catálogo Conexão Artes Visuais

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Dilma Rousseff

conexão Artes Visuais Associação Cultural da Funarte  Funarte Cultural Association

Ministra da Cultura  Minister of Culture

Coordenadora geral  General Coordinator

Marta Suplicy

Ana Paula Santos

Presidenta da República  President of the Republic

Fundação Nacional de Artes  National Arts Foundation

Coordenadora Administrativa/Financeira  Administrative/Financial Coordinator

Marcia Eltz

Presidente  President

Produtora Executiva  Executive Producer

Gotschalk da Silva Fraga

Flávia Junqueira

Diretora Executiva  Executive Director

Assistente de produção  Production Assistant

Myriam Lewin

Isabella Schmidt

Diretor do Centro de Artes Visuais  Director of Center of Visual Arts

Assessor de Imprensa  Press Officer

Francisco de Assis Chaves Bastos (Xico Chaves)

Eduardo Souza Lima

Coordenadora do Centro de Artes Visuais  Coordinator of the Center for Visual Arts

Andréa Luiza Paes

design gráfico  graphic Design

Aurélio Velho e Luciana Calheiros (Zoludesign) Revisão e Tradução do catálogo  Catalog revision and translation

Carolina Rodrigues de Mendonça Produção e Edição do DVD  DVD production and edition

Maria Flor Brazil e Claudio Tammela (Maria Gorda Filmes) Comissão de seleção  Selection committee

Agradecimentos  Acknowledgments

À equipe de gestão de patrocínio da Petrobras, em especial, à Ana Dulce Coutinho, à Marise Lopes, à Janice Morais, à Maura Torres, à Mônica Pereira, à Luisa Barros, às instituições parceiras e a todos que contribuíram para a realização deste projeto.

Adolfo Montejo Alberto Saraiva Cristiana Tejo Elyeser Szturm Ubiraélcio Malheiros




O Programa Conexão Artes Visuais MinC/Funarte/Petrobras possibilitou a artistas, curadores, pesquisadores, educadores e espectadores participar de uma extensa rede de troca de ideias e experiências no campo das artes visuais. O programa realizado pela Funarte com patrocínio da Petrobras, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura, já se disseminou por todo o Brasil, alcançando grandes centros urbanos e municípios menores. Vinte cidades brasileiras receberam exposições, intervenções artísticas, oficinas e debates. Além disso, publicações de livros, catálogos e websites reuniram textos, imagens The Conexão Artes Visuais program enabled artists, e acervos artísticos de forma a fomentar curators, researchers, educators and spectators a documentação e a reflexão. participate in an extensive network of exchange

Esse conjunto reflete a diversidade de linguagens hoje presente nas artes visuais, da fotografia ao grafite, da video-arte à instalação. Os artistas e produtores contemplados promovem eventos de caráter performático, ações de difusão da cultura digital e pesquisas que integram arte e ciência, além de atividades que propiciam a circulação de bens culturais e seus criadores por diversas regiões do país. As ações são

of ideas and experiences in the field of visual arts. The program conducted by Funarte sponsored by Petrobras, by means of the Federal Law for the Encouragement of Culture, has spread throughout Brazil, reaching large urban centers and smaller cities. Twenty Brazilian cities have received exhibitions, artistic interventions, workshops and debates. In addition, publications of books, catalogs and websites have gathered texts, images and collections in order to foster artistic documentation and reflection. This collection reflects the diversity of languages currently present in the visual arts, from photography to graphite, from the video-art to installation. Contemplated artists and producers promote performative events, diffusion actions of digital culture and research that integrate art and science, as well as activities that provide the circulation of cultural goods and their creators for various regions of the country. The actions are registered by tenderers in texts, photos and videos. This material supplies the site of Conexão


registradas pelos proponentes em textos, fotos e vídeos. Esse material abastece o site do programa Conexão Artes Visuais e serve de base para a produção do catálogo e DVD de forma a atingir um público mais diversificado. Conexão Artes Visuais tem permitido à Funarte e ao Ministério da Cultura fomentar a rede produtiva em seus principais elos – produção artística, formação de público, qualificação do artista, pesquisa e preservação da memória. Obras de arte, reflexão e técnicas de expressão têm chegado a comunidades afastadas dos grandes centros urbanos, levando Artes Visuais program and serves as the basis for the a diversos segmentos da população o acesso production of the catalog in order to reach a more à cultura, o que é fundamental para o exercício diverse audience. pleno da cidadania. A Funarte tem o orgulho de anunciar que muitos desses projetos geraram The Conexão Artes Visuais program has allowed Funarte frutos que continuarão a difundir as artes and the Ministry of Culture to promote the production visuais nos locais que os sediaram. network in their main links – artistic production,

formation of the audience, artist qualification, research and preservation of memory. Art works, reflection and expression techniques have reached communities

Gotschalk da Silva Fraga Presidente da Funarte president of funarte

away from the large urban centers, leading to various segments of the population access to culture, which is essential for the full exercise of citizenship. Funarte is proud to announce that many of these projects have generated fruit that will continue to spread the visual arts in sites that hosted.




Concebido para complementar e ampliar as diversas ações promovidas pelo Centro de Artes Visuais, o programa Conexão Artes Visuais MinC/Funarte/ Petrobras chega a sua 3ª edição incorporando mais propostas, linguagens e reflexões em um segmento em permanente expansão. O programa deixa sua contribuição ao estimular modelos de intercâmbio articulados por seus próprios componentes e o registro de imagens, textos e experimentações. Dessa forma, cumpre seu papel de fomentar as artes visuais, mapeando e preenchendo espaços livres no campo da produção artística por meio de processos Designed to complement and expand the various criativos, pensamento crítico, educação, actions taken by the Center of Visual Arts, the formação de público, e intercomunicação Conexão Artes Visuais MinC/Funarte/Petrobras entre profissionais e instituições culturais program reaches its 3rd edition incorporating regionais e dos grandes centros urbanos. more proposals, languages and reflections in an

O Conexão Artes Visuais desempenha o papel de manter essa articulação, além de aprofundar práticas artísticas e debates conceituais sobre a arte contemporânea e seu potencial agregador, multidisciplinar e diversificado. Com isso, constitui-se como um catalizador de trocas de ideias e experiências vitais para o desenvolvimento

ever-expanding segment. The program makes a contribution to stimulating exchange models articulated by its own components and record images, texts and experimentation. Thus, fulfills its role of promoting the visual arts, mapping and filling spaces in the field of artistic production with creative processes, critical thinking, education, public training, and intercommunication between professionals and cultural institutions of regional and urban centers. The Conexão Artes Visuais program plays the role of maintaining this articulation, besides deepening art practices and conceptual debates on contemporary art and its aggregator, multidisciplinary and diverse potential. Thus, the program is a catalyst for the exchange of ideas and essential experiences to the development of arts in the country. Sponsored by Petrobras, it acquired a national dimension, maintaining its presence in the capitals and reaching cities that remained on the margins of artistic


das artes no país. Patrocinado pela Petrobras, adquiriu uma dimensão nacional, mantendo sua presença nas capitais e atingindo municípios que permaneciam à margem da produção artística, apoiando ações e atividades de forma a revelar novos artistas e restabelecer o diálogo entre tendências diversas por meio de exposições, publicações de livros, catálogos e websites, documentários, oficinas, intervenções, festivais, coletivos, acervos artísticos e inovações no campo das artes visuais. O programa Conexão Artes Visuais demonstrou ainda que as artes visuais, por sua natureza múltipla, também incorpora, em um mesmo processo, as tradições populares e a contemporaneidade que estão presentes em todo o nosso cotidiano. Além disso, incluiu as ferramentas tecnológicas disponíveis hoje, o que possibilitou o estreitamento de fronteiras transdisciplinares, fazendo com que a arte contemporânea tivesse visibilidade em múltiplos espaços e lugares, e pudesse influenciar na formação artística, redimensionar modelos educativos, refletir

production, supporting actions and activities so as to reveal new artists and reestablish the dialogue between different trends by exhibitions, publications of books, catalogs and websites, documentaries, workshops, interventions, festivals, collective exhibitions, art collections and innovations in the field of visual arts. The Conexão Artes Visuais program has demonstrated that the visual arts, by its multiple nature, also incorporates, in a single process, the folk traditions and the contemporaneity that are present throughout our daily lives. Additionally, the program has included the technological tools that are available today, allowing the narrowing of disciplinary boundaries; thereat, making contemporary art had visibility into multiple spaces and places, and could influence the artistic training, resize educational models, reflect our social reality, awake the critical thinking and allow public access to unconventional forms of expression, without excluding those already consolidated – from photography to installations, from critical text to textbook – using all forms of making art.


nossa realidade social, despertar o pensamento crítico e possibilitar o acesso público a formas de expressão não convencionais, sem excluir as que já estão consolidadas – da fotografia à instalações, do texto crítico ao didático – lançando mão de todas as formas de produzir arte. O programa Conexão Artes Visuais tem como objetivo ainda ampliar a percepção e sensibilizar uma grande quantidade de pessoas que consideravam essas formas de produzir arte herméticas ou como puramente exercício da imaginação, o que legitima The Conexão Artes Visuais program aims to further sua função de transformação sociocultural expand awareness and sensitize a lot of people who e sua contribuição para o desenvolvimento considered these forms of art production as purely de outros campos da atividade profissional. hermetic or an exercise of the imagination, which legitimizes its role of social and cultural transformation and its contribution to the development of other fields

Xico Chaves Diretor do Centro de Artes Visuais da Funarte Director of Center of Visual Arts of Funarte

of professional activity.



A Petrobras foi patrocinadora de grandes exposições internacionais que, realizadas em sequência em meados dos anos 90, estimularam a relação de instituições brasileiras com o público e incentivaram, de forma significativa, a produção cultural e a inclusão do país em roteiros de importantes mostras, ampliando o intercâmbio e a visibilidade para a arte produzida no Brasil. A partir do ano 2000, a companhia desenvolveu e realizou uma série de editais para seleção de projetos voltados à arte contemporânea brasileira, viabilizando exposições, publicações de referência e também aquisição de obras Petrobras was a sponsor of major international para acervos de museus, entre outras ações.

exhibitions held in sequence in the mid 90s that

Por meio das edições anteriores do programa Conexão Artes Visuais MinC/Funarte/ Petrobras, foi possível a produção de 65 projetos de artes visuais e 500 ações gratuitas, além de um público direto e indireto de mais 4 milhões de pessoas. E agora, mais uma vez, a Petrobras viabilizou a proposta do Conexão, que, em sua terceira edição, vem reforçar e ampliar experiências e diálogos a partir de práticas artísticas inseridas na cultura contemporânea.

stimulated the relationship between Brazilian institutions and audience, and encouraged significantly the cultural production and the inclusion of the country in roadmaps of important exhibitions, expanding the exchange and visibility to the art produced in Brazil. From the year 2000, the company has developed and conducted a series of edicts to select projects focused on contemporary Brazilian art, enabling exhibitions, reference works and also acquisition of museum collections, among other actions. By means of previous editions of Conexão Artes Visuais MinC/Funarte/Petrobras program, it was possible to produce 65 visual arts projects and 500 free shares, plus a direct and indirect audience of over 4 million people. And now, once again, Petrobras allowed the proposal of the Conexão Artes Visuais MinC/Funarte/ Petrobras program, which, in its third edition, will strengthen and broaden experiences and dialogues from artistic practices embedded in contemporary culture. The idea remains the same, i.e, we want to provide to the artists, curators, researchers, managers,


A ideia se mantém, ou seja, queremos propiciar a artistas, curadores, pesquisadores, gestores, públicos e a todos os interessados nas artes visuais um espaço para a troca de ideias e o intercâmbio de experiências. Dessa forma, possibilitamos uma visão ampla das artes visuais em nosso país e, com isso, compreendemos a diversidade de segmentos, linguagens e discursos em que se expressa a alta criatividade de nossos artistas. Ao concretizar o Conexão Artes Visuais, nesta importante parceria com a Funarte e o Ministério da Cultura, audiences and all interested people in the visual a Petrobras busca integrar seu conjunto arts a space for the exchange of ideas and sharing de patrocínios no segmento das artes of experiences. Thus, we enable a broad overview of the visuais. Isso se configura em uma expressiva visual arts in our country and, therefore, understand atuação que desenvolve atualmente projetos the diversity of segments, languages and discourses de continuidade, como a manutenção which expresses the high creativity of our artists. do MAM Rio e a Bienal de São Paulo, além da promoção de seleções públicas para novos When Petrobras materializes the Conexão Artes projetos de “Circulação de Exposições” e de Visuais, in this important partnership with the “Memória das Artes” por meio do Programa Ministry of Culture and FUNARTE, Petrobras seeks Petrobras Cultural. to integrate its whole sponsorship segment of the visual arts. This is configured in an impressive performance that currently develops continued projects, as maintenance of MAM Rio and Bienal de São Paulo, as well as promoting public screenings for “Outstanding Exhibition” and “Memory of Art” new projects with Petrobras Cultural program.



