InFormar nº 3.

Inf

Associação de Professores e Universidade Sénior de Almada dezembro 2018

ormar

Associação dos Professores do Concelho de Almada e da Universidade Sénior de Almada n. º 3, dezembro 2018

Presépio Nuzinho sobre as palhas, nuzinho - e em dezembro!

Que pintores tão cruéis, Menino, te pintaram!

O calor do seu corpo, pra que o quer tua Mãe?

Tão cruéis os pintores!

(Tão injustos contigo, Senhora!)

Só a vaca e a mula com seu bafo te aquecem...

- Quem as pôs na pintura?

Sebastião da Gama, Pelo Sonho é que vamos Autora: Maria de Deus Sequeira

TAM no Coro

03 “

Histórias de Almada

Desde 2016 que a TAM é aplicada no coro da USALMA”

04 “

Conquistada, pois, a cidade de Lisboa, após dezassete semanas de cerco, os mouros de Sintra entregaram o castelo e respectiva guarnição ao rei. Por sua vez, na margem sul do Tejo, Almada já se encontrava rendida.”

Sessão Solene de Abertura

09“

O orador convidado, Doutor Domingos Rasteiro, Sócio Honorário da Associação de Professores do Concelho de Almada, revelou ser grande conhecedor de Almada e do tema que escolheu”

Juntos por Uma Causas

11“

Foi um espetáculo com o propósito de abraçar uma “Causa” que nos move, ou seja, a construção do Lar/Residência da nossa Associação.”

Bom Natal e um Feliz Ano Novo Esta publicação é da autoria da Associação dos Professores e da Universidade Sénior de Almada e pretende dar a conhecer os trabalhos realizados pelos alunos e professores.

1

Associação de Professores e Universidade Sénior de Almada dezembro 2018

Editorial A publicação do Boletim n.º 3 – InFormar, projeto que dá voz à Associação de Professores do Concelho de Almada e à sua Universidade Sénior – USALMA, confere neste número, especial enfoque ao ensino/aprendizagem da música.

Melodia, harmonia, ritmo, timbre…

Segundo Darwin a própria fala humana derivou da música e, dizia Platão, que através dela, se educa a alma.

A música desenvolve a mente, promove o bem-estar e o equilíbrio físico e emocional, traz esperança e dá força para acreditar em dias melhores. Alegra, acalma, enche-nos o coração.

Tem o poder de mexer com os sentimentos das pessoas e influenciar a construção da identidade.

Nesta edição também partimos em viagem por outros tempos e chegamos Feliz Natal de viagens de outros lugares.

União, Sorrisos e Abraços são os melhores E, em tempo de Natal, um tempo presentes de Natal. que inspira o gosto pelas virtudes, pelo Que nesta festa mágica haja muita União, amor ao outro. muitos sorrisos e abraços .

A Vossa felicidade é o nosso maior desejo.

Feliz Ano Novo

Ensaia um sorriso e oferece-o a quem não teve nenhum Agarra um raio de sol e desprende-o onde houver noite Descobre uma nascente e nela limpa quem vive na lama Toma uma lágrima e pousa-a em quem nunca chorou (…)

Vive com amor e fá-lo conhecer ao mundo Mahatma Gandhi

Ficha Técnica Direção: Maria de Lourdes Albano e Jerónimo de Matos, Redação: Alexandre Flores, António Alexandre, Arlindo Louro, Carlos Nascimento, Carlos Rocha, Carmo Nascimento, Domingos Rasteiro, Edite Prada, Fernanda Ataíde, José Monteiro, Júlia Carrapo, Maria Carreiras, Maria de Fátima Pereira Dias, Fotos: Joaquim Ribeiro, Júlia Carrapo, Lina Almeida, Maria de Lourdes Albano Conceção Gráfica, Paginação: Joaquim Ribeiro, Secretariado: Sónia Tomás e Tânia Sofia Redação e Administração: Rua da Cerca, 21-23 - 2800-050 Almada Telefone e Fax: 219012420 URL www.usalma.apcalmada.org e-mail: usalma@apcalmada.org Periodicidade: Trimestral

2

Índice Editorial, Maria de Lourdes Albano e Jerónimo de Matos ................................................ 2 Aplicação da TAM ao coro da USALMA, Victor Gaspar ......................................... 3 Lugares e Histórias de Almada, Alexandre Flores ...................................................... 5 A Nossa Língua, Carlos Rocha ........................................................................................ 6 Criatividade, José Monteiro e Amélia Cortes ..................................................................... 7 Notícias .............................................................................................................................. 9 Separata, Domingos Rasteiro, Carlos Nascimento e A.nt. Alexandre ..........................I/VI Visitas e Viagens ........................................................................................................... 12

Associação de Professores e Universidade Sénior de Almada dezembro 2018

A aplicação da TAM ao Coro da USALMA

O

Victor Gaspar

meio académico português tomou contacto com a Teoria de Aprendizagem Musical (TAM) de Edwin Gordon em 1995, aquando da realização de um seminário de curta duração na Fundação Gulbenkian. Entre os participantes contavam-se músicos, professores de todos os níveis de ensino e investigadores. Edwin Gordon foi um dos mais influentes investigadores na área da PsicoOs alunos aprendem como logia da Música, tendo escrito um corpus teórico que muos ossos, músculos, tendões, dou para sempre a forma como se entende o fenómeno nervos e articulações tra- da aprendizagem musical. O foco passou a ser como se balham juntos para realizar aprende música e não como se ensina. A palavra Audiauma acção, e como isso se ção entrou em definitivo no léxico do professor de músiaplica aos movimentos de ca. É o processo mental que usa conteúdos musicais e os cantar ou tocar um instru- relaciona uns com os outros, tal como o pensamento o faz em relação à linguagem. mento.

O impacto desse seminário no ensino da música em Portugal foi profundo. Ainda que não universalmente adoptada na sala de aula, a TAM foi ganhando adeptos e praticantes em círculos infelizmente demasiado restritos. A complexidade da TAM e a exigência de muito boa preparação musical por parte do professor na sua aplicação têm sido factores determinantes.

Foi num contexto de experimentação e pioneirismo que a TAM começou a aparecer no quotidiano de ensaios do Coro da USALMA, por volta do ano 2012. Até à data, a TAM era usada em faixas etárias desde o nascimento (Música para Bebés) à idade adulta, excluindo-se a faixa sénior do seu âmbito de aplicação. No entanto, em conversa com Edwin Gordon, surgiu a ideia de se aplicar em Portugal a teoria deste músico e investigador norte-americano ao caso específico do Coro da USALMA, combinando-a com a Teoria do Movimento de Rudolf von Laban.

Rudolf von Laban teorizou sobre o Movimento, marcando toda a Dança Moderna do Séc. XX. Distinguiu quatro Elementos de Esforço: Fluxo, Peso, Tempo e Espaço. No ensino da música descobriu-se de que forma estes elementos se inter-relacionam, incorporando na prática musical aquilo a que Laban chamou “Qualidades” do movimento que têm tradução directa na forma e expressividade da interpretação coral. Nos ensaios do Coro da USALMA passou a integrar-se gestos e movimentos específicos durante a aprendizagem do repertório.

A partir de 2016 foram introduzidas outras abordagens em complemento à TAM. As descobertas do violoncelista e professor William Conable, da Ohio State University School of Music, na área da mobilidade em contexto de aprendizagem de um instrumento, levou à criação do Body Mapping, o estudo dos mapas cerebrais ou da concepção da estrutura, função e tamanho do nosso próprio corpo e de como essa concepção afeta o uso do corpo. William Conable descobriu que, quando os alunos entendem mal as suas estruturas de músculos, tendões e articulações, eles movem-se de maneiras que refletem uma concepção defeituosa, levando a hábitos motores disfuncionais preditivos de futuras lesões.

O Body Mapping é a aplicação prática da anatomia ao movimento. Os alunos aprendem como os ossos, músculos, tendões, nervos e articulações trabalham juntos para realizar uma acção, e como isso se aplica aos movimentos de cantar ou tocar um instrumento. Em termos práticos, associam-se gestos (executados pelos cantores) que simulam os movimentos da respiração e do canto, toma-se consciência do alinhamento de seis pontos-chave do esqueleto e evoca-se esta aprendizagem através da géstica do maestro durante o concerto.

Nos anos 60, no Brasil, Paulo Freire aplicou uma teoria social muito própria ao ensinar a leitura do português a uma população analfabeta. Fê-lo através da individualização da instrução às aptidões e interesses de cada estudante, envolvendo-os no processo ao pedir-lhes que trouxessem aquilo que eles 3

Associação de Professores e Universidade Sénior de Almada dezembro 2018

precisavam de aprender a ler. O resultado foram rótulos de embalagens alimentares, revistas, jornais, etc.

