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Zerar desmatamento e plantar árvores

Por Gabriel Emídio

Roda Viva, programa de entrevistas e debates produzido e transmitido pela TV Cultura de São Paulo, é o mais antigo do gênero na televisão brasileira. É exibido, continuamente, desde 29 de setembro de 1986. Pela pluralidade de temas e entrevistados, somada à qualidade profissional dos jornalistas convidados, constitui referência valiosa para a aquisição de informação, conhecimento e fortalecimento da reflexão.

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O texto que segue inspira-se e tem por base os conteúdos do Roda Viva exibido em 16/01/2023, protagonizado pelo jornalista, historiador, intelectual e acadêmico Jorge Caldeira. Na bancada, os jornalistas Vera Magalhães (apresentadora); Jefferson Del Rios, Daniela Chiaretti, Itamar Montalvão, Paula Miraglia e João Villaverde. A cada pergunta, respostas isentas de ‘achismo’, densas, simples e didáticas. Uma aula de economia substanciada na história.

Para o entrevistado, “a economia que está sendo criada envolve preço e mercadonão é conservacionismo só. E o Brasil tem tudo para ser o país que mais vai se beneficiar com esta mudança. Hoje, o valor econômico tem um preço – o preço do carbono. Se você emite carbono, você paga. Se você recupera, você recebe. A relação homem-natureza pressupõe um fluxo monetário”.

Caldeira fala de um Brasil enquanto paraíso restaurável, que discute suas próprias potencialidades no contexto da Economia Verde. Lembra que o país ocupa 8% do território mundial. E abriga entre 25% e 30% da produtividade natural. “Hoje, a humanidade pensa a produção a partir do que a natureza produz. O Brasil vai chegar lá? Depende de nós”, pondera.

Fundamentos do ESG

Salienta o descasamento entre atitudes e percepções da sociedade civil, parte do empresariado e governo. “Os fundamentos do ESG foram lançados nos início dos anos 90, a partir da iniciativa privada. Hoje, um terço dos melhores capitais do mundo, em torno de 40 trilhões do dólares ou 25 vezes o PIB do Brasil, só são aplicados nessas condições”.

Ao abordar a política de carbono neutro, no mundo, diz que essa tomada de consciência é bem recente. Começou com a União Europeia, em 2019. “As normas privadas passaram a valer para o Estado na Pandemia, em 2020. Ou seja – o Estado vem a reboque, nesse movimento, cada vez mais intensificado. No Brasil, em geral, os planejadores não tem a menor noção do que estamos falando aqui, nessa edição do Roda Viva”, comenta.

Vantagem competitiva

Jorge Caldeira apresenta um mapa físico do mundo onde ficam evidenciadas as vantagens do Brasil na comparação com outros lugares do planeta. A despeito dos erros cometidos pela mentalidade fincada nos valores dos anos 70, “os povos originários do Brasil tem, hoje, 11% do território reservado para eles. Isso é dezenas de vezes mais do que ocorre nos EUA”, compara.

Matriz energética

“Em 2022, havia 700 mil pessoas com placa solar em casa, no Brasil. Isso não depende de planejamento central, desconcentra capital e multiplica oportunidades para todos os lados. A coisa mais essencial: o caminho do Brasil, nessa área, é completamente diferente do resto do mundo. Enquanto lá fora chega a 80% a emissão de petróleo, gás e óleo, aqui é 20%”.

Segundo Caldeira, o nó está em como manejar a natureza. O país avançará na emissão de carbono neutro? “Metade do problema está em parar de desmatar. E a outra, plantar árvores. Tem mais: queimar floresta é queimar dinheiro. O Brasil pode se tornar carbono neutro em quatro, cinco anos. Na Europa, com mui- ta sorte, levará 40 anos”.

Explica que outra vantagem do Brasil está no Proálcool – 17% de toda energia consumida é álcool. Não por acaso, intensifica-se a vinda de investidores de fora para o país. E a razão está fundamentada nas exigências da nova economia. Aqui dá pra se montar um negócio promissor de carbono neutro.

Calcula-se que, em 2050, a matriz energética mundial terá apenas 20% de energia fóssil, contra 80% de energia renovável. Já o Brasil, caso a questão ambiental seja entendida como item fundamental da economia, esse tempo poderá ser bem mais reduzido.

Hoje, quase 20% da energia consumida no Brasil é solar e eólica. E metade das emissões de carbono decorrem de desmatamento e queima. “O que lá fora se resolve com a diminuição do uso de petróleo, no Brasil é com o fim do desmatamento e plantio de árvores.

Isso é, acima de tudo, negócio. E obrigação”, assegura Caldeira.

Fixação de carbono

Ele também revela que o planeta investiu, em 2022, 280 bilhões de dólares na fixação de carbono. Melhorar a produção pecuária, por meio de manejo mais racional, que inclui a redução da emissão de metano, já conta com tecnologia apropriada. “A relação com a natureza terá, necessariamente, de ser mediada pela economia”, observa.

“Os formuladores de políticas públicas, em sua maioria, são formados nos anos 70. Planejamento Estratégico tem de ser política de Estado – não política de governo”, entende Caldeira.

De olho na história

“O capitalismo acabou com a escravidão, mas não com as desigualdades – que são coisas diferentes. A Alemanha tinha quatro grandes produtores de energia há 40 anos; hoje tem 40 mil. Até o século 19, as pessoas se deslocavam do campo para as cidades pra coisa acontecer. Hoje, dá-se o contrário”, menciona o entrevistado.

E acrescenta que “no Brasil, hoje, os sem-terra da Amazônia, que derrubaram a floresta, têm que receber dinheiro para reflorestar. A nossa principal fonte de energia e riqueza vai ser plantar árvore. A chamada ‘soberania nacional’, ideia que deve ser atualizada, não está acima das necessidades do planeta”.

O presente artigo vem ao encontro das ações de preservação e restauração do meio ambiente, desenvolvidas na Estância Balneária de Guarujá (SP). E dialoga com a adesão aos pressupostos do ESG, presentes nos conteúdos da Revista Visite Guarujá.

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