44 ARQUIVO EXO EXPERIMENTAL ORG.

52 ARTE E ESTADO: POSSÍVEIS RELAÇÕES ENTRE O SISTEMA DAS ARTES E AS POLÍTICAS CULTURAIS NO PERÍODO DA DITADURA CIVIL-MILITAR BRASILEIRA

60 ASSIM QUE FOR EDITADO, LHE ENVIO

68 CICLO DE DEBATES E PALESTRAS – ARTE, SEXO E SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA BRASILEIRA

20 9º colóquio de fotografia e imagem: autografias

28 II salão xumucuís de arte digital: @amazônia artemídia

36 AMAZÔNIA, LUGAR DA EXPERIÊNCIA – PROCESSOS ARTÍSTICOS NA REGIÃO NORTE DENTRO DA COLEÇÃO AMAZONIANA DE ARTE DA UFPA

76 DERIVAS E MEMÓRIAS CONTEMPORÂNEAS NA PIXAÇÃO

84 JOSÉ SIMEÃO LEAL – GESTÃO E MANUTENÇÃO DE ACERVOS E ARQUIVOS EM ARTES VISUAIS

92 JULIO PLAZA – O POÉTICO E O POLÍTICO


100 MERGULHOS POÉTICOS: DEBATES SOBRE INSERÇÕES DOS ARTISTAS CONTEMPORÂNEOS BRASILEIROS

108 OFICINA MODOS DE GESTÃO COLETIVA E PRODUÇÃO CULTURAL

116 ONDAS CURTAS

124 PESQUISA & MAPEAMENTO SONORO DO VALE DO CATIMBAU

132 PLUVIAL FLUVIAL

140 RECIBO – 10 ANOS

148 SARCÓFAGO – SITE SPECIFIC

156 SEMINÁRIO CAMPO EXPANDIDO: A CONVERGÊNCIA DAS IMAGENS

164 TERRA UNA – HABITAT

172 XEQUE-MATE: UM SÉCULO DE READY‑MADE 1913-2013

182 números do conexão


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Palestras, oficinas e projetos expositivos voltados para a difusão e o diálogo sobre o pensamento fotográfico Belém/PA Junho de 2013


Em 2013, a 9ª edição do Colóquio Fotografia e Imagem estabeleceu espaços de reflexão e diálogo sobre a ideia de autoria no fotográfico. O encontro entre pesquisa e produção fotográfica foi pensado a partir das autografias – formato de reflexão e diálogo desenvolvido pelo grupo FotoPará na década de 1980, em Belém. A mesa-redonda Belém e a fotografia nos anos 80: relatos e questões abriu o Colóquio com uma memória não apenas das autografias mas do contexto de formação de núcleos que emergiam a partir do encontro entre a vontade coletiva de produzir, pesquisar e difundir fotografia. Mariano Klautau Filho expôs as primeiras questões de uma pesquisa em desenvolvimento sobre a atuação dos núcleos, destacando a singularidade da fisionomia intelectual e política do grupo FotoPará, que, com ações como as autografias, mostras e jornadas fotográficas, já apontava para a valorização do estudo da fotografia em sua perspectiva histórica e autoral. Luiz Braga e Patrick Pardini compartilharam, como fundadores do grupo FotoPará, relatos e imagens dos projetos e das ações do grupo. A autografia 01 Fotografia e autoria, apresentada por Patrick Pardini, abordou a criação em fotografia como experiência de não autoria, analisando questões de um corpo de obras de Hippolyte

In 2013, the 9th edition of the Colóquio Fotografia e Imagem established spaces for reflection and dialogue on the idea of authorship in photographic. The meeting between research and photographic production was conceived from the autographs, a format for reflection and dialogue developed by FotoPará group in 1980, in Belém. In four days of programming, the meeting spaces of the project moved the memory of the photographic scene in Belém, some reflections on authorship and new expressions of production and research in photography.


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Bayard, Eugène Atget, August Sander e Anna Mariani – o fotógrafo e pesquisador situou o ato de criar em um movimento de deslocamento entre identidade e alteridade. A bela imagem trabalhada por Pardini sobre a experiência de desautoria na criação nos oferece uma exposição de parte da estrutura de pensamento que o acompanha na relação com os sujeitos de sua própria obra fotográfica – a fisionomia do homem e da paisagem amazônica. Nas autografias apresentadas por Alexandre Belém e Alexandre Sequeira, foram abordados Rogério Reis e Rodrigo Braga, artistas brasileiros de diferentes gerações que possuem relação de afeto e reconhecimento do valor estético dos trabalhos para a fotografia contemporânea. Belém expôs a diversidade do repertório de imagens da obra de Rogério Reis, que vai do fotojornalismo a fotografias com proposições estéticas contemporâneas. Na fala de Alexandre Sequeira, a densidade conceitual e poética das ações performativas realizadas por Rodrigo Braga em suas fotografias foi apresentada com a sensibilidade de quem vivencia também em seu processo de criação artística o encontro entre ética e estética na relação entre arte e vida.

9º colóquio fotografia e imagem: autografias

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Mariano Klautau Filho e João Castilho apresentaram autores pesquisados a partir de estudos acadêmicos. Klautau Filho adaptou para o formato autografia as análises que vem elaborando no doutorado sobre a importância de três livros de Miguel Rio Branco para a concepção de séries fotográficas como narrativas complexas entre o documento e a produção de sentido estético. João Castilho apresentou, pela primeira vez, fora da universidade, o estudo desenvolvido em uma dissertação de mestrado sobre a obra de Robert Smithson, em que explora o alcance do conceito de entropia nas proposições estéticas do artista americano. Parte da programação buscou contribuir com proposições em pesquisa, produção e difusão em fotografia. Nesse caminho, tanto o workshop Fotografia na arte contemporânea, ministrado por João Castilho, quanto as leituras de portfólio realizadas por Alexandre Belém e Mariano Klautau foram espaços onde o diálogo esteve direcionado ao compartilhamento de referências e críticas a trabalhos em curso nas artes visuais a partir do fotográfico.


Na mesa de encerramento, as experiências de Alexandre Belém como editor e crítico de fotografia por meio do blog Olhavê em diálogo com o processo de produção de uma série de João Castilho trouxeram particularidades do processo de difusão de pesquisa e produção fotográficas no campo da imagem digital veiculada em espaços virtuais. O site do projeto continuará realizando a memória e estimulando debates por meio de vídeos, postagens de cobertura, artigos e mostras do acervo da Fotoativa. Com isso, contribui como mais uma base de informações e imagens cada vez mais acessíveis e volumosas na web, no entanto, gerada a partir do encontro, ativador da potência da imagem como pensamento e expressão.

9º colóquio fotografia e imagem: autografias

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Cobertura audiovisual

CêsBixo Coletivo Multimídia Cobertura fotográfica

Irene Almeida Cinthya Marques Agência Cidadã de Comunicação/UFPA Identidade visual

Coordenação

Ovelha Negra

Ionaldo Rodrigues

Programação do site

Produção

V2 Interativa

Irene Almeida

Equipe SESC Boulevard

Financeiro

Comunicação

José Maria Vilhena Paula Sampaio Suelen Silva

Brenda Taketa Tarcísio Macedo, Ana Lídia Vieira, Cleyton Silva (Agência Cidadã de Comunicação/UFPA)

www.fotoativa.org.br

Wagner Okasaki

9º colóquio fotografia e imagem: autografias

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Salão de arte digital com o tema @mazônia artemídia Belém/PA Março a maio de 2013

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@mazônia media art was the theme of the II Salão Xumucuís de Arte Digital, a pioneer in the state of Pará in the promotion of the visual arts in its technological interface. There we discussed through expository and formative actions the new direction of digital

@mazônia artemídia foi o art, reconfiguring the traditional environment of exhibitions (hyper_spaces), democratizing the tema do II Salão Xumucuís enjoyment of art and promoting and disseminating de Arte Digital, projeto the visual arts in its technological interface. It was pioneiro no Estado do an experimental project that unfolds into possibilities, Pará no fomento e na consolidating itself as a reference in the North, difusão da arte em sua nationwide, in the dissemination and discussion interface tecnológica, of contemporary media art. onde discutimos, por meio de exposições e ações formativas, os novos rumos da arte digital na Amazônia. O Salão Xumucuís de Arte Digital foi idealizado e tem curadoria de Ramiro Quaresma e coordenação geral de Deyse Marinho; em sua segunda edição, premiou o trabalho de Lea Van Steen, uma jukebox de memórias projetadas, Lucas Gouvêa, em uma performance transmídia, e Nacho Durán, em uma imersão de imagens interativas em 360°. Entre os selecionados pela comissão de seleção, estão os artistas multimídia de Santa Catarina Daniel Duda e Bruno Costa. Os midiartistas Giulliano Giahghedu, Shima, Eduardo Montelli e Claudia Zimmer/Fabíola Scaranto apresentaram sua videoarte, pela primeira vez, em Belém. Viviane Vallades, em sua Pintura em atos, uniu pintura e performance em sua videoinstalação; já o paraense Ramon Reis fez um diálogo entre fotografia e vídeo em sua instalação Experimentação de vida. O artista visual e designer Neuton Chagas, em seu díptico Somos, dialoga com a arte abstrata em sua obra-design.


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HOL veio a Belém apresentar seu game art PONTO ao vivo para os visitantes, trabalho que já rodou festivais de arte eletrônica no mundo inteiro. Do Rio Grande do Sul desembarcou, em Belém, o músico experimental e designer de som Marcelo Armani, que chegou cinco dias antes da exposição para captar sons da cidade de Belém para utilizar em sua instalação sonora Trans (obre) por. O Coletivo Hyenas, do Rio de Janeiro, transmitiu em streaming o live cinema Mercúrio, diretamente do atelier deles na capital fluminense, interagindo com o público presente na abertura da exposição. Labirintos invisíveis, um game art de Andrei Thomaz (SP) inspirado na literatura de Jorge Luís Borges e a videoinstalação Reminiscências de Ellen Nunes (SP) também fizeram parte dos trabalhos selecionados. Lucas Gouvêa, também premiado no Salão, expôs também Diário à deriva: mapa de um náufrago, uma web art registro de uma viagem on the road do artista.

II salão xumucuís de arte digital

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O painel da arte digital no Brasil formado pelos artistas selecionados se completou com os artistas contemporâneos paraenses convidados, com obras vigorosas em potência imagética e desdobramentos críticos e sociais. Daniel Zuil e Pedro Vianna pesquisaram processos híbridos de captura e manipulação de imagens, Armando Queiroz juntou as pontas de seu passado e presente em uma sobreposição de desenho e vídeo, processo semelhante ao das fotógrafas Débora Flor e Evna Moura, que faziam dupla exposição em película, dois olhares em uma imagem. Cinthya Marques e Renata Rodrigues retrataram histórias de vida em seus projetos fotográficos; já Orlando Maneschy e Ruma se apropriaram do digital em suas experimentações de luz, forma e cor. O VJ Rodrigo Sabbá transforma em pixel art a obra Xumucuís de Valdir Sarubbi. O II Salão Xumucuís de Arte Digital – @mazônia Artemídia, também selecionado no Edital de Pautas do Sistema Integrado de Museus da Secretaria de Cultura e no Edital de Pautas do CCBEU, desdobrou-se nos hiperespaços, reconfigurando o ambiente tradicional de exposições, democratizando a fruição da arte em espaços alternativos, fomentando e difundindo as artes visuais em sua interface tecnológica. As ações foram compostas por duas exposições, uma mostra de videoarte em espaço público – videodrome – e um ciclo de falas, oficina e mesas. Um projeto experimental que se desdobra em possibilidades, consolidando-se como um evento referência na Região Norte, com abrangência nacional, na difusão e na discussão da arte contemporânea em plataforma artemídia.

II salão xumucuís de arte digital

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Idealização e curadoria

Fotografia

Ramiro Quaresma

Diogo Vianna, Antonio Rocha

Coordenação geral

Oficina de videoarte

Deyse Marinho

Sissa Aneleh

Design de exposição

Palestrantes

Deyse Marinho e Ramiro Quaresma

Gil Vieira, Thiago Azevedo e Ramiro Quaresma

membro da Comissão de seleção e premiação

Audiovisual

Roberta Carvalho

Leonardo Soares/Mosaico HD

Montagem

Tecnologia

Xumucuís, A Senda Artes Integradas, equipe MABEU e equipe SIM

Sol Informática

Assistente multimídia

Andrei Thomaz (SP), Bruno Costa (PR), Claudia Zimmer/Fabíola Scaranto (SC), Coletivo Hyenas (RJ), Diogo Brozoski (RJ), Daniel Duda (PR), Eduardo Montelli (RS), Ellen Nunes (SP), Giuliano Giagheddu (RJ), Hol (MG), João Paulo Racy (RJ), Junior Suci (SP), Lea Van Steen (SP), Lucas Gouvêa (PA), Marcelo Armani (RS), Nacho Durán (GO), Neuton Chagas (PA), Ramon Reis (PA), Shima (MG) e Viviane Vallades (SP).

Rodrigo Sabbá Assistente de montagem

Pedro Vianna Assistente de produção

Narjara Oliveira

Artistas selecionados

Artistas convidados (PA)

Armando Queiroz, Cinthya Marques, Daniel Silva, Débora Flor, Evna Moura, Orlando Maneschy, Pedro Vianna, Renata Rodrigues, Rodrigo Sabbá, Ruma e projeto Por uma cartografia crítica da Amazônia Espaços ocupados

Galeria de Arte do MABEU, Salas Antônio Parreiras e Manoel Pastana – Museu do Estado do Pará – e Galeria Gotazkaen

www.salaoxumucuisdeartedigital.wordpress.com

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Publicação de reflexão crítica sobre as obras da Coleção Amazoniana de Arte da UFPA Belém/PA Julho de 2013


Ao percebermos que a Amazônia está além das imagens‑clichê difundidas, que possui uma história intricada e uma produção artística potente que vem aos poucos sendo conhecida além de suas fronteiras, propusemo-nos a pensar em uma produção que traz, em sua gênese, relações estabelecidas no ambiente amazônico a partir de modos empreendidos por artistas que apontam para elaboradas construções de proximidade com esse território e que ativam questões vinculadas à cultura, história, experiência estética etc. Este projeto é fruto de um percurso desenhado ao longo de anos, nos quais pesquisamos e articulamos trabalhos em que a produção artística da região encontrava-se, de alguma maneira, em pauta. Esses estudos viabilizaram o contato com artistas, obras e a prática curatorial necessária para começar a desenhar a ideia de uma coleção de arte que, estabelecida na região, dentro de uma instituição de ensino, estivesse em sintonia com sua missão – ensino, pesquisa e extensão –, facultando o acesso aos conhecimentos gerados. Nesse cenário, concebemos o projeto Amazônia, Lugar da Experiência, que partia dos anos 1970 e vinha até a segunda década do século The project was a critical reflection from works that XXI, e que pretendia reunir, constitute the Amazoniana art collection of UFPA. inicialmente, um grupo The project revealed, in the form of publication, de obras de seis artistas a complex and large process of thinking about artistic que realizaram projetos and aesthetics production in the North, by presenting significativos na região works of artists who plunged the region alongside em práticas que irradiam the ideas of researchers and critics who cast their gaze o pensamento e rearticulam upon established routes and experiences the Amazonian environment. Putting in joint bids where ethics comes transformers creation processes settling here, seems a path to deepen the thinking artistic production in the Amazon.


