Foccus 87

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EDIÇÃO 87 - NOVEMBRO 2014

CAPA

o poder da leitura

SENTA QUE LÁ VEM HISTÓRIA Os desafios da educação COMER E VIAJAR A dança da saudade ENTRE OLHARES Para quem sabe pescar, poesia é isca PACIFICIDADE Por trás da escrita

PENA E PINCEL Sobre cartas, distâncias e amores DO QUE ME VALE A PENA Nos embalos do México-Migo POPCORN TIME A derrota das videolocadoras


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IO DUPLO

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EDITORIAL

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EDITORIAL

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O CROMOSSOMO DA MUDANÇA Há aproximadamente 01 ano, nos reapresentamos para você de uma maneira completamente nova. Após uma temporada fora de circulação, voltamos como quem chega de uma longa viagem de autodescoberta: muito mais próximos de nós mesmos e das nossas individualidades. Por isso, ao apostarmos em nossa essência, descobrimos que a mudança está em nosso DNA, pois toda a equipe da Foccus padece do mesmo mal, que é comumente conhecido como “A Eterna Insatisfação”. Mas ao invés de nos paralisar, esse sentimento é o combustível que nos leva sempre em frente e nos faz melhorar dia após dia. Neste sentido, tenho o maior prazer em contar em primeira mão as novidades que te esperam. Uma delas é que a partir de Janeiro a revista será entregue para todo

o Brasil mediante assinatura ou compra de exemplares, a outra é um convite para que você conheça o nosso site que acabou de sair do forno. Através do endereço foccusrevista.com.br você irá encontrar uma extensão de tudo que é feito por aqui, com novos colunistas e novas ideias em um universo que mistura jornalismo, literatura, política, cultura e arte. Mas antes de conferir todas as novidades destacadas de perto, sugiro que você aprecie o conteúdo dessa edição, que também está cheio de boas novas, começando com a Déborah, a nova colunista que chegou para emocionar. Além dela, você irá encontrar textos inéditos dos colunistas da casa, com um adendo especial para a matéria de capa, que fala sobre o poder transformador da leitura, que encerra os seus benefícios justamente em você, leitor.

FICHA TÉCNICA Editora Chefe: Kilze Teodoro – kilze@foccusrevista.com.br Diretor Executivo: Murilo Borges – murilo@foccusrevista.com.br Projeto Gráfico: SOU Propaganda – (64) 3661-1960 Direção de Arte: SOU//Foccus

Produção Gráfica: Gráfica Mineiros – (64) 3661-1862 Comercial: (64) 9907-1313 Circulação: Mineiros, Goiânia, Rio Verde, Jataí, Alto Araguaia, Alto Taquari, Chapadão do Céu e Chapadão do Sul Endereço: Avenida Ino Rezende, Qd. 12, Lt. 11, Piso 02, Setor Cruvinel, Mineiros-GO, CEP 75830-000

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COLABORADORES NOVEMBRO/2014

PEDRO LABAIG Pintor, formado em Filosofia pela UFG, estuda História da Arte na Universidade de Sorbonne.

GUILHERME SANTANA

BÁRBARA FALCÃO

DANILO XIDAN

Coveiro por opção. Pai por paixão. Glutão por convicção. santanagui@hotmail.com santanagui.blogspot.com

Devota do desassossego, ama para não enlouquecer e escreve porque acha que a arte é a única amante da solidão. www.pacificidade.blogspot.com

Publicitário e gourmet viajante. Um mochileiro maluco que curte Comer e Viajar. Acompanhe www.facebook. com/comereviajar2 e @comereviajar no Instagram.

PEDRO FAUST

DÉBORAH GOUTHIER

MICHEL EDERE

Goianiense desde o nascimento. Jornalista pela PUC e aficionado por cinema. Redator Publicitário e colunista na Revista Foccus.

Com o Jornalismo no canto esquerdo do peito, ela decidiu navegar por outros mares e formas de combinar as palavras. Faz mestrado em patrimônio cultural e é um dos nomes por trás do aplicativo Diminuto. Tem paixão por livros e por gente. Valoriza, sobretudo, o amor.

Nascido no dia 11 de abril de 1980, já com a profissão de ariano definida para o resto da vida, Michel Edere é original de fábrica de Goiânia. Filho de uma crente com um piauiense, estudou muita coisa, aprendeu algumas, esqueceu a maioria e não se formou em nada.

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ED. 87 - NOVEMBRO 2014

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ÍNDICE

GUILHERME SANTANA ...........................................................................................

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DÉBORAH GOUTHIER ........................................................................................................

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BÁRBARA FALCÃO ...........................................................................................................................................

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KILZE TEODORO .................................................................................................................................................................

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Senta Que Lá Vem História | Do Que Me Vale a Pena | Pacificidade | CAPA |

ATHENA VILELA ..................................................................................................................................

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PEDRO LABAIG ................................................................................................................................................

30

Perfil Profissional | Pena e Pincel |

Comer e Viajar |

DANILO XIDAN ...........................................................................................................................................

36

Entre Olhares |

MICHEL EDERE ............................................................................................................................................... 40

Popcorn Time |

PEDRO FAUST .................................................................................................................................................

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SENTA QUE LÁ VEM HISTÓRIA

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Getty Images

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SENTA QUE LÁ VEM HISTÓRIA

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SOBRE EDUCAÇÃO “Movimentar a mente de nossas crianças no sentido de lhes disponibilizar crescimento é fundamental.” TEXTO POR GUILHERME SANTANA

