16 minute read

APRESENTAÇÃO

O abacaxizeiro Ananas comosus (L.) Merril pertence à família Bromeliaceae, subclasse das Monocotiledôneas e gênero Ananas. É uma planta originária da América do Sul, abrangendo uma latitude de 15° N a 30° S e longitude de 40° L a 60° W. São conhecidos, aproximadamente 58 gêneros e 3.352 espécies de Bromeliaceae, algumas delas apresentando alto valor ornamental e outras produzindo fibras excelentes para cordoaria. A cultura racional do abacaxizeiro, apesar de muito rentável, exige bastante técnica e trato. Sua propagação é feita por mudas e são exploradas uma ou duas safras. Muito útil é o fato de que a época de produção dos frutos pode ser controlada artificialmente, mediante emprego de substâncias químicas, tais como o carbureto de cálcio e o etephon. Culturas altamente tecnificadas podem dar, em cada safra, de sessenta a oitenta toneladas de fruto por hectare.Naverdade, porém,a produçãode um abacaxizeiro depende de diversos fatores: clima e solo; época de plantio e de colheita; idade da plantação; variedade; tipo e tamanho da muda plantada; espaçamento de plantio; tratos culturais; adubação; estado fitossanitário. Modernamente, o plantio é feito pelo sistema de linhasduplase na base de 45a 60mil plantaspor hectare.Nospaísesde abacaxicultura avançada, usam-se máquinas que, simultaneamente, são capazes de incorporar pesticidas e fertilizantes ao solo e, sobre ele, distribuir faixas de tecido negro de polietileno (mulching), em cima das quais é feito o plantio das mudas; além disso, são empregados pulverizadores capacitados para distribuir, ao mesmo tempo, pesticidas e fertilizantes sobre diversas linhas de plantação, assim como máquinas que possibilitam a colheita de até 12 toneladas de abacaxi por hora. Além disso, este livro cobrem a descrição botânica e sistemática, origem, distribuição geográfica e composição química, importância econômica, exigências climáticas, tratos culturais, colheita e doenças e pragas do abacaxizeiro. Por esse motivo, este livro escrito em português pode ser um manual útil para aquele que decidir cultivar essa planta e conhecê-la em maior profundidade, o livro "Abacaxizeiro (Ananas comosus L., Merril): Tecnologias de plantio e utilização” , será de grande interesse e ajuda para o produtor que necessita pôr em prática as várias tecnologias abordadas no mesmo. Autores

SISTEMA PRODUTIVO DO ABACAXIZEIRO (Ananas comosus L.) - Vicente de Paula Queiroga, Josivanda Palmeira Gomes, Rossana Maria Feitosa de Figueirêdo, Bruno Adelino de Melo, Nouglas Veloso Barbosa Mendes, Denise de Castro Lima, Miguel Barreiro Neto1 , Ênio Giuliano Girão2 , Alexandre José de Melo Queiroz3, Esther Maria Barros de Albuquerque...........................................................................................................10

Advertisement

PRÉ-COLHEITA, COLHEITA E PÓS-COLHEITA DO FRUTO DE ABACAXI - Vicente de Paula Queiroga, Josivanda Palmeira Gomes, Rossana Maria Feitosa de Figueirêdo, Bruno Adelino de Melo, Nouglas Veloso Barbosa Mendes, Denise de Castro Lima, Esther Maria Barros de Albuquerque........................................................................................

Cap Tulo I

SISTEMA PRODUTIVO DO ABACAXIZEIRO (Ananas comosus L.)

Vicente de Paula Queiroga

Josivanda Palmeira Gomes

Rossana Maria Feitosa de Figueirêdo

Bruno Adelino de Melo

Nouglas Veloso Barbosa Mendes

Denise de Castro Lima

Miguel Barreiro Neto

Ênio Giuliano Girão

Alexandre José de Melo Queiroz

Esther Maria Barros de Albuquerque

(Editores)

Introdu O

O abacaxi (Ananas comosus L.) é uma espécie frutífera de grande importância econômica e social cultivada em maisde 70paísesde clima tropical e subtropical para consumolocal e exportação internacional (FRANÇA-SANTOS et al., 2009; VAN DE POEL et al., 2009), sendo a terceira mais produzida no mundo, atrás apenas das bananas e dos citros (NADZIRAH et al., 2013), isso devido à alta expansão comercial no mercado mundial nos últimos anos (KIST et al., 2017), principalmente por suas apreciáveis características de sabor, aroma e cor (RAMOS et al., 2010; RATTANATHANALERK et al., 2006).

