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Um Brasil qUe ainda clama democracia nas vozes de iBrahim noBre e PaUlo Bomfim

São PAuLo

de todos os tempos

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GErALdo NuNES

Jornalista, escritor e blogueiro, participa das publicações da Editora Matarazzo desde 2016.

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8 de julho de 1932, no Largo da Sé o comício fervia indignação. Corria de boca em boca a notícia que Oswaldo Aranha, então portavoz de Getúlio Vargas, encontravase em São Paulo, na Vila Kyrial, em Vila Mariana, residência de seu parente Freitas Valle.

Os manifestantes enfurecidos saem rumando para esse local para inquiri -lo ou até mesmo matá-lo. O professor, tribuno e promotor de justiça, Ibrahim Nobre, fala a seu amigo Menotti Del Picchia que o acompanhava: “Vamos pegar um carro e ir para lá”.

No relato que o autor de “Juca Mulato” fez ao poeta Paulo Bomfim, o orador chega quando o povo se preparava para arrombar os portões da histórica mansão. Ao ver o que acontecia Ibrahim decide agir, sobe em uma mureta e encostando o revólver na têmpora brada aos manifestantes: “Paulistas, se vocês mancharem as mãos num gesto de covardia eu me mato de vergonha!”

A multidão que o venerava, respeita sua voz e pouco a pouco vai se dispersando. Com aquele gesto consegue salvar a vida do inimigo político. Anos mais tarde, o poeta indagou a Ibrahim Nobre sobre o que teria acontecido se sua ordem não fosse cumprida. “Eu teria me matado, porque há passos que não tem retorno”, explicou o tribuno.

Ibrahim, quando promotor a partir de 1930, passou a bradar no Tribunal do Júri: “Acuso ditadura!”

Paulo Bomfim

“Plantava-se no Palácio da Justiça a semente da revolução que lutaria pela lei e pelos brios de nossa gente”, salientou Paulo Bomfim ao contar outra vez este episódio em um evento da Academia Paulista de História, na sede do CIEE, em 2014.

O caso acontecido naquele longínquo 8 de julho tem sido lembrado com angústia por este repórter ao assistir os episódios recentes e quase diários de desrespeito à atual constituição e à democracia.

Caberá ao povo novamente, através da sociedade civil formadora de opinião, dar um basta aos que agora tentam trazer de volta a ditadura que só serve para manchar o nome de toda nação que foge ao compasso da democracia. Não defendo o uso das armas como aconteceu em 1932, mas sim a união das forças progressistas em defesa de nossa atual constituição cidadã promulgada em 1988.

Menotti

Aproveito este espaço para louvar Menotti Del Picchia, que cheguei a conhecer em idade avançada e de Paulo Bomfim, o amigo que tanto me ensinou a respeito dos acontecimentos relativos à 1932. “A Revolução Constitucionalista foi a pia batismal da democracia no Brasil”, disse inúmeras vezes o poeta Paulo Bomfim.

Juca Mulato

O livro “Juca Mulato”, de Menotti Del Pichia, segue atual porque traz a história de um moço afrodescendente, trabalhador rural, que se percebe observado à distância pela filha branca do dono da fazenda e os dois passam a viver uma paixão secreta. Cenas parecidas seguem acontecendo com personagens reais no Brasil de hoje por causa desses que desprezam a democracia e ressaltam o preconceito. Outros exemplos de um Brasil arcaico que tentam ressuscitar estão em Peri e Ceci, de José de Alencar, no clássico “O Guarani” e no Jeca Tatú de Monteiro Lobato, em “Urupês”.

Quem quiser saber mais sobre a Revolução Constitucionalista de 1932 recomendo; “A Heroicidade Despertada de um Povo”, de Manoel Garcia Gomar, lançado em 1933 e disponível em edições mais recentes à venda no portal Estante Virtual.

Faço votos de boas leituras a todos!