Revista Xonguila Nº6

Publicação mensal • Setembro 2018 • Edição nº6 • Ano 01 • 200 MZN • www.xonguila.co.mz

Especial Ilha de Mocambique ,

200 anos

770261 666826

TALKING WITH

CALANE DA SILVA

O multifacetado poeta, romancista e professor The multifaceted poet, novelist and teacher

MUZILA

Uma referência do Jazz contemporâneo A reference of contemporary Jazz

DAÚTO FAQUIRÁ

9

ISSN

0261-6661

À CONVERSA COM

1 - Setembro/September 2018 • REVISTA XONGUILA © ™ Ed. 5

DESTAQUE - À conversa com

À conversa com

ANTÓNIO SOPA ESPECIAL - ILHA DE MOÇAMBIQUE 2 - Setembro/September 2018 • REVISTA XONGUILA © ™ Ed. 5

Fotografia: Mariano Silva

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3 - Setembro/September 2018 • REVISTA XONGUILA © ™ Ed. 5

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ANTÓNIO SOPA

“– Bom dia! Sabe dizer-me se o Professor António Sopa já chegou?” A jovem recepcionista do edifício principal da Biblioteca Nacional recebeu-nos com um sorriso rasgado: “– Bom dia, ainda não vi o Professor, mas ele costuma sentar-se nos anexos lá atrás. Olhe, siga esse jovem, ele vai para lá.” Assim fizemos. Seguimos o jovem a passos apressados e, poucos metros depois, através de uma janela, vislumbrámos um senhor de cabelo grisalho, curvado sobre um grande calhamaço com quatro dedos de espessura e três palmos de alto. É preciso um mata-bicho reforçado para manusear aqueles registos de jornal da década de 50, tão pesados quanto o tempo que já passou por eles. Perdemos pouco tempo em apresentações, apenas o essencial.

O tempo urge para todos e para António Sopa, considerado por muitos das maiores individualidades em matéria de História de Moçambique, também não é excepção.

Inevitavelmente, a nossa conversa teria de iniciar-se pelo nome “Moçambique”, que se diz provir de um sultão árabe que residia na Ilha de Moçambique por altura da chegada dos portugueses. De facto, essa é a versão mais propagada, existindo até uma brochura a esse respeito, mas não está provado que assim seja.

Havia na verdade na Ilha um pequeno chefe árabe quando os portugueses chegaram, inclusive houve logo ali uma confrontação, os árabes afastaram-se para um local mais distante e depois acabaram por ir para o continente fronteiro. Contudo, ficou claro para nós não haver nenhuma prova concreta de que o nome provenha de um chefe árabe.

De antes de Vasco da Gama aportar por aquelas terras pouco se sabe, apesar de existirem alguns estudos e trabalhos de investigação, não tanto ao nível da Ilha de Moçam-

bique, mas da costa oriental de África.

Há evidências muito claras da presença indonésia e chinesa, e a presença árabe é por demais visível. Os roteiros árabes falam muitas vezes em Sofala e até existe a indicação de que provavelmente os árabes terão vindo até aí. Existem, portanto, evidências de outros povos aqui no Índico.

Este pequeno território insular teve uma importância fulcral para a então recente colónia portuguesa. Foi, por muito tempo, um local seguro para os navios portugueses a caminho da Índia. Numa primeira fase, o que interessava aos mercadores lusos era o comércio das especiarias do Oriente, e, inclusivamente, o ouro que era explorado no Monomotapa – império que floresceu entre os séculos XV e XVIII na região sul do Rio Zambeze, entre o planalto do Zimbabwe e o Oceano Índico, com extensões provavelmente até ao Rio Limpopo – seria para financiar esse comércio. Nunca houve grande preocupação de fixação neste território recém-descoberto porque a lógica comercial dessa altura era a Índia e não Moçambique. Assim, houve uma primeira fortaleza em Sofala. Podemos dizer que Sofala foi a primeira capital portuguesa aqui na costa, mas, quando as rotas do ouro se desviaram do sul do Zambeze para o norte, precisamente para fugir a essa fortaleza de Sofala, a Ilha de Moçambique ganhou um posicionamento estratégico. Era fundamentalmente um posto de defesa, um sítio de descanso, um hospital, sobretudo para as esquadras portuguesas que chegavam um pouco tardias, não tendo ventos para chegar à Índia. Diz-se que foi assim que Luís de Camões ficou uns meses na ilha de Moçambique, precisamente porque a esquadra onde se encontrava não chegou a tempo de navegar sob os ventos da monção que a levaria até à Índia.

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Fotografia: Mariano Silva

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o final do século XIX, a Ilha já tinha perdido importância face a Lourenço Marques. Construíra-se aqui a linha de caminho-de-ferro para a África do Sul e, paralelamente, ocorria a migração de trabalhadores moçambicanos para as minas sul-africanas. É como resultado dessa prosperidade económica, trazida pela linha de caminho-de-ferro e pelo porto, e também desse fluxo migratório, que Lourenço

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Marques começa a desempenhar um papel económico mais relevante e acaba por sobrepor-se à Ilha de Moçambique. Foi um processo que nada teve de imediato, pois levou anos a consolidar-se essa transferência. Só no final da primeira década do século XX é que a capital se estabeleceu definitivamente em Lourenço Marques, actual Maputo.

Com a mudança da capital para sul, a pequena Ilha de Moçambique foi perdendo a relevância de outros tempos. Algo haveria de ser feito para que recuperasse a notoriedade no panorama nacional. O problema já se punha no final do período colonial, na década de setenta: “ – A Ilha estava realmente, já nessa altura, num estado de decadência muito grande. Foi criado o distrito da Ilha, e a estratégia passaria

por transformá-la num destino histórico-turístico. Essa estratégia mantém-se até hoje, porque não se vê outra saída.”

– E continua o Professor: “ – Há, portanto, que aproveitar aquele património edificado e transformá-lo em restaurantes, hotéis e facilidades do género, aumentando o potencial turístico para atrair, por exemplo, cruzeiros que passem na costa e turistas em geral. Mas esse processo tem tido muitas limitações em termos económicos e financeiros, há muita dificuldade em concretizar as recuperações necessárias. A grande recuperação que foi feita materializou-se na Fortaleza, e muitas das outras recuperações são particulares que as têm feito. Os museus que existem foram constituídos nos anos setenta para responder precisamente a essa demanda turística. Para além desse património histórico, a ilha tem também próximo umas lindas praias, na costa do continente. Há, portanto, um conjunto de circunstâncias que permitiriam realmente fazer o arranque turístico, mas esse é um processo que tem sido muito lento.

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Um dos problemas que têm sido apontados quando se fala da Ilha de Moçambique é a elevada densidade populacional para as inf ra-estruturas que possui. A conhecida Cidade Macúti, na parte mais sul, nasceu da pedreira original que forneceu pedra para as grandes construções na ilha, podendo-se ver, ainda hoje, o acentuado desnível no solo na zona. Era ali que viviam os escravos que faziam as construções. Após o f im da escravatura os seus descendentes continuaram a ocupar aquele espaço. A população foi crescendo e a deflagração da guerra civil veio exponenciar a situação.

Diz-nos o Professor: “– A Ilha sof reu exactamente esse problema: as pessoas fugiram do continente para se refugiarem nela, acabando por f icar por ali. Sei que tem sido feito um esforço para retirar grande parte da população da chamada Cidade Macúti e assim aliviar um pouco a pressão demográf ica, porque é um espaço sem grandes condições para as pessoas viverem.”

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No campo da poesia a Ilha de Moçambique é referenciada naquela que é considerada a obra maior da literatura em português de todos os tempos, “Os Lusíadas”, de Luís de Camões. Outras referências há nos textos deste poeta que podem ser indícios da sua presença na Ilha. Haverá em Moçambique algo mais que a documente? Ficámos a saber que não. A nossa documentação só existe a partir da segunda metade do século XIX, pois o antigo Alto Comissário António Eanes ordenou que toda a documentação fosse transferida para Portugal, com a justificação de que estaria a ser destruída pelo clima húmido e instalações inadequadas para a sua preservação. “– Portanto, nós aqui não temos evidências nenhumas da presença de Luís de Camões. A evidência maior são os próprios Lusíadas, em que ele faz exactamente o retrato da Ilha de Moçambique. É a prova mais concreta de que ele lá esteve. Depois há evidências de que ele esteve na Índia e em outros locais. Em Portugal deve existir alguma documentação que corrobore a sua presença na Ilha, até porque aquando do seu regresso a Portugal deram-lhe algo que, na altura, seria semelhante a uma reforma ou um subsídio, portanto deve haver registo das suas viagens.”

Para além de Camões, outros escritores, como Jorge de Sena, Rui Knopfli, Virgílio de Lemos, Glória de Sant’Ana, Nelson Saúte e vários outros cantaram Muhipíti, outro nome por que é conhecida a Ilha de Moçambique. Questionado sobre se ainda hoje ela suscita interesse poético, António Sopa confirma-o, mas, em jeito de desabafo, acrescenta: “– O meu problema é que o retrato que é dado de uma convivência multirracial e multicultural é uma utopia, porque realmente aquela presença dos vários povos foi uma presença de conflitos. Os portugueses, quando se instalaram na Ilha, acabaram por expulsar os árabes para o continente. Esse retrato de harmonia foi construído na década de 50 e 60 pela poesia do Rui Knopfli e do Virgílio de Lemos, apresentando a presença portuguesa um pouco idealizada, o Luso-Tropicalismo (a convivência entre os povos, a adaptabilidade do povo português aos outros povos, às outras culturas e circunstâncias geográficas), que servia muito bem os objectivos políticos do Governo Português. Apesar de não ser esse o objectivo dos escritores, a sua poesia serviu inconscientemente para a propaganda do Estado Português na altura. Um antigo adido cultural português questionava precisamente esta situação. Mantém-se esta herança, mas nunca se discutiu esta presença e como ela se fez… "

A elevação da Ilha de Moçambique a Património Mundial da Humanidade pela UNESCO, em 1991, veio trazer esperança na recuperação do seu património arquitectónico. O governo moçambicano pareceu empenhar-se; criou-se 9 - Setembro/September 2018 • REVISTA XONGUILA © ™ Ed. 5

uma Associação de Amigos da Ilha que foi durante algum tempo muito activa; várias missões portuguesas de arquitectos vieram até Moçambique para fazerem levantamentos; e a UNESCO, por sua vez, financiou a recuperação pelo menos de uma parte da Fortaleza. O problema é que a recuperação de toda a estrutura existente exige grandes financiamentos, pelo menos numa fase inicial, porque atingiu um estágio de degradação muito grande: “– Eu não vejo o Governo Português com capacidade financeira para fazer esse processo.” – diz António Sopa. “– Terá que ser um movimento internacional, provavelmente com a presença da UNESCO ou de outras instituições internacionais. Há ainda muito por fazer e não vejo iniciativas para juntar essas várias sensibilidades num projecto comum para fazer a restauração do património.”

Mas os passos dados recentemente parecem apontar para um caminho que poderá ser promissor: recentemente a Universidade Lúrio (UniLúrio) obteve autorização do Ministério da Cultura e Turismo para usar o emblemático recinto da Fortaleza de São Sebastião para instalar a sua Faculdade de Ciências Sociais e Humanas. “– Deveriam ser feitas ainda mais coisas, como um centro de estudos de culturas índicas ou culturas orientais. Podiam criar-se pequenos auditórios e museus, aproveitar a ilha para fazer grandes encontros internacionais ao nível da cultura e de outras matérias no âmbito do Oceano Índico. A Ilha poderia ser um espaço privilegiado para esse tipo de eventos.” – São acções deste género que o historiador António Sopa considera necessárias para todas aquelas instalações e espaços estarem ocupados. A sua utilização diária fomenta a preocupação de as cuidar e preservar.

Tentando que a nossa voz sussurrada não perturbasse os demais que se faziam presentes, os minutos de conversa foram passando, e tivemos que colocar a última questão: Que deveria visitar na Ilha o comum dos turistas que procurasse encontrar o misticismo que ela oferece? “– Eu acho que o mais bonito que a Ilha tem para oferecer é o passear-se pelas suas ruas, o que é completamente diferente de Maputo.

Ali o tempo tem outra dimensão, e creio que os turistas vão um pouco à procura disso, dessa sensação de isolamento, do silêncio, que é diferente dos outros sítios. A Ilha, nesse aspecto, é muito distinta.” – responde António Sopa, que, aludindo a um encontro sobre a escravatura que teve lugar recentemente, ainda sugere que se faça um museu sobre esse tema. “– Com o passar do tempo aqueles espaços terão de ser povoados por aqueles e este tipo de instituições, porque as pessoas terão de ter algo mais do que passear nas ruas. O seu tempo terá que ser preenchido, e o melhor que a Ilha tem para oferecer é a sua história.”

