Revista Xonguila Nº44

Publicação mensal • Fevereiro/February 2022 • Ed. 44 • Ano 05 • 300 MZN • xonguila.co.mz

RUTH

BANON Seu mundo fantástico Her fantastical world

APATHANY

Plataforma para promoção dos artistas A platform that promotes artists

IVAN BARROS

Esculpindo momentos em vídeo Forging moments through video

TURISMO RURAL Uma possível alavanca para o sector A potential stimulus for the sector

Arte Daqui

O MUNDO FANTÁSTICO DE RUTH BANON

4 | Revista Xonguila © Ed. 44 • Fevereiro/February 2022

Fotografia: Mariano Silva

Arte Daqui

Fevereiro/February 2022 • Ed. 44 © Revista Xonguila | 5

Arte Daqui

Sou ilustradora, faço peças isoladas, ilustro contos de livros, concebo capas de livros e cartazes. Produzo também produtos relacionados com a ilustração, tais como estojos, móveis, sacolas. Neste momento, tenho duas vias diferentes de trabalho, a ilustração em aguarela, que é muito inspirada na natureza e pela minha vida em Moçambique, e o collage, uma fusão feita de fotografias antigas, ilustração e botânica. Adoro pintar árvores, flores, vegetação em geral, paisagens, animais e o mundo africano, a natureza. Para mim, é uma viagem poética onde gosto de criar algo insólito, inesperado, uma poesia de representações. Um universo fantástico, por exemplo um menino a voar em cima de um pássaro ou um peixe em cima da cabeça de uma mulher; gosto de misturar o mundo animal com o mundo humano, para perceber a relação íntima que existe entre todos os seres vivos. Todos vimos da mãe-terra, e essa ligação interessam-me imenso. O que acaba por coincidir com o momento que estamos a viver actualmente a nível mundial; parece, de certa forma, que estamos a viver uma vida paralela. A nossa maior ligação à vida, apesar de ocuparmos as cidades, é a natureza, são os bosques, as flores,

as montanhas, o mar e o oceano. Gosto muito de pesquisar, de ver as influências que existem nas representações de arte um pouco por todo o mundo, conhecer os povos através da sua expressão artística, desde a América do Sul, África e Ásia. Acabo por absorver alguma influência dessas formas.

Eu nunca fui a uma escola aprender a pintar, fui-me descobrindo aos poucos, num percurso muito íntimo e pessoal. Estudei antropologia em Espanha, mas a minha alma vai muito mais além. Admiro diversos ilustradores de todo o mundo, franceses, espanhóis, muita gente. Aprendi a observar outros ilustradores, e a beber dessas fontes, como também de livros de banda desenhada, essa foi a minha escola. Há muito talento em Moçambique, mas há 3 pessoas que admiro particularmente, o Luís Cardoso, o Samuel Djive e o Celestino Mugumela, cuja arte é das mais originais que alguma vez vi.

Tudo começa com o rabisco ou sketch num papel daquilo que pretendo desenhar. Algumas ideias básicas na mente, e começo a pintar, não faço muito trabalho prévio. Sou só eu, os pincéis e o papel.

Normalmente trabalho com música e fico bastante concentrada. Nunca sei qual vai ser o resultado final, quando encontro uma ideia, deixo-me levar.

A magia da aguarela é que nem sempre se pode controlar a técnica demasiado, é possível fazer-se aquilo que se pretende mais ou menos, no entanto podem ocorrer surpresas. Eu aproveito essas mesmas surpresas para fazer o desenho evoluir numa determinada direcção, e é interessante que, por vezes, ficam mais bonitos do que esperava. Não costumo interromper um trabalho, desistir por não estar a conseguir alcançar o resultado almejado. Começo e termino no mesmo papel. É uma viagem a que me entrego e fico satisfeita com a espontaneidade de cada momento.

“Neste momento, tenho duas vias diferentes de trabalho, a ilustração em aguarela, que é muito inspirada na natureza e pela minha vida em Moçambique, e o collage, uma fusão feita de fotografias antigas, ilustração e botânica.”

6 | Revista Xonguila © Ed. 44 • Fevereiro/February 2022

Fotografia: Mariano Silva

“Fui sempre muito criativa e desde pequenina que faço desenhos a lápis de carvão. É engraçado que, inicialmente, não utilizava cores. Fazia muitas coisas com as mãos, como bordado, carpintaria, entre outras actividades. A certa altura, fui a uma exposição de uma amiga que pintava em aguarela e fiquei encantada. Logo no dia seguinte, comprei um kit pequeno básico de aguarelas e comecei a pintar.

Nessa altura tinha 21 anos. Durante a minha adolescência, preferia a música, e cheguei até a pertencer a um grupo. Não pintava desde a minha infância, mas comecei a interessar-me por esta técnica cada vez mais e, hoje, é a forma de expressão mais presente nas minhas ilustrações.

Arte Daqui

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Arte Daqui

Em relação a outras formas de expressão artística, gosto de muito de música, adoro tocar pandeireta e cantar. Tenho uma marca chamada Saraba, e na minha antiga galeria, a Machamba Criativa, tinha bastantes artigos criados por mim, tais como bonecos para crianças, bijuteria em tecido ou cabedal, estojos, móveis, entre outras coisas. Amo criar objectos que tenham relação com a ilustração.

O mundo actual está marcado pela tecnologia, uma ferramenta que pode ser utilizada para criar e abrir novos espaços de criação.

Ainda não domino muito, mas tenho aprendido algumas coisas, pois grande parte do meu trabalho é feito à mão, mas tem uma componente digital na collage. Há muitas

coisas para fazer. Quero investigar, mas não tenciono deixar de fazer as coisas artesanalmente pois isso imprime o meu carácter e a minha personalidade. Eu pinto quase tudo com pincéis e lápis.

Os meus planos para o futuro passam por continuar a criar e aprender, aprender, aprender… Pretendo também crescer na minha profissão. Sinto-me privilegiada porque adoro o que faço, não vejo como uma obrigação, é como se estivesse a brincar como uma criança. Quero explorar novas técnicas, novos jeitos e formas de pintar, viajar e inspirar-me noutros lugares. Quero fazer exposições, lançar um livro de ilustração e desfrutar trabalhando, que, para mim, é o maior presente da vida.

Fotografia: Mariano Silva

Para mais informações: Instagram/Facebook-@sarababyruthbanon

8 | Revista Xonguila © Ed. 44 • Fevereiro/February 2022

Arte Daqui

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Fotografia: Mariano Silva

“Para mim, pintar é uma viagem poética onde gosto de criar algo insólito, inesperado, uma poesia de representações”

Art from here

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Art from here

THE FANTASTICAL WORLD OF RUTH BANON

Fotografia: Mariano Silva

“I've always been very creative and have been making charcoal pencil drawings since I was little. It's funny that I initially didn't use colour. I did many things with my hands, such as embroidery, carpentry, among other craft activities. At some point, I went to the art exhibition of a f riend who painted with watercolours, and I was delighted. The very next day, I bought a small basic watercolour kit and started painting. I was 21 years old at the time. During my adolescence, I had preferred music, and even belonged to a band.

I hadn't painted since my childhood, but I became more and more interested in this technique and, today, it is the most dominant form of expression in my illustrations.

I am an illustrator. I make stand-alone pieces, I illustrate storybooks, I design book covers and posters. I also make other products related to illustration, such as pouches, furniture, bags. At the moment, I have two different modes of working: the watercolour illustration, which is very inspired by nature and my life in Mozambique, and the collage, a fusion made of old photographs, illustration and botany. I love to paint trees, flowers, vegetation in general, landscapes, animals and the Af rican world, nature. For me, it's a poetic journey where I like to create something unusual, unexpected, a poetry of representations. A fantastical universe, for example a boy flying on top of a bird or a f ish on top of a woman's head; I like to mix

the animal world with the human world, to understand the intimate relationship that exists between all living beings. We all come f rom Mother Earth, and that connection interests me immensely. Which ends up coinciding with the moment we are currently experiencing worldwide; it seems that, in a way, we are living a parallel life. Although we live in cities, nature is our greatest connection to life: the forests, the flowers, the mountains, the sea and the ocean. I really enjoy researching, seeing the influences that exist in representations of art all over the world; getting to know [different] peoples through their artistic expression, f rom South America, Af rica and Asia. I end up absorbing some influences f rom those forms [of expression].

I never went to a school to learn how to paint. I discovered it in myself little by little, through a very intimate and personal journey. I studied anthropology in Spain, but my soul goes much further. I admire many illustrators f rom all over the world – French, Spanish, many people. I learnt f rom observing other illustrators, and drinking f rom those sources, as well as f rom comic books – that was my school. There is a lot of talent in Mozambique, but there are 3 people I particularly admire, namely: Luís Cardoso, Samuel D jive and Celestino Mugumela, whose art is one of the most original I've ever seen.

“I never went to a school to learn how to paint.

I discovered it in myself little by little, through a very intimate and personal journey.

I studied anthropology in Spain, but my soul goes much further.”

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Art from here

It all starts with a doodle or sketch on paper, of what I want to draw. With a few basic ideas in mind, I start painting. I don't do much preparatory work. It's just me, the brushes and the paper. I usually work with music and I'm very focused. I never know what the end result will be; when I find an idea, I get carried away. The magic of watercolour is that you can't always control the technique precisely: you can more or less do what you want, and yet surprises can occur. I take advantage of these same surprises to make the design evolve in a certain direction, and it's interesting that sometimes they turn out better than I expected. I don't usually interrupt a job or give up because I'm not able to achieve the desired result. I start and end on the same paper. It´s a journey I surrender to, and I am satisfied with the spontaneity of each moment.

Regarding other forms of artistic expression, I really like music. I love playing thae tambourine and singing. I have a brand called Saraba, and in my old gallery, Machamba Criativa, I had a lot of items created by me, such as dolls for children, fabric or leather jewellery, pouches, furniture, among other things. I love creating objects that are related to illustration.

Today's world is marked by technology, a tool that can be used to create and open up new spaces for creation. I haven't mastered much yet, but I've learnt a few things, as most of my work is done by hand, and yet it also has a digital component in the collage. There are many things to do. I want to investigate, but I don't intend to stop doing things by hand because that imprints my character and my personality. I paint almost everything with brushes and pencils.

Fotografia: Mariano Silva

My plans for the future are to continue to create and learn, learn, learn… I also intend to grow in my profession. I feel privileged because I love what I do, I don't see it as an obligation, it's like I'm playing like a child. I want to explore new techniques, new ways and styles of painting; to travel and be inspired by other places. I want to do exhibitions, launch an illustration book and continue to enjoy myself whilst working, which is life's greatest gift for me.

More information on:Instagram/Facebook @sarababyruthbanon

14 | Revista Xonguila © Ed. 44 • Fevereiro/February 2022

Art from here

Fevereiro/February 2022 • Ed. 44 © Revista Xonguila | 15

Editorial

4 RUTH BANON

O mundo fantástico de Ruth Banon The fantastical world of Ruth Banon

16 | Revista Xonguila © Ed. 44 • Fevereiro/February 2022

Editorial

30 IVAN BARROS

44 TURISMO RURAL

20 O CARACOL

74 APATHANY

50 APARTHEID

80 DIÁSPORA

58 SHANNA CHICALIA

88 O PILÃO

Eternizando instantes e histórias Immortalizing moments and stories

Uma nova proposta na capital Caracol, a new eatery in the capital

O Memorial às vítimas dos ataques do regime do apartheid A Memorial to the victims of attacks by the Apartheid regime

A sua arte e clicks fotográficos Her art and photography

Uma oportunidade em Moçambique Rural tourism, an opportunity in Mozambique

O nosso Spotify local our local equivalent to Spotify

Rui Tenreiro, estrategista de imagem na Suécia Rui Tenreiro, image strategist in Sweden

Um "pilar" na nossa sociedade A "pillar" in our society

66 A ESSÊNCIA DE VIAJAR 96 ALCANCE EDITORES Viva. Ame. Viaje Live. Love. Wander

Recomendações de leitura da Alcance Editores Reading suggestions by Alcance Editores

FICHA TÉCNICA/BIOS

Propriedade/Property: Veludo & Mentol, Sociedade Unipessoal Lda • Conselho de Administração/Administrative Council: Omar Diogo, Nuno Soares, Mariano Silva • Director: Nuno Soares • Gestão de Conteúdos Editoriais/Editorial Content Management: Nuno Soares, Mariano Silva • Copy-desk (português): Fátima Ribeiro • Colunistas/Writers: Eliana Silva, Mariano Silva, Nuno Soares, Jaime Álvaro, Precidónio Silvério, Aayat Irfan • Tradução (Português-Inglês)/Translation (Portuguese-English): M. Gabriela Carrilho Aragão • Fotograf ia/Photography: Mariano Silva • Design de Capa/Cover Design: Nuno Azevedo • Graf ismo/Visuals: Omar Diogo • Infograf ia e Paginação/ Infographics and Pagination: Omar Diogo • Produtores Audiovisuais/Audiovisual Producers: Nuno Lopes, Ana Piedade, Mariano Silva • Gestão de Redes Sociais/ Social Media Management: Nuno Soares • Conteúdos de Marketing e Comunicação/ Marketing and Communication Contents: Omar Diogo, Nuno Azevedo • Gestão de Homepage e Edição Online/Homepage Management and Online Editing: Omar Diogo, Jorge Oliveira • Departamento Comercial/Commercial Department: Nuno Soares - comercial@xonguila.co.mz • Impressão/Printing: Minerva Print • Distribuição/ Distribution: Flotsam Moçambique, Lda • ISSN: ISSN-0261-661 • Registo/Register: 02/Gabinfo-dec/2018 • Registo de Propriedade Industrial/Industrial Property Registration: 35065/2017 - 35066/2017 (15/01/2018) Os artigos com assinatura reflectem a opinião dos autores e não necessariamente da revista. Toda a transcrição ou reprodução, parcial ou total, requer a autorização expressa da empresa titular da revista.