Juntou-os em círculos culturais, promovendo a aprendizagem de grupo, que ele acreditava ser mais eficaz.

Nos Estados Unidos foram vários os professores que adaptaram esta abordagem ao ensino da música, criando aquilo que ficou conhecido como Critical Pedagogy. Este modelo aborda a aprendizagem e ensino como um diálogo entre professores e alunos, tornando-os agentes de mudança e não simples receptáculos de cultura. Um coro é o equivalente ao Círculo Cultural de Paulo Freire, uma micro-sociedade com vida e estrutura muito próprias.

James Jordan é professor no Westminster Choir College, em Princeton. Foi discípulo de Edwin Gordon e tem vindo a fazer a ponte entre todas estas novas correntes e o ensino coral. O seu contributo tem sido fulcral na criação de uma nova geração de directores corais. É um prolífico autor, com mais de 40 livros publicados na área da Direcção Coral. Além de vários manuais sobre a Direcção Coral, Técnica Vocal de Grupo e adaptação de repertório, contam-se os livros e CD’s de Vocalizos, exercícios musicais para o desenvolvimento da voz. Desde 2016 que estes exercícios fazem parte da rotina de ensaio do Coro da USALMA. Caracterizam-se pela originalidade do arranjo pianístico que os acompanha, da responsabilidade de Marilyn Shenenberger, e pela aplicação de cada exercício a elementos chave da Técnica Vocal.

Assim, cada ensaio do Coro da USALMA segue um esquema específico, incorporando todas estas tendências. A estrutura é simbolizada pelo acrónimo CRVAR: Corpo-Respiração-Voz-Audiação-Reportório.

O início do ensaio consiste em exercícios de alongamento/relaxamento.

Segue-se a consciência do balanço de seis pontos do esqueleto.

O Body Mapping começa com a aplicação de oito gestos que simulam a estrutura da respiração.

Vocalizos: CD com a gravação de acompanhamentos de cada exercício. Verbalização, por parte dos cantores, de quais os objectivos de cada exercício.

Audiação: uso de padrões tonais e rítmicos, nos modos maior e menor e em métrica Binária e Ternária. Nesta fase, os cantores são orientados para a compreensão de elementos musicais fundamentais: Tónica, Dominante, Sub-Dominante, MacroTempos e MicroTempos, Ritmo Melódico, reconhecimento dos modos Maior e Menor e das métricas Binárias e Ternárias. O solfejo é introduzido por meio da Associação Verbal, uma das Competências de Aprendizagem descritas por Gordon na sua obra.

Repertório: abordado fazendo a evocação de tudo o que foi trabalhado anteriormente, incorporando, sempre que necessário, movimento.

Seria fastidioso esmiuçar mais todo o processo. A TAM é a moldura dentro da qual gravitam todas estas tendências. É o elemento congregador de toda a filosofia do Ensaio Coral.

Estamos no limiar de uma nova era no ensino da música e é interessante percebermos que o Coro da USALMA tem sido um laboratório de aplicação de novas metodologias.

4

Associação de Professores e Universidade Sénior de Almada dezembro 2018

Lugares e Histórias de Almada Tomada dos Castelos de Lisboa e Almada

F

Alexandre Flores

ez no mês de Outubro de 2018, 871 anos que Lisboa, Almada e outras terras vizinhas foram tomadas aos Mouros. A 28 de Julho de 1147, uma esquadra de 164 barcos da IV Cruzada chegara à barra do Tejo, com cavaleiros da Flandres, da Lorena, de Colónia, de Bolonha, da Normandia e da Inglaterra. São homens de armas que vão a caminho da “Terra Santa” para tomar parte na dita Cruzada. Aqui, a armada espanta-se com a grandeza da cidade que se prepara para tomar de assalto a pedido do rei português. Este, já lá se encontrava, ocupando o monte de Sant`Ana nos arrabaldes a noroeste com os seus homens de armas.

O longo cerco iniciou-se no final de Junho e durou até fins de Outubro de 1147. Ambas as forças estiveram reunidas numa operação de grande envergadura militar, integrada na história da Reconquista da Península Ibérica. Durante o cerco a Lisboa, talvez no final de Setembro ou nos primeiros dias de Outubro daquele ano, ocorreu uma expedição a Almada. Então, o que se passou?

Segundo o relato de um cruzado, (Raul a Osberto ou a Osberno, na interpretação historiográfica mais recente), de formação religiosa, oriundo da Inglaterra ou da Normandia, alguns cruzados “passaram o Tejo para irem pescar nas margens de Almada. Caíram sobre eles os mouros daquela zona, mataram bastantes e levaram com eles alguns cativos, cinco dos quais eram bretões. Os cruzados sobreviventes, regressados aos arrabaldes da cidade de Lisboa, ficaram indignados com isso e, discutido o assunto entre todos, foi decidido que Almada tinha de ser saqueada. Após alguns desentendimentos entre os membros da IV Cruzada, foi constituída uma expedição sob o comando de Saério de Archelle, - (um dos quatro condestáveis que comandavam o contingente inglês e normando, e responsável por uma parte dos navios da frota), - para ser dirigida à outra margem do Tejo, com trinta cavaleiros e uma centena de peões. Depois de terem matado em combate mais de quinhentos mouros, trouxeram cerca de duzentos cativos e mais de oitenta cabeças. Quando os mouros de Lisboa, ao olharem das suas muralhas, avistaram as referidas cabeças cortadas, pediram que lhes entregassem as mesmas. O pedido foi aceite. Em pranto e clamor, levaram-nas para dentro das muralhas. Livre ficava a partir de então o caminho para atravessar o rio até Almada”.

O desmoronamento de um lanço da muralha e o avanço progressivo da torre móvel (ver a reprodução da pintura de Roque Gameiro), aterrorizaram, entretanto, os mouros de Lisboa. Estes, enfraquecidos pelas escaramuças, acabaram, ao fim de quatro meses, por capitular. D. Afonso Henriques e os cruzados entraram finalmente na cidade. Começara o saque. Os cruzados iriam receber o que lhes tinha sido prometido pelo rei português em troca de auxílio que prestaram. Mas consta que este rei iria tomar os mouros sobreviventes sob a sua protecção.

Conquistada, pois, a cidade de Lisboa, após dezassete semanas de cerco, os mouros de Sintra entregaram o castelo e respectiva guarnição ao rei. Por sua vez, na margem sul do Tejo, Almada já se encontrava rendida. O castelo de Palmela, abandonado pela sua guarnição, é tomado pelo rei português já sem ninguém. ______

Da vasta bibliografia, registamos, por exemplo, os trabalhos de José Matoso - «D. Afonso Henriques», Lisboa: Temas e Debates, 2007 // Marco Oliveira Borges - «Em torno da preparação do cerco de Lisboa (1147) e de uma possível estratégia marítima pensada por D. Afonso Henriques», in “História” revista, Porto, IV. Série, vol. 3, 2013 // Pedro Gomes Barbosa - «Conquista de Lisboa, 1147, a cidade reconquistada aos Mouros»

5

Associação de Professores e Universidade Sénior de Almada dezembro 2018

A nossa língua Falar “axim”, trocar os vês pelos bês, e mais “nã” sei quê

T

odos sabemos que o ascendente político e cultural de Lisboa teve o contributo de Coimbra, durante muito tempo a única cidade universitária no país. Tanto a capital como a chamada “lusa Atenas” formaram um eixo regional que concentrou poder, ficando, portanto, conotado com um estrato social culto, influente e/ou economicamente abastado. Estes grupos, como a história da língua assinala, ao longo dos séculos e em especial a partir de finais do século XIV definiram e impuseram uma versão prestigiada e prestigiante do português que se difundiu pelo reino e pelo império. Por outras palavras, o português correto, aquilo a que se chama norma-padrão, não é a língua portuguesa dos primórdios da Idade Média, que é, afinal, a língua da antiga Galécia, engobando a atual Galiza e o norte de Portugal. Tampouco configura historicamente a única forma possível de falar e escrever o português. Na verdade, o português elaborado entre (certos) lisboetas e coimbrões é um dialeto como os outros, que o poder político legitimou e que se foi desenvolvendo como língua administrativa e literária. Se os reis de Portugal tivessem fixado a capital em Évora, talvez hoje um “nã sei”, com “nã” em vez de “não”, fosse exemplo da pronúncia tida por correta e culta.

