Arte concreta e vertentes construtivas: teoria, crítica e história da arte técnica (palestrantes)

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exposição “O Desejo da Forma: do Neoconcretismo a Brasilia” realizada na Akademie der Kunste de Berlim em co-curadoria com Robert Kudielka em 2010. Partes deste texto remetem ao que escrevi para o catálogo que produzimos àquela altura. Importante também destacar que não me interessa manter a compreensão canônica, ou seja, o neoconcretismo como uma ruptura em relação ao concretismo – percebendo o movimento carioca mais como bifurcação constituída já no âmbito da sua formação. Tampouco me interessa manter as datações que recortam o movimento carioca. A ideia é uma leitura mais dilatada do Neoconcretismo, percebendo-o justamente como um momento em que se definiam os termos de uma modernidade periférica. Para tal, gostaria de perceber o Neoconcretismo a partir de um hiato temporal que vai de 1954 até 1964. Estas datas apontam para dois acontecimentos políticos que me parecem simbolizar, por um lado, a luta por autonomia, de outro, o recuo na tutela castradora: o suicídio de Getúlio Vargas e o golpe militar. Entre este período de tempo temos também dois gestos poéticos que são importantes na compreensão do Neoconcretismo – a linha orgânica de Clark (1954) e o programa Parangolé de Oiticica (1964). De um lado, a liberação do plano, o salto para o espaço, de outro, a incorporação da cultura popular e sua energia vital. Ali se extinguia o ímpeto da utopia construtiva. O lema do presidente Juscelino Kubitschek, cujo mandato foi de 1956 a 1961, era o de realizar cinquenta anos em cinco. Sua mais ousada decisão foi a criação de Brasília, no árido centro-oeste brasileiro, inaugurada em 1960, projetada pelo arquiteto Lucio Costa e tendo Oscar Niemeyer à frente da construção dos principais edifícios. Este processo de modernização desdobrou-se em novas instituições culturais. Entre 1948 e 1951 foram criados os Museus de Arte Moderna de São Paulo e do Rio de Janeiro, além da Bienal de São Paulo. Exposições significativas de Alexander Calder, Max Bill e de outros artistas abstratos europeus puderam ser vistas naquela virada de década. A participação de Pedrosa em todo este processo é crucial. O que percebemos pelo desenvolvimento da pintura abstrata do período e o pensamento crítico que o acompanhava era o apelo da forma visual em toda a sua potência disseminadora de novos modos de ver. A pintura deixava de ser um gênero artístico para se afirmar como um

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