Revista Xonguila Nº49

Publicação mensal • Julho/July 2022 • Ed. 49 • Ano 05 • 300 MZN • xonguila.co.mz

READY TO WORK

MUZILENE Eloquentes telas que dão voz a sentimentos Eloquent canvases that give voice to art

O Absa na promoção do emprego Absa Bank promotes employment

DONALDO SALVADOR

Em patins fomentando a unidade nacional Fostering national unity on skates

PERNOD RICARD

Marca Chivas XV inspira Nivaldo Thierry Chivas XV brand inspires Nivaldo Thierry

Fotografia: Ivan Barros

Diáspora

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Diáspora

Donaldo Salvador cruzou Moçambique, do Rovuma ao Maputo, em patins

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Patinagem para bem da unidade nacional Escrito por: Hélder Massinga

Através da patinagem, o moçambicano Donaldo Salvador, que cruzou o país do Rovuma ao Maputo num percurso de mais de 3.000 km, pretende reforçar a unidade nacional e elevar a modalidade ao mais alto nível.

Formado em Ciências do Desporto pela Faculdade de Educação Física e Desporto da Universidade Pedagógica de Maputo, Donaldo apaixonou-se pela patinagem por volta dos 18 anos de idade, mas desde cedo se assumiu como um verdadeiro fanático do desporto. Possui formação em diferentes modalidades desportivas, como, por exemplo, arbitragem em hóquei em patins, voleibol de praia e de salão. Tem igualmente conhecimentos científicos em natação, voleibol, andebol, ciclismo e atletismo. “Comecei a praticar a modalidade com mais ou menos 18 anos, na cidade de Quelimane. Desenvolvi o gosto sozinho, com um par de patins que adquiri num vizinho. Com o tempo, fui ganhando prazer, devido à influência de alguns amigos nos momentos livres, depois da escola. Mais tarde, quando Moçambique ganhou o campeonato do mundo do grupo B, eu comecei a sonhar ser um campeão nacional como eles”, declarou. Graças à sua aptidão e flexibilidade em aprender, Donaldo Salvador pratica um pouco de todas as modalidades, com muito entusiasmo. Faz patinagem em linha, patinagem artística, hóquei em patins, saltos em altura em linha, salto em comprimento em patins em linha, ciclismo, atletismo, natação, basquetebol, andebol, motorizada, drift e hipismo. Visivelmente emocionado e cheio de orgulho, Donaldo Salvador fez saber que foi o primeiro presidente da Associação de Patinagem da

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Cidade de Quelimane, e o primeiro internacional da área de patinagem em linha em Moçambique. “Tenho uma escola de patinagem que funciona na Universidade Eduardo Mondlane e sou professor de patinagem.”

Salvador promoveu a primeira maratona de patinagem em linha na cidade de Quelimane. Foram cerca de 30 km, em 2020. Impulsionou a primeira maratona de patinagem em Nampula, na Ilha de Moçambique, na província de Gaza, de Vilankulo até Phambara, e realizou a primeira prova de velocidade na cidade da Beira. Em todas as provas, houve participação de mais de 40 jovens, incluindo o júri e a equipa técnica. “Sempre pensei em fazer algo diferente no seio da patinagem em linha”, desabafou o patinador, tendo dito de seguida que, como forma de homenagear a sua madrinha Maria Tomásia Maciel, que muito fez e contribuiu para o crescimento desta modalidade em Moçambique, idealizou uma maratona inédita e gigantesca. “Percorri de patins do Conselho Autárquico de Quelimane ao Conselho Autárquico de Maputo, num percurso de cerca de 1.640 km”, proferiu orgulhosamente, acrescentando que este exercício decorreu ao longo de 22 dias, incluindo cinco dias de descanso. Este foi o primeiro recorde nacional e africano.

De Maio a Junho do ano em curso, Donaldo Salvador realizou uma outra maratona de patinagem em linha, com o intuito de criar coesão no seio do povo moçambicano. A corrida em patinagem foi iniciada na ponte da Unidade Nacional, em Cabo Delgado, extremo norte do país, a 1 de Maio, e conheceu o seu término no dia 24 de Junho, na Ponta do Ouro, província de Maputo. Logo no dia seguinte, 25 de Junho, Dia da Independência Nacional, o patinador e a sua equipa foram recebidos pelo Chefe de Estado moçambicano, Filipe Nyusi, como forma de reconhecimento da acção do jovem em prol da unidade nacional.

Fotografia: Ivan Barros

É

um apaixonado pelo desporto e nele encontrou o verdadeiro amor. Trata-se de Donaldo Salvador, de 33 anos de idade, natural da cidade de Quelimane, na província da Zambézia, no centro de Moçambique. É um dos 300 melhores patinadores do planeta – classificação obtida em 2021 na 47ª edição da Maratona BMW de Berlim de patinagem em linha. O seu amor pelos patins parece imensurável, e pretende espalhar esse bem-querer pelo país, como forma de divulgar o desporto especial e massificar a patinagem em linha.

Donaldo Salvador é um dos 300 melhores patinadores do planeta – classificação obtida em 2021 na 47ª edição da Maratona BMW de Berlim de patinagem em linha Julho/July 2022 • Ed. 49 © Revista Xonguila | 7

Fotografia: Ivan Barros

Por seu turno, Ricco Maciel Alibai, director do projecto da Maratona afirmou: “Poucos acreditaram em nós, pensavam que atravessar o país do Rovuma ao Maputo através de patinagem fosse impossível. Muitos só agora no fim deram a cara, e isso nos entristece bastante”, desabafou o dirigente desportivo. Na mesma linha de abordagem, o responsável assegurou que “o relevo, a alimentação, os hábitos e costumes, as condições da via pública, entre outros factores, constituíram um 8 | Revista Xonguila © Ed. 49 • Julho/July 2022

imenso desafio. Não obstante essas adversidades, a mensagem da unidade nacional foi passada em cada etapa do processo, desde a apresentação do plano até ao fim do percurso”, garantiu. “A mensagem passou e nós sentimos os efeitos da unidade nacional, vimos um país uno e indivisível. As pessoas dialogavam connosco nas mais variadas línguas, e nós respondíamos naquelas que conhecemos. Houve sempre um apoio total e o desejo de que aquilo chegasse a Maputo e

reportássemos todas as incidências do processo.

Em suma, foi um evento muito bonito”, defendeu Ricco Alibai.

O director do projecto da Maratona certificou ainda que “somos uma nação muito jovem em que cada dirigente aprende com o outro como indivíduo, e obviamente se sente realizado acreditando que a Federação Moçambicana de Patinagem também carrega o mesmo sentimento. Assim como

a Secretaria do Estado do Desporto, a Presidência da República, ao seu mais alto nível, ao galardoar Donaldo Salvador com a medalha de mérito desportivo. Este é um projecto transversal e vertical em termos de satisfação; o que nos agrada ainda é que há um certo consenso de que Donaldo merece este reconhecimento. Este é o projecto mais extenso que já aconteceu em Moçambique de forma contínua, e várias lições foram colhidas”, finalizou o responsável desportivo.

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Fotografia: Ivan Barros

Turismo

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Turismo

Skating for national unity Written by: Hélder Massinga

Through skating, the Mozambican Donaldo Salvador, who crossed the country from Rovuma to Maputo on a route of more than 3,000 km, wishes to strengthen national unity and raise the sport to the highest level.

H

e is passionate about sport and found true love in it. This is Donaldo Salvador, 33 years old, born in the city of Quelimane, in the province of Zambézia, in central Mozambique. He is one of the 300 best skaters on the planet – a ranking he obtained in 2021 at the 47th edition of the BMW Berlin Inline Skating Marathon. His love for rollerblading seems immeasurable, and he intends to spread this love across the country, as a way of publicizing this special sport and massifying inline skating.

Graduated in Sports Science from the Faculdade de Educação Física e Desporto da Universidade Pedagógica de Maputo (“Faculty of Physical Education and Sports of the Pedagogical University in Maputo”), Donaldo fell in love with skating around the age of 18, by then already a sports fanatic since he was young. He trained in different sports, such as refereeing in roller hockey, beach and indoor volleyball. He also has scientific knowledge about swimming, volleyball, handball, cycling and athletics. “I started practicing the sport when I was about 18 years old, in the city of Quelimane. I developed the taste on my own, with a pair of skates I bought from a neighbour. Over time, it gave me pleasure [to skate], due to the influence of some friends in my free time, after school. Later, when Mozambique won the group B world championship, I started dreaming of being a national champion like them”, he stated.

Thanks to his aptitude and flexibility in learning, Donaldo Salvador practices a little of all the modalities, with great enthusiasm. He does inline skating, figure skating, roller hockey, inline high jump, rollerblade long jump, cycling, track and field, swimming, basketball, handball, motorbike, drift and horseback riding. Visibly moved and full of pride, Donaldo Salvador made it known that he was the first president

of the Quelimane City Skating Association, and the first international inline skater in Mozambique. “I have a skating school that works out of Eduardo Mondlane University and I am a skating teacher.”

Salvador promoted the first inline skating marathon in the city of Quelimane. The route had about 30 km in 2020. He promoted the first skating marathon in Nampula, on Ilha de Moçambique (Mozambique Island), in the province of Gaza, from Vilankulo to Phambara, and held the first speed test in the city of Beira. More than 40 young people participated in all events, including the jury and the technical team. “I always thought of doing something different within inline skating”, said the skater, adding that, as a way of honouring his godmother Maria Tomásia Maciel, who did a lot for and contributed to the growth of this sport in Mozambique, he idealized an unprecedented and gigantic marathon. “I skated from the Quelimane Municipal Council to the Maputo Municipal Council, on a route of about 1,640 km”, he stated proudly, adding that this exercise took place over the course of 22 days, including five days of rest. This was the first national and African record.

From May to June this year, Donaldo Salvador held another inline skating marathon, with the aim of creating cohesion among the Mozambican people. The skating race started on the bridge of the Unidade Nacional (National Unity), in Cabo Delgado, in the far north of the country, on 1 May, and ended on 24 June, in Ponta do Ouro, Maputo province. The next day, 25 June, National Independence Day, the skater and his team were received by the Mozambican Head of State, Filipe Nyusi, in recognition of the young man's action in favour of national unity.

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There was always full support and the desire for it to reach Maputo and for us to report all the incidents of the process.

In short, it was a very beautiful event.

- Ricco Alibai.

Ricco Maciel Alibai, director of the Marathon project, said: “Few believed in us, they thought that crossing the country from Rovuma to Maputo by skating was impossible. Many are only now showing up their support, and that saddens us a lot”, said the sports director. In the same line of thought, the official stated that “the terrain, the food, habits and customs, the conditions of the public roads, among other factors, constituted an immense challenge. Despite these adversities, the message of national unity was passed on at each stage of the process, from the presentation of the travel plan through to the end of the journey”, he assured. “The message got through [to people] and we felt the effects of national unity, we saw a whole and indivisible country. People spoke to us in the most varied languages, and we responded in those we knew. There was always full support and the desire for it to reach Maputo and for us to

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report all the incidents of the process. In short, it was a very beautiful event”, remarked Ricco Alibai.

The Marathon project director also certified that “we are a very young nation in which each leader learns from the other as an individual, and obviously feels fulfilled in the belief that the Mozambican Skating Federation also shares this same feeling. And so does the Secretary of State for Sport and the Presidency of the Republic, at its highest level, by awarding Donaldo Salvador with the medal of sports merit. This is a transversal and vertical project in terms of satisfaction; what pleases us is that there is a certain consensus that Donaldo deserves this recognition. This is the most extensive project that has ever taken place in Mozambique on an ongoing basis, and several lessons have been learnt”, concluded the sports official.