A existência de um padrão de uso linguístico ofereceu inegavelmente mais que muitas vantagens nos planos social, administrativo e até internacional (pense-se no corte cultural com Espanha a partir do século XVIII). Contudo, a identidade linguística nacional exigiu um processo de fixação vocabular e gramatical incompatível com todas as variantes e modalidades regionais do português.

E assim se foram enraizando em Portugal, à semelhança do praticado noutros países e noutras línguas, preconceitos linguísticos como critérios para delimitar meios sociais de privilégio e exclusão, mas também outros, de solidariedade e antagonismo face à autoridade lisboeta, como é o caso do dialeto da região do Porto. No entanto, a variação existe, e contemporaneamente, sobretudo em regiões portuguesas onde o falar quotidiano se distingue do padrão em vários níveis, não será desasado aceitar a sua coexistência com um uso mais uniformizado da língua.

6

Carlos Rocha

Abordemos, a propósito, três traços de pronúncia injustamente considerados erros e até “vícios de linguagem”: – Em Lisboa e por todo o litoral e sul, diz-se que fala “axim” quem produz o “s” de “passo” e o “s” de “casa” quase como o “x” e o “j” de baixo e janela, respetivamente. Não é bem disso que se trata (seria longo explicar porquê agora), nem tal configura incorreção nenhuma, porque, na verdade, são consoantes que remontam à génese do idioma.

– “Trocar os vês pelos bês” é expressão consagrada para denominar um hábito articulatório típico de mais de um terço de Portugal, do vale do Mondego e do Sistema Central para norte. Não é erro: a pronúncia de vinho como “binho”, ou de vaca como “baca”, ou seja, a convergência de “v” e “b” num único som, “b”, vem da Idade Média. Só as vicissitudes da História, levando a capital para o centro-sul, onde não se dá essa confusão, é que determinaram que geralmente não se lhe reconheça elegância.

– Outro traço alegadamente pouco polido é a pronúncia do advérbio de negação não como “nã” ou “nâ” a preceder o verbo (“nã sei”/”na sei”).

Marca inconfundível de alentejanos e algarvios (e até de outras regiões), o “nã” mantém vitalidade, como acontece aliás com a forma correspondente setentrional, “nũ” em “nũ sei”. Serão estes usos um pecado linguístico assim tão grande?

Mais haveria a considerar acerca do tema. Fiquemos por aqui, para ganhar balanço para continuar a refletir sobre as diferentes maneiras de falar português ontem e hoje.

Árvore da Gramática

Associação de Professores e Universidade Sénior de Almada dezembro 2018

Criatividade Em nome do absurdo*

1. composição anunciou o fim da viagem com a estridência habitual. O grito e o ranger dos ferros ecoaram na alma desassossegada dos ocupantes.

Imobilizou-se.

Santa Apolónia, estação terminal.

No edifício amplo, elegante estrutura de ferro sustentava o teto alto, bem iluminado. O pavimento claro tingia-se de escuro, à medida que os vultos lentos saíam das carruagens, dirigiam-se para o exterior da estação e formavam grupos organizados ao longo da parede. Obedecendo a vozes de comando, os militares, fardados de verde-azeitona, atravessaram a avenida e imobilizaram-se na extensa Gare Marítima, estranhando a mistura dos odores a mercadorias, a óleos e a maresia.

Quase a galgar as pedras do cais, esperava-os um agigantado navio que exibia um nome perturbador: Niassa.

Algumas senhoras agitavam-se por entre as fileiras, distribuindo sorrisos maquilhados, beijos secos, aerogramas lisos, maços de Português... Suave, como convinha.

O desfile, momento alto do embarque de mais um contingente rumo a Moçambique, iniciado com a apatia de quem obedece, sem convicção, a ordens que não se sabe de onde partem, foi percorrido por um arrepio provocado pelo pranto tão desesperado de um grupo de mulheres que contagiou a multidão assistente, até às lágrimas. Os militares deixaram de sentir as fardas e desfilaram nus e engasgados de emoção. Alguns rostos jovens permitiram a formação de sulcos a secar discretamente ao frio daquela manhã de princípios de novembro, porque “um militar não chora”. (...)

Perturbados por agitados sentimentos, surpreendidos pela falência do equilíbrio corporal, os militares procuraram refúgio na horizontalidade dos colchões colocados em beliches nas várias plataformas sobrepostas nos porões, transformadas em casernas flutuantes.

Poucas horas depois do início daquela viagem rumo ao indesejado, a graça mais intensamente implorada a todas as potestades, e atribuída a bem poucos, era a de um sono profundo. (...)

Enquanto eu, a custo, mantinha as ânsias controladas com a ajuda do vento fresco e húmido, o camarada Júlio aproximou-se da amurada decidida-

A

José Monteiro

mente. Trazia ares de quem ia lançar ao mar todos os incómodos digestivos. Mas era mais que isso. De mãos fincadas como garras e o peito oferecido às águas agitadas, o Júlio desapossava-se da alma, adereço inútil e até prejudicial. Resolvi ajudá-lo. Segurei-lhe a testa com a mão direita, evitando que com a alma perdesse também a cabeça. Com o braço esquerdo firmei-o contra mim e a amurada para não permitir um mal maior e definitivo. Sou testemunha de que se esforçou até ao fundo do ser. Quando terminou, tinha o semblante transtornado. Estava pálido, olheirento, as faces chupadas. Devolvi-lhe o controlo do seu próprio corpo. Respirou fundo, nas costas das mãos depositou uns restos de nevoeiro, tentou assumir a verticalidade, apalpou os lábios e, de olhos desmesurados, resumiu em três palavras toda a transcendência do ato.

- Vomitei os dentes!

7.

Porém, já tinham passado mais que os épicos cinco dias e continuávamos a executar uma dança quase trágica em que ninguém conseguia acertar o passo.

As notícias vindas dos porões não eram animadoras. Havia militares que já não saíam dos beliches, enfraquecidos por não conseguirem reter os alimentos no estômago. Juntei-me à equipa de especialistas (médico e enfermeiros) constituída para socorrer os pacientes. (...)

A visão demorou a adaptar-se à penumbra ambiente, o cérebro resistiu a aceitar o que era evidente: homens tratados como animais.

Indignidade! Gritaram os olhos fundos dos prostrados.

Indignidade! Gritaram os rostos duros dos circunstantes.

Indignidade! Gritaram as mãos crispadas nos ferros dos beliches.

O médico foi o mais rápido a vencer o espanto.

Agiu. Os enfermeiros seguiram-lhe a determinação.

Eu precisei de mais tempo, enredado no emaranhado dos sentimentos. Então, gritei. Três vezes gritei, quase só para dentro: português suave!... português suave!... Completei o terceiro grito invocando expressivamente o humano procriador universal.

14.

Luanda. Depois de catorze dias de instabilidade podíamos pisar, enfim, terra firme.

Com entusiasmo descemos a escada de portaló.

O cais mostrou-se pouco firme. Instável, a avenida.

As ruas que serpenteavam por entre as casas, bem à 7

Associação de Professores e Universidade Sénior de Almada dezembro 2018

maneira portuguesa, balançavam tanto como o Niassa.

Por Neptuno!

Nem ali havia tranquilidade?

Nem por três dias, apenas?

Rumo a sul. As condições de navegação melhoraram bastante.

Durante o dia, já se formavam grupos na coberta, em locais mais abrigados improvisavam-se bancas onde se batia a sueca ou a bisca. (...)

Mas os porões... (...)

Ah, os porões!

21.

A duras penas vínhamos percorrendo um oceano tempestuoso de dúvidas e porquês, sérios escolhos, onde as bússolas, dadas como seguras, ficaram hesitantes, chegando a apontar o desnorte das convicções.

Castigo sem culpa? Perversidade do destino?

Mistérios insondáveis? Provações iniciáticas?

Era meia-noite. As luzes ao longe desenhavam a pronunciada curvatura da costa e refletiam-se na superfície escura das águas paradas.

A meta austrina da Esperança Boa iluminava-se para nos indicar a rota que ao norte levasse: dobrávamos o Cabo, no silêncio da noite lisa.

O nascer do sol foi a epifania de um mundo novo surgido do outro lado da vida. A costa, de árida e seca, passou a esverdear-nos os olhos, cada dia mais intensamente.

25. À proa da embarcação desenhou-se ˜ a enseada curva e quieta... Bonançosos ventos, enfim, levavam-nos para a fermosa ilha, alegre e deleitosa que a Deusa Cípria para nós engenhosamente inventara, ali no Índico Oceano...

Sonho? Imaginação? Miragem?

