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TRIPLA AMEAÇA RELACIONADA COM O ACESSO À ÁGUA COLOCA EM PERIGO A VIDA DE 190 MILHÕES DE CRIANÇAS
COINCIDINDO COM A CONFERÊNCIA
DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE A
ÁGUA, A PRIMEIRA EM QUASE
50 ANOS, QUE SE REALIZOU NO PASSADO MÊS DE MARÇO, A
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS) E O FUNDO DAS NAÇÕES
UNIDAS PARA A INFÂNCIA (UNICEF)
APELARAM A INVESTIMENTOS
URGENTES EM SERVIÇOS DE ÁGUA, SANEAMENTO E HIGIENE, DENOMINADOS DE SERVIÇOS ASH, RESILIENTES ÀS ALTERAÇÕES
CLIMÁTICAS, PARA PROTEGER AS CRIANÇAS. ESTIMA-SE QUE CERCA DE 190 MILHÕES DE CRIANÇAS EM 10 PAÍSES AFRICANOS
ESTEJAM EM MAIOR RISCO DE UMA CONVERGÊNCIA DE TRÊS
AMEAÇAS: ÁGUA, SANEAMENTO E HIGIENE INADEQUADOS, DOENÇAS RELACIONADAS E PERIGOS
CLIMÁTICOS, DE ACORDO COM UMA NOVA ANÁLISE.
Os números são alarmantes: em todo o mundo, dois mil milhões de pessoas carecem de água potável segura e 3.600 milhões, quase metade da população mundial, utilizam serviços de saneamento que não tratam resíduos humanos. Milhões de crianças e famílias carecem de serviços ASH adequados, incluindo sabão para lavar as mãos, o que, muitas vezes, pode levar a consequências fatais. Todos os anos, pelo menos 1,4 milhões de pessoas, muitas delas crianças, morrem de causas evitáveis relacionadas com água não potável e saneamento deficiente. Actualmente, por exemplo, a cólera está a propagar-se em países onde não havia um surto há décadas. As consequências sociais e económicas de serviços inadequados de água e saneamento são devastadoras. Sem estes serviços críticos, as pessoas adoecem, as crianças, especialmente as raparigas, são prejudicadas na sua aprendizagem e comunidades inteiras podem ser deslocadas pela escassez de água. Em todo o mundo, 600 milhões de crianças ainda carecem de água potável gerida de forma segura, 1,1 mil milhões carecem de serviços de saneamento geridos com segurança e 689 milhões carecem de serviços básicos de higiene. Estes são dados de uma nova análise da UNICEF, que alerta para uma tripla ameaça relacionada com a água e que está a colocar em perigo a vida de muitas crianças, em todo o mundo. O mesmo relatório estima em 149 milhões as crianças que continuam a sofrer com a indignidade da defecação a céu aberto. Os maus serviços de água, saneamento e higiene (ASH) continuam a ser responsáveis pela morte anual de cerca de 400 mil meninas e meninos com menos de 5 anos, o equivalente a mil crianças por dia.

A escassez de água e os fenómenos meteorológicos extremos, como inundações e ciclones, todos eles exacerbados pela crise climática, estão a agravar os desafios de ampliar os serviços ASH e chegar às crianças que deles precisam.
OS NÚMEROS SÃO
ALARMANTES: EM TODO O MUNDO, DOIS MIL MILHÕES DE PESSOAS CARECEM DE ÁGUA
POTÁVEL SEGURA E 3.600
MILHÕES, QUASE METADE DA POPULAÇÃO MUNDIAL, UTILIZAM SERVIÇOS DE SANEAMENTO QUE NÃO
TRATAM RESÍDUOS HUMANOS.
