A Pintura Quinhentista do Convento de Santo António de Ferreirim

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PARCERIA DOS MESTRES: CRISTÓVÃO DE FIGUEIREDO, GARCIA FERNANDES E GREGÓRIO LOPES

f ) Camada de protecção São várias as amostras que recolhemos para análise estratigráfica 202 que evidenciam a presença de uma fina camada superficial de coloração amarelecida ou por vezes escurecida, estando relacionada na maior parte dos casos com vernizes antigos aglutinados com substâncias oleicas ou proteicas: amostra A3; amostra A5; amostra A7; amostra A8 e amostra A9. Estes vernizes antigos, oxidados e por vezes amarelecidos, já detectados em 1970, mas só removidos em 2001. O exame à radiação de f luorescência no ultravioleta era indiciador do estado superficial antes da intervenção (fig.6): sobre a zona correspondente às asas do arcanjo Gabriel e parte do móvel, à direita da Virgem, sobressaem repintes recentes traduzidos pelos tons azulados e violetas, paralelamente com outros mais antigos, de tons negros e escuros. Com a mesma radiação foi possível observar zonas onde ainda restavam vernizes antigos, pelas tonalidades amarelas que exibem. Na última intervenção de conservação e restauro, ocorrida em 2001, a superfície visível do painel foi pulverizada com duas camadas finas de verniz. g) Restauros e intervenções conhecidas Após a Exposição de Os Primitivos Portugueses, de 1940, onde foi apresentada na sala VI (n.º cat. 125203) do Museu das Janelas Verdes (actual Museu Nacional de Arte Antiga), esta pintura deu entrada, em 19 de Abril de 1941, no Instituto de José de Figueiredo, em Lisboa – actual Instituto Português de Conservação e Restauro (IPCR). O seu tratamento, feito pelo restaurador Fernando Mardel, deu azo ao processo de restauro n.º 826, de cujo relatório apenas se extrai a sua identificação e respectivas dimensões. Em 1957, durante os meses de Agosto e Setembro, fez parte da 1ª Exposição Temporária: Mestres de Ferreirim, realizada no Museu Regional de Lamego204. Em 4 de Junho de 1970 deu entrada novamente no Instituto José de Figueiredo, apresentando “vernizes oxidados e amarelecidos, sujidade provocada por fumos e poeiras, falhas na camada cromática, repintes antigos e o reverso bastamente atacado pelo xilófago e por fungos”, o processo de restauro n.º 108/70, da responsabilidade de Manuel Reis Santos, esclarece que a beneficiação efectuada se limitou à “Fixação da camada cromática com cera e resina Damar, imunização com Paraloide, não sendo feita a remoção de vernizes e repintes antigos, nem foram efectuados quaisquer preenchimentos de lacunas”. Foi, portanto, uma ligeira intervenção que antecedeu a exposição Pinturas dos Mestres do Sardoal e de Abrantes, realizada no Convento de S. Domingos, em Abrantes, e, depois, na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, onde possuiu o n.º cat. 122205. Em Dezembro de 1999 o Centro de Conservação e Restauro de Viseu, delegação do Instituto Português do Património Arquitectónico e Arqueológico (IPPAR), procedeu à elaboração de um relatório individual do estado de conservação desta e das restantes sete pinturas existentes na igreja do Convento de Santo António de Ferreirim206.

Fig.6 Parceria oficial dos Mestres de Ferreirim, Anunciação. Lamego, Igreja de Santo António de Ferreirim. Fotografia em Fluroscência ultra-violeta.

Como já tivemos ensejo de referir anteriormente, este estudo laboratorial ocorreu antes da última intervenção, à qual as oito pinturas foram sujeitas em 2001. Os resultados apresentados pela nossa investigação pressupõem, para além disso, todas as modificações e alterações ocorridas desde essa data até ao momento presente e no qual se inclui o relatório detalhado da intervenção de conservação e restauro. 202

203

Os Primitivos Portugueses (1450 - 1550): Catálogo-guia, Lisboa, 3ª ed., 1958 [1ª ed. 1940], p. 24.

Os painéis que representam Cristo a Caminho do Calvário e Calvário não fizeram parte desta Exposição em 1957, já que o seu estado de conservação na altura não o permitia (Mestres de Ferreirim, 1ª Exposição Temporária, 1957, p. 7). 204

205

Pintura dos Mestres do Sardoal e de Abrantes, (Catálogo da Exposição), Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 1971, p. 136.

De acordo com o estado de conservação de cada pintura em particular, foram diagnosticadas várias causas de deterioração, recorrendo ao exame por observação a olho nu do estado superficial das pinturas e molduras, sendo enumeradas neste relatório de diagnóstico as diversas intervenções consideradas necessárias para o lançamento e a aceitação de propostas de intervenção, a realizar in situ, por empresas da área da conservação e restauro. 206

CAPÍTULO III

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