Não. Apenas a Baía da Lagoa, onde Moçambique nos mostrou uma capital moderna. Avenidas largas, alinhadas perpendicularmente, belos edifícios a solicitar os olhares abstraídos do rigor da marcha em desfile, conduzindo um militar embevecido à demonstração solitária do espírito de grupo e disciplina das tropas em missão de soberania. Valeu-lhe um agente da Polícia, exemplarmente fardado, que lhe indicou a trajetória correta e o devolveu ao seio do garboso corpo expedicionário.

A Baixa dos grandes cafés, lojas, escritórios de empresas, a Estação dos Caminhos de Ferro, o Mercado Municipal, o Jardim Botânico, a Câmara

8

Municipal, a Sé falaram-nos de descontração bem disposta, de alegria de viver.

Guerra? Isso é lá para o norte. Três mil quilómetros!...

Norte. Ponto cardeal e destino (do Destino?).

Rumo ao Norte.

34.

Temeroso o Niassa ficava ao largo.

Temeroso dos baixios, ao largo de Mocímboa da Praia.

Receosa a escada de portaló. Inquieto o batelão, ansioso o salto, instável o equilíbrio.

Na areia da praia alastrava a maré humana chegada à Guerra Prometida.

Em nome de quem?

Do absurdo! * Texto adaptado

Poeta O poeta, De coração de criança E a alma verde de esperança Escreve no vento As palavras São a sua alma Que voa Sobre o mar A montanha A floresta E o universo E nesse esvoaçar O poeta de silêncios E enamorado Liberta a sua musa A poesia

A barca Naufraguei E o mar Das algas teceu um berço E me entregou à maior onda Que na floresta me deixou Perdida Escuto o canto dos pássaros selvagens Os ventos E as canções da brisa Subo à montanha Entro numa gruta Voltada para o mar Esperando a barca Para regressar Amélia Cortes, Silêncio da Musa

Associação de Professores e Universidade Sénior de Almada dezembro 2018

Notícias

Concertinas no Sobredense

Maria de Lourdes Albano

O Clube Recreativo Sobredense comemorou no dia 20 de outubro o seu centésimo sétimo aniversário.

A Associação de Professores do Concelho de Almada e a sua Universidade Sénior de Almada (USALMA) participou com as concertinas e o coro. O professor de concertinas, José Guilherme, chamou a atenção do público para a curta existência,do grupo que no final da atuação, foi calorosamente ovacionado.

O coro da USALMA, dirigido pelo maestro Víctor Gaspar, cantou e encantou.

Parabéns ao aniversariante. Foi uma magnífica festa de aniversário com a colaboração desinteressada de pelo menos dez Instituições todas a oferecer o seu melhor a este jovem clube. Que venham outros 107 anos!

Sessão solene de abertura Edite Prada

Mais um ano letivo que começou. Mais uma sessão solene de abertura.

Sempre com o mesmo entusiasmo. Sempre com o mesmo rigor.

Este ano, é verdade, num formato um pouco diferente, pois além dos representantes dos alunos e dos professores, além da oração de sapiência, houve lugar à apresentação dos trabalhos realizados no ano anterior em música, em poesia, em teatro, em dança.

Representando os alunos, o Delegado António José Alexandre, recordou a importância que tem para ele a USALMA e o relevo que deve ser dado ao Conselho de Delegados, no contributo para um melhor desempenho de todos e, consequentemente, um melhor serviço prestado à Comunidade.

O professor Carlos Nascimento falou em nome

dos professores e relembrou, ou melhor, atualizou dados sobre a USALMA quiçá partindo dos que utilizou na sua dissertação com o título O Ensino-Aprendizagem das TIC numa Universidade Sénior, em que a USALMA serviu de objeto de estudo.

O orador convidado, Doutor Domingos Rasteiro, Sócio Honorário da Associação de Professores do Concelho de Almada, revelou ser grande conhecedor de Almada e do tema que escolheu: Das cidades exíguas às cidades amplas - a educação e a inclusão valores e estratégias para a mudança. Na separata do presente número poderemos ler o texto da Comunicação realizada.

A sessão foi ainda enriquecida com uma exposição de trabalhos dos professores de Artes Plásticas e com um breve convívio em torno de um moscatel de honra.

Rancho da Apcalmada-USALMA na 2.ª Feira Social Edite Prada

A mais recente (valeria dizer jovem?) disciplina de danças da USALMA promete dar que falar…

Trata-se do Rancho Folclórico da Apcalmada-USALMA, que, com poucos meses de vida, já anda em exibições não se saindo nada mal.

Desta vez participou na 2.ª feira social, ajudando a alegrar um bom número de espectadores que, entusiasmados, foram aderindo ao movimento. Terá contribuído, certamente, também, a presença da concertina que ajudou a fazer a festa!

Convictos de que estamos no bom caminho esperamos poder continuar e contamos com todos para avançar!

9

Associação de Professores e Universidade Sénior de Almada dezembro 2018

Apcalmada 2.ª Festa do Associativismo Almadense Maria de Lourdes Albano

Não é novidade, desde há muito, se conhece o papel essencial que as associações desempenham na vida das comunidades promovendo e desenvolvendo atividades geradoras de uma maior qualidade de vida.

Faz sentido festejar o Associativismo.

Faz sentido festejar o Associativismo em Almada.

Faz sentido festejar porque Almada continua a ser a capital do Associativismo em Portugal.

A Scala, em parceria com a Câmara Municipal de Almada, promoveu a 2.ª festa do Associativismo Almadense.

O evento realizou-se no dia 6 de Outubro na Academia Almadense e houve casa cheia. Muitos foram os grupos que participaram em nome desta ou daquela Associação, contribuindo para uma preenchida e agradável tarde cultural.

A Associação de Professores do Concelho de Almada e a sua Universidade Sénior apresentaram o Grupo de Cavaquinhos que nos honrou com mais uma belíssima atuação.

Viva o Associativismo! Viva Almada!

Apcalmada participa no projeto Almada Acolhe Edite Prada

A Apcalmada-USALMA participa juntamente com a Almada Mundo-Associação Internacional de Educação, Formação e Inovação num projeto de alfabetização de adultos destinado a imigrantes de países não europeus promovido pelo FAMI – Fundo para o Asilo a Migração e a Integração. Este projeto tem vários parceiros, é liderado pela Câmara Municipal de Almada e prevê três níveis de formação: O projeto prevê três níveis de formação: • Iniciação ao Português, destinado a quem sente necessidade de aprender um português básico, necessário ao seu desempenho profissional, ou de convívio social.

• Alfabetização – destina-se a imigrantes iletrados, que pretendam aprender a les e a escrever em Português.

• Certificação – destina-se a emigrantes que pretendam submeter-se a uma prova que lhes dá certificação em português.

A adesão da Apcalmada a este projeto prende-se com a experiência obtida através de intervenções na Comunidade até então desencadeadas no âmbito da Alfabetização que temos promovido com claro sucesso e reconhecido interesse socioeducativo e socioafetivo.

As pessoas interessadas deverão dirigir-se à secretaria da Associação para encaminhamento.

Festival Solidário

Arlindo Louro

Numa iniciativa da anTUNIA (Tuna de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa), no dia 21 de Outubro, pelas 15H00, realizou-se, no Jardim da Cova da Piedade, o Festival Solidário de Música e Convívio, no qual participaram várias tunas. Tendo, a Universidade Sénior de Almada (USALMA), sido representada pela Usaltuna.

10

Associação de Professores e Universidade Sénior de Almada dezembro 2018

Separata Sessão Solene de Abertura Ano Letivo 2018/2019 Da cidade exígua à cidade ampla a educação e a inclusão valores e estratégias para a mudança Lição Inaugural do ano letivo da USALMA 2018/19 1. Apresentação Nesta lição abordámos a problemática das cidades, que são atualmente lugares de forte atração de pessoas e recursos, bem como dos problemas que os grupos mais vulneráveis enfrentam nesse ambiente urbano. A educação pode ter, e tem, um papel na difusão, na consciencialização dos cidadãos e das instituições e na sua participação em processos de dinamização de dinâmicas sociais e educativas que façam das cidades lugares mais inclusivos. A partir de um trabalho de investigação que se centrou na relação das cidades com as pessoas com deficiência, vamos refletir sobre as mudanças que se podem empreender, tendo em conta esse grupo específico.