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o político por meio da arte, instaurando um posicionamento ético e estético. Em 2012, esse projeto foi contemplado com o Prêmio de Artes Plásticas Marcantonio Vilaça/Prêmio Procultura de Artes Visuais. Com a grande receptividade obtida, formatamos o projeto para o edital de Circulação | Mediação do Instituto de Arte do Pará – IAP – 2012, que também foi aprovado. Dessa forma, pudemos ampliar o raio de ação de Amazônia, Lugar da Experiência, agregando um número maior de obras, construindo um site na internet (www.experienciamazonia.org), realizando duas exposições, uma mostra de cinema e intervenções urbanas, bem como articulando o ciclo de Seminários Conversações, entre outubro de 2012 e fevereiro de 2013, na cidade de Belém – tudo isso estimulando o acesso, o debate e o pensamento crítico acerca do que se realiza em termos de arte na Amazônia. amazônia, lugar da experiência

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Como consequência disso, a Coleção Amazoniana de Arte da UFPA passou a refletir não apenas um desejo individual mas também a construção coletiva de um espaço de referência que problematize o ambiente amazônico a partir de dinâmicas relacionais que emergem de processos de alteridade transformadora. Esse jogo de forças e posicionamentos políticos assumidos se faz presente no próprio nome da coleção. Ao adotarmos o Amazoniana, há uma crítica ao exotismo de outrora que direcionou a constituição de várias coleções brasilianas. Longe de se estabelecer como simples colecionismo ou um gabinete de curiosidades, a Coleção pretende-se distinguir também por não agregar toda e qualquer produção artística constituída sobre a Amazônia. Reunimos, isso sim, obras em que artistas, da região ou de fora, projetam suas vivências no lugar, materializando-as em forma de arte, geradas na


dimensão do encontro com a região, revelando múltiplas Amazônias – mas com um posicionamento ético diante do que se vê. Buscamos, com a constituição do livro Amazônia, Lugar da Experiência – Processos Artísticos na Região Norte dentro da Coleção Amazoniana de Arte da UFPA –, contemplado com o edital Conexão Artes Visuais, dar a luz a esse percurso que consolida a inflexão, o mergulho, a diferença no movimento do encontro nos diálogos estabelecidos com o outro ao materializar um complexo e amplo processo de reflexão acerca da produção artística e estética na região Norte. Esse movimento, por sua vez, é realizado com a certeza de pôr em articulação propostas em que a ética acompanha processos de criação transformadores que estabelece-se aqui, no coração da Amazônia, como campo de constituição de possibilidades de mudanças a partir de algo que nos é tão próximo e ao mesmo tempo parece ser tão distante – nós mesmos. amazônia, lugar da experiência

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Coordenação editorial

Orlando Maneschy Coordenação de produção

Keyla Sobral Direção de arte

Orlando Maneschy e Keyla Sobral Projeto gráfico e tratamento de imagem

Ricardo Ono Revisão de texto

Fernando Júnior Fotografias

Lazuli Fotografia

www.experienciamazonia.org/site amazônia, lugar da experiência

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Exp o Ex e ivo ia Nobr u q Ar .  Lig g Or

Plataforma autônoma de investigação e ativação de práticas estéticas contemporâneas relacionadas ao contexto sociopolítico brasileiro São Paulo/SP Julho de 2013


O Arquivo Exo reúne os projetos, as residências artísticas e os eventos realizados por/com a Exo Experimental Org., que é uma plataforma de investigação de práticas estéticas contemporâneas relacionadas ao contexto sociopolítico brasileiro entre 2002 e 2007, tendo a metrópole de São Paulo como epicentro. Com uma infraestrutura mínima e flexível, articulou-se em rede com diversos agentes e diversas organizações brasileiras e internacionais para colaborações de médio e longo prazos, criando um espaço de encontro e troca de conhecimentos e experiências entre o artista, o urbanista, o pesquisador e outros. O site arquivoexo.org contribui para a reflexão crítica de iniciativas autônomas similares no Brasil e fomenta a pesquisa e o diálogo ao convidar novos colaboradores a atualizarem questões dos projetos da Exo, na interseção entre agenciamentos e práticas artísticas, vozes e memórias. Marcio Harum focou no programa de residência artística no edifício Copan, entre 2003 e 2006. Foram quase trinta artistas e autores de diversos países com uma perspectiva urbanística e o estímulo a pesquisas de campo. Para Harum, “além da Exo ter fundado The Exo File articulates projects, debates, novos lugares de artistic residencies, activities and events held pensamento e novas formas by or with the Experimental Exo Org. (2002-07) de investigação em contato – an independent platform of investigation and e ao redor do espectro de activation of contemporary aesthetic practices atividades desenvolvidas related to the sociopolitical context of Brazil, with a partir de seu endereço the metropolis of São Paulo as the epicenter. This físico, fez gerar visibilidade website‑file (www.arquivoexo.org) seeks to contribute to the questioning of similar initiatives in Brazil when it invites employees to update and expand these projects issues at the intersection between artistic practices and assemblages.


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a manifestações; e a outros circuitos possíveis, que ecoam sem dúvida, até o presente momento.” As ações da Exo foram geradas a partir do Copan, projeto do arquiteto Oscar Niemeyer, edifício ícone de São Paulo por sua presença pujante na paisagem e na revolução nos modos de morar. Diego Matos propõe “tecer uma rede de relações possíveis que permanecem soltas, entre uma herança histórica de nossa produção cultural e a retomada de um pensamento experimental” a partir da congruência entre o projeto São Paulo S.A. – práticas estéticas, sociais e políticas em debate (2002-2007) e a exposição Da próxima vez eu fazia tudo diferente (2012) de sua curadoria. Realizada no mesmo lugar do Copan, seu título provém do filme Documentário de Sganzerla, apontando para um permanente recomeço. Com a obra O quarto da Vanda, do cineasta Pedro Costa, na exposição A respeito de SITUAÇÕES REAIS (Paço das Artes, SP, 2003) sobre práticas documentárias, produzida pela Exo, Raquel Garbelotti reflete sobre o que ela nomeia filme instalado


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– “a passagem de uma produção fílmica para a instalativa” –, considerando suas especificidades. Pedro Costa transita entre o documentário e a ficção, sobre a condição de construir outras narrativas, reverberando diretamente na situação atual no Brasil. O País e São Paulo mudaram muito na última década e os protestos de 2013 – com produções de subjetividades novas – somente vêm a reforçar o momento de inflexão histórica em que estamos vivendo, desestabilizando nossas referências e nossos parâmetros para pensar e atuar na cidade.


Catalisadas pelo projeto África Mundos – resistências contemporâneas (2004), em torno do dissidente social e político nigeriano, criador do afrobeat Fela Anikulapo Kuti, Marta Mestre indaga sobre outras formas de narração da África para além dos lugares comuns e do desconhecimento, e “lança três ideias-chave para futuros desdobramentos do projeto Exo, tendo em conta sua natureza de rede virtual – arquivo aberto, criticismo e espaço público”. E provoca – “cabe aqui questionar de que forma [as culturas africanas, afrodescendentes e diásporas] inscrevem um tipo de ‘urbanismo’ que pode ser lido no tecido social e cultural da sociedade, engajando os cidadãos na construção coletiva da alteridade e da diferença?” A elaboração do arquivo Exo, em diálogo estreito entre as editoras, com distanciamento ativo para eleger o que tem relevância pública, e as interlocuções com os ensaístas convidados, desdobra novos questionamentos sobre quais práticas artísticas e agenciamentos são desejáveis no Brasil hoje. A que arquivos e imaginários nos remetemos? Em que pontos estamos permanentemente recomeçando?

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Organização

Ligia Nobre e Luiza Proença Design gráfico

Eduardo Foresti Programação do website

Bruno Favaretto Ensaístas convidados

Marcio Harum, Marta Mestre, Diego Matos e Raquel Garbelotti Comunicação

Fred Itioka e Nelson Plus

www.arquivoexo.org

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as c i s t e çõ polí a el as ra r ão eis es e tadu a Jord ív t ss ar a di abríci o : p das o d   F o ad ema ríod eira t Es ist pe sil e a te e o s s no br r A tr ai tar r n e ltu ili cu il-m civ Ciclo de debates em torno da atuação e produção de diversos artistas durante o período militar brasileiro São Paulo/SP Junho de 2013


The project proposed to discuss the relation between the visual arts and the authoritarian state, with emphasis on the Brazilian dictatorship. The aim was to deepen and reevaluate certain statements that relate contemporary art and its agents to civil-military dictatorship in Brazil, specifically to public policies

Durante a ditadura of cultural promotion and diffusion that were practiced in 1964-1985 and to the appropriation of the memory civil‑militar brasileira of those years as a central theme of contemporary (1964-1985), aliada poetics, in order to update the discussion on the a uma vertiginosa relation that visual arts keep with the Brazilian state institucionalização since the establishment of the dictatorship until today. e reorganização da área cultural, observa-se uma crescente participação de artistas nos quadros funcionais do Estado, bem como a realização de diversas ações artísticas por meio da benesse estatal. Essa configuração continua sendo explicada, na maioria das vezes, por meio da polaridade resistência-cooptação, fornecendo uma análise superficial de um processo complexo e contraditório envolvendo os artistas e o Estado em um período em que uma parte significativa da cultura de oposição foi apoiada pela política cultural do regime sem, no entanto, sucumbir a sua ideologia. Diante da necessidade de reavaliar, aprofundar e atualizar essa discussão, foi realizado esse ciclo de debates, que teve por objetivo aprofundar e reavaliar certas asserções que relacionam a arte contemporânea e seus agentes à ditadura civil-militar brasileira, especificamente às políticas públicas de fomento e difusão cultural praticadas de 1964 a 1985 e à apropriação da memória desses anos como tema central de poéticas contemporâneas. Para tanto, foram realizadas quatro mesas-redondas que, além de darem visibilidade às reflexões de jovens pesquisadores


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e fomentarem o diálogo entre pesquisadores e artistas de diferentes gerações, abordaram as relações entre o estado autoritário e o sistema das artes no Brasil. A mesa O Artista e o Estado Autoritário, composta por Marcos Napolitano (USP), Paulo Bruscky (PE) e Dária Jaremtchuk (USP), aprofundou a discussão em torno da complexa e contraditória relação que diversos artistas, apesar de não sucumbirem a sua ideologia, estabeleceram com o estado autoritário brasileiro. Em Produção Artística e o Estado Autoritário, o desafio foi pensar sobre como as transformações instauradas pela arte experimental brasileira durante o regime militar foram tensionadas por uma vertente de coletivos artísticos que surgiram após a abertura política, culminando com uma prática/produção na qual ativismo político/social e arte não se dissociam. Para pensar essa questão, foram convidados o Coletivo de Arte ENTORNO (Brasília), representado pelas artistas


Janaína André e Marta Penner, o artista GOTO (integrante dos Coletivos EPA e E/Ou), o artista Sebastião Oliveira Neto (integrante do grupo OCUPEACIDADE), e as artistas e pesquisadoras Gabriela Leirias (USP) e María Inígo Clavo (Espanha). No penúltimo dia, foi abordada a relação entre arte, ditadura e feminismo por meio de indagações acerca da contribuição da arte feminista e queer para o estreitamento das relações entre arte e política a partir do final da década de 1960 no Brasil. Abordando os temas da representatividade, da representação e da autorrepresentação, os debates apresentados abarcaram múltiplos aportes das proposições artísticas feministas realizadas por mulheres, levando-se em consideração as transformações do sistema da arte e atentando para seus potenciais desestabilizadores dos valores

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heteronormativos. Para incitar os debates acerca dessas questões, foram convidadas as pesquisadoras e artistas Rosa Blanca (FEEVALE), Lina Arruda e Ana Paula Simioni (ambas da USP). Encerrando, a mesa Arte Contemporânea e o Estado Autoritário problematizou a retomada, a partir da década de 1990, de produções contemporâneas que têm, nas memórias relacionadas às ditaduras latino-americanas, a temática central de seus trabalhos. Como a arte contemporânea aborda as memórias deflagradas por um estado de exceção, por vezes de caráter hediondo, na esfera pública? Para o debate, foram convidadas Nadia Carolina Golder, do Grupo de Arte Callejero (Buenos Aires), Fulvia Molina (SP) e Vivian Braga (USP). Por fim, espera-se que as reflexões e ideias promovidas por esse ciclo de debates encontrem ressonâncias nos jovens pesquisadores e artistas brasileiros.

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Concepção, coordenação, mediação e conteúdo para redes sociais

Fabrícia Jordão Produção, design, assessoria de imprensa

Lilian Queiroz Assistente de produção

Tatiana Rodrigues Conteúdo para redes sociais

Ana Clara Jabur

www.arteestado.com.br


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for el Zózimo e u h im q io  Mic s s A env e h l

Publicação de escritos de artistas sobre questões que derivam do campo da arte, articulando-as com outros campos de conhecimento São Paulo/SP, Santa Maria/RS e Recife/PE Junho e julho de 2013


Ao longo do século passado, pudemos observar a formação de uma genealogia dos escritos de artistas que se forma por meio de inúmeras disciplinas que tentam analisar a produção textual encampada por esses agentes do campo, seja pela crítica genética, seja por outras disciplinas que estudam tais produções. E, nas últimas décadas, pudemos observar a configuração de abordagens científicas mais densas sobre aquilo que chamamos de escritos de artistas. Trata-se de uma tentativa de abrir infinitos caminhos sobre uma produção subjetiva que pode (ou não) nos aproximar das primeiras camadas de um trabalho artístico. Aqui é a voz do autor que está em questão, pensando diretamente em sua poética, falando de suas intenções, explicitando seus interesses pessoais, abrindo clareiras de luz ou tornando mais obscura e, portanto, mais complexa a relação imediata que podemos ter com qualquer processo inventivo no campo artístico. Poesia, literatura, ciência, política, filosofia, música, cinema, educação, urbanismo, economia, arqueologia, clima, botânica, sexo, física, sonho, geometria, gastronomia, arquitetura, utopia, geografia, biologia e tantos outros assuntos ou questões – que não lembro agora – interessam aos artistas, apesar de muitos não dominarem Assim que for editado, lhe envio, a Michel Zózimo’s ou ignorarem que tais project, groups seven written Brazilian artists: esferas do pensamento Alessandra Giovanella, Cristina Ribas, Cristiano humano necessitam Lenhardt, Fernanda Gassen, Jonathan de Andrade, de saberes específicos para Leticia Ramos and Luis Roque. This book brings serem discutidas.

together texts from different lineages, wherein writing is thinking, designing or intuiting invention processes in art. While some people write letters or music lyrics or film scripts, others report their actions, such as an expedition to the North Pole, a wagon race, some notes on draft state or experiences with education.


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Necessitariam mesmo? Tenho dúvidas... Em certos casos, prospectados pela circunstância de urgência, alguns escritos de artistas figuram projetos expositivos, declarações públicas, cartas, materiais de catálogos, relatos, descrições, publicações, entre outras formas textuais. Muitas vezes, a loucura do verbo constrói-se antecipando seus projetos. Em outros momentos, o texto brota lúcido do trabalho, como inço. Dessa forma, a invenção da escrita também está ligada à vida, porque é ela que sempre importa. Em alguns escritos de artista, encontramos distintas vozes, provavelmente dirigidas a diferentes personas – outros artistas, críticos, público, amigos, conhecidos e instituições, entre outras figuras do campo. Ou não encontramos nada disso. Eles estão apenas escrevendo sobre outras coisas, aqueles detalhes que são invisíveis, muito pequenos, inexistentes. Enquanto alguns fazem ficção, outros recusam-se em esquecer do plano real. Há também aqueles que escrevem sobre outras áreas, apesar de pouco conhecê-las. Em determinados contextos, os artistas não necessitam dominar as coisas para poderem escrever sobre elas. A invenção autoriza o equívoco, fazendo dele um ruído de certeza. Por não entenderem de métrica, descontroem a poesia. Falando de ciência, proferem absurdos, talvez porque intuem a ciência como literatura. Tornam-se sujeitos políticos porque, naturalmente, pensam o mundo. Ao mesmo tempo, mostram-se desinteressados por esse lugar. Logo, habitam as finas camadas de uma consciência fora do plano.