O abacaxizeiro (Ananas comosus (L.) Merrill) pertence à família Bromeliaceae, sendo originária das regiões de clima quente da América do Sul, provavelmente das regiões Sul e Sudeste do Brasil, Argentina e Uruguai (MELO et al., 2004). Essa planta é classificada como semi-perene, tem ciclo produtivo que pode variar de 14 a 24 meses, fazendo com que as condições climáticas, a época de plantio, o tipo e o peso das mudas utilizadas e as práticas culturais adotadas influenciem diretamente na sua produtividade (PONCIANO et al., 2006).

Atualmente, o abacaxi tem como principais países produtores Costa Rica, Filipinas, Brasil, Indonésia, China, Índia e Tailândia (FAOSTAT, 2019; HIKAl et al., 2021). O Brasil foi considerado em 2014 o segundo maior produtor de abacaxi, com uma área plantada de 68.618 hectares, produzindo cerca de 21,06 milhões de toneladas, ficando atrás apenas da Costa Rica (FAOSTAT, 2017), sendo as principais regiões brasileiras produtoras: o Nordeste, Sudeste e Norte (IBGE, 2017). As principais variedades cultivadas no país são o ‘Jupi’, ’Vitória’, ‘Smooth Cayenne’, ‘Imperial’, ‘Gold’, ‘Pérola’ e outros híbridos (ANDRADE et al., 2015; DANTAS et al., 2015; CAMPOS, 2007). Em 2015, o Estado da Paraíba produziu 290.772 mil frutos (IBGE, 2017).

Cerca de 70% doabacaxi produzido é consumido como fruta fresca nos países produtores (TASSEW, 2014), no Brasil, as variedades de maior importância econômica são a ‘Pérola’ para o consumo fresco interno e a ‘Smooth Cayenne’ na indústria, (ANDRADE et al., 2015; HOUNHOUIGAN et al., 2014; MARTINS et al., 2013; SANCHES et al., 2016). O agronegócio do abacaxi no Brasil está em franca ascensão, sendo Pará, Paraíba, Minas Gerais e Bahia os principais produtores, respondendo juntos por 65% da quantidade comercializada no País (IBGE, 2019). O abacaxi ‘Pérola’ é o mais cultivado no Estado da Paraíba, devido a sua maior resistência a pragas e doenças, boa produtividade, melhor aceitação sensorial e melhor adaptação as condições climáticas da região (HASSAN; OTHMAN, 2011; MELETTI et al., 2011; NORONHA et al., 2016).

Devido ao aumento da produção de abacaxi e das exigências quanto à qualidade por parte do mercado consumidor e até mesmo das indústrias, os produtores têm investido em tecnologias para elevar o padrão de qualidade garantindo, assim, uma boa comercialização (PEREIRA et al., 2009). Araújo et al. (2009) ressaltam que apesar da abundância do cultivo dessa fruta no Brasil, o aproveitamento industrial ainda é pequeno frente ao consumo da fruta in natura, sendo necessária à busca de alternativas para o seu uso, visando o aproveitamento do excesso de safras, principalmente pela indústria, para a fabricação de produtos não tradicionais.

A qualidade dos frutos do abacaxizeiro é atribuída às suas características físicas externas (coloração da casca, tamanho e forma do fruto) e internas conferidas por ampla faixa de constituintes, dentre os quais se destacam os altos teores de açúcares e enzimas proteolíticas (bromelinas). Também é importante conhecer a relação sólidos solúveis totais/acidez titulável (SST/AT) das variedades, visto que este é o parâmetro que mais se relaciona à palatabilidade e, consequentemente, à aceitação dos frutos pelo consumidor (FREIMAN; SABAA SRUR, 1999; CÉSAR, 2005; CAMPOS, 2007).

