Revista ABCFARMA

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REVISTA

ABCFARMA SETEMBRO/17

VEÍCULO OFICIAL DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DO COMÉRCIO FARMACÊUTICO ABCFARMA

Entidade Fundada em 30 de Outubro de 1959

1 Capa vol 2.indd 1

PUBLICAÇÃO DIRIGIDA AOS MÉDICOS, FARMACÊUTICOS, ODONTÓLOGOS, PRESCRITORES E DISPENSADORES DE MEDICAMENTOS PARA ATUALIZAÇÃO PROFISSIONAL

SEMPRE A MELHOR INFORMAÇÃO

23/08/2017 16:04:23


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EDITORIAL

ENTIDADE QUE SE PERPETUA NO TEMPO Na noite de 11 de agosto, a Academia de Ciências Farmacêuticas do Brasil (ex. Academia Nacional de Farmácia) realizou no Salão Nobre do Palácio Anchieta (Câmara Municipal da cidade de São Paulo) a solenidade comemorativa de 80 anos de seu aniversário de fundação, com uma programação que enalteceu a trajetória dessa importante entidade, que publicamos abaixo. O evento foi aberto com a Palestra Magna da Acadêmica Titular Profa. Dra. Silvia Storpirtis (entrevista da seção Páginas Azuis desta edição) sobre o tema Farmácia Clínica. Em seguida, foi concedida a Medalha Comemorativa a personalidades expressivas das Ciências Farmacêuticas e outorgadas as medalhas Jubileu de Ouro e de 80 anos aos Membros Mantenedores. A cerimônia prosseguiu com o lançamento da edição histórica da republicação da “Pharmacopéa Paulista de 1917” e, finalizando, a posse da diretoria eleita para operíodo 2017/2019. A Academia passou a ser presidida pelo Dr. Acácio Alves de Souza Lima As comemorações prosseguiram no sábado, com uma Missa de Ação de

Graças na Igreja Nossa Senhora Aparecida, no bairro de Moema, São Paulo. Um coral abrilhantou o ato religioso, em agradecimento aos Farmacêuticos dos setores de Pesquisa, Indústria de medicamentos, dos Distribuidores e do Varejo. Todos estão envolvidos na árdua tarefa de combater as doenças e recuperar os pacientes. Um almoço de confraternização selou a programação de 80 anos com chave de ouro – com o coral dando um show de canções italianas. Os presidentes Lauro D. Moretto e Acácio Alves de Souza Lima fizeram os agradecimentos aos presentes. E, para minha surpresa, anunciaram que iam homenagear a mim com um exemplar da edição moderna, adaptada pelo

Pedro Zidoi Sdoia Presidente

Governo do Estado de São Paulo, do histórico livro “Pharmacopéa Paulista”. Em meu discurso de agradecimento, manifestei minha honra de receber tal homenagem – por muitos anos, usei a Phamacopéa Paulista para a correta dispensação de medicamentos. Expressei também meu reconhecimento aos confrades da Academia, que sempre foram meus professores na minha vida profissional. E, antecipadamente, convidei os presentes quando comemorar o meu aniversário de 100 anos. A festa será por minha conta.n

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ÍNDICE

EXPEDIENTE Diretor Presidente Pedro Zidoi Sdoia Jornalista responsável Celso Arnaldo Araujo Mtb 13.064 Analista e Programador Eduardo Novelli Design / Diagramação Sérgio R. Bichara Colaboradores Américo José da Silva Filho Cadri Saleh Ahmad Awad Geraldo Monteiro Juan Carlos Becerra Ligos Mauro Pacanowski Regina Blessa Rui de Sá Telles

EDITORIAL O presidente Pedro Zidoi fala dos 80 anos da Academia de Farmácia.............................................................................................. 03

PÁGINAS AZUIS Silvia Storpirtis A professora da USP fala sobre o Consultório Farmacêutico, a nova realidade da farmácia................................................................................................. 06

SAÚDE Cranberry: a fruta que vende bem-estar............................................................ 10 Estatinas: o inimigo número 1 do mau colesterol............................................. 12

Alergia: a explosão da Primavera............................................................................16 Mau hálito: constrangimento boca a boca........................................................ 20

Higiene das mãos: um hábito que salva vidas..................................................24 Surdez: uma nova técnica cirúrgica...................................................................... 28

ENCONTRO Conbrafarma: A farmácia em debate................................................................... 32

GESTÃO GESTÃO

Distribuição/ Publicidade ABCFARMA Periodicidade Mensal Rua Santa Isabel, 160, 5º andar, conjunto 51, Vila Buarque, São Paulo, SP, CEP 01221-010 Fone: (11) 3223-8677 Fax: (11) 3331-2088 www.abcfarma.org.br

TEXTO: SILVIA OSSO FOTOS: DIVULGAÇÃO

FORMAS Américo José: a galinha dos ovos de ouro em sua farmácia.................... 46 DE OBTER MAIS Mauro Pacanowski: o perigo da perda de confiança.................................... 48 LUCRO Ano difícil para alguns – mas de oportunidades para outros! Pensar positivo faz bem; mas agir faz melhor ainda. Não adianta ficar esperando mudanças na política e nas conjecturas do país. O importante é mudar seu negócio, suas atitudes e partir para a ação. Uma regra básica para os pequenos ou médios empresários é aprender a pensar e agir como os grandes! Nem sempre é fácil, mas eis algumas sugestões para serem cumpridas com assertividade e proatividade.

Silvia OSSO: 10 passos para o merchandising ideal....................................... 52

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Juan Becerra Ligos: é hora de desconto. Até quanto?.................................. 55 ACERTAR NA ESCOLHA DO MIX e CUIDAR DO SEU ESTOQUE

Conhece bem sua clientela e o objetivo de vendas de sua empresa? Sabe para quem sua farmácia vende? Se realmente sabe, já é meio caminho andado para definir um mix lucrativo de produtos. Para compor

o mix, use o resultado da análise das vendas dos produtos através da chamada Curva ABC. Defina os produtos que mais saem e que mais contribuem para a margem de lucro da farmácia. Também é necessário levar em conta o giro de cada item. Combine itens de giro maior e margem menor com os de giro menor e margem maior. Isso só pode ser feito com um rigoroso controle de estoque e relatórios detalhados das vendas – primeiro passo para compor um mix desejável e ter um estoque equilibrado em quantidade e qualidade.

Betânia Alhan: a independência do farmacêutico.......................................... 58 Geraldo Monteiro: é hora de se reinventar........................................................ 60 Eduh Rodrigues: 7 Dicas de liderança..................................................................62

NOTA

Edison Tamascia: as vantagens do associativismo para as pequenas farmácias............................................................................................... 64

• A ABCFARMA não se responsabiliza pelo preço determinado, nem pela qualidade dos produtos ou dos serviços anunciados. • A opinião dos autores não é necessariamente a opinião da ABCFARMA.

3

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Para anunciar trade@abcfarma.org.br

• Os anúncios de produtos ou de serviços publicados nesta revista são de total responsabilidade do anunciante.

Silvia OSSO

é palestrante e consultora de empresas, especialista em desenvolvimento de pessoas e varejo. Autora dos livros, destinados ao varejo e serviços, “Atender bem dá lucro”, “Administração de Recursos Humanos em Farmácia”, “Programa prático de marketing em farmácias” e “Liderança para todos”. Contatos: siosso@uol. com.br ou Facebook: silviaosso

ARTIGO

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DIRETORIA

ABCFARMA

Associação Brasileira do Comércio Farmacêutico

Diretoria: Diretor Presidente: Pedro Zidoi Sdoia

Diretores Conselheiros:

(SP)

Diretores Vice-Presidentes: Marcelo Fernandes de Queiroz (RN) Lázaro Luiz Gonzaga (MG)

Diretores Secretários: Edenir Zandoná Júnior (PR) Luís Carlos Caspary Marins (RJ)

Suplentes: Leomar Rehbein Armando Gomes dos Reis Filho Joaquim Tadeu Pereira

(RS) (AM) (PA)

Diretor Tesoureiro: João Luiz dos Santos

(SP)

Suplentes: Alex Cavalcante Garcez Romildo Marcos Letzner

(SE) (SC)

Diretores Conselho Fiscal: Adelmo Rego Jaime Nunes Moreira Francisco Messias Vasconcelos

triênio de 28/10/2016 a 27/10/2019

(SP) (RS) (DF)

Suplentes: Carlos de Souza Andrade (BA) Luiza Diva Cunha Dutra (RN) Roberto Brasileiro Lima (BA)

Ademir Tomazoni (Itajaí - SC) Alarico Rodrigues de Araújo (Manaus-AM) Álvaro Silveira Júnior (DF) Antonio Augusto Vianna (SP) Antonio Felix da Silva (CE) Antonio Fernandes de Souza Filho (DF) Antonio Ironi Nunes Jaques (RS) Antonio Menezes de Araújo (SP) Antonio Walmir Nola (SC) Ben Hur Jesus de Oliveira (RS) Benilton Gonçalves Diniz (MA) Cássio Fabrízzio de Souza Sobrinho (AP) Claudisnei Machado Constante (SC) Cleber Antunes Magalhães (BA) Dejalma Lemos da Silva (RN) Delano Leno Silva Miranda de Souza (PI) Domingos Tavares de Souza (TO) Edimar Pereira Lima (RR) Edson Daniel Marchiori (ES) Eliomar Bruce de Oliveira (AM) Elmar Humberto Goulart (Uberaba-MG) Emanuel Messias Câmara (SC) Everton Luiz Ilha Mahfuz (RS) Felipe Antônio Terrezo (RJ) Francisco Deusmar de Queiros (CE) Gilson G. Figueiredo Terra (MG) Gladstone Nogueira Frota (RO) Hamilton Domingos Teixeira (MT) Herbert Almeida da Cunha (PB) Irene Prieve do Nascimento (MT)

Ivan Pedro Martins Veronesi (SP) Jefferson Proença Testa (Londrina-PR) João Aguiar Neto (GO) João Arthur Prudêncio Rêgo (BA) João Garcia Galvão (SP) João Gilberto Serrat (RS) José Ademar Lopes (RS) José Antonio Vieira (AL) José Cláudio Fernandes (Santo André-SP) José da Silva Costa (RR) José Ricardo Nogared Cardoso (Tubarão – SC) José Rodrigues da Silva (Sul do Maranhão – MA) Julio Cezar Campagnaro (ES) Katia Vanessa Moreira Mendes do Bom Conselho (MG) Luiz Geraldo Neto (SP) Luiz Marcos Caramanti (SP) Luiz Trindade Pinto (BA) Marcos Antonio Carneiro Lameira (AC) Marcos de Souza (SP) Maurício Cavalcante Filizola (CE) Modesto Carvalho de Araújo Neto (MG) Neilton Neves dos Santos (PB) Nelcir Antonio Ferro (Cascavel-PR) Nelson Leonel Fleury (Anápolis- GO) Nery Wanderley de Oliveira (RS) Noésio Emídio da Cunha (Feira de Santana-BA) Ozeas Gomes da Silva (PE) Paulo Luiz Zidoi (SP) Paulo Roberto Kopschina (RS)

Paulo Sérgio Bondança (SP) Paulo Sérgio Navarro de Souza (PB) Philadelpho Lopes (SP) Ricardo Duarte da Silveira (RS) Roberto Martins Rosa (Mato Grosso do Sul – MS) Romualdo Constantino Magro (SP) Ronaldo José Neves de Carvalho (SP) Rubin Wendland (Cascavel-PR) Sérgio de Giacometti (Oeste Catarinense - SC) Vollrad Laemmel (Vale do Itajaí-SC)

Conselheiros Adjuntos: Ademilson de Menezes Cordeiro (PE) Roberto Massatoshi Baba (Birigui - SP) Vitor Fernandes (Americana - SP)

Diretores Vitalícios: Antonio Barros Leite Júnior (Jundiaí - SP) Armando Zonta (SC) Francisco Miguel da Silva (RN) Fridolino de Moraes Rêgo (BA) Gilberto David Cunha da Silva (RS) Gonçalo Aguiar Ferreira (SP) Hermes Martins da Cunha (MT) João Azevedo Dantas (PB) José Aparecido Junqueira Guimarães (DF) Pedro de Araújo Braz (RJ) Ruy de Campos Marins (RJ) Waldemar Pupo Ferreira (SP)

CONSELHO SUPERIOR DE ESTUDOS JURÍDICOS E ESTRATÉGICOS Pedro Zidoi Sdoia

(SP)

Dr. Juan Carlos Becerra Ligos (SP)

Adelmir Araújo Santana

(DF)

Álvaro José da Silveira

(DF)

Dr. Rafael Souza de Oliveira Espinhel de Jesus (SP)

Dr. André Bedran Jabr

(SP)

Edison Gonçalves Tamascia (SP)

Geraldo Cardoso Monteiro (SP)

Jorge Froes de Aguilar

(SP)

Guilherme Leipnitz

José Abud Neto

(SP)

Serafim Branco Neto

(SP)

Pedro Candido Navarro

(SP)

(RS)

Jorge Fernando de Azevedo Trindade (RJ)

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NOVA DERETORIA___________2016 2019.indd 4

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PÁGINAS AZUIS TEXTO: CELSO ARNALDO FOTOS: DIVULGAÇÃO

Consultório farmacêutico Uma nova era Na 7ª edição da Conbrafarma, Congresso Brasileiro do Varejo Farmacêutico, que acaba de ser realizado em São Paulo, o painel mais concorrido foi o que abordou o novo patamar da profissão de farmacêutico: o chamado Consultório Farmacêutico, serviço pelo qual esse profissional – cuja presença é obrigatória durante todo o horário de funcionamento das cerca de 80 mil farmácias brasileiras – supervisiona o uso racional de medicamentos, visando seu pleno efeito para curar ou controlar as doenças crônicas das pessoas que acorrem às farmácias, com um mínimo de efeitos indesejados. A Dra. Silvia Storpirtis, Professora Associada de Biofarmácia e de Farmácia Clínica e Atenção Farmacêutica da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP, fez parte do painel – e falou da experiência da própria universidade na criação de um Consultório Farmacêutico dentro do campus da USP. Depois do evento, ela falou dessa nova era nesta entrevista à Revista ABCFARMA A farmácia clínica pode representar uma nova era para boa parte das quase 80 mil farmácias brasileiras? É uma tendência? Sim, é uma tendência, porque a profissão farmacêutica no mundo está mudando, em função do resgate do papel social do

farmacêutico. O modelo do farmacêutico boticário, que atuava na comunidade e tinha a confiança das pessoas em relação a aconselhá-las sobre o uso de medicamentos, se perdeu em virtude da industrialização. O farmacêutico foi trabalhar na indústria e em laboratórios de análises clínicas – descaracterizando o papel do farmacêutico junto à população.

