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Selvino Holzbach

se conhecia. Brincava muito, muito embora sempre tinha que ajudar nos afazeres de casa, inclusive eu e meu irmão Alceu tínhamos que armar os palitos do bolão, que nosso pai tinha.

Era uma infância muito feliz. Já aqui em São Miguel aos nove anos eu demorei um pouco a me acostumar, pois o ambiente era diferente, tínhamos um professor para cada série. Nós tínhamos que estudar a história e a geografia do Paraná. No início tive um pouco de dificuldade, mas depois a gente se acostuma e segue em frente

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Versões: Onde foram os estudos do Selvino?

R: Eu fui alfabetizado numa escola na Linha Salto, onde nasci, cujo professor era Nicolau Meiners, que era o único professor da sala. Posso afirmar que fui muito bem alfabetizado. Já em São Miguel eu cheguei na metade do 3º ano e lá eu concluí o 5º ano. Aqui quero destacar dois professores extraordinários que tive, que foram o professor Albano Mallmann e o professor Rudi Schwengber, que por sinal, mais tarde passaram a ser meus colegas, pois foi lá que comecei a lecionar. Posso afirmar que graças a eles, pelo incentivo, eu optei pela carreira de magistério.

Versões: Onde cursou o 2º Grau e o ensino superior?

R: O ensino médio, ou 2º grau, eu fiz no Colégio Luther King, que na época funcionava no colégio La Salle e lá eu tive grandes mestres que me ajudaram e incentivaram para que eu seguisse a carreira de professor. Tenho que destacar o professor Edilio Ferreira, o Irmão Marino Angst, que recém estava começando a lecionar naquela época, o José Zanquetin e o Irmão Ignácio Weschenfelder. Foram todos mestres. O ensino superior eu fiz na cidade de Palmas, na Faculdade de Ciências, Filosofia e Letras de Palmas (PR). Fiz especialização em Metodologia do Ensino Superior pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Versões: Quais foram os motivos que o levaram a seguir a carreira no magistério?

R: Eu não sei ao certo. Tinha duas profissões que eu sempre admirava, que era a de professor e a de médico. Eu me identifiquei muito com os meus professores, tanto é que eu cursei meus estudos no Seminário Diocesano aqui de Toledo também e depois completei no Seminário São José de Cascavel. Para mim o professor sempre foi um exemplo.

Versões: Quais foram os educandários pelos quais o professor Selvino passou?

R: Eu comecei a lecionar como professor, em 1º de setembro de 1970, no primário da Escola Santo Cristo, onde eu havia estudado, aqui em São Miguel. Tinha então 19 anos. No ano seguinte assumi uma escola multisseriada na Escola Santa Cecília, também em São Miguel. Fiquei no primário por três anos. Em 1974 eu vim para Toledo e fui lecionar na Escola Dario Velozzo, onde fiquei até 1975. Já em 1976 eu fui convidado a lecionar no Colégio La Salle, onde fiquei por 15 anos. Sempre na Língua e Literatura Brasileira. Sempre fui professor, nunca ocupei outro cargo nas escolas. Em meados de 1980 o grande mestre e professor Willibaldo Feiten trouxe para Toledo o CEEBJA, e lá eu fiquei por 27 anos, onde me aposentei. Mas ao mesmo tempo em que lecionava pelo Estado no CEEBJA, eu fui lecionar na Unioeste, a convite do professor Celso Almiro Hoffmann, cuja perda eu lamento até hoje, pois foi um grande amigo e mestre. Na Unioeste eu fiquei por aproximadamente 21 anos, sempre na disciplina de Língua Portuguesa.

Versões: Vale a pena ser professor?

R: Claro que vale a pena ser professor. É uma carreira das mais nobres, pois você lida com o ser humano, com sentimentos, com expectativa. Eu acho que quem é professor é porque tem um dom, essa dedicação toda. Você antes de mais nada tem que gostar do que você faz. Se você não se dá bem nas relações humanas não tem como ser professor.

Versões: Hoje a escola tem novas tecnologia e mais facilidade. De ontem para hoje, como o professor vê as épocas diferentes?

R: Cada época tem as suas características, e a educação também vai se transformando como qualquer outra atividade. Na escola as coisas acontecem mais lentamente, normalmente não está na vanguarda, mas ela vai acompanhando. Aí a escola é um receptáculo de tudo que vem da sociedade. Os valores quando mudam é na escola que se manifestam. A escola recebe muitos alunos com ideias, expectativas e valores diferentes.