A bromelina é um conjunto de isoenzimas proteolíticas encontradas nos vegetais da família Bromeliaceae, da qual o abacaxi é o mais conhecido. Esta enzima é utilizada em diferentes setores, todos baseados em sua atividade proteolítica, dentre as quais se destacam a propriedade de facilitar a digestão de proteínas, sendo por isso adicionada em medicamentos digestivos, e a capacidade de amaciamento de carnes (BORRACINI, 2006).

O suco de abacaxi, principal produto obtido do fruto, é largamente consumido em todo o mundo, sejana formareconstituída ouconcentrada,oumesmonacomposiçãodemisturas para se obter novos sabores em bebidas e outros produtos (CARVALHO et al., 2008; LAORKO et al., 2011). Nutricionalmente, os compostos presentes no suco da fruta, identificados como fitoquímicos, não só reduzem o risco de dano oxidativo relacionado com a presença de radicais livres, mas também o risco de contrair diferentes tipos de câncer e doenças cardiovasculares e neurológicas (LAORKO et al., 2010).

O consumo do abacaxi pode ser de forma natural (in natura) ou industrializada por meio de sucos,fatiasem calda, pedaços,passa,cristalizados,picles,xarope,geleia,licor,vinho, vinagre e aguardente (ANDRADE NETO et al., 2011b), sendo utilizados também na confecção de doces, sorvetes, cremes, balas e bolos (CRESTANI et al., 2010). Além disso, pode-se obter também subprodutos do processo industrial como álcool, ácidos cítrico, málico e ascórbico, rações para animais e a bromelina. Estas formas de consumo permitem que o produtor comercialize toda a produção, mesmo quando há grande oferta de frutas in natura, visto que podem ser destinados também à agroindústria de processamento (MELETTI et al., 2011).

Com ênfase no aspecto agronômico de seu cultivo, o grande sucesso do abacaxizeiro como planta cultivada é decorrente da adaptabilidade da espécie nas áreas tropicais e subtropicais, elevada rusticidade, além da fácil e eficiente propagação assexual (CRESTANI et al., 2010). Sob o ponto de vista morfológico, a planta possui uma haste grossa e curta de onde saem folhas estreitas e rígidas, desse ponto também saem raízes adventícias que formam um sistema radicular fasciculado que chega a 30 cm (ZAMPERLINI, 2010). Asfolhasdoabacaxi sãoclassificadasde acordocom seu formato e posição, sendo denominada da mais externa para interna como A, B, C, D, E e F, dentre elas, a folha D é a mais importante do ponto de vista de análise, visto que ela é a mais jovem dentro das adultas e metabolicamente mais ativa (REINHARDT, 2000). Os frutos são pseudofrutos partenocárpicos formados por um aglomerado de gomos em um eixo central com uma coroa de folhas no topo e polpa branca, amarela ou laranja-avermelhada (SILVA; TASSARA, 2001), sendo esse tipo de infrutescência chamada sorose (LOPES NETO et al., 2015). Além disso, essa planta possui fruto caracterizado como não climatérico (DULL, 1971), diferentemente dos frutos climatéricos que possuem alta respiração (CHITARRA; CHITARRA, 1990).

O ciclo de vida do abacaxizeiro é dividido em três fases: a primeira é a fase vegetativa que vai do plantio à indução floral, correspondendo de 8 a 12 meses, a segunda é a fase reprodutiva que vai da diferenciação floral à colheita dos frutos e varia de acordo com a região, durando em média de cinco a seis meses, e a terceira, chamada de fase propagativa, que se relaciona à formação das mudas, se inicia dentro da segunda fase e se estende após ela, durando de 4 a 10 meses para obtenção de mudas filhotes e de dois a seis meses para obtenção de mudas tipo rebentão (REINHARDT, 2000; ZAMPERLINI, 2010).

Convencionalmente, o propágulo usado para o plantio de abacaxi advém da fase propagativa e podem ser de quatro tipos: rebentão, filhote de rebento, filhote e coroa. O rebentão se desenvolve a partir de gemas inseridas no caule da planta, dentre as mudas é aquela que produz frutos em menor tempo após o plantio, em torno de 10 a 18 meses. Outro tipo, mas não muito comum de ser usada é a muda tipo coroa, que possui ciclo maior que a muda tipo rebentão. Enquanto o filhote se origina do pedúnculo de um até dois anos após o plantio (ZAMPERLINI, 2010).