Fotografia: Ivan Barros

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18 ARTE DAQUI/ ART FROM HERE

Muzilene, pincéis que desenham sentimentos Brushstrokes that paint feelings

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4 DONALDO SALVADOR Em patins por todo o Moçambique Skating across Mozambique

50 HENRIQUE LANGUANE

Uma vida sobre carris conduzindo máquinas dos CFMA A life on the rails driving CFM´s machines

30 READY TO WORK BY ABSA

82 PERNOD RICARD & NIVALDO THIERRY

40 ATELIER KAPPAUSSE

90 X-HUB

64 EXECUTIVE NAILS

96 DIÁSPORA

72 LORA BAÚLE

112 CINEMA 35MM

Aposta na promoção do emprego Supporting the promotion of employment

Espaço dedicado à cerâmica artesanal Space dedicated to artisanal ceramics

Ana Sousa, gerente, na primeira pessoa Ana Sousa, manager, in her own words

Dança do ventre Belly dancing

Marca Chivas XV inspira moda Chivas XV brand inspires fashion

Ministra da Cultura e Turismo inaugura X-Hub Minister of Culture and Tourism inaugurates X-Hub

Farha Abdula, de Paris para Maputo Farha Abdula, from Paris to Maputo

93 dias, um exemplo na reacção a um vírus mortal 93 Days, an exemplary response to a deadly virus

FICHA TÉCNICA/BIOS Propriedade/Property: Veludo & Mentol, Sociedade Unipessoal Lda • Conselho de Administração/Administrative Council: Omar Diogo, Nuno Soares, Mariano Silva • Director: Nuno Soares • Gestão de Conteúdos Editoriais/Editorial Content Management: Nuno Soares, Mariano Silva • Copy-desk (português): Fátima Ribeiro • Colunistas/Writers: Eliana Silva, Mariano Silva, Nuno Soares, Jaime Álvaro, Precidónio Silvério, Aayat Irfan • Tradução (Português-Inglês)/Translation (Portuguese-English): M. Gabriela Carrilho Aragão • Fotografia/Photography: Mariano Silva • Design de Capa/Cover Design: Nuno Azevedo • Grafismo/Visuals: Omar Diogo • Infografia e Paginação/ Infographics and Pagination: Omar Diogo • Produtores Audiovisuais/Audiovisual Producers: Nuno Lopes, Ana Piedade, Mariano Silva • Gestão de Redes Sociais/ Social Media Management: Nuno Soares • Conteúdos de Marketing e Comunicação/ Marketing and Communication Contents: Omar Diogo, Nuno Azevedo • Gestão de Homepage e Edição Online/Homepage Management and Online Editing: Omar Diogo, Jorge Oliveira • Departamento Comercial/Commercial Department: Nuno Soares - comercial@xonguila.co.mz • Impressão/Printing: Minerva Print • Distribuição/ Distribution: Flotsam Moçambique, Lda • ISSN: ISSN-0261-661 • Registo/Register: 02/Gabinfo-dec/2018 • Registo de Propriedade Industrial/ Industrial Property Registration: 35065/2017 - 35066/2017 (15/01/2018) Os artigos com assinatura reflectem a opinião dos autores e não necessariamente da revista. Toda a transcrição ou reprodução, parcial ou total, requer a autorização expressa da empresa titular da revista.

The articles reflect the authors opinion, and not necessarily the magazine opinion. All transcript or reproduction, partial or total, requires the authorization of the company that owns the magazine

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Editorial

Do Director From the Director Estimado leitor,

Dear Reader,

Chegou a metade do ano! Hora de respirar fundo, reorganizar as suas metas pessoais, reflectir sobre os meses que passaram e preparar-se para o segundo semestre. Para o ajudar a ter momentos descontraídos adquirindo algum conhecimento sobre o que vai acontecendo em Moçambique, aqui tem mais esta Xonguila, com novidades e reflexões sobretudo focadas em figuras, espaços, eventos e outras acções dos nossos meios cultural, turístico, de negócios e ambiente.

Mid-year is upon us! Time to take a deep breath, reorganize your personal goals, reflect on these past few months and prepare for the second semester. To help you have relaxing moments whilst gaining some knowledge about what is happening in Mozambique, here's another issue of Xonguila, bringing you news and insights mainly focusing on people, spaces, events and other happenings in our cultural, tourism, business and environmental sectors.

Para a edição 49, contamos com Muzilene, que partilhou connosco como a sua ousadia e pensamento fértil foram essenciais para a sua afirmação, contribuindo para importantes conquistas pessoais ao longo da sua trajectória. No que toca a empreendedorismo, está aqui presente a Executive Nails, uma empresa de estética detalhista que dispõe de um serviço premium totalmente focado na satisfação dos seus clientes. Conheça também vivências de Henrique Languane, um maquinista que trabalha nos Caminhos de Ferro de Moçambique (CFM) desde o tempo em que os comboios ainda eram movidos a carvão, e que ao longo deste período passou por momentos únicos na história da empresa. Apresentamos-lhe ainda a o atelier Kappausse, um espaço que abriu recentemente em Maputo, onde são concebidas criativas peças em cerâmica e ensinadas técnicas para o domínio desta arte. Se é fascinado por esculturas em barro e cerâmica, eis um bom local para começar a aprender.

For this 49th edition, we bring you Muzilene, who shared with us how his daring and fertile thinking were essential for him to establish himself, leading to important personal gains throughout his trajectory. When it comes to entrepreneurship, Executive Nails is a detail-oriented beauty company that offers a premium service entirely focused on the satisfaction of its clients. Get to know the lifetime experience of Henrique Languane, a machinist who worked on the Caminhos de Ferro de Moçambique (CFM) since the time when trains were still powered by coal, and who lived unique moments in the company’s history throughout his working life. We also introduce you to the Kappausse atelier, a space that recently opened in Maputo, where creative ceramic pieces are designed and techniques for mastering this art are taught. If you are fascinated by clay and ceramic sculptures, this is a good place to start learning.

Estas são apenas algumas das propostas que temos neste mais recente número do nosso magazine. Desafiamo-lo, pois, a mergulhar nas páginas que se seguem e a descobrir, por si só, os outros interessantes artigos aqui presentes.

These are just some of the offerings we have in store for you in this latest issue of our magazine.

We therefore invite you to delve into the next pages and discover, for yourself, the other interesting articles presented here.

É uma enorme satisfação tê-lo connosco. Votos de uma agradável leitura.

It is a great pleasure to have you with us. Best wishes for a pleasant read.

Nuno Soares Director Com o apoio de:

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Venha dar vida ao sonho de realizar o seu projecto

Quer tirar aquela sua ideia do papel e concretizar o seu sonho? Com a solução de Crédito do Absa para funcionários públicos isso é bastante fácil. Este é um financiamento seguro e não precisa de se preocupar com alterações da taxa de juro.

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Art from here

Muzilene as eloquentes telas que dão voz à arte

Sou designer gráfico, mas a arte pesou mais do que a formação. O que faço é design, mas não uso o computador, uso a mão. Faço design manualmente.

– Muzilene

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Fotografia: Mariano Silva

Art from here

Fotografia: Mariano Silva

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MUZILENE, AS ELOQUENTES TELAS QUE DÃO VOZ À ARTE Escrito por:

Yana de Almeida

A

terra foi a sua primeira tela. Quando criança, com a imaginação a dominar os seus pensamentos, procurou alternativas para desenhar o mundo à sua volta. Gilberto Muzilene Macane, ou simplesmente Muzilene, como é conhecido no meio artístico, foi desde pequeno intimado a viver no universo das artes. Com apenas sete anos de idade, sem tela, nem papel, usou e abusou da criatividade para se comunicar com mundo. Fazia cuidadosamente os seus desenhos na areia e, apesar da pouca idade, conseguia arrancar vários elogios, fazendo da terra um novo lugar para ser contemplado, uma galeria natural que diariamente era preenchida por diferentes desenhos repletos de expressividade.

“Tudo começou quando eu era miúdo, sempre gostei de desenhar. Comecei por desenhar na areia. Na altura, não tinha material e, por isso, fazia os meus desenhos na areia. As pessoas sempre os apreciavam, ficavam admiradas”, afirmou Muzilene. A sua inclinação para o desenho era notória. Quando fazia a sexta classe, foi classificado como um dos melhores alunos na disciplina de educação estética. Descobrindo o seu talento, um dos seus professores aconselhou-o a matricular-se na escola de artes visuais. “Quando concluí o ensino primário, entrei para a Escola Nacional de Artes Visuais, onde fiz a minha formação. Sou designer gráfico, mas a arte pesou mais do que a formação. O que faço é design, mas não uso o computador, uso a mão. Faço design manualmente”, disse alegremente.

Enquanto se formava na Escola Nacional de Artes (ENAV), Muzilene dava também os seus primeiros passos na carreira artística. Em 2000 começou a encarar a sua arte de forma mais profissional, o desenho e a pintura já dominavam o seu ser. A sua primeira obra pinta a sua memória de coloridas lembranças. Muzilene não se esquece do trabalho que o fez acreditar que estava no caminho certo. “Foi uma obra contemporânea onde usei técnica mista.

Recortei primeiro um desenho de uma revista, o desenho de uma criança chorando triste, caída no chão. Colei num quadro. Em seguida, peguei em palitos de fósforo e colei-os também na tela. Acendi os palitos. As chamas produziram um efeito bonito na tela. Desenhei um pássaro ao lado, pintei a tela e fiz um fundo meio avermelhado. Usei uma diversidade de técnicas numa única obra, e o resultado foi surpreendente”, afirmou o artista.

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De 37 anos de idade, Muzilene procura sempre formas de dar um toque diferenciado ao seu trabalho, quer através das emoções que procura transmitir, quer por meio das técnicas que ele próprio tem criado para alcançar mais expressividade. “Gosto de usar técnica mista e gosto mais ainda de fazer a fusão de diversas técnicas que eu mesmo crio”. Tal é o caso das técnicas “molhado” e batique sobre tela, esta inspirada nas técnicas de tingimento têxtil.

AS MÃOS QUE FAZEM A ARTE FALAR No início de carreira, Muzilene vendia as suas obras na rua, por intermédio de jovens revendedores que se fixavam na Praça da Independência e ao longo da cidade de Maputo. A sua ousadia e criatividade tornam-no a cada dia mais forte, colorindo a sua trajectória de importantes conquistas. Actualmente a sua inconfundível presença no Baía Mall, na cidade de Maputo, não só se adiciona ao leque de suas conquistas como também presenteia com uma dose de arte quem frequenta aquele estabelecimento comercial.

Muzilene pinta à vista de todos os que caminham pelos corredores daquele centro comercial. Pinta de tudo um pouco, contudo, o calor humano e o vai e vem das pessoas que cruzam o seu dia-a-dia no local, fizeram-no apostar mais no retrato.

“Consegui convencer a direcção do centro a apresentar-me ao vivo, algo que nenhum artista tinha feito neste local. Senti-me tentado a desenhar pessoas. Especializei-me em retratos, algo que gosto imenso de fazer, e sinto que as pessoas também gostam”, afirmou Muzilene, o artista que busca inspiração no quotidiano e apresenta a sua arte por meio de retratos, paisagens e abstracto.

A expressão e naturalidade das obras fazem o seu trabalho ir além de simples retratos, transformando-o em imagens que falam sem mesmo dizer uma única palavra. Os rostos por si desenhados intimam quem quer que seja num momento de contemplação. “O que eu faço é difícil de definir.

Não é só retrato. É retrato e mais alguma coisa.”

Há mais de vinte anos no universo artístico, Muzilene procura sempre formas de deixar a sua marca cada vez mais presente. Já participou em três exposições individuais e algumas colectivas. A sua primeira aparição aconteceu em 2012, numa colaboração com João Timane, na exposição intitulada “Despertando olhares”, que esteve patente na mediateca do BCI, em 2012. A partir daí, não mais parou. Três anos depois lançou a sua primeira exposição individual, intitulada “Hlhavutelo”, termo em changana que significa “revelação”. Após ter ficado alguns anos sem pintar regularmente e afastado das artes, decidiu retornar colocando à disposição do público uma exposição intitulada “Massungulo”, ou seja, “Recomeço”, mostrando o seu renascimento. A sua última exposição individual, “Nós e o futuro sustentável”, teve lugar em 2017. Retratava o dia-a-dia dos moçambicanos, reflectindo sobre a reutilização de matérias e objectos por meio de reciclagem para um futuro mais seguro do planeta.

E porque o céu é o limite, Muzilene quer ir longe e continuar a voar. Quer espalhar a sua arte pelos quatro cantos do mundo. “Quero lutar para desafiar o mercado internacional. Estou a fazer esforço para começar a apostar em novos mercados. Não sei como farei isso, mas acredito que a vontade de querer já é um passo”. Enquanto prepara a vigem para o futuro, Muzilene constrói o presente com bases firmes. “Quero que um dia saibam que um moçambicano, com a sua força e vontade, conseguiu atingir o mercado fora. Esse é um dos meus objectivos. Enquanto isso procuro dar o meu melhor no trabalho que faço”. Muzilene tem metas e sonhos muito bem definidos, e um sonho em especial não sai dos seus pensamentos.