Tem gente que critica que a escola está defasada, que não está acompanhando a evolução tecnológica como deve. De certa maneira é verdade, mas também ela nunca vai perder a essência, a característica, a humanidade. Por exemplo, eu vejo com certa apreensão, que querem tirar no Estado do Paraná, Artes do currículo. Hoje se tira Arte, amanhã Filosofia, depois a Literatura, a Poesia, a Sociologia. E aí o que você tem?

A escola não pode concorrer com um curso técnico de uma empresa que é centrada e focada só na tecnologia. Então a escola tem esse objetivo, como essência desenvolver p ser humano em todas as suas potencialidades.

Versões: Toledo é cidade interiorana. Boa parte da sua população criou seus filhos aqui e aqui eles permanecem. Quais os seus alunos de boa recordação?

R: Eu lembro de muitos alunos. Tive muitos bagunceiros, aqueles que sentam no fundo da sala, mas nem sempre esses eram os piores alunos. Muitas vezes eu encontro aqueles "capetinhas", e eles hoje são médicos, engenheiros, uns cidadãos honrados. É claro que a gente lembra mais daqueles que se destacavam. Eu tive muitos alunos excelentes, mas quero citar alguns, dentro da minha disciplina, por exemplo o Davi Pereira, o Leonildo Bortolin. Não quero citar mais, pois posso esquecer de outros. Mas é muito bom passar pela rua e ser reconhecido, pois quando eles me chamam, "Ô professor". A recompensa do professor é isso.

Versões: A educação evolui ou involuiu?

R: Eu não sou pessimista a esse ponto. São épocas diferentes. Eu vejo que a escola está evoluindo, lentamente, como é do feitio dela. Ela não tem a função de estar sempre à frente. A única coisa que a escola não poder perder nunca é a sua essência.

Versões: Guarda boas recordações do seu tempo de magistério?

R: Só boas recordações. Foram 47 anos de sala de aula. Iniciei, como já mencionei, em 1º de setembro de 1970 e me aposentei no dia 1º de setembro de 2017. Eu me realizei profissionalmente no magistério. Foi algo, embora seja uma carreira muito difícil e ao mesmo tempo nobre, pois lida com o ser humano.

Versões: Quais são as atividades do professor aposentado hoje?

R: Hoje faço algumas leituras, que foram esquecidas lá atrás, por fata de tempo, mas no mais é aquela rotina de levantar cedo, entre 5 e meia e 6 horas, passear com meus cachorrinhos, que é uma atividade muito prazerosa. Depois eu faço a minha caminhada diária, se possível. Tomar um bom vinho ao meio dia, uma cervejinha no final da tarde. Visitar amigos.

Versões: E a família?

R: A família é tudo na vida de uma pessoa. Eu não tive filhos, mas estou junto com minha esposa Jaqueline há mais de 30 anos. Tenho uma família muito grande de irmãos e sobrinhos. É uma vida tranquila, do jeito que é o meu jeito. Do jeito que eu sempre quis, sem grandes arroubos e viagens. Uma vida caseira, muito feliz.

Versões: Qual consideração que o professor deixa sobre a educação?

R: Quero fazer um apelo para que a sociedade desse mais atenção à educação. Embora ela tenha muitos defeitos, muitas dificuldades, mas não se constrói um país, não se constrói nada sem uma boa educação. Que a educação não seja apenas um discurso em época de campanha e que se olhe para os nossos valorosos professores, que estão sofrendo muito. Nós vemos muitas famílias desajustadas, a sociedade se digladiando, a política polarizada. E tudo isso recai na sala de aula. Na educação. Quando digo valorização quero dizer valorização salarial, pessoal, respeito. Que a educação comece na base, nas primeiras séries. Um educador com 40 ou mais alunos em uma sala de aula é inviável. É muito difícil, as crianças são muito mais ativas. Então que se valorize a base.

Versões: Quais as considerações finais do professor Selvino?

R: Quero agradecer a muitos colegas que tive, a vários professores que foram heróis. Aqui eu cito mais uma vez o professor Albano Malmann, professor Rudi Schwemgber, professor Edílio Ferreira, professor Irmão Ignácio e Irmão Marino, professor Wilibaldo, professor Antônio Osni Gayowski, e especialmente o professor Celso Hoffmann, cuja morte eu lamento até hoje. Lembro também do professor Zeferino Adolar Friedrich, outro mestre. O Pitágoras da Silva Barros. Preciso citar também o amigo e mestre da Academia de Letras de Toledo, Luiz Alberto Costa e também o escritor e poeta Luiz Carlos Salami, eu considero um dos melhores poetas. Eu pessoalmente considero também o Mario César Costenaro que tem um texto extraordinário. E estender um voto de louvor ao Bruno Radunz, escritor profícuo e grande incentivador da cultura e das letras, em Toledo.