Boletim Municipal de Viana do Alentejo setembro de 2020

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Espaço à Memoria

O castelo de Viana NÃO foi mandado construir por D. Dinis A propagação de dados históricos errados é comum. A inexistência de informes concretos leva, por vezes, a especulação; ou alguém tira conclusões precipitadas da leitura de alguns documentos que, frequentemente, não possuem informação evidente sobre a matéria alvo de investigação. Se interpretações erradas forem escritas e publicadas, outros autores seguem aquela mesma pre­ missa e algo que está incorreto passa a ser dado como certo. Foi isso que aconteceu com a identificação do ordenante da obra do castelo e com a fixação da data da sua construção. De facto, ao contrário do que a maioria das pessoas possa supor, em História nem tudo é hoje conhecido, muito permanece na obscuridade; e muito menos se pode crer que há sempre uma exatidão no conhecimento histórico. E a questão das datas é um aspeto sensível. Dificilmente, algo foi construído no ano X. As obras eram, naturalmente, empreendimentos demorados e podiam, inclusive, arrastar-se por séculos. Há muito que é disseminada a informação de que o castelo de Viana foi mandado construir por D. Dinis em 1313. Todavia, estes são dados incorretos que importa apagar e substituir pelos que, de facto, temos como evidentes. Essa antiguidade foi questionada por Pedro Cid em 20031 e Fran-

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1- Pedro Cid, Processo de investigação em curso no âmbito do Projecto de Recuperação, Conservação e Valorização do Castelo de Viana do Alentejo, 2003. Citado em Ana Cristina Pais, “Projecto de Recuperação, Conservação e Valorização do Castelo de Viana do Alentejo”, Estudos Património, nº 7, 2004, p. 134.

cisco Baião já abordou esta mesma questão em 2015/20162, mas temos mais dados além dos que foram apresentados, que corroboram e consolidam a mesma conclusão. Também já antes tivemos oportunidade de tratar o mesmo tema3, mas os locais onde o fizemos talvez não tenham atingido elevada divulgação. É, por isso, importante colocar este assunto num meio de maior difusão, sobretudo porque vemos como aquele erro continua a ser repetido. O equívoco já vem desde o século XVII e foi sucessivamente registado. Por exemplo, nas Memórias Paroquiais de 1758, embora não se indique a data de construção do castelo, diz-se que para a sua construção deu o rei D. Dinis 500 libras4. Túlio Espanca também apresenta aquele rei como o mandante da obra, apontando, no entanto, uma quantia de 1000 libras e indicando o ano de 1313 2 - Francisco Baião, “O “Castelo de D. Dinis” - I”, Boletim Municipal da Câmara de Viana do Alentejo, nº 88, dezembro de 2015, pp. 26-27 e “O “Castelo de D. Dinis” - II”, Boletim Municipal da Câmara de Viana do Alentejo, nº 90, julho de 2016, pp. 34-35. 3 - Fátima Farrica, Documentos para a História de Viana, Alcáçovas e Aguiar: Mostra Documental, Viana do Alentejo, Câmara Municipal de Viana do Alentejo, 2013 (catálogo de exposição); Fátima Farrica, “No tempo dos forais manuelinos”, in Fátima Farrica (Coord.), Os Forais Manuelinos de Aguiar e de Viana do Alentejo: 500 anos, Casal de Cambra, Caleidoscópio, 2017, pp. 92-93 e http://www.conhecerahistoria.pt/ - ficha sobre o castelo (2015). 4 - Arquivo Nacional Torre do Tombo, Memórias Paroquiais, Vol. 39, nº 150, fl. 908.


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