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ANTÓNIO SOPA SPECIAL - MOZAMBIQUE ISLAND 11 - Setembro/September 2018 • REVISTA XONGUILA © ™ Ed. 5

"- Good Morning! Can you tell me if Professor António Sopa has already arrived?" The young receptionist in the main building of the National Library received us with a grin: “- Good morning, I have not seen the Professor yet, but he usually sits in the annexes in the back. Please, follow this young man, he is heading that way.” So we did. We followed the young man hurriedly, and a few metres later, through a window, we caught sight of a grey-haired gentleman, bent over a large book four fingers thick and three palms high. It takes a reinforced breakfast to handle those 50's newspaper logs, as heavy as the time that has passed them by. No time was lost in presentations, essentials only. Time is pressing for everyone and for António Sopa, considered by many as one of the greatest in the matter of History of Mozambique, is no exception.

Inevitably, our conversation would have to begin with the name "Mozambique", which is said to come from an Arab sultan who lived on the Island of Mozambique by the time of the arrival of the Portuguese. This is the most widely spread version, and there is even a brochure on this, but it lacks confirmation.

There was in fact a small Arab chief on the Island when the Portuguese arrived, there was even confrontation, the Arabs moved away to a more distant place, and later on to the frontier continent. However, it has become clear to us that there is no concrete evidence that the name originates from an Arab chief.

Little is known from before Vasco da Gama step foot in these lands, even though there are some studies and research work, not so much focused on the island of Mozambique, but more on the east coast of Africa.

There is clear evidence of the Indonesian and Chinese presence, and the Arab presence is thoroughly observable. The Arab scripts often speak of Sofala and there is even indication that the Arabs likely came to Sofala. There is, therefore, evidence of other people here in the Indian Ocean.

This small island territory was of central for 12 - Setembro/September 2018 • REVISTA XONGUILA © ™ Ed. 5

the then young Portuguese colony. It was, for a long time, a safe place for Portuguese ships on their way to India. At the start, the interest of the Portuguese merchants was on the Oriental spice trade, also the gold that was exploited in the Monomotapa - empire that flourished between the fifteenth and eighteenth centuries in the southern region of the Zambezi River, between Zimbabwe’s plateau and the Indian Ocean, probably extending to the Limpopo River - would be to finance this trade.

There has never been much concern for settling in this newly discovered territory due to the business logic of the time focusing on India and not Mozambique. Thus there was a first fortress in Sofala. We can say that Sofala was the first Portuguese capital here on the coast, but when the gold routes deviated from the south of the Zambezi to the north, precisely to escape this fortress of Sofala, the Island of Mozambique gained a strategic position. It was fundamentally a defence post, a hospital, a resting place, especially for the Portuguese squadrons that arrived late, having no wind to reach India. It is said that this was why Luís de Camões spent a few months on the island of Mozambique, precisely because the fleet he was in did not arrive in time to sail under the monsoon winds that would carry them to India.

By the end of the 19th century, the Island had already lost its importance to Lourenço Marques. Here the railroad to South Africa was being built, simultaneously the migration of Mozambican workers to the South African mines was taking place. As a result of this economic prosperity, brought by the railroad, the port, and also from this migratory flow, Lourenço Marques began to play a more important economic role and ended up overtaking the Island of Mozambique. The transfer was a long process that took years to consolidate. It was only at the end of the first decade of the twentieth century that the capital settled definitively in Lourenço Marques, now Maputo.

With the relocation of the capital to the south, the small Island of Mozambique was losing the relevance of other times. Something had to be done so that it regained notoriety in the national panorama. The problem was already clear at the end of

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the colonial period, in the seventies: "- The Island was already, at that time, in a state of great decay. The district of Ilha was created, and a strategy was adopted that should turn it into a tourist-historical destination.

This strategy continues to this day, because there is no other way." - And the Professor continues: "- There is therefore a need to take advantage of that built heritage and transform it into restaurants, hotels and facilities of the genre, increasing tourism potential to attract, for example, cruises that pass on the coast and tourists in general.

But this process has had many limitations in economic and f inancial terms, there is much diff iculty in realising the necessary recoveries. The great recovery that was made materialised as the Fortress, and many of the other recoveries are privately made. The museums that exist were constituted in the seventies to respond precisely to this tourist demand. In addition to this historical heritage, the island also has beautiful beaches on the coast of the continent. There are, therefore, a set of circumstances that would really allow the tourism to thrive, but this is a process that has been rather slow."

One of the problems that have been pointed out when talking about the Island of Mozambique is the high population density for its inf rastructures. The well-known Macúti City, in the southernmost part, was born f rom the original quarry that provided stone for the great constructions in the island, the unevenness of the soil in the area is visible even today. It was there that the slaves who made the buildings lived. After the end of slavery, their descendants continued to occupy the area. The population was growing and the outbreak of civil war exacerbated this situation. The Professor tells us: "The Island suffered exactly this problem: people fled the continent to take refuge there, eventually staying. I know that an effort has been made to remove a large part of the population f rom the so-called Macuti City and thus relieve some of the demographic pressure because it is an area without great conditions for people to live."

In the f ield of poetry the Island of Mozambique is referenced in what is considered the greatest work of Portuguese literature of all time, "Os Lusíadas", by Luís de Camões.

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Other references in the poet's texts may indicate his presence on the Island. Is there anything more in Mozambique that prove his presence? We learned that not. Our documentation spans only f rom the second half of the 19th century onwards, since the former High Commissioner António Eanes ordered that all documentation be transferred to Portugal, with the justif ication that it would be destroyed by the humid climate and inadequate preservation facilities. “- So we have no evidence here of the presence of Luís de Camões. The biggest evidence is the Lusíadas itself, in which he accurately portrays the Island of Mozambique. It is the most concrete proof that he has been there.

Then there is evidence that he has been in India and other places. In Portugal there must be some documentation that corroborates his presence on the Island, even because upon his return to Portugal he was given something that would at the time be similar to a reform or a subsidy, meaning there should be a record of his trips."

In addition to Camões, other writers such as Jorge de Sena, Rui Knopfli, Virgílio de Lemos, Gloria de Sant'Ana, Nelson Saúte and several others sang of Muhipíti, another name for the Island of Mozambique. When asked if he still has a poetic interest, António Sopa conf irms so, but, in an outflow of words, he adds: “- My problem is that the portrait given of a multiracial and multicultural coexistence is a utopia, because commune presence of the various people was a presence of conflicts. The Portuguese, when they settled on the Island, eventually expelled the Arabs to the mainland. This portrait of harmony was built in the 50's and 60's by the poetry of Rui Knopfli and Virgílio de Lemos, presenting a somewhat idealised Portuguese presence, the Luso-Tropicalism (the coexistence between peoples, the adaptability of the Portuguese people to other peoples, other cultures and geographic circumstances), which served very well the political objectives of the Portuguese Government. Although this was not the aim of the writers, their poetry unconsciously served the Portuguese State propaganda. A former Portuguese cultural attaché questioned precisely this situation.

This inheritance is maintained, but this presence and how it was carried out was never discussed…”

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he elevation of the Ilha de Moçambique to World Heritage by UNESCO in 1991 brought hope for the restoration of its architectural heritage. The Mozambican government seemed to be engaged; an Association of Friends of the Island was created and was for a while, very active; several Portuguese missions of architects came to Mozambique to survey; and UNESCO, in turn, f inanced the recovery of at least part of the Fortress. The problem is that the recovery of the entire existing structure requires large f inancing, at least at an early stage, because it has reached a stage of great degradation: "- I do not see the Portuguese Government with the f inancial capacity carry this process" - says António Sopa. "- It will

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have to be an international movement, probably with the collaboration of UNESCO or other international institutions.

There is still much to be done and I see no initiatives to bring these various entities together in a joint effort to restore the heritage."

But recent steps seem to point to a path that may be promising: recently the University Lúrio (UniLúrio) obtained authorisation f rom the Ministry of Culture and Tourism to use the emblematic enclosure of the Fortress of San Sebastian to install its Faculty of Social Sciences and Humanities . "- Further things should be done, such as a centre for the study of Indian cultures or Eastern cultures. Small audito-

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riums and museums could be set up, and the island could be used to host major international meetings on culture and other matters within the Indian Ocean.

The Island could be a privileged space for such events." - Actions of this kind are the ones that the historian António Sopa considers necessary for all those facilities and spaces to be occupied. Their daily use fosters the concern of caring for and preserving them.

Fotografia: Mariano Silva

Trying to keep our whispered voice f rom disturbing the others who were present, the time of conversation ran long, and we had to ask the last question: What should be visited on the Island, by the common tourist who seeks to f ind the mysticism

that the island offers? "- I think the most beautiful thing the Island has to offer is to walk around its streets, which is completely different f rom Maputo. There time has another dimension, and I believe that the tourists are little looking for a bit of that, the feeling of isolation, of silence, that is different f rom the other places. The Island, in this respect, is very different." - answers António Sopa, who, alluding to a meeting on slavery that has recently taken place, still suggests that a museum be made about this subject. "- Over time those spaces will have to be populated by these type of institutions, because people will have to have something more than walking the streets.

Their time will have to be filled, and the best the Island has to offer is its History."

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Fotografia: Mariano Silva

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Rubrica - Relaxe

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Rubrica - Relaxe

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À CONVERSA COM / TALKIN WITH

António Sopa dá-nos a conhecer melhor a história da antiga capital de Moçambique António Sopa gives us a better understanding of the history of the former capital of Mozambique

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RELAXE / RELAX

Coral Lodge um daqueles locais a que vai ficar com vontade de regressar novamente Coral Lodge one of those places that will look forward to returning again

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FORTALEZA DE S. SEBASTIÃO / Fortress of S. Sebastião Um monumento com história A monument with history

SABIAS QUE / DID YOU KNOW

Uma máscara milagrosa chamada mussiro A miraculous mask called mussiro

SONS DA ALMA

/ SOUNDS OF THE SOUL

Muzila, um músico multifacetado Muzila, a multifaceted musician

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FICHA TÉCNICA Propriedade: Veludo & Mentol, Sociedade Unipessoal Lda • Administração: Nuno Soares, Omar Diogo, Mariano Silva • Director: Nuno Soares • Colunistas: Ana Gomes Pinto, Tininha, Hussein Hassan • Capa: Mariano Silva (Fotografia), Nuno Azevedo (Ilustração) • Fotografia: Mariano Silva, Coral Lodge, Cristina Senserrich, Paulo Alexandre • Revisão linguística (Português): Fátima Ribeiro • Tradução (Inglês): Filipa Carreira, José Francisco Semedo • Paginação: Omar Diogo • Ilustração: Ana Gomes Pinto • Marketing: Omar Diogo, Nuno Soares, Ana Piedade, Nuno Lopes • Digital - Jorge Oliveira • Departamento Comercial: +258 849 286 627, geral@xonguila.co.mz • Registo de Propriedade Industrial: 35 0 6 5 / 2 0 1 7 3 5 0 6 6 / 2 0 1 7 ( 1 5 /0 1 / 2 0 1 8 ) • ISSN - 0261 - 661 • Registo:02/Gabinfo-dec/2018 Os artigos com assinatura reflectem a opinião dos autores e não necessariamente da revista.

Toda a transcrição ou reprodução, parcial ou total, requer a autorização expressa da empresa titular da revista.

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Sumário

SUMÁRIO 82

AREIAS DE SONHO

88

RAÍZES / ROOTS

104

CINEMA 35MM

/ DREAM SANDS

Deixe-se refrescar nas águas puras e cristalinas da Praia das Chocas Let yourself be refreshed in the pure and crystalline waters of Praia das Chocas

Daúto Faquirá revela alguns dos seus planos sonhos e pensamentos Daúto Faquira reveals some of his plans dreams and thoughts

The First Grader, um filme inspirador The First Grader, an inspirational film

28 68

YOU'RE INVITED

Um refúgio de conforto e qualidade A haven of comfort and quality

ARTE DAQUI

/ ART FROM HERE

Calane da Silva e o seu amor pela escrita Calane da Silva and his love for writing

BIOS Property: Veludo & Mentol, Sociedade Unipessoal Lda • Administration: Nuno Soares, Omar Diogo, Mariano Silva • Director: Nuno Soares • Columnists: Ana Gomes Pinto, Tininha, Hussein Hassan • Cover: Mariano Silva (Photography), Nuno Azevedo (Illustration) • Photography: Mariano Silva, Coral Lodge, Cristina Senserrich, Paulo Alexandre • Copy Editing (Portuguese): Fátima Ribeiro • Translation (English): Filipa Carreira, José Francisco Semedo • Page make-up: Omar Diogo • Illustration: Ana Gomes Pinto • Marketing: Omar Diogo, Nuno Soares, Ana Piedade, Nuno Lopes • Digital - Jorge Oliveira • Commercial: Department: +258 849 286 627, g e r a l @ x o n g u i l a . c o . m z • Pr o p e r t y R e g i s t r a t i o n I n d u s t r y : 3 5 0 6 5 / 2 0 1 7 - 3 5 0 6 6 / 2 0 1 7 ( 1 5 /0 1 / 2 0 1 8 ) • I S S N - 0 2 6 1 - 6 6 1 • Registo: 02/Gabinfo-dec/2018 The articles reflect the authors opinion, and not necessarily the magazine opinion.