Já diria o ditado mais que popular, que de boas intenções o inferno está cheio. A maioria dos grandes erros da humanidade iniciaram-se com as ditas boas intenções. E penso que transladando para o mundo da educação infantil podemos cair na mesma vertente. Por que digo isso? Porque como pais e educadores, estamos sempre na linha tênue entre acertar e errar quando educamos nossos filhos. Não existe receita de bolo no processo educacional e não passamos de experimentadores a testar nossa capacidade de transferir conhecimentos e conceitos. E, muitas vezes, nem dominamos e muito menos temos pacificado dentro de nós os tais conhecimentos e conceitos que tentamos legar. Ossos do ofício dos educadores. Por que estou falando isso? Logo explico. Helena, minha filha mais velha está na fase de entender o valor financeiro das coisas e consequentemente criando fascinação pelo dinheiro, o que é muito característico dessa fase. Eis que algumas semanas atrás ela manifestou o desejo de adquirir um brinquedo. O pai recusou. Não por falta de dinheiro, mas por entender que a mocinha merecia um freio em seu ímpeto consumista (que, aliás, é uma coisa

extremamente difícil de combater nos dias de hoje). Não satisfeita ela decidiu que ganharia seu próprio dinheiro para satisfazer a vontade do mimo. Nessa hora sua direção educacional muda por completo. Passa-se de “não incentivador do consumismo” para incentivador do “vire-se” como forma de crescimento individual. Pois bem. Mas o que vender? Entra nesse ponto o imediatismo das crianças que querem ver seus problemas resolvidos instantaneamente. Quando ela percebe que não será fácil, lança-se aos prantos. Outra reação típica. Acalmase. Aí vem uma manifestação muito característica dela. Desenha com letras recortadas a frase: “Helena quer vender”. O pai acha engraçadinho e posta na rede social. As pessoas se comovem. O que aquela menina queria vender? Por que estava chorando? Coitadinha! Mostro a ela as manifestações. Ela delira. Aí o pai dá a ideia: Porque você não faz desenhos exclusivos e vende para as pessoas? Se tivesse uma máquina fotográfica para poder captar o brilho no olho da criança... Colocamos a ideia em prática na rede social e esperamos. Logo surgem as primeiras encomendas. Ela rapidamente se lança aos lápis de cor. Esmera-se. Colore.

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SENTA QUE LÁ VEM HISTÓRIA

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“Penso que nos dias atuais os conceitos não mudaram muito, com exceção da velocidade das informações.”

Posto os desenhos. Ela quer saber quais foram os comentários. Ela não quer dormir. Quer fazer logo todas as encomendas. Quer saber detalhes das pessoas que pediram os desenhos para ser bem personalista. Dá gosto ver a maneira com que ela plasma sua alegria na folha de papel. Parece tudo perfeito, né? Mas não é. E o que isso tem de risco? Logo explico. Parei para refletir sobre o ato. Pontos positivos e negativos. O que provocou essa minha parada para reflexão foi a ansiedade dela em saber o que as pessoas tinham comentado sobre seus desenhos. As dúvidas começam a pulular na mente do pai educador. Não estaria a pequena mente em formação preocupada demais com opiniões instantâneas? A não confirmação das expectativas não poderia causar uma frustração irreversível? Ou a frustração faz parte do processo de crescimento? Em qual proporção? O imediatismo das redes sociais não traz uma dificuldade de fixação dos conceitos permanentes? A exposição excessiva não traria uma certeza infantil de supervalorização de suas habilidades? Para variar não sei responder todas as perguntas. Deixo para vocês tentarem

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fazê-lo. O que me alenta depois de tantas perguntas é lembrar de uma passagem da minha infância. Quando criança e adolescente trabalhei (durante as férias escolares) em uma loja de canetas que pertencia a minha família no centro da cidade. Foram momentos de aprendizado intenso. Convivência com conceitos que moldaram meu caráter e minha maneira de enxergar as convivências humanas. Aprendi a tomar gosto pelo comércio e entendi que o “não” faz parte do seu crescimento pessoal. Assim como o “sim”, logicamente que o primeiro de maneira muito mais dolorosa. Penso que nos dias atuais os conceitos não mudaram muito, com exceção da velocidade das informações. Por isso fiquei mais tranquilo. Movimentar a mente de nossas crianças no sentido de lhes disponibilizar crescimento é fundamental. Logicamente que com responsabilidade e discernimento dos conceitos. Esse é o desafio.


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DO QUE ME VALE A PENA

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A MÚSICA DE DENTRO “Alguns se sacolejavam em seu ritmo próprio, alheios à música que tocasse.” TEXTO POR DÉBORAH GOUTHIER

Era um sábado de manhã e fazia um friozinho bom para dormir. Foi pensando nisso, que me vesti calma e vagarosamente, tendo apenas uma ideia de aonde iria. Nenhum endereço ou telefone, nenhuma informação no Google. Apenas um rumo e muita preguiça. Rodei durante uma meia hora em torno da região que haviam me indicado. Umas informações aqui, outras ali, um número de telefone. Finalmente, alguma pista. Mas só? Não sabiam me informar mais nada. Continuei, já quase desistindo, percorrendo as ruas vazias de um raro dia nublado. Foi quando, numa ruazinha atrás de uma igreja, vi o salão com o nome excêntrico que eu tanto procurava: o México-Migo. Uma entrada mal pintada e suja deixava entrever um interior à meia luz, vazio e meio macabro. Tudo era silêncio, cadeiras velhas, paredes cheias de cartazes que nunca souberam o que é design, ninguém à vista, calçadas sujas, uma esquina sem sentido em uma rua sem graça. Eu só conseguia pensar que deviam ter me passado o nome errado, quando vi, lá dentro, um casalzinho meio tumultuado, empurrando cadeiras e carregando sacolas.

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Só podia ser mesmo ali. Desci do carro e entrei por uma porta entreaberta, descobrindo que os tais cartazes falavam de shows, festas e datas. O casal me olhava meio desconfiado, enquanto eu me apresentava, explicando o que procurava. Era ali mesmo, confirmaram: naquele salão, todos os sábados das 14 às 18 horas, cerca de 200 pessoas se reúnem para dançar, sendo, em sua grande maioria, idosos. E os organizadores da festa não podiam ser diferentes. Dona Vanda e seu Haroldo, o tal casalzinho que já trabalhava às 10 horas da manhã naquele sábado que me grudou na memória. Atores de uma rotina que se repetia há tantos anos, na tentativa de levar alegria a muitos outros casais que, mais tarde e em tantas outras tardes, bailariam alegremente pelo salão. A organizadora do evento me explicou por alto como tudo funcionava. Recomendou o tipo adequado de roupa que eu deveria usar, esclarecendo que o “seu baile” era o mais moralizado da cidade. Ali não tinha confusão, nem pouca vergonha e nem maiores preocupações, porque o lugar era protegido por Deus. Tudo combinado.