MILHÕES DE CRIANÇAS
E FAMÍLIAS CARECEM DE SERVIÇOS ASH ADEQUADOS, INCLUINDO SABÃO PARA
LAVAR AS MÃOS, O QUE, MUITAS VEZES, PODE LEVAR A CONSEQUÊNCIAS FATAIS
Tripla carga
A tripla carga de água, saneamento e ameaças à higiene enfrentadas pelas crianças é causada pela combinação de um acesso limitado aos serviços ASH, do fardo das doenças relacionadas entre crianças com menos de 5 anos e da crescente fragilidade decorrente das ameaças climáticas. Apenas 10 países – que, no total, têm uma população de mais de 190 milhões de crianças, todos localizados na África subsaariana – enfrentam este triplo fardo. Cerca de duas em cada cinco mortes devido a serviços de lavagem deficientes estão concentradas nesses países. Em 2022, os 10 países em questão foram classificados pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) como
Cólera: transmitida pela água exacerbada pelas alterações climáticas
A cólera, uma doença bacteriana mortal, mas evitável, é geralmente transmitida através de água contaminada e pode causar a morte em poucas horas, se não for tratada.
As crianças pequenas, especialmente as menores de 5 anos, são as mais afectadas pela doença. Além disso, as crianças desnutridas têm maior probabilidade de sofrer sintomas graves e até morrer devido a desidratação severa. Sem água potável segura e sistemas de saneamento e higiene, prevenir e controlar a transmissão da cólera e de outras doenças transmitidas pela água é praticamente impossível.
As alterações climáticas estão a agravar esta doença, devido às consequências catastróficas da seca, escassez de água, ciclones, inundações e tempestades. Desde 2021, surtos de cólera ocorreram em muitos países onde a doença não aparecia há anos. Em 2022, assistiu-se a um número sem precedentes de surtos graves de cólera causados por secas, inundações e conflitos em quase 30 países, do Haiti ao Líbano, Malawi e República Árabe Síria. Quase todos os casos de cólera registados entre 2010 e 2021 (97%) ocorreram em 31 dos 34 países com os níveis mais baixos de serviços de água e saneamento. Apenas três países com níveis inferiores a 70% do acesso aos serviços básicos de abastecimento de água e a 55% do saneamento básico não comunicaram casos de cólera.
A detecção precoce e a resposta rápida para conter os surtos são vitais. O controlo da doença exige garantir o acesso a água potável e saneamento e a disponibilidade de vacinas e tratamento contra a cólera, bem como estabelecer sistemas de vigilância para monitorizar e controlar a sua propagação e promover a participação da comunidade para promover práticas seguras de higiene e saneamento.
frágeis ou extremamente frágeis. As tensões decorrentes dos conflitos e das alterações climáticas tornarão ainda mais difícil para estas nações acelerarem o progresso no sentido da consecução das metas dos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e comprometerão os ganhos obtidos até à data. Por exemplo, quase todos os casos de cólera registados entre 2010 e 2021 vieram de 31 dos 34 países com os níveis mais baixos de serviços de água e saneamento. Apenas três países com níveis inferiores a 70% para a cobertura básica de água e 55% para a cobertura de saneamento básico não relataram casos de cólera.
A UNICEF estima ser necessário um investimento três vezes maior ao actual nos países em desenvolvimento – pelo menos 114 mil milhões de dólares por ano –para alcançar as metas dos ODS relacionados, até 2030.
4 Mil Mortes Por Dia
Os direitos humanos à água potável segura e ao saneamento estão consagrados na Convenção sobre os Direitos da Criança e nas Convenções de Genebra de 1949. A Assembleia Geral das Nações Unidas e o Conselho de Direitos Humanos reconheceram esses direitos em 2010, como parte do direito internacional vinculativo.
Contudo, a falta de água potável e as más condições sanitárias e de higiene continuam a causar doenças e mortes totalmente evitáveis entre as crianças de tenra idade. Todos os dias, cerca de quatro mil pessoas morrem de doenças causadas pela precariedade dos serviços ASH e mais de mil destas pessoas são crianças menores de 5 anos.