Dra. Silvia Storpirtis E por que esse papel tem de ser resgatado? A população mundial está envelhecendo, as doenças crônicas se multiplicando e os medicamentos cada vez mais complexos – além da deterioração dos serviços públicos de saúde, como ocorre no Brasil. Por isso, o resgate da farmácia clínica faz parte da política de saúde de muitos países, no sentido de o farmacêutico se integrar às equipes multiprofissionais da área, a fim de desempenhar um papel importantíssimo – promover o uso racional dos medicamentos.

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ABCFARMA Não haveria aí um choque entre esse uso racional de medicamentos e o caráter comercial de uma farmácia? Houve uma grande mudança de paradigma, a partir da lei 13.021 de 2014 – que altera o conceito de farmácia, de estabelecimento comercial para estabelecimento de saúde. Mesmo entendendo que vivemos num sistema capitalista e que a maioria das farmácias são de propriedade de empresários, é certo que o medicamento não é uma mercadoria qualquer. Esses proprietários devem olhar para esse novo paradigma, até porque a atenção clínica não vai impedir a venda de medicamentos, mas apenas racionalizá-la. Medicamentos são e serão o recurso terapêutico mais utilizado em todo o mundo.

Na USP, já há consultórios farmacêuticos atendendo pacientes do Hospital Universitário, por exemplo. Qual é a diferença desse atendimento para uma consulta médica propriamente dita? Toda diferença. O acompanhamento farmacoterapêutico é realizado no sentido de, periodicamente, supervisionar o uso de medicamentos. Essa é uma etapa do tratamento que não tem sido praticada nos serviços públicos e nem nos atendimentos médicos dos planos de saúde – que são consultas muito rápidas. E é certo que simplesmente ter acesso aos medicamentos prescritos não resolve todos os problemas. O farmacêutico, nesse contexto, é fundamental para promover não apenas o uso racional dos medicamentos mas, em consequência, a adesão ao tratamento. São várias as razões para a não-adesão. Uma delas são as reações adversas produzidas pela combinação de medicamentos, bem como efeitos terapêuticos abaixo do que se esperava. Também

O acompanhamento farmacoterapêutico é realizado no sentido de, periodicamente, supervisionar o uso de medicamentos. pode acontecer de o paciente não se adaptar à posologia e aos horários da tomada. Ou uma interação indesejável de medicamentos que, sobretudo em idosos, podem ter sido prescritos por mais de um médico – o que cria a chamada polifarmácia. Numa consulta médica geralmente rápida, essas dúvidas nem sempre são esclarecidas. Daí o papel do farmacêutico.

Mas a dúvida é: esse “novo” farmacêutico cabe atrás do balcão de uma farmácia da Avenida São João ou de uma cidade pequena de interior? Acredito que sim, porque esse modelo já está consagrado em muitos países. O farmacêutico evidentemente não fará esse atendimento a todos os pacientes. É necessário estabelecer um critério de seleção em função da necessidade do paciente. O medicamento é uma tecnologia dura. O serviço, uma tecnologia leve. E ambas as tecnologias são importantes para o cuidado de saúde.

Qual é limite de atuação do farmacêutico clínico? Ele não faz diagnósticos, por exemplo. E a prescrição farmacêutica deve se limitar a medicamentos isentos de prescrição médica. A prescrição farmacêutica veio regulamentar uma prática que existia há muitos anos: a indicação farmacêutica. Há duas regulamentações do Conselho Federal de Farmácia sobre o assunto, ambas de 2013 – a 585, que regulamenta as atribuições clínicas do farmacêutico; e a 586, que regulamenta a prescrição farmacêutica. Ele pode prescrever os medicamentos isentos de prescrição médica, estabelecendo um serviço farmacêutico documentado, que pode ser rastreado.

Esse serviço deve ser remunerado? Essa questão ainda está em discussão. No meu ponto de vista, isso requer uma sistematização, para não se tornar uma prática inadequada para os dois lados. Num país com a dimensão continental como o nosso, com suas características

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Os serviços farmacêuticos vão da dispensação ao acompanhamento farmacoterapêutico – que é o que fazemos na farmácia universitária da USP epidemiológicas e no qual os medicamentos seguem sendo o recurso terapêutico mais utilizado, as farmácias vão continuar comercializando medicamentos. Mas é preciso reavaliar suas práticas. Se a farmácia realmente se organizar no sentido de ter um espaço para atendimento – o consultório farmacêutico, que já está regulamentado e tem número de registro CNAE (Classificação Nacional de Atividades Econômicas - preservará a relação entre o cliente a farmácia.

Uma questão prática: a farmácia que só trabalha com um farmacêutico por turno, que é a regra na maioria das farmácias, terá de contratar outro para se revezar entre o balcão e o consultório? Essa é mais uma questão de organização da própria farmácia. Mas o benefício que a farmácia terá ao manter um farmacêutico que possa atender a essa necessidade da população pode ser marcante para um estabelecimento – um diferencial de qualidade.

Vocês estão fazendo algum trabalho no sentido de demonstrar esses benefícios às farmácias? Enquanto universidade, o nosso foco é preparar os farmacêuticos para esses novos valores e os novos desafios do mercado. Acredito que haja outras instituições capazes de fazer esse mesmo trabalho junto às farmácias.

O consultório farmacêutico será um serviço obrigatório? Não é obrigatório, mas desejável. Até onde sei, já há, em muitos estados do país, farmácias que prestam esse serviço.

Para deixar bem claro: um farmacêutico não pode prescrever um antibiótico para uma pessoa com sintomas de infecção urinária, por exemplo? Não, porque essa classe de medicamentos só pode ser vendida com prescrição médica. Deve ficar muito claro que tudo tem de ser feito dentro dos limites de atuação profissional. O farmacêutico não vai fazer diagnóstico – não é formado para isso. Se for o caso, deve encaminhar o paciente a um médico. O próprio Conselho Federal de Farmácia, junto com os conselhos regionais, está trabalhando para regulamentar as atribuições clínicas e de prescrição, com elaboração de material de apoio – para orientar e ajudar na formação do farmacêutico, sobretudo os mais antigos, sob essa nova visão.

A USP tem duas turmas no curso de Ciências Farmacêuticas, cada uma com 75 alunos. Você sente neles interesse em se encaminhar para a farmácia clínica? A USP tem uma particularidade. Por estarmos no estado de São Paulo, sede da

maioria das indústrias farmacêuticas do país, a maior parte se encaminha para esse segmento. Mas não é o cenário nacional. O fato é que, dentro desse novo cenário da atuação farmacêutica, os futuros farmacêuticos não mais se formarão para ficar atrás de um balcão de farmácia como se fossem um balconista. Ele será um profissional que vai atender ao clientes que mais precisam dele – como os que chegam com uma prescrição de cinco os seis medicamentos numa mesma receita ou receitas de vários médicos. Nesses casos, o farmacêutico terá a oportunidade de oferecer ajuda ao cliente. Cito três tipos de cliente: idosos, diabéticos e hipertensos. Por falta de orientação, muitos desses pacientes não tomam os medicamentos prescritos de forma adequada. Ou não aderem ao tratamento. Os serviços farmacêuticos vão da dispensação ao acompanhamento farmacoterapêutico – que é o que fazemos na farmácia universitária da USP.

Isso pode ser feito numa única consulta? É necessário haver uma primeira consulta e depois consultas sucessivas dentro de um plano de cuidados e interação com os médicos prescritores. Para isso, o farmacêutico deve se comunicar com o médico prescritor, se houver dúvidas.

Realisticamente, professora Silvia, você acha que, do ponto de vista prático, das nossas 80 mil farmácias quantas podem aderir a esse novo serviço? Isso é um processo. Não podemos esperar que todas passem a oferecer esse serviço da noite para o dia. O ideal seria que todas aderissem. Em boa parte do Brasil, o balcão da farmácia é a porta de entrada do nosso sistema de saúde. É uma grande responsabilidade. n

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Mitos e verdades

ACN

NATUREZA TEXTO: CELSO ARNALDO FOTOS: DIVULGAÇÃO

Os benefícios

do Cranberry O cranberry é uma fruta de origem norteamericana utilizada como alimento e como tratamento de algumas doenças, há muitos séculos Tem sido usada na medicina popular, sob a forma de suco, para a prevenção de infeções do trato urinário (ITUs). Mais recentemente está disponível o extrato padronizado de cranberry em sachês ou em comprimidos. No passado, achava-se que a ação do cranberry era a de tornar a urina mais ácida. Acreditava-se que essa maior acidez seria suficiente para matar as bactérias. Entretanto, os estudos mostraram que a ação do cranberry ocorre através de substâncias chamadas proantocianidinas A (PAC-A), que foram identificadas em 1989. A PAC-A age evitando que as bactérias se liguem às paredes do trato urinário (mucosas urinárias). Para que ocorra a infeção, é necessário que as bactérias se prendam na mucosa, para depois penetrar. Essa ação de inibição da adesão das bactérias na mucosa urinária foi comprovada em estudos realizados com a Escherichia coli P-fimbriada, a bactéria que mais frequentemente causa infecção urinária. Nesses estudos, observou-se que

a E. coli P-fimbriada, na presença do PAC-A, não consegue se prender na mucosa urinária e, portanto, não se inicia a infecção. Além da ação de inibição da adesão das bactérias na mucosa urinária, o cranberry é rico em vitamina C e tem importante ação antioxidante. Os antioxidantes neutralizam as partículas no organismo, conhecidas como radicais livres, que danificam o DNA e contribuem para doenças cardíacas, diabetes, câncer e outras condições. As mulheres são mais suscetíveis à ITU, porque a uretra feminina é curta, permitindo o rápido acesso de bactérias à bexiga. Além disso, na mulher a abertura da uretra fica próxima de fontes de bactérias (vagina e ânus). A incidência de ITU aumenta com a idade e com a atividade sexual. As taxas de infeção urinária são mais altas em mulheres pós-menopáusicas, por diversas causas, entre as mais importantes: prolapso (queda) da bexiga ou do útero, causando esvaziamento incompleto da bexiga; baixa de estrogênio com alterações na flora vaginal; diminuição dos lactobacilos, importantes para a manutenção da flora vaginal normal,

permitindo a colonização periuretral com bactérias anaeróbicas gram-negativas, como a E. coli. Uma classe de medicamentos utilizados no tratamento e na prevenção das ITUs é a dos antibióticos. O tratamento da infeção, em geral, não ultrapassa 14 dias. Já a prevenção pode ser feita por um tempo bem maior. Sabemos que os antibióticos interferem negativamente na flora intestinal fisiológica, podendo causar importantes alterações do funcionamento digestivo, tais como diarreia, má absorção dos alimentos, constipação, etc. A utilização de antibióticos por longo período oferece um risco de efeitos adversos ainda maior para a paciente. Existe um estudo que mostra resultados equivalente quando o cranberry é utilizado na prevenção das ITUs, quando comparado ao trimetoprim (antibiótico). Entretanto, a quantidade de efeitos adversos foi bem maior com a utilização do antibiótico. Portanto, a utilização de cranberry na prevenção das ITUs oferece resultados equivalentes ao do antibiótico, mas com um perfil de tolerabilidade nitidamente superior. n

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SAÚDE TEXTO: CELSO ARNALDO FOTOS: DIVULGAÇÃO

ESTATINAS Amigas do coração

Parece unânime entre médicos de diversas especialidades – sobretudo cardiologistas: as estatinas, medicamentos redutores das taxas de colesterol, mudaram o curso das doenças cardiovasculares, reduzindo a mortalidade e aumentando a qualidade de vida. Mas quem deve tomar estatinas? Quem mais se beneficia desses remédios? O Prof. Dr. Raul Dias dos Santos Filho, diretor da Unidade Clínica de Lípides do Instituto do Coração de São Paulo, fala aqui sobre esses fármacos extraordinários que se tornaram nossos aliados na guerra contra as doenças cardíacas e vasculares.

Antes de falar sobre estatinas, um esclarecimento: alguns estudos estão revendo o papel do colesterol nas doenças cardiovasculares – ele não seria um vilão tão temível quanto parecia... Existe mesmo um grupo de pesquisadores conhecidos como “céticos do colesterol”, que contestam o colesterol como fator de risco. Mas isso não tem fundamento. “Se você perguntar qual é o principal vilão das doenças cardiovasculares no mundo, eu teria de responder hipertensão arterial – que, além de

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O mais importante: quando você controla o colesterol, você reduz significativamente o risco de doenças cardiovasculares causar doenças coronárias, pode provocar problemas renais graves e AVC. Mas, analisando países asiáticos, como China, Japão, Coreia, onde se consomem dietas muito pobres em gorduras saturadas e os níveis de colesterol são muito baixos, mesmo na presença de outros fatores de risco, como diabetes e tabagismo, ali as taxas de doenças coronarianas são de 3 a 4 vezes mais baixas que nos países ocidentais. O colesterol, sem dúvida, é um dos principais fatores de risco. Faz parte da placa coronariana, faz parte da progressão da placa e há uma associação muito forte do colesterol com os eventos agudos, como infarto. O mais importante: quando controla o colesterol, você reduz significativamente o risco de doenças cardiovasculares. Uma redução intensiva no LDL colesterol – o chamado colesterol ruim – diminui em até 40% o risco dessas doenças. Sem ele, dificilmente você vai encontrar um paciente com problema coronariano – a menos que ele, digamos, fume três maços de cigarro por dia. Aí estaríamos falando de uma situação extrema”.

de uso das estatinas é de apenas três meses – o que é insuficiente. Ou porque o paciente não está convencido de que vai fazer bem para ele ou o porque o próprio médico suspende o remédio, achando que já resolveu o problema. Colesterol não dói, não dá sintomas – por isso, paciente e médico devem se convencer de que o benefício do tratamento é vital.