DO QUE ME VALE A PENA

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Michelle Cross

Tudo certo. Exceto pela minha cara de sono, que ficou com jeito de pijama velho quando comparada à elegância da dona daquela festa. Horas mais tarde voltei ao México-Migo. Lá estavam a dona Vanda e o seu Haroldo, todo sorrisos controlando a entrada. Não me deixaram pagar o ingresso de forma alguma. “No dia que você vier dançar, você paga!”, cantarolaram me acenando. Mas fora os dois, tudo ali parecia diferente. A rua já não era mais estranha e eu nem poderia mais definir o que significa macabro. A palavra não combinava mais com o ambiente. Música alta, mesas com forros azuis, decoração pendurada no teto, e uma centena de casais dançando animados. Escolhi uma mesa que desse para ver todo o salão. Me acomodei por ali e foi só então que notei a banda, que tocava um forró dos mais dançantes. Eram apenas duas pessoas, um tecladista e um sanfoneiro, que tocavam e cantavam, intercalados em pequenos diálogos com quem passava em frente ao palco entre uma música e outra. Nas canções mais animadas, a pista lotava. Nas mais românticas, um ou outro casal desistia acanhado. No intervalo entre elas,

todos corriam rápidos até suas mesas, fosse para tomar um gole de cerveja ou refrigerante, fosse para trocar uma palavrinha com alguém, ou ainda para convidar outro par para a próxima dança. Mal a música começava e lá iam eles de novo, numa correria ensaiada que não ousava sair do ritmo nem por um segundo. Do teto, pendiam tecidos esticados e grandes bolas coloridas, numa decoração meio neon, com luz negra e tudo, e que poderia facilmente ser de uma festa de música eletrônica. No alto da grande parede lateral, janelas deixavam resplandecer a luz do sol. Um brilho extra para os paetês e estampas coloridas dos vestidos. Os homens também não deixavam por menos, com camisas fortemente estampadas e até as antigas camisas “Volta-ao-Mundo”. Sapatos bem engraxados conduziam sapatos de salto, e eram só rodopios para lá e para cá. Num olhar mais atento, pude perceber detalhes reveladores. Dava para notar pela grife das bolsas ou pelo tecido do vestido, o quanto algumas senhoras eram mais abastadas do que outras. Assim como algumas ruguinhas e cabelos brancos

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DO QUE ME VALE A PENA

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“No fim das contas, acho que, para todos eles, a música vinha mesmo era de dentro.”

podiam condenar um pouco mais de idade. Mas ali, naquele salão, tudo isso parecia não ter a menor importância. Eles eram grupos de amigos muito empolgados, casais tímidos e casais apaixonados, e até desconhecidos que se permitiam conhecer no tempo de duração da música que embalasse a próxima dança. Alguns se sacolejavam em seu ritmo próprio, alheios à música que tocasse. Outros se agitavam freneticamente e, mesmo quando parados, não conseguiam parar de rebolar. Havia aqueles que poderiam dar aulas de postura e elegância, ou de passos da dança de salão. No fim das contas, acho que, para todos eles, a música vinha mesmo era de dentro. Em pouco mais de uma hora, recebi quatro convites para deixar o local em que me sentei feito estátua e exibir meu requebrado. Em alguns momentos, confesso que foi difícil resistir. Como quando um simpático senhor Alcides (descobri seu nome por causa do chaveiro de pedrinhas que ele levava pendurado no cós da calça) me disse que aquela era a melhor coisa do mundo - dançar.

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Encabulados, insistiam um pouquinho, mas logo desistiam de mim, deixando um sorriso compreensivo e carregado de significado, que me sussurrava na ponta da orelha: “esses jovens não sabem mesmo aproveitar a vida”. Algumas horas depois, me deparei com a dona Vanda na saída. Depois de simpatia, a palavra exata para ela seria mimo. Ela era assim, um mimo. Maquiada, vestidinho bordado, toda se balançando enquanto trabalhava por horas a fio sem deixar de sorrir, contando fichas, guardando cartazes ou só assistindo a toda aquela festa. Agradeci, de alma cheia e pés sem calos, e prometi que voltaria. Ela me lançou aquele olhar de quem sabe que nunca mais lhe verá de novo e me segurou carinhosamente pelo braço para explicar que aquela alegria toda só podia mesmo ser coisa de idoso. “A gente não tem mais todo o tempo do mundo, como vocês que ainda são jovens. Mas temos que aproveitar o que nos resta! E o melhor jeito de fazer isso é ser feliz.”


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Rick Beerhorst


PACIFICIDADE

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DESMEMBRAMENTO “Me conforta a consciência de que cada amarra que deixo no caminho é um obstáculo a menos para o melhor de mim.” TEXTO POR BÁRBARA FALCÃO

Em todas as lembranças que tenho de mim, sou romântica e escritora. Defeitos ou missões, certas coisas vem de berço. Quando me apaixonei pela primeira vez escrevi minha primeira carta de amor ridícula, desde então não consegui parar, sequer senti essa vontade. Questionome diariamente sobre tantas coisas, o automatismo do jornalismo, o futuro de nosso país, a qualidade da nova música, a origem dos sentimentos, a lógica dos relacionamentos. Mas nunca, nunca pensei seriamente em desistir de escrever.

Quando aterrissei em Belo Horizonte pela segunda vez esse ano e meus olhos se encheram de lágrimas, pensei que talvez valha a pena abrir mão do romantismo para ser algo melhor. Para deixar que aflorem as outras mulheres que existem em mim. Foi a primeira vez que não caí na armadilha da culpa, e meu Deus, como é bom ser livre por um dia. Sei que nunca terei a liberdade de Anaïs e de outros tantos, mas me conforta a consciência de que cada amarra que deixo no caminho é um obstáculo a menos para o melhor de mim.

Por vezes eu e a inspiração andamos como retas paralelas que não se tocam. E deixo escapar o que mais quero dizer, a palavra foge como um pequeno peixe que nada em velocidade dentro do rio e escorrega entre os dedos para escapar da mão que fecha. Não tenho estratégias na manga, pois quem escreve não guarda para si o melhor. Cada vez que preencho um papel como esse, exponho sem rodeios minhas maiores fraquezas e tento achar e mostrar ao leitor a beleza do fracasso. Para justificar e fugir da vergonha, defino a escrita como um ato de coragem. Mesmo que no fundo ela não passe de um artifício para diminuir a dor, a culpa, o medo.