“Sonho em ter uma galeria, um espaço em que as pessoas possam entrar e apreciar a minha arte, a Muzilene Arts. Este é meu maior sonho”, concluiu.

“Gosto de usar técnica mista e gosto mais ainda de fazer a fusão de diversas técnicas que eu mesmo crio” 22 | Revista Xonguila © Ed. 49 • Julho/July 2022

Fotografia: Mariano Silva

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Fotografia: Mariano Silva

Arte Daqui

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Sonho em ter uma galeria, um espaço em que as pessoas possam entrar e apreciar a minha arte, a Muzilene Arts.

Este é meu maior sonho

Fotografia: Mariano Silva

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MUZILENE, ELOQUENT CANVASES THAT GIVE VOICE TO ART Written by:

Yana de Almeida

T

he earth was his first canvas. As a child, with a fertile imagination running through his thoughts, he looked for alternatives to design the world around him. Gilberto Muzilene Macane, or simply Muzilene, as he is known in the artistic world, felt called upon to live in the world of art from an early age. At just seven years old, without a canvas or paper, he used and abused his creativity to communicate with the world. He carefully made his drawings on sand and, despite his young age, he managed to get several compliments, making the land a new place to be contemplated, a natural gallery that was renewed daily with different drawings full of expression.

“It all started when I was a kid; I always liked to draw. I started by drawing on sand. At the time, I didn't have any material, so I made my drawings directly on the sandy ground. People always appreciated them, they were amazed,” said Muzilene. His penchant for drawing was quite evident. When he was in the sixth grade, he was classified as one of the best students in art class. Discovering his talent, one of his teachers advised him to enrol in the visual arts school.

“When I finished primary school, I joined the Escola Nacional de Artes Visuais – ENAV (National School of Visual Arts), where I did my training.

I'm a graphic designer, but art weighs more than training. Design is what I do, but I don't use the

computer, I do it by hand. I design manually,” he happily stated.

While studying at ENAV, Muzilene was also taking his first steps into his artistic career. In 2000, he began to look at his art in a more professional way, since drawing and painting already lorded over his being. His first work paints his memory with colourful recollections. Muzilene does not forget the work that made him believe he was on the right path. “It was a contemporary work made with mixed media. First, I cut out a drawing from a magazine depicting a sad, crying child, lying on the floor. I glued it to a frame. Next, I took matchsticks and glued them to the canvas as well. I lit them. The flames produced a beautiful effect on the canvas. I drew a bird on the side, painted the canvas and made a reddish background. I used a variety of techniques in a single work, and the result was surprising”, said the artist.

At 37 years old, Muzilene is always looking for ways to add a memorable touch to his work, either through the emotions he seeks to convey, or through the techniques he has created to achieve more expressiveness. “I like to use mixed media and, even more than that, I like to merge several techniques that I create myself”. Such is the case of the “wet” technique and batik on canvas, the latter inspired by textile dyeing techniques.

“I managed to convince the centre’s management to paint in real time, something that no artist had done at this location.” – Muzilene Julho/July 2022 • Ed. 49 © Revista Xonguila | 27

Art from here

HANDS THAT MAKE ART SPEAK At the beginning of his career, Muzilene sold his works on the street, through young dealers stationed in Praça da Independência and across the city of Maputo. His boldness and creativity made him stronger every day, colouring his trajectory of important achievements. Currently, his unmistakable presence at the Baía Mall, in the city of Maputo, not only adds to his achievements, but also presents a dose of art to those who frequent that commercial establishment. Muzilene paints in full view of everyone who walks through the corridors of that shopping centre. He paints a little bit of everything. However, the human warmth and the comings and goings of the people who cross his life every day in that place, made him stake more on the portrait. “I managed to convince the centre’s management to paint in real time, something that no artist had done at this location. I was drawn to drawing people. I specialized in portraits, something I really enjoy doing, and I feel that people like it too”, said Muzilene, the artist who seeks inspiration in everyday life and presents his art through portraits, landscapes and abstract art. The expression and naturalness of the works make his work go beyond simple portraits, transforming them into images that speak without ever saying a single word. The faces he draws invite anyone in for a moment of contemplation. “What I do is difficult to define. It's not just a portrait. It’s a portrait and something else.

solo exhibitions and some group shows.

His first presentation took place in 2012, a collaboration with João Timane, in the exhibition entitled “Despertando olhares” (“Awakening glances”), which was shown at the BCI media library in 2012. From then on, he never stopped. Three years later, he opened his first solo exhibition, entitled “Hlhavutelo”, a term in Xichangana which means “revelation”. After going some years without painting regularly and withdrawing from the arts, he decided to return by making an exhibition entitled “Massungulo”, that is, “Recomeço” (“New beginnings”), open to the public, depicting his rebirth.

His last solo exhibition, “Nós e o futuro sustentável” (“We and the sustainable future”), took place in 2017. It portrayed the daily life of Mozambicans, reflecting on the reuse of materials and objects through recycling for a safer future of the planet.

With more than twenty years in the arts universe, Muzilene is always looking for ways to make his mark increasingly present. He has already partaken in three

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And because the sky is the limit, Muzilene wants to go far and keep flying high.

He wants to spread his art to the four corners of the world.

“I want to fight to challenge the international market. I'm making an effort to start betting on new markets. I don't know how I will do it, but I believe that the will to want is already a step”. While preparing the trip for the future, Muzilene builds the present with firm foundations. “I want people to know that one day, a Mozambican with the necessary strength and will, managed to reach the market abroad. That's one of my goals.

In the meantime, I try to do my best in the work I do.” Muzilene has very well-defined goals and dreams, and one dream in particular does not leave his thoughts. “I dream of having a gallery, a space where people can enter and enjoy my art, Muzilene Arts. That is my biggest dream.”

Fotografia: Mariano Silva

His unmistakable presence at the Baía Mall, in the city of Maputo, not only adds to his achievements, but also presents a dose of art to those who frequent that commercial establishment

Art from here

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Uma iniciativa criada pelo Grupo Absa com o objectivo de capacitar jovens dotando-os das competências necessárias para conquistarem o mercado de trabalho

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Arte Daqui

O

Ready to Work, decorrente do lema “Dar vida às possibilidades”, é um programa Pan-Africano de empoderamento e desenvolvimento que apoia a transição da vida académica para o mundo profissional. Uma iniciativa criada pelo Grupo Absa Bank com o objectivo de capacitar jovens dotando-os das competências necessárias para conquistarem o mercado de trabalho e fornecendo-lhes ferramentas de procura de emprego e criação de auto-emprego, que os ajudarão a alcançar as suas ambições.

Paralelamente, ao tornar-se signatário do Pacto Global das Nações Unidas, o Banco assumiu um compromisso público para com os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável. O programa Ready to Work, bem como outros que o Banco tem vindo a implementar, de que são exemplo o Programa de Graduados e o apoio ao Xiquitsi, são prova do alinhamento da instituição com o 4º e o 8º Objectivos de Desenvolvimento Sustentável, que consistem, respectivamente, na garantia de acesso a uma educação inclusiva, equitativa e de qualidade, e na promoção de um cresci-

mento económico sustentado, emprego pleno e produtivo e trabalho decente para todos.

Criado em 2016, o programa Ready to Work já abrangeu cerca de 9.800 jovens moçambicanos. O Absa pretende abranger cada vez mais jovens, não só contribuindo para que desenvolvam uma visão mais realista do mercado de trabalho e aprendam o que podem fazer para nele se destacarem, mas também para que melhorem a sua taxa de sucesso ao se candidatarem para oportunidades de trabalho ou ao criarem os seus próprios negócios. Este ano, duas semanas após o lançamento da campanha, o programa já contava com mais de 1.000 candidatos, o que é extremamente positivo.

A formação é transversal a todas as áreas e está subdividida em 4 módulos: competências profissionais, competências interpessoais, competências financeiras e competências empresariais. Os módulos oferecem maior visualidade do mercado de trabalho, incluindo relacionamento com pessoas, dinheiro e empreendedorismo, preparando os formandos da melhor ma-

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neira possível para encontrar oportunidades de trabalho ou até iniciar o seu próprio negócio. A formação destina-se a todos os jovens e jovens adultos moçambicanos com idades compreendidas entre os 16 e os 35 anos de idade, finalistas do ensino secundário, ensino técnico ou universitário, que queiram desenvolver competências e habilidades fundamentais para intervir no mundo profissional.

Embora forçado a lançar o programa em formato digital para fazer face às exigências impostas pela pandemia da covid-19, o Banco depressa se apercebeu das grandes vantagens deste modelo, uma vez que, comparativamente à formação presencial, permite abranger muito mais interessados, sejam eles moçambicanos de qualquer parte do país, do Rovuma ao Maputo, ou mesmo jovens moçambicanos em formação na diáspora.

O Absa tem sempre em vista fundamentar e aprofundar a sua estratégia de Cidadania centrada na juventude e no planeta apoiando iniciativas inovadoras, sustentáveis e orientadas para a criação de emprego. Ao contribuir para a promoção do co-

Arte Daqui

nhecimento, da inovação e da integração de jovens na sociedade numa lógica de igualdade de oportunidades, está a contribuir para que Moçambique encontre meios que permitam uma maior afirmação e desenvolvimento económico. Vivemos num mundo de incertezas em que a realidade económica exige preparação intelectual, criatividade e inovação, enfim, um crescente desenvolvimento de competências. É convicção do ABSA que apostar na juventude é acreditar na força da Africanicidade, lema da instituição.

marketing e comunicação, estando em paralelo e em contacto com algumas instituições no país, bem como na diáspora.

Esta é mais uma iniciativa com impacto directo na vida dos jovens, um dos factores que move o Absa. Desde a sua criação que o programa tem vindo a ser ajustado de forma a que chegue a um maior número de jovens. A expectativa é que o Ready to Work tenha mais edições e seja, por muitos anos, uma referência em Moçambique.

O programa Ready to Work, totalmente gratuito, permite aos participantes aprender desde a construção de um currículo até à preparação da sua primeira entrevista de trabalho e passos subsequentes da vida profissional. Este ano, para divulgar a abertura de inscrições para o programa, o Banco lançou uma forte campanha de

Criado em 2016, o programa Ready to Work já abrangeu cerca de 9.800 jovens moçambicanos Julho/July 2022 • Ed. 49 © Revista Xonguila | 33

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O programa Ready to Work, totalmente gratuito, permite aos participantes aprender desde a construção de um currículo até à preparação da sua primeira entrevista de trabalho e passos subsequentes da vida profissional

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Since its creation, the program has been adjusted so that it reaches a greater number of young people.

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Absa Bank's Ready to Work program Promoting skills development and employment

R

eady to Work, under the motto “Dar vida às possibilidades” (“Bringing possibilities to life”), is a Pan-African empowerment and development program that supports the transition from academic life into the professional world. An initiative of Absa Bank Group, it seeks to empower young people by providing them with the necessary skills to conquer the job market and provide them with job search and self-employment tools that will help them achieve their ambitions.

In line with this initiative, the Bank made a public commitment to the Sustainable Development Goals by becoming a signatory of the United Nations Global Compact. The Ready to Work program, as well as others that the Bank has been implementing, such as the Graduate Program and support for the classical music project Xiquitsi, are proof of the institution's alignment with the 4th and 8th Sustainable Development Goals, which consist of, respectively, ensuring access to inclusive, equitable and quality education, and promoting sustained economic growth, full and productive employment and decent work for all.

Created in 2016, the Ready to Work program has already reached around 9,800 young Mozambicans. Absa aims to continue reaching more and more young people, not only to help them develop a more realistic view of the job market and learn what they can do to excel in it, but also to improve their success rate when ap-

plying for job opportunities or setting up their own businesses. This year, two weeks after the launch of the campaign, the program already had more than 1,000 candidates, which is extremely positive.

Training traverses all areas and is subdivided into 4 modules: professional skills, interpersonal skills, financial skills and entrepreneurial skills. The modules offer greater visibility of candidates in the job market, including relationships with people, money and entrepreneurship, thus preparing trainees in the best possible way to find job opportunities or even start their own businesses. The training is aimed at Mozambican youth and young adults aged between 16 and 35 years old, high school seniors, seniors from technical colleges and universities, who want to develop fundamental skills and abilities to get ahead in the professional world.