2. Desenvolvimento

O nosso mundo é cada vez mais urbano. Prevê-se que nas próximas três décadas, o número de pessoas a viver nas cidades duplique, aproximando-se dos cinco mil milhões de indivíduos, ou seja, cerca de 3/5 da população mundial viverá nas cidades. A qualidade de vida das pessoas, o desenvolvimento socioeconómico, o conhecimento e aprendizagem, o exercício dos valores, o exercício da cidadania e da democracia jogam-se muito nas dinâmicas sociais das cidades. Cidades que, por natureza, são espaços da diferença, da complexidade, da contradição de interesses, do exercício de poderes, muitas vezes, contraditórios. Atualmente a população que vive em áreas urbanas atingiu a proporção de 54% do total mundial, segundo dados da Divisão de População das Nações Unidas, ou seja, cerca de 3,5 mil milhões de pessoas residem atualmente em cidades. Pela primeira vez na história da humanidade, metade da população mundial vivia em zonas urbanas no final de 2011.

Teixeira (2015), citando o National Intelligence Council dos Estados Unidos, refere que todos os anos se juntam mais 65 milhões de pessoas à população urbana mundial, ou seja, as pessoas procuram, cada vez mais, as cidades como um espaço onde estão os recursos que satisfazem as suas necessidades. É neste plano que faz sentido falar de cidades inclusivas, pois não basta que a cidade exista fisicamente e que desempenhe as suas funções mais tradicionais, é também necessário que ajude a promover o desenvolvimento e a equidade.

Sobre as cidades existem diferentes visões. Os autores que consideram as cidades lugares ideais para viver, pelas oportunidades, pela concentração de recursos, de inteligência e de talento, outros que entendem que são lugares de tragédia, pelos problemas da exclusão, pela marginalidade, pela desqualificação ambiental e urbanística, pela pobreza que geram e, finalmente, aqueles que acham que as cidades reproduzem as sociedades em que vivemos com tudo o que têm de bom e de mau, sendo que o mais importante é mobilizar a cidadania, as instituições, os governos locais para trabalhar sobre os problemas e as necessidades.

Lembrar que ainda há muito a fazer pela qualidade de vidas nas cidades, mesmo nos países desenvolvidos, senão vejamos: 11 milhões de famílias vivem na Europa em habitações precárias e existem 122 milhões de pobres, nos Estados Unidos 41 milhões de pobres e em todo o mundo mil milhões de pessoas com deficiência que ainda não encontram resposta para os seus problemas.

Então, falar da cidade exígua é analisar as barreias à participação plena. São cidades que não têm formas de minorar ou evitar a exclusão e têm de marcar desses fenómenos na geografia urbana. Parece que existem “ilhas” de terceiro mundo nessas cidades. Muitas vezes, estas situações geram conflitos e violên11 I

Associação de Professores e Universidade Sénior de Almada dezembro 2018

cia urbana, mas a sociedade e a comunicação social preferem dar ênfase ao “espetáculo” e não à análise das verdadeiras causas que lhe estão associadas. Como referia o sociólogo Loic Wacquant criminaliza-se a miséria e tornam-se os problemas sociais, educacionais e de pobreza num problema de segurança. Em vez de economia, políticas socias e de integração utiliza-se a polícia.

A este modelo de cidade podemos contrapor a cidade ampla, que se caracteriza por ser um lugar com fortes dinâmicas de comunicação e participação, que mobiliza o conhecimento que está focada nas redes e nas parcerias para a resolução dos problemas. São cidades muito atentas às necessidades das populações e cujos projetos políticos de gestão mobilizam meios e recursos para as soluções. São cidades que pelas políticas públicas que desenvolvem conseguem compensar os desequilíbrios que as cidades geram.

Balbo, Jordán e Simioni (2003), fundamentando-se na definição das Nações Unidas identificam estas cidades como sendo inclusivas: “O lugar onde qualquer pessoa, independentemente da situação económica, sexo, idade, raça, religião [condição física e intelectual] tem possibilidade de participar de forma produtiva e positivamente nas oportunidades que a cidade lhe oferece”.

A construção da cidade inclusiva implica um posicionamento político, uma visão de equidade, tratar o que é diferente de forma diferente, um modelo de governança que valorize a participação e a democracia participativa e uma valorização da educação enquanto estratégia de mudança.

Com o objetivo de orientar ações para a implementação da Nova Agenda Urbana, definida na Habitat III, a UN Habitat promoveu no início de fevereiro, em Kuala Lumpur, na Malásia, o 9.º Fórum Urbano Mundial. Com cerca de 22 mil participantes, de 165 nações onde se reafirma: “a implantação de todos os esforços, meios e recursos disponíveis para a operacionalização do conceito de cidades para todos, garantindo que todos os habitantes, das gerações presentes e futuras, sem discriminação de qualquer tipo, possam habitar e produzir cidades justas, seguras, saudáveis, acessíveis, resilientes e sustentáveis para promover a prosperidade e a qualidade de vida de todos”.

Neste pressuposto, a educação nas cidades é um forte instrumento estratégico para trabalhar a dimensão da inclusão, dado que a educação vai muito para além da escola e da família, pois quanto mais rico for o território em experiências, em oportunidades de aprendizagem, em redes de conhecimento e em recursos educativos, melhor consegue promover o crescimento e as potencialidades humanas. É neste entendimento que as cidades educadoras podem favorecer processos educativos e sociais que tornem os territórios, as dinâmicas sociais e a interação entre os atores sociais mais favoráveis à inclusão social.

Como dizia Federico Mayor (ex-diretor-geral da UNESCO) a educação é a força do futuro na medida em que se constitui como um dos mais poderosos instrumentos para promover as mudanças e as modificações, sendo que um dos desafios maiores será o de modificar o nosso pensamento acerca do modo como vamos enfrentar a complexidade, a rapidez das transformações e o imprevisível que caracteriza os tempos e os lugares onde vivemos. O conceito de educação tem sofrido ao longo dos tempos uma evolução no sentido de uma gradual amplitude, veja-se por exemplo que na Declaração de Incheon (2015) “Educação 2030” a Unesco com a participação de 160 países e com 1600 participantes estabelece uma visão para a educação, referindo que a educação é um meio para transformar a vida das pessoas, reconhecendo-se o importante papel que desempenha como principal motor do desenvolvimento nas suas diferentes dimensões.

2.1 . Um exemplo

As pessoas com deficiência sofrem de múltiplas formas de exclusão nas nossas cidades. Dificilmente têm acesso aos recursos, auferem, na sua grande maioria, muito baixos rendimentos, carecem de apoios de terceiras pessoas pois não conseguem ter uma vida independente, os seus níveis de participação cívica e do exercício de cidadania são muito rudimentares. Como refere Wacquant (2013) podemos dizer que estão no grupo dos “condenados da cidade”.

Neste enquadramento, apresentaremos brevemente o resultado de um trabalho de investigação centrado em 31 cidades portuguesas que pertencem à Rede Territorial Portuguesa das Cidades Educadora. O estudo foca-se na inclusão social das pessoas com deficiência e aprofunda esse conceito ao nível da inclusão nas cidades.

Com a aplicação do referido questionário, a que responderam 31 cidades de um universo de 57, foi possível selecionar as duas cidades e os dois municípios com maior potencial inclusivo. Os critérios para essa seleção tiveram, sobretudo, relação com os recursos e os serviços disponíveis na cidade e o acesso aos mesmos (por exemplo: transportes, acessibilidades, acesso à informação, recursos educativos e for12 II

Associação de Professores e Universidade Sénior de Almada dezembro 2018

mativos tempos livres, cultura, desporto, saúde, emprego e habitação, etc.)

Gráfico 1- Escala ordenada das cidades conforme o potencial de inclusão

Pelos scores que se obtiveram no questionário, pode dividir-se os processos de inclusão em três tipos padrão. As cidades que estão ainda num estádio embrionário, que estão agora a despertar para o problema mas não têm trabalho relevante no terreno, as cidades que estão num estádio de arranque das ações e das medidas inclusivas, mas que ainda necessitam percorrer todo um caminho de concretização mais consistente e, finalmente, as cidades que estão num estádio de desenvolvimento, já arrancaram, têm trabalho no terreno, está assumido no seu projeto politico e de desenvolvimento, têm dispositivos e meios que já as distinguem dos estádios anteriores e conseguiram montar um processo de envolvimento ao nível local, das instituições, das entidades, das escolas, das associações de e para as pessoas com necessidades especiais e entendem o trabalho feito como um processo em desenvolvimento que carece de continuidade e de mais meios para progredir. Podemos verificar no quadro 1 o panorama da inclusão por áreas temáticas.

