossos pés brincam descalços Um corpo caiu no lago Apago-me à sombra do chilrear dos pássaros mortos Os pássaros mortos que comeram as crianças Um corpo caiu no lago A relva comeu-te os olhos meu amor O rei-sapo despreza a piramidal beleza Com cuspo e lama sabe cozinhar o infortúnio Cetros do junco, máscaras de terra, pedra o abissal silêncio Submerso no verso dialético do crepúsculo triangular Um corpo caiu no lago

A Vagina de Kahina

Danças Sopros de danças, encantos e morte Triste sorte muda, sete véus, o desfile dos panos de seda Todo o oriente e danças Bailarinos africanos, escondidos, com tambores nos pés e no peito A vontade verde do olhar, beduínos, fé no deserto, areias a arder Antigas pragas egípcias Tudo isto encontrei na Vagina de Kahina


E mais: destroços de Shambala, carroçaria babilônica, sombras Submersas de Mu! Danças Entrançadas no destino de prata sobre o Ventre Mente o corpo, entre distâncias Há um corpo, não dois, nem três Há cinco corpos mas na verdade só um E dança A tragédia da ruína é a ruína da tragédia Quando a ruína é o agora No deserto há ruínas, agora O deserto acolhe a ruína, no Ventre, porque a ruína É silêncio Kahina respira os venenos e torna azul a sua vagina mutilada Mas dança Cantos do Nilo, caí sobre nós Peço à íbis esmeralda um Ventre onde me sentar Ou um malfadado anel que erga montanhas por cima dos nossos Inocentes olhos. Não é o novo Amor que anseio Nem o céu que peço ao rio Só que o espírito que uma vez conheci Não seja morto à beira do lago


Fadas de Cabelos Amarelos

Chegámos ao bosque Sagrado, dourado e um Salgueiro Meigo, ao brilho do Sol Esta terra é feliz Longe dos pássaros mortos Do chilrear dos pássaros mortos Longe

Distante Espírito estelar concede-me um desejo Um só desejo neste crepúsculo tardio de Verão Um só sonho, solitário pedido de ventrículos refulgentes Vaporizada ânsia, A presença do artefacto de bronze. Musa, mãe, Amada A minha irmã-borboleta, ninfa matriarca alada. O artefacto de bronze, os olhos esmeraldas perdidas por califas cansados no deserto de miragens azuis Um vestido azul no bosque, o artefacto de bronze E à sombra do Salgueiro, o artífice tece um manto negro, brincando com as fadas Amarelas.



Vênus em Peles Pelo reino do mundo

As narinas não dilatam Nem se ruboriza a neve do teu rosto. Carnalidades riem rubi E as liberdades que há em ti.

Passas no silêncio da Lua pela noite, Deixando sóis quebrados nos peitos dos homens. Cansas suspiros no deserto do sonho, Deixando ninhos de lacraus no meu estômago.

A gravidade um capricho quando cais Gota da nuvem de êxtase, Agora suspendes o ar em danças de chuva, Indiferente ao rugido eu-agonia-trovão, Depois serás aura do dilúvio E tudo será templo das tuas formas.

Se fosse Demónio escondia-me entre os tigres de prata imóvel, tapando o grito da voraz volúpia que principia no teu corpo e cresce nas línguas infernais. Se fosse Anjo tingia-me de sangue e dançava sobre os abismos vergonhosos da tua presença, evaporando-me em querer o teu olhar.

As narinas não dilatam Nem se ruboriza a neve do teu rosto.



Pássaros estranhos tomaram o escuro de assalto. Esperei menos que uma dúzia de mulheres carniceiras me ensinassem como se escreve com esperma. Unicamente aqui entendi o complexo do meu desespero e do infortúnio que o calou na hora errada. Tomei por mim os ídolos das vossas mães, confusão a ser espera na floresta mágica dos sons da ramagem por conhecer. Não temas a rainha do espelho pois ela és tu. Saberei por fim quem me roubou a mente e vou perdoar-lhe tudo com unhas de cristal. Não ofendi a lua quebrada com as passadas descompassadas da minha alegria. Tomei por tristeza o que se entendia na noite como a torre dos suspiros alheios. Lembras-te de quando choraste por meia dúzia de indiferenças? Lembras-te dos rios que os teus olhos deram à luz? Nas suas margens surgiu a civilização.