Although forced to launch the program in digital format to meet the demands imposed by the Covid-19 pandemic, the Bank quickly realized the great advantages of this model, since, compared to faceto-face training, it enables it to reach many more interested parties, be they Mozambicans from anywhere in the country, from Rovuma to Maputo, or even young Mozambicans training in the diaspora.

Absa continually seeks to ground and deepen its Citizenship strategy cantered around youth and the planet;

it does so by supporting innovative, sustainable and job creation-oriented initiatives.

By contributing to the promotion of knowledge, innovation and the integration of young people into society, through a logic of equal opportunity, Absa is helping Mozambique to find ways that allow greater affirmation and economic development. We live in a world of uncertainty in which the economic reality demands intellectual preparation, creativity and innovation – in short, continuous skills development.

It is ABSA's conviction that investing in youth is believing in the strength of Africanacity, the institution's motto.

The Ready to Work program, which is entirely free, allows participants to learn skills ranging from building a resume through to preparing for their first job interview and subsequent steps in their professional life. This year, to publicize the opening of registrations for the program, the Bank launched a strong marketing and communications campaign, working alongside some institutions in the country, as well as in the diaspora.

This is yet another initiative with a direct impact on the lives of young people, one of the factors that drives Absa.

Since its creation, the program has been adjusted so that it reaches a greater number of young people. The expectation is that Ready to Work will have more editions and be, for many years, a reference in Mozambique.

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Carina Ubisse Capitine, fundadora, apresenta o atelier

Acredito que hoje as minhas criações são uma combinação de peças funcionais com um toque artístico 40 | Revista Xonguila © Ed. 49 • Julho/July 2022

Fotografia: Mariano Silva

Kappausse Carina Ubisse Capitine, fundadora, apresenta o atelier

A

minha jornada na cerâmica começou durante os isolamentos da pandemia. Comecei a consumir muito conteúdo online e ganhei interesse por algumas meninas que faziam cerâmica no Youtube.

Adorei a ideia de vê-las tomar café e matabichar em louça feita por elas próprias, e decidi que queria experimentar também. De início foi muito difícil ter acesso ao barro em Maputo e a quem desse aulas de cerâmica, mas após alguns meses de procura encontrei o Mapfara Sitoe, com quem comecei as aulas de cerâmica. Foi amor ao primeiro toque. Apesar de ter sido desafiador começar uma coisa totalmente nova e ter de enfrentar a insegurança que vem do não saber fazer algo como esperado, adorei tudo sobre a cerâmica logo de início! O meu interesse inicial era só fazer pratinhos e chávenas, como as meninas do Youtube que eu seguia, e possivelmente lançar um pequeno negócio online, mas felizmente o Mapfara desafiou-me a puxar mais pela minha criatividade e encontrar na cerâmica um canal para a minha expressão artística, tanto que acredito que hoje as minhas criações são uma combinação de peças funcionais com um toque artístico. À medida que crescia a minha dedicação à cerâmica, fui percebendo realmente o que quero fazer. Tem sido uma jornada muito linda poder explorar a minha criatividade e expressar diferentes lados de mim, para os quais por vezes me falta segurança nas palavras.

Já o atelier Kappausse, nasceu quando me apercebi que, tal como eu tive dificuldades no início para encontrar quem pudesse dar aulas, saber onde encontrar o barro e como queimar as peças, existiam muitas outras pessoas que também tinham interesse na arte da cerâmica, mas o acesso era muito limitado. Decidi então expandir o meu espaço e receber mais pessoas para conhecerem a magia do barro. Quem vem para as aulas de cerâmica no meu atelier encontra tudo preparado, tem apenas de aparecer e criar.

Tudo me inspira, sinto que encontro na cerâmica um veículo para auto-reflexão e expressão, o que me facilita expressar muitas coisas para as quais se calhar ainda nem tenho vocabulário falado. Apesar de ter começado a fazer cerâmica muito recentemente, acredito que tenho vivido várias fases de expressão, e cada uma motivada por diferentes factores.

Mas um denominador comum é sempre a minha interacção intelectual, sensual e até espiritual, com as diversas manifestações da energia feminina, principalmente através do corpo e da natureza. Por mais que esteja em constante (des)construção da minha expressão artística, representações do corpo feminino, da lua e do mar são elementos constantes nas minhas criações. Além disso tudo, acredito que todas as minhas criações não dependem só de mim e do que me vai na cabeça ou no coração.

Fotografia: Mariano Silva

Quem vem para as aulas de cerâmica no meu atelier encontra tudo preparado, tem apenas de aparecer e criar

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Fotografia: Mariano Silva

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Muitas vezes, o barro também me guia, e o produto final é uma criação conjunta. A minha primeira menção será sempre Reinata Sadimba, não só pelo seu trabalho na cerâmica em termos de técnica e representação de temas que também muito me interessam, como a família, a sensualidade, tradições e ancestralidades, mas também pela figura e personalidade que ela própria é, uma mulher excêntrica, que desafia padrões e se expressa além de dicotomias restritivas.

Inspira-me imenso ver as pessoas que vêm às aulas descobrir um talento novo. Receber fotos dos itens criados no atelier a ganhar vida e utilidade nas vidas e casas das pessoas que os criaram. Saber que o pequeno anexo no fundo do meu quintal se transformou num espaço onde pessoas podem reconectar-se com um lado criativo que estava adormecido ou era até mesmo desconhecido. Presenciar o despertar da criatividade.

Acho que essas tem sido as experiências mais significativas, porque eu também conheço a magia do barro, então é sempre um prazer poder partilhar esses momentos com outras pessoas.

O acesso a esta actividade é um dos maiores desafios ao crescimento da cerâmica. Apesar de ser uma prática relativamente simples (de forma muito simplificada, para a cerâmica artesanal, que é a praticada no meu atelier, só se precisa de água, terra e um forno a lenha), poucos são ainda os espaços onde se pode estar em contacto com a cerâmica. Espero que quanto mais pessoas possam ter acesso e entender a dinâmica desta manifestação, mais atelieres possam brotar na cidade e mais diversa seja a expressão da cerâmica em Moçambique. E que mais mulheres se possam juntar!

Para além da cerâmica, eu gosto muito de explorar o audiovisual e a escrita. Ainda sou um pouco crítica do que faço através desses outros meios, mas a expressão através da cerâmica tem-me ajudado a estar um pouco mais atrevida. Também gosto de usar desenhos e pinturas para facilitar conversas e reflexões em grupos sobre o corpo e a sexualidade, principalmente entre mulheres e pessoas que não se encaixem nos padrões de expressão sexual ditados pela sociedade.

Para o futuro, quero que o meu atelier cresça, e possa contribuir cada vez mais para a valorização e acessibilidade da arte em Moçambique.

Tenho interesse em expandir as aulas de cerâmica para outros públicos, trabalhar com a produção de eventos culturais, expandir o uso da arte para actividades que exploram a relação com o corpo e a sexualidade e promover encontros e reflexões sobre cultura e arte. Para mais informações, Instagram: @kappausse

“Sinto que encontro na cerâmica um veículo para auto-reflexão e expressão” Julho/July 2022 • Ed. 49 © Revista Xonguila | 45

Despite being a relatively simple practice, there are still very few spaces where you can be in contact with ceramics.

– Carina Ubisse Capitine

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Fotografia: Mariano Silva

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Kappausse Carina Ubisse Capitine, founder, presents the atelier

The Kappausse atelier, on the other hand, was born when I realized that, just as I had struggled in the beginning to find someone who could teach, to know where to find the clay and how to bake the pieces, there were many others who were also interested in the art of ceramics, but had very limited access to it. And so, I decided to expand my space and welcome more people into discovering the magic of clay. Anyone who comes to the ceramics classes in my atelier finds everything prepared; they just have to show up and create.

Everything inspires me. In ceramics, I feel that I find a vehicle for self-reflection and expression, which makes it easier for me to express many things for which I may not even have the words yet. Despite my venturing into ceramics very recently, I believe that I have lived through several phases of [artistic] expression, each one motivated by different factors. But a common denominator is always my intellectual, sensual and even spiritual interaction with the different manifestations of feminine energy, mainly through the body and nature. As much as I am in constant (de)construction of my artistic expression, representations of the female body, the moon and the sea are constant elements in my creations. In addition, I believe that all my creations do not depend solely on me and what goes on in my head or heart. Often, the clay also guides me, and the final product is a co-creation. My 48 | Revista Xonguila © Ed. 49 • Julho/July 2022

first reference will always be Reinata Sadimba, not only for her work in ceramics in terms of technique and representation of themes that also interest me a lot – such as family, sensuality, traditions and ancestry – but also for the symbol and personality that she herself is, an eccentric woman who defies standards and expresses herself beyond restrictive dichotomies.

I am immensely inspired when I see people who come to classes discover a new talent. When I receive photos of the items created in the atelier coming to life and see their usefulness in the lives and homes of the people who created them. Knowing that the small annex at the back of my backyard has turned into a space where people can reconnect with a creative side that was dormant or even unknown. Witness the awakening of creativity. I think these have been the most meaningful experiences, because I too know the magic of clay, and so it's always a pleasure to be able to share these moments with other people.

Access to this activity is one of the biggest challenges to the growth of ceramics. Despite being a relatively simple practice (on a very basic level, for artisanal ceramics – which is the one practiced in my atelier – all you need is water, earth and a woodfire oven), there are still very few spaces where you can be in contact with ceramics. I hope that, the more people can have access to and understand the dynamics of this artistic expression, the more workshops will be able to spring up in the city and the more diverse the expression of ceramics will be in Mozambique. And that more women can join the practice!

In addition to ceramics, I really enjoy exploring audio-visual [art forms] and writing. I'm still a little critical of what I do through these other mediums, but expressing myself through ceramics has helped me be a little more daring. I also like to use drawings and paintings to facilitate conversations and reflections in groups about the body and sexuality, especially among women and people who do not fit the sexual expression norms dictated by society.

In the future, I want my studio to grow and be able to contribute more and more to the appreciation and accessibility of art in Mozambique. I am interested in expanding ceramic classes to other audiences, working with the production of cultural events, expanding the use of art for activities that explore the relationship with the body and sexuality and promoting meetings and reflections on culture and art. For more information, see Instagram: @kappausse

Fotografia: Mariano Silva

M

y journey into ceramics started during the pandemic isolating restrictions. I began consuming a lot of content online and became interested in some girls who made ceramics on YouTube. I loved the idea of watching them drink coffee and eat from crockery they themselves made, and decided I wanted to try it too. At first, it was very difficult to get access to clay in Maputo, and to anyone who gave ceramics classes. But after a few months searching, I found Mapfara Sitoe, with whom I started ceramics classes. It was love at first touch. Even though it was challenging to start something completely new and face the insecurity that comes from not knowing how to make something to the expected results, I loved everything about ceramics from the start! My initial interest was just in making small plates and cups, like the girls I followed on YouTube, and possibly launching a small online business, but luckily Mapfara challenged me to push my creativity further and find, in ceramics, a channel for my artistic expression; so much so that today, I believe that my creations combine functionality with an artistic touch. As my dedication to ceramics grew, I realized what I wanted to do. It has been a very beautiful journey to be able to explore my creativity and express different sides of me, for which I sometimes lack confidence in words.

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Turismo

Se não comandasse uma locomotiva, comandaria um avião. Sempre fui apaixonado por grandes máquinas.

– Henrique Languane, ex-maquinista dos CFM 50 | Revista Xonguila © Ed. 49 • Julho/July 2022

Turismo

A vida sobre carris Álvaro

Fotografia: Mariano Silva

Escrito por: Jaime

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A vida sobre carris Escrito por:

Jaime Álvaro Henrique Languane, maquinista de 57 anos, entrou nos Caminhos de Ferro de Moçambique (CFM) no tempo em que os comboios ainda eram movidos a carvão. Efectuou inúmeras viagens ao longo dos 34 anos de carreira e descarrilou cinco vezes, tendo saído sempre ileso. Não se lembra de quando realizou a primeira viagem ao comando de uma locomotiva, mas tem memória da última, em Maio deste ano. A revista Xonguila foi a bordo do Comboio 517, aquele com que Languane tem mais afinidade, para conhecer o maquinista mais antigo dos CFM e aqui trazer a sua vida sobre trilhos.

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Fotografia: Mariano Silva

ma vida inteira dedicada ao trabalho.