“Você precisa começar a selecionar as pessoas pelo gosto literário” – Ana me diz após ouvir atentamente sobre mais uma desilusão amorosa. Respondo que dessa forma ficarei sozinha. Lembro que meu maior amor foi também o que me escreveu o maior número de cartas. Até hoje não sei se a saudade maior é dos toques ou das metáforas, dos beijos ou dos jogos de palavras. E talvez realmente faça sentido encontrar alguém que fale a mesma língua. Mas no fundo, ela deve saber que nunca seguirei tal conselho. Selecionar pessoas está fora do meu vocabulário e do meu modo de viver. Prefiro ainda os leigos, os analfabetos.

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PACIFICIDADE

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“A poesia está em todos os lugares, no muros, postes, legendas. Só lhe falta um espaço a mais no coração das pessoas.”

Minha preferência, na verdade, é pelos que sentem. Essa é minha língua.

tinta. É pano pra manga, é nó na garganta, é alimento da escrita.

Por muito tempo pensei que escrever poemas de amor e entregá-los a alguém fosse uma forma de prostituição literária. A conquista quase sempre se limita ao momento da leitura. Mas excita-me saber que por um espaço de tempo, mesmo que por um pequeno instante enquanto me lê, o outro sentirá meu peito batendo dentro de si. Os julgamentos são inúteis, a literatura é por si só uma grande indecência. Desejo apenas que minha prostituição seja sempre real e verdadeira. Que a memória não deixe de ser combustível. E que o desejo de que falo queime no gerúndio enquanto escrevo.

A poesia está em todos os lugares, no muros, postes, legendas. Só lhe falta um espaço a mais no coração das pessoas. Escrevo em voz alta porque o silêncio é a ressaca, a paz que vem depois. Escrevo porque só assim me tornarei a escritora que desejo ser. Para seguir a sina ou para fugir dela. Quem dirá se meu destino é mesmo esse. De qualquer forma sou grata por ocupar essa folha de papel e sou grata a você que por algum motivo chegou até aqui. Isso me faz pensar que talvez eu esteja no caminho certo.

Como rei ou mendigo, por esmola ou reverência, não importa em qual linha do extremo se está, importa estar no limite, a um triz de qualquer coisa. Porque o amor é assim, porque a vida é assim e nós não precisamos ser diferentes. O que nos transporta de um lugar a outro é a luz que entra pela fresta da janela. O cheiro da respiração que nos beija a boca. E tudo aquilo que é pequeno demais, mas que a gente não deixa passar em branco. Tudo é

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Para ouvir esse texto em voz alta acesse: https://soundcloud.com/pacificidade


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O PODER DA LEITURA “Não é a leitura que nos transforma, mas nós que nos transformamos a partir dela.” TEXTO POR KILZE TEODORO

“Não imagine um homem louco, barbudo e de armadura lutando contra moinhos de vento.” Se você também ignorou o “não” da sentença anterior e deixou sua imaginação rolar, isso prova que a agência de comunicação Y&R acertou a mão na campanha publicitária realizada para a Penguin Companhia das Letras, que deriva o conceito “Se você lê, você imagina” em várias peças que seguem a mesma linha de criação da frase que abre este texto. A campanha rendeu até um leão de bronze (na categoria Press) no último Festival de Publicidade de Cannes, mas se engana quem acredita que o mérito dos criativos envolvidos refere-se somente ao uso astuto do recurso da negativa, pois este artifício trata-se apenas da cereja do bolo do processo, o ingrediente especial da criação é uma velha conhecida que atende por simplicidade. Afinal, ao aliar o lúdico à literatura, misturando uma nova versão da brincadeira “Não imagine um fusca verde” aos clássicos personagens literários em uma narrativa despretensiosa, a campanha conseguiu provar de maneira simples e divertida a capacidade que a leitura possui para despertar a imaginação, a memória, a criatividade e, claro, influenciar o interesse

da população para este hábito que, por sua vez, estimula a venda dos produtos que o cliente em questão oferece. Dito isso, lhe convido a deixar a análise publicitária aqui presente de lado e dedicar a atenção da sua leitura para as infinitas possibilidades que ela pode lhe proporcionar. DAS EXPECTATIVAS DE QUEM ESCREVE Porém, antes de esquadrinhar as possibilidades para as quais a leitura se abre, é preciso contemplar as perspectivas de quem escreve. Afinal, boa parte dos autores que se entregam a essa tarefa tem seus leitores em mente e esperam despertar reflexões, curiosidades e um vasto número de sensações em seu público. Mesmo aqueles que se entregam à escrita por hobby ou pelo seu caráter terapêutico, na tentativa de espantar seus demônios no melhor estilo “queime depois de ler”, estão sujeitos a novas interpretações ainda que ninguém além deles leia o que escreveram. A citação “ninguém entra em um mesmo rio uma segunda vez, pois quando isso

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acontece já não se é o mesmo, assim como as águas já serão outras”, do filósofo grego Heráclito de Éfeso, exemplifica bem o que eu quero dizer. DAS POSSIBILIDADES QUE A LEITURA PROPORCIONA Dentro dessa análise fica claro que as perspectivas do autor se cruzam com as do leitor, criando laços que podem ser medidos a partir da intensidade que uma obra influencia a vida de quem a lê. Ao nos enxergarmos em determinados personagens, reconhecermos nossas dúvidas e inquietudes dentro de uma obra e nos emocionarmos com as palavras de algum autor, experimentamos uma gostosa sensação de intimidade em relação a esse escritor justamente pelos sentimentos que ele conseguiu despertar em nós. Por isso, entendo perfeitamente quando algumas pessoas se referem a grandes escritores utilizando apenas apelidos ou seus primeiros nomes, tais como, Gabo, Clarice, Poetinha, Bruxo e tantos outros. A influência desses autores é tamanha, que grande parte das personalidades citadas no livro “As Pessoas Mais Importantes do Mundo que Nunca Viveram”, de Dan Karlan, Allan Lazar e Jeremy Salter, é composta por personagens literários, que saíram direto das páginas de livros como O Grande Irmão (The Big Brother), de George Orwell, Hamlet, de Willian Shakespeare, Sherlock Holmes, Dom Quixote, dentre muitos outros. Isso demonstra que os autores dos quais mais gostamos fazem parte das nossas