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A história nos mostra que a crítica pode ser construída dessa forma também. De um modo incerto e torto, em que a pesquisa deriva do falível, podemos encontrar materiais textuais que refletem sobre o presente ou que apontam sua lança para o futuro. Desse modo, a ideia de pesquisa deve ser expandida, como uma extensão do pensamento, tornando‑se ação efetiva no plano dos possíveis. Tal constatação pode servir para pensarmos na fala do artista, em estado de grito ou em off. Tornada letra, a voz do artista transforma-se em máquina de guerra, projétil e escudo. Não se trata apenas de observar os escritos de artista como material de estudo ou como plataforma de análise de suas poéticas – tão caros para a crítica genética ou tão frágeis para outras esferas da arte. Frágeis por não provirem de uma única família, por serem pessoais, por lidarem com afetos, por não terem compromisso, por não prestarem serviços a alguém, por não ocuparem um único lugar, por serem questionáveis e por tantas outras características do inexato. Estranhamente, essas parecem ser as mesmas qualidades que podem tornar potente todo material escrito por um pensamento que nasce no interior da arte. Tudo aquilo que pode ser fantástico, mesmo não sendo notável.


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Organizador

Michel Zózimo Autores

Alessandra Giovanella, Cristina Ribas, Cristiano Lenhardt, Fernanda Gassen, Letícia Ramos, Luiz Roque, Jonathas de Andrade. Editoração gráfica

Marina Polidoro e Michel Zózimo Revisão ortográfica

Michel Zózimo

www.assimqueforeditado-lheenvio.tumblr.com


rte, A – s stra nea e l a p â tes e ntempor a b e de d de Co l Ciclo Socieda Cabra e slan o A x e   S a ileir s a r B

Ciclo de debates e palestras voltado à discussão dos aspectos da sexualidade que se relacionam com as artes visuais Recife/PE maio de 2013


Willing to address the issue in order to suggest greater autonomy and freedom for sex, and its various representations and guidelines, follow free and healthy through Brazilian society, various professionals such as artists, curators, filmmakers, psychologists, prostitutes, programmers and visual arts students

Há tempos que a arte se met during three nights at the Museum of Modern Art Aloisio Magalhães, in Recife, at the circle of lectures encarrega de dar vazão aos and discussions Art, Gender and Society Contemporary mais libertários instintos da Brazilian. A moment of counterpoint to all possible humanidade. Esses instintos castration and sterilization linked to this theme, carregados de vontades de instinct inherent in human beings. viver, uma vez reconhecidos por seu potencial libertário, quase sempre são explorados à exaustão dentro da lógica urbana, massificada em mercadologias passando por processos complexos em que são transformados em meros produtos. Objetos de consumo, distanciados de nossa natureza, ao mesmo tempo que também estigmatizados, tornando-se tabus sociais e religiosos. A arte, por meio de sua capacidade autônoma, pode criar e gerenciar dispositivos, agentes capazes de exercitar nossa percepção sensível a fim de reconhecermos a importância de promovermos discussões críticas sobre nossa atualidade subjetiva, contribuindo diretamente para o que podemos entender como brasilidade. O sexo está na televisão, está na música, está na prateleira do Brasileiro, está na internet... está para o mercado como não está para nossa liberdade e vontade. ARTE, por sua despretensão em determinar sentidos ou leis. Por seu potencial de sugestão e sensibilização, SOCIEDADE. Durante três noites, Recife movimentou ideias, argumentos e estéticas com foco no preenchimento de lacunas ligadas ao assunto sexualidade/brasilidade dentro da discussão


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artística, criando fôlego para arear o tema sem abrir mão da cautela necessária para evitar polemizar, estigmatizar gratuitamente. O “Arte Sexo e Sociedade contemporânea Brasileira”, em sua primeira edição, levou ao Mamam cidadãos das mais diversas procedências para liberar percepções, criar sentidos coletivamente, aguçar o senso crítico... sob uma proposta que Recife, há tempos, não vivencia. De atmosfera positivista e fécula, o ciclo de palestras debateu identidades estéticas e sociais, possibilidades infinitas do que podem ser as redes de importância traçadas na vida de cada ser humano por


meio da vivência do sexo ato, sexo genitália, sexo fetiche, sexo poesia, sexo erotismo, sexo pornografia e tantas outras representações explícitas ou subliminares. A subjetividade sexual existente nas plataformas digitais, a obra de Nan Goldin, o fetiche segundo a psicanálise freudiana, a sindicalização e as organizações promovidas pela coordenadoria do sindicato das profissionais do sexo de Pernambuco, o cinema entre o erotismo e a pornografia, a onda da música brega e a exploração do corpo nas periferias do Recife, além da moda como linguagem corporal sexual, foram assuntos sugeridos debatidos e que apenas aguçaram a autonomia de todos os que se inscreveram e participaram voluntariamente. Em uma das vezes que comentei com um amigo sobre o desejo de realizar um ciclo de palestras, debates e exibições tendo a relação entre arte e sexo no Brasil como foco, fui questionado sobre a parte que se refere diretamente sobre a sociedade brasileira no título do projeto. Isso porque a junção de termos como arte e sexo já poderia apresentar o conceito da série de palestras e debates. Contudo, sempre senti que o propósito é criar um momento de análise e contribuição do que compreendemos e sugerimos como brasilidade. É para dentro de nossas vivências como cidadãos desse País de tantos contrastes absurdos que esse encontro fala. E é por isso que a sociedade contemporânea brasileira tinha *Brasilidade – característica distintiva do brasileiro e do Brasil, sentimento de se ver espelhada em seu título. nacional dos brasileiros, brasileirismo.

**As obras de Fábio Baroli, jovem pintor mineiro, ao fazerem parte desse tipo de discussão, foram peças importantíssimas dentro do conjunto de sugestões que o ciclo de palestras e debates propôs e, por isso, gostaria de fazer um agradecimento mais do que especial a esse parceiro. Obrigado, Baroli!

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Idealização e direção geral

Operador de som e imagem

Aslan Cabral

Radá Araújo

Produtora

Equipamento de som e vídeo

Natascha Lux

Estúdio Base

Apoio de produção e coordenação

Registro (fotográfico e vídeo)

Gustavo Albuquerque

Papangú Filmes (Laura e Hebert)

Diretora de comunicação

Recepcionistas

Ana Garcia

Laura Farias e Thalita Farias

Assistente de comunicação

Palestrantes e debatedores

Liana Vila Nova

Lula Buarque de Hollanda – cineasta Claudio Assis – cineasta Tuca Siqueira – cineasta Moacir do Anjos – curador Nanci Feijó – presidente do Sindicato das Profissionais do Sexo de Pernambuco Marina Pinheiro – psicóloga Fernando Fontanella – doutorando em Comunicação Joana Gatis – figurinista Janine Seus – programadora especialista em Secondlife

Designer

André Bastos

Agradecimentos

A Arthur Aguiar, a Beth da Mata, a Lula Buarque de Hollanda e a Natara Ney, bem como a toda equipe da Funarte RJ, pela assistência e existência.

artesexosociedade@gmail.com

*As pinturas presentes na arte do evento são de autoria de Fábio Baroli


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Seminário dedicado às relações entre a metrópole contemporânea e o campo das artes Salvador/BA Junho de 2013


O seminário foi uma oportunidade singular de reunir pesquisadores e pixadores para um diálogo sobre as contingências presentes nas ruas de grandes metrópoles brasileiras na atualidade. Nas entrevistas com os pixadores presentes no catálogo do evento, encontramos os temas daquilo que veríamos multiplicar como demandas no retorno para cada uma das cidades de onde viemos. As ruas foram ocupadas por milhares de pessoas, onde houve algumas manifestações com intensos confrontos com a polícia a partir do dia 13 de junho de 2013. As pessoas clamaram por mudanças nas políticas públicas destinadas à mobilidade urbana. No princípio, foi a diminuição do preço da passagem do ônibus e do metrô; no entanto, diz respeito ao ir e vir, à circulação abrangente pelos espaços da cidade, tal como vimos, em Paris, nos debates do seminário, tanto pelo flanêur no final do século XIX quanto pelo situacionista no final da década de 1950 ao início de 1970. O assunto principal do evento foi a pixação e seus cruzamentos com o direito à cidade e com o campo da arte, e a exigência de uma nova metodologia de pesquisa oriunda da antropologia para se ter The Seminar was a unique opportunity to bring acesso ao conhecimento together researchers and graffiters for a dialogue produzido por esses atores, on the contingencies present in the streets of major os quais não possuem Brazilian cities today. At the graffiters’ words, we found disposição para subordinação themes of what we would see as multiplying demands ou hierarquias acadêmicas. in return for each of the cities where we came from. Dessa maneira, o evento foi The streets were busy and there were intense clashes marcado por uma curadoria with police in some manifestations. People clamored for changes in urban mobility, for a embracing circulation through the spaces of the city, as we saw in Paris, at the discussions of the seminar, both by flanêur as the situationist.


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partilhada entre um curador sociólogo e outro pixador/artista e, desse modo, foi uma contraposição ao discurso que nomeia o outro sem lhe conceder empoderamento ou autonomia, intitulado por Michel de Certeau como beleza do morto. Contudo, a horizontalidade da relação entre curador e artista, e entre pesquisador e pesquisado, permitiram uma experiência distinta da que figurou com Benjamin e Baudelaire, ou com Debord e os militantes da contracultura. Benjamin, ao descrever a solidão de Baudelaire, um dos maiores representantes da flanerie, não conseguia dissimilar que isso poderia ser sobre ele próprio. Ele acabou


suicidando‑se quando o temor de cair nas garras do nazismo lhe retirou a esperança. Debord, ao escrever sobre sua vida, denotou novamente uma melancolia, um desespero e uma desilusão com o mundo da arte que o fez suicidar-se com o avanço de sua doença. Por sua vez, os pixadores, junto aos pesquisadores, deflagraram outro comportamento em uma flanerie pela cidade de Salvador, teceram suas reflexões in loco, partilharam o contato humano além do que se lê e escreve sobre esse assunto e criaram um modelo para o entendimento sobre nosso tempo – a prática da experiência com a cidade nos riscos e nas alegrias que ela oferece. Nossa volta para cada uma das cidades presentes no seminário foi revigorada e a ocupação do espaço público com as manifestações de junho tiveram um entendimento de sua dimensão histórica. derivas e memórias contemporâneas na pixação

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A tragédia contingente da modernidade para T. J. Clark1 é a escassez de sentido com a falência da comunidade e da tradição que ela carrega. Com a pixação, encontramos não uma solução, mas uma iniciativa para tramar laços ancestrais de uma comunidade contemporânea; ao mesmo tempo, temos pistas sobre o que se passa na cidade, dentro de uma incerteza e uma instabilidade natural para processos de modernização como o que estamos instalados. Diante desse quadro, a OMS vai falar com estatísticas das perturbações mentais acirradas em São Paulo e que podem figurar em qualquer classe social em diversos matizes – a ansiedade, as mudanças comportamentais e o abuso de substâncias químicas. A modernidade guarda um mistério, pela pretensão de um triunfo da razão, passível de ser solucionado. Contudo, com a tragédia, isso não ocorre; é ela que reinstala a outra contingência – a dimensão sempre presente e pessimista da violência entre os assuntos humanos. Para Clark, “a grandeza que vira ruína”, visualizada nos espaços deteriorados e abandonados da cidade em expectativa 1. CLARK, T.J. Por uma esquerda sem de um grande projeto arquitetônico para futuro. Ed. 34, 2013. a Copa, para onde também vão os carentes de um refúgio, diante da morte final, com o entorpecimento do crack. *Neste texto a palavra “pixação” e termos derivados foram empregados de acordo com a grafia corrente entre aqueles que atuam nessa linguagem.

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Curador

Sérgio Franco e Djan Ivson Produção executiva

Roca Alencar Coordenação administrativa

Núbia Bento Rodriguez Produção

Djan Ivson e Sérgio Franco Captação de imagens e produção do vídeo

Djan Ivson Programação visual e catálogo

Tiago Morya Ishiyama Fotografia

Nara Gentil Assessoria de imprensa

Luciana Zacarias – Baobá Comunicação

francsergio@gmail.com

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o rq stã s e A e – G rvo haves l C e Lea e Ac ógenes o d ã Dy ime nção is  S a é e Jos anut Visu s e M Arte em Exposição iconográfica e ciclo de debates em torno do acervo e do arquivo do administrador cultural, diplomata, crítico de arte, jornalista, médico, colecionador e artista plástico José Simeão Leal João Pessoa/PB Maio e junho de 2013


The iconography exhibition about Simeão Leal and the seminar to discuss the reality of public and private archives, which was contributed by experts and technicians in the areas of archival science, visual arts and information science, could conclude in the end

Há exatos 15 anos, durante that most of our maintaining and custodial institutions of files and archives still lacks human resources uma homenagem a José and technical knowledge enough to manage, store, Simeão Leal no III Festival maintain, organize, and especially become the memory Nacional de Artes, em João available (by means of documents and activities) Pessoa, o historiador José of our artists and intellectual and of our culture. Otávio de Arruda Melo, em um surto de desconfiança com o rumo que teria o arquivo de Simeão, recém-chegado em nossa cidade, fez várias indagações aos presentes: “Alguns arquivos de grandes personalidades ainda estão bem tratados, mas outros estão desaparecendo completamente. Pergunto: o que vai ser feito do acervo de Simeão Leal? Ora, porque Simeão cedeu obras de arte, originais, documentos, livros... E faremos o que com isso? Será que terá o mesmo destino do acervo de Alberto Torres ou da documentação de Capistrano de Abreu, ou, mais recentemente, da biblioteca de Onório Rodrigues? Inclusive, teremos condições de preservar e instrumentalizar? Ora, porque preservar um acervo não é só guardar livros nas prateleiras e quadros nas paredes. É articular, catalogar, divulgar, fomentar a presença de pesquisadores para a realidade do trabalho”.