All transcript or reproduction, partial or total, requires the authorization of the company that owns the magazine 23 - Setembro/September 2018 • REVISTA XONGUILA © ™ Ed. 5

Editorial

Do Director / From the Director Caros leitores,

Dear Readers,

A

Ilha de Moçambique comemora este ano dois séculos da sua elevação a cidade, efeméride que a Xonguila assinala dedicando a presente edição a essa que foi a primeira capital de todo o território que é hoje Moçambique.

Declarada Património da Humanidade pela Organização da Nações Unidas (UNESCO) em 1991, devido à sua enorme riqueza cultural, histórica e arquitectónica, a Ilha de moçambique é actualmente um dos principais destinos turísticos de Moçambique. Visite-a e celebre-a também connosco, apreciando o mar que a envolve, sua beleza e riqueza histórica, estâncias turísticas e referências culturais regionais, e sobre ela saiba um pouco mais através do que nos diz o historiador António Sopa.

T

his year the island of Mozambique celebrates two centuries as a city, and Xonguila’s present edition showcases the f irst capital of the whole territory that is now Mozambique.

Declared a World Heritage Site by the United Nations Organization (UNESCO) in 1991, due to its enormous cultural, historical and architectural wealth, Mozambique Island is currently one of the main tourist destinations in Mozambique. Come visit it and celebrate it with us, enjoying the sea that surrounds it, its beauty and rich history, tourist resorts and regional cultural references, learn a little more about her through the historian António Sopa.

Outros moçambicanos de vulto nos domínios a que se dedicam recheiam as páginas da nossa revista. Para a rubrica Arte Daqui, convidámos o multifacetado poeta, romancista e professor Raul Calane da Silva a falar-nos do seu percurso e do panorama literário e linguístico do nosso país. Contaremos ainda com uma entrevista exclusiva do treinador e comentador televisivo de futebol moçambicano Daúto Faquirá, e o músico Muzila, revela também alguns dos seus segredos e rotinas.

Delight yourself with pages f illed with stories about outstanding Mozambicans in several f ields. For the segment Art f rom Here we invited the multifaceted poet, novelist and professor Raul Calane da Silva to tell us about his journey and the literary panorama and language of our country. We also feature an exclusive interview with football coach and television commentator Dauto Faquirá, and musician Muzila, f rom Timbila Muzimba also reveals some of secrets secretes and routines.

Convidamos todos vós, caros leitores a lerem estes e os restantes artigos. É com enorme prazer que vos damos as boas-vindas à publicação nº 6 do nosso magazine. Votos de uma óptima leitura.

We invite all of you, dear readers, to savour these and the other articles. It is with great pleasure that we give you warm welcome to our 6th publication.

With wishes of a fantastic read.

Nuno Soares Director

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25 - Setembro/September 2018 • REVISTA XONGUILA © ™ Ed. 5

28 - Setembro/September 2018 • REVISTA XONGUILA © ™ Ed. 5

Fotografia: Cristina Senserrich

Rubrica - You’re Invited

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Rubrica - You’re Invited

O

Feitoria Boutique Hotel é um miramar situado na Ilha de Moçambique.

Ocupa um edifício austero do século XIX, a antiga moradia do feitor, também loja e armazém. Era um ponto de apoio à navegação, e alfândega para mercadorias locais comercializadas com destino a Portugal e outros países europeus.

Hotel de grande charme, nasce da recuperação de uma ruína de 1780, ocupando um lugar repleto de história, onde ainda se sente o eco dos aventureiros do passado. Hoje pode aqui refugiar-se num clima pacífico e amistoso, envolvido por uma beleza natural deslumbrante.

Sem pisar o solo deste lugar ao largo da costa de Moçambique, onde a simplicidade ainda impera, não lhe é possível imaginar as vistas que o aguardam. Poucos locais se podem gabar desse idílico postal, sempre beijado pelas ondas do Índico. Árduo foi o trabalho realizado para que o Feitoria Boutique Hotel mantivesse as linhas arquitectónicas originais. Basta dizer que, na sua reabilitação, foram utilizadas técnicas de construção e materiais de quatro séculos atrás!

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Compõem o hotel 20 quartos de quatro tipos diferentes, com mobiliário proveniente da Índia e todos com o nome de uma especiaria comercializada noutros tempos no local. No exterior, um pátio com uma piscina e gazebos circundantes, baloiços e espreguiçadeiras, tendo em vista criar um local perfeito para relaxar.

Poderá aí dar-se ao luxo de um dia preguiçoso, se assim preferir. Já à mesa, o restaurante proporciona um mundo de sabores, trazendo até si um misto de gastronomia local e saborosos pratos internacionais.

Esta unidade hoteleira procura aliar, da melhor forma, o conforto e a sofisticação, com o máximo respeito pela natureza. Com políticas promovendo um consumo racional de água, poupança de energia, boa gestão de resíduos e outras medidas, a gerência e todo o pessoal se esforçam por fazer desta estância um local amigo do ambiente.

Longa história, preciosos detalhes, ambiente em que se insere e beleza circundante são alguns dos argumentos que certamente o convencerão a conhecer esta unidade hoteleira de luxo, que, sem dúvida, tornará memorável a sua estadia. Não hesite!

Fotografia: Cristina Senserrich

Fotografia: Cristina Senserrich

Rubrica - You’re Invited

31 - Setembro/September 2018 • REVISTA XONGUILA © ™ Ed. 5

Fotografia: Cristina Senserrich

Rubrica - You’re Invited

32 - Setembro/September 2018 • REVISTA XONGUILA © ™ Ed. 5 Fotografia: Mariano Silva

You’re Invited FEITORIA BOTIQUE HOTEL

W

ith views of the ocean, the Feitoria Boutique Hotel is located on Ilha de Moçambambique. It occupies nineteenth century austere building, the old foreman’s house, shop and warehouse. It was a navigational point of reference, and customs for local goods traded to Portugal and other European countries.

The charming hotel was established in a recovered 1780 ruin, it is filled with history, where you can still feel the echo of the adventurers of the past. Today you can take refuge in a peaceful and friendly atmosphere, surrounded by stunning natural beauty.

Without setting foot in this place off the coast of Mozambique, where simplicity still rules, you are unable to imagine the sights that await you. Few places can boast of this idyllic postcard landscape, always kissed by the waves of the Indian Ocean .

Fotografia: Cristina Senserrich

It was hard work to maintain the Feitoria Boutique Hotel original architectural. It is suff ice to say that in its rehabilitation, building techniques and materials f rom four centuries ago were used!

The hotel is made up of 20 rooms of four types, with furniture f rom India and named after spice once marketed on site. Outside, a courtyard with a pool and surrounding gazebos, swings and hammocks, create a relaxing atmosphere pewrfect for a lazy day.

At the table, the restaurant offers a world of flavours, bringing you a mix of local gastronomy and tasty international dishes.

This hotel seeks to combine, in the best way, comfort and sophistication, with the utmost respect for nature. With policies promoting a rational water consumption, energy saving, good waste management and other measures, the management and all staff strive to make this resort an environmentally f riendly site.

A long history, precious details, and natural beauty are someone of the arguments that will convince certainly to go to this luxury hotel unit, which undoubtedly will make your stay a memorable one. Do not hesitate!

Rubrica - You’re Invited

O Chef sugere Tocossado de garoupa

INGREDIENTES: • • • •

8 porções de garoupa 2 cebolas 5 tomates 4 pedaços de manga seca • 2 dentes de alho • 1 colher de chá de sal • Piripíri q.b.

Coloque a garoupa no fundo de um tacho e junte-lhe um pouco de óleo. Adicione a cebola cortada aos quartos, os dentes de alho, o tomate cortado em pedaços, a manga seca, o piripíri e o sal. Junte 1 litro de água e deixe cozer durante aproximadamente 30 minutos. Sirva com arroz branco ou arroz de coco.

Chef’s suggestion Grouper “Tocossado” Place the grouper in the bottom of a pan and add a little oil. Add the onions onion cut into quarters, garlic cloves, diced tomato, dry mango, piripiri and salt. Add 1l of water and leave it to cook for about 30 minutes. Serve with white rice or coconut rice.

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INGREDIENTS: • • • • • • •

8 grouper fillet 2 onions 5 tomatoes 4 dry mango pieces 2 cloves of garlic 1tsp salt Piripíri to taste

Rubrica - Arte Daqui

Av. Mahomed Siad Barre, 365

+258 84 77 46

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geral@print.co.mz

www.print.co.mz

Rubrica - Sons da Alma

MUZILA 38 - Setembro/September 2018 • REVISTA XONGUILA © ™ Ed. 5

Fotografia: Mariano Silva

Rubrica - Sons da Alma

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MUZILA 40 - Setembro/September 2018 • REVISTA XONGUILA © ™ Ed. 5

Rubrica - Sons da Alma

Qual foi o momento em que começaste a ter consciência de que querias ser músico de jazz?

Foi quando ouvi pela primeira vez Charlie Parker e me apaixonei pelo seu som, único e envolvente.

O que te dá mais prazer, cantar ou tocar saxofone?

Cada um tem sua magia e encanto. Não quero que o sax tenha ciúme do canto, mas é cantando que me expresso melhor, tanto a nível verbal como emocional. Um dá auxílio ao outro!

Já fizeste muitas parcerias com outros músicos e compositores. Qual é o critério destas escolhas?

Nada linear. Empatia em primeiro lugar, depois vou para onde exista trabalho que me dignifique, acima de tudo. Por minha opção e/ou referência de outros que gostam do meu trabalho, acabo participando em várias parcerias de diferentes quadrantes e estilos.

Fotografia: Mariano Silva

Houve alguma que te marcou particularmente?

Uma iniciativa que juntou três músicos de países diferentes para participarem em três festivais distintos, o Hifa, o Azgo e o Bushfire. Eu representei Moçambique; Hope Masike, o Zimbabwe; e Bokany Dyer, o Botswana e a RSA. Foi interessante porque conhecemo-nos justamente para esse trabalho e daí nasceu uma grande amizade.

De todos os projectos em que estiveste envolvido, qual é o que consideras mais memorável?

Considero o Ghorwane um dos projetos de maior importância no meu percurso.

Sua história e impacto social fazem com que qualquer músico da minha geração gostasse de fazer parte da banda, deixando a seu marca nos "Bons rapazes". Não é 41 - Setembro/September 2018 • REVISTA XONGUILA © ™ Ed. 5

apenas uma banda, é a história da nossa sociedade.

Há mais gente a tocar jazz, qual o panorama deste estilo de música em Moçambique?

Penso que actualmente há mais músicos no cenário do jazz. Temos muitos jovens interessados neste género musical, o que acaba por se tornar numa mais-valia, pois o leque de opções fica mais extenso e passa a haver mais escolhas, obrigando os demais a investigarem e praticarem mais intensamente, garantindo desta forma mais qualidade na nossa pequena indústria musical.

Tens estado um pouco por todo o país.

Preferes actuar em grandes salas ou em espaços intimistas?

Sou tímido por natureza, o que me faz preferir palcos maiores, pois assim não sou obrigado a olhar nos olhos das pessoas. Foco-me numa testa e fico a interagir com ela. No entanto, sou fascinado pelos shows intimistas, pois - como o próprio nome diz, íntimo, aconchegante consigo transmitir melhor o que sinto em relação à mensagem que quero passar.

Tens notado alguma evolução no público ao longo dos anos?

Sim, sem dúvida alguma. Já não se faz música apenas para vender, há muita informação técnica, e o público já a detém.

As pessoas estão mais exigentes, atentas à língua, à dicção e outros detalhes. O público é crítico e é interessante compor a pensar na sua opinião. Temos um público de qualidade.

Alguma iniciativa para um futuro próximo?

Quero lançar o meu primeiro trabalho a solo, intitulado Celebrating Life, e fazer jus ao nome do álbum, vamos Celebrar a vida.

Fotografia: Mariano Silva

Rubrica - Sons da Alma

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Rubrica - Sons da Alma

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When did you realize you wanted to be a jazz musician?

That's when I f irst heard Charlie Parker and fell in love with his unique and engaging sound.

What gives you the most pleasure, singing or playing the saxophone?

Each has its magic and charm.

I don’t want the sax to be jealous of the singing, but in singing I express myself better,

both at verbal and emotional levels. One complements the other!

You have already made many partnerships with other musicians and composers. How do you choose them?