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Fevereiro/February 2022 • Ed. 44 © Revista Xonguila | 17

Editorial

E

Do Director From the Director

estamos novamente em Fevereiro, mês de celebração dos nossos heróis e do regresso às aulas, representando o início de uma nova aventura. Para muitos, o ano parece só agora ter realmente começado. Acabaram-se as festas, e o que antes eram somente planos e promessas de final de ano, transformou-se em atitudes e acções que serão determinantes no nosso rumo daqui para frente. Recebamos, pois, este mês de braços abertos, esforçando-nos por que nos traga muito de bom.

Para a presente publicação da Xonguila, a quadragésima quarta, conversámos com Ruth Banon e ficámos a perceber melhor o que a motiva a criar as suas “fabulásticas” ilustrações e colagens. Damos a conhecer os primeiros passos da carreira do talentoso videógrafo Ivan Barros, e a plataforma Apathany, que, digamos, é o nosso Spotify local, e não só. Do domínio da restauração, apresentamos o Caracol, uma das novas propostas na nossa capital que promete vir a dar que falar. De regresso está a nossa articulista Neyde Cuna, desta vez falando-nos da importância do turismo rural para a dinamização daquele que tem sido um dos sectores mais prejudicados pela pandemia.

Uma pergunta para si: sabia que o pilão é um importante "pilar" na nossa sociedade? Leia também aqui por que razão assim afirmamos. E, já que ler é fundamental para mais conhecimento e enriquecimento cultural, lançamos na presente edição, em parceria com a Alcance Editores, uma nova rubrica, em que todos os meses recomendaremos duas obras para leitura, uma para adultos e a outra para os mais pequeninos, que desejamos serem do vosso agrado. Como sempre, outras novidades e matérias aliciantes poderão ser encontradas nesta nossa Xonguila, revista que, como sabe, pretende exibir coisas interessantes que vão acontecendo entre nós, assim como a constante beleza natural e humana do nosso Moçambique, como sugere o nosso título.

Apesar das dificuldades que possam existir, lembre-se de tomar um banho de sol para lavar a alma, comemorar a vida e procurar ser feliz. É um enorme prazer tê-lo connosco. Votos de uma aprazível leitura.

A

nd it's February once again, during which we celebrate our national heroes and children go back to school, thus marking the beginning of a new adventure. For many, the year seems to have only just begun. The festivities are over, and what used to be just plans and end-of-year promises, became attitudes and concrete actions that will be decisive in establishing a course of action from here onwards. Let us therefore welcome this month with open arms, sparing no effort for it to bring us much good.

For this current edition of Xonguila, the 44th, we talked to Ruth Banon to better understand what motivates her to create her “fabulastic” illustrations and collages. We recount the first steps in the professional career of the talented videographer Ivan Barros, and introduce you to the Apathany platform – which is, let us say, our local Spotify, and yet so much more than that. In the restaurant sector, we spotlight Caracol, one of the new eateries in our capital that promises to be widely talked about. Our columnist Neyde Cuna is back, and this time around she talks to us about the importance of rural tourism to galvanize what has been one of the most hard-hit sectors by the pandemic.

A question for you: did you know that the pilão is an important "pillar" in our society? Read about it in this edition, to find out why we say so. And, since reading is essential to gain more knowledge and cultural enrichment, we launched a new column in this edition, in partnership with Alcance Editores, in which we will make monthly reading recommendations with two book listings: one for adults, and another for younger readers, which we hope will please you. As always, other exciting news and articles can be found in our Xonguila, a magazine that, as you know, seeks to show interesting things that are happening among us, as well as the constant natural and human beauty of our Mozambique, as our title suggests.

Despite all the difficulties that may exist, remember to take a sunbath to wash your soul, celebrate life and strive to be happy. It is a great pleasure to have you with us. Best wishes for a pleasant read.

Nuno Soares Director Com o apoio de:

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Editorial

Fevereiro/February 2022 • Ed. 44 © Revista Xonguila | 19

Fotografia: Mariano Silva

Editorial

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Editorial

Sentimos que as pessoas gostam de nos vir visitar, de se sentar no Caracol e estar entre amigos e família, mesmo fora de períodos de refeição

– Luís Antunes,Fevereiro/February sócio 2022 • Ed. 44 © Revista Xonguila | 21

Paladares à solta

O CARACOL Uma nova proposta na capital O restaurante Caracol, recentemente inaugurado na cidade de Maputo, f ica localizado na rua da Gorongosa, quase em f rente do chamado “Miradouro”. É Luís Antunes, sócio, quem dele aqui nos fala: “A nossa cozinha é fundamentalmente mediterrânica, e o que mais influencia a concepção do menu são as inspirações pessoais dos Chefs e sócios, aliadas à disponibilidade de produtos f rescos no mercado nacional. Sempre que possível, utilizamos produtos locais, os mais f rescos possíveis, dando particular importância aos peixes, mariscos e vegetais. Dada a nossa presença no mercado já há alguns anos, temos fornecedores que nos garantem produtos de qualidade durante todo o ano. Consideramos que, num restaurante, a comida é sem dúvida muito importante não só em termos de qualidade e sabor, mas também em termos de consistência. O serviço e o bom ambiente são igualmente importantes.

Na restauração é dif ícil combater o efeito da pandemia que nos assola, no entanto temos tido bastante sucesso durante esta fase. Cremos que tal se deve ao ambiente único que oferecemos no nosso espaço e à qualidade da comida. Sentimos que as pessoas gostam de nos vir visitar, de se sentar no Caracol e estar entre amigos e família, mesmo fora de períodos de refeição. A partir do mês Fevereiro, iremos ter música ao vivo.

Os nossos planos para o futuro passam por abrir um outro espaço de restauração na cidade, mas, para já, iremos ampliar o horário do Caracol a partir de meados de Fevereiro e passar a servir pequenos-almoços. Estamos em crer que, dada a localização, a oferta de pequenos-almoços saudáveis, sumos naturais e detox será um sucesso junto dos mais af icionados do desporto na zona do Miradouro.

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Fotografia: Mariano Silva

Ainda é cedo para sabermos se atingimos o patamar que pretendemos, mas, ao f im destes meses de funcionamento, podemos af irmar com convicção que, felizmente, estamos muito acima das nossas projecções de vendas. O nosso sucesso foi muito rápido: ao f im dos primeiros dois dias após a abertura tivemos a nossa primeira casa cheia, algo que tem ocorrido todas as semanas mais de um dia por semana. Tem sido fantástico ver tudo isso e ter os clientes satisfeitos, apesar do “stress” que dá atender todos os pedidos de uma casa cheia.

Paladares à solta

“O nosso sucesso foi muito rápido: ao fim dos primeiros dois dias tivemos a nossa primeira casa cheia” Fevereiro/February 2022 • Ed. 44 © Revista Xonguila | 23

“Estamos em crer que, dada a localização, a oferta de pequenos-almoços saudáveis, sumos naturais e detox será um sucesso junto dos mais af icionados do desporto na zona do Miradouro”

Fotografia: Mariano Silva

Palates on the loose

26 | Revista Xonguila © Ed. 44 • Fevereiro/February 2022

Palates on the loose

A new eatery in the capital The recently opened Caracol restaurant is located on Rua da Gorongosa in Maputo city, practically facing the so-called “Miradouro” (lookout point). One of the founding partners, Luís Antunes, explained the concept to us: “Our cuisine is fundamentally Mediterranean, and our menu´s offerings primarily reflect the personal inspirations of our Chefs and [business] partners, combined with the availability of f resh products in the national market.

Whenever possible, we use local produce and as f resh as possible, giving particular importance to f ish, seafood and vegetables. Given our presence in the market for some years now, we have suppliers that guarantee us quality products throughout the year.

We believe that, in a restaurant, food is undoubtedly very important not only in terms of quality and taste, but also in terms of consistency. Service and a good atmosphere are equally important.

Fotografia: Mariano Silva

In the restaurant sector, it has been diff icult to combat the effect of the pandemic currently plaguing us; however, we have been very successful during this phase. We believe that this is due to the unique atmosphere we offer in our space and the quality of the food. We feel that people like to visit us, to sit at Caracol and be among

f riends and family, even outside mealtimes. Starting in February, we will have live music as well.

It is still too early to know if we have reached the level we want, but after these few months of operation, we can conf idently say that, fortunately, we are well above our sales projections.

Our success was remarkably fast: by the end of the f irst two days after opening, we had our f irst full house, something that has since happened for at least a couple of days every week. It has been fantastic to see all this and to have satisf ied customers, despite the “stress” that comes with meeting all the orders of a full house.

Our plans for the future include opening another restaurant in the city, but for now, we will extend Caracol's opening hours f rom mid-February and start serving breakfast as well.

We believe that, given the location, the offer of healthy breakfasts, natural and detox juices will be a success with the f itness af icionados that f requent the Miradouro area.

It has been fantastic to see all this and to have satisf ied customers, despite the “stress” that comes with meeting all the orders of a full house.

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IVAN BARROS O rock, a paixão pela dança e o contar histórias em vídeo

Fotografia: Mariano Silva

“Quando a gente quer fazer algo, não pode olhar para o dinheiro como objectivo primordial.

O sucesso será uma consequência, seja em termos de dinheiro seja de prestígio"

Ivan Barros O rock, a paixão pela dança e o contar histórias em vídeo Escrito por: Jaime

Álvaro

Depois de seis anos a fazer televisão, Ivan Barros decide, em 2012, criar a sua própria produtora de vídeo, para atender a uma necessidade tanto profissional quanto pessoal, que era contar, através de vídeos, histórias inspiradoras sobre Moçambique e o que há de melhor no país, os moçambicanos.

Antes disso, este videógrafo moçambicano experimentou outras áreas artísticas, primeiro a música, como guitarrista de uma banda de rock, e depois a dança, mas como mero expectador.

Filho de António Barros, um dos comunicadores mais conhecidos de Moçambique, Ivan Barros não esconde que o legado do pai teve nele influência, desde sempre: "Meu pai é jornalista e cronista de profissão, com mais de 35 anos de experiência. Então, desde pequeno que eu vivo essa coisa de comunicação" - filho de peixe sabe nadar, como diz o provérbio português que justifica o seu DNA. Às narrativas que o pai sempre contou através de uma rubrica da Antena Nacional da Rádio Moçambique (RM), Ivan acrescentou imagens e conseguiu impor a sua própria voz na comunicação.

Aos 12 anos, Ivan já produzia um programa de rádio

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para o pai. Seleccionava as matérias e as músicas que iam ao ar. O bichinho da comunicação foi crescendo com a exposição à rádio e, sobretudo, aos livros. "Ouvia muito a rádio e o meu pai incentivava-me muito a ler. Não só a mim, como também aos meus irmãos. Ele comprava-me muitas enciclopédias e várias revistas. Eu consumia muitas histórias literárias porque a minha casa era uma autêntica biblioteca. Tínhamos uma colecção de livros que não acabava mais", assim recordou a sua infância e bons hábitos que ainda hoje cultiva.

Embora nascido sob o calor intenso de Tete, em 1979, Ivan passou toda a sua infância na cidade de

Apesar do sucesso da banda, Ivan sempre manteve os pés assentes na terra. A realidade nunca o deixou sonhar além do que podia. “Desde que integrei a banda, sempre a olhei como um projecto paralelo à minha actividade profissional, porque, estando em Moçambique, tocar rock foi sempre por amor à camisola e um hobbie. Nunca tive a ilusão de que poderia fazer daquilo a minha vida", disse, admitindo, contudo, saudades de um palco e de um som alto e agressivo da sua guitarra, arrumada em 2012.

No mesmo ano em que o grupo se dissolveu, Ivan abriu a sua própria produtora de vídeos, depois de uma passagem pela televisão. Em 10 anos de estrada a banda Kaspa não chegou a editar nenhum disco original.

Fotografia: Mariano Silva

A PASSAGEM PELA TELEVISÃO A trajectória de Ivan Barros pela televisão é notória pelas funções de liderança que ali desempenhou. Mas como foi que um informático e roqueiro amador chegou à televisão?

Quelimane, província da Zambézia, antes de se mudar definitivamente para Maputo, por motivos relacionados com os estudos. Por isso, tem toda a legitimidade ao se considerar um quelimanense de gema. Hoje, com 43 anos de idade, Ivan é formado na área de comunicação, tendo trabalhado, durante alguns anos, como desenvolvedor de websites e criador de conteúdos.