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vidas e o conteúdo que eles produzem pode dizer muito sobre nós, afinal o gênero de leitura que mais nos motiva e emociona faz parte das nossas preferências, que estão, de uma maneira ou de outra, ligadas ao nosso modo de enxergar o mundo. Entretanto, o gênero de uma obra e sua finalidade nem sempre são os fatores mais importantes de uma leitura, pois as peculiaridades existentes dentro de cada narrativa sempre podem nos surpreender. Eu, por exemplo, nunca encontrei em livros de autoajuda, verdades tão profundas quanto no realismo mágico de Gabriel García Márquez e nos romances de Saramago e Herman Hesse. Assim como nenhum livro didático dos tempos da escola me ensinou tanto sobre a história do Brasil quanto algumas obras de Gilberto Freyre, Darcy Ribeiro e Euclides da Cunha. DOS APRENDIZADOS DE CADA OBRA Na obra Cem Anos de Solidão, Gabriel traz o fantástico para o campo das coisas corriqueiras, nos deixando em paz com nossos pequenos ritos e superstições acalentadoras. Personagens como a Úrsula nos fazem reconhecer a força, a temperança e a dedicação que as matriarcas tão comuns às famílias latinas desempenham nos bastidores dos seios familiares, sendo verdadeiramente as grandes protagonistas da harmonia e do desenvolvimento dos membros de seus lares. Já em Ensaio Sobre a Cegueira, José Saramago fala através de metáforas sobre a “responsabilidade de ter olhos quando os outros os perderam”, nos levando a inaugurar novos olhares sobre realidades


O PODER DA LEITURA

para as quais a maioria prefere não enxergar. Aqueles que conseguem ver além do óbvio, compreendem que a cegueira que acomete seus personagens e mostra o lado mais cru do humano à medida que a narrativa se desenvolve está muito próxima daquela que nos acomete diariamente através das injustiças e barbáries rotineiras que não nos assustam mais.

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por isso um livro nunca irá possuir o mesmo significado para diferentes leitores, assim como a releitura de uma obra no cinema muitas vezes pode não agradar o espectador que leu a obra original.

Em Sidartha, Herman Hesse nos leva ainda mais longe, e nos faz voltar o nosso olhar para dentro, mostrando que o único caminho que liberta é o do autoconhecimento e que, a despeito das crenças religiosas da humanidade, as transformações só possuem grandes significados se partirem de nós mesmos.

O filósfoso russo, Mikhail Bakhitin, explica o discurso escrito como o encontro de dois textos, do que está concluído e do que está sendo elaborado em relação ao primeiro, havendo portanto o encontro de dois sujeitos, de dois autores. Em linguagem mais clara, isso significa que, ao ler, uma pessoa ultrapassa a esfera do mero espectador, pois toma parte da criação à medida que, através de sua própria imaginação, dá forma à história que o autor está contando.

DOS BENEFÍCIOS DA LEITURA

O CAMINHO DO HÁBITO

Levando essa perspectiva em consideração, podemos dizer que não é a leitura que nos transforma, mas nós que nos transformamos a partir dela. As reflexões provocadas através da apreciação de uma obra despertam o nosso pensamento crítico, estimulam nossa concentração e capacidade de análise e nos apresenta maneiras diferentes de encarar situações afins.

Diante de tantos benefícios, fica difícil imaginar as barreiras que fazem frente a esse hábito, mas elas estão dispostas justamente no caminho que é preciso percorrer até transformar a leitura em uma prática natural e prazerosa.

Além disso, o hábito de ler também amplia o nosso vocabulário e estimula sentidos como a visão, o tato e até mesmo o olfato. Quem aprecia o cheiro de livros antigos sabe bem do que estou falando. Porém, dentre os benefícios que a leitura proporciona, talvez a imaginação e a criatividade sejam as áreas mais contempladas, pois ao ler uma história, o leitor constrói as cenas de acordo com o seu universo conceitual e as suas vivências,

Para estabelecer esse costume é fundamental que a leitura faça parte da rotina familiar, pois não é novidade que os filhos são influenciados pelos pais e consequentemente por seus hábitos. Portanto, pais que leem têm mais probabilidade de ter filhos interessados pela leitura. É claro que realidade atual torna essa tarefa difícil, pois a tecnologia e o espaço virtual possuem apelos suficientes para roubar a atenção e ganhar a preferência dos pequenos (e até mesmo dos adultos). A edição de 2012 da pesquisa Retratos

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“É preciso que a leitura seja um ato de amor.”

da Leitura no Brasil, encomendada pelo Instituto Pró-livro e pelo IBOPE Inteligência, revelou uma queda de 9,1% no número de leitores no país, mostrando que os brasileiros estão trocando o hábito de ler jornais, livros, revistas e textos na internet por atividades como assistir televisão, filmes em DVD, reunir-se com amigos e navegar na rede por diversão. Por esse motivo, vale ressaltar que a facilidade e, sobretudo, a intensidade de acesso dessas ferramentas tecnológicas e virtuais podem prejudicar a capacidade de concentração de seus usuários, assim como aumentar a superficialidade dos aprendizados em função da ausência de aprofundamento em buscas e estudos que ocorrem devido ao excesso de informações recebidas e distrações apresentadas nestes meios. Em certa ocasião, Bill Gates – que dispensa apresentação – falou: “Meus filhos terão computadores, sim, mas antes terão livros. Sem livros, sem leitura, os nossos filhos serão incapazes de escrever – inclusive a própria história.” Perante este contexto, resta dizer que cabe muito mais aos pais do que a escola, a tarefa de equilibrar as atividades dos filhos e inserir a leitura em suas atividades diárias, usando a criatividade e o bom senso para tornar este hábito prazeroso. O livro digital pode ser uma boa saída para atrair as crianças que já estão tão

acostumados a esse ambiente, como também apresenta um formato que se encaixa às nossas necessidades atuais. TRANSFORMANDO A REALIDADE O poeta Mario Quintana disse que “os livros não mudam o mundo, quem muda o mundo são as pessoas. Os livros só mudam as pessoas.” Assim sendo, para que a leitura tenha um poder realmente transformador é preciso que ela esteja inserida em nossa cultura e faça parte, se possível, de todas as etapas da nossa vida. O educador Paulo Freire diz que é preciso que a leitura seja um ato de amor e sempre que leio as poesias de Manoel de Barros tenho certeza que a sua afirmação está correta. Agora, cabe a você que chegou até aqui descobrir os autores e os gêneros que te fazem sentir a leitura com um ato de amor e de bravura e a partir daí transformar a realidade ao seu redor, pois, acredite, este hábito pode ser tão corriqueiro quanto revolucionário.