Muitas pessoas desconhecem que boa parte do colesterol que circula no sangue é produzido por nós mesmos, não pelos alimentos. Qual é o real papel do estilo de vida, sobretudo dieta inadequada, no aumento das taxas de colesterol? De fato, a maior parte do colesterol, cerca de 70%, é sintetizado por nosso organismo – porque é uma substância essencial para várias funções metabólicas. Mas o estilo de vida é muito importante. Os genes são os principais determinantes dos níveis de colesterol, mas nosso atual estilo de vida, que favorece sobretudo a obesidade abdominal, pode levar a uma redução do HDL, o chamado colesterol bom, que é um fator protetor. A isso se somam sedentarismo e tabagismo, que trabalham contra as artérias. É preciso analisar o conjunto, mas nosso atual estilo de vida em geral é muito ruim para nosso sistema vascular.

Você mencionou o HDL, o colesterol bom, que Em quanto tempo uma retira o ruim das artérias. redução nas taxas de Como aumentar os colesterol reduz o risco níveis do HDL no sangue, arterial? Costumo dizer que tratar colesterol é aumentando a proteção? investimento a longo prazo. Para ter os primeiros benefícios, em termos de redução de risco, no mínimo um ano, um ano e meio de tratamento. O benefício vai aumentando com o passar do tempo. Infelizmente, no Brasil, o tempo médio

Há muita pesquisa em torno do HDL, pois quem tem HDL alto – acima de 60 – tem risco menor de doença cardiovascular. Abaixo de 40, nos homens, é aumento de risco. Atividade física regular, por exemplo, com queima de pelo menos

1.500 calorias por semana, aumenta o HDL. Eu diria que HDL baixo é ainda mais decorrente de mau estilo de vida do que o LDL alto.

Todos os médicos elegem hoje a obesidade abdominal, a barriguinha, como um dos grandes vilões das doenças cardiovasculares. Por quê? Porque essa gordura sintetiza uma série de substâncias que vão para o sangue e alteram nosso metabolismo. Aumenta, por exemplo, a produção de triglicérides pelo fígado, reduz o HDL, diminui o efeito da insulina dos músculos, elevando a glicose no sangue. Barriga não é apenas um depósito de gordura, mas a “fábrica” de uma série de substâncias que agridem o organismo.

As estatinas já têm quase 30 anos de mercado. A primeira a ser lançada no Brasil foi a lovastatina, em 1988. Elas agem controlando o colesterol que nosso organismo produz? Sim, mas a ação delas é tão potente que, mesmo que a pessoa coma muita bobagem, o colesterol abaixa. Não que as estatinas sejam um salvo-conduto para uma dieta descontrolada – só quero demonstrar o poder desses medicamentos. Não é vacina contra excessos. Na verdade, as estatinas agem no fígado, aumentando a capacidade do órgão de filtrar e tirar colesterol da circulação – mecanismo este que gerou um Prêmio Nobel de Medicina. A extensão da queda depende da genética. Há pessoas que respondem muito bem às estatinas, outras respondem menos. Já vi, e isso depende da dose e do remédio, reduções de até 70% no LDL colesterol. Em média, 35% de redução no LDL, o que equivaleria a uma queda de 25% no risco de doença cardiovascular.

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ABCFARMA Estatinas, em teoria, devem ser tomadas por toda a vida? Sim, e por isso é que fundamental saber quem deve tomar estatina. Pessoas com baixo risco de doenças cardiovasculares não terão muitos benefícios tomando estatinas. A gente não analisa só o colesterol, mas o conjunto de fatores de risco. Detectado um risco total maior, o paciente merece tomar estatina. E qual seria o paciente ideal para as estatinas? Em primeiro lugar, os que já tiveram problemas cardiovasculares – infarto, angina, AVC. Esses são os que mais vão se beneficiar, porque o risco deles, para novos eventos, é muito alto. Quem mais? Pacientes com vários fatores de risco: diabéticos, hipertensos com HDL baixo, pessoas com forte história dessas doenças na família e pessoas com níveis muito altos de colesterol.

E se a pessoa não tem outros fatores de risco, a não ser colesterol alto? A resposta aí é mais filosófica. Vamos pensar assim: depois dos 50 anos de idade, uma em cada duas pessoas vai morrer de doença cardiovascular no Brasil. Se você tem um medicamento que pode reduzir o risco em 30%, a lógica recomenda usar. A maior parte das pessoas que infartam não tem colesterol alto – a média de LDL dos infartados é 130, dentro da normalidade, portanto. Mas quando você analisa os japoneses, que têm muito menos infarto do que os brasileiros, a média de LDL é 70/80. Isso nos remete à questão: um sujeito com 130 de colesterol, sem outro fator de risco, merece ou não tomar estatina? Essa ainda é a grande discussão. Se o risco dessa pessoa de ter uma doença cardiovascular é de 0,5% ao ano, talvez não valha a pena. Se for de 5%, é completamente diferente. Pessoas na “zona cinzenta” merecem métodos de estudo mais apurados – como a análise de fatores inflamatórios no sangue ou

de placas de aterosclerose subclínicas. Com esses dados, recomenda-se ou não uma estatina. Esse será o futuro da medicina preventiva.

Existem várias famílias de estatinas. Alguma diferença fundamental entre elas? As estatinas mais potentes são a rosuvastatina e a atorvastatina. E a potência, no caso, é no seguinte sentido: quanto mais conseguir baixar o colesterol com a dose mais baixa, melhor será a estatina. A rosuvastatina pode reduzir o LDL em até 45% com sua dose inicial de 10mg. Já a atorvastatina reduz o LDL em até 35% na dose inicial. Nas doses máximas, ambas produzem reduções de até 55% e algum aumento no HDL. Em seguida, temos a sinvastatina, uma droga mais antiga, que reduz na dose inicial cerca de 25% do LDL e, na máxima, uns 40%. Mas as respostas, com qualquer uma dessas estatinas, são individuais. Há pacientes que terão sua taxa de colesterol reduzida em 50% mesmo com a dose mais baixa.

Os efeitos colaterais preocupam? Na minha experiência, a pedra no sapato das estatinas são dores musculares que efetivamente podem piorar a qualidade

Há pacientes que terão sua taxa de colesterol reduzida em 50% mesmo com a dose mais baixa de vida de alguns pacientes. A queixa é uma espécie de dor no corpo, semelhante à da gripe. Pacientes mais idosos, ou com grande propensão ao diabetes, podem ter algum risco de desenvolver a doença – mas, por outro lado, são os pacientes que mais se beneficiam das estatinas como preventivos de doenças cardiovasculares. Para a imensa maioria dos usuários, os benefícios são muito maiores do que o risco.

Você concorda com os especialistas que apontam as estatinas como os medicamentos mais promissores do século 20? As estatinas estão, sem dúvida, entre as drogas que mudaram o curso das doenças cardiovasculares, melhorando a qualidade e a expectativa de vida das pessoas. Você tira pacientes da fila de cirurgia cardíaca com estatinas, que têm a capacidade de “acalmar” as placas coronarianas, tornando-as menos instáveis, e de melhorar a circulação do sangue no coração. n

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Mitos e verdades

ACN

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PRIMAVERA Explosão de alergias

Setembro está aí e, com a redução nos índices de umidade do ar, cresce o número de espirros, tosses e alergias em geral. Na seca, há um aumento de até 40% na incidência de doenças respiratórias, principalmente as alérgicas – como asma, rinite, resfriados e gripe. E o problema deve se agravar ainda mais este mês de setembro, por conta da chegada da primavera e o aumento de pólen das flores no ar

“Esse crescimento pode ser explicado por diversos fatores: umidade relativa do ar muito baixa, o próprio frio, que funciona como um fator irritante para as vias aéreas de algumas pessoas e a inversão térmica, que é responsável pelo acúmulo maior de poluentes na atmosfera”, afirma o Dr. Jaime Rocha, infectologista do Delboni Medicina Diagnóstica. A resposta alérgica é uma reação de hipersensibilidade do organismo quando as pessoas sensíveis a determinadas situações entram em contato com agentes desencadeantes, os chamados alérgenos, que provocam uma crise de doença alérgica. Cerca de 20% da população sofre de alguma forma de alergia. As formas alérgicas mais comuns são a asma (bronquite alérgica ou bronquite asmática), a rinite alérgica e as alergias cutâneas. “Entre os alérgenos mais conhecidos destacam-se a poeira domiciliar, ácaros, células da pele de animais, baratas, fungos, pólens,

além de agentes irritantes, como fumo e poluentes”, acrescenta o especialista. Rocha salienta que crianças de pais alérgicos têm maior probabilidade de serem alérgicas. “Crianças que possuem um de seus pais alérgicos têm 20 a 30% de chances de serem alérgicas, enquanto filhos de ambos os pais alérgicos já têm uma probabilidade de 60%”, afirma. Por outro lado, a alergia pode se desenvolver em qualquer fase da vida e, até mesmo, em pessoas sem histórico familiar. “Basta, para isso, que a exposição desse indivíduo a determinado alérgeno ultrapasse o seu limiar de tolerância”, revela o infectologista. De acordo com o Dr. Jaime Rocha, além dos testes clínicos de provocação oral, com exclusão e reintrodução do alimento “suspeito” da dieta, existe hoje uma série de métodos para avaliação diagnóstica das alergias. Entre eles: testes alérgicos que podem ser de

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ABCFARMA leitura imediata (de 15 a 20 minutos), intradérmicos de provocação ou de contato (resultado em 72 horas) e exame de sangue (dosagem de IgE total e específica). “Nesse exame de sangue são dosados anticorpos específicos contra uma grande variedade de alérgenos, como frutas, grãos, peixes e frutos do mar, proteínas de porco e vaca, ovos e laticínios, alérgenos inalantes, como pelos de animais, insetos, poeira e gramíneas, drogas, fungos e alérgenos ocupacionais”, finaliza o médico.

Como evitar as alergias w

Forre colchão e travesseiro com capa impermeável

w Retire tapetes e carpetes da casa, principalmente do quarto do paciente alérgico w Limpe a mobília da casa com pano úmido com frequência superior a uma vez por semana

w Retire as cortinas, substituindo-as por persianas, que são facilmente limpas com pano úmido ou, em caso de cortinas de tecido leve, lave-as a cada 15 dias, no máximo w Mantenha sempre a casa arejada e ensolarada w Evite estofados recobertos com tecido

w Os aspiradores de pó utilizados devem possuir filtro HEPA

w Não fume dentro de casa w Cobertores devem ser substituídos por edredons que possam ser lavados quinzenalmente

w Evite, no quarto do alérgico, objetos que acumulem poeira, como livros, revistas, brinquedos de pelúcia, caixas e quadros w Evite cheiros fortes no domicílio como tintas, solventes, inseticidas, produtos de limpeza.

Testes para detectar alergia Hoje já existe um teste, o chamado IgE específico, que pode identificar isoladamente o responsável por manifestações clínicas de alergia, sejam elas problemas respiratórios, cutâneos, alimentares ou até hipersensibilidade a drogas. De acordo com o Dr. Jaime Rocha, o IgE específico é uma ferramenta importante usada no auxilio do diagnóstico de alergia, quando há histórico clínico sugestivo. Esse teste pesquisa um único alérgeno e é feito por meio de um exame de sangue. Ele é indicado para avaliação de doenças atópicas (rinite alérgica, asma, conjuntivite alérgica, dermatite atópica) e manifestações possivelmente desencadeadas por anticorpos IgE, como anafilaxia por insetos, reações a alimentos e, eventualmente, medicamentos. De acordo com o especialista, a seleção dos alérgenos deve ser fundamentada pela avaliação do paciente, considerando o quadro clínico e a exposição a alérgenos de importância regional. Os laboratórios

de análises clínicas disponibilizam as seguintes opções para avaliação de IgE específico: a) alérgenos isolados, individuais, como Blomia tropicalis, leite de vaca, veneno de abelha etc.; b) “pool” de alérgenos (exemplos: mistura de poeira domiciliar e ácaros domésticos, alérgenos infantis etc.; c) painéis de alérgenos relacionados (exemplos: painel de fungos, painel de gramíneas etc.).

Alguns dos alérgenos que podem ser avaliados em um teste são: abacate, gema e clara de

ovo, abacaxi, glúten, abelha, grama, abóbora, grão de soja, algodão, alho, kiwi, laranja, ameixa, amêndoa, látex, lã, Amoxilina, leite, arroz, atum, maçã, aveia, banana, melão, barata, milho, mosquito, mostarda, peixe (bacalhau), carne de galinha, pelo de coelho, castanha do Pará, cebola, pó caseiro, queijo (cheddar), caspa de cachorro, salsa, uva, formiga, vespa. n

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PREVENÇÃO TEXTO: CELSO ARNALDO FOTOS: DIVULGAÇÃO

Chiclete não resolve

Em 22 de setembro se comemora o Dia Nacional do Combate à Halitose – esse é o termo cientifico para mau hálito, um problema que afeta milhões de pessoas, com maior incidência na terceira idade, mas que nem sempre recebe a devida atenção de seus portadores. Uma das razões para isso é o constrangimento de se abordar o assunto com quem realmente sofre de halitose – e resiste em admitir. A data contribui para que as pessoas se conscientizem quanto à seriedade do assunto e se informem sobre tratamentos, causas, consequências e prevenção – como quer a ABHA, Associação Brasileira de Halitose, que conduz uma campanha em torno dessa data É um mês importante para os profissionais da área – a começar pelos dentistas, que lidam mais diretamente com o problema no atendimento de seus pacientes. Eles estão empenhados em disseminar informações e alertar as pessoas sobre o mau hálito – uma das fontes de maior constrangimento nas relações pessoais. A campanha costuma durar um mês, ou seja, vai até o dia 25 de outubro, Dia do Dentista. Além de palestras, a instituição dispõe do inédito serviço “SOS Mau Hálito”, que avisa, por meio de e-mail ou carta, quem possivelmente sofre com a halitose – após “delação” de um amigo,

colega ou parente. A pessoa com mau hálito é avisada anonimamente dessa condição – e o nome de quem a indicou é mantido em sigilo. O serviço é uma forma rápida e eficiente de ajudar o portador de halitose a tomar conhecimento de seu problema. Basta acessar o site da instituição (www.abha.org.br), entrar no link “SOS Mau Hálito” e cadastrar os dados de quem receberá a mensagem. O destinatário, ao receber a carta ou e-mail da ABHA sobre seu problema, recebe também uma lista de profissionais indicados pela Associação, especialistas no assunto.