Hoje, por sorte ou ironia, temos as respostas para Arruda Melo. Depois de peregrinar entre os prédios do Hotel Globo, da Biblioteca Virgínius da Gama e Melo e do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado da Paraíba, o arquivo de Simeão Leal foi destinado ao Núcleo de Documentação e Informação Histórica Regional – NDIHR –,


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da UFPB, sob a responsabilidade da professora Bernardina Freire. A partir daí, técnicos e especialistas passaram a levantar todo esse rico acervo e, inclusive, promover pesquisas e trabalhos científicos nas áreas da graduação e da pós-graduação. Após a realização do seminário Arquivos privados: políticas e realidade, ocorrido ao longo deste projeto, que contou com a contribuição de especialistas, professores e técnicos com experiência nas áreas da Arquivologia, Artes Visuais e Ciência da Informação, concluímos que nossas instituições mantenedoras e custodiadoras de arquivos e acervos, salvo algumas exceções, ainda não dispõem de recursos humanos e conhecimento técnico suficiente para bem gerir, guardar, manter, organizar e, principalmente, disponibilizar a memória – por meio de documentos e atividades – de nossos artistas e intelectuais, de nossa cultura.

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Mesmo com essa sombria constatação, deve-se ter como exemplo o minucioso – e apaixonado – trabalho executado pelos técnicos do NDIHR/UFPB ao sensibilizarem alunos e professores da universidade e promoverem, em torno do acervo de Simeão Leal, ações com fins de discutir e difundir, entre outros setores acadêmicos e da comunidade paraibana, a importância do homem de cultura José Simeão Leal. Além disso, esse trabalho também desvelou o acervo de Simeão Leal para pesquisas nos mais diversos matizes. Ao mesmo tempo, contribuiu na construção e preservação da memória local, fomentando tecnologias de conservação e restauro de documentos e obras de arte, tecnologias de documentação bibliográfica e iconográfica, manutenção de arquivos e documentos da área de artes visuais, publicação de pesquisas e de estudos ligados à variedade presente no acervo em questão, além de tecnologias de difusão e publicação em meios eletrônicos e virtuais.


Ao final, concluímos que, infelizmente, outros arquivos de artistas plásticos, de críticos de arte e de intelectuais estarão destinados ao esquecimento e à falta de incentivo oficial se não houver ações imediatas das autoridades responsáveis por nossa memória cultural. Graças à maciça presença de professores e alunos de Arquivologia, Artes Visuais, História e Ciência da Informação no seminário – média de 130 pessoas em cada dia –, e à visitação da mostra iconográfica exibida na Estação das Artes, sabemos que, ao menos, haverá um corpo técnico preparado para enfrentar as adversidades suscitadas neste projeto, acima de tudo, de caráter elucidativo, ao diagnosticar a precária situação dos arquivos – públicos e privados – que guardam nossa maior riqueza cultural: a memória.

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Programação visual

Dyógenes Chaves Registro fotográfico

Adriano Franco Registro videográfico

Tony Neto e Wagner Falcão Produção

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Webdesigner

Café Dias

Coordenação geral

Dyógenes Chaves

Impressão de fotografias

Marcos Estrela

Coordenação do Seminário

Bernardina Maria de Oliveira Freire

Marcenaria

Pedro Juvino

Coordenação de apoio do Seminário

Thaís Catoira Pereira Apoio à produção do Seminário

Karlene Roberto Braga de Medeiros e Manuela Maia Curadoria da mostra iconográfica

Dyógenes Chaves, Bernardina Maria de Oliveira Freire e Thaís Catoira Pereira Coordenação de montagem

Maria Botelho Lima

Moderadores do Seminário

Karlene Roberto Braga de Medeiros, Carlos Xavier de Azevedo Netto e Manuela Maia Palestrantes do Seminário

Francisco Pereira da Silva Júnior, Luis Gonzaga Rodrigues, Kelly Cristiane Queiroz Barros, Rosilene Paiva Marinho de Sousa, Julianne Teixeira e Silva, Zeny Duarte de Miranda, Thaís Catoira Pereira, Fabrícia Cabral de Lira Jordão, Maria da Vitória Barbosa Lima e Dyógenes Chaves Gomes

Montagem

Equipe da Estação das Artes

www.josesimeaoleal.com.br josé simeão leal

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Publicação dedicada a documentar a produção do artista e teórico pioneiro da arte tecnológica Julio Plaza Porto Alegre/RS e São Paulo/SP Julho de 2013


This is the first publication in Brazil dedicated to the Spanish artist and theorist Julio Plaza (1939-2003). The edition organized by the Foundation Vera Chaves Barcellos gathers texts signed by artists and researchers as Alexandre Dias Ramos, the poet Augusto de Campos, Cristina Freire, the Spanish philosopher Ignacio Gómez

Por iniciativa da FVCB, de Liaño, Regina Silveira and Vera Chaves Barcellos, plus an introductory article signed by Julio Plaza himself. esta é a primeira publicação The book brings a DVD with the documentary “Julio editada no Brasil sobre Plaza – the poetic and the political”, produced with the o artista Julio Plaza e sua support from MAC-USP for the exhibition on the artist obra. Julio Plaza, artista held in 2012 in Hall’s Orchard of FVCB. The publication nascido em Madrid, em is available in English and Spanish, and it has limited 1938, em uma Espanha edition and distribution and it is also targeted at mergulhada em uma cruenta universities and art and research centers. The launch guerra civil, viveu até 1967 was held at Santander Cultural POA, and at MASP. no país dominado pela ditadura franquista. Nesse mesmo ano, já com uma obra consolidada e seguidora da tradição do construtivismo europeu, integrou a representação espanhola na IX Bienal de São Paulo. Passou dois anos no Rio de Janeiro como bolsista da Escola Superior de Desenho Industrial – ESDI – e, logo depois, quatro anos em Mayaguez, a convite da Universidade de Porto Rico. Ao retornar ao Brasil, em 1973, estabeleceu-se em São Paulo, onde desenvolveu uma extensa atuação como artista e professor, teórico, organizador de exposições e pesquisador das novas tecnologias até sua morte, em 2003. Sua trajetória de vida e sua obra são abordadas no livro Julio Plaza Poética | Política, por meio de diversos textos e inúmeras imagens de sua versátil produção. Entre os textos, estão uma cronologia, elaborada por Cristiane Löff, um texto referente à exposição organizada na FVCB, em 2012, de Alexandre Dias Ramos, que foi seu aluno,


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e um depoimento do poeta Augusto de Campos que narra seu encontro com Julio Plaza e descreve as parcerias realizadas pelos dois durante vários anos. Cristina Freire tece um panorama da arte no Brasil, no qual insere Julio Plaza, vindo de uma tradição construtivista espanhola dos anos 1960, e destaca sua afinidade com o concretismo brasileiro. A obra construtivista de Plaza é abordada em um texto produzido na década de 1960, ainda em uma época anterior a sua vinda para o Brasil, cujo autor é o então jovem poeta e filósofo espanhol Ignacio Gómez de Liaño. A publicação contém também um extrato do depoimento do próprio artista sobre sua obra e trajetória, por ocasião de sua apresentação como candidato a professor-assistente da ECA-USP, São Paulo, em 1994. Regina Silveira, artista e sua companheira de vida entre 1967 e 1987, em uma narrativa de teor bastante pessoal, fala-nos sobre os primeiros anos de Plaza como artista, ainda na Espanha, onde o conheceu; além disso, relata a temporada juntos na Universidade de Porto Rico e sua atuação posterior no Brasil. Um texto específico de Vera Chaves Barcellos faz referência ao curso Proposições criativas,


realizado por Plaza em 1971, em Porto Alegre, com um grupo de alunos do Instituto de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Nesse curso, o artista destacou a importância do desenvolvimento da criatividade em atividades efêmeras no espaço urbano. O livro é complementado por um DVD cujo conteúdo é um documentário no qual entrevistas diversas com professores, artistas e intelectuais que conviveram com Julio Plaza em diferentes épocas de sua vida se alternam com exemplos de sua produção. O livro Julio Plaza Poética | Política vem a preencher uma lacuna existente em nosso mercado editorial ao contemplar um artista que, por sua atuação, desempenhou um papel preponderante na recente história da arte brasileira.

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Organização

Tradução

Vera Chaves Barcellos

Baltazar Pereira (inglês) Helena Dorfman (espanhol)

Edição executiva

Maria Luiza Sacknies Coordenação do projeto e produção

Carolina Biberg Assessoria de imprensa

Claudia Rüdiger Revisão

Marca-texto Editorial Liane Asmar

Imagens

Fábio Alt, Juliana Lima e Vera Chaves Barcellos Design

Roka Estúdio Impressão

Gráfica Impresul Palestrantes

Inês Raphaelian Omar Khouri Instituições parceiras

Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand Santander Cultural

www.fvcb.com

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s re ob âneo s tes mpor a b e e : d cont s o tic stas é o i s P art ilva o s h S ul s do Breno g r e Me erçõ ros  i ins sile a br

Residência artística destinada ao debate sobre a inserção dos artistas nos campos institucional, micropolítico e poético Natal/RN Abril e maio de 2013


O Mergulhos Poéticos parte da realização de uma série de conversas experimentais sobre as inserções institucionais, micropolíticas e poéticas dos artistas contemporâneos brasileiros. Para essas conversas, dez artistas com formas de atuação diversas foram convidados para participar de uma residência ocorrida entre 29 de abril e 10 de maio de 2013 em Pirangi, RN. Cada dia um deles propôs e conduziu uma conversa com o grupo em torno de seus modos de inserção no sistema das artes. Esses modos de inserção compreendem seus entendimentos sobre arte, como lidam com as instituições, as formas de colaboração, a produção colaborativa de trabalhos e alguma dimensão política no que realizam. O mote do projeto se concentra na experimentação sobre modos de produção de conhecimento em artes visuais e essas conversas se desdobraram em três formas iniciais – um blog, um texto e um vídeo. O blog Mergulhos Poéticos (http://mergulhospoeticos. wordpress.com), que está em funcionamento desde o início da residência, foi concebido para registrar algumas passagens das conversas ocorridas e para convergir os Mergulhos Poéticos conducted a series of conversations desdobramentos narrativos about the insertions of contemporary Brazilian artists do projeto. Dessa forma, from the residence that occurred between April 29 and além dos registros cotidianos May 10, 2013 in Pirangi (RN). Ten artists were invited das conversas, do texto and every day one of them led the conversation with e do vídeo produzidos, ele the group around their modes of insertion in the art continuará aberto para system. They talked about how they deal with the

institutionalization, forms of collaboration and political dimensions of their work. Seeking experimentation on the production of knowledge in visual arts, the chats unfolded in blog, text and video.


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a colaboração entre os artistas participantes e os demais interessados. O texto Mergulhos Poéticos: entremeios foi escrito por Breno Silva e Luciana Marcelino como uma construção fragmentada partindo de algumas eleições sobre o que os artistas comunicaram. Esse texto é uma tentativa de abrir brechas para outras experimentações como uma contribuição para trazer à tona as questões sobre as discursividades e práticas artísticas e seus campos de provas. O vídeo Mergulhos Poéticos: diários (22”, 2013), realizado por Bruno Vasconcelos, faz uma abordagem singular da residência, elencando


momentos cotidianos; ele figura como uma documentação parcial do acontecido como uma espécie de diário afetivo. Nele as imagens e as conversas captadas durante a residência são rearranjadas de modo a focar em narrativas acontecidas e a derivar outros sentidos. A produção de conhecimento no campo das artes visuais, muitas vezes, dá-se fora dos ambientes estabelecidos para sua ocorrência. Ela pode acontecer, por exemplo, a partir de situações cotidianas que levam o artista a se deparar com alguma questão que vai reaparecer, de uma forma singular, em seu trabalho. Nesse espectro, a experiência cotidiana na residência em Pirangi poderia conduzir a um pensamento crítico que abrangesse uma dimensão poética e política sobre o campo de atuação artístico. Foi testando essa possibilidade que pensamos em um modelo informal para as conversas amparado na convivência cotidiana. Consideramos uma perspectiva de experimentação de espaços não legitimados para o debate, em circunstâncias informais, abertas aos acontecimentos e à produção coletiva de conhecimento. As experiências cotidianas e das mergulhos poéticos

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conversas se desdobram em narrativas sem a pretensão panorâmica dos acontecimentos. Seguiram por algumas memórias reinventadas, tangenciando três campos atratores recorrentes nos discursos e nas práticas acontecidos durante a residência. Um primeiro campo seria sobre a arte e suas significâncias, na tentativa de compreender algumas produções de sentido da arte e seu entendimento como uma linguagem expandida nos limites da comunicação e da expressão. Um segundo campo seria sobre o binômio arte e vida, pensando o entendimento dos processos de legitimação e as formas de realização dessa conexão tão falada e desejada entre arte e vida. Já um terceiro campo seria entre arte e política, margeando as especificidades dos posicionamentos dos artistas, e pensando o entendimento da política a partir dos processos de subjetivação como possibilidades de dobras sociopolíticas, como na contribuição para a formação de imaginários dos outros em contextos sociais.

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Concepção

Breno Silva e Daniel Murgel Artistas

Daniel Murgel, Solon Ribeiro, Cleverson Salvaro, Graziela Kunsch, Waléria Américo, Breno Silva, Gustavo Speridião, Bruno Vilela, Tininha Llanos e Tiago Ribeiro. Vídeo

Bruno Vasconcelos Fotos

Bruno Vilela Produção e blog

Luciana Marcelino Texto

Breno Silva e Luciana Marcelino

www.mergulhospoeticos.wordpress.com

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ole Ofício – C tão ssos do s e e G al  O d s do ltur o M u na ção C i c Ofi odu r eP

Oficinas de formação em produção de projetos e políticas culturais Ceilândia, Gama e Taguatinga/DF Junho de 2013

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The workshop taught by the President of Ossos do Ofício Confraria das Artes, Marta Carvalho, had its beginning in the city of Ceilândia after Taguatinga and ending in Gama, cradles of independent and alternative culture of the Distrito Federal. The treatment with this specific and peculiar audience occurred from the exchange of O Brasil tem alcançado experiences and needs detected on the first day of all um crescimento econômico the workshops; and with the survey of these individual e social bastante and collective processes the methods of collective significativo. Especialistas management and cultural production were applied. The preveem ainda que, em 2016, classes now are unified into a monthly assistance for o Brasil alcance o status building projects and annual plannings of groups met de quinta economia do at the headquarters of Ossos do Ofício. mundo. Em consequência desse crescimento, muitas mudanças estruturais em vários setores sociais e econômicos se fizeram necessárias. A cultura é um deles. É importante que o setor cultural se modernize e se atualize para acompanhar as mudanças dinâmicas da sociedade brasileira. Para que esse desenvolvimento seja democrático, é importante que as ofertas culturais, assim como as ferramentas e os mecanismos de formação profissional para esse setor, não se concentrem nos grandes centros urbanos.