ROCK: A PRIMEIRA PAIXÃO ANTES DA DANÇA Está comprovado que a música e a criatividade são ingredientes perfeitos para manter a mente focada e produtiva. Durante muitos anos, Ivan era uma coisa a maior parte do seu tempo, e guitarrista de uma banda de rock nos tempos livres. "A banda era composta por mim, na guitarra, um irmão meu, na vocalização, um primo no baixo, e mais um amigo na bateria.” Era a Kaspanatola, fundada em 2002.

Começou por tocar um estilo punk, depois experimentou algo mais pesado, agressivo e intenso.

Abreviou o nome para Kaspa para rimar com a mudança. Entretanto, o grupo manteve intactos os objectivos pelos quais foi criado, e a diversão estava acima de qualquer outro. Ao longo da curta carreira que teve, essa banda de jovens aventureiros apresentou-se em vários palcos, destacando-se o Estádio da Machava, a Praça da Independência, o Centro Cultural Franco Moçambicano (CCFM), entre outros.

Ivan organizava festivais de rock em Maputo, com fundos próprios, também por amor à camisola, segundo seus relatos. Os festivais tinham por objectivo promover o rock, um estilo marginalizado pelos promotores de espectáculos da época.

"Como ninguém nos chamava, tínhamos que organizar os nossos próprios shows, com meios próprios", contou. "João Ribeiro f icou a saber que eu organizava festivais de rock quase não tendo nenhum orçamento, mas que as coisas corriam bem. Penso que ele terá visto em mim alguma capacidade para fazer produção, que nem eu sabia que tinha, e convidou-me a coordenar a produção da STV (Soico Televisão), em 2007."

Passados seis meses, Ivan foi nomeado Director de Programas daquele canal privado. “Percebi muito rapidamente que o vídeo era aquilo de que realmente gostava. Eu tinha que aprovar alguns conteúdos antes de irem para o ar, e comecei a aprender como se fazia televisão observando os colegas a trabalhar.” Entre os programas de entretenimento que liderou são de destacar o Fama Show, o Fest Coros e o Music Box Live.

Após um ano e meio na STV, Ivan é convidado a assumir a direcção de programas na Televisão Independente de Moçambique – TIM, canal que veio a extinguir-se. "Tudo o que eu aprendi na STV, que era uma excelente escola, implementei e aperfeiçoei na TIM durante cerca de cinco anos, e em toda essa trajectória nunca pensei abrir uma empresa, porque, na minha visão como artista, não queria lidar com impostos. Eu pretendia sempre trabalhar para alguém", revelou. Contudo, desiludido com o que encontrara na televisão, Ivan ganhou coragem, enf rentou os seus medos e decidiu abrir a sua própria produtora de vídeos, com a missão de contribuir para o desenvolvimento audiovisual nacional.

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VEIO A DESILUSÃO, DEPOIS A AUTO-REALIZAÇÃO Há 10 anos, em 2012, Ivan Barros abriu uma pequena produtora de vídeos, a Ampola Audiovisual, focada em vídeos corporativos e histórias humanizadas. "Deixei de acreditar nos canais de televisão nacionais porque deixaram de ser veículos que contavam histórias sobre Moçambique e sobre moçambicanos para passarem a ser programas de rádio com imagens. A maior parte da grelha era feita de programas de debate ou de conversa. Já não havia reportagens, não havia conteúdos em vídeo que contassem histórias do quotidiano moçambicano. Vi então que, se calhar, era hora de enf rentar os meus receios e abrir a minha produtora de vídeos. Fui também muito influenciado pela minha esposa, que me deu muito suporte nesse momento para eu deixar de ser assalariado e passar a mandar no meu destino prof issional.”

Neste papel de videógrafo, Ivan já percorreu todas as províncias do país para contar histórias de sucesso de organizações não governamentais, empresas, projectos e/ou pessoas, o que lhe tem permitido mostrar a todos os moçambicanos um pouco de todo o país. "Sinto-me um prof issional realizado porque através das minhas lentes conto um Moçambique pobre, mas um Moçambique de pessoas que acreditam que o amanhã pode ser melhor. Eu acho que contar essas histórias ajuda a mostrar a outros moçambicanos que não podemos perder a esperança.” E o Director Criativo da Ampola Audiovisual exemplif ica: "Quando fomos contar histórias de quem sof reu os efeitos do ciclone Idai e todos aqueles ciclones que vieram a seguir na região de Búzi, província de Sofala, vimos pessoas que não desistiram, que continuavam a batalhar, a lutar para dar um futuro melhor aos seus f ilhos. São histórias que emocionam e que nos fazem perceber que na vida há coisas mais importantes que certas futilidades que temos no ambiente urbano. Acho que isso nos torna mais humanos.”

Sempre entusiasmado, Ivan diz que ama Moçambique, e que não viaja só para cumprir uma agenda de trabalho, mas também para conhecer as realidades locais para além daquilo que foi proposto a fazer. Alguns projectos marcaram, como um programa produzido durante seis anos para o Ministério da Agricultura, o “Moçambique Criando Riqueza”, exibido na Televisão de Moçambique (TVM). Segundo Ivan, foi “um projecto espectacular, que não falava de política, mas de técnicas agrárias". Servia de ponte para vários produtores de vários pontos do país trocarem experiências.

“Cada vídeo que produzo é como um bebé para mim. Tem algo especial porque em todos eles eu tento crescer mais um pouco prof issionalmente.

Todos me obrigam a alguma pesquisa e isso torna-me um prof issional melhor do que era. Então, todos eles têm uma história peculiar.” A qualida-

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de, o prof issionalismo e o entusiasmo f izeram de Ivan um prof issional cujos serviços são bastante requisitados no mercado nacional. Entre os seus clientes destacam-se o Banco de Moçambique, o WWF, a Higest, a OXFAM e a AGRA, entre outros.

VÍDEO E DANÇA: UM CASAMENTO PREDESTINADO Ivan Barros encontrou, na verdade inventou, no vídeo, uma oportunidade para viver e eternizar uma das suas grandes e antigas paixões, a dança contemporânea. “Eu não danço e nem gosto de dançar, mas adoro dança. Já fui desaf iado até a aprender a dançar. Mas, para mim, não se trata de uma questão de aprender. Eu não gosto de dançar, mas adoro ver dança", revelou.

A relação de Ivan com esta arte iniciou-se com um encontro com dois pesos pesados da dança contemporânea moçambicana, Edna Jaime e Ídio Chichava. "Os bailarinos contactaram a minha banda para produzir, ao vivo, a trilha sonora para acompanhar uma peça que eles estavam a conceber. Passaram-se 20 anos, e nós, até hoje, somos grades amigos.”

Fotografia: Mariano Silva

ram independentes, tendo outras contado com o apoio material e f inanceiro do Centro Cultural Franco-Moçambicano (CCFM), no âmbito de apoio à classe artística, drasticamente afectada pela pandemia da covid-19. "Chamo a esses projectos colaborativos ‘projectos de paixão'; não há nenhum retorno f inanceiro, mas para mim funcionam como um escape do mundo corporativo, onde tudo é mais controlado. Portanto, quando estou a produzir ou realizar vídeos de dança, estou livre para experimentar técnicas, até para ser politicamente incorrecto do ponto de vista de regras de f ilmagem", sustentou. “In-box” descreve a situação actual que o mundo vive e discute sobre a resiliência humana e a esperança de que o mundo, e Moçambique, em particular Cabo Delgado, precisam. O f ilme recebeu uma crítica positiva nos festivais em que passou e foi, igualmente, requisitado por alguns professores universitários de universidades sul-af ricanas e do Reino Unido para ser usado em aulas de dança.

"Isso demostra que, quando fazemos algo bem feito, atravessa f ronteiras. Quando a gente quer fazer algo, não pode olhar para o dinheiro como objectivo primordial. O sucesso será uma consequência, seja em termos de dinheiro seja de prestígio", aditou.

Ivan tornou-se especialista na produção e realização de vídeos e f ilmes de dança contemporânea em Moçambique. O seu catálogo inclui “Começa a f icar tarde”, Prémio Novos Autores, do Festival de Cinema de Curta-Metragem Kugoma 2020, e “Último berro: Corpo em Estado de Emergência”, ambos f ilmes interpretados pelo bailarino Ídio Chichava; “Um segundo” interpretado pela bailarina Edna Jaime; “Motus Corporis”, com o coreógrafo e bailarino Lulu Sala; “In-box” interpretado por Pak Ndjamena, exibido no mais antigo festival af ricano de dança contemporânea, Jomba, em Durban, na Áf rica do Sul, e em alguns festivais na Europa. Grande parte das produções fo-

Ainda com o bailarino e também realizador Pak, Ivan apresentou, em directo, um espectáculo de dança, via streaming, no TANZAHOi - International Dance and Dance Film Festival, da Alemanha. A performance dos artistas foi gravada em Novembro de 2021 na Fundação Fernando Leite Couto. "Quando estou a produzir os f ilmes, não penso muito no impacto que poderão ter, mas sim na satisfação que eu e os bailarinos teremos com aquele produto audiovisual. E, se ele for bem recebido pelo público, é claro que, como prof issionais, como artistas, f icamos superlisonjeados", justif icou.

Os vídeos e f ilmes de dança referenciados podem ser acessados através do canal do YouTube de Ivan Barros, que af irma que, se ele não fosse um contador de história, quereria ser um pássaro ou um piloto. "Adoro ver os pássaros planar as asas com toda a liberdade que um ser vivo pode almejar", concluiu. Ivan, que é casado e pai de dois f ilhos, promete continuar a contar histórias sobre o quotidiano dos moçambicanos, para as partilhar com Moçambique e com o mundo.

Instagram: @ivanrsbarros

“Sinto-me um profissional realizado porque através das minhas lentes conto um Moçambique pobre, mas um Moçambique de pessoas que acreditam que o amanhã pode ser melhor” - Ivan Barros

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Fotografia: Mariano Silva

Ivan Barros

Passionate about rock, dance and video storytelling Written by: Jaime

Álvaro

After six years of working in television, Ivan Barros decided to start his own video production company in 2012, to meet a need that was at once professional and personal: using video to tell inspiring stories about Mozambique and what the country has best – its people. Prior to that, this Mozambican videographer had explored other artistic avenues, beginning with music – as a guitarist in a rock band – and then dance, albeit as a mere spectator.

Son of António Barros, one of Mozambique's best-known communication professionals, Ivan Barros does not hide the influence his father's legacy has had on him from early on: "My father is a journalist and columnist by profession, with over 35 years of experience. I have lived with this thing called communication since I was a kid". As the old proverb goes, it seems that the apple didn´t fall far from the tree indeed, and is part of his artistic DNA. Ivan added images to the stories his father used to narrate on a radio program at Antena Nacional – Rádio Moçambique (RM), and managed to establish his own voice in communication.

At the age of 12, Ivan was already producing a radio program for his father. He selected the content and songs to be aired.

The communication bug grew alongside his exposure to radio and, above all, to books. "I listened to the radio a lot, and my father encouraged me to read a lot.

Not only me, but also my brothers. He bought me a lot of encyclopedias and several magazines. I consumed a lot of literature because my house was a real library. We had a never-ending collection of books", he thus recalled his childhood and the good habits that he still cultivates to this day.

Although born under the intense heat of the Tete province, in 1979, Ivan spent his entire childhood in the city of Quelimane, in the Zambézia province, before moving permanently to Maputo to pursue his studies. Therefore, he legitimately considers himself a quintessential Quelimanense (“of or from Quelimane”). Today, at the age of 43, Ivan has a degree in communication, having worked for a few years as a website developer and content creator.

ROCK: HIS FIRST PASSION, BEFORE DANCE

Fotografia: Mariano Silva

Music and creativity are proven to be perfect ingredients to keep one´s mind focused and productive.

For many years, Ivan dedicated most of his time to one thing, whilst being a guitarist in a rock band in his spare time. "The band consisted of me on guitar, my brother on vocals, a cousin on bass, and another friend on drums." It was named Kaspanatola, founded in 2002. They started out playing punk-style music, and then experimented with something heavier, more aggressive and intense.

They shortened the name to Kaspa, to rhyme with “mudança” (“change”, in Portuguese). However, the group never wavered from the band´s founding goals, and fun was above all others. Throughout its brief career, this band of young adventurers per-

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formed on several stages, including the Machava Stadium, Praça da Independência, the Franco Mozambican Cultural Center (CCFM), among others.

Despite the band's success, Ivan always kept his feet on the ground. Reality never let him dream beyond what he could. “Since joining the band, I always regarded it as a side project to my professional occupation because, this being Mozambique, playing rock was always going to be just for the love of it, a hobby. I never had the illusion that that could be my life", he said. He admits, however, to missing the stage and the loud, aggressive sound of his guitar, put aside in 2012. In the same year that the group dissolved, Ivan opened his own video production company, after a stint doing work for television. During their 10 years on the road, the band Kaspa didn´t publish any original album.

