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O que é... Brasiliana?

Livro do acervo da Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin. Foto: Denis Pacheco/USP Imagens

Por: João Cardoso

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Entre os bibliófilos, isto é, aqueles que se dedicam a colecionar livros, o sufixo “-ana” designa o assunto ou autor em que está focada uma coleção. Deste modo, uma coleção Brasiliana reúne livros sobre o Brasil, assim como uma Machadiana diz respeito a uma coleção de livros de e/ou sobre Machado de Assis.

O bibliotecário e bibliófilo Rubens Borba de Moraes, cuja coleção Brasiliana integra o acervo da Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin (BBM), definiu um conceito mais estrito de Coleção Brasiliana, que seria formada por “livros sobre o Brasil – no todo ou em parte, impressos ou gravados desde o século XVI até o final do século XIX (1900 inclusive), e os livros de autores brasileiros impressos ou gravados no estrangeiro até 1808.” De maneira complementar, criou também o conceito de coleção Brasiliense, que seriam “livros impressos no Brasil, de 1808 até nossos dias, que tenham valor bibliofílico: edições da tipografia régia, primeiras edições por unidades federativas, edições príncipes, primitivas ou originais e edições em vida – literárias, técnicas e científicas; edições fora de mercado, produzidas por subscrição; edições de artista.”

As definições propostas por Borba de Moraes para coleções Brasiliana e Brasiliense estão baseadas nos valores “bibliofílicos”, isto é, nos elementos que fazem uma obra ser cobiçada por um colecionador. Esses valores podem se manifestar na raridade de um livro, em sua antiguidade, em primeiras edições de grandes obras, na presença de dedicatórias e anotações em um exemplar específico, em uma edição de tiragem limitada, produzida artesanalmente, ilustrada por um grande artista etc.

A Brasiliana de Guita e José Mindlin é um exemplo de coleção cuja formação esteve orientada por esses valores “bibliofílicos”, ou seja, por qualquer elemento que pudesse agregar um valor único, especial a um livro sobre o Brasil. Dentre as obras do acervo, destacam-se, por exemplo, edições raras e/ou antigas de viajantes, cronistas e missionários que produziram relatos sobre o Brasil, primeiras edições, provas tipográficas e manuscritos dos autores da literatura brasileira do século XVII ao XX, documentos históricos – sobre a Independência, Escravidão, Guerra do Paraguai –, periódicos do século XIX, livros de artista, edições artesanais.

Contudo, ao redor desses livros, o casal Mindlin também organizou uma importante e variada coleção de livros correntes – ou seja, livros que não têm elementos claramente “bibliofílicos” – sobre o Brasil, que tratam de assuntos como história, literatura, artes e ciências sociais.

O exemplo da Brasiliana Guita e José Mindlin serve para ilustrar tendências mais recentes de ampliação do conceito de Brasiliana. Ele pode designar não só livros de alguma maneira raros e especiais, mas qualquer coleção relevante que registre e permita compreender o Brasil em seus mais variados aspectos: histórico, social, cultural, natural, artístico. Nesse sentido, uma coleção Brasiliana pode agregar, além de livros e manuscritos, outros objetos, como gravuras, pinturas, fotografias, documentos sonoros e audiovisuais etc.

Essa tendência se verifica sobretudo nas experiências de organização de acervos digitais, que permitem preservar, difundir e ampliar o acesso a acervos que documentam e pensam o Brasil. Dentre essas experiências destacam-se as bibliotecas digitais da BBM e da Biblioteca Nacional, além dos portais Brasiliana Iconográfica e Brasiliana Fotográfica, que reúnem obras de acervos de várias instituições. Seguindo critérios mais ou menos abrangentes, há dezenas de coleções Brasiliana espalhadas pelo Brasil e pelo mundo. Para citar algumas, há no Brasil, além das já mencionadas, as coleções da Biblioteca Mário de Andrade, do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB), da Fundação Casa de Rui Barbosa, do Itaú Cultural; no exterior, pode-se citar, entre muitas outras, as coleções da Biblioteca John Carter Brown, da Biblioteca Oliveira Lima e da Biblioteca Brasiliana da Robert Bosch GMBH.

João Marcos Cardoso é curador da Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin.

Para Conhecer

Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin

Além de ser responsável pelo acervo de livros, mapas, periódicos e documentos, o local promove um calendário anual de cursos e exposições, a maioria com material de seu próprio acervo dialogando com assuntos variados.

O acervo está sendo permanentemente digitalizado e disponibilizado na Biblioteca Digital da BBM. Já há mais de 2 mil livros para consulta on-line: os usuários podem realizar buscas, visualizar as obras e fazer downloads.

Endereço e serviços

Rua da Biblioteca, 21, Cidade

Universitária, São Paulo – SP bbm.usp.br

Biblioteca Digital da BBM digital.bbm.usp.br

Visitas técnicas biblioteca@bbm.usp.br

Visitas monitoradas educativo@bbm.usp.br

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