Como detectar. E como tratar A halitose é um problema que atinge boa parte da população e normalmente causa grande constrangimento em seus portadores e nas pessoas que convivem com eles – que, geralmente, não sabem como reagir. Contar ou não contar? “É normal ter halitose durante algumas horas do dia, mas é fundamental saber diferenciar uma halitose fisiológica de uma patológica”, diz o cirurgião-dentista Hugo Lewgoy, professor titular

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ABCFARMA da Universidade Anhanguera, em São Paulo. Ele prossegue: “A halitose comum, aquela que praticamente todas as pessoas têm, acontece pela manhã. Este tipo de mau hálito não é considerado um problema sério, pois é fisiológico, ou seja, está relacionado com o metabolismo do corpo humano”, esclarece o especialista. Mas o Dr. Lewgoy ressalta que a halitose matinal deve desaparecer após a primeira refeição da manhã, seguida da higienização dos dentes e gengivas e higienização da língua (realizada com raspadores ou higienizadores linguais, veja quadro a seguir). “Se, mesmo assim, o problema persistir, pode realmente ser considerado mau hálito patológico – o que requer acompanhamento profissional. Na grande maioria dos casos, o problema tem origem na própria boca, principalmente na região localizada entre os dentes e na língua – nesta, devido à presença de saburra, um tipo de placa bacteriana lingual”. Já as causas extra-orais mais frequentes são as doenças da orofaringe, problemas bronco-pulmonares, digestivos, alcalose (aumento do pH dos fluídos do corpo), doenças hepáticas, diabetes, tabagismo e perturbações do sistema gastrointestinal, entre outras não tão comuns. “Na maior parte das vezes, o estômago tem pouca participação quando se fala em mau hálito. Normalmente, a halitose de origem estomacal só é comum durante rápidos momentos que podem ocorrer durante a regurgitação ou em casos de eructação (liberação de ar contido no esôfago e estômago)”. Claro: se a origem do problema não for bucal, uma orientação especializada deve ser buscada.

Descobrindo a causa Na maior parte dos casos, o diagnóstico é feito mesmo pelo cirurgião-dentista. A investigação começa com o levantamento da história clínica do paciente, com a aplicação de um questionário detalhado. Depois, o profissional faz a avaliação de sinais e sintomas e, especificamente, analisa o ar expelido pela boca com aparelhos mais sofisticados, como o halímetro e o cromatógrafo gasoso – que fazem uma “radiografia” química do mau cheiro. “A investigação inicial inclui o exame detalhado da boca, da língua e da parte dental, em busca de sinais de higienização precária, gengivites e periodontite (doença gengival mais severa), além da saburra lingual. Após a conclusão dessa etapa, indicamos o melhor tratamento a ser realizado na clínica e orientamos como proceder no dia a dia, que inclui mudanças de hábitos, com a indicação de produtos, escovas e técnicas adequadas para higienizar a cavidade oral”, conclui o Dr. Lewgoy.

Mau hálito no idoso: um

problema a mais Boa higiene bucal, saliva adequada (em quantidade e qualidade) e o cuidado com a saúde em geral são fundamentais para prevenir o mau hálito na terceira idade, de acordo com a pesquisa da ABHA com 252 idosos em todo o país. O envelhecimento está diretamente associado às doenças crônicas, responsáveis pelo grande número de medica-

Na boca, a causa principal Cerca de 75% dos casos mau hálito têm sua origem num problema bucal, como gengivite e doença periodontal, formação da placa e acúmulo de resíduos nas próteses (que precisam ser limpas diariamente) e boca seca (xerostomia), que pode ser causada por problemas nas glândulas salivares e medicamentos.

mentos consumidos – e essa é uma das principais causas da halitose na terceira idade, entre outras que apareceram na pesquisa “Mau Hálito no Idoso”. Muitos desses medicamentos, como antidepressivos e anti-hipertensivos, afetam a salivação e podem causar cáries, biofilme lingual (a popular saburra), boca seca e ardência. Queixa comum entre os idosos, a boca seca foi relatada por 70% dos entrevistados; desses, 45% disseram sentir a boca “sempre” seca. É um dos principais fatores do mau hálito, já que reduz a capacidade de autolimpeza bucal, favorecendo a ação de bactérias e a formação de compostos mal cheirosos. Quase 70% dos idosos disseram roncar “sempre” ou “às vezes” – o que causa uma maior descamação da mucosa bucal, levando à formação da saburra. Embora uma das principais queixas relatadas por mais de 60% das pessoas tenha sido um gosto desagradável ou “metálico”, essa alteração não causa necessariamente mau hálito, embora possa deixar essa impressão.

Dicas do especialista contra o mau hálito 3 Evite o jejum prolongado, que provoca o mesmo mau hálito gerado durante o período de sono. 3 Higienize a língua diariamente com um acessório específico para tal fim, como higienizadores de língua de plástico, pois o processo de higienização oral não se limita apenas ao hábito de escovar os dentes. 3 O enxaguatório bucal sem orientação pode contribuir para o aumento da halitose. A grande maioria dos enxaguatórios orais contém álcool em sua formulação, o que ajuda a aumentar a descamação das mucosas orais e pode até provocar uma diminuição do fluxo salivar, que está diretamente relacionada com a halitose. n

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SAÚDE TEXTO: CELSO ARNALDO FOTOS: DIVULGAÇÃO

De mãos dadas com a higiene Higienizar corretamente as mãos deveria ser uma regra para evitar a proliferação e disseminação de bactérias e para garantir a própria saúde – em qualquer atividade que implique contato interpessoal. Apesar da prática estar inserida em nossa rotina, a adesão infelizmente, ainda é pequena. Uma pesquisa realizada há pouco pela Michigan State University, nos Estados Unidos, revelou que apenas 5% das pessoas higienizam as mãos corretamente. O estudo foi baseado na observação de cerca de 4 mil pessoas ao usarem o banheiro. Em média, as pessoas lavam as mãos por apenas seis segundos, quando o tempo necessário para eliminar bactérias é de 40 a 60 segundos. Se pensarmos no ambiente hospitalar ou de posto de saúde, a higienização das mãos é uma prática imprescindível. O elevado número de infecções relacionadas à assistência à saúde, incluindo as infecções adquiridas no hospital, nos serviços ambulatoriais, na assistência domiciliar e instituição de longa permanência, com consequente uso

elevado de antibióticos para conter as infecções, contribui para o surgimento de bactérias super-resistentes. Esses micro-organismos despertaram uma nova preocupação no mundo. Segundo um estudo encomendado pelo governo britânico e coordenado pelo economista Jim O’Neal, estima-se que as bactérias resistentes a antibióticos matarão

Dra. Júlia Kawagoe pelo menos 10 milhões de pessoas por ano a partir de 2050, mais do que o número atual de mortes provocadas por câncer. Em fevereiro deste ano, a Organização Mundial da Saúde divulgou uma lista com 12 famílias de bactérias consideradas especialmente perigosas. Buscando conter esse avanço e mudar essa realidade, o Dia Mundial de Higienização das Mãos, comemorado todo dia 5 de maio e ancorado pela OMS com apoio da Anvisa, trouxe este ano a campanha “Salve Vidas: Higienize suas Mãos”, cujo tema é “A luta contra a resistência microbiana está em suas mãos“. Júlia Kawagoe, docente do Mestrado Profissional em Enfermagem da Faculdade Albert Einstein e consultora técnico–científica da

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ABCFARMA B.Braun, explica que nos últimos anos a indústria farmacêutica não lançou novos antibióticos, o que agrava ainda mais o problema. “Os estudos e testes de novas drogas para essas bactérias multi-resistentes demandam tempo. Por isso, o uso indiscriminado de antibióticos é muito perigoso. A forma mais eficaz e barata de se evitar a ocorrência das infecções hospitalares e reduzir o uso de antibióticos é a higienização correta das mãos antes e após os cuidados com o paciente“, afirma a especialista. Segundo a OMS, 70% das infecções hospitalares poderiam ser evitadas

com a higienização das mãos. São consideradas infecções hospitalares qualquer tipo de infecção adquirida após a entrada do paciente em um hospital ou após a sua alta quando essa infecção estiver diretamente relacionada com a internação ou procedimento hospitalar – como, por exemplo, uma cirurgia. A especialista ainda ressalta que, além do cuidado da equipe médica, também é dever do paciente alertar o profissional no momento do cuidado ou realização de procedimentos, além de insistir para que ele e familiares também adotem a prática correta de hi-

gienização das mãos. “É fundamental que o próprio paciente entenda que, ao usar o banheiro, ou tocar no cateter, ou até mesmo em alguma área considerada comum, como barras de apoio, por exemplo, é preciso que ele higienize as mãos. O mesmo vale para os familiares durante a visitação. No caminho até o hospital o visitante pode ter tocado em barras de apoio nos transportes públicos, em maçanetas, telefones celulares. Por isso ao entrar no ambiente hospitalar é necessário higienizar suas mãos com álcool gel, e evitar tocar nos acessos venosos ou até mesmo sondas do paciente”, explica.

PRÊMIO LATINOAMERICANO DE EXCELÊNCIA E INOVAÇÃO EM HIGIENIZAÇÃO DAS MÃOS

COMO REALIZAR UMA HIGIENE CORRETA

A OMS recomenda que a higiene correta das mãos deve ser realizada da seguinte maneira: colocar uma quantidade de álcool gel na palma das mãos (suficiente para atingir todas as superfícies) esfregar bem o dorso, a palma, os dedos, os interdígitos, isto é, o vão dos dedos, e os polegares. É preciso tomar cuidado também com a área das pontas dos dedos e embaixo das unhas. 26 Revista ABCFARMA • Setembro / 17

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Destinado aos hospitais e instituições de saúde, o prêmio é uma iniciativa do Centro de Colaboração da OMS sobre segurança do paciente. Promovido pela terceira vez, na América Latina, o objetivo do prêmio é identificar e reconhecer as instituições que demonstram excelência nos cuidados de saúde, além da preocupação em melhorar a segurança dos pacientes, por meio da implementação da estratégia multimodal da OMS para a melhoria da higienização das mãos. A edição 2015-2016 do prêmio contou com 36 instituições inscritas. Na segunda edição, foram selecionados nove hospitais finalistas e, dentre eles, quatro saíram vencedores. O Brasil mostrou competência no controle das infecções hospitalares e, pelo segundo ano consecutivo, conquistou a vitória através do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, de São Paulo. n

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Ouça bem

Dr. Miguel Hyppólito

Uma nova técnica contra a surdez

Uma técnica cirúrgica que beneficia deficientes auditivos de 25 países já está disponível no Brasil – mais especificamente no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (HCFMRP), da USP. O procedimento, denominado Ponto Ancorado no Osso, consiste de um implante de titânio fixado na calota craniana, atrás da orelha. Com uma pequena e única incisão, permite uma recuperação mais rápida no pós-operatório. Quatro brasileiros já foram submetidos à cirurgia, realizada pelo médico otorrinolaringologista Miguel Hyppólito. Com bons resultados

Um implante de titânio fixado na calota craniana, atrás da orelha, dá nova esperança a portadores de deficiência auditiva

Como explica o Dr. Hyppólito, a técnica é minimamente invasiva. E em até 15 minutos é possível colocar o implante auditivo. A cirurgia é feita em regime ambulatorial, em que o paciente é apenas sedado e tem a possibilidade de ir para casa no mesmo dia. Isso minimiza todos os riscos potenciais de um procedimento cirúrgico e permite ao paciente uma recuperação rápida,

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ABCFARMA

Ot tax e s

podendo usufruir dos benefícios da prótese implantada em duas semanas. Como funciona o implante? Os sistemas auditivos de condução óssea podem ser implantados em pessoas com perda auditiva decorrente de problemas na orelha externa e média ou surdez unilateral. Até mesmo crianças podem ser beneficiadas. O dispositivo foi desenvolvido para transmitir o som por condução óssea – em substituição à chamada condução aérea, presente nas pessoas com audição normal. O processador de som capta as ondas sonoras de maneira semelhante aos aparelhos auditivos convencionais. Mas, em vez de essas ondas sonoras serem enviadas através do canal auditivo, elas são transformadas em vibrações e transmitidas diretamente para o ouvido interno. “As indicações são especificas para pacientes que têm perda auditiva e não se beneficiam do uso de aparelho auditivo. Com esse procedimento, o paciente pode melhorar muito sua audição chegando, em alguns casos, próximo à normalidade”, explica o médico.