THE TELEVISION YEARS

Ivan Barros' career on television is notable for the leadership roles he performed there. But how did a computer scientist and amateur rocker get into television?

Ivan used to organize rock festivals in Maputo, with his own funds and just for the love of it, by his own account. The festivals were intended to promote rock music, a style marginalized by show promoters at the time. "As nobody called us, we had to organize our own shows, with our own means", he said. "João Ribeiro learnt that I organized rock festivals with virtually no budget, but that [nevertheless] things went well. I think he saw in me some ability to do production, something that I didn't even know I had it myself, and invited me to coordinate production at STV (Soico Television) in 2007."

After six months on the job, Ivan was appointed Program Director for that private channel. “I realized very quickly that video was what I was truly drawn to. I had to approve some content before it aired, and I started to learn how to make television by watching my colleagues at work.” Some of the notable entertainment programs he led at the time are Fama Show, Fest Coros and Music Box Live.

After a year and a half at STV, Ivan was invited to take over as director of programming at Televisão Independente de Moçambique – TIM, a channel that was later closed. "Everything I had learnt at STV, which was an excellent school, I implemented and perfected at TIM for about five years. Through-

out this entire trajectory, I never thought about opening a company because, from my standpoint as an artist, I didn't want to deal with taxes. I always intended to work for someone", he revealed.

However, disillusioned with what he had found on television, Ivan gained courage, faced his fears and decided to open his own video production company, with the mission of contributing to the national audiovisual development.

DISILLUSIONMENT, THEN SELF-REALIZATION

Ten years ago, in 2012, Ivan Barros opened a small video production company, Ampola Audiovisual, focusing on corporate videos and stories with a human side. "I stopped believing in national television channels because they stopped being vehicles that told stories about Mozambique and about Mozambicans, and became radio programs with images.

Most of the schedule was made up of debates or talk show programs. There was no longer reportage nor video content that told stories of Mozambican daily life. I realized then that it was perhaps time to face my fears and open my own video production company. I was also very influenced by my wife, who gave me a lot of support for me to stop being a salaried employee and start ruling my own professional destiny.”

As a videographer, Ivan has traveled to all the prov-

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inces in the country to tell success stories of non-governmental organizations, companies, projects and/ or people, which has allowed him to show a little bit of the whole country to all Mozambicans. “I feel like an accomplished professional because, through my lens, I tell [others] of a poor Mozambique, but a Mozambique [made up of] people who nevertheless believe that tomorrow can be better. I think that telling these stories helps show other Mozambicans that we cannot lose hope.” And the Creative Director of Ampola Audiovisual goes on to give some examples: "When we went to collect stories of those who suffered the effects of Cyclone Idai and all those cyclones that followed in the region of Búzi, in Sofala province, we saw people who did not give up, who continued to fight – fighting to give their children a better future. Those are stories that move us, and make us realize that there are more important things in life than certain trivialities we see in the urban environment. I think that makes us more human.”

Always enthusiastic, Ivan says he loves Mozambique.

He doesn't just travel to fulfill a work schedule, but also to get to know local realities beyond what he goes there to do at the outset. Some projects left a mark, such as a program produced for six years for the Ministry of Agriculture, titled “Moçambique Criando Riqueza” (“Mozambique Generating Wealth”), aired on Televisão de Moçambique (TVM). According to Ivan, it was “a spectacular project, which did not talk about politics, but about agrarian techniques.” It served as a bridge for several producers from different parts of the country to exchange experiences.

“Each video I make is like a baby to me. There's something special in all of them, because I try to grow a little more professionally with each of them.

All of them force me to do some research, and that makes me a better professional than I was [on the previous one]. And so, they all have a peculiar story.”

The quality, professionalism and enthusiasm made Ivan a professional whose services are in great demand in the national market. Among its clients are Banco de Moçambique, WWF, Higest, OXFAM and AGRA, among others.

VIDEO AND DANCE: A FATED MARRIAGE

Ivan Barros found in video – or rather, invented – an opportunity to live and immortalize one of his greatest and oldest passions: contemporary dance.

“I don't dance – in fact, I don´t like dancing – but I do love dance. I've indeed been challenged to learn how to dance. But for me, it's not about learning to do it. I don't like to dance, but I love watching others dance."

Ivan's relationship with this art began with a meeting with two heavyweights of Mozambican contemporary dance, Edna Jaime and Ídio Chichava.

“The dancers contacted my band to produce, live, the soundtrack to accompany a piece they were creating. Twenty years have since passed, and we continue to be great friends to this day.”

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Ivan became a specialist in the production and direction of contemporary dance videos and films in Mozambique. His catalog includes “Começa a ficar tarde” (“It´s getting late”), which won the Prémio Novos Autores (New Authors Award) at the Kugoma Short Film Festival 2020, and “Último berro: Corpo em Estado de Emergência” (“The last scream: Body in a State of Emergency”), both starring performances by dancer Ídio Chichava; “Um Segundo” (“A Second”) performed by the dancer Edna Jaime; “Motus Corporis”, with choreographer and dancer Lulu Sala; “In-box”, performed by Pak Ndjamena and screened at the oldest African contemporary dance festival, Jomba, in Durban, South Africa, and at some festivals in Europe. Most of the productions were independent, while others had the material and financial support of the Franco-Mozambican Cultural Center (CCFM), in the context of supporting the artistic sector, which was drastically impacted by the Covid-19 pandemic. "I call these collaborative projects 'passion projects'; there is no financial return, but for me they work as an escape from the corporate world, where everything is more controlled. So when I'm producing or directing dance videos, I'm free to experiment with techniques, to even be politically incorrect from the point of view of filming rules", he maintained. “In-box” describes the current situation that the world is experiencing and discusses human resilience and the hope that the world and Mozambique – in particular, Cabo Delgado – needs. The film received positive reviews at the festivals where it showed, and was also requested by some professors from South African and UK universities to be used in dance classes. "This shows that, when we do something well, it crosses borders. When we want to do something, we cannot look to money as a primary objective. Success will be a consequence, whether in terms of money or prestige", he added.

Also with the dancer and director Pak, Ivan presented via live streaming, a dance show at TANZAHOi - International Dance and Dance Film Festival, in Germany. The artists' performance was recorded in November 2021 at the Fernando Leite Couto Foundation. "When I'm producing the films, I don't think much about the impact they could have, but about the satisfaction that the dancers and I will have with that audiovisual product. Of course that, as professionals, we are always very flattered whenever a film is well received by the public", he explained.

The dance videos and films referenced in this article can be accessed on Ivan Barros' YouTube channel.

He claims that if he weren't a storyteller, he would want to be a bird or a pilot. "I love to see the birds spread their wings wide open, with all the freedom that a living being can crave", he concluded. Ivan, who is a married father of two children, promises to continue telling stories about the daily lives of Mozambicans, so as to share them with Mozambique and the world.

Fotografia: Mariano Silva

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Turismo rural Uma oportunidade em Moçambique Escrito por:

Neyde Cuna Novo ano. Novas expectativas. Novos desaf ios.

Muito optimismo pela f rente, principalmente depois da análise feita pelo painel de peritos da Organização Mundial do Turismo, que sinaliza uma possível recuperação do turismo a nível mundial para este ano, impulsionada pela demanda, sobretudo durante o segundo e o terceiro trimestres, com perspectivas de em 2024 voltar ao que

era antes da pandemia.

Virámo-nos todos para o turismo doméstico; foi isto, inclusive, o que contribuiu para a sobrevivência do sector em Moçambique. O nosso país, com muita beleza natural e conhecido pelo turismo de sol e praia, tem cerca de 31 milhões de habitantes, 65.08% dos

O turismo rural permite um contacto genuíno com a natureza, e com a agro-pecuária, o que possibilita maior interacção com a comunidade local, com os modos de vida, tradições e costumes rurais, bem como a participação em festas tradicionais como o Gwazamuthini, entre tantas outras. É uma maneira de vivenciar novas experiências,

buscar novos conhecimentos e saberes, fugir da rotina da vida urbana, do stress do dia-a-dia e descansar f ísica e mentalmente.

Durante a pandemia, as praias f icaram interditas, e este outro tipo de contacto com a natureza é sempre mais uma maneira de potenciar os ganhos, para além de permitir redescobrir a simplicidade e a beleza que o campo moçambicano oferece. É uma oportunidade de lazer para os turistas e, ainda, de estar em contacto directo com a produção dos nossos produtos de maior valor, como a famosa castanha de caju, o arroz, a cana-de-açúcar, o café, e ainda de poder alimentar-se com produtos f rescos, vindos directamente da fonte.

Fotografia : Annie Spratt

quais (segundo o INE) vive nas zonas rurais, e a agricultura como actividade económica de maior relevância. Estas características criam um cenário perfeito para investimentos, assim como uma excelente oportunidade de diversificação do nosso turismo, apostando no turismo rural, algo que pode ser um passo muito importante para o futuro e até para maior e melhor recuperação.

Turismo

Para além de valorizar as práticas rurais, que são também nossa riqueza e motivo de orgulho moçambicano, resgatar a auto-estima do homem camponês, gerar empregos, melhorar a qualidade de vida das famílias rurais, o turismo rural é uma alternativa para aumentar as receitas públicas e, acima de tudo, para empoderar a mulher moçambicana, que é a principal produtora nas actividades deste tipo de turismo. Zonas em que apostar? Temos muitas,

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e a Manhiça é um óptimo exemplo! É obvio que têm de ser feitos investimentos a nível de inf ra-estruturas básicas e serviços, o que requer um planeamento tanto do poder público como de iniciativas privadas, ou dos dois juntamente, com a comunidade local ou de agricultores no desenvolvimento de estratégias e tecnologia. Mas vale a pena, temos imenso potencial!

Turismo

Fotografia : Moses Londo

O turismo rural permite melhorar a qualidade de vida das famílias rurais, sendo uma alternativa para aumentar as receitas públicas e, acima de tudo, para empoderar a mulher moçambicana, que é a principal produtora nas actividades deste tipo de turismo

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Tourism

Rural tourism An opportunity in Mozambique Written by:

Neyde Cuna

We all turned to domestic tourism; this was in fact what contributed to the survival of the sector in Mozambique. Our country, with plenty natural beauty and known for its beach tourism, has around 31 million inhabitants, of whom 65.08% (according to INE – National

stress of everyday life and rest physically and mentally.

During the pandemic, beaches were closed, and this other type of contact with nature was, and remains, yet another way to maximize gains, in addition to allowing one to rediscover the simplicity and beauty that the Mozambican countryside offers. It is a leisure opportunity for tourists, who can also witness firsthand the production of some of our most valuable agricultural products, such as the famous cashew nut, rice, sugar cane, cof-

During the pandemic, beaches were closed, and this other type of contact with nature was, and remains, yet another way to maximize gains, in addition to allowing one to rediscover the simplicity and beauty that the Mozambican countryside offers.

Statistics Institute) live in rural areas, and agriculture is the most important economic activity. These characteristics create a perfect scenario for investment, as well as an excellent opportunity to diversify our tourism offerings, by focusing on rural tourism – something that can turn out to be a very important step for the future, for a greater and better recovery.

Rural tourism facilitates a genuine contact with nature, and with agriculture and livestock farming, thus encouraging greater interaction with the local community, their ways of life, traditions and rural customs.

It also promotes participation in traditional festivals such as Gwazamuthini, among many others. It is a way to live through new experiences, seek new knowledge and wisdom, escape the routine of urban life, the

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fee, and to be able to feed themselves with fresh produce, coming directly from the source.

In addition to valuing rural practices, which are also our wealth and a matter of pride for Mozambicans, this is a way

to rescue the self-esteem of peasants, to generate jobs, and to improve the quality of life of rural families, for whom rural tourism is an alternative to increasing their income. It is also, and above all, a means to empower the Mozambican woman, who is the main producer of the activities associated with this type of tourism. Which places should we bet and invest on? We have many, and Manhiça is a great example!

It is obvious that investments need to be made in terms of basic infrastructure and services, which requires planning by both public authorities and private initiatives, working individually or jointly, with the involvement of the local community or farmers in the development of strategies and technology. But it's worth it, for we have a lot of potential!

Fotografia : Annie Spratt

New year. New expectations. New challenges.

There is a lot of optimism ahead, primarily arising from the analysis made by a panel of experts from the World Tourism Organization, which points to a possible worldwide recovery of the tourism sector this year. This will likely be driven by increased demand, as observed especially during the second and third quarters, with the prospect of returning to pre-pandemic growth in 2024.

MONUMENTO E CENTRO DE INTERPRETAÇÃO DA MATOLA

Fotografia: Mariano Silva

Vigias do tempo

MONUMENTO E CENTRO DE INTERPRETAÇÃO DA MATOLA Um Memorial às vítimas do regime do apartheid

A madrugada de sábado, 30 de Janeiro de 1981, dava os primeiros passos na cidade da Matola quando uma brigada de comandos militares do regime do apartheid sul-africano entrou furtivamente pelas ruas da cidade para perpetrar um hediondo atentado contra combatentes do ramo militarizado do ANC (o Umkhonto we Sizwe - MK). Apesar da resposta corajosa dos combatentes do MK, o ataque, que teve lugar em três locais distintos em simultâneo, ceifou a vida a 13 membros do ANC e levou sob cativeiro alguns elementos. Para além destes, perderam também a vida um cidadão inocente e, do lado atacante, 3 comandos. Ao todo, 17 pessoas pereceram no ataque preparado e planeado minuciosamente pelas forças do apartheid para gorar os esforços para instaurar a igualdade de direitos entre as raças no país vizinho de Moçambique.