Quadro 1- Análise das áreas fortes e fracas

Áreas Fortes Educação e formação Convívio social

Áreas Emergentes

Áreas Fracas

Serviços sociais

Acessibilidades edifícios

Serviços gerais Serviços de saúde Acesso à informação Estudos e diagnóstico

Barreiras arquitetónicas Transportes Tempos livres, desporto, cultura Trabalho

Áreas muito fracas Plano estratégico de promoção da acessibilidade Habitação

As duas cidades, unidades de estudo, são cidades médias com alguns problemas de exclusão, muito conscientes da necessidade de promover a inclusão dos grupos mais marginalizados, que para o caso desenvolvem políticas com uma matriz fortemente social que se reflete nos projetos, nas medidas e ações 13 III

Associação de Professores e Universidade Sénior de Almada dezembro 2018

que são levadas a cabo e que estão em linha com as recomendações dos autores que estudam as cidades inclusivas. Apoiam-se muito nos recursos endógenos e que desenvolvem processos de liderança que mobilizam a comunidade e que têm conseguido transformar e mudar a realidade, não sem dificuldades, no sentido de criar melhores condições de vida para os cidadãos em geral e em particular para os que têm necessidades especiais. O motor da mudança, é uma forte e clara opção política de curto, médio e longo prazo, um forte empenho dos atores políticos e de uma forte articulação com os quadros técnicos, na constante procura de novos meios e de melhores soluções. Outra componente que ajuda a fazer de uma cidade, uma cidade inclusiva, é a sua relação com redes internacionais e o desenvolvimento dos projetos socioeducativos que funcionem como estratégia de mobilização para a transformação das realidades.

Contudo, uma das áreas que requer ainda maior empenho e trabalho, técnico e político, das várias partes implicadas, mesmo em ambas as cidades, é a participação dos interessados nos processos de mudança e na captação de meios acrescidos para o processo de transformação das cidades, num tempo compatível com a expetativa das pessoas e da sociedade.

3. Conclusões

Tendo em conta os resultados do presente estudo, ficaram demonstradas algumas potencialidades que as cidades comportam, enquanto espaço privilegiado para a inclusão, senão vejamos alguns dos resultados: • Maior concentração dos recursos e dos meios, sendo muito nítido que quanto maior a concentração populacional mais meios e recursos se concentram a favor das populações; • A integração das cidades em áreas intermunicipais de certa densidade populacional favorece que alguns dos problemas se possam trabalhar através de projetos intermunicipais; • Quanto maiores os aglomerados populacionais maiores os níveis de participação e de parcerias locais; • Não se encontram muitas diferenças, conforme o volume dos aglomerados populacionais, quando se tratam de dispositivos de apoio universais, como é o caso das escolas ou das IPSS e dos seus dispositivos de apoio, ou quando se tratam de dispositivos que implicam captação de verbas nacionais ou europeias, como é o caso do programa RAMPA (Planos de Acessibilidades).

• Quanto mais pequenos os territórios e mais isolados, mais condicionados estão os processos de inclusão.

4. Uma homenagem

O que nos orientou na apresentação desta temática em que cruzamos as cidades, a inclusão social, a educação e enfocamos, mais especificamente, nas populações com deficiência, foi mobilizar a cidadania, as instituições, as redes que existem no território para que a cidade deixe de ser um espaço exíguo, que deixa muitas pessoas de fora, para se transformar num espaço mais amplo, em que todos possam encontrar oportunidades de vida como cidadãos de plenos direitos.

Dedicamos esta lição aos Professores, à sua Associação e à sua Universidade, pois muito têm dado da sua sabedoria, da sua responsabilidade social à Cidade Educadora e à Cidade Inclusiva que têm ajudado a erguer, pelo que o seu trabalho e os projetos que têm levado por diante têm contribuído para a construção da cidade ampla, aberta que Almada é e quer ser. Bem hajam.

Falar deste tema aos professores e a todos aqueles que se juntam ao projeto da Apcalmada e da USALMA é falar às pessoas certas, pois toda a vida profissional dos professores visa, no dizer de Steiner (20011), despertar os sonhos noutro ser humano, fazer de um presente interior o seu futuro. Um despertar para a construção de um futuro melhor e mais justo, em que todos tenham lugar de corpo inteiro e por direito próprio.

Bibliografia

Nações Unidas (2018). Declaração de Kula Lumpur. Disponível em: http://www.caubr.gov.br/cidades-2030-as-cidades-para-todos-une-agendas-urbanas-e-de-sustentabilidade/?fbclid=IwAR1M3vfUTo-GjuFtz3dedeKvosBjMouI9EkQzu_uaT3xyPkWrmz3-tmxfNQ Balbo, M., Jordán, R., e Simioni, D. (2003). La Ciudad Inclusiva. Santiago do Chile: Nações Unidas.

Rasteiro, D. (2017). Rutas Para la Inclusión Social en Portugal - dos estudios de casos centrados en las políticas locales para las personas con discapacidad. (Tese de Doutoramento). Disponível em: https://comum.rcaap.pt/handle/10400.26/19349 Steiner, G. (2011). As Lições dos Mestres. Lisboa: Gradiva.

Teixeira, A. (2015). Mais Poder para as Cidades. XXI Ter Opinião, 4, 8-11.

UNESCO (2015). Educação 2030: Declaração de Incheon e Marco de Ação; rumo a uma educação de qualidade inclusiva e equitativa e à educação ao longo da vida para todos. Disponível em: http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/about-this-office/single-view/news/ education_2030_incheon_declaration_and_and_framework_for_ac/ Wacquant, L. (2013). Los Condenados de la Ciudad. Buenos Aires: Siglo Veintiuno.

14 IV

Associação de Professores e Universidade Sénior de Almada dezembro 2018

A USALMA Face à Comunidade Sénior Carlos Nascimento

Segundo o Livro Mundial dos Factos (CIA), relativamente ao ano de 2017, 19,4% da população portuguesa encontra-se acima dos 65 anos (H=861.270 e M=1.241.632).

A grande Base de Dados de Portugal, a PorData, publica que no ano de 2017, por cada 100 jovens (menores de 15 anos) se registavam 153,2 idosos (indivíduos acima dos 65 anos).

Os idosos constituem o segmento da população de crescimento mais rápido: entre 1970 e 2025 espera-se um crescimento de 223% e calcula-se que em 2030, os idosos serão 19,7% da população.

O Relatório de Actividades e Contas da Apcalmada de 2017 refere que a USALMA, nesse ano, contou com mais de 1000 alunos, 100 professores e 110 disciplinas em 140 turmas.

O mesmo Relatório informa que para além das instalações da sede as aulas decorreram nos polos da Sobreda/Charneca de Caparica, na Costa de Caparica e ainda em algumas das escolas do Concelho (Cacilhas-Tejo, Fernão Mendes Pinto, Anselmo de Andrade e Emídio Navarro).

O recurso às instalações das escolas reveste-se de grande importância em termos de intergeracionalidade, permitindo o contacto dos alunos da USALMA com o ambiente escolar actual.

A USALMA oferece ainda, para aqueles estudantes que apenas frequentam as aulas na Sede, esta interessante interacção devido à realização de aulas de música para os jovens alunos do Conservatório de Almada.

A intergeracionalidade pode não ser o que mais cativa alunos para a USALMA. Então o que é?

Porque se chegam tantos “menos jovens” à USALMA? Que razões trazem de volta à aprendizagem estes que, na sua maior parte, já deixaram a vida activa?

Podem arrolar-se algumas respostas: o aproveitamento do tempo, agora livre, para aprenderem ou consolidarem conhecimentos, a assunção de desafios que colocam a si próprios, o combate à solidão e ao isolamento que a idade traz, construindo nos locais de aprendizagem os seus pontos de encontro e de convívio, como continuidade ou preenchimento das suas vidas sociais.

Por estas ou outras razões, o facto é que as pessoas se apresentam como querendo aprender e, na perspectiva dum professor, isso só por si é motivação suficiente.

E apresentam-se com a força, a vontade e o entusiasmo necessários para enfrentarem as dificuldades que surgirem e as superarem.

As pessoas mais velhas evidenciam características físicas e psíquicas diferentes dos mais novos, pelo que é importante para o professor identificá-las, estudá-las e perceber como se podem relacionar com o ensino e a aprendizagem, nomeadamente quanto à forma como os conteúdos são apresentados e, por outro lado, quanto à exigência de componentes práticas que tenham em conta as limitações de vária ordem que os alunos revelam (ou não revelam). Compete ao professor detectá-las para poder ir ao encontro desse aluno especial.

O aluno sénior apresenta-se como um ser diferente, único. E para seres (tão) diferentes, deve o professor definir diferentes estratégias.

O aluno sénior tem expectativas. Quanto às aulas, quanto à abordagem e ao desenvolvimento dos temas, quanto à exposição, quanto aos exercícios, à sua exequibilidade, adequação e utilidade, quanto à prática pedagógica do professor, quanto à forma como este se revela e relaciona.