It is not a linear process. I go where there is work that dignif ies me, above all else. Through my own choice and / or reference of others who like my work, I end up participating in

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The Gho are no a ba they ar history soci

Fotografia: Mariano Silva

Rubrica - Sons da Alma

orwane ot just and, are the y of our iety

several partnerships f rom different genera and styles.

ly for this work and a great f riendship was born.

Was there one that particularly marked you?

An initiative that brought together three musicians f rom different countries to participate in three different festivals, Hifa, Azgo, and Bushf ire. I represented Mozambique; Hope Masike , Zimbabwe; and Bokany Dyer, Botswana and South Af rica. It was interesting because we all met other precise-

Of all the projects you were involved in, which is most memorable?

I consider Ghorwane one of the most important projects in my career. Its history and social impact make any musician of my generation want to be part of the band, leaving your mark as part of the "Good Guys". It's not just a band, it's the history of our society.

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Rubrica - Sons da Alma

There are more people playing jazz, what is the panorama of this style of music in Mozambique?

I think there are more musicians in the jazz scene today. We are many young people interested in this genre, which ultimately become an added value, because the range of options is wider, forcing the other to investigate and practice more intensely, ensuring better quality in our small music industry.

You've been a little bit all over the country. Do you prefer playing in large rooms or in intimate spaces?

I'm shy by nature, which makes me prefer bigger stages, so I am not obliged to look in people's eyes.

I focus on a forehead and interact with it. However, I am fascinated by the intimate shows, because - as the name says, intimate, cosy - I can convey better what I feel about the message I want to pass.

Have you noticed any developments in the public over the years?

Yes, absolutely. No longer do you make music just to sell, there is much more technical information, and the public already has it. People are more demanding, attentive to language, diction and other details. The public is critical, and it is interesting to compose thinking about their opinion. We have a quality audience.

Any plans for the near future?

I want to release my f irst solo work entitled Celebrating Life , and live up to the name of the album, let's Celebrate Life.

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Fotografia: Mariano Silva

Rubrica - Sons da Alma

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Rubrica - Relaxe

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Fotografia: Cortesia do Kirimizi Hotel

Fotografia: Coral Lodge

Rubrica - Relaxe

CORAL LODGE 49 - Setembro/September 2018 • REVISTA XONGUILA © ™ Ed. 5

Rubrica - Relaxe

As s u a s 10 villas de luxo, co m conveni ê n c ias m odernas e vist as pa ra o mar e la goa, est ã o ins e ri d a s nu m cen ário simplesm ente magnífico. Localizadas numa península com praias imaculadas dentro de uma reserva natural praticamente intocada, são um excelente local para relaxar com a família e amigos ou para viagens em lua-de-mel ou escapadinhas românticas.

É grande a variedade de actividades e excursões para usufruir. Poderá explorar o Oceano Índico a partir das suas margens, fazer snorkeling, observar baleias ou mesmo velejar num dhow tradicional.

A equipa do Coral Lodge preocupa-se em garantir que a experiência de todos os seus hóspedes seja o mais enriquecedora possível e que todos pretendam regressar num futuro próximo.

Fotografia: Coral Lodge

Ficando a apenas 30 minutos de barco da Ilha de Moçambique, os hóspedes poderão explorar a Ilha e descobrir a fascinante história da

capital original do país, considerada Património Mundial pela UNESCO, e, depois, regressar ao lodge para se deliciar com a maravilhosa cozinha moçambicana, frequentemente preparada com marisco do dia, sempre fresco.

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Fotografia: Coral Lodge

U

ma autên t ic a e luxuosa exp e riên c ia em M oç ambiq u e a g uarda quem se h ospe da n o Cora l Lodge.

Rubrica - Relaxe

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Rubrica - Relaxe

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Rubrica - Relaxe

CORAL LODGE

A

n authentic and luxurious experience in Mozambique awaits those who stay at Coral Lodge.

Fotografia: Coral Lodge

Its 10 luxury villas, with modern conveniences and views of the sea and lagoon, are set in a simply magnif icent landscape. Located on a peninsula with pristine beaches within a nature reserve virtually untouched, are a great place to relax with family and f riends or for a honeymoon or romantic getaways.

Just 30 minutes by boat f rom Mozambique Island, guests can explore the Island and discover the

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fascinating history of the original capital, a World Heritage Site by UNESCO, and then return to the lodge to be delighted by the wonderful Mozambican cuisine, often prepared the catch of the day.

There is a great variety of activities and excursions to enjoy. You can explore the Indian Ocean f rom its shores, snorkelling, whale watching or even a traditional sailing dhow.

The team at Coral Lodge is committed to ensuring that the experience of all its guests is as fulf illed as possible and that all intend to return in the near future.

Rubrica - Relaxe

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Fotografia: Coral Lodge

Rubrica - Relaxe

Idyllic breathtaking landscapes 55 - Setembro/September 2018 • REVISTA XONGUILA © ™ Ed. 5

Fotografia: Mariano Silva

Rubrica - Fresh Air

A FORTALEZA DE SÃO SEBASTIÃO 58 - Setembro/September 2018 • REVISTA XONGUILA © ™ Ed. 5

Rubrica - Fresh Air

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Rubrica - Fresh Air

A

Fortaleza de São Sebastião fica localizada na ponta nordeste da Ilha de Moçambique. Tem 780 m de perímetro e é considerada o mais representativo exemplo da arquitectura militar portuguesa na costa Oriental de Áfrical.

A Fortaleza começou a ser construída, pelas forças portuguesas, no século XVI, com o objectivo de dar apoio e protecção às naus em trânsito de e para o Oriente.

O avanço na construção foi muito lento e, entre 1604 e 1608, altura em que se registaram cercos e as-

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saltos à estrutura empreendidos por holandeses, ainda não estava concluída. Os trabalhos só seriam finalizados por volta de 1613, e nos anos seguintes o edifício continuou a ser melhorado e aumentado.

Devido à localização privilegiada da ilha para o comércio de escravos, marfim e ouro, o local era bastante cobiçado por holandeses, árabes, turcos e franceses, o que obrigava a uma forte defesa.

A última vez que esteve em pé de guerra parece ter sido em 1828, quando estava iminente um ata-

Rubrica - Fresh Air

que dos árabes de Mascate, que nunca chegou a acontecer.

No interior da Fortaleza encontra-se a igreja de São Sebastião, que durante séculos foi a sede da paróquia militar. Os governadores-gerais residiam neste local até se mudarem, em 1763, para o Palácio de São Paulo, também localizado na Ilha.

De todos os monumentos coloniais existentes em território moçambicano, a Fortaleza da Ilha foi o que mais contribuiu para que a dominação Portuguesa se prolongasse durante quase cinco séculos em Moçambique.

Devido à imponência da Fortaleza, o povo criou uma lenda, a de que a edif icação não seria obra humana, mas sim de um fantasma chamado Muanante. A lenda espalhou-se pela província de Nampula.

Fotografia: Mariano Silva

A 21 de Setembro de 1903 ocorreu uma grande explosão no paiol que provocou a destruição de parte da muralha de leste a nordeste.

Os estragos materiais só ficaram totalmente reparados em finais

de 1904.

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Rubrica - Fresh Air

THE FORTRESS OF

SÃO SEBASTIÃO 62 - Setembro/September 2018 • REVISTA XONGUILA © ™ Ed. 5

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S

ão Sebastião Fortress is located at the north-eastern tip of the Island of Mozambique. With a 780 m of perimeter, it is considered the most representative example of Portuguese military architecturein the eatern African coastline.

Muscat was imminent, which never happened.

Inside the fortress is the church of São Sebastião, which for centuries was the headquarters of the military parish. The governors-general resided here until they moved, in 1763, to the Palace of São Paulo, also located on the Island.

The fortress began to be built, by the Portuguese forces, in the 16th century, in order to provide support and protection for ships in transit to and from the east. The advancement in the construction was very slow and between 1604 and 1608, at which point there were sieges and the structure undertaken by Dutch forces. Works would only be finalized around 1613, and in the following years the building continued to be improved and enhanced.

On the 21 of September of 1903 there was a great explosion in the store that caused the destruction of part of the wall f rom east to the northeast. The material damage was not fully repaired until the end of 1904.

Fotografia: Mariano Silva

Due to its prime location of the island to trade in slaves, ivory and gold, the place was quite sought after by the Dutch, Arabic, Turkish and French, hence it required a strong defence.

The last time it was under threat is believed to have been in 1828, when an Arab attack from

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Of all the colonial monuments existing in Mozambican territory, the Fortress of the Island was the one that contributed the most for the Portuguese domination to last for almost f ive centuries in Mozambique.

Due to the fortitude of the Fortress, the people created a legend, that the building would not be human work, but a ghost named Muanante. The legend spread through the province of Nampula.

Rubrica - Fresh Air

THE FORTRESS OF

SÃO SEBASTIÃO 64 - Setembro/September 2018 • REVISTA XONGUILA © ™ Ed. 5

Fotografia: Mariano Silva

Rubrica - Fresh Air

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Mussiro (ou M’siro) A província de Nampula é tradicionalmente conhecida como a terra das mulheres bonitas. As raparigas daquela região do país, especialmente as da etnia macua, possuem uma técnica particular para o tratamento da pele, desde tenra idade: uma máscara feita à base de uma planta medicinal centenária, há séculos utilizada para combater manchas da pele e curar pequenas inflamações. Denominada mussiro, ou m’siro (cientificamente Olax Dissitiflora), consta da lista de espécies que devem ser preservadas e multiplicadas.

Esta máscara de beleza, de cor branca e textura semelhante à das máscaras de argila, deixa a pele bastante macia após a sua utilização. Diferentemente daquelas, é mantida no rosto horas a fio, por vezes mesmo um dia inteiro ou mais tempo. E não é somente uma máscara que torna a pele bonita. A própria máscara é considerada visualmente apelativa, podendo ser usada como uma maquilhagem com diversas configurações.

Para preparar o mussiro, utilizam-se galhos e raízes da planta, que são reduzidos a pó. Este é vendido e é bastante popular nos distritos costeiros da Ilha de Moçambique, Mossuril e Angoche.

Cada pau de mussiro custa aproximadamente 100 meticais e é grande a procura, principalmente em datas festivas. Na cidade de Nampula há quem faça da pintura facial com mussiro um negócio. É normalmente com vestes de capulana que se apresenta quem utiliza este tipo de maquilhagem.

Tudo leva a crer que, enquanto existir o mussiro, as moçambicanas da zona Nampula continuarão a fazer jus a esta tradição tão profundamente enraizada na sua história. É que elas, na verdade, querem ser bonitas. Hoje em dia é também possível verem-se homens a utilizar o mussiro, que vai chegando a outras regiões do país.

Saiba aqui como se faz e se aplica esse famoso creme: Passo 1 - Esfregue o galho ou raiz de mussiro numa pedra até obter uma quantidade razoável de pó. Em seguida, adicione um pouco de água e misture até formar uma pasta.

Passo 2 - Aplique a pasta no rosto. Deixe-a secar.

Ela torna-se sólida, acabando por estalar. Fique com a máscara algumas horas, ou todo o dia, se assim preferir.

Passo 3 – Lave o rosto com água abundante e veja o resultado: pele muito mais macia e manchas atenuadas ou reduzidas.

Fotografia: Mariano Silva

Mussiro (or M’siro) Nampula province is traditionally known as the land of beautiful women. Girls in that region of the country, especially those of Macua ethnicity, have a particular technique for the treatment of their skin, from an early age: a mask made of a centenary medicinal plant, it has been used for centuries to combat skin blemishes and cure minor inflammations. Mussiro, or m'siro (scientifically Olax Dissitiflora) is part of the list of species that must be preserved and multiplied.

This beauty mask, white in colour and texture similar to that of clay masks, leaves the skin feeling very soft. It is kept on for hours on end, sometimes even a full day or longer. And it's not just a mask that makes the skin beautiful. The mask itself is considered visually appealing, and can be used as make-up.

To prepare the mussiro, branches and roots of the plant are used, which are reduced to powder. This is sold and is quite popular in the coastal districts of Ilha de Moçambique, Mossuril and Angoche. Each mussiro stick costs approximately 100 meticais and the demand is great, mainly on festive dates. In the city of Nampula there are those who make a business of face painting with mussiro. Women who use mussiro as makeup use traditional capulana costumes.

Everything leads us to believe that, so long as there is a Mussiro, Nampula area Mozambican continue this tradition so deeply rooted in its history. Women want to be beautiful. Nowadays you can also see in men use the Mussiro, which is spreading to other regions of the country.

Learn here how to make and apply this famous mask: Step 1 – Rub the mussiro branch or root on a stone until a reasonable amount of powder is obtained. Then add a little water and mix it until it forms a paste.

Step 2 - Apply that paste on the face. Let it dry.

When becomes solid, eventually cracking. Stay with the mask for a few hours, or all day if you prefer.

Step 3 - Rinse face with water and see the result: much softer skin and reduced or less spots.