Fotografia: Mariano Silva

O fatídico episódio que ceifou a vida a estes homens ficou imortalizado para todo o sempre no Monumento e Centro de Interpretação da Matola, desde que este foi inaugurado, em 2015. Em pleno centro da Praça da Juventude

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daquela cidade podem encontrar-se três colunas representando os locais em que ocorreram os ataques, com a indicação de cada uma das vítimas. Na orla da praça central erguem-se pilares com os nomes das nações da África Austral que sofreram a repressão colonialista e segregação racial e que lutaram pela sua autodeterminação.

O Centro de Interpretação destaca-se do meio envolvente pela sua arquitectura moderna, e o seu espaço interior foi pensado de forma a que quem o visita possa imergir no percurso histórico da luta contra o apartheid e o colonialismo. Em conjunto, o Monumento e o Centro de Interpretação são um Memorial que pretende preservar um pedaço marcante da história da África Austral, bem como enaltecer o esforço empenhado pelos moçambicanos na luta contra o regime do apartheid. Documentar e divulgar para que a história não se perca no esquecimento, mas, sobretudo, para que não se repita o regime do apartheid, é a missão deste espaço que, indubitavelmente, vale a pena visitar.

Vigias do tempo

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Vigias do tempo

MONUMENT AND INTERPRETATION CENTRE IN MATOLA

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Fotografia: Mariano Silva

Vigias do tempo

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Fotografia: Mariano Silva

Time Watchers

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Time Watchers

MONUMENT AND INTERPRETATION CENTRE IN MATOLA A Memorial to the victims of the Apartheid regime Dawn was breaking across the city of Matola on Saturday, January 30, 1981, when a brigade of military commandos f rom the South Af rican apartheid regime stealthily entered the streets of the city to perpetrate a heinous attack against fighters f rom the militarized branch of the ANC (the Umkhonto we Sizwe, or MK for short). Despite the courageous response of the MK fighters, the coordinated attack, which took place in three different locations simultaneously, claimed the lives of 13 ANC members, whilst others were taken into captivity. In addition to these, an innocent bystander and 3 commandos on the attackers side also lost their lives. All in all, 17 people perished in the painstakingly planned attack by apartheid forces. These were aimed at thwarting efforts to establish equal rights among different races in the neighbouring country of Mozambique.

The fateful episode that claimed the lives of these men has been immortalized forever in the Monument and Interpretation Centre of Matola, whose inaugural opening was in 2015. Located in the heart of the city´s Praça da

Juventude, it is primarily comprised of three columns representing each of the attack´s locations, with the indication of each one of the victims’ names.

On the edge of the central square, there are also pillars with the names of the Southern African nations that suffered colonialist repression and racial segregation and fought for their self-determination.

The Interpretation Centre stands out f rom the surrounding environment for its modern architecture, and its interior space was designed so that those who visit it can immerse themselves in the history of the struggle against apartheid and colonialism. Together, the Monument and the Interpretation Centre are a Memorial that aims to preserve a remarkable piece of Southern Africa's history, as well as to praise the effort undertaken by Mozambicans in the fight against the apartheid regime.

The mission of this space which is undoubtedly worth visiting, is to document and disseminate this knowledge so that history is not lost to time and, above all, so that the apartheid regime is not repeated.

The Interpretation Centre stands out from the surrounding environment for its modern architecture, and its interior space was designed so that those who visit it can immerse themselves in the history of the struggle against apartheid and colonialism.

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Shanna Chicalia

Fotografia: Mariano Silva

Ela própria

Shanna Chicalia

Ela própria

“A minha jornada inicia-se quando me predisponho a ser fotografada na minha meninice e… fez-se um click! Nasceu o desejo de fotografar, ser imitadora dos outros fotógrafos, inicialmente por gostar de ter uma câmara fotográfica na mão (só para estilo), seguidamente pela descoberta do resultado de um mero estilo. Hoje, amo fotografar, e a fotografia é a minha essência.

Para mim, a fotografia é o registo de cada momento que a vida nos proporciona, e que perdura. Quando se trata de fotografar tudo à minha volta, fico inspirada. Um detalhe, um cenário criado, as cores, o ambiente, as pessoas, o lugar, a moda, as artes, fascinam-me bastante. As ideias provêm de todas estas coisas, as melhores ideias são um complemento deste resultado.

Na minha modesta opinião, a maior parte das histórias emocionantes são aquelas que remetem para acções de superação. A vida de quem sofre de albinismo, por exemplo, emociona-me imenso. Tenho tido a oportunidade

de estar próxima de pessoas com esta condição, e isso mexe comigo. E cada rosto conta uma história aos olhos do mundo, fala por si.

Penso que os maiores desafios nos dias que correm consistem em estar à altura das novas tecnologias, pilotar drones ou estar por dentro de técnicas de fotografia de ponta. A geração actual de fotógrafos é muito proactiva.

Fazem-me levar as mãos à cabeça – e digo: Não sei se sou capaz de fazer isto! Mas depois lá consigo.

Considero que os ingredientes essenciais para um futuro próspero no mercado da fotografia são a qualidade e a eficiência. Procuro apresentar uma referência agradável aos olhos de quem vê o meu trabalho, uma experiência singular. Para além da fotografia, a arte de pintar, criar e recriar cativam-me imenso.

Para ficarem a par dos meus trabalhos sigam-me no Instagram (shannachicalia & galleria.rooco), ou passem pela minha “galeria”, minha casa.”

“Na minha modesta opinião, a maior parte das histórias emocionantes são aquelas que remetem para acções de superação”

Fotografia: Mariano Silva

“Os maiores desafios nos dias que correm consistem em estar à altura das novas tecnologias, pilotar drones ou estar por dentro de técnicas de fotografia de ponta” 62 | Revista Xonguila © Ed. 44 • Fevereiro/February 2022

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Shanna Chicalia in her own words

“My journey began when I was willingly photographed as a child and… it clicked! Born out of that, was the desire to photograph, to imitate other photographers – initially because I liked having a camera in my hand (just for style), then by discovering the result of a mere style. Today, I love the act of taking pictures, and photography is my essence.

For me, photography is a long-lasting record of every moment that life gives us. When it comes to photographing everything around me, I get inspired. A detail, a staged set, the colors, the environment, the people, the place, the fashion, the arts…they all fascinate me a lot. Ideas come from all these things; the best ideas are a complement to this result.

In my humble opinion, the really exciting stories are, by and large, those that refer to overcoming the odds. The life of someone who suffers from albinism, for example, moves me immensely. I have had the opportunity to be close to people with this condition, and it moves me. And each face tells a story in the eyes of the world; it speaks for itself.

I think the biggest challenges these days

consist of being up to date with new technologies, [such as] flying drones or being up to date with cutting-edge photography techniques. The current generation of photographers is very proactive. They make me throw my hands up – and I say: I don't know if I can do this! But then I manage to.

I believe that the essential ingredients for a prosperous future in the photography market are quality and efficiency. I try to present a pleasant reference to the eyes of those who see my work, a unique experience. In addition to photography, the art of painting, creating and recreating captivates me immensely.

To stay up to date with my work, follow me on Instagram (shannachicalia & galleria.rooco), or visit my “gallery”, my home.”

Fotografia: Mariano Silva

“I try to present a pleasant reference to the eyes of those who see my work, a unique experience.

In addition to photography, the art of painting, creating and recreating captivates me immensely.”

64 | Revista Xonguila © Ed. 44 • Fevereiro/February 2022

Fevereiro/February 2022 • Ed. 44 © Revista Xonguila | 65

VIVA. AME. VIAJE.

Fotografia: Arif Aerial

Escrito por: Aayat Irfan

Viva. Ame. Viaje.

Escrito por:

Aayat Irfan A verdadeira essência de viajar não pode ser sentida unicamente no destino final e nas suas atracções; deve sê-lo também nas outras pequenas coisas que contribuem para a sua viagem e estadia.

As estradas acidentadas e os longos trajectos.

A música do seu iPod enquanto vê as nuvens a passar pela sua janela no avião. A fragrância fresca de uma nova cidade. As brancas camas de hotel com Xlençóis lavados de fresco, e o prazer que sente ao tomar o pequeno-almoço do hotel. A excitação de usar roupa nova. O gratificante som do clicar da sua câmara. Tudo isto são pequenos e valiosos momentos de alegria que se fazem sentir em viagens a novos lugares.

Viajar é todo um pacote de emoções, conhecimento e experiências. Proporciona as mais preciosas memórias e as mais emocionantes 68 | Revista Xonguila © Ed. 44 • Fevereiro/February 2022

histórias das nossas vidas.

Viajar não é uma tendência moderna, é algo que já vem de muito longe. Nomes de alguns dos mais renomados exploradores dos primeiros tempos da Idade Moderna a não esquecer são Marco Polo, Cristóvão Colombo e Vasco da Gama. Viajar tem sido parte essencial da vida humana desde recuadas épocas, embora por motivos que podem ser diversos.

Você pode ser um viajante empresário ou um

É fã aventuras?

Adora aventuras. O desejo de correr riscos corre nas suas veias. Gostaria de tirar umas férias onde pudesse caminhar, fazer mergulho, bungee-jump, ou acampar em algum local exótico. Por mais riscos que as viagens de aventura possam ter, também trazem benefícios. Os amantes de aventura mantêm assim a boa forma física, para além de aprenderem algumas novas habilidades.

Procura serenidade?

Sente necessidade de recarregar o seu corpo de vez em quando, e prefere fazê-lo indo de férias para resorts que o ajudem a relaxar e aliviar um pouco o seu stress. Sente ser necessária uma pausa indo para algum lugar em que o som de buzinas e ruídos constantes de construções em curso possam ser substituídos pelo marulhar das ondas e o chilreio dos pássaros. É um amante do luxo?

Viaja usando meios de transporte topo de

gama, prefere ficar nos hotéis mais cotados, que oferecem refeições de luxo e os melhores serviços para si, para ter uma estadia agradável.

Esse tipo de viagem proporciona aos amantes do luxo, simultaneamente, extravagância e conforto, fazendo-os sentir-se como reis. É um entusiasta ecológico?

Pode ser um amante do mar ou da floresta; é, de qualquer forma, fascinado pela natureza e pela sua beleza. Passa a maior parte das suas férias no meio da natureza, seja em safaris, seja observando estrelas, ou visitando parques nacionais e tentando ver os “big five”. Esta é uma forma sustentável de turismo, e ajuda a angariar rendimento para as comunidades locais.

E não são apenas estas as categorias de viajantes – muitas mais existem. Independentemente da categoria que lhe corresponda, o que importa é, afinal, o facto de ser um viajante.

Nem todos podem ser globetrotters, mas criar memórias, ser aventureiro, conhecer pessoas diversas, explorar culturas únicas e aprender mais lições através de viagens é uma forma totalmente diferente de ganhar consciência do mundo exterior. Assim é porque você terá mais bons momentos para recordar e mais histórias para contar aos seus netos.

Não se esqueça de embalar os seus sorrisos e memórias. E de viajar, para descobrir novos lugares, e, sobretudo, para se descobrir a si mesmo.

Fevereiro/February 2022 • Ed. 44 © Revista Xonguila | 69

Fotografia: Szabolcs Toth

mochileiro. Pode ser um caminhante ou um viajante solitário. Pode viajar para fazer uma pausa na sua vida comandada pela rotina, ou para saciar o seu forte desejo de viajar. Pode mesmo não viajar por detestar ficar com jet-lag ou não achar que as suas despesas valham a pena. Seja por que razão for, viajar é o botão que reanima a sua vida, e você precisa de pressionar esse botão de vez em quando, em conformidade com o que pode gastar.

Criar memórias, ser aventureiro, conhecer pessoas diversas, explorar culturas únicas e aprender mais lições através de viagens é toda uma outra forma de ganhar consciência do mundo exterior

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Fotografia: Mohamed Nohassi

Fevereiro/February 2022 • Ed. 44 © Revista Xonguila | 71

Live. Love. Wander.

Escrito por:

Aayat Irfan The proper essence of traveling can’t only be felt in the final destination and all its attractions but also the other little things that contribute to your journey and stay.

The bumpy roads and the long rides.

The music on your iPod while you watch the clouds drift away from your airplane window. The fresh fragrance of a new city. The softness of the crisp white hotel beds and the pleasure you feel to have the hotel breakfast. The excitement of wearing new outfits. The satisfactory sound of the shutter clicking of your camera. These are all valuable and little moments of joy that are felt through taking trips to new places.

Traveling is an entire package of emotions, knowledge and experiences. It holds with it the most precious memories and the most thrilling stories of our lives.

