Um Rico Pano: antologia de verso, prosa e imagem de Lamego

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UM RICO PANO: ANTOLOGIA DE VERSO, PROSA E IMAGEM DE LAMEGO

147 com a importância, até, da maior cidade da Hispânia, segundo o abôno da tradição. Era Trajano o imperador, quando se rebelou contra o domínio estrangeiro. O brioso ímpeto, a-pesar-de ardido, foi castigado com uma sanhosa devastação. Trajano não perdoava ultrajes à Roma triumfante, através do seu sangue hispânico. Reconstituída, pelos séculos fóra suportou as boas e más alternativas de tantos outros povoados, como era de lei nessa longa quadra tumultuária. Aos moiros por três vezes foi arrancada: no século XI por Fernando Magno de Castela a mais o bom Cid Campeador, diz a tradição; em 1102 pelo conde D. Henrique, depois por Afonso Henriques. Demonstram-nos estas conquistas que devia ser terra de categoria, tal como o facto de em 510, ainda no senhorio suevo, a erigir em séde episcopal o concílio de Lugo. Nos séculos XIV e XV medrou a segunda, para cuja prosperidade essencialmente cooperaram já a feira anual, visitada pelos moiros de Granada, carregados de especiarias e tecidos orientais, que daqui se dispersavam à volta de muitas léguas, já uma activa indústria de vários panos, representada em muitas fábricas, das quais tinha o patrocínio régio a de lonas. Mercê dêstes dois recursos, um, comercial, industrial o outro, Lamego fruiu honras dum notável empório continental. Surge, porém, o descobrimento da Índia; depois, expugnam Granada os reis católicos e o êxodo moirisco principia a deslar. Ceci tuera cela. Então, a estrêla de Lamego entra no declínio, sucessivamente agravado por outras causas, tais os duros tributos caídos sôbre os mercadores vindos às feiras, a intromissão no tempo manuelino e joanino dos panos ingleses e franceses, o mando lipino e as guerras da restauração. Com o oiro do Brasil e o patrocínio pombalino outorgado aos vinhos nos, da mór vantagem para os lavradores lamecenses, a vélha aura algo esplandeceu. Foi sol de pouca dura, porque as invasões dos piratas franceses e as ferinas e sórdidas lutas liberais anularam êsses proveitos e de vez prostraram a vélha e nobre cidade. Digna é Lamego que a terceira época de boa fortuna a auspicie e com perenal durança. Para breve e rme eu lha desejo, ex-corde. Não lhe minguam as possibilidades: para as atracções do turismo dispõe de fartas belezas naturais e artísticas, para um comércio próspero e vasto possue magnícos e deliciosos vinhos. Por si sós não bastam, de-certo; precisam de que as dinamizem e avigorem, de que se lhes ponha em vivo destaque o valor. Ora isto demanda muito esfôrço, um esfôrço de clara inteligência e brava tenacidade, enérgica e francamente executado, em plena concórdia, em harmonia judiciosa, com repúdio de querelas e partidarismos, estimulado pelo afanoso e nobre bairrismo dos homens bons amantes de sua terra, sob um único lema - o orescimento de Lamego. Portugueses de Lamego: porque não promover esta empreza patriótica? Patriótica, sim, visto que a pujança dos concelhos sempre reverte em benefício nacional. Ora só pelo conjunto das prosperidades regionais será possível obter a pátria prosperidade. Pelo seu justo signicado, pelo seu


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