Fotografia: Paulo Alexandre

Entrevista realizada na embaixada da Tailândia em Maputo

Rubrica - Arte Daqui

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Rubrica - Arte Daqui

Fotografia: Mariano Silva

Fotografia: Mariano Silva

CALANE DA SILVA

69 - Setembro/September 2018 • REVISTA XONGUILA © ™ Ed. 5

Rubrica - Arte Daqui

70 - Setembro/September 2018 • REVISTA XONGUILA © ™ Ed. 5

Rubrica - Arte Daqui

Arte Daqui

Fotografia: Mariano Silva

Quais as suas maiores referências literárias?

Em primeiro lugar, devo salientar que, antes da literatura escrita, fui marcado pela oratura, pelos contos orais que a minha avó nos contava ali nas noites da Catembe, no Guachene, debaixo da grande “pama”, quando passávamos as férias naquela sua casa muito modesta de camponesa.

Mas as referências iniciais e duradouras do ponto de vista de escrita literária relacionam-se forte e vivamente com as obras de Camilo Castelo Branco, Júlio Dinis, Eça de Queirós (portugueses), de Machado de Assis, João Guimarães Rosa e Jorge Amado (brasileiros), de Émile Zola, Jean Paul Sartre, Albert Camus e Margarite Yorcenar (franceses), de Thomas Mann e Bertold Brecht (alemães), Irving Wallace, Hemingway e Jonh dos Passos (Americanos), Mishima (japonês), Tolstoi e Anton Tchekhov (russos), Allan Paton (sul-africano), Rabindranath Tagore (indiano). As obras destes autores, li-as entre os meus 15 e 25 anos de idade, entre muitas outras que foram preenchendo a minha vida, fossem elas de escritores asiáticos, árabes, africanos, europeus e ou latinos-americanos, em que se destacaram Jorge Luis Borges e Garcia Marquez.

Foi difícil publicar o seu primeiro livro?

Na verdade, até foi extremamente fácil publicar o meu primeiro livro, intitulado Dos Meninos da Malanga. Explico. Trabalhei como profissional de jornalismo a tempo integral em diversos órgãos de informação moçambicanos e estrangeiros. Quando ingressei, vindo do jornal Notícias, na revista Tempo, em 1971, uma revista caracterizada pela sua rebeldia contra o sistema colonial, tínhamos uma página cultural dirigida pelo Rui Knopfli e depois pelo Orlando Mendes, que era também colaborador. Após a proclamação da Independência a própria Tempo resolveu começar a editar obras literárias, em publicações que intitulou de “Cadernos Tempo”. O Sol de Carvalho, actual e conhecido cineasta que era, na altura, jornalista da Tempo, dirigia essas edições e convidou-me a publicar o livro. E assim foi!

De todas as suas obras publicadas, qual foi a que lhe deu mais prazer escrever?

A obra que me deu mais prazer escrever foi o livro de contos Xicandarinha, mas a que me deu mais prazer literário, temático-linguístico, foi Nyembête ou as Cores da Lágrima. Foi um bonito investimento espiritual-emocional.

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Como vê o momento actual da literatura em Moçambique?

Vejo com muito optimismo o actual estágio da literatura moçambicana. Tenho participado como júri em muitos concursos literários, e posso testemunhar que tanto na prosa como na poesia estão a surgir novos valores. É claro que quantidade não é qualidade. A questão de não haver mais e melhores escritores também está relacionada com o fraco domínio linguístico do idioma em que se escreve, neste caso o domínio da língua portuguesa, e com a necessidade de muito mais leitura por parte de quem deseja escrever, uma vez que quanto mais cultura geral esses candidatos a escritores tiverem melhor será para a sua capacitação temático-literária, discursiva e mesmo estilística.

Moçambique, onde já se destacavam vários nomes e obras literárias distinguidas internacionalmente, tem vantagens multiculturais e ideológicas no âmbito dos países africanos de língua portuguesa. Os nossos escritores são bafejados pela sua origem cultural multifacetada, uma vez que temos uma riquíssima variedade etno-cultural, religiosa, “rácica” (uso aqui aspas pois não há raças humanas, mas grupos humanos diferenciados) e mestiçagens acentuadas. E isto é também um tesouro de incalculável valor e que vai certamente dar cada vez mais frutos saborosos à nossa criação literária e não só!

Calane da Silva dedica-se à literatura, mas também à linguística, ao jornalismo, à representação, entre outras actividades. Será a literatura a área em que se sente mais confortável?

Entre as não referidas outras actividades tenho de salientar também a espiritual, não apenas investigando na área de Antropologia Espiritual, mas também praticando essa espiritualidade através da participação e direcção de associações como o Grupo Arco-Íris, Fitoterapia, Ciência e Espiritualidade. O mais incrível é que me sinto extremamente confortável em todas essas áreas de actividade. O segredo é certamente o facto de eu me dedicar a essas actividades por gosto e com gosto, com alegria e, sobretudo, com Amor, Amor que para mim é uma energia positiva e incondicional. Isso tudo tem contribuído para o meu crescimento espiritual como Ser Humano, para autodescobertas que têm vindo a melhorar a minha maneira de ser e estar na e com vida e com tudo e todos os que me rodeiam.

Fotografia: Mariano Silva

CALANE DA SILVA

Rubrica - Arte Daqui

Sabemos que viveu em Inhambane, cidade particularmente interessante no que respeita ao turismo. Como vê a vida cultural dessa cidade?

Inhambane tem potencialidades turísticas e de desenvolvimento cultural extraordinárias. É uma província com uma flora excepcional, tem belas praias e, sobretudo, tem uma boa gente servida por uma rede escolar já razoável e com ensino superior instituído. O que falta é o aumento de infraestruturas de acesso rápido e de qualidade a esses pontos turísticos.

Tem também uma culinária riquíssima, mas, infelizmente, não a vemos amplamente integrada e aplicada com qualidade na restauração e hotelaria locais. Além disso, o parque hoteleiro provincial não aproveita os grupos folclóricos locais para espectáculos regulares nesses recintos, o que alegraria certamente os turistas, a exemplo do que se passa noutros países africanos vizinhos. Isso também contribuiria para a animação económica desses

grupos e suas famílias criando mini-pólos de desenvolvimento da economia familiar e expansão cultural. A cidade de Inhambane, sendo a capital dessa província portentosa e rodeada de praias maravilhosas, sofre dos mesmos problemas que apontei como acontecendo em toda a província.

Durante alguns anos dirigiu o Centro Cultural Brasil-Moçambique e já foi condecorado pelo governo brasileiro. Tem alguma relação particular com o Brasil?

O Brasil, o maior país da nossa Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), é para mim uma espécie de segunda pátria e, sem falsas modéstias, posso dizer que, no início dos anos 80, contribuí para uma melhoria das relações entre ele e Moçambique Durante a nossa luta de libertação, o Brasil, que estava a ser governado por militares golpistas, não apoiou nem deu passos para a nossa independência, o que explica a frieza nas re-

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Vejo c mu optimis actual e da liter moçam

com uito smo o estágio ratura mbicana

Fotografia: Mariano Silva

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lações bilaterais após a queda do colonialismo em Moçambique. Quase coincidente com o advento da democracia naquele país, no início dos anos 80, visitei-o pela primeira vez como jornalista e entrevistei quase todos os líderes da oposição que uma amnistia decretada pelo governo militar permitiu regressarem. Fiz também reportagens sobre a sociedade brasileira e entrevistas com nomes importantíssimos da cultura brasileira nos várias campos das artes, o que permitiu uma melhor visão dos moçambicanos sobre o povo e o país que, afinal, era e é irmão. O mesmo sucedeu aos olhos dos políticos brasileiros, que viram com muito agrado a imprensa moçambicana destacar a nova abertura político-cultural do Brasil.

Essas minhas reportagens e entrevistas foram expostas durante uma das edições da FACIM, no pavilhão do Brasil, o que atesta o que antes mencionei. Ao longo de mais de 40 anos fui regularmente ao Brasil, participei em imensos eventos e, como cereja no topo do bolo, acabei 73 - Setembro/September 2018 • REVISTA XONGUILA © ™ Ed. 5

por ganhar em concurso público para o cargo de director do ainda CEB (Centro de Estudos Brasileiros), actual Centro Cultural Brasil-Moçambique (CCBM), que ostenta o nome do falecido embaixador José Aparecido de Oliveira, principal mentor da criação da CPLP, de quem tive a honra de ser amigo ainda antes da organização da Comunidade.

E com Portugal, país em que fez não só o mestrado mas também o doutoramento?

Com Portugal, país que só conheci em 1980, um ano antes de conhecer o Brasil, há uma relação que ultrapassa o facto de ter ali ter feito duas pós-graduações e um doutoramento. Tal como dizia o meu saudoso amigo e grande poeta moçambicano José Craveirinha, “não sou apenas lusófono, mas também lusófilo”. O mesmo sucede comigo.

Sou filho de pai português, republicano e maçon (que pertenceu à Loja Maçónica em Moçambique do Grande Oriente Lusitano),

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natural de Lisboa e que foi compulsivamente enviado para Moçambique, no distante ano de 1904 pela monarquia portuguesa. O seu pai, meu avô, Gervásio Alves da Siva, foi um dos fundadores do Partido Republicano Português e, tal como o meu pai, era um antimonárquico convicto e igualmente um anticlerical. Ou seja, ambos achavam que os cidadãos deviam ter a liberdade de escolher quem os governasse e que os padres católicos deviam poder casar e formar excelentes famílias para servirem de exemplo aos cristãos católicos.

Portugal tem a sua história, tal como Moçambique a tem. Ninguém a pode mudar.

Assim, sou filho de duas pátrias (minha mãe moçambicana, filha de mãe negra, Mahazul Mabica, e pai hindu, Calane, construtor e oficiante do e no primeiro mandir – templo hindu junto ao rio Maputo) e meu pai português, filho de portugueses. O meu pai optou por Moçambique como sua verdadeira pátria, pois desde que chegou ao Índico, em 1904, nunca mais retornou a Portugal, e o seu corpo está sepultado no Cemitério de Lhanguene, em Maputo. Ele morreu quando eu já tinha 8 de idade, mas deixou bem inculcado em mim, criança precoce que tinha aprendido a ler e escrever aos 4 anos, o sentido profundo das palavras Liberdade, Fraternidade e Igualdade, objectivos da Revolução Francesa, mas também princípios da maçonaria. Essas palavras essas ainda hoje me norteiam a vida.

Uma pergunta agora ao bom falante nativo de ronga que é simultaneamente um reconhecido e prolífero autor de língua portuguesa. Como vê, em poucas palavras, a relação entre as línguas bantu de Moçambique e o português?

Vejo uma relação sem conflitualidade. Mas é preciso que se vença qualquer tipo de barreira ou preconceito existente entre o português e os vários idiomas bantu moçambicanos. É preciso, repito, tal como noutros aspectos da nossa vida individual e colectiva, que haja tolerância, democracia, instrução, cultura geral, para que, conhecendo a nossa realidade linguística ou etnolinguística (se quiserem esse termo) e não só, possamos criar pontes e não muros, criar escolas e não quartéis a favor do etnicismo (racismo étnico).

Um monolingue é menos rico que um bilingue, um bilingue é menos rico que um plurilingue. Assim também em relação à cultura: um indivíduo monocultural é mais pobre do que um bicultural, assim também um bicultural é mais pobre do que um multicultural.

Acontece que não é fácil, direi que é quase impossível, cada cidadão falar as 23 línguas moçambicanas e suas variantes. Contudo, 74 - Setembro/September 2018 • REVISTA XONGUILA © ™ Ed. 5

é possível termos um ensino bilingue nas várias regiões do país, como já sucede desde 2004, quando foi introduzido experimentalmente no sistema escolar moçambicano.

Contudo, o português como língua oficial, e a meu ver também como uma língua nacional – uma vez que tem cinco milhões de utentes diários (ou seja, pessoas que precisam de utilizar essa língua para as mais diversas situações em todo o país – e não falo de falantes maternos) vai continuar a ter um papel importantíssimo, quer no ensino secundário quer no universitário, e mesmo na administração pública, ao contrário das outras línguas moçambicanas, que não são faladas em todo o território como o português.

Tal como já afirmei nos meus livros de investigação linguística, e entre eles os que abordam a transformação do português em Moçambique, sou a favor da inclusão das línguas bantu no nosso sistema de instrução.

Digo também que podemos e devemos considerar o português como uma língua nossa no mosaico linguístico moçambicano, uma língua nacional, e termos orgulho também dela, pelo que devemos, durante mais alguns anos, alinhar numa gramática unificadora dessa língua de modo que ela continue entendível do Rovuma ao Maputo.