Essa variação no ciclo de vida da planta, entre um ano e meio a três anos, ocorre naturalmente pois o ciclo da planta pode variar conforme a quantidade de reservas armazenadas no material propagativo, pelo manejo, pelo ambiente, dentre outros fatores (ALMEIDA et al., 2002; REINHARDT, 2000). Assim, bons resultados na colheita, começam na escolha dos propágulos para serem usados no plantio, pois o uso de mudas de baixa qualidade pode trazer problemas como baixo vigor ou contaminação por pragas e doenças (TEIXEIRA et al., 2001).

Import Ncia Econ Mica

O abacaxi é um fruto muito apreciado em várias regiões do mundo, constituindo-se num dos principais produtos da fruticultura nacional. Apesar da abundância do cultivo dessa fruta no Brasil, o aproveitamento industrial ainda é pequeno frente ao consumo da fruta in natura, sendo necessária a busca de alternativas para o seu uso, visando o aproveitamento do excesso de safras, principalmente pela indústria, para a fabricação de produtos não tradicionais, como, por exemplo, de vinhos, em função da concentração de açúcares fermentescíveis, acidez e características sensoriais.

Uma grande quantidade de subprodutos é gerada durante o processamento ou produção de suco do abacaxi, principalmente casca e miolo (MISRAN et al., 2019). A Figura 1 apresenta produtos e subprodutos típicos obtidos a partir do fruto de abacaxi, bem como alguma informação sobre a sua composição, estando estes na ordem dos 50-60%. No entanto, as diferenças podem ser justificadas pela grande variedade de frutas utilizadas, pelo método de processamento ou pela utilização final (RICO et al., 2020).

A importância dos subprodutos do abacaxi deve-se à sua composição, composta principalmente por fibras insolúveis, pectinas, açúcares, proteínas, vitaminas, minerais e compostos fenólicos como ácido gálico, epicatequina, catequina e ácido ferúlico (DÍAZVELAetal., 2013;LIetal.,2014).Damesma forma,foi demonstradoque ossubprodutos do abacaxicontêm polifenóis,comoosácidossiringicoe ferúlico,quefornecematividade antioxidante e antimicrobiana (UPADHYAY et al., 2010).

Devido às novas aplicações de compostos bioativos tanto na indústria alimentícia, cosmética, química quanto na indústria farmacêutica, esses subprodutos tornam-se matérias-primas de alto potencial de fitoquímicos, vitaminas, enzimas, carboidratos e outros componentes (FAVA et al., 2015; GULLÓN et al., 2018; MEENA et al., 2022)

Com relação àcomposição,acascaé composta principalmente porhemicelulose,celulose e lignina nas faixas de 6,5–35, 12–50 e 5–30 g/100 g de peso seco, respectivamente (PARDO et al., 2014; RODA et al., 2014; ROMELLE et al., 2016). O miolo contém 0,85% de proteína, 5,78% de lignina, 28,5% de hemicelulose e 41,1-43,5% de celulose (RANI; NAND, 2004). Finalmente, a coroa contém 0,7% de proteína, 13,8% de lignina, 21-21,8% de hemicelulose e 67,1-85% de celulose (PARDO et al., 2014).

Dessa forma, a utilização integral do fruto do abacaxi e subprodutos nas indústrias alimentícia, cosmética e farmacêutica fornecerá uma ampla variedade de compostos naturais com menor custo de processamento e maior importância econômica, pois esses resíduos podem ser melhor aproveitados extraindo os compostos bioativos presentes em diferentes partes do abacaxi (MEENA et al., 2022; Figura 2)