Traveling isn’t a modern trend, it is something that started way back in time. Not to forget that these are some of the most renowned explorers of early modern period – Marco Polo, Christopher Columbus and Vasco Da Gama. Traveling has been an essential part of humans’ lives since the olden times, though the reasons behind it may vary.

You may be a business traveler or a back-packer. You may be a wayfarer or a solivagant. You may travel to take a temporary halt from your routine-controlled life or to quench your thirst of wanderlust.

You might just not travel at all because you hate getting jet-lagged or you don’t think it’s just worth your expenses. Whatever the reasons may be, traveling is the refresh button of your life and you need to keep pressing that button every now and then as per your own budget.

Are you a fan of adventure?

You love adventures. The desire to take risks runs through your veins. You would love to take a vacation where you could either hike,

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scuba-dive, bungee-jump or camp at some exotic site. As much as adventure traveling may have risks it also carries benefits with it. Adventure admirers get to stay physically fit and also get to learn some fresh skills.

Are you a serenity seeker?

You feel the need of recharging your body from time to time and you prefer to do so by taking vacations to resorts that help you unwind and alleviate some of your stress.

You feel that a break to somewhere where the beeping of horns and the constant construction noises can be replaced by the crashing of waves and the chirping of birds, is necessary.

Are you a luxury lover?

You travel through the top form of transportation, prefer to stay at the most highly ranked hotels, which provide lavish meals and the best services for you, in order to have a pleasant stay. Such sort of traveling provides the luxury lovers simultaneously with extravagance as well as comfort and leaves the luxury lovers feeling like a royal.

Are you an eco-enthusiast?

You can either be a thalassophile or a nemophilist, either way you are fascinated by nature and its beauty. You spend most of your holidays in the lap of nature, either on safaris, stargazing or visiting national parks and trying to spot the big five. This is a sustainable form of tourism and also it helps earn an income for the local communities.

These aren’t the only categories of travelers – a lot more exist. Regardless of what category you may fall under, at the end of the day what matters is the fact that you are a traveler.

You may be a business traveler or a back-packer.

You may be a wayfarer or a solivagant. You may travel to take a temporary halt from your routine-controlled life or to quench your thirst of wanderlust

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Apathany

Contribuindo para o autofinanciamento dos músicos 74 | Revista Xonguila © Ed. 44 • Fevereiro/February 2022

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Fotografia : Soundtrap

A Apathany é a primeira plataforma no país que permite aos artistas monetizar as suas músicas por meio de visualizações, downloads e likes dos fãs

Apathany

Contribuindo para o autofinanciamento dos músicos Escrito por:

Jaime Álvaro Criada para todos os artistas, a Apathany é uma startup moçambicana fundada em meados de 2020 com o objectivo de revolucionar, a médio e longo prazos, a indústria cultural e de entretenimento nacional, a começar pela música. A iniciativa foi de Zulficar Buraimo, empreendedor de 44 anos de idade, e dela resultou a primeira plataforma no país que permite aos artistas monetizar as suas músicas por meio de visualizações, downloads e likes dos fãs.

A plataforma on-line de música da Apathany precisou de apenas um ano (2020-2021) para começar a atrair centenas de seguidores, entre artistas em início de carreira e outros que procuram consolidar a sua marca num mercado tão concorrido quanto desestruturado. O projecto, que nasceu em meio da pandemia da covid-19, cujos impactos, particularmente no sector das artes, são incalculáveis, visa promover artistas moçambicanos através de live shows, entrevistas, documentários e podcasts. A monetização das músicas, por meio de visualizações, downloads, likes e número de seguidores tem sido um atractivo extra para a adesão dos artistas à plataforma – a única no país com serviço de streaming pago.

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Um streaming é a transmissão, em tempo real, de dados de áudio e vídeo de um servidor para um aparelho – como um computador, um telefone celular ou uma smart TV. O streaming mudou para sempre a forma de se consumir música. Se, antes, era preciso fazer-se o download de um conteúdo ou alugá-lo na locadora, comprar um CD, uma cassete VHS, um DVD ou um BluRay, ou até esperar que passasse na TV ou na rádio –, com o streaming é possível aceder-se a uma enorme gama de filmes, séries, vídeos, músicas, entre outros, em tempo real, de qualquer lugar – desde que exista uma conexão à internet. O serviço de streaming de música mais popular a nível de todo o mundo é o Spotify.

Fotografia : Clem Onojeghuo

CRIADA PARA CONECTAR MOÇAMBIQUE

A essência da Apathany, segundo o seu criador, é conectar Moçambique através das artes, e ajudar os artistas a expandirem o seu trabalho e a autofinanciarem-se. "Há muita música de qualidade no mercado, mas não está sendo capitalizada, queremos mudar isso. Queremos elevar a nossa moçambicanidade, ser aquilo que realmente podemos ser, mas não estamos a ser porque simplesmente não temos essa conexão de sinergias no país", apontou Zulficar Buraimo. "Apareceu-me um artista, na altura estudante de música. Apresentou-me o seu trabalho, que tinha um nível excepcional de qualidade, mas não conseguia singrar no mercado. Ninguém lhe abria portas", contou o empresário, que patrocinou o primeiro videoclipe do jovem artista marginalizado, e posteriormente, em 2019, assumiu o papel de seu manager. "Depois pensei: porque não ajudar outros artistas além do Bakhil, porque não ajudar a estruturar o mercado, criando um campo de gravitação cultural, onde todo artista encontra um espaço ou caminho para expandir o seu trabalho e se autofinanciar?" A resposta foi a Apathany, criada em 2020. Zulficar investiu aproximadamente 10 mil dólares (cerca de 650 000 meticais, ao câmbio actual) para implementar o ambicioso projecto, que vai muito além da música. Segundo nos conta, "muita gente conhece a Apathany, mas a plataforma está integrada numa plataforma maior (Ihapari – ‘novidades’, na língua macua), que integra vários serviços e cuja finalidade é conectar os fazedores de cultura e arte em Moçambique", explicou. "Muitos artistas já estão familiarizados com a plataforma, falam da plataforma, mas reconhecemos que é preciso fazer mais para que o público a conheça melhor. Então, a velocidade de crescimento em um ano encoraja-nos ainda mais a seguir em frente. Estamos num bom caminho", regozijou-se.

UMA NOVA ERA NA MÚSICA MOÇAMBICANA

Na era do streaming, a venda de música pela internet continua a apresentar vantagens. Mas, como se sabe, não é tarefa simples para um artista independente colocar música sua para vender nas grandes lojas on-line, tais como a Apple Music, o Spotify, a Amazon ou o Google Play, uma vez que, para tanto, é necessário estar ligado a um agregador digital. A Apathany não tem as burocracias que caracterizam as grandes lojas digitais. A plataforma possibilita aos artistas independentes promover e negociar canções com possibilidade de lucros razoáveis. Associada a uma boa estratégia de marketing no website

pessoal do artista e nas redes sociais, a venda directa é uma forma de financiar os artistas. "O principal objectivo da criação da plataforma é servir o agente fazedor da cultura, disponibilizando para ele um campo onde consegue rentabilizar o seu trabalho de modo a autofinanciar-se", esclareceu.

Para um mercado como Moçambique, onde a cadeia de valor das indústrias culturais está fragmentada, não existe uma conexão entre a produção, a edição e a distribuição até ao consumidor final, a Apathany, segundo o seu criador, é uma oportunidade para os artistas construírem o seu próprio mercado. "Motivamos os artistas no sentido de lutarem pelos seus objectivos profissionais e incutimos neles que o seu sucesso depende do número de pessoas que conseguem alcançar e influenciar.

Aqui (na plataforma) os artistas desenvolvem mecanismos e métodos de influenciar o seu público e, consequentemente, o mercado. Desde cedo é importante o artista saber que o seu trabalho depende disso", advertiu.

A monetização na plataforma acontece por meio de seguidores, número de toques e downloads das músicas. Os valores variam entre 2,5 Mt (se for um seguidor artista) a 5,00 Mt (se for um seguidor fã).

Embora seja um atractivo para os artistas, Zulficar afirma que os objectivos da plataforma vão além da monetização. "Queremos mudar a ideia de que a plataforma é só para fazer dinheiro, não é essa a essência do projecto. O nosso objectivo é mudar essa mentalidade e essa percepção de que aqui o importante é a monetização. A plataforma serve para ajudar artistas a profissionalizarem-se e a auto-sustentarem-se", sublinhou o empresário musical que patrocina um programa radiofónico. O programa visa promover as músicas mais tocadas e os artistas mais seguidos durante a semana. É apresentado na Kfm (88.3) por José Nhaca, aos sábados, a partir das 15 horas. "Neste momento, temos mais de 290 artistas cadastrados na plataforma e mais de 3 mil subscritores. Definimos uma meta de 20 mil subscritores até ao final de 2022", salientou.

A plataforma Apathany pode ser acedida através de um smartphone ou um computador. Zulficar Braimo fez saber que a equipa técnica está a trabalhar para desenvolver um aplicativo da plataforma para suportar o sistema android e iOS, de modo a permitir maior experiência dos usuários e a dinamizar as interacções entre artistas e fãs.

"O principal objectivo da criação da plataforma é servir o agente fazedor da cultura, disponibilizando para ele um campo onde consegue rentabilizar o seu trabalho de modo a autofinanciar-se” - Zulficar Buraimo Fevereiro/February 2022 • Ed. 44 © Revista Xonguila | 77

Apathany Contributing to the self-financing of musicians Written by:

Jaime Álvaro Created for all artists, Apathany is a Mozambican startup founded in mid-2020 with the aim of revolutionizing the national cultural and entertainment industries in the medium and long term, with music as starting point. The initiative is by Zulficar Buraimo, a 44-year-old entrepreneur, and resulted in the first digital platform in the country that allows artists to monetize their music through views, downloads and fan likes.

Apathany's online music platform took just one year (2020-2021) to start attracting hundreds of followers, including early-career artists and others looking to consolidate their brand in a market that is as competitive as it is unstructured. The project was born amidst the Covid-19 pandemic, whose negative impact, particularly in the arts sector, is immeasurable.

It aims to promote Mozambican artists through live shows, interviews, documentaries and podcasts. The monetization of songs through views, downloads, likes and number of followers has been an added attraction for artists to join the platform – the only one in the country offering a paid streaming service.

A stream is the real-time transmission of audio and video data from a server to a device – such as a computer, cellphone or smart TV. Streaming has forever changed the way music is consumed. Whereas before, it was necessary to download content or rent it at the video store, buy a CD, a VHS cassette, a DVD or a BluRay, or even wait for it to be on TV or radio –

78 | Revista Xonguila © Ed. 44 • Fevereiro/February 2022

with streaming, it is possible to access a huge range of movies, series, videos, music, among others, in real time, and from anywhere – as long as there is an internet connection. The most popular music streaming service worldwide is currently Spotify.

CREATED TO CONNECT MOZAMBIQUE

The essence of Apathany, according to its creator, is to connect Mozambique through the arts, and to help artists expand their work and ultimately finance themselves. "There is a lot of quality music on the market, but it is not being capitalized on, [and] we want to change that. We want to elevate our Mozambicanity, to be all we really can be and yet aren´t because we simply don't have those connected synergies in the country", pointed out Zulficar Buraimo.

"An artist came to see me, a music student at the time. He introduced me to his work, which had an exceptional quality, and yet was struggling to succeed in the market. No one was opening doors for him", said the businessman, who thus sponsored

the first video clip of this young, underrated artist and later, in 2019, took on the role of his manager.

"Then, I thought: why not help other artists besides Bakhil, why not help structure the market, create a cultural gravitational field where every artist finds a space or a way to expand their work and finance themselves?". The answer was Apathany, created in 2020. Zulficar invested approximately 10 thousand US Dollars (about 650 000 Meticais at the current exchange rate) to implement the ambitious project, which goes far beyond music. As he tells us, “Many people know Apathany, but the platform is integrated into a larger platform (Ihapari – “novelty”, in the Macua language), which integrates several services and whose purpose is to connect the arts and culture makers in Mozambique", explained. "Many artists are already familiar with the platform and talk about the platform, but we recognize that more needs to be done to improve the public´s awareness [of the platform]. So the speed at which it grew in one year encourages us to move forward even more. We are on the right path", he happily stated.

A NEW ERA IN MOZAMBICAN MUSIC

In the age of streaming, selling music over the internet continues to have advantages. But, as is well known, it is not a simple task for an independent artist to sell their music in major online stores, such as Apple Music, Spotify, Amazon or Google Play; to do so, it is necessary to be connected to a digital aggregator. Apathany does not have the bureaucracy that characterizes large digital stores. The platform allows independent artists to promote and trade songs with reasonable profits. When aided by a good marketing strategy on the artist's personal website and social networks, direct sales are a way to finance artists. "The main objective of creating the platform is to serve the culture-making agent, providing him with a space where he can monetize his work in order to finance himself", he clarified.

For a market such as Mozambique, where the value chain of cultural industries is fragmented, there

is no connection between production, editing and distribution to the final consumer. Apathany, according to its creator, is an opportunity for artists to build their own market. "We motivate artists to strive for their professional goals and instill in them [the notion] that their success depends on the number of people they can reach and influence. Here [on the platform], artists develop mechanisms and methods to influence their audience and, consequently, the market. From an early stage, it is important for the artist to know that his work depends on that", he warned.

