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Ecologia natural e humana
"A obra de Júlio Dinis é um marco daquilo a que poderíamos chamar uma ecologia natural e humana: uma visão integrada das relações entre o humano e o natural", como defende a professora catedrática e ensaísta Helena Buescu num artigo, publicado no ano em que se cumpriram 150 anos da morte do romancista.
Na obra “ A Morgadinha dos Canaviais” está plasmada a consciência da revolução social cultural sem nunca descurar os encantos do ambiente rural, ao mesmo tempo que propõe pela sua narrativa, um mundo que acompanha a evolução e o progresso equilibrado, com propostas de valores que estimam o trabalho e o cuidado com a natureza, antecipando uma visão ecológica.
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Na Morgadinha dos Canaviais, o velho ervanário, "o Tio Vicente é um santo velho, que se ocupa a colher ervas pelos montes e vales para fazer remédios, que dizem milagrosos”. Era uma expressiva figura de ancião o ervanário”. (…) “ acompanhava-o uma fama quase de nigromante; atribuíam-lhe curas milagrosas, obtidas com os símplices, a cuja cultura e colheita consagrava as maiores atenções e canseiras… em todos os casos intrincados vinham consultar o ervanário, e ele, como seguro da sua proficiência, em caso algum recusava o alvitre…Os costumes do velho, que errava por vales e montes à procura dos símplices, cujas ocultas virtudes conhecia, as suas maneiras rudes, a austeridade da fisionomia, a franqueza, sem contemplações, com que dizia quanto pensava, tinham gravado fundo na imaginação popular aquele tipo, para ela quase lendário”.
Na Morgadinha dos Canaviais, presencia-se a uma valorização do ambiente salutar da província, aliada à cura das enfermidades, com mesinhas, chás e unguentos, que recorrem amiúde em paralelismo com a medicina.
Ainda hoje encontramos nesse âmbito, a associação do ambiente campestre e pitoresco, a uma vida salutar e imperativa de saúde e bem-estar.