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PERFIL PROFISSIONAL

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EXPLORANDO A ARQUITETURA Revista Foccus: Apesar de ter apenas 26 anos, sabemos que você já possui praticamente 04 anos de formação. Conte-nos um pouco da sua experiência na arquitetura. Eu me formei no final de 2010. Porém, eu me senti formada como arquiteta não quando eu colei grau, mas quando apresentei minha monografia, que foi uma das experiências mais emocionantes da minha vida. Eu fiz o projeto de uma pousada voltada para a fabricação de cachaça, uma atividade que está em minha família desde a época do meu avô. Então, eu tive o prazer de ter pessoas muito queridas presentes em minha banca, desde colegas e familiares até alguns arquitetos de renome. Durante a faculdade, eu passei por alguns estágios nos escritórios de algumas arquitetas de renome em Campo Grande, como a Kamala Escalante, uma profissional que cria projetos mais ousados e a Silvia Lofti, que é mais voltada para interiores, uma parte da arquitetura que eu sou particularmente apaixonada. Após a minha colação de grau fui convidada por um amigo para trabalhar no Paraguai. Lá, além de conhecer uma forma diferente de execução de obras, pude conviver com uma cultura completamente diferente da nossa, o que foi muito enriquecedor. Foi então que resolvi começar o curso de engenharia, que coincidiu com a minha mudança para Goiânia, onde eu estagiei na Âncora Engenharia, na parte de orçamento de obra. Depois pude trabalhar como arquiteta no segmento de DI (Desenvolvimento Imobiliário) da MRV, que é uma das maiores construtoras voltada para a área de edificações para classe média e classe

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média baixa da região Centro-Oeste, além de executar também alguns prédios de médio padrão pelo Brasil, entre outros segmentos. Quando saí da MRV fui trabalhar na Petrópolis Engenharia, na parte de interiores, onde eu pude executar um condomínio horizontal em Catalão. Esse foi um desafio muito grande, no qual obtive respostas muito boas em relação ao meu trabalho. Em Julho de 2013 recebi uma proposta de trabalho da Prefeitura de Perolândia como arquiteta e pela proximidade decidi retornar a Mineiros. Então neste início de ano fui convidada para lecionar na FESURV em Caiapônia, para o curso de Engenharia Ambiental, a matéria de Desenho Técnico. Como profissional, esse foi de longe o meu maior desafio, porque participar da formação de pessoas e ver nascer profissionais não tem preço. Há cerca de três meses abri meu escritório em Mineiros (Athena Vilela – Arquitetura, Urbanismo e Decoração) e já estou com algumas obras em andamento aqui. Dentre elas, um Restaurante no Shopping e a reforma da casa dos meus avós. Além disso, presto serviços para uma construtora em Goiânia, a BPX Engenharia, tenho algumas obras no Mato Grosso do Sul e também presto alguns serviços que envolvem a finalização de projetos para o Geovane (Viga) e para a Rosimeire. Revista Foccus: Quais características um projeto precisa possuir para ser perfeito para você? Cada cliente é único, por isso não existe projeto perfeito. Mas o elemento mais importante para que um projeto seja bem elaborado e executado é o bom relacionamento com o cliente e


ATHENA VILELA

todos os envolvidos na obra. Na arquitetura, a perfeição está muito mais ligada com a harmonia que você encontra em seu ambiente de trabalho e com a satisfação do cliente com a obra, do que com estilo ou a beleza, que são características muito relativas e particulares. Revista Foccus: Conte-nos um pouco sobre o seu estilo e a sua maneira de trabalhar. Eu sou um pouco eclética. Gosto tanto do estilo contemporâneo, quanto do minimalismo e provençal. Eu gosto muito de mesclar estilos, mas me atraio mais pelo minimalismo. Para mim, menos é mais. Porém, eu sempre deixo o gosto do cliente se sobrepor ao meu, mas sem deixar de imprimir o meu estilo, porque acredito que o estilo é a marca da pessoa. Revista Foccus: No momento da criação do projeto arquitetônico, você impõe o seu estilo ao cliente ou o deixa livre para decidir? Eu sempre respeito muito o gosto do meu cliente, pois é ele que vai passar a maior parte do tempo no ambiente que está sendo projetado, por isso, eu sempre apresento as opções que vão de encontro ao gosto do dele, sempre levando em conta o bom senso e as necessidades que precisam ser atendidas. Eu tento trazer o máximo da pessoa para o projeto, sem perder minha identidade, claro.

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até hoje. Também posso citar o Le Corbusier, um arquiteto, urbanista e pintor francês que inspira todo iniciante da faculdade de arquitetura. Já aqui em Mineiros eu admiro profissionais como a Renata e a Rosimeire, que além da larga experiência têm uma ótima resolução em obras e a Adriana Vilela e a Lívia Lucaroni, que vêm apresentando um ótimo trabalho. Revista Foccus: O que um cliente em potencial deve saber para conseguir explorar o melhor que um profissional de arquitetura pode oferecer? Em primeiro lugar, o cliente precisa confiar no profissional para poder explorar o máximo da criatividade que ele pode oferecer e criar um bom relacionamento entre eles. A confiança é a base de um projeto de sucesso. Também é preciso haver afinidade com este profissional, porque é fundamental que cliente e arquiteto sintam-se à vontade um como outro, tanto para evitar o desgaste emocional quanto para o bom andamento da obra. E claro, é necessário buscar procurar profissionais especializados no tipo de projeto a ser realizado.