Monetization on the platform happens through followers, number of clicks and music downloads.

Amounts vary between 2.5 Meticais (if you are an artist follower) to 5.0 Meticais (if you are a fan follower). While this is attractive to artists, Zulficar says the platform's goals go beyond monetization. "We want to change the idea that the platform is just to make money, that's not the essence of the project; [in fact] our objective is to change that mindset and that perception that monetization is what’s important here. The platform serves to help artists to professionalize and support themselves", underlined the music entrepreneur who also sponsors a radio program. The program aims to promote the most played songs and the most followed artists during the week. It is presented by José Nhaca at Kfm (88.3) on Saturdays, from 3pm onwards. "Right now, we have more than 290 artists registered on the platform and more than 3,000 subscribers. We have set a target of 20,000 subscribers by the end of 2022", he said.

The Apathany platform can be accessed via a smartphone or a computer. Zulficar Braimo made it known that the technical team is working to develop a platform application to support the Android and iOS systems, in order to enhance user experience and to streamline interactions between artists and fans.

"The project aims to promote Mozabican artists through live shows, interviews, documentaries and podcasts" - Zulficar Buraimo

Fevereiro/February 2022 • Ed. 44 © Revista Xonguila | 79

Diáspora

“Trabalho com ideias, com escrita e com imagem” – Rui Tenreiro

80 | Revista Xonguila © Ed. 44 • Fevereiro/February 2022

Diáspora

Rui Tenreiro em Estocolmo, Suécia

Fevereiro/February 2022 • Ed. 44 © Revista Xonguila | 81 Fotografia : Cortesia de Rui Tenreiro

Diáspora

Fotografia : Cortesia de Rui Tenreiro

Rui Tenreiro em Estocolmo, Suécia Escrito por: Eliana

Silva

O estado em que encontramos Rui Tenreiro pode ser característico da sua alma de artista: em transição, em crescimento e sempre à descoberta.

T

enreiro vive na capital sueca há tempo suf iciente para lá se sentir bem. Com um MFA – Master of Fine Arts – em storytelling, saiu de Maputo para fazer um mestrado, e, mais recentemente, dedicou-se à estratégia criativa: “Trabalho com ideias, com escrita e com imagem”, escreve à Revista Xonguila. Nas suas palavras, tem sido artista nos últimos anos, mas tem em mãos um novo desaf io prof issional que está a obrigá-lo a um pen-

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samento mais estratega.

Se construirmos uma timeline do trabalho do criativo de Tenreiro, poderemos encontrar uma panóplia de expressões artísticas: fotograf ia, literatura, ilustração, realização.

Se tivesse que escolher um amor-perfeito f icar-se-ia pela sétima arte, embora tenha consciência de que o seu maior desaf io é manter toda a gente satisfeita, inclusive ele próprio. Um exemplo do que já fez está

Diáspora

patente no f ilme de animação “The Tower” (realizado por Mats Grorud), cuja Direcção de Arte esteve a seu cargo. Nele se conta a saga de uma menina palestina num campo de refugiados no Líbano, propondo-se uma visão de como a criação do Estado de Israel resultou na criação de quase quinhentos mil deslocados palestinos. O f ilme foi exibido em reputados festivais internacionais e o trabalho de Rui foi considerado “excelente” pela revista norte-americana Hollywood Reporter. “Sou um criativo curioso e multifacetado com um vasto leque de interesses, que gosta de questionar as coisas, descobrir verdades e alinhar soluções estratégicas de marca para conceitos que resolvem problemas de raiz reais, muitas vezes invisíveis.” – diz Rui Tenreiro na sua página na Internet.

Os quase 15 mil quilómetros de distância

que separam Maputo de Estocolmo não impedem Tenreiro de pensar em projectos pessoais relacionados com Áf rica, mesmo estando eles quase tão longe de se concretizar como as duas cidades entre si: a publicação em livro de artistas af ricanos (não somente moçambicanos), e um pequeno espaço de convívio cultural são as iniciativas eleitas. “Dar igual oportunidade no domínio cultural (criação, acesso, entre outros) de Sul a Norte, num país grande e culturalmente diverso, um país que tem também desaf ios mais urgentes do que a produção cultural. É preciso reconhecer isso para se saber qual a melhor abordagem em relação à cultura. No ISArC, pela mão de Filimone Meigos, esse desaf io foi abordado através do alojamento de alunos que vêm do Norte do país para estudar em Maputo, o que eu achei importante”, partilha Rui.

O trabalho de Rui foi considerado “excelente” pela revista norte-americana Hollywood Reporter Fevereiro/February 2022 • Ed. 44 © Revista Xonguila | 83

O seu crescimento e desenvolvimento é provavelmente resultado da sua natureza mais criativa e, por isso, Rui Tenreiro tenta ouvir pessoas com opiniões e visões diferentes das suas: “Não tenho muitas grandes influências, diversidade é bom. Em termos de estratégia de publicidade, por exemplo, acho que Praveen Vaidyanathan é brilhante”, ensina-nos.

E como é que o calor moçambicano é revivido no f rio do Norte da Europa? Através da cultura, claro. É enquanto prepara o seu café matinal que Rui Tenreiro ouve a Emis-

Fotografia : Cortesia de Rui Tenreiro

são Provincial de Gaza – 90.9 FM, Xai-Xai – ou o canal nacional STV. Felizmente para o artista, e para os curiosos em matéria de cultura moçambicana, a biblioteca pública de Estocolmo tem edições em português de livros de Paulina Chiziane, Mia Couto, Nelson Saúte, Luís Bernardo, entre outros. Além disso, Rui Tenreiro dissipa as saudades quando, pelo menos uma vez por ano, visita Moçambique.

Diáspora

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Fotografia : Cortesia de Rui Tenreiro

“I am a curious and multifaceted creative with a wide range of interests, who likes to question things, discover truths and align strategic brand solutions to concepts that solve real, often invisible, root problems”

Diáspora

Rui Tenreiro in Stockholm, Sweden Written by: Eliana

Silva

The state of mind in which we find Rui Tenreiro may well be characteristic of his artistic soul: in transition, evolving and always discovering.

T

enreiro has lived in the Swedish capital long enough to feel at ease in that city. With an MFA – Master of Fine Arts – in storytelling, he left Maputo to pursue a master's degree and has more recently embraced creative strategy: “I work with ideas, with writing and with image”, he writes to Xonguila Magazine. By his own admission, he has been an artist in recent years, but he has a new professional challenge at hand that is forcing him to think more strategically.

dents who come from the north of the country to study in Maputo, which I thought was important”, shares Rui.

In building a timeline of Tenreiro's creative work, we can find a range of artistic expressions: photography, literature, illustration, filmmaking. If he had to choose a favourite, he would stick with the seventh art, although he is aware that his biggest challenge is keeping everyone satisfied, including himself. An example of his completed work is evident in the animated film “The Tower” (directed

by Mats Grorud), where he was in charge of the Art Direction. It tells the saga of a Palestinian girl in a refugee camp in Lebanon, proposing that the founding of the State of Israel resulted in the displacement of almost five hundred thousand Palestinians. The film was shown at renowned international festivals and Rui's work was considered “excellent” by the North American magazine Hollywood Reporter. “I am a curious and multifaceted creative with a wide range of interests, who likes to question things, discover truths and align strategic brand solutions to concepts that solve real, often invisible, root problems” – states Rui Tenreiro on his website.

The almost 15-thousand-kilometer distance that separates Maputo from Stockholm does not prevent Tenreiro from thinking about personal projects related to Africa, even though they are almost as far from being realized as the two cities are distant from each other: the publication of a book about African artists (not only Mozambicans), and a small gathering space for cultural activities are his elected initiatives. “Giving equal opportunity in the cultural domain (creation of, access to, among others) from South to North, in this large and culturally diverse country, a country that also has more urgent challenges than cultural production. This must be acknowledged in order to determine the best approach to culture. At ISArC [Higher Studies Institute for Arts and Culture], helmed by Filimone Meigos, this challenge was addressed by housing stu-

And how is the Mozambican heat revived in the cold of Northern Europe? Through culture, of course. It is while preparing his morning coffee that Rui Tenreiro listens to the Gaza Provincial Broadcast – 90.9 FM, Xai-Xai – or the national television channel STV. Fortunately for the artist, and for those curious about Mozambican culture, the Stockholm public library has Portuguese editions of books by Paulina Chiziane, Mia Couto, Nelson Saúte, Luís Bernardo Honwana, among others. In addition, Rui Tenreiro dissipates nostalgia when, at least once a year, he visits Mozambique.

His growth and development are probably the result of his more creative nature and, therefore, Rui Tenreiro tries to listen to people whose opinions and views are different from his own: “I don't have many dominant influences, diversity is good. In terms of advertising strategy, for example, I think Praveen Vaidyanathan is brilliant”, he teaches us.

Fevereiro/February 2022 • Ed. 44 © Revista Xonguila | 87

Sabias que

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Sabias que

U

O pilão, um "pilar" na nossa sociedade

m pilão é um utensílio culinário essencial na cozinha moçambicana e africana em geral, para moer alimentos. É normalmente feito de um tronco de uma madeira macia, com dimensões que variam entre 30 e 70 cm de altura, escavado através de métodos artesanais até ganhar o formato necessário. Dentro da cavidade, coloca-se o material a moer, que é então batido com um bastão liso (o pau do pilão), de 60 cm a 120 cm (conforme o tamanho do pilão), feito de uma madeira mais rija e com uma das extremidades arredondada.

O pilão pode ser utilizado por várias pessoas ao mesmo tempo, cada uma com um bastão, que vão batendo alternadamente. É frequente entoarem algumas canções a acompanhar os seus movimentos e batidas, daí resultando um momento de verdadeira descontracção.

Existem pilões de várias dimensões, dependendo do seu propósito. Os pilões maiores servem geralmente para triturar e amassar cereais como o milho, o feijão e a mapira, ou folhas diversas, descascar arroz, entre outros. Os mais pequenos são normalmente

utilizados para triturar alimentos em menores quantidades, tais como alho, amendoim e castanha de caju, ingredientes do famoso caril de amendoim e outros pratos. O pau do pilão é ainda usado em separado, para moer mais finamente massas, por exemplo de milho já moído e misturado com água, em recipientes de barro largos, com um movimento circular.

Diz o povo que um lar sem um pilão é uma casa sem pilares, portanto, sem estrutura.

No sul de Moçambique, o pilão é um dos objectos normalmente oferecidos aos noivos numa cerimónia chamada Xiguiane, no dia seguinte ao casamento, por se considerar que reforça o sentimento de união familiar.

Outras culturas têm instrumentos com características f ísicas e funções semelhantes às do pilão tradicional moçambicano. O almofariz, por exemplo, de menores dimensões, serve também para moer pequenas quantidades de produtos. É utilizado na culinária, mas também em laboratórios químicos. Antigamente peça essencial nas farmácias de manipulação, é actualmente substituído por instrumentos electrónicos.

Diz o povo que um lar sem um pilão é uma casa sem pilares, portanto, sem estrutura

Fevereiro/February 2022 • Ed. 44 © Revista Xonguila | 89

Did you know

T

The pilão, a "pillar" in our society

he pilão is an essential culinary utensil in Mozambican and African cuisine in general, used to grind food. It is normally made out of a trunk of soft wood, with dimensions that vary between 30 and 70 cm in height, which is hollowed out using artisanal methods until it takes on the necessary shape.

The material to be ground is placed inside the cavity, which is then beaten with a smooth wooden club (the pilão stick, akin to an oversized pestle), measuring 60 to 120 cm (depending on the size of the pilão), made of a harder wood and with a rounded end on the grinding side.

The pilão can be used by several people at the same time, each one holding a stick which they use to alternately beat the contents inside the cavity. They often sing some songs to accompany their movements and beating, resulting in a light socializing moment.

There are pilões (plural of pilão) of various dimensions, depending on their purpose. The larger ones are generally used to crush and pound cereals such as corn, beans and sorghum, as well as various edible greens, and to shell rice, among others. The smaller ones

are usually employed to crush foods in smaller amounts, such as garlic, peanuts and cashews, ingredients of the famous peanut curry and other dishes. The pilão stick can also be used separately, to obtain a more finely ground paste: for example, corn already ground in a larger pilão is mixed with water in wide earthenware containers, where the pilão stick is used in a circular motion to incorporate the ingredients.

People say that a home without a pilão is a house without pillars – therefore, without structure. In southern Mozambique, the pilão is one of the objects normally offered to the bride and groom in a ceremony called Xiguiane, on the day after the wedding, as it is considered to strengthen the feeling of unity within the family.

Other cultures have instruments with physical characteristics and functions similar to the traditional Mozambican pilão. For example, the mortar and pestle, which has smaller dimensions, is also used to grind small quantities of products. It is used in cooking, but also in chemical laboratories. Formerly an essential part in compounding pharmacies, it has been replaced by contemporary electronic instruments.