Que mais espera o aluno sénior do seu professor? Que acompanhamento ou encaminhamento?

Embora a obtenção de um diploma para certificar o seu grau de conhecimentos ou as suas recém-adquiridas competências não seja o seu objectivo, seguramente não deseja, nem aceita, o insucesso.

Tenho uma ligação com esta Universidade desde a sua origem, como membro da Associação de Professores e também como professor de TIC, em regime de voluntariado.

E tem sido como professor de TIC que me tenho esforçado por desenvolver processos e práticas que permitam aos mais velhos contornar e ultrapassar obstáculos no acesso à Sociedade de Informação, combatendo o risco de grande parte da população ficar excluída dos benefícios desta 15 V

Associação de Professores e Universidade Sénior de Almada dezembro 2018

modernidade, e até de cumprir algumas das suas obrigações para com o Estado. Pela sua complexidade e proliferação, as TIC originam um novo tipo de exclusão, a info-exclusão.

A importância que, cada vez mais, é atribuída ao computador e às suas múltiplas formas de uso é tão grande, a ponto de, para quem o desconhece, se estabelecer uma analogia com a incapacidade de ler e escrever: analfabeto, analfabeto-digital, excluído digital, info-excluído, todos eles enfermando duma nova epidemia que afecta sobretudo as gerações mais velhas, designada iliteracia-digital.

A exclusão digital é impedimento para que se alcance a cidadania plena.

Cabe às Universidades Seniores, ou de Terceira Idade, e naturalmente à USALMA, na sua diversificada oferta (que inclui as TIC), assumir entre outros o importante papel de combater essa info-exclusão cativando e motivando essa população mais velha para uma vida tão activa quanto pos-

sível, acordando-os e consciencializando-os para que, apesar dos muitos anos que levaram aprendendo, ainda há muito para aprender. Que podem aproveitar um tempo subitamente livre para a reaprendizagem e/ou consolidação do muito que aprenderam, mas também para muitos outros temas que gostariam de saber, noutras áreas do conhecimento, absorver outras técnicas, outros conceitos, outro vocabulário, para estarem ao par dos mais novos, usar e perceber a mesma linguagem, os gestos e os gostos.

Seguramente a USALMA e o seu corpo de professores em voluntariado, implementarão como é habitual, os procedimentos que conduzirão a que este ano que agora se inaugura seja mais um ano de sucesso.

Bibliografia NASCIMENTO, Carlos M. M. (2009). O Ensino-Aprendizagem das TIC numa Universidade Sénior. Dissertação de Mestrado. FCHS da Universidade do Algarve.

Sessão solene de abertura do ano letivo 2018/19 António Alexandre

Estou aqui como elemento do Conselho de Delegados de turma e, portanto, em representação dos alunos.

Ora, o Conselho de Delegados é o órgão representativo dos alunos junto da Direção da Universidade. É um órgão consultivo que tem como finalidade expressar as opiniões dos alunos sobre o melhor funcionamento das aulas e da USALMA em geral. É eleito na Assembleia Geral dos delegados que, por sua vez, são eleitos por cada uma das turmas. É importante que todas as turmas elejam o seu representante/delegado para canalizarem as suas preocupações e ideias de forma mais eficaz. Apelo aos que ainda não tenham delegado da respetiva turma que procedam à sua eleição.

Dou a boas-vindas aos novos colegas, aos que estão pela primeira vez na USALMA. Eu estou cá há dois anos, vai para três. Consciente do papel de grande relevo que a USALMA desenvolve no concelho de Almada, principalmente junto da população mais senior, é com orgulho que manifesto aqui o meu sentimento de pertença a esta grande comunidade que é a USALMA. Termino com votos para todos de um excelente ano letivo de 2018/2019 e que os objetivos no seio da USALMA se concretizem na sua plenitude.

Obrigado.

Apelo à participação

Envie-nos os seus textos que nós publicamos!

Eis alguns aspetos que precisa de ter em conta: a) A entrega dos textos até 28 de fevereiro 2019. c) Por uma questão de gestão de espaço, os textos em prosa, contos, histórias de vida, não podem ultrapassar as 800 palavras.

Participe, traga para a luz os textos que guarda na gaveta!

VI 16

Associação de Professores e Universidade Sénior de Almada dezembro 2018

Apcalmada-USALMA abre portas à CMVM

Edite Prada

A USALMA deu início às aulas do ano letivo em curso (2018/2019) de forma original, começar no dia em que a CMVM – Comissão de Mercados de Valores Imobiliários - se deslocou à Apcalmada-USALMA, no dia 1 de outubro.

Esta iniciativa decorreu no âmbito da Semana Mundial do Investidor que decorreu de 1 e 5 de outubro e que incluiu uma iniciativa denominada Jornada de Portas Abertas durante a qual decorreram conversas informais em diversos contextos Sempre com o objetivo de promover a consciencialização quanto à importância da educação financeira e para a proteção do investidor.

A temática escolhida para a sessão foram os princípios de poupança e investimento com base em decisões informadas.

Para tal, foram veiculados alguns conceitos sobre o que o mercado de capitais, como funciona e para que serve e ainda uma breve abordagem a novas realidades para as quais importa estar atento se se quer investir.

Juntos Por Uma Causa

Maria Carreiras Seabra

No passado dia 6 de dezembro, no teatro Joaquim Benite, realizou-se mais um espetáculo “Juntos Por Uma Causa”, com a atuação do grupo” Relógio” e professores do Conservatório de Artes Performativas de Almada, que nos proporcionaram músicas e canções de excelência. Para os que atuaram, bem como para os que assistiram e também aos que adquiriram o seu bilhete mesmo sem poderem estar presentes, mas que se sentem comprometidos, motivados e com satisfação pessoal, o nosso sincero reconhecimento.

Foi um espetáculo com o propósito de abraçar uma “Causa” que nos move, ou seja, a construção do Lar/Residência da nossa Associação. Trata-se de uma Causa maior, direi mesmo, arrojada, e, como tal, exige o empenhamento de muitos, de todos! É necessário arriscar com ousadia e determinação, porque só somos derrotados quando desistimos…

E para reforçar os nossos anseios, aqui fica o seguinte pensamento: “Determinação, coragem e autoconfiança são fatores decisivos para o sucesso.

Não importa quais os obstáculos e as dificuldades. Se estamos possuídos de uma inabalável determinação, conseguiremos superá-los”.

Dalai Lama

11 17

Associação de Professores e Universidade Sénior de Almada dezembro 2018

IV Jogos Florais Carmo Nascimento

Pelo quarto ano consecutivo, a Apcalmada-USALMA realizou os Jogos Florais. O tema escolhido foi Património somos nós em sintonia com a celebração do Ano Europeu do Património Cultural.

Convidando-nos a uma reflexão sobre os valores do passado, o Património Cultural abre-nos a janela do presente a uma nova visão do mundo, atenta às diferenças, a tudo o que nos individualiza e aproxima, ao modo como diariamente o usufruímos e o promovemos. Espelho da herança cultural em que nos revemos enquanto indivíduos e comunidade, este património imaterial identitário mobiliza-nos à descoberta da nossa diversidade, ao encontro do outro, ao diálogo intercultural, aos imensos desafios da construção do futuro. Foi este o desafio lançado. À semelhança das edições anteriores a adesão foi grande, demonstrando o interesse destas iniciativas e a recetividade que têm junto da comunidade.

Os textos premiados despertaram-nos para novos olhares, sentimentos e emoções, para o insubstituível valor de cada um e da sua singularidade. Para eles as nossas felicitações.

A todos os participantes, ao júri, o nosso agradecimento por mais uma vez nos terem permitido concretizar este sonho de celebrar a palavra escrita, tendo culminado na entrega dos prémios a 23 de novembro de 2018.

Eleição do Conselho de Delegados No dia 30 de novembro de 2018 decorreu a Assembleia Eleitoral de Delegados com o objetivo de eleger o Conselho de Delegados para o ano letivo de 2018/2019. Damos as boas-vindas aos eleitos: Coordenador: José Prada Coordenador suplente: Guilherme Telmo

Edite Prada

Secretarias: Elisabete Sousa e Bárbara Ramos Representantes no Conselho Pedagógico: João Cebola e Bárbara Ramos Representantes em eventos: Fernando Urbano, Joaquim Louro, João Cebola, Álvaro Pires, Idalina Santos e Rui Nunes

Viagens e Visitas Languedoc e Provence Finalmente chegou o dia 15 de outubro e alguns alunos da USALMA acompanhados pelas professoras Júlia Carrapo e Edite Prada, da disciplina Cantigando: viajar pela Idade Média, partiram de madrugada para o aeroporto de Lisboa, iniciando a visita de estudo ao Languedoc e à Provença.

