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Residência Castor Delgado Perez

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Moderno um presente do passado

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Texto/ João Pedro Britto Fotos/ Guilherme Lopes / Rafael Santos

Caminha-se pela Avenida 9 de Julho em um automóvel, vidros fechados, ar-condicionado ligado, o trânsito de um fim de tarde e uma placa de “Vende-se” indica uma possibilidade. Imagino que tenha sido essa a sensação de Luciana Brito, galerista e proprietária da galeria homônima, em seu primeiro contato com a discreta Residência Castor Delgado Perez, futuras instalações de sua propriedade artística. O tombamento da casa, localizada nessa região nobre da cidade, em uma de suas principais vias criam uma rejeição de certa forma do mercado imobiliário, que vê o movimento moderno com olhos receosos. O imóvel, uma residência modernista tombada pelo IPHAN em 2013, projetada pelo arquiteto de Rino Levi, quase 10 anos após a Residência Olivio Gomes, percebe-se grandes elementos característicos da arquitetura de Levi. Adaptada em 2016, com um toque de restauro, o escritório Piratininga procura revelar elementos característicos da residência, além de revivê-los, recuperá-los e trazê-los a tona de forma funcional ao novo uso.

No projeto original, estima-se que Levi já pensava que a Av. Nove de Julho faria parte de um grande eixo urbano, onde projeta um volume cego de concreto (área de serviço), revelando ao espectador comum, que passeia com o seu cachorro em um final de semana, uma grande caixa que voa.

Os elementos vazados e o grande paisagismo do projeto original, reflexo da amizade de Levi com Burle Marx, traz o contraponto do volume cheio, com vazios e iluminações em áreas em que o paisagismo se torna consolidado. A bela árvore no caminho da porta de entrada social leva a refletir se vale a pena entrar ou apenas ficar observando a paisagem de fora. Mas sempre é uma aula de arquitetura passar pela porta: Um grande pátio do jardim central rouba do visitante “o primeiro olhar”, onde as caixilharias de vidro revelam o restauro de Klara Kaiser ao projeto original de Burle Marx. Dentro do princípio de estar em uma galeria, percebe-se a vitalidade que o espaço ganha, ainda sem revelar-nos as obras artísticas, somente arquitetônicas. Os elementos vazados na parede e teto revelam-se como artísticos.

A sala de estar, originalmente com uma lareira central, hoje com uma intervenção artística da galeria, revela-nos suas transparência e iluminação natural mediante sua implantação entre os dois pátios centrais.

Os elementos de revestimentos nas paredes são pastilhas em vidro (ou Vidrotil), restaurados na nova adaptação da casa, com a busca das belas cores originais propostas por Fernando Rebolo em seu projeto original.

O fluxo até a adega de um lado e até a cozinha por outro, revela a centralidade com que o programa foi disposto. Os quartos se dispõem em volta do segundo pátio e o jardim localizado aos fundos do lote. A ventilação, uma das riquezas dos projetos de Levi, é destaque e perceptível ao caminhar em seu ambiente. A edícula no fundo do lote é a única que é alterada construtivamente para atender ao uso proposto pela galeria, mas sem perder a característica volumétrica do ambiente e da casa. Agrega ao uso atual, sem perder historicamente. Ao caminhar pela casa, encontra-se muitas visuais que fazem brilhar o olhar. O volume grande, fechado e branco revela em si o jogo de volumetrias. A escada, como elemento em diagonal, fechada, realça esse destaque.

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Os trabalhos de Levi surpreendem, desde a tomada instalada no contra piso, até os detalhes da escada com seus degraus inclinados.

Visto tamanhos detalhes na Residência Olivo Gomes, apreciamos a atual Galeria Luciana Brito com um novo olhar, procurando retirar o máximo da arquitetura modernista da década de 50, desde identificar as visuais externas, entender o porquê da coloração usada por Rebolo até buscar sentir a vitalidade do desenho de Burle Marx em seus formosos jardins.

Com grande apreço também o trabalho insistente e vivo do Piratininga, valorizando e requalificando os visuais sem perder a identidade de cada material, sendo esses visuais e estruturais em suas medidas.

O conjunto da obra nos deixa fascinados, mas além disso, ver que existe a valorização da história arquitetônica, a união com a vitalidade artística atual e a busca por unir os setores artísticos, revelando a cada novo visitante uma experiência marcante é o traz o verdadeiro sentido da promenade: o viver a arquitetura.

RESIDÊNCIA CASTOR DELGADO PEREZ

Arquiteto: Rino Levi (1959) - Área: 483.0m

Reforma e Restauro: Piratininga Arquitetos

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