Arte concreta e vertentes construtivas: teoria, crítica e história da arte técnica (comunicadores)

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mais uma cultura visual à disposição, útil enquanto estratégia de legitimação diante do contato mais acentuado com o eixo RJ-SP. É sintomático, nesse sentido, que Benedicto Mello (como muitos outros atuando naquelas décadas) tenha se revezado, no período, entre figuração, abstração geométrica e abstração informal – de resto, como ocorreu com vários concretistas do eixo RJ-SP, cujo exemplo mais óbvio é Ivan Serpa. Em Belém, a arte concreta teve um desenvolvimento necessariamente distinto do ocorrido nas cidades europeias em que foi gestada. Mesmo no eixo RJ-SP, a aplicação das ideias construtivas europeias (em especial do concretismo suíço), ainda que tivesse como pano-de-fundo a política desenvolvimentista, parece não ter sido capaz de ultrapassar a simples importação e adaptação de um modelo às circunstâncias locais (BRITO, 1999, p. 50), ao menos até o surgimento dos experimentos neoconcretos. Em Belém, as ideias artísticas construtivas chegaram despidas da base ideológica de construção social que as sustentava, tornadas, em geral, mero esteticismo utilizável de acordo com as conveniências. Não poderia haver na cidade sequer o esforço (natimorto) “para romper o estatuto vigente de arte” (BRITO, 1999, p. 49), tido por concretistas do sudeste do país, pois o campo artístico local, precário em todas as suas instâncias, era ainda mero esboço do que se passava nas cidades mais abastadas e desenvolvidas do país. Entretanto, esse embate com as ideias e práticas artísticas construtivas levou a circunstâncias que vale a pena investigar. Uma das possíveis reverberações de concretismo e neoconcretismo em Belém é a ação artística organizada em grupos. O já mencionado CAPA, assim como o GESTALT, foram grupos de artistas e intelectuais que atuaram em Belém, entre 1959 e 1962, de maneiras muito similares àquelas dos grupos Ruptura, Frente e dos neoconcretos. CAPA e GESTALT apostaram na mudança de valores artísticos por meio da prática coletiva, organizada em torno não somente da produção de seus integrantes (nem todos artistas), mas também por meio da divulgação de ideias em jornais, da promoção de exposições e de outras atividades culturais. Tais grupos fomentaram e realizaram as duas exposições coletivas abstracionistas em Belém (1960 e 1961), consolidando de vez essas tendências no campo artístico local (SOBRAL, 2002, p. 71-78). Outra consequência plausível é a propagação, em Belém, de conceitos

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