Utilização do abacaxi para consumo in natura e industrializado

O abacaxi pode ser consumido in natura ou industrializado, sob a forma de fatias ou pedaços em calda, pedaços cristalizados, passa, picles, suco, xarope, geleia, licor, bebida fermentada (ALCÂNTARA, 2009), vinagre e aguardente. Todavia, os principais produtos são as fatias ou pedaços em calda e o suco. Com o suco do abacaxi, podem ser preparados refrescos, sorvetes, cremes, balas e bolos. Como subprodutos da industrialização do abacaxi, obtêm-se álcool, ácido cítrico (citrato), ácido málico, ácido ascórbico (vitamina C), bromelina (enzima proteolítica que entra na composição de diversos medicamentos) e rações para animais; do restante da planta, são aproveitados, industrialmente, as fibras e o amido. O suco do abacaxi contém cerca de 12% de açúcar e

1% de ácidos orgânicos (principalmente ácido cítrico); é considerado boa fonte de vitaminas A e B1, bem como razoável fonte de vitamina C.

Os compostos fenólicos têm demonstrado efeitos benéficos para a saúde (Figura 3), atribuídos não só à sua atividade antioxidante, mas também à inibição de algumas enzimas hidrolíticas e oxidativas ou às funções anti-inflamatórias que apresenta em algumas células humanas (FERREIRA et al., 2016). Além de suas propriedades organolépticas e valor nutricional, possui propriedades terapêuticas, antioxidantes e medicinais devido à presença de vitamina C (ácido ascórbico), flavonoides, compostos fenólicos e ácidos orgânicos como o ácido málico (FIDRIANNY et al., 2018; FREITAS et al., 2015; MORAIS et al., 2017).

As cascas e miolo do fruto provenientes das indústrias de conservas podem ser utilizados para fazer calda (empregada nas conservas em lata), para o processamento de vinagre, de geleias, de combustível e para a obtenção de celulose (BOBBIO; BOBBIO, 1992; VERNAM; SUTHERLAND, 1997). Várias pesquisas têm sido desenvolvidas para o aproveitamento dos resíduos do abacaxi. Sreenath et al. (1994) utilizaram enzimas comerciais (celulase e pectinase) para a extração de suco a partir dos resíduos. Já Tanaka et al. (1999) empregaram os resíduos como substrato de baixo custo para produção de etanol por fermentação. O suco pasteurizado ou fresco é utilizado em refresco, sorvetes, bombons, confeitos, ácido cítrico, ponche, creme, bala, geleia, licor, farinha, vinho e aguardente(CANECCHIOFILHO,1973; FRANCO,2001,VERNAM;SUTHERLAND, 1997)

Aplicações de bromelina na indústria de alimentos e outras indicações

Bromelina é o nome dado ao extrato de proteinases extraída dos vegetais da família Bromeliaceae (RABELO et al., 2004), cujo o abacaxi é a mais rica fonte desta protease (GRUPTA et al., 2003; HEBBAR et al., 2007). Constitui uma extraordinária mistura de diferentes tiol-endopeptidases (HAQ et al , 2005), outros componentes como fosfatases, glucosidases, peroxidases, celulases, glicoproteínas e carboidratos (COOREMAN, 1978; ROWAN et al , 1990), além de vários inibidores de proteases (LENARCIC et al., 1992; HATANO et al., 1996).

Este complexo enzimático pode ser extraído de diversas partes do abacaxi: polpa, talo, caule, folhas e raízes (BABU et al., 2008). Dentre as aplicações de bromelina na área industrial, citam-se: o amaciamento de carnes vermelhas (WITAKER, 1976; PINTAURO, 1979); o amaciamento de farinhas de alto valor proteico (DIAZ, 1988; SCHMITT, 1994; GAMS, 1976; COLE, 1973); a fabricação de queijos, o preparo de alimentos infantis e dietéticos; o pré-tratamento de soja; o tratamento de couro, da lá e da ceda; o preparo de colágeno hidrolisado (CESAR et al., 1994); a clarificação da cerveja (HEINICKE; GORTNER, 1957; WITAKER, 1976); uso em preparações cosméticas, como pós faciais, cremes e soluções para limpeza de lentes de contato; utilização na indústria de óleos vegetais, de ovos desidratados, na preparação de leite de soja e hidrolisados proteicos (SILVA, 1991).