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Redescobrindo a audição

U

m dos pacientes submetidos à cirurgia, no final de junho, foi Fabio José da Silva Brito, de 33 anos. Ele nasceu com perda auditiva do lado esquerdo e com o canal auditivo dos dois ouvidos fechado. Já havia feito três cirurgias de reconstrução, sem sucesso. Por causa da deficiência, só conseguiu estudar até a primeira série do ensino fundamental. “Eu tentava estudar, mas não

entendia o que a professora falava e tinha muita vergonha. Estou muito feliz porque agora vou poder realizar meu sonho de voltar a estudar. Essa é a minha maior expectativa”, revela. “Mesmo antes da cirurgia, fiz o teste com esse novo sistema e é transformador”, conta a advogada Andrea Cristina Zaninelo, de 34 anos. Aos 22, ela teve uma doença respiratória que afetou sua audição. Ao longo dos anos seguintes, fez diversas cirurgias para tentar abrir o tímpano e chegou a usar aparelho auditivo, mas nada adiantou. Sua maior dificuldade é no ambiente de trabalho, pois ela não consegue distinguir de onde vêm os sons da fala dos colegas. “As pessoas acham que eu não estou dando atenção a elas, mas na verdade eu não entendo o que elas falam. Isso me deixa muito tensa e acabou me isolando do convívio social”, comenta. A cirurgia para implante de prótese auditiva ancorada no osso é gratuita e coberta pelo SUS. Essa técnica estará disponível em cerca de 20 hospitais previamente selecionados para realizá-la. n

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ENCONTRO

A farmácia em debate

São Paulo sediou a 7ª edição do CONBRAFARMA, Congresso Brasileiro do Varejo Farmacêutico – um encontro exclusivamente voltado para as lideranças, formadores de opinião, executivos, empresários e farmacêuticos que atuam no setor farmacêutico brasileiro- prioritariamente no varejo. Todos esses profissionais ali buscavam atualização, relacionamento, negócios e tendências. Considerado um importante encontro para os profissionais que dirigem e gerenciam os estabelecimentos farmacêuticos, formadores de opinião e também para aqueles que lidam direta ou indiretamente na dispensação de produtos no canal farma, o Conbrafarma é plataforma de comunicação e relacionamento com o varejo. A programação deste ano esteve repleta de painéis e palestras que falaram diretamente esses profissionais. Um dos temas abordados está na ordem do dia: a implantação de consultórios farmacêuticos dentro de farmácias e drogarias. O presidente do Conselho Federal de Farmácia, Walter da Silva Jorge João, debateu o tema com a professora Silvia Storpitis, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP e responsável pela Farmácia Universitária da escola. A professora Silvia, aliás, é a entrevistada da seção Páginas Azuis, desta edição.

A ABCFARMA esteve presente ao evento, com um stand próprio, e foi representada nas palestras e painéis pelo presidente Pedro Zidoi Sdoia.

Em seguida, as palestras “O Brasil voltará a crescer”, com o jornalista Luis Artur Nogueira, e “O que diferencia as farmácias do sucesso”, com Paulo Paiva, da Close-up. Modelos de franquia e caminhos para expansão de lojas foram outros temas que mobilizaram os presentes para uma farmácia cada vez mais profissionalizada. 32 Revista ABCFARMA • Setembro / 17

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ABCFARMA SETEMBRO/17

VEÍCULO OFICIAL DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DO COMÉRCIO FARMACÊUTICO ABCFARMA

Entidade Fundada em 30 de Outubro de 1959

PUBLICAÇÃO DIRIGIDA AOS MÉDICOS, FARMACÊUTICOS, ODONTÓLOGOS, PRESCRITORES E DISPENSADORES DE MEDICAMENTOS PARA ATUALIZAÇÃO PROFISSIONAL

Remédios A hora certa de tomar. E como tomar Capa_Senior__Setembro.indd 2

SEMPRE A MELHOR INFORMAÇÃO

ANTES DA

QUED

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ESPECIAL SÊNIOR

ANTES DA

QUED A maior ameaça à saúde e à vida dos idosos está dentro de casa e nas calçadas das ruas, sobretudo pela manhã e à tarde. São os tombos, responsáveis por 61% das admissões em pronto-socorro de pessoas com mais de 60 anos, de acordo com dados recentes do Ministério da Saúde. As quedas são um drama comum entre idosos, mas costumam ser vistas pelo resto da sociedade como inerentes ao avanço da idade. O problema é que por volta de 16% das quedas causam fraturas, e, a cada quatro idosos internados para cirurgia no fêmur, um morre no prazo de um ano – de acordo com o reumatologista Marcelo Pinheiro, chefe do ambulatório de osteoporose da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), um dos coordenadores do Estudo Brasileiro sobre Osteoporose (Brazos), o primeiro a avaliar a extensão do problema no país. Felizmente, uma série de estudos vem mostrando que exercícios simples podem evitar boa parte desses acidentes e de fato melhorar a qualidade do período da vida que alguns preferem chamar de “melhor idade”.

As consequências mais sérias das quedas em idosos se devem à osteoporose – perda gradual de densidade óssea que ameaça sobretudo as mulheres. Ela pode ser a causa inicial da queda: algo aparentemente banal, como um movimento súbito, estilhaça o fêmur e a pessoa cai, sem saber por quê. Nesse caso, o osso quebra primeiro – e o idoso cai. Mas, em mais de 90% dos casos de fratura associada a quedas, o tombo é a causa da fratura – facilitada pela osteoporose, que abala a qualidade do osso. Apesar desse nexo causal tão evidente, a desinformação ainda persiste. Boa parte dos idosos que já sofreu fraturas em quedas não estão informados sobre a doença. “Muitas vezes a fratura é tratada e não se faz a densitometria para avaliar o estado dos ossos”, diz o Dr. Pinheiro. O problema se torna ainda mais alarmante diante das projeções de aumento na população idosa brasileira ao longo das próximas décadas. Para o reumatologista da Unifesp, outro achado relevante diz respeito à alimentação. Nossa dieta é bastante equilibrada em termos de proteínas, carboidratos e gorduras, mas deixa muito a desejar em micronutrientes e vitaminas. “O brasileiro consome 400 miligramas de cálcio por dia, quando a

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recomendação internacional é de 1.200 miligramas”. Segundo o médico, é um problema cultural, mais do que socioeconômico, já que mesmo pessoas das classes A e B ingerem cerca de metade do cálcio que deveriam. Para Pinheiro, uma estratégia interessante seria fortificar alguns alimentos, como é comum em países como os Estados Unidos, ou fazer suplementação de micronutrientes.

Mais vitamina D, mais sol Outra deficiência importante, diretamente ligada à incorporação do cálcio nos ossos, é a vitamina D, abundante em peixes como o arenque, o atum e o salmão, além de nozes, amêndoas e azeite. “Comer esses itens é um hábito do hemisfério Norte, aqui consumimos cinco vezes menos do que a recomendação diária”. Além da dieta, a produção de vitamina D depende do sol, mas mesmo em países tropicais as pessoas não se expõem o bastante – passam pouco tempo ao ar livre e, quando isso acontece, se besuntam com excesso de protetor solar. “É preciso expor pelo menos os braços e o colo ao sol por no mínimo 20 minutos ao dia, sem protetor solar”, recomenda o Dr. Pinheiro. Para prevenir a osteoporose, não basta tratar os idosos. “É uma doença geriátrica cuja prevenção tem que começar na infância, com dieta correta e atividade física”. A principal causa dos acidentes que deixam milhares de idosos praticamente inválidos a cada ano, segundo o ortopedista, é o desconhecimento. Além da prevenção, que deveria incluir parar de fumar e de beber álcool e café em excesso, hoje existem tratamentos eficazes

para manter a densidade óssea. Em alguns estados, como é o caso de São Paulo, tanto os medicamentos como o exame para diagnosticar a osteoporose – a densitometria óssea – estão disponíveis pelo Sistema Único de Saúde.

Mexa-se A atividade muscular também ajuda a manter os ossos saudáveis – pois a perda de musculatura associada à osteoporose tem efeitos diretos no equilíbrio, segundo estudo feito pela fisioterapeuta Daniela Abreu, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) em Ribeirão Preto. “Acreditamos que a perda de músculo se dê junto com a perda óssea”, sugere Daniela. Ela usou sensores eletromagnéticos para avaliar o equilíbrio de mulheres com osteoporose, com osteopenia – um estágio intermediário de perda óssea – e com ossos íntegros e verificou que quanto mais frágeis os ossos, maior a instabilidade. “A fraqueza em grupos musculares específicos causa tipos diferentes de instabilidade”, explica Daniela. De acordo com os sensores, as mulheres com osteoporose não só balançam para a frente e para trás, mas também para os lados. Já o grupo da reumatologista Rosa Pereira, da Faculdade de Medicina da USP, comprovou que exercícios físicos de equilíbrio, além de reduzirem a incidência de quedas, são eficazes também para melhorar vários aspectos como o bem-estar, as funções físicas e as interações sociais. Andar para a frente, de lado, levantando uma perna e o braço oposto, na ponta dos pés e nos calcanhares, por 30 minutos, uma vez por semana, associado a alongamento e caminhadas, melhora a qualidade de vida e Setembro / 17 • 03

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ESPECIAL SÊNIOR reduz a incidência de quedas. “Ao contrário de musculação, que requer acompanhamento individualizado, para esse tipo de exercícios não é necessária supervisão constante. Depois de aprendidos, eles podem ser feitos em casa sem problemas”, diz Rosa, que conclui: “Medicar contra osteoporose sem reduzir as quedas não adianta, porque as fraturas continuam acontecendo”.

O efeito dos remédios

Não apenas a osteoporose está por trás de tombos e fraturas. Um estudo coordenado pelo epidemiologista Evandro Coutinho, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), analisando 250 casos de quedas atendidos em cinco hospitais no Rio de Janeiro, apontou, além da osteoporose, baixo índice de massa corporal, déficit cognitivo, derrames, incontinência urinária, uso de medicamentos benzodiazepínicos e de relaxantes musculares

como fatores de risco para quedas com fraturas sérias. “O mais surpreendente foi detectar o efeito dos relaxantes musculares”, diz o Dr. Coutinho. Esses remédios, muitas vezes prescritos para aliviar dores nas costas dos idosos, podem quadruplicar o risco de quedas. Já os benzodiazepínicos, que costumam ser prescritos para quem tem dificuldade de dormir, podem causar tonturas e sonolência, além de e reduzirem a força e a contração musculares, duplicando o risco de queda e fratura. “Os idosos têm um metabolismo mais lento. Por isso, quando acordam, ainda sofrem os efeitos da medicação”, explica o epidemiologista, que também se surpreendeu ao verificar que a maior parte dos acidentes acontece de manhã e à tarde e não, como ele esperava, quando a pessoa se levanta no escuro da noite para ir ao banheiro. Para ele, antes de receitar esses tipos de medicamento aos idosos, os médicos deveriam pesquisar melhor as causas das dores e da dificuldade em pegar no sono, em vez de só tratar os sintomas. E completa: hoje existem benzodiazepínicos mais adequados aos idosos, que duram menos tempo no organismo. “A cada 100 idosos, 30 cairão num dado ano”, avalia Coutinho. Mas o risco é maior para aqueles que já caíram: 60% dos idosos que caem e se machucam voltarão a cair no prazo de um ano, de acordo com dados levantados pelo projeto Saúde, Bem-Estar e Envelhecimento (Sabe), um estudo que acompanha ao longo do tempo as condições de vida e de saúde dos idosos residentes na cidade de São Paulo. Uma queda é um indício de que a pessoa pode cair outra vez. Por isso, evitar o primeiro tombo é fundamental. v

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Remédios A hora certa de tomar. E como tomar No segmento da Terceira Idade estão os maiores consumidores de medicamentos. Portadores de doenças crônicas cumulativas, tomam muitos remédios – simultaneamente. E aí mora um perigo adicional.

Dra. Regina Pekelmann Markus, professora titular do Departamento de Fisiologia da USP

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Às vezes, não basta tomar remédios – é preciso tomá-los na hora certa, porque cada doença tem um ritmo biológico que precisa ser adaptado à ação dos medicamentos, a fim de que estes produzam seu melhor efeito. Muitas doenças, sobretudo as crônicas, mas também processos infecciosos, exigem disciplina na tomada dos medicamentos. Aliás, já existe um ramo da ciência que estuda especificamente essa interação entre medicamentos, o organismo humano e o relógio, para determinar o momento ideal, ao longo do dia, para o paciente fazer uso de seus remédios. É a cronofarmacologia, que começa a ter efeitos práticos: alguns remédios já trazem na bula recomendações sobre o melhor horário para ingeri-los. Além disso, há formas e formas de tomar um remédio – só uma é a certa. Uma das mais ativas pesquisadoras brasileiras nessa área é a Dra. Regina Pekelmann Markus, professora titular do Departamento de Fisiologia da USP – que explicou para a Revista ABCFARMA o funcionamento dessa espécie de relógio farmacêutico que todos devem ajustar para obter os melhores resultados terapêuticos. Ela também dissecou os erros mais frequentes na hora de tomar um remédio. A cronofarmacologia estuda a influência da hora do dia e dos ritmos biológicos sobre qualquer coisa que seja exógena, ou seja, externa ao corpo. Isso inclui medicamentos e substâncias tóxicas. A professora Regina explica que cada doença tem

um ritmo próprio que pode interferir na eficiência de medicamentos. Ao se ajustar os dois relógios, o da ação farmacológica e o do comportamento metabólico da doença, não apenas se obtém mais eficiência terapêutica como – e esse é um dos principais objetivos das atuais pesquisas cronofarmacológicas – se pode minimizar a toxicidade e os efeitos colaterais, reduzindo as doses caso seja adotado o horário apropriado. Em outras palavras, seguir os princípios da cronofarmacologia permite ao usuário potencializar a ação terapêutica de um medicamento – com a consequente redução da dose. Isso seria especialmente interessante nos quimioterápicos usados contra o câncer. As pesquisas da cronofarmacologia ainda têm muito a evoluir, mas já se estabeleceram algumas situações práticas.

