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O Licuri
from Manual do Licuri
O Licuri Syagrus coronata
Olicuri (Syagrus coronata, ARECACEAE) é uma palmeira nativa do semiárido Nordestino (Bahia, Alagoas, Sergipe e Pernambuco) e do Norte de Minas Gerais, sendo que a maior parte dos licurizais concentra-se no semiárido baiano (NOBLICK, 1991). É uma espécie-chave para espécies da fauna e da flora e de grande importância sociocultural e econômica para agricultores familiares e outros agentes sociais (e.g., DUQUE, 2004; CARVALHO, FERREIRA, 2015; CARVALHO, FERREIRA, ALVES, 2014b; FERREIRA et al., 2016). É uma palmeira de uso múltiplo, existente em parte do semiárido, em geral em solos profundos e arenosos ou argilosos. Nos locais de sua ocorrência garante vida para pessoas e animais. Na paisagem, essa palmeira fica verde durante todo o ano, mesmo em períodos de estiagem prolongada. Adaptada às condições de elevadas temperatura e luminosidade, é uma planta amiga da luz – heliófila. Não há registros do licuri nos municípios do Oeste baiano (margem esquerda do Rio São Francisco, cf. Figura 22). No entanto, ao longo do trabalho, verificamos sua ocorrência bastante espaçada no município de Serra do Ramalho, Bom Jesus da Lapa e relatos de agricultores no município de Cocos em ecótonos entre a caatinga e o cerrado. Portanto, o licuri é visto associado à caatinga, ecossistemas costeiros (restinga) e áreas de ecótono mata atlântica-caatinga e cerrado-caatinga, com precipitações entre 500 a 1400 mm com chuvas de inverno. Por vezes, em áreas desmatadas, ocorre o surgimento de licurizais em áreas de capoeira ou mata secundária perturbada (sob ação do homem). Quanto à altitude, em território baiano essa palmeira tem sua ocorrência natural desde aproximadamente 2 metros acima do nível do mar (Bom Jesus dos Pobres, Saubara – BA, na foz do Rio Paraguaçu) até 1000 metros na Chapada de Diamantina, municípios de Ibitiara, Brotas de Macaúbas, Seabra (Figuras 1, 2).
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Na paisagem, em regiões do Sudoeste do estado, apresenta-se ora em áreas do sopé e cume de serras (Matina, Guanambi, Riacho de Santana), possivelmente devido ao desmatamento das áreas de menor declividade usadas para pastagens; ora em áreas de pouca declividade, como nos municípios do Centro-Norte da Bahia (Capim Grosso, São José do Jacuípe, Serrolândia, Quixabeira, Várzea do Poço, Várzea da Roça, Caldeirão Grande).

a b
Figura 1 – a e b) Licuri em área de restinga, Barra do Itariri, município de Conde – BA

Figura 2 – Licuri na Chapada Diamantina, Caém – BA.
O licuri foi citado pela primeira vez de forma escrita no Tratado Descritivo do Brasil em 1589, por Gabriel Soares de Sousa (SOUSA, 1851). Veja como o autor cita o licuri no mencionado documento histórico e a relação com sua gente:
“As principais palmeiras bravas da Bahia são as que chamam ururucuri, que não são muito altas, e dão uns cachos de cocos muito miúdos, do tamanho e cor dos abricoques, aos quais se come o de fora, como os abricoques, por ser brando e de sofrível sabor; e quebrando-lhe o caroço, donde se lhe tira um miolo como o das avelãs, que é alvo e tenro e muito saboroso, os quais coquinhos são mui estimados de todos. Estas palmeiras têm o tronco fofo, cheio de um miolo alvo e solto como o cuscuz, e mole; e quem anda pelo sertão tira esse miolo e coze-o em um alguidar ou tacho, sobre o fogo, onde se lhe gasta a umidade, e é mantimento muito sadio, substancial e proveitoso aos que andam pelo sertão, a que chamam farinha-de-pau.”