Aproveitamento para alimentação animal

Na maioria dos casos, os restos da cultura compostos de folhas, caules e diferentes tipos de mudas retornam ao solo e contribuem para manter a fertilidade (PY et al., 1984). Entretanto, podem ser usados na alimentação animal, sendo que na Martinica os animais pastejem sobre a plantação. Na Paraíba, vários proprietários arrendam suas terras para o cultivo do abacaxi, como uma opção para o aproveitamento dos restos da cultura na alimentação do gado, no período de estiagem.

Em regiões com tecnologias mais avançada como o Havaí, máquinas de forragem foram adaptadas para colherem folhas e parte superior das plantas cortando-as a uns 30-40 cm do solo; esta parte retirada representa, aproximadamente, de 60 a 80t/ha e compreende parte das folhas, planta-mãe, filhotes e rebentões. Esse conjunto é triturado por máquina colhedeira e remetido para a fábrica de ração, onde é parcialmente desidratado e comprimido em forma de tabletes, prismas ou tortas, o que representa 12 toneladas de produto elaborado (CHOAIRY, 1992).

Origem E Evolu O

Os primeiros estudos sobre o abacaxizeiro consideravam que esta planta era originária do sul da América do Sul, da região compreendida entre 15° N e 30° S de latitude e 40° L e 60° W de longitude, abrangendo as regiões Centro-Oeste e Sul e Sudeste do Brasil, o Nordeste da Argentina e do Paraguai (COLLINS, 1960). Segundo estudo da distribuição do gênero Ananas na Venezuela e América do Sul realizado por Leal e Antoni (1981), deve-se considerar que o seu centro de origem é a região Amazônica compreendida entre 10°Ne 10° S de latitude e entre 55°L e 75°W de longitude,porse encontrarnessa região o maior número de espécies deste gênero.Um centro de origem secundário e de dispersão seria oSudeste brasileiro,ondepodemserencontradosos Ananas comosus var.bracteatus e os Ananas macrodontes, que apresentam reduzida variabilidade genética.

Segundo Ferreira e Cabral (1993), o Brasil é considerado um dos principais centros de diversidade genética do abacaxi porque, além de Ananas comosus e Ananas macrodontes todas as variedades são encontradas nas formas silvestres ou cultivadas em várias regiões brasileiras.

Durante muito tempo considerou-se que a região do Paraguai, onde habitavam os índios

Tupis-Guaranis fosse o local de origem e domesticação do gênero Ananas. Bertoni (1919), com base em trabalhos sobre a variabilidade genética do gênero na região, postulou que a domesticação do abacaxi foi feita pelos índios que por sua vez levavam o fruto em suas migrações para outras regiões.

Informações obtidas em coletas de germoplasma realizadas no Brasil, na Venezuela e na Guiana Francesa reforçaram a hipótese de um centro de origem ao Norte do Rio Amazonas (COPPENS D’EECKENBRUGGE et al., 1997). Com base em trabalhos de diversidade morfológica, de marcadores bioquímicos e moleculares, Duval et al. (1997) propuseram um centro de origem e de domesticação do abacaxi localizado nas bacias do Rio Negro e do Rio Orinoco e confirmaram a ocorrência de uma importante diversidade genética incluindo formas primitivas, cultivadas e intermediárias, com relações genéticas entre elas.

Diversas expedições de coleta, a partir dos anos 70, evidenciaram uma expressiva variabilidade genética do gênero na região norte da América do Sul, incluindo Brasil, Venezuela e a Guiana Francesa (FERREIRA et al., 1992; DUVAL et al., 1997) reforçandoainda maisateoria de quea origem edomesticaçãoteriamsidoporesta região.

Caracterizações morfológicas e moleculares apontam para as variedades botânicas ananassoides e parguazensis como as prováveis precursoras tanto dos Ananas comosus var. comosus quanto dos Ananas comosus var. erectifolius (COPPENS D’EECKENBRUGGE et al., 1997; DUVAL et al., 1997). A evolução dos Ananas comosus var. comosus a partir destes ancestrais deu-se inicialmente pelo tamanho de fruto, atributos de qualidade, como a baixa acidez, a redução de sementes, dentre outras características que favoreciam o consumo da fruta.