A cidade dos sonhos conheceu três mil negros em fila indiana para o carrocel. Ajude-me a mãe cálida das inércias aladas, pois hoje os faróis vão comer focas à aurora e voam grandes baleias pelo escuro e resignado céu. O templo descolou para a Lua e os rinocerontes brancos choveram miséria nos planaltos, ares de sombra, o vento esguicha melódicas instâncias da insuportável dança do trigo. Aum. Parte o pão. Semente do céu, um dia serás grandes tempestades vermelhas que fustigam oceanos. A coroa de pérola nascerá e a tua fronte será agrinaldada por pasmos e suspiros de donzelas, sereias, bruxas e toda a espécie mamária de pequeno e grande porte. Como gostaria que voltasses. Solta os cabelos mais uma vez e corre nu pelo espasmódico movimento da tua existência. É essa figura que guardo no coração com Saudade. De cabelos da cor das flores selvagens.

Mu Vaga, Vasta, Cega Lânguida larga lesma Com venenos mais doces que o prazer Câmaras de ossos suspensos, caras pálidas, Vestes rasgadas, negras e vermelhas Mu és má, preces dos mortos, O missionário azul ensinou a água aos macacos Eu aprendi a saltar pedras antes de agora com


KÓMUNH

As damas de Branco sorriram e cantaram ao céu de braços erguidos. Ascendi do centro do círculo e chorei as impurezas de um corpo perdido.

O bulbo cedeu à morte dos amantes. Corais cantantes da nova via Atlântida passada por baleias mecânicas submersas em mijo Frio, frito, feio o cavalete expôs ideias anãs à vista vazia dos olhos. Temos de trazer por casa as roupas da festa, o êxtase espalhou-se por toda a divisão e começou a entrar pelos poros de pele branca, trabalhada pelo macio, pelo vulgar. Princesas aladas gritaram mais alto e o carnaval de cinza começou. Bum Bádididi Bum a selva seiva e o sangue nos cantos e em todo o lado, BÁ Depois os duendes fumaram cachimbos e sopraram montanhas além da teia das nuvens. Toda a maquinaria riu e assobiou. BÁ BÁ BÁ. TÁDUM. Ontem rugiram leões na noite silvestre, a Lua escutou e girou o céu para olhar nos olhos as bestas. A planície africana, onde as doces gazelas são furadas, cumprindo pactos mais antigos que nós. Do tempo do solo e da brisa. Quando os homens negros tiraram a máscara rebolei e rasguei as bochechas. Estava tudo no sítio, as porções de luz e escuridão eram apropriadas, o sonho que se abateu desconcertadamente sonhou uma linda mulher cujas pernas eram barcos. Com ela naveguei por mares escondidos e ouvi as canções da espuma e do sal. AUM.

Faz-te meu na nudez dos fogos As preces da montanha As carnes queimadas

As preces da montanha crescem-te no peito, as tuas carnes queimadas São o toque da beleza incandescente


Se me quiseres no abraço de cinza Se não tiveres medo de mim Serei tua, serás meu, e mais, uma flor nascerá, como nós, e as suas pétalas terão toda a luz e escuridão do universo, as cores serão o mais sublime paraíso, o abismo mais profundo e devorador

A dança do manto Olhos castanhos perseguem coelhos Lagartas fumantes no azul da minha morte

Como foram os 60 do nosso amor? Tivemos 4 filhos, colares de todas as cores, ácidos ao pequeno-almoço, uma manta de retalhos que também processava a realidade de ser Tudo sempre. Estas flores todas, todas estas flores...Aos slides que afogam oceanos e despem as cuecas às princesas. Rodopios de arrepios pontuando a descida do santo pelicano. Pai pelicano concede-me mais um suspiro, um último trago do intangível, imaterial, imenso, flutuante amor, de todos as eras.