Por outro lado, seguindo um rumo ainda mais radical do ponto de vista democrático relativamente às nossas línguas moçambicanas de origem bantu, e tal como já preconizou o Professor Catedrático e investigador sociolinguista Armando Jorge Lopes, devíamos oficializar todas as nossas línguas bantu, como acontece em alguns países africanos, sem, contudo, fazer o português perder o estatuto de língua oficial e também nacional.

Esta última sugestão liga-se à necessidade de se dar um estatuto de mais igualdade democrática, sendo que os documentos oficiais, em cada província seriam escritos em português e nas línguas ali faladas.

Em relação a próximos trabalhos, já está a pensar em algum?

Devo dizer que, depois de 4 anos de quase interregno, causado não só pelo desânimo relacionado com o falecimento da minha esposa mas também porque me tinham roubado o computador onde tinha algumas obras iniciadas e outras já muito avançadas, publiquei apenas algumas obras infantis. Só voltei a agarrar a escrita literária e de investigação muito recentemente. Neste momento estou a ultimar uma obra de investigação no campo de Antropologia Espiritual, que espero entregar à editora em Agosto deste ano, e uma outra, que terminarei em Novembro, relacionada com a vida e obra de uma grande figura da cultura moçambicana.

Fotografia: Mariano Silva

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75 - Setembro/September 2018 • REVISTA XONGUILA © ™ Ed. 5

Fotografia: Mariano Silva

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CALANE DA SILVA 76 - Setembro/September 2018 • REVISTA XONGUILA © ™ Ed. 5

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77 - Setembro/September 2018 • REVISTA XONGUILA © ™ Ed. 5

Rubrica - Arte Daqui

What are your biggest literary references?

First, I must point out that, before writing literature, was marked by orature, by oral tales my grandmother told us in the Catembe nights in Guachene, under the big "Pama" when we holidayed in her very modest peasant house. But the initial and enduring references from the point of view of literary writing are strongly related to the works of Camilo Castelo Branco, Júlio Dinis, Eça de Queirós (Portuguese), Machado de Assis, João Guimarães Rosa and Jorge Amado (Brazilians ) of It mile Zola, Jean Paul Sartre, Albert Camus and Margarite Yorcenar (French), Thomas Mann and Bertolt Brecht (German), Irving Wallace, Hemingw the y John dos Passos (American), Mishima (Japanese ), Tolstoy and Anton Tchekhov (Russians), Allan Paton (South African), Rabindranath Tagore (Indian). The works of these authors, I read them between the ages of 15 and 25 years, among many others that were filling my life, be they writers of Asian, Arab, African, European and American or Latino, in which Jorge Luis Borges and Garcia Marquez stood out .

Was it difficult to publish your first book?

It was actually extremely easy to publish my first book, entitled Dos Meninos da Malanga . I will explain. I worked as a full-time professional journalist in various Mozambican and foreign media. When I joined the newspaper Noticias in 1971, a magazine characterized by its rebellion against the colonial system, we had a cultural page directed by Rui Knopfli and then by Orlando Mendes , who was also a collaborator. After the proclamation of Independence, magazine Tempo itself decided to begin to publish literary works, in publications entitled "Cadernos Tempo". Sol de Carvalho, current and wellknown filmmaker who was, at the time, a journalist of Tempo, directed these issues and invited me to publish the book. And so, it was!

Of all his published works, which one did you enjoy writing the most?

The work that gave me more pleasure to write was the book Xicandarinha tales, but that gave me more literary, thematic and linguistic pleasure, was Nyembête or Colors of Tear. It was a beautiful spiritual-emotional investment.

How do you see the current state of literature in Mozambique?

I am very optimistic about the current stage of Mozambican literature. I have participated as a jury in many literary contests, and I can testify that both in prose and poetry 78 - Setembro/September 2018 • REVISTA XONGUILA © ™ Ed. 5

new values are emerging . Of course quantity is not quality. The issue of not having more and better writers is also related to the weak linguistic domain of the language in which it is written, in this case the command of the Portuguese language, and the need for more reading by those who want to write, since the broader general knowledge these candidates, they will improve their literary-themed training, discursive and even stylistic abilities.

Mozambique, where several names and literary works were distinguished internationally, has multicultural and ideological advantages in the Portuguese-speaking African countries. Our writers are complemented for their multifaceted cultural background, since we have a rich ethno - cultural, religious, "racemic" (use quotation marks here because there are no human races, but different human groups) tapestry and marked miscegenation. And this is also a treasure of incalculable value and will surely give more and more tasty fruits to our literary creation and beyond!

Calane da Silva is dedicated to literature, but also to linguistics, journalism, representation, among other activities. Is literature the area where you feel most comfortable?

Among the other not mentioned activities I must also stress the spiritual, not only investigating the area Anthropology Spiritual, but also practicing this spirituality through participation and direction of associations such as the Rainbow Group, Herbal Medicine, Science and Spirituality. The most amazing thing is that I feel extremely comfortable in all these areas of activity. The secret is certainly the fact that I dedicate myself to these activities for taste and with gusto, with joy and, above all, with Love, Love that for me is a positive and unconditional energy. This has all contributed to my growth spiritual as a Human Being, to self-discoveries that have been improving my way of being and being in and with life and with everything and everyone around me.

We know that you lived in Inhambane, a particularly interesting city regarding tourism. How do you see the cultural life of this city?

I took the year off to which I was entitled as a professor at my university doctorate and went with my late wife to Inhambane, where she, Mila, lived from 7 to 19 years. During this time, I was not inactive. I organized a group of young people interested in holistic and spiritual issues, participated in seminars on tourism and culture, gave many lectures

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on these subjects and on language and literature, organized and participated in poetry readings. I worked with schools, especially secondary schools, the didactic and pedagogical point of view, and I remember also I have been invited to make a Wisdom Prayer at the University Ben Bique.

Inhambane has extraordinary tourism and cultural development potential. It is a province rich in wildlife and exceptional flora, it has beautiful beaches, and especially has a good people served by a school system already reasonable and higher education.

What is lacking is the increase of infrastructures of fast access and of quality to these tourist points.

It also has a rich cuisine, but unfortunately, we do not see widely integrated and applied in quality restoration sites and hotels.

In addition, the provincial hotel park does not take advantage of local folk groups for regular shows in these venues, which would certainly brighten tourists, as is the case in other neighbouring African countries. This would also contribute to the economic sprucing of these groups and their families by creating mini development poles improving the family economy and cultural expansion.

The city of Inhambane, being the capital of this portentous province and surrounded by wonderful beaches, suffers from the same problems that I pointed out as happening throughout the province.

For some years you directed the Centro Cultural Brasil-Moçambique and were already decorated by the Brazilian government. Do you have a relationship with Brazil?

Brazil, the largest country in our Portuguese Speaking Countries Community (CPLP), is for me a kind of second home and, without false modesty, I can say that, in the early 80s, I contributed to an improvement of relations between Brazil and Mozambique During our liberation struggle, Brazil, which was being run by coup military, did not support or take steps for our independence, which explains the coldness in bilateral relations after the fall of colonialism in Mozambique. Coinciding with the advent of democracy in that country, in the early 80s, I visited it for the first time as a journalist and interviewed almost all opposition leaders that an amnesty decreed by the military government allowed to return. I also made reports about Brazilian society and interviews with very important names of Brazilian culture in various fields of the arts, which allowed a better view of Mozambicans about the people and the country, after all, it was and is a brother. The same applies to Brazilian politicians, who welcomed the Mozambican 79 - Setembro/September 2018 • REVISTA XONGUILA © ™ Ed. 5

press highlight of the politico-cultural shift in Brazil.

My reports and interviews were exhibited during one of the editions of FACIM , in the pavilion of Brazil , which testifies to what I mentioned earlier. Over more than 40 years I went regularly in Brazil, I participated in huge events and , as icing on the cake , just to win in open competition for the post of Director of the still CEB (Center for Brazilian Studies) , current Cultural Center Brazil-Mozambique (CCBM) , which bears the name of the late ambassador José Aparecido de Oliveira, chief mentor of the creation of the CPLP, who I had the honor of being friends with before the organization of the Community.

And with Portugal, where you did your master’s and doctorate degrees?

In Portugal, a country that only visited in 1980, a year before goigng to Brazil, there is a relationship that goes beyond the fact that there I have done two postgraduates and a doctorate. As my long-time friend and great poet José Craveirinha said, "I am not only Portuguese but also Portuguese." So it is with me.

I am the son of a Portuguese, Republican and Mason father (who belonged to the Masonic Lodge in Mozambique of the Grande Oriente Lusitano), born in Lisbon and compulsorily sent to Mozambique in the year 1904 by the Portuguese monarchy. His father, my grandfather, Gervásio Alves da Siva, was one of the founders of the Portuguese Republican Party and, like my father, was a convinced antimonarchist and also an anticlerical. They both thought that citizens should have the freedom to choose who ruled them and that catholic priests should be able to marry and to have families to serve as an example to Catholic Christians.

Portugal has its history, just as Mozambique has it. No one can change it. So, I am the son of two homelands (my Mozambican mother, daughter of a black mother, Mahazul Mabica , and Hindu father, Calane, builder and officiant's and the first mandir - Hindu temple by the river Maputo ) and my Portuguese father, son of Portuguese .

My father opted for Mozambique as his true homeland, for since coming to in 1904, never returned to Portugal , and his body is buried in the cemetery Lhanguene , in Maputo. He died when I was already 8 years old, but left well instilled in me, I was an early child who had learned to read and write at age 4, the deep meaning of the words Freedom, Fraternity and Equality, objectives of the French Revolution , but also principles of the to Freemasonry. These words still guide my life today.

Rubrica - Arte Daqui

80 - Setembro/September 2018 • REVISTA XONGUILA © ™ Ed. 5

Rubrica - Arte Daqui

Do you have any upcoming work?

I must say that after four years of almost interregnum caused not only by discouragement related to the death of my wife but also because computer in which had some initiated works was stolen, I published only a few children's books. I only returned to literary writing and research recently. At this moment I am finishing a research project in the field of Spiritual Anthropology, which I hope to deliver to the publisher in August of this year, and another one, which I will finish in November, related to the life and work of a great figure of Mozambican culture.

81 - Setembro/September 2018 • REVISTA XONGUILA Š ™ Ed. 5

Fotografia: Mariano Silva

A question now to the good native speaker of ronga who a recognized and prolific author of Portuguese language is simultaneously. How do you see, in a nutshell, the relationship between the Bantu languages of Mozambique and Portuguese?

I see a relationship without conflict. But it is necessary to overcome any kind of barrier or prejudice existing between Portuguese and the various Bantu Mozambican languages. It must, I repeat, as in other aspects of our individual and collective life, there is tolerance, democracy, education, general education, so that, knowing our linguistic reality or Ethnolinguistics (if you like that term) and others, we can create bridges and not walls, creating schools and not forts in favour of ethnicity ( ethnic racism ).

A monolingual is less rich than a bilingual, a bilingual is less rich than a plurilingual. The same applies to culture: A twin monoculture duo is poorer than a bicultural thus also a bicultural is poorer than a multi - cultural. Turns out it's not easy, I will say that it is almost impossible, every citizen speaking the 23 national languages and its variants. However, it is possible to have a bilingual education in the various regions of the country, as has happened since 2004, when it was introduced experimentally in the Mozambican school system.

However, Portuguese as an official language, and in my view also as a national language - since it has five million daily users ( that is, people who need to use that language for the most diverse situations in the whole country ) and not I speak of maternal speakers) will continue to play a very important role, both in secondary and university education, and even in public administration, unlike the other Mozambican languages , which are not spoken throughout the territory such as Portuguese.

As I have already stated in my linguistic research books, and among them those that deal with the transformation of Portuguese in Mozambique, I am in favour of including Bantu languages in our system of instruction. I also say that we can and should consider Portuguese as our language in the Mozambican linguistic mosaic, a national language, and we must also be proud of it, so we must, for a few more years, align in a unifying grammar of that language so that it remains understandable Rovuma to Maputo.

On the other hand, following an even more radical direction from a democratic point of view regarding our Mozambican languages of Bantu origin, and as already advocated by the Professor and researcher sociolinguist Armando Jorge Lopes, we should formalize all our Bantu languages, as it happens in some African countries, without, however, making the Portuguese lose the status of official and national language. This last suggestion is linked to the need to take a more equal democratic status, and official documents, in each province would be written in Portuguese and the languages spoken there.

Fotografia: Mariano Silva

Rubrica - Areias de Sonho

82 - Setembro/September 2018 • REVISTA XONGUILA © ™ Ed. 5

Rubrica - Areias de Sonho

PRAIA DAS CHOCAS 83 - Setembro/September 2018 • REVISTA XONGUILA © ™ Ed. 5

Rubrica - Areias de Sonho

DREAM SANDS

PRAIA DAS CHOCAS

A

praia das Chocas fica situada na província de Nampula, no posto administrativo de Mossuril, a pouca distância da Ilha de Moçambique. Diz-se que o seu nome provém da palavra “lula”, espécie abundante na região que em macua (ou emakhuwa), a língua falada na região, se designa “exookha”.