Melatonina:

o hormônio do tempo A professora Regina faz um parêntesis para falar do hormônio que mais tem a ver com os ritmos internos dos seres vivos: a melatonina, que no homem é produzida pela glândula pineal. Entre todas as variáveis da Terra que regulam os ciclos do organismo, sem dúvida a mais influente é a alternância claroescuro. “Temos um relógio 24 horas – o ciclo circadiano. Nós ajustamos isso, todo dia, ao ciclo da terra. Para fazer Setembro / 17 • 07

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Hipertensão, hipotireodismo: quando tomar os remédios

Nos idosos, que geralmente tomam vários remédios simultaneamente, as regras para a ministração deles devem ser ainda mais rigorosas

isso, homens e todos os seres vivos, incluindo as plantas, produzem o mesmo hormônio – a melatonina. Na realidade, a melatonina é um protetor – não deixa que células do sangue invadam os tecidos. Pois bem: a melatonina só é produzida no escuro. Ela abre as portas do sono no caso do homem. E abre as portas da vigília no caso dos roedores, que têm hábitos noturnos. Em algumas pessoas, falta melatonina para dormir – e nesses casos, em muitos países, ela é usada como remédio coadjuvante para tratamento de insônia. A melatonina ainda tem um longo período de estudos pela frente – talvez tenha um potencial terapêutico ainda desconhecido hoje. Uma das perspectivas da melatotina é que, ministrada à noite em certos pacientes, possa reduzir as doses recomendadas de certos quimioterápicos.

Mas a cronofarmacologia não é só melatonina. Todos os hormônios humanos são liberados num determinado ritmo. Como os da tireoide – eles são mais necessários ao acordar, ato que exige um fluxo de energia, depois de sete ou oito horas sob baixo metabolismo. São os hormônios da tireoide que nos dão essa energia matinal, renovada todos os dias. Por isso, pessoas que têm hipotireodismo e precisam tomar hormônio para complementar a baixa produção devem ingeri-lo de manhã, de preferência antes de levantar da cama. E em jejum, por um problema de absorção. Já no caso dos anti-hipertensivos, ocorre o oposto. Um dos segredos de se manter a pressão arterial em limites saudáveis é, além de conservar as medidas máxima e mínima em parâmetros adequados, não deixar que uma se aproxime muito da outra. Ter uma pressão mínima “colada” à máxima pode afetar perigosamente a circulação. Ocorre que muitos anti-hipertensivos baixam mais a pressão máxima do que a mínima, estreitando a diferença. Para se proteger disso, há vários trabalhos mostrando que o ideal é tomar anti-hipertensivos à noite, antes de dormir – o que mantém um diferencial adequado entre as medidas. A máxima pode até subir de manhã, mas a mínima vai ficar embaixo, em nível seguro.

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Antibióticos: pontualidade britânica

Quando se fala em horário, diz a Dra. Regina, precisamos também lembrar de remédios que precisam manter uma concentração constante no sangue para fazer seu melhor efeito. Como os antibióticos – que, para isso, têm de ser ministrados a um número exato de horas. É um dos poucos remédios que exigem uma periodicidade rigorosa – mesmo que isso signifique acordar um filho à noite para tomar uma dose na madrugada. “No caso das infecções, estamos combatendo um invasor poderoso e precisamos manter as armas ligadas o tempo todo”. A professora ressalta também que o tempo de administração é muito importante. “Antibióticos não devem ser tomados apenas até a pessoa se sentir melhor, sem febre e bem disposta, mas pelo prazo de sete dias, sem interrupção. O prejuízo é enorme não só para o próprio paciente como para a humanidade. Quem não se trata adequadamente só deixa as bactérias mais fortes e a pessoa passa a ser um reservatório de doença – pior que ser um mero transmissor da infecção.” Outras doenças crônicas também têm seu reloginho cronofarmacológico. Na artrite, por exemplo, a dor maior é de manhã. Por isso, prevenindo esse pico de dor, os anti-inflamatórios devem ser tomados sempre à noite.

Os principais erros na hora de tomar um remédio Não apenas a hora certa influencia na eficiência de um medicamento. O modo como se toma também pode afetar os padrões de cura e alívio. Segundo os farmacologistas, estes são os principais equívocos a serem evitados.

Ingerir o comprimido com outros líquidos que não seja água O líquido mais indicado para acompanhar a ingestão de todos os tipos de medicamentos é a água. Algumas medicações podem

Fique por dentro Tomar antibióticos fora dos horários indicados deixa as bactérias mais fortes – e a pessoa passa a ser um reservatório de doença, pior do que ser um mero transmissor da infecção

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ESPECIAL SÊNIOR desencadear reações químicas indesejadas quando ingeridas com sucos, leite, refrigerantes, chás ou café. Um exemplo: a tetraciclina reage na presença de cálcio – não deve portanto ser ingerida com leite. Tomar com álcool também nem pensar. O álcool pode tanto potencializar quanto neutralizar os efeitos de um medicamento.

Ingerir o comprimido sem beber água

Assim como não é recomendada a ingestão de medicamentos com outros líquidos que não sejam água, tomá-lo a seco também pode trazer malefícios, pois existe o risco de a medicação ficar parcialmente retida no esôfago, podendo haver irritação na mucosa em que o comprimido se prendeu. Além disso, uma parte da dose da medicação é perdida, já que passa a ser absorvida pelas células locais enquanto está retida. Um caso dramático é o alendronato, usado contra osteoporose – retido no esôfago, pode até mesmo perfurar o órgão.

Fique por dentro Segundo as especialistas, os únicos comprimidos que podem ser seccionados são os que possuem uma linha no meio, desenhada inclusive para facilitar o corte

Só ingerir o conteúdo da cápsula

Pode parecer estranho, mas muitas pessoas costumam abrir a cápsula do medicamento e ingerir apenas o pó, para engolir melhor. Essas cápsulas são concebidas justamente com a função de proteger a mucosa da boca e do esôfago

do contato com a medicação e garantir que a substância ativa aja de forma lenta, garantindo sua eficácia – daí a barreira da cápsula.

Triturar o comprimido para facilitar a digestão Também com a justificativa de facilitar a deglutição, é comum as pessoas triturarem o comprido ou cortá-lo ao meio. Segundo as especialistas, os únicos comprimidos que podem ser cortados ao meio são os que possuem uma linha no meio, desenhada inclusive para facilitar o corte. Os inteiriços devem ser tomados como vieram na cartela – ou serão absorvidos mais rápidos do que deveriam, podendo levar a uma intoxicação. Pessoas que têm uma dificuldade natural para engolir o comprimido inteiro devem checar as formulações alternativas com seu médico.

Ingerir “a seco” o medicamento em gotas Medicações em gotas também são mais bem absorvidas quando diluídas em água, em vez de pingadas direto na língua ou dadas em colher. E como geralmente são prescrições pediátricas, essas já são fabricadas com sabor e aroma diferentes para facilitar a ingestão pelas crianças.

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GESTÃO TEXTO: AMÉRICO JOSÉ FOTOS: DIVULGAÇÃO

Galinha dos ovos de ouro T

Américo José da Silva Filho Sócio Diretor da Cherto Atco Educação Corporativa americo.jose@cherto.com.br

odo mundo conhece ou já ouviu falar da galinha dos ovos de ouro, aquela que foi dada a um casal avarento e pessimista por um duende, pois eles acreditavam que não eram felizes por não possuírem riqueza, ouro! O homem trabalhava de sol a sol e sua esposa cuidava da casa e dos animais no pequeno sítio em que viviam. Quando o duende apareceu e entregou a galinha dos ovos, disse que ela botaria, todos os dias, um ovo de ouro, sem falhar... mas, na ganância e na impaciência, o casal não conseguiu esperar, e decidiram abrir a galinha para pegar todos os ovos. Foi quando se deram conta de que não havia um ovo sequer dentro dela, e que não a teriam mais para colocar os ovos, todos os dias. 46 Revista ABCFARMA • Setembro / 17

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Se olharmos para o nosso dia a dia, temos que lembrar que os negócios acontecem como na agricultura: temos que preparar a terra, adubá-la, colocar as sementes e depois colher os frutos. Temos que fazer isso bem feito, porque vamos lidar com várias intempéries. Algumas vezes, agimos como os donos da galinha dos ovos de ouro, queremos rápidos resultados e não olhamos a linha de produtos que estamos trabalhando, não prestamos atenção nas margens, não remuneramos de maneira adequada os funcionários. Muitas vezes, no nosso cotidiano, e na ganância de querer mais e mais, acabamos nos frustrando, por não conseguir o que esperamos.

Assim, em vez de “abrir” a nossa galinha dos ovos de ouro, estaremos alimentando-a, para que todos os dias ela nos deixe um ovo de ouro, sem falhar!

“O segredo é não correr atrás das borboletas... É cuidar do jardim para que elas venham até você.” Mario Quintana

Conheça Tenha se us clientes empatia: e su as coloquene ce ssidades se no lugar do cliente

Em vendas, não é Persevere! diferente! Acordamos motivados, nos preparamos, chegamos no nosso local de trabalho, arrumamos tudo, abrimos as portas e... “Cadê o duende Conquiste e com a nossa galinha dos treine seus ovos de ouro? ” E quando o funcionários cliente entra, como o estamos tratando? Estamos realmente nos importando com sua dor, ou só queremos saber do ovo de ouro que ele vai nos deixar?

Precisamos estar atentos para que o nosso futuro seja de ouro

Trabalhe naquilo que é realmente importante

Aposte na boa comunicação Transmita confiança, entusiasmo e conhecimento

Conheça seus produtos

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GESTÃO TEXTO: MAURO PACANOWSKI FOTOS: DIVULGAÇÃO

A PERDA DA CONFIANÇA

Os grandes saltos de qualidade, crescimento e superação resultaram de perguntas, dilemas e inquietações. É preciso indagar para identificar os desafios – e determinar o impulso necessário para superá-los. Trata-se de um princípio que orienta e dá legitimidade – ou seja, é mais importante fazer as perguntas certas do que receber respostas prontas

Mauro Pacanowski, Professor FGV, UFRJ e ESPM e consultor de empresas

O cenário pode incluir oportunidades criadas pelo desenvolvimento econômico, mercados a desbravar, aumento da concorrência, sofisticação das expectativas do consumidor, novas regras a obedecer. Sabe lidar melhor com tudo isso quem tem a lucidez e a perseverança necessárias para compreendê-los. E, mais importante, entender sua própria posição no contexto. A disposição para questionar e enfrentar desafios é ainda mais indispensável quando o assunto é crescer. As oportunidades, no entanto, vêm acompanhadas de desafios. Os vários agentes do mercado são cada vez mais exigentes e seletivos. Transparência de informações e clareza nos planos de negócios tornaram-se

fatores determinantes no processo de decisão de investidores e clientes — aqueles que, no fim das contas, determinam o sucesso de qualquer negócio. Por outro lado, o desenvolvimento do ambiente de negócios varejista farmacêutico implica o aumento da concorrência, com a maturação do próprio mercado e a chegada de empresas e investidores estrangeiros, em um cenário onde agilidade, qualidade e inovação tornam-se palavras de ordem, no lugar da acomodação. Como agir e não ficar para trás? O caminho do crescimento começa, de fato, com perguntas como essa – que não só ajudarão o empresário a entender sua situação, mas continuará a acompanhá-lo em cada novo passo da jornada. Assim, muitos logo perguntarão: como começar a crescer? Quais são as opções? Esse não precisa ser, contudo, o ponto de partida. Qualquer decisão que o empresário tenha que fazer deve resultar da busca

por mais informação, para que possa, de forma mais assertiva, tomar uma posição. Isso porque toda decisão afeta o negócio. Vários dos erros de gestão que prejudicam de forma sensível o negócio acontecem por falta de planejamento. Uma propaganda que promete o que não se pode entregar, cortar custos que aumentariam o lucro, mas reduzem a receita, manter a empresa aberta sem conhecer os principais indicadores, tudo isso faz o negócio perder competitividade. O cliente leva em conta diversos fatores na hora de decidir sobre uma compra. Repare que, olhando ao redor, você vai ver várias farmácias oferecendo basicamente as mesmas mercadorias. Mas, se o vizinho oferece o pagamento com maior número de prestações, seu negócio já perde competitividade. Antes de definir o preço e as condições de venda do seu produto, tente descobrir se o cliente já passou pela concorrência.

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O descontrole das contas também acontece quando a empresa cresce muito rápido, pois ela não consegue seguir processos - e isso pode provocar queda na qualidade Baixar o preço sem critério ou estudo é um erro bastante grave apenas com objetivo de garantir o faturamento e tentar atropelar a concorrência. Apesar de atrair os clientes, essa estratégia pode fazer a farmácia perder competitividade. A queda de preços pode fazer criar uma nova demanda, que seu negócio não está pronto para atender. Isso prejudica os prazos e a qualidade do serviço. Imagine os preços oscilando sem critério, ficando difícil manter o faturamento para garantir o pagamento de custos fixos. Ou uma estratégia que não funciona, levando sua farmácia a mudar a forma de precificação. Isso vai afastar a clientela. Um consumidor mais aten-

to vai notar o “sobe e desce” de preços e pode perder a confiança em sua loja. Ele vai se sentir lesado e não vai querer mais comprar lá, já pensou nisso? Se não houver controle para gerar dinheiro suficiente para o pagamento das contas do mês, você pode ficar tentado a recorrer a um empréstimo. Mas, se surgir qualquer eventualidade e novas despesas, as dívidas fugirão do controle, colocando o negócio em risco. O melhor procedimento é saber como identificar onde usar o dinheiro e quanto poderá pagar no mês, sem deixar de acertar as demais contas. O descontrole das contas também acontece quando a empresa cresce muito rápido, pois ela não consegue seguir processos –- e isso pode provocar queda na qualidade. A impaciência pelo retorno financeiro rápido pode forçar o empresário a adotar estratégias erradas, como o aumento de preços – ou seja, qualquer melhoria que exija dinheiro e implique aumento futuro das vendas não deve ser considerada como custo, mas como investimento. Às vezes, o empresário não vê que o lucro é resultado de

um nova estratégia – como, por exemplo, capacitação dos seus funcionários. Nesse caso, o retorno virá em um prazo maior. Não prever épocas críticas se as vendas não chegam ao esperado: o empresário deve ter em mente que o planejamento deve ser o mesmo e, assim, se preparar antes. Misturar a conta física e a jurídica é não saber identificar em que o dinheiro é gasto: na empresa ou em casa. É sempre importante identificar onde o dinheiro foi gasto. Dessa forma, a análise sobre a situação da empresa não estará comprometida e será possível saber se ela dá lucro ou não. Tão importante quanto conhecer o faturamento da empresa e saber quando ocorrem as entradas de dinheiro é não administrar o capital de giro. Esse controle evita o desequilíbrio das contas. Para isso, é preciso estimar o tempo médio que um produto levará para ser comprado e o dinheiro chegar à empresa, considerando pagamentos em cartões, cheques e boletos. Se você não tem ideia do tempo de saída do produto, será pior tentar aumentar as vendas enchendo o estoque. Desconhecer os indicadores do negócio. Se você vender por um preço mais baixo do que o custo mínimo de compra, provavelmente os consumidores irão comprar em grande volume, mas sua farmácia terá enorme prejuízo. Quando as contas apertam, o empresário pensa na demissão como uma das primeiras opções para cortar despesas. Mas, muitas vezes, dispensar funcionários é um erro, pois, na verdade, o que estará sendo cortado é a receita da empresa pelo comprometimento do atendimento – o que pode reduzir as vendas. n

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DA LOJA GESTÃO TEXTO: SILVIA OSSO FOTOS: DIVULGAÇÃO

PASSOS PARA O MERCHANDISING DA SUA FARMÁCIA

Silvia OSSO é

palestrante e consultora de empresas. Especialista em desenvolvimento de pessoas e varejo. Autora dos livros destinados ao varejo e serviços denominado ATENDER BEM DÁ LUCRO; ADMINISTRAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS EM FARMÁCIA, PROGRAMA PRÁTICO DE MARKETING EM FARMÁCIAS e LIDERANÇA PARA TODOS. Contatos: siosso@uol.com.br ou Facebook: Silviaosso

As farmácias vêm sofrendo mudanças significativas nos últimos anos. Nas minhas andanças pelo Brasil, ouço muitos questionamentos dos empreendedores do segmento: como girar rapidamente os estoques no PDV; fazer os clientes comprar mais; destacar-se em meio a tantos concorrentes; integrar os canais e alcançar resultados ainda melhores, fortalecendo ou aumentando os pontos de contato com o consumidor; etc.