Mais de uma década depois daquele reconhecimento pelas Nações Unidas, 600 milhões de crianças com menos de 18 anos vivem sem água potável e 1,1 mil milhões sem saneamento geridos de forma segura. Para a UNICEF, “trata-se de um fracasso colectivo global no cumprimento dos direitos mais básicos das crianças” O Fundo das Nações Unidas para a Infância considera, ainda, que o progresso em direcção às metas globais dos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável relacionados aos serviços ASH é perigosamente lento e que os progressos realizados nos últimos anos são frágeis. As tensões decorrentes das alterações climáticas, dos conflitos, do crescimento demográfico e de outros factores ameaçam os ganhos obtidos. A tripla ameaça foi considerada mais aguda no Benim, Burkina Faso, Camarões, Chade, Costa do Marfim, Guiné, Mali, Níger, Nigéria e Somália, tornando a África Ocidental e Central uma das regiões mais inseguras do mundo em termos de água e impacto climático, de acordo com a análise.
Naqueles 10 países, quase um terço das crianças não tem acesso a, pelo menos, abastecimento básico de água em casa e dois terços não têm serviços de saneamento básico. Um quarto das crianças não tem escolha a não ser praticar a defecação a céu aberto. A higiene das mãos também é limitada, com três quartos das crianças incapazes de lavar as mãos, devido à falta de água e sabão em casa. Como resultado, estes países também carregam o fardo mais pesado cavem poços duas vezes mais profundos do que há uma década. Ao mesmo tempo, as chuvas tornaram-se mais irregulares e intensas, levando a inundações que contaminam o escasso abastecimento de água. de mortes de crianças por doenças causadas pela lavagem inadequada, como as doenças diarreicas. países com níveis inferiores a 70% do acesso aos serviços básicos de abastecimento de água e a 55% do saneamento básico não comunicaram casos de cólera.
Aqueles países também estão entre os 25% dos 163 países do mundo com maior risco de exposição às ameaças climáticas e ambientais. Temperaturas mais altas – que aceleram a replicação de patógenos – estão a aumentar
A detecção precoce e a resposta rápida para conter os surtos são vitais. O controlo da doença exige garan@r o acesso a água potável e saneamento e a disponibilidade de vacinas e tratamento contra a cólera, bem como estabelecer sistemas de vigilância para monitorizar e controlar a sua propagação e promover a par@cipação da comunidade para promover prá@cas seguras de higiene e saneamento.
1,5 vezes mais rápido do que a média global em partes da África Ocidental e Central. Os níveis das águas subterrâneas também estão a diminuir, exigindo que algumas comunidades
Mortes de menores de 5 anos devido a serviços inadequados ASH, 2019
Muitos dos países mais afectados, particularmente no Sahel, enfrentam também instabilidade e conflitos armados, agravando ainda mais o acesso das crianças a água potável e saneamento. Por exemplo, o Burkina Faso assistiu a um aumento dos ataques a instalações de abastecimento de água, como uma táctica para deslocar comunidades. 58 pontos de água foram atacados em 2022, contra 21 em 2021 e três em 2020. Como resultado, mais de 830 mil pessoas – mais de metade das quais são crianças – perderam o acesso a água potável, no último ano. “África enfrenta uma catástrofe hídrica. Embora os choques relacionados ao clima e à água estejam a aumentar globalmente, em nenhum outro lugar do mundo os riscos se agravam tão severamente para as crianças”, diz o director de programas da UNICEF, Dr. Sanjay Wijesekera. “Tempestades devastadoras, inundações e secas históricas já estão a destruir instalações e casas, contaminando recursos hídricos, criando crises de fome e espalhando doenças. Mas, por mais desafiadoras que sejam as condições actuais, sem uma acção urgente, o futuro pode ser muito mais sombrio”
Mortes de menores de 5 anos devido a serviços inadequados ASH, 2019