Henrique José Languane era muito jovem – tinha 17 anos – quando começou a trabalhar. Acabava de concluir a sexta classe e teria sido professor se o pai, então motorista dos Caminhos de Ferro de Moçambique, não lhe tivesse arranjado uma vaga no porto de Inhambane, sua cidade natal. Entrou nos CFM como estivador, antes de se formar maquinista, e saiu da empresa 34 anos depois. A sua formação iniciou-se na Escola Ferroviária de Inhambane, em 1985. Em 1991 começou a trabalhar como maquinista de carga na Estação de Maputo, a que se seguiram diferentes estações, nas zonas Centro (Beira) e Sul (distrito de Chicualacuala, no nordeste da província de Gaza). Reformou-se como inspector de tracção, cargo que assumiu de 2011 até à sua reforma. Languane é casado e pai de três filhos.

LINHAS DE PERIGO...

O maquinista Languane é um verdadeiro sobrevivente de um filme que se repetiu em sua vida profissional por cinco vezes, sendo ele próprio o principal protagonista. Em 2004, teve o primeiro acidente, quando ia socorrer um colega que tinha o comboio avariado na Machava, província de Maputo. “Puxava uma locomotiva sem vagões, a alta velocidade, e ela descarrilou por causa das condições da linha, que estava soterrada e não me apercebi. Ao passar por aquela zona, a minha locomotiva descarrilou completamente e foi chocar com um poste. Se não fosse pelo poste, provavelmente o comboio teria capotado, e poderia ter acontecido o pior. O mais grave dos cinco acidentes envolveu vagões com passageiros a bordo. Deu-se em Chicualacuala, na zona de Mapai, em 2001. Não houve nenhum ferido grave. Os outros quatros foram descarrilamentos ligeiros”, conta Languane, que reconhece ter já

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perdido colegas que, em acidentes semelhantes, não tiveram a mesma sorte.

“A primeira dificuldade quando comecei a trabalhar estava relacionada com os vagões, que na altura não tinham freios. A segunda era com a linha férrea, que estava degradada. Depois, eram as próprias locomotivas, que avariavam constantemente.

Por último, a falta de um lugar condigno para descansar” – estes, segundo Languane, os principais problemas por detrás dos sinistros ferroviários. “As condições já estão melhoradas porque já há dormitórios equipados com ar-condicionado e camas, o suficiente para dormir à vontade e descansar de modo a retomar o serviço com boa disposição”, relata o maquinista mais antigo e experiente dos CFM até a sua reforma.

Outra causa de acidentes que Languane aponta é erro humano, que pode ser provocado por cansaço.

“Durante as viagens nocturnas eu evitava comer. Fazia longas viagens sem ter ingerido nada para não cair no sono.

Apenas bebia água. Preferia passar mal de fome, mas chegar ao destino com os passageiros a bordo seguros”. Outra causa é a falta de conhecimento: “Um bom maquinista tem, antes de mais, que conhecer a sua locomotiva. Depois, tem que conhecer o perfil da linha em que o comboio vai circular, tem que conhecer o tipo de vagão que terá, se pára ou não pára, aperta ou não aperta, e tem que ter em conta o tempo em que vai circular, se é de dia ou de noite” – esta a dica que deixa aos pares que ficam.

As pessoas gostavam de viajar comigo devido à disciplina de horário que tinha.

Saía sempre à hora certa e chegava ao destino sem atraso. As pessoas reconheciam a minha disciplina.

– Henrique Languane

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Fotografia: Mariano Silva

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“Dediquei-me a esta profissão com toda a paixão, disciplina e responsabilidade.

Vou para casa de cabeça erguida, porque cumpri com determinação e profissionalismo o meu dever” COMBOIO 517: TRANSPORTANDO HISTÓRIAS Inúmeras foram as viagens feitas por Languane ao longo da sua carreira. Não tem memória de quando realizou a primeira como comandante de locomotiva, mas lembra-se do destino, que veio a repetir por vários anos. “Fui a Komatipoort, na vizinha África do Sul. Ia buscar uma composição de citrinos. Puxei um total de 40 vagões de Komatipoort a Maputo. Não tremi porque estava muito confiante. Depois dessa viagem, de 103 Km, distância que separa a cidade sul-africana de Komatipoort da capital moçambicana, Maputo, veio a certeza de que a minha vida seria sobre carris”, disse.

Os colegas de escola de Languane apelidaram-no de Comboio, porque o pai era funcionário dos CFM, a empresa pública que gere os sistemas ferroviário e portuário moçambicanos. Do pai viera-lhe a paixão pelo comboio e, daí, pelas grandes máquinas. “Graças a Deus, formei-me em tracção. Se não comandasse uma locomotiva, comandaria um avião. Meu sonho, desde pequeno, foi o de comandar algo maior. Sempre fui apaixonado por grandes máquinas”. As máquinas aproximaram-no das pessoas, os companheiros de viagem. Os passageiros mais chegados chamam-no pelo apelido, ou seja, simplesmente Languane. O tratamento é igual para todos, dispensando formalismos. Não há “senhoras e senhores”, dentro da locomotiva por ele conduzida, todos são família e amigos: “Fiz tantas amizades ao longo da linha! As pessoas gostavam de viajar comigo devido à disciplina de horário que tinha. Saía sempre à hora certa e chegava ao destino sem atraso.

As pessoas reconheciam a minha disciplina”, contou, revelando que “em quase todas as viagens, voltava para casa com um presente oferecido pelos passageiros, que, ao longo dos anos, se tornaram grandes amigos”.

Languane conduz todo o tipo de comboios, desde locomotivas de carga a comboios de transporte de passageiros públicos e especiais. Mas existe um com que desenvolveu uma relação de afectividade ao

longo do tempo, o Comboio 517 da Estação Central de Maputo, que fazia viagens Chicualacuala-Maputo e vice-versa. “Fiz mais viagens com o Comboio 113, que parte de Maputo para Ressano Garcia. O 211, que parte de Maputo com destino a Goba, também foi especial para mim. Mas o Comboio 517, que partia às 20 horas da Estação Central em Maputo com destino a Chicualacuala, foi aquele que mais me marcou, pelas amizades que conquistei ao longo da linha”, explicou.

Languane realizava uma média de 15 viagens por mês antes da sua indigitação para inspector, em 2011.

MISSÃO CUMPRIDA! Este maquinista, de 57 anos, realizou a sua última viagem nessa função em Maio último, antes de lhe ser concedida a aposentadoria. Fez a rota Maputo-Chicualacuala, transportando quadros dos CFM numa visita de trabalho.

“Dediquei-me a esta profissão com toda a paixão, disciplina e responsabilidade. Vou para casa de cabeça erguida, porque cumpri com determinação e profissionalismo o meu dever. Saio feliz, com a missão cumprida e com orgulho de tudo o que conquistei”, argumentou. “Era um jovem quando entrei nos CFM, há 34 anos. Formei-me aqui, desenvolvi-me como profissional aqui nesta casa. Hoje sou um homem, um pai, chefe de família. O que sou hoje devo aos CFM. Criei uma família ao longo desta linha. Não foi fácil dizer adeus”, continuou emocionado. Languane aguarda por uma despedida formal a ser preparada pela instituição, que deverá coincidir com a data do seu aniversário, em Agosto, e avisa que o seu desligamento da empresa e das máquinas com que passou a maior parte do tempo da sua vida não será em definitivo: “Tenho a missão de passar o bastão à nova geração de maquinistas. Por isso, estou em prontidão para qualquer solicitação”. E travou, com aquele som barulhento e inconfundível do comboio anunciando o fim da linha, ou melhor, a chegada ao destino.

“Tenho a missão de passar o bastão à nova geração de maquinistas. Por isso, estou em prontidão para qualquer solicitação” 56 | Revista Xonguila © Ed. 49 • Julho/July 2022

Fotografia: Mariano Silva

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A Life on the Rails Written by:

Jaime Álvaro Henrique Languane, a 57-year-old machinist, joined the Caminhos de Ferro de Moçambique (CFM – Mozambican Railways) at a time when trains were still powered by coal.

He made numerous trips throughout his 34-year career and derailed five times, always unscathed. He doesn't recall when he made the first trip as a locomotive engineer, but he remembers the last one, in May this year. Xonguila magazine boarded Train 517, the one Languane has the most affinity with, to meet the oldest train driver in CFM and recount his life on the rails for you here.

A

Fotografia: Mariano Silva

lifetime dedicated to work. Henrique José Languane was very young – a mere 17 years old – when he began working. He had just finished sixth grade and would have become a teacher if his father, who was then a train driver for the Mozambique Railways, had not found him a job placement in the port of Inhambane, his hometown. He joined CFM as a longshoreman, before becoming a machinist, and left the company 34 years later.

His training began at the Escola Ferroviária de Inhambane (Inhambane Railway School) in 1985. In 1991 he started working as a freight engineer at Maputo Station, followed by different stations in the Centre (Beira) and South (Chicualacuala district, northeast of Gaza province) of the country. He retired as a traction inspector, a position he held from 2011 until his retirement. Languane is a married father of three children.

DANGER LINES...

Languane the machinist is a true survivor of something akin to a movie scene that was repeated in his professional life five times, with himself as the main protagonist. In 2004, he had his first accident, when he was on the way to help a colleague whose train had broken down in Machava, Maputo province.

“I was pulling a locomotive without wagons at high speed, and it derailed because of the conditions of the line, which was buried, and I didn't notice it. When passing through that area, my locomotive completely derailed and collided with a pole. Had it not been for the pole, the train would have probably overturned, and the worst could have happened. The most serious of the five accidents involved wagons with passengers on board.

It took place in Chicualacuala, in the Mapai

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area, in 2001. There were no serious injuries.

The other four were minor derailments”, says Languane, who recognizes that he has lost colleagues who, in similar accidents, were not so lucky.

“The first difficulty when I started working was related to the wagons, which at the time did not have brakes. The second was with the railway line itself, which was damaged. Then it was the locomotives themselves, which constantly broke down. Finally, there was the lack of a decent place to rest” – these, according to Languane, were the main problems behind the railway accidents. “Conditions have since improved, because there are now dormitories equipped with air conditioning and beds, enough to sleep comfortably and rest in order to resume work in a good mood”, said he who was the oldest and most experienced machinist at CFM until his retirement.

Another cause for accidents that Languane points out is human error, which can be caused by fatigue. “I avoided eating during night trips. I made long trips without ingesting anything to keep myself from falling asleep.

I just drank water. I would rather go hungry and safely arrive at my destination with all passengers on board.” Another cause for accidents is the lack of knowledge: “A good driver has to – first of all – know his locomotive. Then, you have to know the profile of the railway on which the train will run; you have to know the type of wagons it will have, whether or not it stops, whether or not it presses, and you have to take into account the time of day the train will circulate in, whether that is daytime or night-time” – this is his parting tip for his peers still on active duty.

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TRAIN 517: TRANSPORTING STORIES Languane made countless trips throughout his career. He doesn't recall when he made the first trip as a locomotive engineer, but he remembers the destination, a journey he would come to repeat for several years. “I went to Komatipoort, in neighbouring South Africa. I was going to pick up a rolling stock of wagons carrying citrus fruit. I pulled a total of 40 wagons from Komatipoort to Maputo. I didn't quiver because I was so confident. After that 103 km journey, the distance that separates the South African city of Komatipoort from the Mozambican capital, Maputo, I was sure that my life would be on the rails”, he said.

Languane's schoolmates nicknamed him Comboio (“Train”), because his father was an employee of CFM, the public company that manages the Mozambican railway and port systems. From his father, he got his passion for the train and, thence, for big machines.

“Thank God I graduated in traction. If I di-

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dn't command [drive] a locomotive, I would command [pilot] an airplane. My dream, since I was little, was to command something big. I have always been passionate about big machines.” Machines brought him closer to the people, his fellow travellers. The more familiar passengers call him by his surname, that is, simply Languane. The treatment is the same for all, without formality. There are no “ladies and gentlemen” inside the locomotive he drives; they are all family and friends. “I made so many friends along the line! People liked to travel with me because I was a stickler for punctuality. I always left on time and arrived at the destination without delays. People recognized my discipline”, he said, revealing that “on almost every trip, I returned home with a gift offered by passengers who, over the years, became great friends”.

Languane drives all kinds of trains, from freight locomotives to public and special passenger trains. But there is one particular train with

MISSION ACCOMPLISHED! This 57-year-old machinist made his last trip as a locomotive driver this past May, before being granted retirement. He took the Maputo-Chicualacuala route, transporting CFM staff on a working visit.