Considerando a preocupação e a missão da Ossos do Oficio Confraria das Artes, trabalhamos efetivamente no crescimento do mercado produtivo do Distrito Federal, desenvolvendo técnicas administrativas e de expressão do coletivo em todas as suas ações. A Oficina Modo Coletivo de Gestão e Produção Cultural se afirmou em todas as cidades visitadas e com grupos de expressão das cidades-satélite de Ceilândia, Gama e Taguatinga, elevando o nível desses coletivos em sua gestão e seu aprendizado relativo ao processo de produção cultural exigido pelo mercado cultural do Brasil.


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A diversidade cultural com potencial para ser aproveitada como um instrumento contributivo, tanto ao desenvolvimento econômico quanto ao social, foi atendida, uma vez que oferecemos capacitação técnica e crítica para profissionais de produção e organização de coletivos, eventos e produtos artísticos, desenvolvendo potencial nas áreas de planejamento e gerência. Estimulamos a percepção da dinâmica que se manifesta em vários campos da cultura, em suas três dimensões – simbólica, cidadã e econômica –, não apenas em suas áreas hegemônicas e consagradas mas também em uma perspectiva de atenção a novos campos de atuação ligados a modos e produções emergentes na sociedade contemporânea. Sensibilizamos o produtor cultural dentro de uma perspectiva de inclusão social e cultural, diante de projetos que abrangem o papel do público, colocando-o como um potencial produtor de cultura – práticas artísticas e culturais amadoras, vida cultural associativa, interação e participação em trabalhos e eventos artísticos profissionais –, o que contribuirá também para a formação de público para diversas manifestações artísticas.

oficina modos de gestão coletiva e produção cultural

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Durante os módulos práticos, os alunos inscritos se apropriaram do conteúdo exposto nos módulos teóricos para participarem de atividades práticas no que concerne à gestão cultural. Foram analisadas e simuladas as etapas de produção de um projeto cultural, considerando a área artística e cultural do projeto proposto, e as situações e as tarefas comumente encontradas na produção desses projetos. Em todas as oficinas, foram dados espaços aos debates abertos sobre a realidade sociocultural local, entre os atores culturais locais implicados nas oficinas e o oficineiro, com o objetivo de encontrar soluções para enfrentar os desafios cotidianos nos trabalhos desses profissionais da gestão cultural. A produção cultural no Distrito Federal hoje tem sido intensa devido aos editais do FAC, da Funarte e do CCBB, que abrem espaço e aprovam projetos que têm grande relevância no cenário cultural e pesquisas referentes aos rumos das artes no Brasil.


Nos últimos anos, a cultura criada e desenvolvida no DF tem caminhado para rumos de trabalhos coletivos e estruturados, tendo como base a contemporaneidade e espontaneidade, formando e desenvolvendo novos núcleos produtivos do fazer artístico em sua mais profunda essência. Hoje, no Distrito Federal, temos em desenvolvimento cerca de 320 projetos, com resultados a serem apresentados em várias cidades-satélite e no centro, em festivais e teatros, bem como as artes visuais em espaços públicos e abertos. Desse modo, seria inviável o encontro de tantas naturezas diferentes sem o aporte e patrocínio do Edital Conexão Artes Visuais, da Funarte, da Petrobras e do Ministério da Cultura.

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Realização

Marta Carvalho Advogada da área de direitos autorais e gestão administrativa

Camila Portela Produtor

Mateus Vieira Filmagem, áudio e podcast

Hibys de Farias Produtor

Edson Beserra Administrativo e gestão

Henrique Rocha Secretaria executiva

Silvia Leticia

www.ossosdoficio.com.br


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Vídeo que simula um dial de rádio que tem como fundo as ondas e que captura transmissões cujo assunto é o mar em múltiplas línguas Ilha Comprida/SP Fevereiro e março de 2013


Short waves speak of the sea. The sea that roars and charms; the sea of nostalgia, of dream and of endless possibilities. That ancient sea of the time when all things were alive and had free will,

O mar

not so different from the apparent sea that is placated and subdued now and that from time to time shows its

Houve um tempo no qual strength when passing over mankind without knowing. o mar, assim como grande The sea of adventure and trade routes, of research and parte dos entes, tinha, pirates. The sea of mystery, poets, artists, cookie sellers além de vida, vontade and bathers. própria – quando podia And it speaks of waves, short. levantar-se de seu leito e jogar-se sobre uma montanha, quando podia, se assim quisesse sua vontade sem razão, aplacar a fúria de um vulcão. Houve, antes disso, o dia em que fora separado da terra. E, finalmente, veio a hora em que, derrotado por forças tão poderosas quanto justas, deitou-se onde até hoje repousa seu ímpeto de titã. Hoje, em alguns momentos, principalmente em dias nublados, quando o mar fica revolto, quando o cinza impera e espumas brancas encimam ondas sem direção, quando perde sua placidez e deixa de ser o lugar do conforto e do lazer, tenho a impressão de que pode-se levantar de seu leito e caminhar sobre a terra, pois, para ele, nada parece ser impossível – deixará sua fluidez e se reestruturará como o mar autoconsciente da ficção científica Solaris, que corporifica nossos medos, nossos desejos. Mesmo fora do universo ficcional, é no mar onde se depositam os sentimentos mais profundos, o mar rouba nosso tempo, e captura nossa atenção e nosso olhar. Permite-nos ver a curvatura da terra ou, quem sabe, denuncia a redondura de nosso próprio olho incapaz de divisar uma linha reta do tamanho do mundo.


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O ar

As ondas curtas, como já diz o nome, são ondas de pequeno comprimento e têm como propriedade marcante a reflexão na ionosfera, assim chamada por ser carregada de íons transmitidos pelo Sol. Essa característica possibilita que elas corram o globo terrestre e cheguem a distâncias continentais. São usadas, há muito tempo, na navegação de aviões e navios e como meio de comunicação pelos radioamadores. São um rudimento de comunicação global bem antes do surgimento da internet. Há quem se lembre – eu, ao menos, lembro‑me – de haver na família alguém que, muito pacientemente, procurava transmissões em outras línguas. Reuníamo-nos em frente ao rádio para ouvir vozes que cruzavam os céus em idiomas absolutamente incompreensíveis que despertavam nossa curiosidade e provocavam risos. ondas curtas

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O encontro

Em Ondas Curtas, na praia, uma câmera desliza sobre um trilho colocado em frente ao mar. Presa verticalmente a um tripé, diante da câmera, há uma barra luminosa formada por duas lâmpadas fluorescentes, uma branca, que se sobrepõe à imagem do céu, e outra verde, sobreposta à do mar; no ponto de contato entre as duas, vê-se a linha do horizonte. À medida que a câmera se move sobre os trilhos, tem-se a impressão de que é a barra de luzes que se move, e esse movimento emula a agulha de sintonia que para ao captar o que parece ser alguma transmissão – são músicas em diversas línguas, reportagens e transmissões de radioamador. Da poesia à ciência, passando pelas músicas de marinheiros e de quem deixou seu amor ou sua terra para trás, dos exploradores aos vigilantes do mar, quantas são as vozes e quantos olhos se deitaram sobre a massa fluida ao longo de toda a história da humanidade, e nela projetaram ambições e curiosidade? Quantos sonharam com o que poderia haver além de sua linha final?


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O caráter atribuído ao elemento fluido e orgânico é, na verdade, reflexo do caráter humano que hoje olha para as estrelas e, se não faz as mesmas perguntas, ao menos tem os mesmos sentimentos. Não é à toa que as estrelas guiaram os que cruzavam oceanos; o espaço de cada um é o mesmo mar de todos, que tudo abraça e que liga todas as coisas, é o caminho dos homens e das figuras lendárias. Ondas Curtas coloca o espectador no ponto de partida da busca por algum sentido que se perdeu. Devolve a melancolia nublada diante do desconhecido. E me lembro do poeta português Mario de Sá Carneiro: “É no ar que tudo ondeia! É lá que tudo existe!”.


Produção geral e coordenação do projeto

Leticia Ramos Produção da banda sonora

Rômulo Fróes Direção de fotografia e câmera

Caio Campos Autor, diretor do projeto e produção do equipamento de travelling suspenso

Wagner Malta Tavares

www.wagnermaltatavares.com

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Mapeamento sonoro do Parque Nacional da Serra do Catimbau Vale do Catimbau/PE Fevereiro a julho de 2013

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The sound mapping of the National Park of Serra Catimbau, located in the wilderness of Pernambuco, is a work of sound art, locative research and sonorous cartography. Conducted in the first half of 2013, this survey is about the natural sound

“A musica que prefiro à minha própria

characteristics that, by hypothesis, we hear in

e à de qualquer outro é a que ouvimos quando

certain places of the park the same sounds from

nos mantemos em absoluto silêncio.”

ages ago, almost by the lack of inhabitants in the

John Cage

“O pior cego é o surdo. Tirem o som de uma paisagem e não haverá mais paisagem.”  Nelson Rodrigues

“O objetivo poético é chegar ao desconhecido,

park and its surroundings. It is a continuation of the research started in 2011; in 2013, the survey mapped a most significant portion of the park and its surroundings, expanding the sonorous map of Pernambuco. That project we dedicate ourselves come in recent years and the next.

escrutar o invisível, ouvir o inaudível.”  Arthur Rimbaud

O Mapeamento Sonoro do Parque Nacional da Serra do Catimbau é uma pesquisa de campo sobre a paisagem sonora local em continuação a uma pesquisa realizada no Parque em 2011, quando a pesquisa/mapeamento cobriu cerca de 5% do local. Referimo-nos, nesse projeto, à experiência que antecede o nascimento. Desde a vida intrauterina, o feto tem sua iniciação nas paisagens sonoras, em certos ritmos, como os batimentos cardíacos e a frequência da voz da mãe que ressoam no liquido amniótico. Aos sete meses, o feto ouve e responde com movimentos aos estímulos dessa paisagem sonora. Ainda no estágio fetal, a voz da mãe constrói a noção de intervalo e, consequentemente, de espaço. Graças à audição, o bebê estabelece, desde a vida fetal, sua primeira ligação com o meio ambiente externo por seu universo líquido de proteção e nutrição. A mitologia, a filosofia e a psicanálise mostram, em trabalhos experimentais, que o espaço sonoro é o primeiro


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espaço psíquico, antes mesmo do gesto e da mímica. A voz sobressai do ruído de fundo intrauterino. A criança recebe, por transmissão óssea, parte do espectro da voz da mãe. Essa voz poderia não apenas ser ouvida mas reconhecida entre outras devido à percepção do ritmo e da entonação. “É o ouvido, quando percebe as diferentes frequências sonoras, que constrói a noção de espaço no ser humano, e não o olho, ao contrário do que se tem afirmado até agora.1”

Para além da construção do espaço, o tempo, ou melhor, os horários de registro foram pontos importantíssimos nessa pesquisa devido ao ritmo biológico da fauna e da flora locais e a seus comportamentos, como, por exemplo, 1. Iegor Resznikoff, L’universelle a sonoridade ao amanhecer dos pássaros harmonie: trois etudes sur l’antropologie caçando insetos, entre o entardecer e as et la consonance. Comunicação primeiras horas da noite com a sinfonia apresentada no ICMS-4 (Fouth International Congress on Musical de sapos coaxando, a aparente calma ao Signification). Paris, 13 de outubro meio‑dia devido ao calor – porém é a hora de 1994.


de certos insetos eclodirem e apresentarem seu canto, como as cigarras – ou ainda o som de mamíferos e outros animais de pequeno e médio portes caçando de madrugada. Os aspectos geomorfológicos dos locais também são cruciais, devido a suas características de absorção e difusão acústicas – como paredões rochosos e cavernas, e a vegetação densa ou rarefeita – influenciando na filtragem dos 2. Na música, acusmática é definida sons, e variando intensamente a presença como a música feita a partir de sons do vento nos locais e, consequentemente, cujo sistema de produção não se vê, a paisagem sonora imediata. diferente de um concerto, em que vemos os intérpretes e seus instrumentos sendo executados. O termo foi inspirado nos acusmáticos – akousmatikói, em grego –, os assim denominados discípulos de Pitágoras, que ouviam o mestre, mas não o viam, ou viam somente sua sombra, pois este se escondia atrás de biombos para incutir concentração extrema nas palavras, pois as anotações não eram permitidas. O rádio é um exemplo

A singularidade sonora de locais como o Vale do Catimbau é inestimável para o estudo das paisagens sonoras, pois o Parque é um templo de silêncio – locais com pouca ou quase nenhuma influência sonora humana –, um local de uma altíssima fidelidade de escuta acusmática 2.

moderno clássico de aparelho acusmático.

pesquisa & mapeamento sonoro do vale do catimbau

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Sonoramente apresentando uma riqueza extraordinária de pesquisa, o Parque tem características e marcos sonoros absurdamente distintos dos das cidades, em particular os das cidades grandes. As singularidades da flora e da geomorfologia do Parque, e principalmente toda a fauna associada a ele, tanto os pássaros e os insetos quanto a fauna subaquática dos caldeirões que se formam em todo o parque – o parque é conhecido como um manancial de águas devido a sua alta umidade e vegetação, na fronteira entre o agreste e o sertão do Estado – foram pontos importantíssimos nessa pesquisa. O Parque Nacional da Serra do Catimbau, considerado um local dentre os mais importantes de preservação ambiental no Estado de Pernambuco e do Brasil, segue nos arrebatando e revelando o invisível e o inaudível. [“O objetivo poético é chegar ao desconhecido, escrutar o invisível, ouvir o inaudível.” Arthur Rimbaud]

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Concepção, criação, pesquisa, desenvolvimento e construção

Thelmo Cristovam Edição de imagens/vídeo

Adalberto Oliveira Imagens/vídeo/fotografia

Dani Azevedo Site

Zé Diniz Design gráfico

Zzui Ferreira Agradecimentos

A Márcio e à Associação de Guias do Vale do Catimbau, à população da Vila do Catimbau e arredores, e aos Kapinawá.

www.thelmocristovam.net/catimbau

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Publicação experimental que aproxima o processo artístico ao movimento contínuo das águas São Paulo/SP e Florianópolis/SC Julho de 2013


This is an experimental printed publication proposed by Claudia Zimmer and Raquel Stolf. It was developed with the participation of eleven artists: Claudia Zimmer, Fabio Morais, Fabíola Scaranto, Felipe Prando, Gustavo Torrezan, Helder Martinovsky, Joana Corona, Katia