Revista Foccus: Dentro do seu campo de atuação, quais profissionais são referência para você? Um dos profissionais que eu mais admiro é o Ruy Ohtake, que pode não ser tão conhecido como o Niemeyer, mas é um profissional fantástico. Eu também sou muito influenciada por tudo que foi criado na Bauhaus, uma escola de design, arte e arquitetura que surgiu após a primeira guerra mundial na Alemanha, em que suas obras e estudos influenciam o mundo todo

Rua 15, Nº 95, Esquina c/ 2ª Avenida, Quadra N, Lote 14, Bairro Machado. Mineiros-GO. (64) 3661-6914 / (64) 9979-3262 Foto: Gabriel Rodrigues

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“O Problema” Óleo sobre papel 580 x 38028 mm


PENA E PINCEL

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QUERIDO PAULO “As cartas sempre foram velhas, se você pensar bem.” PINTURA POR PEDRO LABAIG / TEXTO POR JOÃO DIAS TURCHI

Querido Paulo, Eu preciso dizer que o whisky acabou, você tomou ele inteiro na última vez que nos encontramos. Queria poder te dizer tudo isso de outro jeito que não assim, por escrito e à distância. Essa carta já nasce velha como todas as cartas que precisam cruzar fronteiras invisíveis de ruas, estados e oceanos. As cartas sempre foram velhas, se você pensar bem. Aposto que mesmo quando só dava pra se comunicar usando carta, todo mundo já sabia que elas eram um atraso, que caso o navio afundasse ou entrasse água no convés todos aqueles textos cuidadosamente escritos com caneta tinteiro, e antes com pena, seriam perdidos para sempre e quanto tempo levava para o remetente saber que a carta não chegou? A ausência de resposta podia ser considerada um desaforo. Ou uma tragédia. E aí uma nova carta, para um novo navio, que dessa vez poderia chegar com 7 meses de atraso e a resposta, quando viesse, não faria mais sentido, porque as perguntas estavam velhas, como as cartas, e já existiam novas dúvidas pra relatar. E mais 3 meses de espera, no mínimo. Isso é quase tão atrasado quanto

escrever em pedras, eles sabiam. Deviam achar que se falar em tempo real, como se estivessem lado a lado, fosse não mais do que uma utopia fantástica. E eu nem cheguei a aprender outro jeito de lidar com a distância que não seja em voz alta e depressa. Eu consigo te responder agora o que quer que você me pergunte e talvez essa indiferença entre o que penso e o que digo, entre o tempo que eu mando a mensagem e o que você leva para ler nos torne menos distantes, ou quem sabe mais distantes do que nunca. Eu não sinto mais a falta de ninguém. E as cartas deviam ser também uma forma de ausência. Querido Paulo, às vezes eu sinto que a gente está fugindo um do outro em cidades invisíveis que piscam no GPS que calcula o espaço entre nós dois, mas que não existem de verdade, porque os quilômetros também não passam de um sistema de medidas que poderia ser meu braço ou sua perna e eles juntos nunca conseguiriam medir toda a distância que a gente já percorreu. Por isso esse trajeto não é só nosso, mas também dos carros,

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PENA E PINCEL

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“...a gente não fala nada profundo sem estar alcoolizado...”

dos aviões, dos ônibus e de GPS’s que funcionam através de medidas enviadas por um satélite que está a trezentos mil braços meus e duzentas mil pernas suas de altura. Eu não falei nada aquele dia porque não sabia muito bem o que dizer pra você, meu amigo. Não conseguiria falar assuntos mais importantes que como foi seu dia e o trabalho como está e a família, meu amigo, falar das saudades ainda que não sentisse tanta falta assim das poucas vezes que nos vemos porque sei que elas são esparsas e pontuais e para o que é previsível não existe saudade. Querido Paulo, o whisky acabou, você tomou ele inteiro, eu nem acabei meu copo, mas você não percebeu e pediu mais gelo e mais uma dose e eu querendo dizer alguma coisa que eu não sabia o que era, talvez nem soubesse que queria dizer algo além de estou bem, no trabalho tudo ótimo, a família linda como sempre. Querido Paulo, meu amigo, a gente não fala nada profundo sem estar alcoolizado e eu a sobriedade em pessoa, você deve se lembrar. Já sentiu que queria dizer algo grande, imenso, maior que tudo bem tudo certo, algum tipo de revelação, já sentiu ou é loucura minha? Já pensou que estava engasgado por outra razão que não o jantar e depois sorriu e pediu mais whisky?

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Querido Paulo querido, eu devia ter dito antes, porque agora me engasgo novamente e não sei o que ia dizer, você está bem? E a família linda como sempre? Por aqui está tudo certo, tudo ótimo, tem muita tinta e pouco espaço para o que eu te escrevo. Muita pausa e nem tanta palavra assim no que lhe digo, meu querido, meu amigo Paulo. Caro leitor, querido amigo leitor, costumo escrever esse parágrafo pra manter algum diálogo com você que não seja apenas o das imagens. Dessa vez, acho que eu preferiria não. É sempre difícil apresentar o autor, mas o João... Outros vinte anos de amizade não bastarão. O jeito é lê-lo, e seguir lendo, até que se opere alguma epifania ou redenção, até que nossas almas encontrem paz uma na outra, ou não.


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Jon Downs

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COMER E VIAJAR

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VOCÊ NÃO SENTE SAUDADE ? “Sinto que, quanto mais eu viver, mais saudades vou sentir.” TEXTO POR DANILO XIDAN

Sinto muita. Sinto saudade de espremer a laranja, de dar dois saltos e de dançar air guitar, comer e estar na Confraria em Mineiros. Sinto saudade de topar os amigos, da lasanha da minha mãe e de dançar nos palcos de Goiânia-GO. Sinto saudade de escalar, de andar de Brasília e de dançar com os cachorros em Pirenópolis-GO. Sinto saudade de caminhar por bosques, de dormir abraçado com a Filomena e de dançar jazz atrás do balcão em Brasília-DF. Sinto saudade da banca, das mandalas e de dançar livre em volta da fogueira em Alto Paraíso-GO. Sinto saudade de carregar tijolos, do parque e de dançar dentro da barraca em São Jorge-GO. Sinto saudade da sentinela ao pé da serra, da Santa Bárbara e de dançar sob o céu estrelado de Cavalcante-GO.

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Sinto saudade dos cafés da manhã, das corujas e de dançar só de cueca em Palmas-TO. Sinto saudade do prato do dia, do tom da melodia e de dançar em meio às flores do quintal em Lajeado-TO. Sinto saudade do Rio de Ondas, das flores verdes tatuadas e de dançar entre o sagrado e o profano em Barreiras-BA. Sinto saudade das trilhas, de todos os santos e de dançar em transe numa viagem inesquecível em Lençóis-BA. Sinto saudade de jogar xadrez, de ler sobre os galhos das árvores e de dançar coco no Capão. Sinto saudade das ladeiras, das viradas culturais e de dançar ao som de vinil como uma cobaia feliz em Salvador Daqui. Sinto saudade da aldeia hippie, dos cafés e de dançar ao som de um violão quebrado em Arembepe-BA. Sinto saudade do acarajé, dos reencontros e de dançar a caminho da Praia do Forte-BA.