“I dedicated myself to this profession with a lot of passion, discipline and responsibility. I go

home [now] with my head held high, because I did my duty with determination and professionalism. I leave happy, with a sense of mission accomplished and proud of everything I've achieved”, he stated. “I was a young man when I joined CFM, 34 years ago. I graduated here, I developed as a professional here in this company. Today I am a grown man, a father and head of the family. Who I am today, I owe to CFM. I raised a family along this line. It was not easy to say goodbye”, he said, visibly moved.

Languane is waiting for a formal farewell to be organized by the company, which should coincide with his birthday, in August, and warns that his departure from the company and the machines with which he spent most of his life will not be definitive: “My mission is to pass the baton onto the new generation of train drivers.

Therefore, I am on standby for any request.”

And then he activated the brakes, with that noisy and unmistakable sound of the train announcing the end of the line, or rather, the arrival at the destination.

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Fotografia: Mariano Silva

which he developed a special affinity over time: Train 517 at Maputo Central Station, which travelled from Chicualacuala to Maputo and vice versa. “I made more trips with Train 113, which departs from Maputo to Ressano Garcia.

The 211, which leaves Maputo for Goba, was also special for me. But Train 517, which departed at 8pm from the Central Station in Maputo to Chicualacuala, was the one that left a mark, due to the friendships I made along that line”, he explained. Languane made an average of 15 trips a month before his appointment as inspector, in 2011.

Contact me: Denize Cerqueira Tel: +258 2030 0354 • Cell: + 258 84 864 6868 • Email: denize@lmradio.co.mz For more info about LM Radio please access: https://youtu.be/KDISGm6QE8E

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Oferecemos serviços de tratamento de mãos e pés, apostando sempre na excelência, com os nossos vernizes de qualidade superior, cremes e óleos únicos.

– Ana Sousa, gerente da Executive Nails

Fotografia: Mariano Silva

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A

ANA SOUSA, GERENTE, NA PRIMEIRA PESSOA

Executive Nails surgiu há sensivelmente 3 anos, numa tentativa de suprir uma necessidade no mercado. Notámos que existia uma grande carência de um espaço de unhas que pudesse unir requinte, conforto e serviços de qualidade, colocando o cliente sempre em primeiro lugar. Oferecemos serviços de tratamento de mãos e pés, apostando sempre na excelência com os nossos vernizes de qualidade superior,

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cremes e óleos únicos, a isso juntando a introdução de cabines individualizadas com ipads e headphones através dos quais o cliente faz a escolha dos serviços. O nosso diferencial está principalmente no serviço de atendimento ao cliente, na implementação de serviços gourmet de catering, na formação do nosso staff e na qualidade dos nossos produtos. Somos actualmente distribuidores da marca Andreia Profissional, uma das maiores marcas de cosméticos do mundo.

Fotografia: Mariano Silva

Temos organizado feiras e workshops que têm tido um grande impacto na nossa imagem, elevando ainda mais o nosso nome no mercado.

Por outro lado, essas acções também têm servido para impactar a vida de mais mulheres, facilitando a troca de experiências relacionadas ao saber fazer, bem como ao mercado empresarial, capacitando-as a gerar suas rendas, bem como a empregar.

com todos os cuidados e pormenores necessários para fazer face à pandemia. No momento, o maior desafio tem sido encontrar no mercado de trabalho pessoal qualificado e retenção de mão-de-obra, isso tudo porque tentamos manter o nosso padrão de qualidade sempre alto. Para tal, temos apostado em formação interna, através de formadores internacionais, para que possamos atender os nossos clientes da melhor forma possível.

Assim como praticamente todos os sectores, o nosso também sofreu muito com a pandemia, não só porque o nosso negócio obriga a que tenhamos um contacto directo com o cliente para podermos realizar o tratamento, mas também porque, tendo o mercado sido afectado, acabou-se gerando um efeito dominó, que, de certa forma, afectou o número de clientes em busca dos nossos serviços, sem esquecer que com a pandemia houve dificuldade na importação de algumas matérias-primas. Mas tivemos que reinventar e introduzimos o serviço ao domicílio personalizado, que consistia em uma equipa em parceria com uma empresa no ramo de saúde e levar o serviço

Até ao momento os resultados têm sido muito satisfatórios, os feedbacks dos nossos clientes têm sido muito bons e temos recebido críticas construtivas, o que nos motiva a tentar elevar continuamente o nosso nível. Sem dúvida que ainda temos muito trabalho e desafios pela frente, pois continuamos a procurar aumentar os níveis de qualidade do serviço, de forma geral. Para o futuro, pretendemos fazer com que a nossa marca alcance mais pessoas e que estas conheçam os nossos serviços, assim como aumentar o número de parcerias com estabelecimentos, sempre pensando na qualidade oferecida ao cliente, que será a nossa prioridade e foco.

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Fotografia: Mariano Silva

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ANA SOUSA, MANAGER, IN HER OWN WORDS

E

xecutive Nails was launched approximately 3 years ago to close a gap in the market. We noticed that there was a great need for a nail space that could combine a refined ambiance, comfort and quality services, always placing the customer first. We offer hand and footcare services, prizing excellence with our superior quality nail polishes, lotions and unique oils, together with the introduction of individualized booths with iPads and headphones through which the customer can make their selection of services. We stand out mainly in our customer service approach, with the implementation of gourmet catering services, staff training and in the quality of our products. Currently, we are distributors of the Andreia Professional brand, one of the largest cosmetics brands in the world.

We have since organized fairs and workshops that have had a great positive impact on our image, increasingly raising our profile in the market. On the other hand, these actions have also served to impact the lives of more women, facilitating the exchange of experiences related to technical know-how and the entrepreneurial environment, thus enabling them to generate their own income as well as to employ others.

As with nearly all sectors [of the economy], ours also suffered a lot from the pandemic. Not only because our business requires that we have direct contact with the client in order to carry out

the treatment, but also because the badly affected market generated a domino effect which, in a way, affected the number of customers seeking our services, not to mention that the pandemic made it very difficult to import some raw materials. But we had to reinvent and introduce the personalized door-to-door service, for which we set up a team in partnership with a company in the health sector and took the service to customers homes with all the necessary care and protocols to face the pandemic. At the moment, the biggest challenge has been finding qualified personnel in the job market and retaining skilled beauticians, all because we try to keep our quality standards consistently high. To this end, we have invested in in-house training with international teachers, so that we can serve our customers in the best possible way.

So far, the results have been very satisfactory.

The feedback from our customers has been very good and we have received constructive criticism, which motivates us to try to continually raise our standards. Undoubtedly, we still have a lot of work and challenges ahead, as we continue to try and raise the quality of our service delivery overall. In future, we intend to make our brand reach more people and make them aware of our services, as well as increase the number of partnerships with other establishments, always thinking about the quality offered to the customer, which will continue to be our priority and focus.

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Lora Baúle e a dança do ventre

No Egipto antigo, a dança do ventre era vista como uma espécie de ritual de fertilidade que agradaria os deuses e como técnica para preparar as mulheres para se tornarem mães

Fotografia: Mariano Silva

Fotografia: Mariano Silva

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Lora Baúle e a dança do ventre

A

entrou para a Escola Nacional de Música. A sua especialidade era bateria, até formar uma banda e tornar-se também a dançarina da banda. Daí em diante, focou-se no que era realmente a sua paixão.

Lora Baúle sempre gostou de dançar, sempre quis poder fazer parte da Escola Nacional de Dança, mas como o sonho de sua mãe era que ela e a irmã tivessem formação musical,

Aperfeiçoar continuamente a sua dança é o que Lora procura. O processo criativo começa na música, nos sons de cada instrumento e no que a música em si desperta. Considera que a magia da sua técnica está no dançar os pequenos detalhes de cada música. Ao preparar cada número visualiza o que poderá despertar surpresa em quem assiste e, em frente a um espelho, põe em prática o que visualizou, para ver se consegue expressar e dançar o que idealizou. A inspiração vem-lhe frequentemente de músicas que escuta pela primeira vez, de vídeos criativos dos seus ídolos ou outros bailarinos, e do seu humor. Para Lora a dança é uma forma de expressão de si própria, razão pela qual se baseia principalmente em como se sente em determinadas fases da sua vida e nos sentimentos que quer transmitir.

dança do ventre é uma famosa dança praticada em diversas regiões do Oriente Médio e da Ásia Meridional. É comum atribuir-se a sua origem ao Egipto antigo, entre 7000 e 5000 a.C., onde era vista como uma espécie de ritual de fertilidade que agradaria os deuses e como técnica para preparar as mulheres para se tornarem mães, e especialmente para o parto.

Era uma cerimónia sagrada, só para mulheres, assemelhando-se, em certa medida, aos ritos de iniciação em Moçambique. As mulheres uniam-se e ensinavam umas às outras movimentos do corpo que ajudavam no processo de descoberta e conhecimento do seu poder feminino. Com a invasão dos árabes, a dança foi-se espalhando pelo mundo, e, devido aos seus segredos de empoderamento feminino, chegou a ser banida e reduzida a uma dança para sedução do homem.

Lora Baúle considera que a magia da sua técnica está no dançar os pequenos detalhes de cada música

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Paladares à solta

Foram diversos os eventos em que Lora Baúle já participou, mas o que mais a marcou foi a primeira vez que subiu ao palco. Nos ensaios e com o aproximar dos espectáculos, é grande a ansiedade, o nervosismo, o medo de errar ou de não conseguir cativar o público, pois é sempre uma incógnita o que este irá achar: “Quando estás no palco, é necessário um enorme exercício para relaxar e ter controlo, tentar chamar atenção e interagir com o público, fazer o preenchimento do palco ou do espaço que tens para actuar, controlar o nervosismo e cumprir o reportório. Quando finalmente o teu número acaba, vem a melhor parte, os aplausos, a cara de alegria e orgulho de quem assistiu e gostou do teu trabalho, e a sensação de gratificação por teres enfrentado o medo e nervosismo.

Mesmo depois de anos e anos, eu passo sempre por este processo. O pós-show é a melhor parte.”

Para os próximos tempos, os objectivos de Lora passam por elevar o estatuto da dança do ventre a ponto de ela ser vista como arte em Moçambique, uma dança bonita para ser apresentada em eventos culturais e artísticos, não sendo conotada apenas como dança de sedução reduzida a quatro paredes. No que toca a aulas, o plano é, através da dança, ajudar as mulheres a sentirem-se bem e felizes com os seus próprios corpos, a conhecerem-se melhor, a elevar a sua auto-estima, a empoderarem-se.

Para Lora, a dança é uma forma de expressão de si própria

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Fotografia: Mariano Silva

Para acompanhar o trabalho de Lora Baúle, ficando a par das suas aulas e espectáculos, consulte as suas páginas do Instagram, Facebook e Tiktok @dancing_with_dream.

Paladares à solta

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Fotografia: Mariano Silva

Paladares à solta

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Nas aulas, o plano é, através da dança, ajudar as mulheres a sentirem-se bem e felizes com os seus próprios corpos, a conhecerem-se melhor, a elevar a sua auto-estima, a empoderarem-se

Lora Baúle and belly dancing

B

elly dancing is a famous dance practiced in different regions of the Middle East and South Asia. Its origin is commonly attributed to ancient Egypt, between 7000 and 5000 BC, where it was seen as a kind of fertility ritual that would please the gods and as a technique to prepare women for motherhood, and especially childbirth. It was a sacred ceremony for women only, resembling, to some extent, the initiation rites in Mozambique. The women got together and taught each other body movements that helped in the process of discovering and knowing their feminine power. With the invasion of the Arabs, the dance spread throughout the world, and, due to its secrets for accessing female empowerment, it was banned at some point and reduced to a dance for seducing men.

Lora Baúle always liked to dance, and always wanted to join the National School of Dance.

But since her mother's dream was for her and her sister to have musical training, she enrolled in the National School of Music instead. Her specialty was drums, until she formed a band and also became the band's dancer. From then on, she focused on what her real passion was.

Continuously perfecting her dance is what Lora seeks. The creative process starts with music, the sounds of each instrument and what the music itself awakens in her. She considers that the magic of her technique is in dancing the small details of each song. When preparing each number, she visualizes what may surprise those who watch and, in front of a mirror, puts into practice what she visualized, to see if she can express and dance what she idealized. Inspiration often comes from songs she hears for the first time, creative videos of her idols or other dancers, and her mood. For Lora, dance is a form of self-expression, which is why it is based mainly on how she feels at certain stages of her life, and on the feelings she wishes to convey.