O itinerário da viagem tinha como objetivo concretizar alguns pontos focados no programa da disciplina - a heresia dos Cátaros, as peregrinações, as cruzadas, a poesia trovadoresca e o amor cortês, a arte romana, românica e gótica.

De Toulouse a Marselha, passando por Carcassonne, Béziers, Nîmes, Arles, Baux de Provence, Orange, Vaison-la-Romaine, Gordes, Roussillon e Aix-en-Provennce, visitaram-se inúmeros monumentos. Uns impressionaram pela sua grandiosidade, outros pela sobriedade e espiritualidade transmitida. Mas, além do património construído, ninguém ficou indiferente à beleza das paisagens, aos cambiantes que a luz produzia quer na vegetação, quer nas águas dos rios, quer, ainda, nas pedras dos edifícios.

18 12

Júlia Carrapo

Não é de admirar que muitos pintores tenham escolhido viver na Provença, como Van Gogh, Gauguin e Cézanne.

O último dia reservou-nos a surpresa de Aix-en-Provence, cidade magnífica pelos palacetes aristocráticos e pela avenida com suas lojas e cafés. Em Marselha, fim da viagem, pudemos admirar a magnífica paisagem marítima recordando as aventuras de marinheiros destemido, sem esquecer o famoso Conde de Monte Cristo.

Não poderia terminar sem mencionar a excelente cooperação do grupo que, sempre animado apreciou a viagem.

Associação de Professores e Universidade Sénior de Almada dezembro 2018

Canadá Maria do Carmo Nascimento

Partimos a 1 de Setembro para visitar o Canadá. É o segundo país mais extenso do mundo, apenas ultrapassado pela Rússia. No programa estava incluída a visita a quatro cidades e alguns locais especialmente escolhidos pela sua beleza paisagística nas províncias de Quebec e Ontário.

O Canadá é um país multicultural e bilingue tendo como línguas oficiais o inglês e o francês. Este facto é particularmente evidente na sua capital política, Ottawa, onde tudo está escrito nas duas línguas. Nesta cidade fomos surpreendidos pela solenidade dos edifícios do Parlamento e Governo, pela harmonia e extensão dos espaços verdes, pela profusão de instituições de cultura. Na cidade do Quebec apaixonámo-nos pela vida nas ruas estreitas da cidade velha, pelas muralhas e portas da sua fortificação, únicas que permanecem na América do Norte e declaradas Património da Humanidade pela Unesco em 1985. Toronto é a maior cidade do Canadá e a sua capital financeira. Situada nas margens do lago Ontário é uma cidade moderna, de avenidas largas e arranha-céus, que mantém uma intensa atividade cultural ao longo de todo o ano. De Montreal guardamos a recordação do Parque Olímpico e da sua Torre inclinada, a mais alta do mundo, da maravilhosa Basílica de Notre Dame, do encontro com portugueses no bairro português e da sua simples mas muito bela igreja.

A visita às cataratas do Niágara e a atribulada viagem de barco proporcionou-nos a observação de uma impressionante e inesquecível paisagem. E não poderíamos esquecer a visita ao parque dos bisontes e o almoço em que provámos a sua carne, o passeio de barco no rio S. Lourenço com as suas “Mil Ilhas” junto à fronteira com os Estados Unidos e o almoço típico na “Maison du Sucre”, uma das muitas empresas onde se produz o xarope de bordo, típico do Canadá, produzido a partir da seiva bruta de árvores do género Acer.

No Canadá, ainda que do outro lado do Atlântico, e apesar das longas estradas e dos muitos quilómetros desabitados, sentimos a presença europeia em cada local onde paramos, em cada cidade que visitamos. Há qualquer coisa de nós no Canadá e, tenho a certeza, também todos nós trouxemos um pouco do Canadá connosco.

Passeio por terras de Viriato e rio Douro…

Em Viseu iniciámos a nossa visita. Começámos pelo Rossio onde admirámos um belo painel de azulejos, o edifício da Câmara Municipal e a igreja. No centro histórico, observámos os vestígios da antiga muralha romana, passámos pela Rua Direita e chegámos ao Largo da Sé; visitámos a Igreja da Misericórdia e a Sé Catedral onde se destacam, sobretudo, a talha, os azulejos e a pintura de estilo barroco, embora, nesta Catedral, sejam visíveis influências de outros estilos como o gótico e o manuelino.

No antigo Paço Episcopal do séc. XVI, encontra-se o Museu Nacional Grão Vasco onde se preservam pinturas de Vasco Fernandes e de outros pintores do mesmo século. Neste museu pudemos ainda observar obras de porcelana, ourivesaria e escultura. Após esta visita continuámos o passeio pelo Centro Histórico e seguimos em direção ao restaurante para um almoço típico.

Depois do almoço rumámos até Lamego e, aqui, visitámos a Sé Catedral onde se destacam os frescos do teto com cenas bíblicas (da autoria de Nicolau Nasoni), os altares do transepto em estilo barroco e o portal gótico flamejante. De seguida, fomos até ao Santuário de Nª. Srª. dos Remédios, vimos a sua imagem e o presépio de Machado

Maria de Fátima Parreira Dias

19 13

Associação de Professores e Universidade Sénior de Almada dezembro 2018

de Castro. Seguiu-se uma degustação de produtos regionais. O jantar e alojamento foram ótimos na Casa Rural Viscondes da Várzea.

No dia 14, após o pequeno almoço, partimos para o Cais do Pocinho e um Barco Rabelo levou-nos numa viagem pelo Douro até Barca de Alva, almoçámos num restaurante da zona ribeirinha. Durante o percurso o guia apresentou não só o rio Douro e as suas margens, como ainda, fez referência ao Douro Vinhateiro, à fauna e flora desta região.

Pela tarde regressámos ao Pocinho onde nos deliciámos com outra degustação de produtos regionais e, assim reconfortados, regressámos a Almada.

Foi um fim de semana formidável e até o S. Pedro ajudou!

Convivemos, divertimo-nos, e ficámos a conhecer um pouco mais do nosso país e da nossa cultura.

Visita cultural à Suíça, Liechtenstein, Alemanha (Baviera) e Áustria Maria Fernanda Ataîde

Foram dias de calor intenso, mas as visitas sucediam-se sem que ninguém esmorecesse!!!...

O nosso guia suíço, o Ari, um apaixonado por Alvarinho e pastéis de nata, cativou-nos rapidamente com a sua simpatia, bom humor, carinho e conhecimentos. Católico, de 79 anos, trabalhador incansável, fazia uma propaganda notável ao seu pequeno país. Dotado de uma grande facilidade de comunicação, utilizava pequenos mapas, esquemas e fotos para complementar as suas explicações.

Quando nos queria chamar utilizava um potente grito tirolês que a todos fazia rir. Ficámos a saber que, para comunicar nas montanhas, os pastores usam também a trompa ou corno dos Alpes.

Lucerna Com ele visitámos Zurique (lago Zurique) e a católica Lucerna (lago Lucerna). Estivemos ao pé de lagos entre montanhas muito altas, mas infelizmente com muito pouca neve.

De manhã, bem cedo, rumámos em direcção à Áustria via Liechetenstein. Fizemos uma visita à capital deste pequeno principado, Vaduz. A sua economia depende dos bancos, sendo considerada um dos paraísos fiscais mais prósperos do mundo.

Seguiu-se Insbruque, capital do Tirol.

O castelo de Neuschwanstein, mandado construir pelo rei Luis II da Baviera, foi outro dos pontos altos da visita.

Kitzbuhel, cidade medieval do Tirol, foi a paragem seguinte. A Fortaleza de Sal ou Salzburgo é, desde 1996, Património Mundial da UNESCO. Aqui nasceu Mozart e aqui foi filmado Música no coração. Quem não se lembra?!...

S. Wolfgang foi a visita que se seguiu. A sua igreja, local de importante peregrinação, foi uma boa surpresa numa vila tão pequena. Está decorada com belíssimos altares de madeira entalhada e volantes repletos de pinturas.

A barroca abadia de Melk foi outra jóia, mas esta de uma outra dimensão e riqueza.

Finalmente, Viena. É a cidade da música, da arte e da cultura. Rica pelos seus palácios, igrejas e museus é um festim para os olhos e para a alma.

Assistimos a um concerto de música de vários compositores. O Danúbio azul e a marcha Radetzky, foram o climax numa noite mágica!

E foi com muita pena que alguns de nós deixámos Viena apesar do cansaço e do calor. Teremos que voltar um dia, pois ficou muito por ver!!!...

20 14