A resposta a todas essas questões é a mesma: fazendo um bom merchandising. É o que defendo há muito tempo em meus artigos, palestras e livros. Sabemos que clientes são influenciados pela ambientação da loja e por seus funcionários. E que, segundo pesquisas, mais de 80% das compras é decidida por impulso e visualmente, coisa de que muitos lojistas ainda não se deram conta de verdade. Somente a correta aplicação de boas técnicas de merchandising garantirá que a loja não perca oportunidades de vendas. Vejamos algumas regrinhas importantes: A fachada deve permitir comunicação visual adequada, durante o dia e à noite. Além da fachada adequada, com excelente comunicação visual, as paredes, vitrines, calçadas e toda a parte externa da loja devem estar limpas, sem adesivos de propaganda inúteis. A loja deve ser desenhada de forma a que seja possível, do lado de fora, se observar boa parte da exposição e de sua arrumação internas. O layout interno deve permitir a circulação tranquila dos clientes e a visualização de toda a loja. Como o atendimento na maioria das lojas é do tipo misto, com autosserviço para

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ABCFARMA alguns itens e assistido para outros, o layout deve privilegiar a área de autosserviço, muito bem posicionada. Deve-se cuidar para que o cliente visualize o balcão de atendimento a partir da entrada, de forma que, para alcançá-lo, ele tenha que passar por corredores entre as gôndolas ou equipamentos, estimulando a visualização dos produtos e a compra por impulso. Já não se usa mais o indesejável efeito labirinto ou o antigo “espinha de peixe”. É indispensável dispor as gôndolas de forma linear e simétrica. É importante também privilegiar o acesso aos cadeirantes e mães com carrinhos de bebê. O piso, a iluminação e o conforto térmico devem ser muito bem cuidados, já que a farmácia é, em primeira instância, um estabelecimento de cuidados da saúde e cura, e portanto deve demonstrar esse cuidado em tempo integral. Os móveis dão impacto direto no layout. O melhor projeto é o que permite o máximo aproveitamento do espaço e a durabilidade do equipamento – daí privilegiar os de metal. Uma boa dica é utilizar equipamentos que permitam a exposição de maior variedade de produtos, ocupando menos espaço – reduzindo a necessidade de grandes estoques na área de venda e permitindo uma reposição mais frequente. O equipamento deve possibilitar a máxima mobilidade das prateleiras e a utilização de acessórios como réguas para ganchos ou “gancheiras” e outros expositores em qualquer local, altura ou dimensão. A altura das gôndolas também deve ser cuidada, de forma que todos possam ver a farmácia da entrada até o fundo. E que, por medida de segurança, os funcionários possam ver-se entre si, permitindo que possam se comunicar até com um olhar em caso de possíveis furtos.

A localização do caixa deve ser criteriosa. A melhor localização privilegia o cliente e não o lojista. Sempre que possível, deve ficar perto da porta de saída, o que permite ao cliente percorrer toda a loja, fazer o maior número de aquisições – e, no final, pagar tudo de uma só vez. Evite que o cliente veja em seu caminho caixas vazias, estoques e material de limpeza esparramado pelo chão, isto é, tudo que demonstre desorganização. Os produtos devem ser dispostos obedecendo a uma adequada separação por categorias, preservando os grupos e subgrupos. As frentes mínimas devem ser definidas de acordo com o giro dos produtos: quanto maiores as vendas, mais frentes o produto deve ter na gôndola. Os sazonais devem ser privilegiados com mais frentes e até pontos extras. Também é interessante liquidar os produtos sem giro há mais de 90 dias, dando lugar às novidades. As pontas de gôndolas são pontos nobres e permitem melhor visualização dos produtos, incentivando a compra por impulso, mesmo que não estejam com grandes descontos. Use-as para

promoções com as datas festivas do comércio, épocas do ano e chamadas para os produtos dos folhetos promocionais. Evite poluir o visual da loja com displays e expositores oferecidos pelos fornecedores. Só aceite se eles pagarem bem por isso. Mas os produtos em promoção devem ter seus preços destacados dos demais, seja pela cor ou pelo tamanho da letra. Crie o hábito de perguntar no caixa “Encontrou tudo que desejava em nossa loja?” A funcionária deve anotar o que o cliente diz, na hora, à sua frente. Com as respostas dos clientes, é possível saber se o produto acabou na gôndola, se acabou no estoque, se está mal exposto ou se não pertence ao mix. A partir da resposta é possível tomar atitudesque evitem perda de vendas. O sucesso da aplicação do merchandising depende da ATITUDE de pessoas. Portanto, somente uma equipe treinada, integrada e comprometida com a satisfação do cliente pode garantir que ele funcionará. Se quiser mais detalhes sobre esse assunto, leia meu livro “Programa Prático de Marketing para Farmácias”. n

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GESTÃO TEXTO: JUAN CARLOS BECERRA LIGOS FOTOS: DIVULGAÇÃO

Tem desconto? O empresário do varejo farmacêutico brasileiro não deve ter vergonha de dizer que precisa de lucro. Não é crime receber pelo trabalho, crime é roubar! As empresas devem ter responsabilidade social que não deve ser confundida com caridade social. O estado não abre mão dos impostos, os órgãos reguladores do setor não dispensam as taxas e anuidades, mesmo considerando a farmácia um estabelecimento de saúde – e esteja tendo prejuízo, empregando e cuidando de pessoas. Por que só o empresário deve ser sacrificado e mal visto? A definição do preço é o momento da verdade. Toda decisão de preço pode afetar o mercado, a rentabilidade do capital investido e a sobrevivência. A precificação é uma das ferramentas de marketing que deve manter a competitividade, e a lucratividade da drogaria é uma decisão de suma importância para a administração, por ser fator primordial de sobrevivência, lucratividade e posicio-

namento da drogaria no mercado. Sua correta definição permitirá a manutenção e o crescimento autossustentado. Definir e gerenciar o preço de venda exige da administração a observação de um conjunto de variáveis. Mas o que é preço de venda? O valor em dinheiro que o cliente tem que despender para se apoderar de um produto ou usufruir de um serviço. Deve

Dr. Juan Carlos Becerra Ligos Farmacêutico bioquímico na modalidade fármacomedicamentos, graduado pela Universidade de São Paulo, com pós-graduação em Marketing do Varejo, Gestão e Estratégias pelo SENAC/SP, proprietário responsável técnico de farmácia há trinta anos, diretor executivo do Sincofarma-SP, membro do Conselho Superior de Estudos Jurídicos e Estratégicos da ABCFARMA e professor dos cursos “Técnicas de Aplicação de Injetáveis, “Como atender MUITO bem” e “Gestão Financeira em farmácias e drogarias”

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ABCFARMA gerar recursos para cobrir todos os compromissos da farmácia, ou seja, os custos, as despesas, o retorno que a empresa pretende dar à sociedade e, claro, gerar uma margem de lucro adequada à responsabilidade e ao investimento que o setor exige. Ao definir o preço de venda, devem ser levadas em conta as particularidades do segmento de atuação. Além dos componentes tangíveis, entram em cena os intangíveis, como os valores afetivos, de segurança, sociais, de reconhecimento e de autorrealização, que interferem na percepção do valor pelo consumidor e, portanto, na definição do preço de venda. E ainda vale lembrar que muitos consumidores utilizam o preço como um indicador de qualidade. Assim, determinar o preço de venda é uma verdadeira arte! O que acontece com frequência é que as drogarias calculam seus preços no método de tentativa e erro, centrados na experimentação de margens sobre o custo ou preço, cujos resultados, na maioria das vezes, são insatisfatórios e desastrosos. Alguns dos fatores importantes que devem ser levados em consideração na formatação do preço de venda: Rivalidade dos concorrentes do setor no mercado e na sua região – e a rivalidade dos produtos ou serviços concorrentes. Por exemplo: há vários fabricantes de omeprazol – se uma determinada marca baixar muito o seu preço no mercado, as demais talvez tenham dificuldade de serem comercializadas sem um desconto agressivo. Força dos produtos ou serviços substitutos; por exemplo, se a diferença de preço entre a tadalafila e a sildenafila for muito grande, podemos ter dificuldade para vender a tadalafila, pois a sildenafila é um dos seus substitutos. Características dos clientes Qual é o poder de diferenciação do produto pelo consumidor? Quanto tempo o cliente gasta buscando informações sobre o produto? Exemplo: compressas de gaze o consumidor não consegue diferenciar

Não vale a pena entrar no jogo dos concorrentes predatórios, que não conseguem se diferenciar e derrubam os preços. uma marca de outra, não pede muita informação do produto. Simplesmente, pede e compra, assim como a pílula do dia seguinte. Assimetria da informação: existem produtos e serviços nos quais o consumidor não consegue, com facilidade, comparar preços. São produtos exclusivos, que só você tem ou poucos concorrentes têm. Valor agregado: para que serve o produto? Desejo ou necessidade? Nos produtos onde a motivação da compra é o desejo, o emocional é o fator de decisão e, provavelmente, o consumidor não compara preço; já nos produtos de necessidade, o consumidor vai comparar preço.

Não vale a pena entrar no jogo dos concorrentes predatórios, que não conseguem se diferenciar e derrubam os preços. É melhor investir em diferenciais e usar informação e profissionalismo na precificação de produtos e serviços. É preciso ter um bom planejamento, com metas claras de lucratividade e dimensionamento de capacidade de vendas. Preço de venda abaixo do real diminui os lucros da empresa; preço de venda acima do real evidentemente dificulta as vendas. Estamos numa época em que agilidade e profissionalismo são imprescindíveis. As drogarias devem abandonar a prática de marketing focada no preço e começar a fazer o que é necessário: buscar uma maneira melhor e mais lucrativa de servir o mercado. Pense nisso.

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GESTÃO TEXTO: BETÂNIA ALHAN FOTOS: DIVULGAÇÃO

Independência farmacêutica Dra. Betânia Alhan

Farmacêutica Analista de Assuntos Regulatórios ORGANIZE FARMA CONSULTORIA & TREINAMENTOS. Email: betaniaalhan@gmail.com www.organizefarma.com

A designação da função de farmacêutico diretor técnico ou farmacêutico responsável técnico, bem como a de farmacêutico assistente técnico ou de farmacêutico substituto, estão atreladas à responsabilidade técnica dos farmacêuticos em empresas ou estabelecimentos que dispensam, comercializam, fornecem e distribuem produtos farmacêuticos, cosméticos e produtos para a saúde. Independentemente da função. a existência de uma equipe de farmacêuticos de uma farmácia divide as responsabilidades, mas as remunerações diferem apenas em relação ao tempo de casae pelos ajustes advindos da convenção coletiva. Nem mesmo títulos de pós-graduação agregam valor ao salário atrelado ao piso.

Desde a regulamentação do exercício da profissão farmacêutica no Brasil, em 1931, temos definidas as atividades

privativas dos farmacêuticos, as atribuições e as responsabilidades, mas não temos uma legislação que aprove

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o plano de carreira para os profissionais que atuam no varejo farmacêutico, deixando-os desmotivados e estáticos. A motivação é algo que independe de terceiros, ela é individual e pode ser dividida em motivo + ação. Ao investir em uma faculdade, cursos de pós-graduação lato e stricto senso, planeja-se obter resultados financeiros, realização profissional e pessoal – e, nesse caso. é preciso avaliar as ações necessárias para se alcançar esses objetivos. A obrigatoriedade da presença do farmacêutico durante todo o horário de funcionamento da farmácia ou drogaria não pode limitar o profissional apenas ao cumprimento da legislação e de horário - além dos conhecimentos técnicos e científicos, exigem-se qualidades e aptidões pessoais que, se empregadas com ética, podem e devem agregar valor para si e para a empresa.

Independência farmacêutica é pensar além das leis, decretos, resoluções e portarias - é ter autonomia para atuar com responsabilidade técnica e usar os talentos para ampliar a área de atuação 3 Conhecer e acompanhar o ritmo 3 O quarto passo é expor ao propriedas áreas tecnológicas, do mercado e das relações de emprego é o início para planejar as estratégias para se tornar bem-sucedido.

tário o interesse de crescimento profissional dentro da empresa.