Lora Baúle took part in several events, but there is one that left a deep impression on her: the first time she took the stage. During rehearsals and as show dates become increasingly closer, there is great anxiety, nervousness, and the fear of making mistakes or not being able to captivate the audience, as it is always unknown how the public will receive it: “When you are on stage, it takes a huge amount of effort to relax and have control [over the performance], to try and attract attention and interact with the audience, fill the stage or the space you have to perform, control one´s nerves and fulfil the repertoire.

When your act finally ends, in comes the best part: the applause, the pride and joyous faces of those who watched and liked your work, and the feeling of gratification for having faced fear and nervousness. Even after all these years, I always go through this process. The after-show is

the best part.”

For the next few years, Lora's goals are to raise the profile of belly dancing to the point that it can be seen as an art form in Mozambique, a beautiful dance to be presented at cultural and artistic events, and not just connoted as a dance of seduction to be performed within four walls. As far as classes are concerned, the plan is to help women feel good and happy with their own bodies through dance, to get to know each other better, to raise their self-esteem, to empower themselves.

To follow Lora Baúle's work, keep up to date with her classes and shows, check out her Instagram, Facebook and TikTok pages @ dancing_with_dream.

Fotografia: Mariano Silva

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Pernod Ricard Moçambique e Nivaldo Thierry apresentam colecção inspirada no Chivas XV 82 | Revista Xonguila © Ed. 49 • Julho/July 2022

Fotografia: Cortesia de Pernod Ricard

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Em matéria de misturas, as marcas promovidas pela Pernod Ricard são perfeitas e, como para criatividade não existem limites, o Chivas XV e o estilista Nivaldo Thierry “tomaram posse” do Opium, brindando o público com um desfile inovador, composto por trajes contemporâneos, ousados, com nuances versáteis e acessórios a condizer, que formaram a Colecção Cápsula. A fusão, intitulada Alquimia, conseguiu agregar, em boa química, beleza, glamour e moda ao ADN da marca de uísque.

C

oncebida especialmente para a camada juvenil, a nova colecção não faz distinção de género, sendo ideal tanto para o dia-a-dia e passeios como para saídas nocturnas. No evento, os presentes puderam testemunhar um desfile não essencialmente centrado no poder da marca, mas no infinito manancial de possibilidades que ela oferece, ali traduzido numa simbiose de dourado e preto.

Em cada look apresentado na passarela, um novo limite era quebrado e uma nova dimensão alcançada.

Na ocasião, o Director Geral da Pernod Ricard Moçambique, Francisco Júnior, enfatizou: “Projectamos promover o talento nacional desafiando a criatividade dos nossos artistas. O nosso objectivo é que eles superem as suas imaginações e alcancem novos patamares com o seu conhecimento, o que, consequentemente, lhes vai proporcionar o devido reconhecimento e novas oportunidade além-fronteiras. Somos criadores de convívios e não quisemos privar-nos da nossa própria essência. Com efeito, procurámos agregar mais valor junto do estilista eleito, expandindo a nossa escala de pensamento através deste refinado desfile ao sabor do nosso uísque Chivas XV, que hoje celebramos”.

Por sua vez, o estilista Nivaldo Thierry desta-

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cou: “Num mercado competitivo, as marcas devem reinventar-se, a todo o momento.

Com esta nova colecção, trouxemos um conceito transformador, numa abordagem diferente sobre a moda, onde destacamos os croquis, o conceito e a uniformização das cores, dos detalhes, até aos aspectos de dimensão macro. O desfile foi impactante, único e fora de padrão. Quisemos estabelecer a química nos trajes, onde procurámos harmonizar dois conceitos aparentemente distintos, mas superando o horizonte das nossas perspectivas. Provámos que é possível ter-se um resultado fantástico.”

De referir que o whisky Chivas XV é uma marca reconhecida à escala internacional pelos seus atributos e qualidade irreverente. Agrega em sua composição um refinamento à base de frutas em que a mistura é estabelecida para descansar por um mínimo de 15 anos. Contém sabores ricos, com um acabamento luxuoso finalizado em barris de conhaque.

Um poder dourado foi liberto no evento, que contou com a presença de várias figuras do ramo da moda, músicos, modelos de profissão, influenciadores digitais, actores e diversas individualidades do país, provando que, de facto, o sucesso é uma mistura que sabe bem ao sabor do Chivas XV.

Fotografia: Cortesia de Pernod Ricard

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Fotografia: Cortesia de Pernod Ricard

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Procurámos agregar mais valor junto do estilista eleito, expandindo a nossa escala de pensamento através deste refinado desfile ao sabor do nosso uísque Chivas XV, que hoje celebramos – Francisco Júnior, Director Geral da Pernod Ricard Moçambique Julho/July 2022 • Ed. 49 © Revista Xonguila | 87

When it comes to blending, the brands promoted by Pernod Ricard are perfect and, since creativity has no limits, Chivas XV and stylist Nivaldo Thierry “took over” Opium to offer the public an innovative fashion show. The show consisted of a Capsule Collection, made of bold contemporary outfits with nuanced versatility and accessories to match. This fusion, aptly named Alquimia (“Alchemy”) and just like a chemical reaction, managed to add beauty, glamour and fashion to the whiskey brand's DNA.

At the occasion, the General Manager of Pernod Ricard Moçambique, Francisco Júnior, emphasized: “We plan to promote national talent by challenging the creativity of our artists. Our goal is for them to surpass their imagination and reach new heights with their knowledge, which will, consequently, provide them with due recognition and new opportunities across borders. We create social events and, as such, didn't want to deprive ourselves of our own essence. In fact, we sought to add more value to the selected stylist, expanding our scale of possibilities through this refined show in the flavour of our Chivas XV whiskey, which we celebrate today”.

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In turn, stylist Nivaldo Thierry highlighted: “In a competitive market, brands must reinvent themselves all the time.

With this new collection, we have brought [to the public] a transformative concept using a different approach to fashion, where we highlight the designs, the concept and the coordination of colors, details, and even macro aspects. The show was impactful, unique and out of the ordinary.

We wanted to establish the chemistry in the costumes, where we tried to harmonize two apparently different concepts, and the results surpassed our expectations. We proved that it´s possible to have a fantastic result.”

It should be noted that Chivas XV whiskey is an international brand recognized by its attributes and irreverent quality. Hints of fruit are patent in this mixture, which is set to rest for a minimum of 15 years. It imparts rich flavours with a luxurious finish, due to the ageing in cognac barrels.

A golden power was unleashed at the event, which was attended by several personalities from the fashion industry, as well as musicians, professional models, digital influencers, actors and various other personalities from across the country, proving that, in fact, success is a mixture that tastes very much like Chivas XV.

Fotografia: Cortesia de Pernod Ricard

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esigned especially for the youth, the new collection does not make any distinction between genders, being ideal for both casual daytime wear as well as for going out at night. At the event, guests were able to witness a show not necessarily cantered on the power of the brand, but rather on the infinite source of possibilities it offers, translated into a symbiosis of gold and black. In each look presented on the catwalk, a new barrier was broken, and a new dimension reached.

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Ministra da Cultura e Turismo inaugura

X-Hub A X-Hub é um projecto financiado pelo Sound Connects Fund, uma iniciativa da Music In Africa Foundation (MIAF) e do Goethe-Institut

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Fotografia: Cortesia de X-Hub

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Fotografia: Cortesia de X-Hub

A Ministra da Cultura e Turismo, Edelvina Materula, inaugurou no passado dia 7 de Julho, a X-Hub - primeira incubadora de negócios culturais e criativos em Moçambique

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A Ministra da Cultura e Turismo, Edelvina Materula, inaugurou no passado dia 7 de Julho, a X-Hub - primeira incubadora de negócios culturais e criativos em Moçambique. O projecto visa fundamentalmente contribuir para a profissionalização no sector cultural e criativo através de uma plataforma para o desenvolvimento de competências, transferência de conhecimentos e de tecnologias, bem como para a conexão de consumidores, provedores e investidores no global da economia criativa e criação de mercados nacionais e internacionais.

No X-Hub haverá disponibilidade de espaços para co-work, serviços de marketing digital, produção de música e vídeos, facilidades para estúdio de captação, espaço para eventos, mentoria para desenvolvimento de negócios culturais e

criativos, mediação para acesso a mercados nacionais e internacionais, programas de capacitação para gestores culturais e criativos, consultoria cultural e criativa, entre outras possibilidades.

A X-Hub é um projecto financiado pelo Sound Connects Fund, uma iniciativa da Music In Africa Foundation (MIAF) e do Goethe-Institut.

O Sound Connects Fund é possível com financiamento do ACP-EU Culture Programme, um projecto implementado pelo Secretariado do Grupo de Estados de África, Caraíbas e Pacífico (ACP) e financiado pela União Europeia (UE). O Fundo também é cofinanciado pelo Goethe-Institut e pela Siemens Stiftung, e tem as tintas CIN como parceiras do projecto.

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Fotografia: Cortesia de X-Hub

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T

he Minister of Culture and Tourism, Edelvina Materula, inaugurated X-Hub on the 7th of July, the first cultural and creative business incubator in Mozambique. The project fundamentally aims to contribute to the professionalization of actors in the cultural and creative sector, presenting a platform for the development of skills, transfer of knowledge and technologies, as well as connecting consumers, suppliers and investors in the global creative economy and creating national and international markets.

X-Hub is a project funded by the Sound Connects Fund, an initiative of the Music In Africa Foundation (MIAF) and the Goethe-Institut. The Sound Connects Fund is made possible with funding from the ACP-EU Culture Programme, a project implemented by the Secretariat of the Organisation of African, Caribbean and Pacific States (ACP) and funded by the European Union (EU). The Fund is also co-financed by the Goethe-Institut and Siemens Stiftung, and has Tintas CIN as a partner in the project.

At the X-Hub, there will be spaces for co-work, digital marketing services, music and video production, facilities for a recording studio, space for events, mentoring for the development of cultural and creative businesses, mediation for access to national and international programs, training programs for cultural and creative managers, cultural and creative consultancy, among other possibilities.

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DE PARIS A MAPUTO NUM CLIQUE - FARHA ABDULA Escrito por: Eliana

Silva

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Fotografia: Earth DXuX

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Diáspora

DE PARIS A MAPUTO NUM CLIQUE - FARHA ABDULA Escrito por:

Eliana Silva Qual seria o anúncio perfeito para caracterizar a vida de uma moçambicana em Paris? Um figurino de blusa branca às riscas azuis-escuras, uma boina vermelha e, em vez de um cappuccino, uma cerveja bem gelada?

Como a nossa personagem principal é Farha Abdula, juntemos-lhe uma forte gargalhada e um sorriso bem largo. Directamente de Paris, esta publicitária conta-nos a mais recente campanha da sua vida.

No entanto, a jornada não se fez somente à luz de coisas boas. A jovem moçambicana partilha o que experienciou: “Viemos para França num momento bastante peculiar. O mundo atravessava as primeiras ondas da pandemia da covid-19, e só por isso a nossa adaptação se deu de forma bem diferente daquilo que esperávamos. Enfrentámos um lockdown europeu, restrições para circular e pouco espaço ao ar livre. Fora isso, o primeiro choque de realidade foi realizar que não somos ninguém. Que o mundo é muito grande, muito cheio de pessoas, e nós somos muito pequenos comparados a tudo isso. Em Moçambique, acho que, por natureza, somos um povo muito amigo e acolhedor, e não é assim em todos os lugares do mundo. Foi preciso correr muito para entender a

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língua, entender o sistema de transportes, entender como funcionam os serviços básicos e perceber a cultura como um todo”.

Um processo que até hoje está em desenvolvimento, pelas diferenças culturais e linguísticas e pelas descobertas pessoais. Esta descoberta e aprendizagem diária alarga-se à vontade de Farha de conhecer constantemente coisas novas: sempre que pode, faz pequenos cursos online, entra em grupos de debate online ou acompanha o trabalho de antigos professores universitários. O seu espírito crítico é ainda influenciado pela vida que a rodeia: “Não estou todos os dias intencionalmente à caça de tendências.

São as tendências que vêm até mim através de redes sociais, conversas de bar, rodas de amigos, música.

