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A tradição
Ao receber o convite para participar da primeira edição de O Vale, representando o Acervo de Alceu Mário Feijó, surgiu a ideia de relembrar, brevemente, a Novo Hamburgo que ele conheceu como cidadão e fotojornalista.
Quando aqui chegou em 1940, aos 13 anos, meu pai encontrou uma cidade pujante, mas ainda pacata, onde todos se conheciam e reconheciam a fumaça e o apito do trem. O clássico de futebol era o Floriano X Esperança e, nas ruas empoeiradas, se ouvia o som dos tamancos dos trabalhadores. No domingo, a roupa utilizada era a “especial”.
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Em Hamburgo Velho, havia o Hotel Esplêndido, o Cine Aída, o armazém do Cavaco, o muro “romano” e, lá na Vila São José, o Campo do Esperança e a EVAI- Escola Vocacional Agro Industrial.
No centro, estavam a prefeitura, a cadeia, o Café Avenida, a praça, o coreto, o campo do Floriano. Ele viu a retirada dos trilhos antigos e a vinda do metrô; viveu o apogeu da indústria do calçado com a Fenac, as Cinderelas do Calçado e, depois, o amargor do fechamento de muitas fábricas.
Esteve na criação da Fundação Ernesto Frederico Scheffel, que homenageia seu amigo. Testemunhou a expansão urbana com os inúmeros chalés. Depois, a modificação da paisagem com o surgimento dos edifícios e, por fim, as ruas asfaltadas e cheias de veículos.

Banhou-se e pescou no Rio dos Sinos, mas sentiu o poder de suas enchentes e a mortandade de peixes pela poluição.
São registros de uma cidade e de um cidadão que nela escolheu viver. A trajetória de tempo de ambos gera reflexões que conduzem nossos passos no presente e no futuro, honrando com gratidão e responsabilidade o legado que recebemos.
Começar celebrações dos 200 anos é motivo de especial alegria, de muitas conexões, de muitas recordações. Tenho a honra de ter nascido em Novo Hamburgo, de morar em Dois Irmãos, de ter conhecido Trier e Koblenz, na Alemanha, de trabalhar em Blumenau, em Santa Catarina. Tenho a satisfação de ser neto de um Schneider, Vô Ivo e filho de uma Schneider, a Rejane. Adoro uma boa cuca, um eisbein bem assado, uma cerveja em temperatura ambiente, um schintzel no ponto e um saboroso apflestrudel. Quanta vivência germânica.
Que coisa boa ser criado nas bandas de Hamburgo Velho, vivenciar o Kerb de São Miguel, fazer fotos e matérias no Rio Reno, navegando na região do Hunsrück e poder transmitir ao vivo o desfile da Oktoberfest, na rua XV, no Vale Europeu, nas ondas da Rede União FM. Aliás, por falar em União FM, que coisa boa, todos os domingos, poder curtir o craque do microfone, Egidio e as Bandas e Músicas Alemãs.
Quantas lembranças, quantas histórias, que eu e milhares, milhões de descendentes alemães temos, numa memória mais que viva de 200 anos. Músicas, comidas, danças, costumes, roupas, sotaques, que entrelaçados, vão despertando o passado dentro de cada um que tem suas origens germânicas.
E iniciativa como o Projeto O Vale, liderada pela Vale TV e Portal Valedosisnos.org, do incansável mestre Rodrigo Steffen, o Rodriguinho (sim, pois eu sou o Rodrigão quando es- tou ao seu lado) irá eternizar os últimos e projetar os próximos 200 anos de uma das regiões mais alemãs no mundo, fora da Alemanha. Esta edição ZERO, do Jornal O Vale faz história, arriscando-me a dizer que daqui 200 anos, na celebração dos 400 anos da chegada alemã em São Leopoldo, seremos lidos. Aqui temos uma fonte histórica, tamanha as memórias e projeções que serão feitas, ao longo de 40 edições.
Entrar em embarcações, cruzar um mundo desconhecido e perigoso, aportar em terras distantes, cheios de medos e surpresas, não pode ter sido em vão. Cabe a nós, manter essa memória viva, com sabor de hackepeter, spritzbier e ao som de bandinhas e muita alegria. Viva os alemães que aqui chegaram, que aqui prosperaram e que deixaram seu filhos, netos, bisnetos, tataranetos e por ai a fora, nessa terra!