In southern Mozambique, the pilão is one of the objects normally offered to the bride and groom in a ceremony called Xiguiane, on the day after the wedding, as it is considered to strengthen the feeling of unity within the family.

90 | Revista Xonguila © Ed. 44 • Fevereiro/February 2022

Did you know

Fevereiro/February 2022 • Ed. 44 © Revista Xonguila | 91

Fotografia: Mariano Silva

Acontece INSTITUTO CAMÕES CENTRO CULTURAL PORTUGUÊS:

“A exposição O Mais Belo Fim Do Mundo é uma celebração da amizade construída através do amor à língua portuguesa. A língua viaja pelo mundo e com ela também o amor à palavra, tão presente na plasticidade da língua portuguesa, em todos os continentes. Nesta iniciativa expositiva são apresentados dois momentos que têm em comum a fotografia de José Eduardo Agualusa. Num primeiro momento são exibidas imagens da Ilha de Moçambique, onde vive atualmente Agualusa, acompanhadas de um texto do seu grande amigo escritor moçambicano Mia Couto. Num segundo momento, o público poderá fruir de uma criativa instalação cenográfica que acolhe retratos de vários escritores de Língua Portuguesa registados por Agualusa em diferentes ocasiões, por todo o mundo. O projeto artístico desta exposição esteve a cargo da curadora e editora brasileira Lucia Bertazzo.”

92 | Revista Xonguila © Ed. 44 • Fevereiro/February 2022

Fotografia: Fátima Ribeiro

Fevereiro/February 2022 • Ed. 44 © Revista Xonguila | 93

Fotografia: Mariano Silva

Deltino Gerreiro

94 | Revista Xonguila © Ed. 44 • Fevereiro/February 2022

Fotografia: Mariano Silva

Lançamento do álbum “Rokotxi” Fundação Fernando Leite Couto

ÀLBUM JÁ À VENDA Para adquirir ligue +258 875026484 Fevereiro/February 2022 • Ed. 44 © Revista Xonguila | 95

Recomendação de leitura Reading suggestions Antologia de Guerra, AEMO (Selecção e organização)

Os textos inseridos nesta antologia inspiram-se na guerra dos 16 anos. Um conflito civil que envolveu cidadãos da mesma pátria, gladiando-se ao longo de anos sem fim. Os escritores, cada um à sua maneira, viveram essa guerra e sentiram-na, imaginaram-na e, finalmente, escreveram-na, como uma forma de reflexão.

The texts included in this anthology are inspired by Mozambique´s 16-year civil war.

A conflict that involved citizens of the same homeland, degladiating each other over endless years. The writers, each in their own way, lived through and felt this war, imagined it and, finally, wrote it out, as a form of reflection.

96 | Revista Xonguila © Ed. 44 • Fevereiro/February 2022

O Bicho Verde e Outras Histórias de Espantar Calane da Silva

Um bom livro para os mais novos. Várias histórias infanto-juvenis que apelam à capacidade de imaginar, com aventuras no meio escolar, em casa e outros locais.

A great book for young readers. Several children's stories that appeal to the imagination, with adventures at school, at home and elsewhere.

Estas obras estão disponíveis no quiosque Alcance Editores, no Baía Mall, Avenida Marginal, 1100, Maputo (Entrada 4).

Fevereiro/February 2022 • Ed. 44 © Revista Xonguila | 97

JAMESON & CRANBERRY Ingredientes:

50 ml de Jameson 200 ml de cranberry juice Gelo em cubos ½ lua de limão 1 cereja 1 ramo de hortelã

Copo:

Long drink (copo alto)

Modo de preparação:

Num shaker (misturador), coloque o gelo em cubos, whiskey, sumo, agite e, de seguida, sirva num copo Long Drink.

Por fim, decore com uma casca de limão, hortelã e cereja.

Fotografia: Mariano Silva

JAMESON & CRANBERRY Ingredients:

50 ml of Jameson 200 ml of Cranberry juice Ice cubes ½ Slice of lemon 1 Cherry 1 Sprig of peppermint

Glass:

Long drink

Preparation:

In a cocktail shaker, place the ice cubes, whiskey and juice, and shake well. Serve in a Long Drink glass garnished with the lemon, mint and cherry.

100 | Revista Xonguila © Ed. 44 • Fevereiro/February 2022

SHOWCASING MOZAMBIQUE POTENTIAL FEBRUARY 17th 2022 14:00 CAT 14:00 – 14:10

WEBINAR

Welcome Address Abdulla Momade

Chief Representative of Southern Africa at DCCI

Osvaldo Faquir

14:10 – 14:15

AIMO Executive Director

Moz Parks Presentation (industrial park/SEZ) Onório Manuel

Moz Park General Director

14:15 – 14:35

Pitch Session

14:35 – 14:40

Financial Sector Presentation

15:45

End of Webinar

Mozambique Companies (5m ea.)

MOZAMBIQUE

DUBAI

BUSINESS

FORUM 2022

https://tinyurl.com/register-mz-uae

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102 | Revista Xonguila © Ed. 44 • Fevereiro/February 2022

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Fevereiro/February 2022 • Ed. 44 © Revista Xonguila | 103

A COZINHA Camarão Tigre à Caracol

Grelha-se o camarão tigre – devidamente temperado com alho, limão e sal –, que será acompanhado com risoto de coentros e ceviche de amêijoas.

Risoto de coentros Num tacho, coloca-se uma cebola picada, azeite e uma folha de louro. Deixa-se alourar a cebola e juntam-se 3 dentes de alho. Mantém-se a mistura ao lume durante dois minutos e adicionam-se 120 gr de arroz. Simultaneamente, ferve-se uma panela de água com um pouco de vinho branco e rosmaninho. Adiciona-se a água ao arroz e deixa-se cozer durante 15 minutos.

Coloca-se um molho de coentros, 5 dentes de alho e um pouco de água num liquidificador e tritura-se até se obter um molho homogéneo, que se designa colê de coentros.

Juntam-se o arroz e o colê de coentros adicionando-lhes queijo parmesão em lascas.

Ceviche de amêijoas Coloca-se uma cebola roxa picada, 50 gr de amêijoas, salsa qb., cebolinho qb., e coentros num recipiente. Tempera-se tudo com 5 ml de azeite, sal, 5 ml de vinagre de vinho tinto e pimenta preta.

Reserva-se e deixa-se marinar durante 5 a 10 minutos.

Estando o camarão, o risoto e o ceviche preparados, emprata-se conforme apresentado.

Fotografia: Mariano Silva

A COZINHA Tiger Prawns à la Caracol

Season the tiger prawns to taste with garlic, lemon and salt. Grill and serve the prawns with coriander risotto and clams ceviche.

Coriander Risotto

In a pan, place a f inely chopped onion, olive oil and a bay leaf. Let the onion brown over medium heat, and then add 3 cloves of garlic. Keeping the pan over medium heat, stir the mixture for two minutes and add 120g of rice. Simultaneously, boil a pan of water with a little white wine and rosemary. Add the water to the rice and let it pre-cook for 15 minutes.

Juntam-se o arroz e o colê de coentros adicionando-lhes queijo parmesão em lascas.

Clams Ceviche

Place a chopped red onion, 50 gr of clams, parsley to taste, chives to taste, and coriander in a bowl. Season everything with 5 ml of olive oil, salt, 5 ml of red wine vinegar and black pepper.

Reserve and marinate for 5 to 10 minutes.

Once the prawns, risotto and ceviche are prepared, plate and serve as shown.

Fotografia: Mariano Silva

Place a bunch of coriander, 5 cloves of garlic and a little water in a blender and pulse to obtain a homogeneous mix, which is known as coriander colê (paste).

Add the coriander colê to the pre-cooked rice, and garnish with shaved Parmesan cheese.

106 | Revista Xonguila © Ed. 44 • Fevereiro/February 2022

Editorial

VIVA Eu já quis não sentir mais Eu já quis não me apaixonar Eu já quis em determinados momentos não me importar…

Não sentir dor, não sofrer por amor.

Eu já quis ser fria, indiferente, blindar minha alma da loucura que é amar…

Eu já quis reprimir meus desejos Ignorar a realidade e estar na zona de conforto de uma vida sem sentir, sem sofrer, sem fazer doer.

Mas eu não nasci para isso.

Logo eu, tão cheia de vida, tão cheia de mim como poderia guardar uma alma completamente vazia em um corpo tão cheio?

E, no fim de contas, quem não sente mais, quem está frio e em que nada dói provavelmente está morto.

E eu, eu quero mas é viver.

Yaniza Nizamodine

108 | Revista Xonguila © Ed. 44 • Fevereiro/February 2022

Editorial

WHAT WE DO Real estate brokerage.

Planning and budgeting.

Management of relationships with the investor.

Proper ty assessments.

Management of real estate projects.

Administrative management and suppor t for due diligence.

Coimbra: Estádio Cidade de Coimbra l Rua D. Manuel I, nº92

Lisboa: Edifício Écran l Rua2022 Sinais Fogo, nºXonguila 6 l Parque Fevereiro/February • Ed. de 44 © Revista | 109 das Nações Tel: +351 239 094 370 l Email: geral@euopto.pt

Marcando o regresso do Sudão ao cinema, "Vais morrer aos 20 anos" foi exibido em vários festivais internacionais de renome

110 | Revista Xonguila © Ed. 44 • Fevereiro/February 2022

À

Vais morrer aos 20 anos

procura de uma bênção no dia da cerimónia de nascimento do seu filho primogénito, Sakina (Islam Mubarak) recebe uma maldição, devido a discórdias familiares que ocorreram no passado. O ancião da aldeia profetiza que seu filho, Muzamil (interpretado, primeiro, por Moatasem Rashed e, depois, quando adolescente, por Mustafa Shehata), morreria quando completasse 20 anos de idade. O pai de Muzamil, um homem problemático, fica bastante indignado, não suporta a maldição e acaba por criar conflitos com a esposa e romper o vínculo familiar.

Crescendo apenas com a mãe e sob o constante espectro da morte, Muzamil dá um enorme valor à vida, ficando cada vez mais curioso sobre o que significa viver intensamente, muitas vezes até para além dos limites. Encorajada pelos outros aldeãos, Sakina incentiva o seu filho a viver o dia-a-dia e a absorver o máximo de conhecimento na escola e na religião, de forma a poder encontrar uma possível solução para a

terrível maldição de que foi alvo. Nessa atribulada jornada, Muzamil faz amigos e inimigos, encontra o amor e muitas outras tentações, embora o que realmente procure seja uma oportunidade para poder ter um futuro.

Esta longa-metragem é um marco na cena cinematográfica do Sudão, um país martirizado pela guerra que esteve praticamente sem cinema por 30 anos, mas com muitas histórias por contar. Um conto perfeito que representa a bela cultura desta região do nordeste de África, seus costumes, crenças religiosas e estilo de vida A película é uma co-produção Sudão, França, Noruega, Alemanha e Egipto, contando com a assinatura do cineasta e roteirista Amjad Abu Alala. Entrou numa das edições do Festival de Veneza, onde ganhou o Leão do Futuro, distinção para o melhor primeiro filme. Foi também exibido no Toronto International Film Festival, entre outros festivais internacionais de renome.

Fevereiro/February 2022 • Ed. 44 © Revista Xonguila | 111

S

You will die at twenty jected to. In this troubled journey, Muzamil makes friends and enemies, finds love and many other temptations, although what he really looks for is an opportunity to have a future.

eeking a blessing on the day of the birth ceremony of her eldest son, Sakina (Islam Mubarak) receives a curse instead, due to past family disputes. The village elder prophesies that her son, Muzamil (played first

by Moatasem Rashed and then, as a teenager,

by Mustafa Shehata), would die when he turned 20 years old. Muzamil's father, a troubled man, is very indignant at this, can't stand the curse and ends up creating conflicts with his wife, ultimately breaking the family bond.

This feature film is a milestone in the film scene in Sudan, a country martyred by war that was practically without cinema for 30 years, but with many stories to tell. A perfect tale that represents the beautiful culture of this region of northeast Africa, its customs, religious beliefs and way of life.

Growing up with only his mother and under the constant spectre of death, Muzamil places an enormous value on life, becoming increasingly curious about what it means to live intensely, often even beyond limits. Encouraged by the other villagers, Sakina urges her son to live a regular everyday life and absorb as much knowledge from school and religion as possible, in order to find a possible solution to©the terrible curse he was 112 | Revista Xonguila Ed. 44 • Fevereiro/February 2022 sub-

The film is a co-production of Sudan, France, Norway, Germany and Egypt, directed by filmmaker and screenwriter Amjad Abu Alala. The movie was shown at one the editions of the Venice Film Festival, where it won the Lion of the Future, a distinction given for the best debut feature film.

It was also screened at the Toronto International Film Festival, among other renowned international festivals.

Fevereiro/February 2022 • Ed. 44 © Revista Xonguila | 113

Editorial

114 | Revista Xonguila © Ed. 44 • Fevereiro/February 2022

Editorial

Fevereiro/February 2022 • Ed. 44 © Revista Xonguila | 115

Editorial

116 | Revista Xonguila © Ed. 44 • Fevereiro/February 2022