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da Praça Clóvis

São PAULo

de todos os tempos

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Geraldo NuNeS

Jornalista, escritor e blogueiro, participa das publicações da Editora Matarazzo desde 2016.

livro iNStitucioNal do Palácio da JuStiça revela começo e fim da Praça clóviS

Livro institucional é aquele que se ganha de presente em um evento ou solenidade e depois esquecido em alguma estante ou prateleira de nossas casas. Mas sempre existem os apreciadores de uma boa leitura que descobrem nos textos e nas fotos as informações preciosas ali contidas.

Por exemplo, ganhei de presente um livro institucional antigo e raro, publicado em 1990, com o seguinte título: “Palácio da Justiça São Paulo”. Sua elaboração aconteceu para comemorar os 70 anos do lançamento da pedra fundamental de construção do suntuoso edifício projetado pelo Escritório Ramos de Azevedo, na Praça Clóvis Beviláqua, s/n, no centro de São Paulo, onde funciona o Tribunal de Justiça.

► Este livro lançado há mais de 30 anos serve como prova da velocidade com que a cidade de São Paulo destrói e reconstrói sua paisagem urbana, através das fotografias e dos textos ali publicados. O próprio endereço oficial do Palácio da Justiça não existe mais. A Praça Clóvis foi engolida após a demolição dos edifícios em seu entorno que deram lugar às entradas da Estação Sé do Metrô.

◄ Na foto aérea de 1951 vemos a sede do Tribunal de Justiça, a Praça Clóvis já construída e no entorno dela as árvores e os primeiros pontos de ônibus que depois tomaram conta de tudo no lugar até serem expulsos pelo Metrô. A Catedral da Sé aparece na foto em construção e o prédio do Fórum João Mendes Júnior nem existia.

Os jardins da praça Clóvis foram substituídos ainda no final da década de 1950, para que se ampliasse o terminal de ônibus urbanos que pode ser visto no canto esquerdo da fotografia acima onde o prédio do TJ-SP também aparece.

Conversei recentemente um senhor de 88 anos que estudou no Colégio do Carmo, chamado Pedro Osvaldo Scattone. Ele me informou que antes da Praça da Clóvis havia casas em frente ao Palácio da Justiça.

Fiquei curioso em saber que casas eram essas e depois de conversar sobre o asunto com um outro amigo longa data, o oficial de justiça Eduardo Britto, recebi dele este livro escrito em 1990 por José Renato Nalini, e pesquisa iconográfica de Ebe Reale.

Os dois atualmente, são meus colegas de Academia Cristã de Letras e Academia Paulista de História e isso me enche de orgulho, porque são pessoas ilustres e capacitadas com as quais convivo e aprendo graças à cultura permanente deles para quase todos os assuntos. ►

► Uma das fotos publicadas no livro é esta, de 1932, onde aparecem as tais casas defronte ao palácio, prova que o sr. Scattone está certo em suas informações.

Na mesma fotografia se observa também uma espécie de playground. Reparem que dá para ver a Catedral da Sé em construção no lado direito acima.

Pedro Scattone assistiu à demolição dos casarões em frente ao tribunal e o surgimento da Praça Clóvis Beviláqua, cujo nome faz homenagem ao jurista, magistrado, jornalista, professor, historiador e crítico literário, falecido no ano de 1944. Uma informação que não está no livro, transmitida pelo sr. Scattone, é que jornais da época noticiaram o encontro de ossadas humanas durante as escavações para a construção da praça e, na ocasião, se discutiu a possibilidade de ter existido lá um pequeno cemitério anterior às residências e até então desconhecido.

▲ Nesta outra fotografia tirada do Palacete Santa Helena vemos uma Praça Clóvis arborizada, durante os anos 1960 e nada disso existe mais.

► Para a construção da Estação Sé do Metrô, foi necessário implodir alguns prédios, entre eles o Edifício Mendes Caldeira e o Palacete Santa Helena durante o ano de 1976.

O resultado logo após as implosões aparece nessa foto que revela um cenário parecido ao de um bombardeio. ►

◄ No lugar da antiga Praça Clóvis, além das escadarias de acesso ao Metrô, surgiu um espelho d’água que há bastante tempo serve de piscina e banho para os desafortunados da sorte que perambulam na região.

Ficaram como lembranças do antigo centro, somente a Catedral da Sé e o majestoso Palácio da Justiça, cujas atividades tiveram início em 1933 e uma segunda inauguração aconteceu em 25 de janeiro de 1942. ►

Precisei fotografar diretamente do livro duas das fotos postadas acima, pois são quase inéditas e não estão na internet.

O Palácio da Justiça, é hoje considerado um monumento histórico de valor arquitetônico e interesse cultural, foi tombado como patrimônio histórico em dezembro de 1981.

Parabéns a José Renato Nalini e Ebe Reale pela publicação, e os meus agradecimentos a Eduardo Britto pelo livro de presente e a Pedro Osvaldo Scattone que fez um rico depoimento sobre a Praça Clóvis.