PLUVIAL FLUVIAL, uma Prates, Maria Ivone dos Santos, Mariana Silva da Silva and Raquel Stolf; the graphic design was prepared publicação experimental by Anna Stolf. The publication is composed of eleven impressa proposta por chips-flyers, in which each artist thought and built its Claudia Zimmer e Raquel four pages. PLUVIAL FLUVIAL also involves a booklet Stolf, foi desenvolvida com with a text conversation between the proponents and a participação de onze the material was wrapped inside a box. The publication artistas: Claudia Zimmer, also has the support of Editora da Casa (Florianópolis) Fabio Morais, Fabíola and Olho-ilha stamp, by Claudia Zimmer and Céu Scaranto, Felipe Prando, da Boca stamp, by Raquel Stolf. Gustavo Torrezan, Helder Martinovsky, Joana Corona, Katia Prates, Maria Ivone dos Santos, Mariana Silva da Silva e Raquel Stolf; seu projeto gráfico foi elaborado por Anna Stolf. A publicação foi pensada como articuladora de um fluxo incessante em que é possível (des)construir ou (re)construir narrativas ou imagens, da mesma forma que solicita tempos heterogêneos de observação e escuta. Composta por onze fichas-folheto, em que cada artista pensou e construiu suas quatro páginas, PLUVIAL FLUVIAL envolve ainda um livreto com um texto‑conversa entre as propositoras e todo esse material foi disposto dentro de uma caixa. A publicação conta também com o apoio da Editora da Casa (Florianópolis) e dos selos Olho-Ilha, de Claudia Zimmer e Céu da Boca, de Raquel Stolf. O movimento (des)contínuo das águas foi um dos pressupostos para pensarmos o título, considerando a quase (con)fusão que os termos PLUVIAL FLUVIAL podem desencadear. Dessa forma, a sonoridade foi um fator determinante na posição


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das palavras, embora tal (con)fusão traga, em seu cerne, um vice-versa que as tornam coimplicadas. A disposição no título de Pluvial acima e Fluvial abaixo põe em discussão a noção mais simples que se tem de paisagem – pluvial/céu e fluvial/ terra e, entre eles, sutilmente delineada, a linha do horizonte. Paralelamente, (onde) um horizonte se move? Uma paisagem se move? Como um intervalo, um sulco mínimo, uma fissura? A transitoriedade e simultaneidade do movimento das águas parece aproximar‑se também ao que acontece no processo de um artista – esse fluxo denso que ora se impõe e ora escapa. Pensar um processo como fluxo suscita uma vertigem e uma concretude do pensamento artístico. E a tentativa de agarrar a água, seja sobre ou sob um processo, talvez seja algo impossível. No entanto, ao mesmo tempo, essa tentativa parece implicar a existência de um motor incessante em rede. Além das reflexões anteriores, outros pontos foram catalisadores iniciais do projeto. Um deles consiste em pensarmos no que pode vir a ser a paisagem. A partir de uma série de questionamentos, pontua-se que talvez ela seja a relação que estabelecemos com o lugar. Esse lugar é saturado de pequenos atos requintados (Michel Serres), acontecendo


simultaneamente – a chuva cai ao mesmo tempo em que o rio percorre seu curso. Ao percebermos nisso algo que nos instigue, travamos uma relação. Dialogando com essa reflexão, Javier Maderuelo (2006) pontua que a paisagem não existe sem interpretação, pois ela é um conceito inventado a partir de sensações, ideias e sentimentos que advêm de nossa conexão com o lugar. Dessa forma, o projeto gráfico foi elaborado cuidadosamente levando todos esses pontos em consideração – os deslizamentos de uma paisagem impressa, de uma paisagem escrita, onde um texto pode ser tanto um sedimento carregado como algo que arrasta, como uma imagem parece nunca se fixar, mas nos agarrar. Quais são as relações possíveis entre rios, nuvens e livros?

pluvial fluvial

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Concepção, organização

Projeto gráfico

Claudia Zimmer Raquel Stolf

Anna Paula Stolf

Artistas participantes

Miguel Augusto Carneiro Pinto Ribeiro Cristiano dos Passos

Claudia Zimmer Fabio Morais Fabíola Scaranto Felipe Prando Gustavo Torrezan Helder Martinovsky Joana Corona Katia Prates Maria Ivone dos Santos Mariana Silva da Silva Raquel Stolf

Revisão e tradução

Produção

Monique Beneval de Souza Edição

Editora da Casa, Olho-ilha e Céu da Boca Impressão

Impressora Mayer

pluvialfluvial@gmail.com


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Publicação experimental relacionada às práticas artísticas de análise crítica, circulação e dispersão de ideias Curitiba/PR, Garanhuns/PE, Recife/PE e São Paulo/SP Julho de 2013


Recebo a recibo. Preciso girá-la antes de abrir e avaliar seus valores. Os espaços vazados que envolvem seus conteúdos me oferecem uma nova imagem todas as vezes que avanço em sua leitura, leitura manual, manual sem orientações, manual para perder os sentidos. Os espaços vazados se repetem em todas as páginas, eles são a pauta editorial, a política sensorial, a possibilidade de multiplicação de imagens, já que cada página da Recibo pode-se desdobrar em uma nova todas as vezes que é posta sobre outra, deixando-nos entrever no vazio retangular a próxima textura, a próxima cor, a linha que vem. Recibo é revista inacabada, cujo movimento é condição primordial de leitura, mas isso não é novidade. Já deve fazer mais de uma década que as revistas, que podemos denominar como tradicionais – essas de grandes tiragens que, no Brasil, organizam-se quase unicamente sob o comando de uma única editora – investem nas plataformas interativas, nos aplicativos que levam a leitura para ponta dos dedos, abrindo canais de diálogo e promovendo uma (pseudo) personalização do conteúdo, tudo isso na esteira da tão aclamada ideia de convergência de mídias. Recibo (thirteenth number, year eleven) is a special Mesmo as páginas impressas edition that integrates Recibo 10 anos project já haviam incorporado tudo completed in 2012. With this publishing project que colhe por aí, na rede. of Recibo, we got this edition offering more editorial Contudo, as interpelações and curatorial experimentation, publishing projects das revistas em relação of actions related to artistic practices of critical aos leitores e, principalmente, analysis, circulation and dispersion of ideas.

Edited by Traplev and por um acaso (design duo Diogo Damasio and Diego Ribeiro), this receipt rethinks its editing, its modes of invitations and re-contextualizes the goal in publishing a new format with loose pages.


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as possibilidades de respostas destes são as mesmas, sempre. E será que não é demasiado forçoso abordar a Recibo a partir de uma observação da revista como mídia de massa? O caso é que a Recibo tão pouco me parece uma obra de arte, estou certa apenas que ela é suporte, e de que é revista... Será? A investida em relação à ideia de obra fechada e acabada também não é recente. Quando vejo os números anteriores da Recibo, sua predileção pela linguagem escrita das palavras, pelas palavras como potencias de imagem e de sonoridade, sua vinculação ao concretismo já era bastante clara na composição de suas páginas. Recibo Caixa Box investe agora no formato, não apenas um passo adiante na abertura do que entendemos como revista e como obra, ela é mesmo uma derrapada, um escorregão,

recibo – 10 anos

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TRapLE<! Recibo caiu no vazio do vazado, esparramou e se abriu às múltiplas possibilidades de leitura, assumindo seu leitor como compositor, como criador de novas imagens sem medo de perder a capacidade de direcionar o entendimento ou a leitura ou garantir qualquer sentido que seja. Revista como suporte, como abertura, como processo. Mais do que queda ou ascensão, trata-se de uma fuga. Recibo escapa quadro para parar na parede descascada, pendurada por pregos enferrujados. Recibo escapa adesivo para ver a cidade passar e para que a cidade a veja como revista colada em algum para-brisa. Contudo, aí já não vai ser mais revista, e que diferença faz? A arte impressa


da Recibo Caixa Box parece mais preocupada em andar por caminhos desconhecidos e, se às vezes se deixa entrever apenas quando colocada contra a luz, é porque, logo em seguida, ela pode-te oferecer a imagem de teu próprio rosto, como lago prateado e narcísico, que não vai te poupar dos espaços vazados de tua própria imagem, vazios apenas à primeira vista. O vazio na Recibo é o vislumbre do novo, é a imagem que vem, e que se anuncia desde já para transformar a imagem presente. Afogue-se.

recibo – 10 anos

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Projeto editorial e editor geral da Recibo

Traplev Produção

Diogo Silva (São Paulo) e Traplev Orçamentos (Recife) Projeto gráfico

Por um acaso (Diego Ribeiro e Diogo Damasio) Revisão e leitura do editorial e artigo crítico

Cíntia Guedes Artistas convidados

Amer Moussa, Cristiano Lenhardt, Debora Bolsoni, Daniel Scandurra, Estúdio Quadradão, Fernando Lindote, Jorge Menna Barreto, João Modé, Laura Erber e Marcela Aquila.

www.issuu.com/recibo


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Site specific do artista Jayme Fygura, construído no Centro Histórico de Salvador/BA Salvador/BA Junho de 2013


Jayme Fygura is high-voltage art, over thirty years he does not show his face in public. His presence is a radical action; wherever he is he uses multiple typical supports to the visual arts, in addition to composing and singing. Here is his tomb, a site

Jayme Fygura é arte specific that is a parallel universe built inside a house of the historic center of Salvador. que provoca choques tectônicos por onde passa, abrindo fissuras no psiquismo humano e social. Inebriado pelo fogo fátuo abissal, verte sua lava artística de caráter fundamentalmente religioso. Religação com as profundezas da escuridão, que ilumina seu caminho. Transita entre os mais diferentes suportes nas artes visuais, além de compor e interpretar poesias musicadas, realizar performances e ter suas ações urbanas amalgamadas em seu cotidiano. A indistinção entre arte e vida é a realidade deste ser. Sua carne é forjada em décadas de batalhas constantes pelas vielas de Salvador, capital barroca dos antagonismos tropicais. De inteligência corporal ímpar, adapta o ferro sobre sua estrutura para se proteger dos ataques diários, sejam das pedras ou dos olhares carregados de indignação e ódio. Sua arte é mais afiada do que a faca que traz cruzada no peito, arma simbólica contra a sociedade que o moldou. A afirmação e sustentação do direito à diferença o faz um guerreiro da arte-política. Seja na micropolítica do cotidiano, em sua errância pelas ruas, ou em sua participação direta nas rodas aristocráticas da alta política soteropolitana.


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Apresentamos o site specific Sarcófago, uma instalação construída pelas mãos do artista, nas entranhas de uma casa do Centro Histórico da capital baiana. Obra crua, carregada de um primitivismo seminal, uma imersão no universo desse faraó do inframundo. Francilins curador


sarcófago – site specific

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nasci jaime andrade almeida filho de cruz das almas ba cheguei em salvador com cinco anos de idade vivíamos bem minha mãe e meu pai eram analfabetos mas todos dois de conceição do almeida interior da bahia meu pai trabalhava na marinha mercante coligada com a petrobras trabalhava nas máquinas dos navios cargueiros quando ele chegava de viagem trazia várias caixas grandes cheias de queijo suíço vinho pães importados defumados castanha do pará rum e outras delícias vivíamos muito bem até que um certo dia meu pai que já está morto que deus o tenha em bom lugar saímos do apartamento que morávamos e com o dinheiro da indenização da marinha mercante só deu para comprar uma casa na fazenda grande do retiro e foi neste lugar que eu me criei foi neste lugar que a miséria reinou em nosso lar com minha mãe analfabeta e meus irmãos com pouca sabedoria minha adolescência foi terrível minha maturidade também entre a inveja e o despeito sobre tudo que eu fazia tanto dentro de casa como nas ruas meu jeito de ser chamava muita atenção da comunidade também analfabeta da favela da fazenda grande do retiro só que tinha uma coisa muito interessante eu vivia criando coisas como brinquedos com latas com paus com vários objetos


que eu achava aí chegaram as escolas onde eu tinha pavor e medo só sentava no fundo da sala de aula para o professor não me ver mas era fatal por mais que eu me escondesse eu sempre era o alvo só dava merda nas matérias matemática português ciência história geografia mas só tinha uma única matéria que ninguém fazia melhor do que eu desenho do desenho técnico ao desenho artístico eu era o melhor na época só passava arrastado todo ano com dez em desenho e dez em comportamento o resto não quero nem falar daí então fui servir o exército brasileiro durante dois longos anos graças a deus consegui sair com honra ao mérito e fui enfrentar a sociedade podre fui imediatamente em direção às gráficas foi aí que eu desenvolvi meu talento natural com meus desenhos antes dos computadores chegarem eu mandava ver comprei carro dinheiro no banco garotas danceterias e muito rum até que chegou um político corrupto com seu plano econômico que fudeu com minha vida foi aí que eu me retei rasguei paletós calças e a população começou a me apedrejar me chamando de maluco depois de anos de pedradas fui obrigado a trocar as roupas rasgadas por roupas blindadas chegaram ao ponto de segurarem meus braços e quebraram quatro dentes encheram de hematomas meu rosto que as garotas amavam no terceiro dia após o crime passei a usar a máscara de ferro completando assim a imagem de exú sete facadas Jayme Fygura

sarcófago – site specific

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Projeto e execução da obra

Jayme Fygura Curadoria e documentação

Francilins

www.curtaosarcofago.blogspot.com.br

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Seminário em torno da fotografia e suas hibridações com outras linguagens Londrina/PR Abril de 2013

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The Seminar brought together exponents of imagistic and thinking productions around photography, discussing hybridizations of the photographic language and its tentacles as the social and artistic impacts of image impregnation in everyday life.

CONVERGÊNCIAS DA IMAGEM E DA IMAGINAÇÃO

The result of the vertical “oversupply” of images and cultural goods, alongside the emergence of the cyber

environment, coupled with the new terms of portability O seminário Campo and affordability in capturing, broadcasting, publishing expandido: a convergência and information from them. The repercussions das imagens reuniu, em of this scenario between artists, researchers, curators Londrina, um excelente and critics were widely debated during the workshop, grupo de expositores com pointing paths, new directions and open issues. muito a dizer e mostrar. Tivemos a possibilidade de discutir a produção contemporânea e concentrar reflexões na linguagem, em suas características digitais, em suas hibridações e na convergência entre os meios das imagens.