COMER E VIAJAR

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Danilo Xidan

Sinto saudade de atacar, de escolher a alegria e de dançar e pular na cama do hotel de Aracaju-SE. Sinto saudade de mergulhar na baixa maré, do mané e de dançar no M de Mar de Maceió-AL. Sinto saudade de pedalar, de me impirulitar e de dançar enquanto o aroma de pizza ecoa pelo ar de Maragogi-AL.

Sinto que, quanto mais eu viver, mais saudades vou sentir. E, com sorriso no rosto, pensar: “É. Dancei!”. De carona com o mundo e após experimentar 8 estados brasileiros, Danilo Xidan está dançando em Mineiros. Finaliza o seu livro que conta as histórias deliciosas que compartilhou com a Foccus e outras viagens mais. E além.

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Ania Koslowska


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ENTRE OLHARES

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DOCE DELA TEXTO POR MICHEL EDERE

Pescaria doce Onde anzol É emaranhado de cabelo E isca é poesia. Em águas mais doces O sol bate E como pedrinhas Vai quicando até brilhar nos olhos dela. Canoa branca A pele descansa... E o vento Carinho morno Sopra arrepios até morder a boca.

Amanhã é dia de voltar: Cabelo que era anzol, Passa a ser linha. E vento que era carinho, Passa a ser estrada. Mas sonho na cabeça dela ainda é Viagem Vadiagem Paisagem. E isca ainda é poesia: Dela.

O sonho não quer realidade. Na cabeça dela É viagem É vadiagem É paisagem para guardar entre os dedos. Dedos na terra E o corpo a catalogar lembranças. Acima uma pipa de nuvem Leva gotas para a hora do banho.

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O DUPLO

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POPCORN TIME

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SERÁ O FIM DAS LOCADORAS ? “Podemos ver que o número de opções só cresce, dificultando, assim, a vida dos donos de locadoras, que vêm perdendo cada vez mais clientes.” TEXTO POR PEDRO FAUST

Os serviços de streaming têm ganhado cada vez mais espaço, sejam eles pagos ou gratuitos. Com o passar do tempo pudemos ver que as pessoas estão frequentando cada vez menos às locadoras e isso se deve ao crescimento contínuo de serviços de streaming disponíveis. Streaming é o serviço que disponibiliza seriados ou filmes pela internet, seja com aplicativos ou direto de seu computador ou até televisão (se ela tiver acesso à internet). Deste modo, falaremos um pouco de cada uma das empresas que trabalham com esse tipo de serviço. O mais popular serviço de streaming de filmes e sériados é o Netflix. Com uma assinatura mensal de R$ 16,90, o usuário tem acesso ilimitado a um grande catálogo de filmes, documentários e séries de TV. É possível assistir em computador, SmartTVs, videogames (PS3, PS4, Xbox 360 e Xbox One), nos celulares, tablets e outros gadgets compatíveis. É o modelo mais tradicional e bem sucedido do mercado. Os internautas quando se registram ganham um mês gratuito para a avaliação do serviço. Há atualizações frequentes

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do catálogo, porém não tanto como em serviços como o iTunes e o YouTube Filmes. O Crackle é semelhante ao Netflix, porém totalmente gratuito. Entretanto, tem um catálogo bem menor, de propriedade da Sony Pictures Entertainment. O sistema é exatamente o mesmo. O usuário pode acessar do computador, celular, tablet ou videogame e escolher o filme que quer assistir. Possui muitos filmes antigos, clássicos, mas poucos lançamentos. Clientes NET, Vivo, GVT, Multiplay, SKY, Claro, TV Alphaville e Oi TV que possuem os canais Telecine em seus pacotes também poderão aproveitar os filmes que são exibidos por eles via streaming. Compatível com computadores, tablets e smartphones (iOS ou Andorid), além do console Xbox, o site do Telecine Play dá acesso liberado a uma lista de produções que estão em exibição na TV por assinatura. É uma forma de acompanhar toda a programação mesmo estando longe do set up box da sua operadora de de TV paga favorita. O YouTube é mais conhecido pelo upload de vídeos dos usuários. Porém, começou


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a usar recentemente sua plataforma para streaming. Um bom número de produtoras já têm canais licenciados no Youtube Movies, um serviço que oferece o aluguel por um preço fixo que lhe dará direito a ver a obra em até 24 horas no site. O catálogo é extenso e bem atualizado.

semelhante ao da loja virtual da Apple. A diferença é que o acesso a eles ocorre apenas nos próprios dispositivos móveis Google. Para assistir ao filme em tela grande é preciso usar um ChromeCast, que é compatível com o Google Play Filmes e TV.

Os usuários de produtos Apple têm no iTunes uma excelente ferramenta para ver filmes on-line. Basta acessar a loja virtual para comprar ou alugar os vídeos. Há uma atualização frequente na loja, com muitos lançamentos, e o catálogo é extenso e cheio de novidades. Os filmes têm versões HD (alta definição) e SD (standard), e os preços variam para somente assistir durante 24 horas (aluguel) ou tê-lo na memória do seu aparelho para sempre (compra). É possível ver os filmes comprados ou alugados não só no iPad, iPod touch ou iPhone, mas também em qualquer computador Mac ou Windows com o iTunes instalado.

Podemos ver que o número de opções só cresce, dificultando, assim, a vida dos donos de locadoras, que vêm perdendo cada vez mais clientes. É claro que existem aqueles que não largam as locadoras de jeito nenhum e que preferem sair de casa para alugarem seus filmes, mesmo que os preços das locações estejam cada vez mais salgados.

Seguindo os moldes do iTunes, o Google Play Filmes tem um funcionamento parecido, porém para os usuários do Android. Ele também tem o sistema de aluguel ou compra, e o catálogo é bem

Uma outra coisa a se lembrar é que os serviços de streaming trazem facilidade e mobilidade para aqueles que não conseguem ficar sem assistir suas séries e seus filmes preferidos. E com o sucesso dessas plataformas, empresas como o Netflix e o Crackle já têm séries produzidas para serem exibidas exclusivamente em seus canais de streaming, deixando a dúvida no ar: este será, ou não, o fim das locadoras?

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