Este local de corais, areias brancas e coqueiros tem excelentes temperaturas para a prática de praia durante todo o ano, recebendo inúmeros visitantes, o que o torna uma referência turística de grande importância para Moçambique.

Aqui encontrará diversas opções de qualidade para onde ficar hospedado, desde hotéis e guest houses a espaços pertencentes a particulares. Se visitar esta praia, aproveite para praticar mergulho, fazer caminhadas, visitar as ilhas da região, relaxar e desfrutar de uma refeição deliciosa à beira-mar preparada com peixe acabadinho de pescar.

Para a maioria dos visitantes, o itinerário ideal para as Chocas tem sido ir de avião até Nampula e dirigir-se para a costa de carro.

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Rubrica - Areias de Sonho

T

he Chocas beach is located in the province of Nampula, in the administrative post of Mossuril, a short distance f rom the Island of Mozambique. It is said that its name comes f rom the word "squid", an abundant species in the region, “Exookha” in Macua (or Emakhuwa), the language spoken in the region.

Populated by coral, white sands and coconut trees and excellent temperatures are ideal for all year-round beach going, receiving numerous visitors, making it a tourist reference of great importance to Mozambique.

Here you will f ind several quality accommodation options, f rom hotels and guest houses to private homes. If you visit this beach, take a dip, go for a stroll, visit the islands in the region, relax and enjoy a delicious meal by the sea, prepared with f reshly caught f ish.

Fotografia: Mariano Silva

For most visitors, the ideal itinerary for the Chocas has been to fly to Nampula and head for the coast by car.

85 - Setembro/September 2018 • REVISTA XONGUILA © ™ Ed. 5

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iscate é um serviço que possibilita os trabalhadores informais em Moçambique registarem as suas qualificações por USSD (sistema disponível em telemóveis básicos).

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87 - Setembro/September 2018 • REVISTA XONGUILA © ™ Ed. 5

DESTAQUE - À conversa com

Fotografias cedidas por Daúto Faquirá

DAÚTO FAQUIRÁ

88 - Setembro/September 2018 • REVISTA XONGUILA © ™ Ed. 5

DESTAQUE - À conversa com

Qual foi o projecto desportivo em que mais gostou de estar envolvido?

Não consigo nomear só um. Todos tiveram a sua importância em determinado momento da minha vida desportiva. Felizmente tenho tido boas sensações e sucesso na maior parte dos vários clubes por onde tenho passado, mas não consigo destacar nenhum projecto em especial. Até em Angola, onde as coisas não foram fáceis de enquadrar no meu quadro de referências – em termos desportivos, entenda-se –, adorei o projecto que abracei.

Todas elas foram experiências válidas e enriquecedoras na construção da minha carreira e no meu percurso enquanto treinador de futebol.

Costuma visitar Moçambique com frequência? Que impressão tem do país actualmente?

Desde que saí de Moçambique, em 1977, só por três vezes voltei ao país, e por períodos muito curtos. Um dia, quando se proporcionar, acredito que o farei com maior calma e procurarei resgatar memórias longínquas e fortes que guardo com carinho. Em relação ao que acho do país, vou acompanhando à distância e com interesse os avanços e recuos no seu crescimento e as dificuldades no desenvolvimento desportivo inerente a essa instabilidade socioeconómica que o país atravessa. No futebol, as coisas andam devagar – parece-me – mas isso é compreensível face a este quadro vigente.

O que gostaria de conhecer numa próxima visita ao país?

Gostaria de voltar à Ilha de Moçambique, onde vivi 5 anos e lugar do qual guardo bonitas recordações. Mas, para além deste passeio, quero fazer um périplo por todo o país para conhecer melhor o belo lugar onde estão as minhas raízes e onde tenho muitos familiares.

Para si, qual é o melhor treinador africano? E em relação ao resto do mundo?

Não consigo responder a essa questão. Em relação a Moçambique, penso que Carlos Queiroz, por tudo o que tem conseguido no futebol, deve ser reconhecido como a grande referência. Em relação ao continente africano, infelizmente, e por múltiplas razões que não vou trazer à discussão, poucos são os nomes que posso nomear, também por existirem poucos consagrados.

Basta olhar para o número exíguo de treinadores africanos que existem nas selecções que disputam o CAN.

89 - Setembro/September 2018 • REVISTA XONGUILA © ™ Ed. 5

DESTAQUE - À conversa com

90 - Setembro/September 2018 • REVISTA XONGUILA © ™ Ed. 5

DESTAQUE - À conversa com

Fotografias cedidas por Daúto Faquirá

A emoção mistura-se com a profissão quando se treina a pátria. Aceitaria um convite para treinar a Selecção Nacional de futebol?

Treinar a Selecção do nosso país é sempre um motivo de orgulho e um marco importante na vida de qualquer treinador, e eu não fujo a regra. Já por 2 vezes estive perto de treinar a Selecção de Moçambique mas, por motivos que me ultrapassaram, as coisas acabaram por não se concretizar. Mas, respondendo à questão, sendo um projecto de bases sólidas, naturalmente que seria de considerar, mas, em função das experiências anteriores, as coisas, para se concretizarem, teriam que ser conduzidas com outra lisura e transparência.

Na sua perspectiva, o que falta para os Mambas terem sucesso? Temos qualidade suficiente para nos tornarmos numa referência no continente?

Não conheço em profundidade a realidade do futebol dos Mambas, mas penso que o futebol em Moçambique atravessa alguns constrangimentos associados à realidade socioeconómica do país e, como tal, tem ainda um longo caminho a percorrer para se tornar mais competitivo. Crescer em termos dos quadros competitivos nacionais (melhorar a qualidade), apostar de uma forma mais efectiva e numa perspetiva a longo prazo na formação e fazer um investimento mais concreto e alargado nas infra-estruturas é imperioso. Por outro lado, apostar na formação dos quadros humanos (técnicos, dirigentes, árbitros…) e, se conseguir, exportar jogadores para outros campeonatos, para que cresçam num contexto de exigências diferentes. Só assim o salto qualitativo da Selecção será concretizável. Enquanto tal não acontecer, os êxitos dificilmente acontecerão e, caso ocorram, serão inconsequentes e esporádicos. Não basta que o jogador moçambicano tenha talento natural. É importante incrementar as condições que permitam que este valor se desenvolva e seja capaz de se expressar adequadamente, no contexto do exigente futebol actual, pejado de grandes demandas físicas, técnico-tácticas e psicológicas.

No que diz respeito à formação, sente que nos próximos tempos será possível mudar o estado precário em que nos encontramos actualmente?

Penso já ter respondido indiretamente a essa 91 - Setembro/September 2018 • REVISTA XONGUILA © ™ Ed. 5

questão. Não existe crescimento desportivo sem uma política de desenvolvimento adequada, e com objectivos exigentes, concretos mas exequíveis e estabelecidos a médio e longo prazo. O investimento no desporto escolar, a criação de infra-estruturas adequadas – espaços desportivos – a prática desportiva alargada, a formação dos quadros humanos, toda uma visão estratégica global, criarão condições para que no futuro o país possa sair deste estado actual.

Sabemos que tem uma paixão por pintura.

Vê nos seus traços influências do seu país natal?

Pinto como hobby e para descontrair. Quando estou a treinar não me resta tempo para mexer nas tintas, nem nos lápis. Mas, realmente, desde os tempos de menino que gosto de desenhar e fui aprendendo também a usar a aguarela e o óleo. Em relação às influências, é possível que as cores vivas próprias da nossa cultura africana me atraiam, mas tal é transversal a toda a minha vida – influência da cultura africana/moçambicana. Gosto de ver arte, mas sou leigo para uma crítica profunda, o que não invalida que conheça a obra dos notáveis artistas do nosso país, de Malangatana e Chichorro, a Chissano e muitos outros. No entanto, como expressão do sentir do homem de forma geral, a arte sempre me despertou interesse, por isso gosto muito de ler Craveirinha e Mia Couto, sem esquecer as obras de Paulina Chiziane e Ungulani Ba Ka Khosa, importantes na afirmação de Moçambique.

Tem idealizado algum plano que envolva o Daúto e Moçambique para os próximos anos?

Não tenho nada em mente, a não ser um profundo desejo de voltar com muito mais tempo para conhecer melhor o maravilhoso país que me viu nascer. Tenho dois filhos que nasceram em Portugal, mas já foram comigo até Inhambane, Maputo, Xai-Xai, e adoraram.

Voltarei em breve e tenho um sonho escondido de voltar a Moçambique e poder de alguma forma ajudar com o conhecimento que acumulei ao longo da minha vida para o desenvolvimento do futebol e desporto em geral do país. Vamos ver o que o futuro nos

reserva.

DESTAQUE - À conversa com

92 - Setembro/September 2018 • REVISTA XONGUILA © ™ Ed. 5

DESTAQUE - À conversa com

What was the sports project in which liked to be involved the most?

"I cannot name just one. Everyone had its importance at a certain point in my sporting life. Fortunately, I had good experiences and success in most of the various clubs where I passed, but I cannot point out any project in particularly. Even in Angola, where things have not been easy to fit in my frame of reference - in sporting terms, to clarify- I loved the project I was part of. All are valid and enriching experiences in building my career and in my journey as t football trainer.

What would you like to see on your next visit to the country?

I would like to return to the Island of Mozambique, where I lived 5 years and a place of which I keep beautiful memories. But beyond this, I want to do a tour around the country to explore the beautiful place where are my roots and where I have many relatives.

Who do you consider the best African coach? What about the rest of the world?

I cannot answer that question. In relation to Mozambique, I think Carlos Queiroz, for all he has achieved in football, to see and be recognized as a great reference. In relation to the African continent, unfortunately, and for many reasons that I will not bring to the discussion, there are few names that I can name, also because there are few consecrated ones. There is a small number of African coaches that train leagues in the CAN. 93 - Setembro/September 2018 • REVISTA XONGUILA © ™ Ed. 5

Fotografias cedidas por Daúto Faquirá

Do you often visit Mozambique? What do you think of the country at the moment?

Since I left Mozambique in 1977, I have only returned to the country three times, and for very short periods. One day, when I can, I believe I will visit it more calmly and try to rescue distant and strong memories that I hold dearly. In relation to what I think the country, I accompany it from a distance and with interest the advances and setbacks in its growth and difficulties in sports development liked to its current socioeconomic instability. In soccer, things are slow, it seems to me, but this is understandable in the face of this current framework.

Fotografias cedidas por Daúto Faquirá

DESTAQUE - À conversa com

94 - Setembro/September 2018 • REVISTA XONGUILA © ™ Ed. 5

DESTAQUE - À conversa com

Emotion mingles with the professionalism when training the homeland. Would you accept an invitation to train the national football team?

Training our country’s national team is always a source of pride and an important milestone in the life of any coach, and I am no exception to the rule. Twice I have been close to become the national team’s coach, but for reasons that went beyond me, things ended up not materialize. But to answer the question, with solid foundations, of course I would consider, but in the light of past experience, for this to take place this would have to be conducted with more smoothly and greater transparency.

In your perspective, what is missing for the Mambas to succeed? Do we have enough quality to become a reference in the continent?

I do not know the Mambas technical ability in depth, but I think that football in Mozambique through some constraints associated with the socioeconomic reality and as such still has a long way to go to become more competitive. Grow in terms of national competitive f rameworks (improving quality), bet one more effctive and a long-term perspective in the formation and make a more concrete investment and expanding its inf rastructures is imperative. On the other hand, focus on training human cadres (coaches, off icials, referees ...) and if you can, export players to other championships, to grow in a different context. Only the can a qualitative leap be achievable. As long as this does not happen, the successes will hardly occur and, if they occur, they will be inconsequential and sporadic. It is not enough that the Mozambican player has natural talent. It is important to improve the conditions that allow this value to develop and be able to express themselves properly in the context of the demanding football, f raught with great physical demands, as well as technical and psychological.

With regard to training, do you feel that in the near future it will be possible to change the precarious state in which we

f ind it?

I think I have already answered this question indirectly. There is no growth without proper sports development policy and demanding objectives, achievable concrete and medium and long term. Investment in sports school, the creation of appropriate inf rastructure - sporting venues - the extended sports, training human cadres, an entire global strategic vision, will create conditions so that in future the country can get out of this current stage.

We know you have a passion for painting.

Do you see in your traces influences f rom your native country?

I paint as a hobby and to relax. When I'm training, I do not have time to work to play with paints or pencils. But really, f rom boyhood I liked to draw and learned how to use watercolour and oil. With regard to influences, it is possible that the vivid colours of our Af rican culture attracted me, but this is transversal to my whole life - the influence of the Af rican/Mozambican culture. I like to see art, but I am not an expert for a profound critique, which does not meant that I do not know the work of outstanding artists f rom our country, Malangatana and the Chichorro, Chissano and many others. However, as an expression of man's feelings in general, art has always aroused my interest, so I really like to read Craveirinha and Mia Couto , not to mention the works of Paulina Chiziane and Ungulani Ba Ka Khosa, important in Mozambique’s aff irmation.