3 O quinto passo é negociar remuneração.

3 O primeiro passo é administrar o 3 O sexto passo é fazer sempre o melhor. tempo para a feitura das “obrigações profissionais” e mensurar o tempo dis- 3 O sétimo passo é criar oportunidades ponível para outras tarefas.

de crescimento e melhor remuneração.

3 O segundo passo é identificar Independência farmacêutica é pensar

3 O farmacêutico que almeja cresci- a possibilidade de atuar em outra além das leis, decretos, resoluções e mento profissional não pode deixar as suas competências em estado latente - estas devem ser adaptáveis, porque fazer sempre as mesmas coisas não é garantia de se manter no emprego.

função além das responsabilidades técnicas.

3 O terceiro passo é verificar quais as oportunidades que se enquadram ao perfil.

portarias - é ter autonomia para atuar com responsabilidade técnica e usar os talentos para ampliar a área de atuação dentro da empresa, alcançando novos resultados.

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GESTÃO TEXTO: GERALDO MONTEIRO FOTOS: DIVULGAÇÃO

A IMPORTÂNCIA IMPORTANCIA DE SE REINVENTAR CONSTANTEMENTE Não resta dúvida de que cada conquista alcançada, seja no campo profissional, seja no pessoal ou empresarial deve sempre ser comemorada. Afinal, com a aceleração da vida moderna, não são muitas as oportunidades para isso. Todavia, deve-se também estar sempre atento a uma ameaça que não raramente acompanha o sucesso — a redução da atenção aos novos desafios e às novas exigências do mercado. O sucesso de hoje, com certeza, não durará para sempre e isso jamais devemos esquecer ou deixar passar de forma despercebida. Para não cair nessa armadilha, devem-se tomar alguns cuidados, como: (1) não se prender aos modelos praticados no passado mesmo que tenha dado certo; (2) não esperar que o ambiente volte a ser como antes por decurso de prazo; e (3) estar sempre alerta e nunca deixar de acompanhar o que está acontecendo no ambiente onde você está inserido, observando sempre as ameaças e oportunidades. A necessidade do acompanhamento do mercado e de suas tendências é ainda mais exigente num ambiente dinâmico e de alta competitividade, como é o caso do varejo farmacêutico. É preciso estar sempre atento ao tempo de validade dos produtos ou serviços de acordo com as preferências dos consumidores. O surgimento de novas tecnologias de comunicação resultou numa aceleração do

ritmo de vida das pessoas e intensificou a exigência de produtos e serviços cada vez mais completos, acessíveis e competentes, alem de mais eficientes— muitas vezes, as demandas dos clientes “de sempre” mudam, e o produto ou serviço “de sempre” não atende mais os mesmos clientes e, dessa forma, você fica obrigado a se adequar às novas exigências de mercado ou certamente ficará para trás perante o mercado em geral. Para dar conta do desafio de estar sempre antenado com o mercado e permitir uma evolução mais permanente do negócio, e não apenas um breve sucesso, é importante definir um objetivo a ser alcançado — uma visão de futuro. A visão pode ser construída para um período médio de um ano, dois anos ou mais, mas independentemente do período de tempo que você definir, ele deve

Geraldo Monteiro,

é mestre em Administração pela Fecap e professor pós-graduação nas Faculdades Oswaldo Cruz geraldo.monteiro25@gmail.com

funcionar como um norte a ser perseguido. A definição de um objetivo de médio ou longo prazos permite arriscar em novos projetos e não perder o rumo. Além disso, possibilita o início de uma programação do caminho a ser percorrido até o horizonte de tempo da visão. Além da programação do desenvolvimento do negócio até a visão definida, outro fator se insere como elemento indispensável para a conquista dos objetivos: sua disposição para mudar e se reinventar constantemente. Os modelos utilizados no passado certamente foram muito efetivos e proporcionaram ganhos, mas, sem a disposição necessária para reinventar-se, corre-se o risco de ficar preso ao passado e não conseguir atender às novas demandas dos clientes. Pense nisso. n

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GESTÃO TEXTO: EDUH RODRIGUES FOTOS: DIVULGAÇÃO

O

7 dicas de lid

mais importante destas dicas é que o Líder esteja SEMPRE em constante desenvolvimento e dedicação através de estudos, treinamentos e cursos, sempre colocando em prática sua capacidade individual de ser crítico consigo mesmo e desenvolver a capacidade de fazer do aprendizado uma forma de crescimento para ser cada vez melhor líder.

Vejamos as dicas:

1 Seja objetivo Um dos aspectos marcantes da liderança é saber definir claramente os objetivos a serem atingidos e adotar uma atitude positiva que demonstre a crença de que eles serão realizados. Por objetividade, entende-se também a atitude direcionada do chefe, sem perda de tempo, devaneio ou insegurança, tanto no relacionamento interpessoal quanto na execução das tarefas.

2 Saiba

compreender os outros Uma característica do líder eficaz é a capacidade de se colocar no lugar do outro, ou seja, a empatia, mesmo que ele não comungue com os mesmos pensamentos dessa pessoa . Você deve saber entender o ponto de vista de terceiros e respeitá-los, ter a sensibilidade de aceitar os outros como eles são, ter consideração por eles, mesmo que discorde dos seus pontos de vista.

3 Seja versátil e flexível

O líder versátil tem alta flexibilidade de estilo ao comandar pessoas Para cada pessoa, adote o estilo de liderança que melhor se adapte às características dela.

4 Saiba comunicar-se

O líder não é uma pessoa introvertida. Ao contrário, ele é comunicativo, sabe dialogar, trocar ideias e pedir sugestões ao seu pessoal sobre as tarefas que os afetam. Outro aspecto que caracteriza a boa comunicação é não apenas saber falar e expor os seus pensamentos, mas também saber ouvir, pois, se você prestar atenção ao que está sendo dito, ficará surpreso ao descobrir quantas informações úteis estão sendo fornecidas e que antes poderiam passar inteiramente despercebidas.

5 Use a autoridade e não o poder

O uso do poder é uma prerrogativa exclusiva da chefia, pois liderança e autoridade são as duas faces de uma mesma moeda. Todo líder possui

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liderança autoridade – formal ou não -, mas nem toda pessoa investida de autoridade é líder. Liderar significa possuir capacidade, discernimento para comandar pessoas, e isso é mais do que muitos chefes sabem fazer. Autoridade é credibilidade para influenciar pelo respeito e ser obedecido. O verdadeiro chefe, que também é líder, sabe que é investido de Poder, mas dificilmente faz uso dele, pois consegue que as tarefas sejam realizadas pela confiança que ele inspira nas pessoas com sua autoridade. O líder sabe fazer com que a intenção se traduza em ação e que a ação se transforme em realidade. Ele também é capaz de sustentar essa realidade, não a deixando definhar, pois mais difícil do que realizar algo é mantê-lo e sustentá-lo. Isso o verdadeiro líder sabe fazer melhor do que ninguém, seja ele supervisor de equipe, gerente ou diretor.

6 Desenvolva

de humor, ideias e objetivos. Eles colocam em pânico seus infelizes liderados, que nunca sabem o que os espera a cada novo dia que se inicia. É uma das formas mais rápidas de desmotivar e provocar a perda de confiança das pessoas, além de colocar em risco a produção e o alcance de metas. Se você é desse tipo, mais do que um abacaxi, você tem uma penca de dinamite nas mãos. Tenha uma atitude madura, confiante e positiva, dando segurança aos colaboradores, quanto às suas ideias e comportamento. Todo chefe que é líder tem um comportamento estável e previsível. Isso não significa que não possa, às vezes, aborrecer-se, zangar-se ou mudar de ideia, mas, quando o fizer, deverá ser um ato consciente de sua parte, assumindo total responsabilidade por esse comportamento.

7 Mantenha todos bem informados

Cuidado com os boatos. Eles só surgem quando há pouca ou nenhuma informação e só causam desapontaMuitos chefes têm comportamento mentos, mágoas, insegurança e raiva. imaturo, com frequentes mudanças Tome providências para interromper

maturidade de comportamento

Eduh Rodrigues Tenha uma atitude madura, confiante e positiva, dando segurança aos colaboradores, quanto às suas ideias e comportamento os boatos; melhor ainda: não deixe nem mesmo que comecem. Deixe claras as coisas desde o início e certifique-se de que seus subordinados saibam que podem encontrar em você a verdade. E, se porventura, houver algo sigiloso que você não possa dizer-lhes, eles entenderão sua atitude. O melhor que se faz agora é refletir e rever alguns pontos... Pense nisso!

Eduh Rodrigues

é palestrante, Trainer Master Mentor & Coach, Expert em Liderança e Membro da Equipe John Maxwell. Diretor Presidente da SUCESSO T&D – Educação Corporativa.

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ARTIGO TEXTO: EDISON TAMASCIA FOTOS: DIVULGAÇÃO

Farmácias demonstram a força do associativismo para vencer a crise O ambiente competitivo no Brasil é alvo constante de reclamações dos empresários brasileiros. Mas observo que muitos deles estão à procura de uma solução mágica de prosperidade, esperando que os governantes diminuam a carga tributária ou proponham uma lei que beneficie seu segmento, que o dólar desvalorize quando precisar importar alguma matéria-prima ou produto, ou que valorize quando precisar exportar, por exemplo. E isso é um problema muito sério.

Edison Tamascia

é empresário do varejo farmacêutico há 40 anos. É presidente da FEBRAFAR (Federação Brasileira das Redes Associativistas e Independentes de Farmácias), da rede de Drogarias Ultrapopular e da administradora de redes Farmarcas

Divido o mundo empresarial em dois grupos: os empresários que vi-

vem em um constante processo de vitimização – se a empresa não vai bem, a culpa do insucesso é do governo, do mercado, da crise, etc. Por outro lado, há os empresários que se tornam protagonistas de seus negócios, buscando, dentro das suas próprias competências, soluções para os

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desafios. Vítimas enxergam tudo como problemas, protagonistas enxergam desafios. E isso, com certeza, faz toda a diferença na vida.

Saídas conjuntas

Mas como encarar os desafios? Para os empresários, sobretudo das pequenas e médias empresas, a saída é buscar se associar a agrupamentos, seja no modelo de franquia, licenciamento de marca ou de associativismo. Independentemente do formato, a junção de várias empresas em torno de um objetivo comum aumenta a possibilidade de êxito. Posso afirmar isso, pois estou no movimento associativista há vinte anos, ao longo dos quais já colaborei com o fomento de associações de diversos segmentos. Em todos esses agrupamentos ou redes – como se preferir denominar –, é visível a melhoria individual e coletiva dos participantes e suas empresas. Entre os benefícios, está o fato de esses empresários passarem a conviver de uma forma mais efetiva e afetiva entre si, uma vez que eram, até então, concorrentes – e isso faz com que sejam mais empreendedores. Outro ponto importante é que essas empresas unem forças para compras em conjunto, compartilham ações de marketing e administração profissionalizada, entre outros aspectos que só é possível realizar de forma coletiva. Ao participar de uma associação, a empresa se torna mais competitiva. Mas, como nem tudo é perfeito, mesmo no associativismo também temos empresários vítimas e empresários protagonistas. E lidar com essa situação é o maior desafio dos dirigentes das associações empresariais.

Como fazer?

Na posição de presidente da Febrafar (Federação Brasileira das Redes Associativistas e Independentes de Farmácias) trabalho diariamente para que todos sejam protagonistas. Uma das ferramentas que utilizo são

Os empresários que cresceram mais do que o mercado apontaram o senso da coletividade como um dos fatores de seu sucesso

os números positivos desses modelos. Por isso, dentro da Federação, criei o IFEPEC (Instituto Febrafar de Pesquisa e Educação Continuada), que tem por objetivo fazer pesquisas, coordenar estudos e disseminar a educação empresarial aos nossos associados. Os resultados são muito positivos, como aponta estudo recente que coordenamos para conhecer o nível de empreendedorismo dos nossos associados. Analisando uma amostragem de 2.264 lojas vinculadas à Febrafar, verificamos que 31% dessas farmácias apresentaram crescimento acima da média do mercado, 49% ficaram na linha padrão de crescimento e 20% ficaram abaixo da média. Essa informação foi a base da pesquisa, realizada com o objetivo de identificar os fatores que contribuíram para o crescimento e/ou queda. Os empresários que cresceram tanto ou mais que o mercado apontaram, em sua totalidade, que um dos fatores é o aproveitamento da coletividade, ou seja, eles souberam usar as ferramentas oferecidas pela rede.

Outros elementos para o crescimento foram, por exemplo, a utilização frequente de todas as ações de marketing oferecidas, a promoção de treinamento contínuo da equipe e o reconhecimento do poder da coletividade na contribuição para o êxito individual. Assim, esses empresários se tornaram protagonistas. No entanto, observou-se que os empresários que lideram as empresas que ficaram abaixo do mercado, em termos de crescimento, não reconhecem que o motivo é a falta de envolvimento da empresa e do empresário nas ações da rede; preferem culpar o mercado e a crise, não compreendendo que seus pares enfrentam as mesmas condições competitivas e estão num processo evolutivo melhor. Eles se fazem de vítima, mas devem ser resgatados. Ser associativista ou estar em uma associação não garante de forma automática a caminhada para o sucesso, mas todos os empresários que utilizam com competência as ferramentas oferecidas aos seus associados têm uma chance muito maior de alcançar o sucesso. n

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ABCFARMA ABCFARMA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DO ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DO COMÉRCIO FARMACÊUTICO COMÉRCIO FARMACÊUTICO

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Baixe o app Baixe o app Midiacode Midiacode na sua loja de na sua loja de aplicativos, aplicativos, faça o rápido faça o rápido cadastro, capture o código cadastro, o código ao lado e capture saiba mais ao lado e saiba mais sobre a inovação que a sobre a inovação que a ABCFARMA tem para você. ABCFARMA tem para você. “A ABCFARMA está há mais “A 58 ABCFARMA estáinovando há mais de anos sempre dee58 anos sempre inovando não vai parar por aqui.” e não vai parar por aqui.”

— Pedro Zidoi Sdoia de ABCFARMA —Presidente Pedro Zidoi Sdoia Presidente de ABCFARMA

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