
2 minute read
Trincheiras para a guerra
Quando a Primeira Guerra Mundial deflagrou, em Agosto de 1914, previa-se uma série de batalhas renhidas culminando numa rápida vitória. Esperava-se que, por alturas do Natal, os combates tivessem terminado. Contudo, os generais não se haviam apercebido que os avanços tecnológicos dos últimos 50 anos tinham tornado a defesa mais forte do que o ataque. Tinham sido desenvolvidas novas e mais rápidas armas de fogo, como a metralhadora e espingarda de repetição e artilharia de fogo rápido. Isso significava que soldados escondidos, defendendo uma posição fortificada, podiam ceifar a vida aos atacantes com rajadas de balas e fogo de artilharia.
Durante o Outono de 1914, a guerra travou-se em duas frentes em França e na Bélgica, a oeste, e na Polónia e da Rússia Oriental a leste. No final do ano os alemães tinham forçado os russos a recuar na frente oriental, mas na ocidental, onde nem os franceses tinham sido capazes de abrir brechas nas linhas inimigas, a situação era de impasse. Longe de poderem regressar a casa no Natal de 1914, os soldados da frente ocidental encontraram trincheiras que se estendiam ao longo de 725 quilómetros, da fronteira Suíça à costa do Canal da Mancha.
Advertisement
As trincheiras não eram uma novidade da Primeira Guerra – já na Guerra Peninsular (1808-14) entre a Grã-Bretanha, Portugal e Espanha contra a França, os soldados tinham-se refugiado em fortificações escavadas no terreno no campo de batalha. Em 1914, na frente oeste, as trincheiras deixaram de ser os simples refúgios provisórios escavados à pressa nas primeiras semanas da guerra. Os alemães e aliados franceses tinham tentado ultrapassar-se numa corrida até ao mar, através da França e da Bélgica, mas tendo falhado, ambos os lados decidiram defender as áreas sob seu controlo e as trincheiras foram-se expandindo.
As linhas da frente situavam-se habitualmente a intervalos de 230 metros e estavam ligadas por trincheiras de comunicação às zonas seguras da retaguarda. As trincheiras eram escavadas em zig-zag e ti- nham à volta de 1.2 metros de profundidade, com um espesso parapeito de terra e sacos de areia, para proteger os homens do fogo do inimigo.
Os oficiais gozavam de um certo conforto nos abrigos, mas a vida para as patentes mais baixas era dura. Quando o tempo estava mau, todos os soldados sofriam devido ao frio, à humidade e à lama. O facto de estarem de pé durante muito tempo na água provocava-lhes o “pé das trincheiras”, ficando com os pés muito inchados e esverdeados e as ratazanas constituíam uma ameaça constante. Os homens viviam no terror de morrer subitamente atingidos por balas de atiradores furtivos. O gás venenoso, utilizado pela primeira vez pelos alemães em 1915, podia cegar ou matar. Os piolhos infestavam as roupas dos soldados, disseminando a febre das trincheiras. Era quase impossível manter-se limpos. A única hipótese de lavagem consistia em utilizar um recipiente de 9 litros de água, trazido para as trincheiras, que podia ter que ser partilhado por 40 homens. As rações dos ingleses eram constituídas por carne enlatada, pão e biscoitos. Os alemães comiam salsichas e pão escuro. Geralmente os ataques faziam-se à noite e as sentinelas punham-se em grupo a fazer a guarda. Quando não combatiam, faziam as reparações nas armas e ajudavam os colegas feridos. Foi uma guerra terrível em que milhares de soldados morreram não só devido aos ferimentos, mas também de doenças. EsMEraldina carnEiro