Gosto particularmente de acompanhar a música popular, a moda das ruas (street style) e a inovação em tecnologia. Acho que tudo isso diz muito sobre o momento que estamos a passar e consegue ser uma boa fonte de insights e inspiração”, comenta.

Sob o cliché que é ser uma cidadã do mundo, Farha Abdula é uma intérprete do comportamento de consumo das pessoas, com o humor e a energia que lhe são tão característicos. Com um misto de ambição e persistência, a publicitária sabe o que quer: “Garantir que a publicidade se torne cada vez mais inclusiva e livre de estereótipos que nos levam a reforçar maus hábitos. Para isso é necessário que tanto as agências de publicidade quanto os departamentos de marketing sejam espaços verdadeiramente diversos e plurais, para que, em conjunto, possamos ter um senso mais crítico e responsável sobre a comunicação que se produz. Ainda temos um caminho a percorrer”, conta-nos, adivinhamos nós, com um sorriso nos lábios pintados com uma marca de batom inovadora e uma cerveja moçambicana ao lado.

Fotografia: Cortesia de Farha Abdula

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uriosidade ou não, Abdula nasceu no Dia da Bastilha e, ao fazer 34 anos, já passou pelo Brasil, por Angola e agora por França. A primeira vez para estudar, a segunda para trabalhar, e agora em família. Ambientes e contextos muito diferentes que exigiram uma mistura de criatividade e coragem para que tudo corresse bem. Percebe-se, pelas palavras trocadas via correio electrónico, que Farha Abdula vive o agora: neste momento, ela e a família vivem na capital francesa e procuram, todos os dias, aproveitar o melhor que a terra de Edith Piaf tem para oferecer. Farha embarcou nesta aventura francesa há cerca e dois anos, estando actualmente a frequentar um Executive MBA na HEC, uma das mais prestigiadas escolas de altos estudos comerciais de Paris. “Por um lado, é o buscar outras oportunidades – e por isso fazer um MBA Executivo, fazer crescer a network, trabalhar em outros projectos, mas, por outro lado, é também o poder ganhar o mundo e em família podermos ver e conhecer outras coisas. E é exactamente isso que tem acontecido”, conta Farha.

Diáspora

“Foi preciso correr muito para entender a língua, entender o sistema de transportes, entender como funcionam os serviços básicos e perceber a cultura como um todo. - Farha Abdula” Julho/July 2022 • Ed. 49 © Revista Xonguila | 99

100 | Revista Xonguila © Ed. 49 • Julho/July 2022

Fotografia: Leonard Cotte

We came to France at a very peculiar time.

The world was going through the first waves of the Covid-19 pandemic, and just because of that our adaptation took place very differently from what we had expected.

- Farha Abdula

Julho/July 2022 • Ed. 49 © Revista Xonguila | 101

102 | Revista Xonguila © Ed. 49 • Julho/July 2022

Diáspora

FROM PARIS TO MAPUTO IN ONE CLICK - FARHA ABDULA Written by:

Eliana Silva

What would be the perfect advert to capture the life of a Mozambican in Paris? A costume consisting of a white shirt with dark blue stripes, a red beret and, instead of a cappuccino, a cold beer? And since our main character is Farha Abdula, let's add to that a strong laugh and a wide smile. Directly from Paris, this publicist tells us about the latest campaign of her life.

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Fotografia: Cortesia de Farha Abdula

uriously or not, Abdula was born on Bastille Day and, at the age of 34, has already lived in Brazil, Angola and now France.

The first time to study, the second time to work, and now with a family of her own. Very different environments and contexts that required a mix of creativity and courage for everything to go well. It is clear from our email exchange that Farha Abdula lives in the here and now: at the moment, she and her family live in the French capital and seek to enjoy, on a daily basis, the best that the land of Edith Piaf has to offer. Farha embarked on this French adventure about two years ago and is currently enrolled in the Executive MBA at HEC, one of the most prestigious schools for higher business studies in Paris. “On one hand, it's [about] seeking other opportunities – and therefore doing an Executive MBA, growing the network, working on other projects. On the other hand, it's also [about] experiencing the world and, as a family, get to see other things and meet other people – and that is exactly what has happened”, says Farha.

However, the journey was not made exclusively in light of good things. The young Mozambican shares what she has experienced: “We came to France at a very peculiar time. The world was going through the first waves of the Covid-19 pandemic, and just because of that our adaptation took place very differently from what we had expected. We faced a European lockdown, restrictions on movement and little outdoor space. Other than that, the first reality check was realizing that we are nobody.

That the world is too big, too full of people, and we're quite small compared to all that. I think that, by nature, we are a very friendly and welcoming people in Mozambique, and this is not the case everywhere in the world. We had to quickly cover a

lot of ground to understand the language, understand the transport system, understand how basic services work here, and understand the culture as a whole”.

This is an ongoing process to this day, due to cultural and language differences and personal discoveries. These daily learnings and realizations expand Farha's desire to constantly discover new things: whenever she can, she takes short online courses, joins online debate groups and follows the work of former university professors. Her critical thinking is also influenced by life around her: “I'm not intentionally chasing trends every day.

Trends rather come to me through social networks, bar conversations, circles of friends, music.

I particularly enjoy following popular music, street style and innovation in technology. I think that all this says a lot about the present moment and can be a good source of insight and inspiration”, she remarked.

Risking the citizen-of-the-world cliché, Farha Abdula is an interpreter of people's consumerist behaviour, with the humour and energy that are so characteristic of her. With a mix of ambition and persistence, this publicist knows what she wants: “To ensure that advertising becomes increasingly inclusive and free of stereotypes that lead us to reinforce bad habits. To achieve this, it is necessary that both advertising agencies and marketing departments are truly diverse and plural spaces, so that, together, we can have a more critical and responsible sense of the communication that is produced. We still have quite a way to go”, she tells us – we´re guessing – with a smile on her lips, painted with an innovative lipstick brand, and a Mozambican beer on the side.

Julho/July 2022 • Ed. 49 © Revista Xonguila | 103

Ser criança Sou criança Quero brincar do raiar do sol ao entardecer.

Rolar nos pneus e sonhar com uma montanha-russa Tocar a campainha dos vizinhos e sair a correr Andar nos meus patins a apoiar-me na boleia dos carros, em busca de novas brincadeiras.

Sou criança, quero sorrisos à-toa, e chorar sem medo.

Ser consolada, amada, com um doce e um afago.

Anseio por histórias de ninar ao fim do dia, e um beijo de boa noite.

Tenho a curiosidade de uma alma esperta e olhos sedentos de novas descobertas.

Sou criança e quero ter um cobertor para cobrir minha alma na eternidade, porque quero também crescer e continuar a ser UMA CRIANÇA

Yaniza Nizamodine

104 | Revista Xonguila © Ed. 49 • Julho/July 2022

Fotografia: Cortesia de CCFM

106 | Revista Xonguila © Ed. 49 • Julho/July 2022

Festival Raiz 5ª edição Festival Raíz, 5th Edition

Decorreu no passado mês de Junho, em vários espaços culturais da cidade e província de Maputo, a 5ª edição do Festival Raiz. Este evento, que anualmente tem lugar, é dedicado à música de raiz moçambicana, com vista a resgatar, preservar, valorizar e divulgar a diversidade cultural do país, promovendo reflexão e discussão em torno da tradição e do património imaterial moçambicano e as suas transformações. Além disso, visa criar uma rede entre artistas, a fim de desenvolver indústrias culturais e criativas para a promoção local e internacional.

This past June, the 5th edition of the Festival Raíz (“Root Festival”) took place in various cultural spaces in the city and province of Maputo. This annual event is dedicated to Mozambican music, with a view to rescuing, preserving, valuing and disseminating the country's cultural diversity, promoting a reflections and discussions around Mozambican traditional and intangible heritage and its transformations. Furthermore, it aims to create a network among artists, in order to develop cultural and creative industries to be promoted locally and internationally.

Juntando artistas da região e do mundo, o Festival contempla diversas actividades, tais como concertos de música étnica e tradicional, palestras e debates, exibição de filmes etnográficos, residências artísticas de criação e composição musical caracterizada pela fusão de instrumentos, sejam eles tradicionais ou modernos.

Bringing together artists from the region and the world, the Festival includes various activities, such as concerts of ethnic and traditional music, lectures and debates, exhibition of ethnographic films, artistic residencies for creation and musical composition characterized by a fusion of instruments, both traditional and modern.

Fotografia: Mariano Silva

Nirivalele hi kuxuwela Centro Cultural Franco-Moçambicano

Fotografia: Mariano Silva

Palates on the loose

110 | Revista Xonguila © Ed. 49 • Julho/July 2022

Palates on the loose

"O Apetrechar do tempo" Gonçalo Mabunda Camões - Centro Cultural Português

Julho/July 2022 • Ed. 49 © Revista Xonguila | 111

93 DIAS 93 Dias é uma longa-metragem nigeriana que chegou recentemente ao catálogo da Netflix. Retrata o flagelo da população e do corpo médico da Nigéria durante os quase 100 dias em que, em 2014, o país viveu um surto de ébola.

A

história começa com a chegada ao país de Patrick Sawyer, um diplomata em missão de trabalho oriundo da Libéria que, após sentir um mal-estar, é internado num hospital público. Imediatamente depois da sua entrada nesse hospital, os médicos decidem mantê-lo em isolamento, pois acreditam que poderá ter contraído ébola, já que vinha de um país que na altura enfrentava um surto da doença e tinha todos os sintomas. À medida que os dias vão passando, diversos enfermeiros que com Sawyer tiveram contacto acabam por se revelar também contaminados, e, devido ao elevado grau de transmissão que a caracteriza, a doença começa a alastrar-se.

acabaram por falecer.

Baseada em factos verídicos, esta trama promete prender e agradar ao público.

Na vida real, foram infectadas pelo vírus naquele país vinte pessoas, oito das quais

Filmado em várias partes da Nigéria, 93 Dias conta no elenco com Bimbo Akintola, Zara Udofia Ejoh, Keppy Ekpenyong-Bassey e Danny Glover.

O que acontece e o que deve ser feito quando uma doença infecciosa mortal chega a uma cidade com mais de 21 milhões de pessoas? O filme dá resposta a esta questão, mostrando a exemplar reacção do corpo médico nigeriano, que conseguiu conter o vírus antes que este ganhasse maiores proporções e causasse mais mortes.

Dirigida por Steve Gukas, esta película, ganhou diversos galardões, e trouxe à Nigéria um grande respeito por parte da comunidade internacional por ter demonstrado a forma eficaz como o ébola foi ali contido.

93 Dias mostra a exemplar reacção do corpo médico nigeriano, que conseguiu conter o ébola antes que este ganhasse maiores proporções e causasse mais mortes 112 | Revista Xonguila © Ed. 49 • Julho/July 2022

Julho/July 2022 • Ed. 49 © Revista Xonguila | 113

114 | Revista Xonguila © Ed. 49 • Julho/July 2022

93 DAYS 93 Days is a Nigerian feature film recently added to the Netflix catalogue. It depicts the scourge of Nigeria's population and medical staff during the 2014 Ebola outbreak in the country, which lasted nearly 100 days.

T

he story begins with the arrival of Patrick Sawyer in the country, a Liberian diplomat on a work mission who, after falling ill, is admitted to a public hospital. Immediately after his admission into that hospital, the doctors decided to keep him in isolation, as they believed he may have contracted Ebola, since he had come from a country that was, at the time, facing an outbreak of the disease and had all the symptoms.

As the days go by, several nurses who had contact with Sawyer also end up contaminated and, due to the high degree of transmission that characterizes it, the disease began to spread.

eventually die.

Based on true facts, this gripping plot promises to please audiences. In real life, twenty people were infected by the virus in that country, eight of whom would

Filmed in various parts of Nigeria, 93 Days stars Bimbo Akintola, Zara Udofia Ejoh, Keppy Ekpenyong-Bassey and Danny Glover.

What happens and what should be done when a deadly infectious disease reaches a city of more than 21 million people?

The film answers this question, showing the exemplary response of the Nigerian medical staff, which managed to contain the virus and prevent it from spreading further and causing more deaths.

Directed by Steve Gukas, the film won several awards and brought Nigeria great respect from the international community, for depicting how effective the country was in containing an Ebola outbreak.

What happens when the most lethal and contagious disease known to man arrives in a mega city of over 20 million people?

Julho/July 2022 • Ed. 49 © Revista Xonguila | 115

Editorial

116 | Revista Xonguila © Ed. 49 • Julho/July 2022