Foram essenciais as reflexões de Lúcia Santaella na conferência O quarto paradigma da imagem ou paradigma convergente. Ela considerou a dificuldade de categorizações e classificações para os fenômenos atuais que envolvem a arte, a cultura e os meios de captação, edição, difusão, recepção, troca e compartilhamentos, que colocam tendências plurais. Santaella traçou-nos uma rigorosa linha de raciocínio, localizando quatro paradigmas – o pré‑fotográfico, que trata dos processos artesanais de composição de imagens, o fotográfico, que passou a captar e trazer os traços do objeto focado, o pós-fotográfico, em que a imagem é produzida por programadores, e o que chama de quarto paradigma, que compreende a hibridação da fotografia e da videografia, os constantes acasalamentos das imagens e sua penetração no cotidiano. Absorver,


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compartilhar e transformar são movimentos do quarto paradigma. Mauricio Lissovsky proferiu a conferência Fotografia e seus duplos: um quadro na parede, focada nas relações entre imagem e história, abordando as tecnologias da comunicação e a estética fotográfica. Considerando que a fotografia nos revela novos caminhos, ponderou que a arte da fotografia emergiu à medida que, na pluralização da imagem, declinou seu sentido prático, seu lugar privilegiado nas representações. A era da reprodutibilidade técnica foi seguida pela era da simulação numérica, considerou Lissovsky; as fotografias sacrificaram seu corpo para que a produção e a reprodução da imagem pudessem existir socializadas no cotidiano, tornando-se as próprias imagens, avatares, incorporações, promessas de corpo. Um panorama contemporâneo foi apresentado por Eder Chiodetto na terceira conferência, Fotografia: movendo fronteiras a golpes de luz. Eder apresentou um conjunto de trabalhos que chamam sua atenção. Fez justiça a seu ofício de pesquisador, curador e crítico, referenciando-nos com sensibilidade e inteligência.


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As três mesas redondas reuniram experiências diversas com a fotografia. Giselle Beiguelman ponderou sobre as novas sinestesias entre os dispositivos, os meios, as pessoas e seus sentidos. Ronaldo Entler disse que a imagem fotográfica não se define apenas em sua codificação técnica, mas pelos procedimentos de produção e por seus diálogos com a tradição e com os ambientes críticos e transformadores. Rosângela Rennó apresentou-nos as novas apropriações com materiais fotográficos descartados que fez deles, em favor da redenção de pessoas e da recuperação de traços históricos, em uma criação que lembra a prédica de Walter Benjamin de que nada deve ser considerado perdido ou historicamente desimportante. Rogério Ghomes propôs uma nova sensibilidade para memória, saudade, narratividade e potência da imagem. Apresentou suas criações, apontando roteiros para sutilezas nas quais as imagens criam sinapses entre nossos olhos e nosso espírito. Juliana Monachesi


abordou a imagem desmaterializada; da imagem com um referente no real para aquela fictícia e digitalmente construída, com seus impactos na cultura. Abordou a remediação, ou mútua influência dessas tecnologias em prol das abstrações da imagem. Rubens Fernandes Jr. e Claudia Jaguaribe, ao tratarem sobre fotografia expandida, resgataram o papel dos criadores, de seus processos e de seus questionamentos como elementos diferenciais. Sentimos o seminário como uma contribuição em amplo sentido, pela atualidade da problemática, pela exploração conceitual, pelas vivências criativas que se entrecruzaram e pelo debate profícuo. Sentimos a convergência e expansão ganharem sentidos, campos e sujeitos da ação cultural.

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Palestrantes

Coordenação geral do Projeto

Rogerio Ghomes Produtor executivo do projeto

Alex Lima Assessor de imprensa e coordenador editorial

Valdir Grandini Alvares Designer gráfico

Uriá Fassina Equipe Filmes do Leste

Guilherme Gerais – videomaker Fabio Oliveira – editor de imagens Felipe Oliveira – vídeomaker Lis Sayuri – fotografia

Claudia Jaguaribe – artista (Galeria Baró) Giselle Beiguelman – artista-pesquisador (FAUUSP) Rogerio Ghomes – artista-pesquisador (UEL-PUC SP – Galeria Ybakatu) Rosângela Rennó – artista (Galeria Vermelho) Eder Chiodetto – curador (curador de Fotografia do MAM SP) Juliana Monachesi – curador (Harppers Bazar) Rubens Fernandes Jr – curador-pesquisador (Coleção Pirelli/MASP – FAAP) Lucia Santaella – pesquisadora (PUC SP) Mauricio Lissovsky – pesquisador (ECO UFRJ) Ronaldo Entler – critico-pesquisador (FAAP)

campoexpandido.com

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Residência artística dedicada a questões de interseção entre os campos das artes visuais e arquitetura Liberdade/MG ABRIL A JULHO DE 2013


Habitat foi um projeto de encontros. O convite inicial partiu do programa de residências da ecovila Terra UNA para um grupo de artistas, arquitetos e alguns moradores da própria ecovila trabalharem coletivamente, desenvolvendo propostas livres para localidades rurais de Soberbo, Quirinos e Augusto Pestana, bairros do município de Liberdade, MG, na Área de Proteção Ambiental da Serra da Mantiqueira, onde a ecovila está localizada. O encontro entre os artistas Maíra das Neves, Daniel Murgel e Claudia Washington, os arquitetos Aline Couri, Breno Silva e Wellington Cançado, os moradores Antônio Evaristo, Diogo Alvin, John Hardin e Luciane Lima, juntos à equipe formada por Beatriz Lemos, Kadija de Paula, Márcia Peixoto e Nadam Guerra, marcou o primeiro de vários encontros especiais – profissionais de diferentes universos de conhecimento e práticas reunidos em uma imersão de uma semana em Terra UNA para o desenho coletivo do que seria este projeto. O que realmente vale a pena? Falamos de desejos de mundo, para além dos campos de trabalho, e a vontade de sermos estopim, fagulha para futuros sonhos. Muitas questões surgiram desse primeiro encontro e que foram a base de todo o processo ao longo dos três meses do projeto Habitat, que teve inicio em abril e se concluiu em julho Habitat was a project of immersion meetings between de 2013. Como entender artists, architects and residents of the ecovillage Terra a zona rural em relação UNA and rural localities Soberbo, Quirinos and Augusto a ritmo, tempo e códigos? Pestana – in the Environmental Protection Area of Serra O que, de fato, é um trabalho da Mantiqueira where the ecovillage is located. From colaborativo? Qual seria April to July, 2013, these professionals materialized o tempo ideal das coisas? collaborative proposals which Habitat was intended to be the beginning of the exchange network of food and local products of Soberbo, Campeonato de Futebol das Montanhas Mágicas in Quirinos, and the opening party of Cine Pestana, the little church of Augusto Pestana.


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Comunidade, o que vem a ser como conceito? Arte + arquitetura + sustentabilidade: como promover essa simbiose? Como projetar a ocupação poética de um espaço/local? E, a partir das dúvidas, pensamentos foram abertos ao grupo – proposições podem não se configurar como soluções finais, o empoderamento comunitário é o foco e a justificativa de nossas ações. Da imersão de questões na qual nos colocamos como intento de aporte ao argumento conceitual do projeto, partimos para o segundo encontro especial do Habitat – os moradores que abraçaram nosso desejo de presença nessas localidades e deram as diretrizes dos diálogos e das propostas realizadas. terra una – habitat

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Rede de trocas de alimentos de produtos locais em Soberbo, Campeonato de Futebol das Montanhas Mágicas em Quirinos, a abertura do Cine Pestana para crianças na Igrejinha de Augusto Pestana e uma festa julina que reuniu mais de 100 pessoas da região formam a materialização das propostas colaborativas das quais o Habitat se pretendia; contudo, não há nenhum ineditismo local aqui. As comunidades já as praticavam há tempos, cada qual a sua maneira, talvez não pensadas em grupo, mas já eram entendidas como chaves de convivência entre moradores e vizinhos. Dessa forma, ideias, processos, produções, atividades, contatos e conversas se deram de maneira fluida e natural. O projeto Habitat apenas instigou a região com sugestões de reativação de práticas e modos de fazer; os laços relacionais tecidos até aqui, de amizade, admiração e companheirismo, são a resposta para a primeira pergunta desse texto – o que realmente vale a pena?

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Organização/equipe

Nadam Guerra (José C. Guerra Damasceno) – coordenação geral Beatriz Lemos – curadoria Kadija de Paula – coordenação de produção Márcia Peixoto – produção local Juliana Sicuro – pesquisa Participantes

Antônio Evaristo de Mendonça (Lili), John Harding, Luciane Lima – moradores de Terra UNA Aline Couri, Breno Silva e Wellington Cançado – arquitetos Claudia Washington, Daniel Murgel e Maíra das Neves – artistas Imagens extras

Janice Martins Appel, Juliana Wähner, Nina la Croix e Pedro Victor Brandão Agradecemos a todos os moradores dos bairros de Soberbo, Quirinos e Augusto Pestana.

www.terrauna.org.br/habitat

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um Sobral : e at Divino M ue 13  q e X 3-20 191 Ciclo de palestras realizado em comemoração ao centenário de criação do ready-made por Marcel Duchamp Goiânia/GO Junho de 2013


Há um século, o artista francês Marcel Duchamp (1887‑1968) criou o ready-made, que consistiu na negação da obra segundo as categorias tradicionais e em sua substituição pelo produto industrial apropriado, subtraído de sua função, anônimo, indiferente ao gosto pessoal, alheio aos estilos artísticos, sem nenhum atrativo ou valor estético. O primeiro ready‑made, a Roda de Bicicleta (1913), resultou do acoplamento de objetos com funções opostas – uma roda de bicicleta encaixada sobre um banco de madeira. Carregado de iconoclastia, humor e ironia, agiu como desmistificador de valores consagrados e instalou, na História da Arte, a dúvida sobre o conceito de autoria e sobre o que é ou não é arte, deslocou a atenção do objeto físico para o conceito, os atores e o circuito de legitimação, valoração e institucionalização da arte. O ready‑made apontou para a superação de questões intrínsecas ao modernismo, expôs a gravidade da crise do paradigma artístico ocidental. Marcel Duchamp se retirou do meio oficial de arte e se tornou jogador de xadrez. Xeque-mate! O ready-made esperou o encerramento do ciclo histórico do modernismo para ser absorvido. A partir dos anos 1960, o alcance da atitude de Accomplished in Goiânia, the lecture series celebrated Duchamp foi entendido the centenary of the ready-made by Marcel Duchamp e refizeram-se os padrões da in five meetings, which discussed his connection with arte, desdobrando o conceito the production of contemporary artists that work with do ready-made para além do campo original da antiarte, em appropriation. Tadeu Chiarelli approached the use of images of the second generation; Ge Orthof discussed busca de um novo território about relations between Duchamp and his work; Moacir de expansão artística. dos Anjos presented the work of Jac Leirner; Carlos Sena approached the relation between art, consumption, advertising and cultural industry; Felipe Scovino established dialogues between ready-made and works by Brazilian artists, considering circuit, irony and cynicism.


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A apropriação inaugurou um modo diferente de fazer arte, aberto e permeável aos fluxos da vida, sem a pretensão de estar elevada acima do espectador. A obra contemporânea produzida por meio da apropriação insiste em manter sua presença repleta de estranheza, por ser, em um sentido, próxima e reconhecível do mundo do espectador, e, em outro, ser agente provocador de incômodos e desestruturador dos princípios de ordem material, simbólica e comportamental que regem esse mesmo mundo. A linguagem apropriadora delibera sobre a ordem do cotidiano, instaurando desvios de natureza funcional, plástica e conceitual, dilatando os campos de relacionamento da arte culta com o universo de mensagens e de objetos banais e descartáveis, produzidos para uma cultura de massa ávida por consumo. A obra surge contaminada com matérias visuais comuns e, dessa forma, provoca estranhamento e perturbação no paradigma ortodoxo da arte, provocando o questionamento público carregado de espanto – mas isso é arte?. Atravessar a indagação exige o aprofundamento na experiência crítica que a obra engendra.

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O ciclo de palestras Xeque-mate: um século do ready‑made (1913-2013) comemorou o centenário do ready-made promovendo cinco encontros para refletir, revisar, criticar, discutir e debater temas de grande relevância que surgem do próprio questionamento provocado pela obra singular de Duchamp e de sua ligação com a produção de artistas contemporâneos que trabalham com a prática da apropriação.


Tadeu Chiarelli abordou o uso de imagens de segunda geração na arte brasileira e destacou a importância do tema imagens ready-made para sua própria trajetória de curador. Gê Orthof discutiu as relações entre Duchamp e sua obra, que transita entre a produção de objetos, instalações e performances. Moacir dos Anjos apresentou a obra de Jac Leirner a partir da experiência de curadoria da exposição da artista realizada na Estação Pinacoteca do Estado de São Paulo, em 2011. Carlos Sena abordou as relações entre arte e consumo, a importância da estética da publicidade e da indústria cultural na produção de artistas nacionais e locais. Felipe Scovino estabeleceu diálogos entre o ready‑made e a apropriação praticada por artistas brasileiros, considerando questões como circuito, ironia e cinismo.

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Projeto e coordenação geral

Divino Sobral Palestrantes

Carlos Sena, Felipe Scovino, Gê Orthof, Moacir dos Anjos, Tadeu Chiarelli Produção

Tramela Produção de Arte e CCUFG Assessoria de imprensa

Tramela Produção de Arte Assessoria técnica e registro fotográfico

Helô Sanvoy Registro videográfico

Thiago Lemos

www.readymadexequemate.blogspot.com.br

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For a gra m rea li tu con itas, zadas f e nes exp erênc ntre t s i osi as, em a ed iç ç i ná wor m ão õ r io ksh es, m esas 58 s a o per , d o for ps, re stras e deb pales ções m si t ra a pro de s, v íd tes, dut ances dênc ias eo, os ep e s a com ite ubl o spe r tísti ficin ic a o c as, c çõ e c a s e tálog ific, q as, x pe u o r im s, l iv e ger ar ro ent ais s, we am . bsi tes

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Com 20 projetos contemplados nesta 3ª edição, o Conexão Artes Visuais reuniu um público direto de 31.619 pessoas e um público indireto de mais de 200.000 pessoas.


300 s, ore d a r s , cu outro s s o a ic e cr ít tores volv id , s ta du en r tis s, pro eram a a re iv Ent cial ist s, est as. i e esp ssiona pesso 0 fi pro de 30 is ma

31 instituições em todo o país foram parceiras dos projetos.


Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Conexão Artes Visuais (3. : 2013). Conexão Artes Visuais / Ana Paula Santos (Coord.); Flávia Junqueira, Isabella Schmidt (Colab.) . – Rio de Janeiro : FUNARTE, 2013. 184p.

Catálogo do Programa.

ISBN 978-85-7507-157-1

1. Artes – Brasil. 2. Artes – Brasil (Programas de incentivo). I. Santos, Ana Paula (Coord.). CDD 709.81 FUNARTE / Coordenação de Documentação e Informação

Conexão Artes Visuais MinC/Funarte/Petrobras http://www.funarte.gov.br/conexaoartesvisuais http://www.funarte.gov.br




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