Com a domesticação do abacaxi, a sensibilidade à floração natural foi reduzida, favorecendo o aumento do ciclo e, consequentemente, a produção de frutos maiores. A domesticação do abacaxi também estimulou a reprodução vegetativa, reforçou a autoincompatibilidade e favoreceu tipos sem espinhos ou com poucos espinhos (COPPENS D’EECKENBRUGGE et al., 1997). Por outro lado, os Ananas comosus var. erectifolius, reconhecidamente ricos em fibras, teriam evoluído por conta desta característica já que os índios usavam para encordoamentos e outras utilidades.

Distribui O Geogr Fica Mundial E Nacional

O abacaxi (Ananas comosus) é uma planta monocotiledônea perene pertencente à família Bromeliaceae, é cultivada em alguns países do continente asiático (RAMLI et al., 2017). Durante a última década, a produção de abacaxi aumentou, registrando cerca de 27 milhões de toneladas métricas em 2017. Os principais países produtores são Costa Rica, Filipinas e Brasil (Figuras 4 e 5) e a produção mundial deverá crescer 2,3% ao ano, atingindo 33 milhões de toneladas até 2029 (FAOSTAT, 2019) Por sua vez, a sua industrialização é feita, principalmente, no Havaí; mas Formosa, Malásia, África do Sul, Austrália e Costa do Marfim também se sobressaem. Os Estados Unidos, a Alemanha, o Japão, o Reino Unido, o Canadá e a França são grandes consumidores do fruto industrializado.

No Brasil, o abacaxi é produzido praticamente em todo território nacional. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2019b), os principais Estados brasileiros produtores de abacaxi são o Pará, com 311.947 mil frutos; a Paraíba, com 307 116 mil frutos; Minas Gerais, com 179 287 mil frutos; o Rio de Janeiro, com 116 mil frutos; Tocantins, com 85.634 mil frutos; e São Paulo, com 82.536 mil frutos. O Brasil exporta tanto o fruto (onde os principais compradores são Argentina e Uruguai), quanto o suco concentrado de abacaxi (onde os maiores compradores são Chile, Argentina e Holanda, e o maior estado exportador é o Pará, onde a cidade de Floresta do Araguaia é sede da maior indústria de suco concentrado da fruta do Brasil).

No período entre 2012 a 2018 a produção de abacaxi atingiu cerca de 11,9 bilhões de frutos. O resultado anual demonstra média de 1,7 bilhões de frutos, exceção de 2017. As informações da Tabela 1 oferecem uma radiografia da produção e a sua distribuição regional.

O abacaxi representa o segmento frutícola de maior importância no Estado da Paraíba, atualmente o segundo maior produtor brasileiro, que em 2010 produziu 273,91 milhões de frutos (IBGE, 2012). O abacaxi é cultivado em 37 municípios Paraibanos, destacandose como principais produtores: Santa Rita, Itapororoca, Araçagi e Pedras de Fogo. Além da quantidade produzida e da produtividade mais elevada (29,5 t/ha em relação à média nacional de 25,1 t/ha), o Estado destaca-se também pela qualidade do fruto, reconhecida nacionalmente (FRUTAS DOCE MEL, 2009), em função do bom nível tecnológico empregadoe dascondiçõesambientaisfavoráveis,sendoacultivarPérolaa maisplantada (RODRIGUES et al., 2010).

O abacaxi ‘Pérola’ é muito apreciado no mercado interno pela sua polpa suculenta e saborosa, considerada insuperável para o consumo fresco, e com grande potencial de comercialização internacional, pois é apreciado no Mercosul e na Europa (CUNHA, 2006). Seu potencial para exportação mostra a necessidade de se estabelecer sistemas de produção para a obtenção de frutas com qualidade maximizada, de modo a atender ás atuais exigências de padrões. Isto permitirá competir com os demais países exportadores e atender aos mercados consumidores, cada vez mais exigentes quanto à qualidade e segurança do produto, bem como às normas ambientais e sociais (MATTOS et al., 2009; SILVA et al., 2010), sendo a percepção dessas novas demandas fundamental para os produtores permanecerem ou alcançarem esses mercados (FORNAZIER; WAQUIL, 2012).