Have you devised a plan that involves Daúto and Mozambique for the next few years?

I have nothing in mind but a deep desire to return with more time to explore the wonderful country where I was born. I have two children who were born in Portugal, but they went with me to Inhambane, Maputo, Xai - Xai , and they loved it. I will return soon and have a hidden dream to return to Mozambique and be able to somehow help with the knowledge that I have accumulated throughout my life for the development of soccer and sport in general of the country. Let's see what the future holds.

There is no sporting growth without a proper development policy 95 - Setembro/September 2018 • REVISTA XONGUILA © ™ Ed. 5

ACONTECE

Concurso fotográficoIlha de Moçambique: A Ilha das Duas Cidades

Fotografias: Mariano Silva

A

parceria entre a Associação Kulungwana e a Associação Moçambicana de Fotograf ia (AMF) apresentou ao público, no passado dia 24 de Agosto, uma exposição fotográf ica, composta por 24 fotograf ias, resultado do Concurso Fotográf ico “Ilha de Moçambique: A Ilha das Duas Cidades”.

Este concurso surgiu no sentido de celebrar os 200 anos da elevação da Ilha de Moçambique a cidade (17 de Setembro 1818 - 17 de Setembro 2018). Pretendeu provocar uma reflexão sobre o património arquitectónico ali

96 - Setembro/September 2018 • REVISTA XONGUILA © ™ Ed. 5

existente e a sua herança cultural, f ruto da vivência dos vários povos que a povoaram aos longo dos séculos.

Foram premiados: Abílio Vieira (1° Prémio); Mariano Silva (2° Prémio) e Chris Milligan (3° Prémio).

Após uma primeira aparição na galeria Kulungwana, que decorreu entre 24 de Agosto e 5 de Setembro, a exposição f icará patente na Ilha de Moçambique, no Feitoria Boutique Hotel, entre os dias 13 de Setembro e 31 de Outubro.

Rubrica - Acontece

97 - Setembro/September 2018 • REVISTA XONGUILA © ™ Ed. 5

Rubrica - Acontece

ACONTECE

Concurso fotográficoIlha de Moçambique: A Ilha das Duas Cidades

T

he partnership between the Kulungwana Association and the Mozambican Photography Association (AMF), presented to the public, on August 24, a photographic exhibition.

It featured 24 photographs, result of the Photographic Contest "Ilha das Duas Cidades" .

The contest marked the 200th anniversary of the elevation of the Island of Mozambique

to City (17 September 1818 - 17 September 2018). It sought to instigate reflection on the existing architectural patrimony and cultural heritage, f ruit of the experience of the various people who populated it over the centuries.

Awarded prizes: Abílio Vieira (1st Prize); Mariano Silva (2nd Prize) and Chris Milligan (3rd Prize).

After a f irst appearance at the Kulungwana Gallery, which ran f rom August 24 to September 5, the exhibition will be on display at the Island of Mozambique, at the Feitoria Boutique Hotel, f rom September 13 to October 31.

98 - Setembro/September 2018 • REVISTA XONGUILA © ™ Ed. 5 Fotografia: Mariano Silva

Rubrica - Acontece

99 - Setembro/September 2018 • REVISTA XONGUILA © ™ Ed. 5

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Tónica Tonic

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Fotografia: Mariano Silva

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Ilha de Moçambique!!!

Linda Menina... Cabelos longos grisalhos …

Mergulhada... no Oceano Índico...

Brilha... É uma Pérola!!!

Caminho...

Entre Ruas... Edifícios...

Ruínas... Perdidas no Tempo...

Encontro... Aqui... Acolá...

Fragmentos de História... Povos...

Culturas... Religiões...

Impregnadas em cada Pedacinho de Areia...

No Ar... Em cada Onda do Mar...

Neste Lugar Multicultural...

Capital de Moçambique até 1898...

Sinto-me em Casa...

Lugar alegre... Gentes tranquilas... Relaxadas...

Vestimentas coloridas...

Percorro...

Entre Ruas... Edifícios... Ruínas perdidas no Tempo...

Encontro... Ourives... Missangas em Porcelana...

Objectos em Prata...

Uma Antiguidade... Chaleira em Cobre... com Caracteres em Árabe...

No Final... Caril de Camarão picante com Manga seca, Apa e Chá quente...

Ilha de Moçambique!!!

Linda Menina... Cabelos longos grisalhos...

Mergulhada no Oceano Índico...

Brilha... É uma Pérola!!!

Albertina Santos - Tininha

CINEMA

35MM

UMA LIÇÃO DE VIDA Sugestão Xonguila

L

ançado em 2010, o f ilme “Uma lição de vida” conta a história de Kimani Maruge, a pessoa reconhecida pelo Guinness World Records como o homem mais velho do mundo inscrito para f requentar uma escola primária.

Esta longa-metragem inicia-se numa pequena vila do Quénia, quando Maruge (Oliver Litondo) ouve um anúncio na rádio sobre educação gratuita para toda a gente. Não tendo tido oportunidade de estudar quando era mais novo, o senhor de 84 anos da tribo Mau Mau que lutou para libertar o Quénia dos ingleses decide dirigir-se a uma escola primária e pedir uma oportunidade para poder aprender a ler e escrever. Sendo rejeitado inicialmente, ele persiste, veste um uniforme escolar, pega numa pequena bolsa a tiracolo e luta pelo seu sonho até ser f inalmen-

te aceite pela professora Jane (Naomie Harris).

Entre lembranças de um doloroso passado, este veterano da vida e muitas lutas vai enf rentar ameaças dos moradores da região, das autoridades e dos pais dos alunos, inconformados por um idoso ter sido aceite numa turma de crianças tão novas. É uma história simples de luta e sinceridade que atravessa gerações.

Repleta de performances intensas e emocionantes, principalmente por parte das crianças, esta pelicula é uma fonte de inspiração para todos nós. É, de facto, uma lição para a vida.

O f ilme conta com a direcção de Justin Chadwick e, para além de Oliver Litondo e Naomie Harris, fazem parte do seu elenco Emily Njoki, Hannah Wacera e Rony Kgoroge. Foi galardoado com 17 prémios internacionais.

CINEMA

35MM

THE FIRST GRADER Xonguila suggestion

The film "The First Grader" premiered in 2010, it is the story of Kimani Maruge, the person recognized by Guinness World Records as the oldest man in the world to attend a primary school.

This feature film begins in a small village in Kenya, when Maruge (Oliver Litondo) hears an advertisement on the radio about free education for everyone. Not having had a chance to study when he was younger, the 84-year-old Mau Mau tribesman who fought to free Kenya from the English decides to go to a primary school and ask for an opportunity to learn to read and write. Being initially rejected, he persists, wearing a school uniform, he picks up a small shoulder bag and fights for

his dream until finally accepted by teacher Jane (Naomie Harris).

Between memories of a painful past, this veteran faces threats from the region's residents, the authorities and the parents of the students, unhappy that an old man has been accepted into a class of such young children.

It is a simple cross generational story of struggle and sincerity.

Filled with intense and exciting performances, especially from the children, this movie is a source of inspiration for all of us. It is, in fact, a life lesson.

Directed by Justin Chadwick and a cast including Oliver Litondo, Naomie Harris, Emily Njoki , Hannah Wacera and Ron Kgoroge, it was awarded 17 international prizes.

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Rubrica - Saúde e Bem-Estar

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113 - Setembro/September 2018 • REVISTA XONGUILA © ™ Ed. 5

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Hospital Central de Maputo Av Eduardo Mondlane, Maputo +258 21 320 828

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Instituto do Coração Av. Kenneth Kaunda, Nº: 1111 +258 21 411 000

Imperial Car Rental Aeroporto Internacional de Maputo +258 21 465 250 www.imperialcarrental.co.mz

Polícia Celular 112 Polícia Machava +258 21 751 412 Polícia Sala de Operações Maputo +258 21 325 031 PRM +258 21 311 195

Bombeiros - Fire Department Bombeiros - Chamadas de socorros 197 Bombeiros +258 21 322 222 | +258 21 322 334

Transportes - Transport Taxi Novo 843 275 000/863 275 000/823 275 000 Taxi Marcelo 847 575 758

Picket Águas/Water Águas da Região de Maputo +258 21 308 855

Hospital Privado de Maputo Rua do Rio Inhamiara, nº 1100 +258 21 488 600 | +258 843 012 711 Clínica Sommershield Rua Pereira do Lago, nº 52 ,Sommerschield, Maputo +258 21 493 924/5/6 Hospital Psiquiátrico de Infulene +258 21 470 623 Hospital Geral da Machava +258 21 758 147 Hospital Geral de Chamanculo +258 21 400 094 | +258 21 400 086

Avis Maputo Av. Mao Tse Tung, nº 1 +258 21 321 243 www.avis.com/ EuropCar Av. Julius Nyerere, nº 1418 +258 21 497 339 www.europcar.com RentMaputo +258 829 162 320 | +258 43 352 880 www.rentmaputo.com Sixt Car Rental Aeroporto Internacional de Maputo +258 21 465 250 | +258 21 465 250 www.sixt.com

Hospital Geral José Macamo +258 21 400 045/6

Win Car Rental Av. Guerra Popular, nº 1666 +258 829 162 320 | +258 843 162 320 info@win.co.mz www.win.co.mz

Centro de Saúde Shifaa Av. Maguiguane, nº 1949 +258 21 407 903 | +258 829 632 330

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115 - Setembro/September 2018 • REVISTA XONGUILA © ™ Ed. 5

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Câmbio - Exchange houses SA Câmbios Avenida Kwame Nkrumah, nº 501. +258 21 488 830 Africâmbios Avenida 25 Setembro, nº 1339 R/c +258 21 428 605 Mundial Câmbios Avenida 24 Julho, nº 1830 +258 21 310 867 Acácio Câmbios Avenida Patrice Lumumba, nº 658 - R/c +258 21 312 263 Coop Câmbios Lda Avenida Maria J Albuquerque, nº 70 - R/c +258 21 414 357 Executivo Câmbios Lda Avenida Samora Machel, nº 26 - R/c +258 21 310 432 Manusso Câmbios Lda Rua Consiglieri Pedroso, nº 79 +258 21 325 303 Mundo de Câmbios Lda Avenida Mao T Tung, nº 278 +258 21 499 995

Aeroportos - Airports Aeroporto de Inhambane Avenida OJM-Inhambane, nº 509 +258 29 320 312 Aeroporto Internacional da Beira Rec Aeroporto-Beira +258 23 301 071/2 Aeroporto Internacional de Maputo Aeroporto Mavalane-Maputo +258 21 465 827/8 Aeródromo de Pemba Aeroporto de Pemba, Cabo Delgado +258 27 220 312 Aeródromo de Inhambane Cidade de Inhambane +258 29 320 312 Aeroporto Internacional de Nampula Avenida do trabalho A, 418, Nampula +258 6 213 133/213 100 Aeroporto de Angoche Ilha de Angoche Aeroporto de Cuamba Aeroporto de Cuamba, Cuamba Aeroporto de Nacala Aeroporto de Nacala, Avenida do trabalho A, 418, Nampula +258 26 213 100 Aeródromo de Tete/Chingodzi Unidade Albano, Chingozi Estrada Nacional 7, Tete +258 522 312

116 - Setembro/September 2018 • REVISTA XONGUILA © ™ Ed. 5

Aeródromo de Quelimane TM 146, Quelimane +258 24 213054 Aeródromo de Chimoio TM 200, Chimoio +258 25 122 242 | +258 82 598 162 Aeródromo de Lichinga Lichinga +258 27 120 127 | +258 27 121 594 | +258 826 401 776 Aeródromo de Vilankulo Cidade de Vilankulo, Inhambane +258 23 822 07

Bancos - Banks Banco de Moçambique Sede: Av. 25 de Setembro, nº 1679 2º +258 21 354 683/4 Millennium BIM Sede: Rua dos Desportistas, nº 873/879, 6º Andar +258 21 350 035 Moza Banco SA Sede: Rua dos Desportistas, Jat 5.3 +258 21 342 000 BCI Sede: Av. 25 de Setembro +258 21 353 700 Banco Único SA Sede: Av. Julius Nyerere, nº 585 +258 21 488400 Banc ABC Sede: ABC House, Avenida Julius Nyerere, nº 999 +258 21 482 100

81 2018• REVISTA2018 XONGUILA © XONGUILA ™ Ed. 2 117-- Maio/May Setembro/September • REVISTA © ™ Ed. 5

118 - Setembro/September 2018 • REVISTA XONGUILA © ™ Ed. 5