Imemoriações

As foices comeram os peixes no segundo do alpendre. Cheirou-se por dentro a intrínseca indiferença à natureza alada do chumbo. Duas traças morreram em paixão, no fogo dos olhos da montanha. É-me igual. A bruxa cansada está morta. A bruxa cansada está morta e viúva de todos os troféus. Coroada, foi princesa, um dia, antes da queda. As chuvas varreram o recinto como se o pensamento fosse um hóspede sem convite na estalagem dos corpos perdidos. Cego a venda que me compraram na feira da cinza. Por dois destinos traçados é verdade a bocejante donzela e sabe dançar com o céu, mentindo as pernas por cima dos braços, gira borboleta, gira o gato malhado, além-mar. Viva!


O Chacal Escarlate, Nos desertos de timo, Rosnou mares de areia, Vagas de Sol e Susto Para lá dos horizontes púrpura, da queda do dia. O vento soprou da espiral no seu peito E a noite caiu Com a Lua sobre as pirâmides ébrias, Sobre as cabeças dos Escravos E o brilho branco da Lua nos olhos de Sangue, No fogo dos olhos da grande Besta, Que uiva do topo da torre. As mãos negras seguram a taça e o sangue corre pelas planícies de sal, pelas faces pálidas, pela fome dos punhais. . .

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A dança dos punhais começou com um tigre ou um grifo devorador de manadas. Eu trovejei aço divino. Eu vi o azul. Respirei as nuvens do pai-céu, teu senhor supremo. Ó impune mortal tentas a sorte da minha intempérie, da minha natureza homicida? Eu vi as mulheres deusas a dançar e sai cego do salão. Bebi vinho pelas estepes, dancei com os sapos ao luar. Eu vi sete Luas a queimar o céu e cuidei carinhos mortais pela donzela de lábios azuis. Ovos de anjo, Selvagens virgens, tímidas, num lago de cristais profundos, perfumados e a bailar.


Ó Visão Vermelha Fogo Voz Vista

SUNE

Os tambores bateram no fundo. As árvores morreram, o seu canto expirou em lenhos podres, na doçura do veneno de carne. O sangue correu pelos campos e pássaros caíram das nuvens, a louca melodia dos passos pesados ecoou pelos salões, as antigas maravilhas voltaram a respirar a aurora, de dedos róseos na despedida das luas amarelas, nas cidades doentes. ÓH chacais, ÓH hienas do riso primeiro, devorai as crianças antes do enterro do rei, que se erguerá da morte e com anéis de ferro imporá o reino dos mortos sobre a terra. Os tambores bateram no fundo, a água ubíqua brotou da ferida. Sarada esta gangrena será apenas saudade da dor, dos tempos de fogo em que despimos as peles e dançámos ósseos com os ventos do deserto. O punhal mentiu mas serviu o seu propósito.

Inóspitas terras

Ó cânticos de morte, ó trevos na sombra, Muros de sangue. A seiva dos nossos destinos corre pela veia da cidade. Esgotos ao luar e o chacal de fogo no deserto de pedra. As virgens sobem os degraus do templo. Coração de trevas, o tambor e a negra, vermelha visão dos olhos da montanha. As virgens sobem os degraus do templo. O senhor do sonho raptou a rainha e as mulheres esfaqueiam as coxas em lamentos, as virgens sobem os degraus do templo.


A taça que desça dos céus e que as trompas da corte dos anjos queimem os olhos de tudo e que gritem aos ouvidos de tudo, e se as virgens ouvirem os seus véus cairão e então as planícies abrirão os braços, o Vento será a vontade dos corpos e as Velas da Nau Solar, os remos pela noite Escura.

No tempo de t conheci uma menina, na cara rainha, de todas as idades, da vinha, de toda a vinha e dos pomares.



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